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Dicionário de Filosofia

Atenção

Atenção. O Espírito possui a capacidade de escolher, de selecionar os fatos que lhe interessam,
aplicando-se aos mesmos, com maior ou menor intensidade. Essa capacidade chama-se atenção; não
constitui uma função especial e sim uma maneira geral de exercício de vida psicológica. (1)

Atenção. Estado de vigilância do espírito. A atividade mental concentra-se sobre determinado objeto.
"O valor intelectual de um homem mede-se pela intensidade e continuidade de sua atenção". (2)

Atenção (attention). É a presença do espírito à presença de outra coisa (atenção transitiva) ou de si


mesmo (atenção reflexiva). A segunda atitude, menos natural, é mais cansativa e talvez impossível de se
manter absolutamente. A introspecção nos ensina menos sobre nós mesmos do que a ação ou a
contemplação.

"A atenção absolutamente pura é prece", escreve Simone Weil. É que ela é pura presença à presença,
pura disponibilidade, pura acolhida.

Quando veio passar alguns meses na França, Svami Prajnanpad teve a oportunidade de encontrar a
superiora de um convento. "Não é verdade que é preciso orar sem cessar?", ela lhe pergunta. E Svami
responde responde: "Sim, claro. Mas o que isso significa?Orar é permanecer presente ao que é." Atenção
silenciosa, em vez de tagarela ou suplicante.

A atenção absolutamente impura, acrescentarei, é voyeurismo: fascinação pelo obsceno ou pelo obscuro.
São os dois extremos da atenção, seu auge e seu abismo, ambos aliás deleitáveis e, para a alma, como
que duas maneiras de se esquecer. (3)

Atenção. Em sua acepção mais geral é a "direção especial do espírito a um objeto". Ela teve um
tratamento secundário e desproporcionado à sua real importância na literatura filosófica clássica,
porém com algumas exceções (Wolf, Kant, James Mill). As definições diversificadas que foram dadas
convergem em salientar que se trata: 1) de um fenômeno inerente à consciência e 2) de um processo de
concentração. Quanto porém à definição, formulada nos termos concentração da consciência impõe-se
verificar que a consciência é um estado e não uma força ativa e que, portanto, é incapaz de promover
uma concentração. A concentração a um objeto é, segundo alguns, acompanhada da exclusão
simultânea de todos os outros objetos; segundo outros, consiste essencialmente na exclusão de todos
os objetos, nunca este, que se acha na direção do espirito.

É opinião geral que a atenção pode ser voluntária e não-voluntária. Há, porém, autores que insistem
em que nunca se pode caracterizar a atenção como um efeito da vontade; mas sim (e sempre) como um
fenômeno volitivo, porque a atenção é uma faculdade simplesmente primordial da alma, que não pode ser
antecedida e condicionada pela vontade. Vide Vontade e sua distinção de Volição.

Definimos a atenção como o estado do espírito quando ocupado com um objeto ou quando se
entrega àquela atividade. Este estado pode ser produzido voluntária ou ativamente (também chamado
espontaneamente); ou de maneira reflexa e passiva, quando causado por um estímulo inesperado, que
não era previamente do conhecimento do sujeito. E é voluntária ou ativa quando se dirige ou a um
objeto, intrinsecamente atrativo, ou interessante, ou quando é aplicada por um certo esforço a um
objeto, que só oferece um interesse indireto, enquanto subordinada a um fim.

Atenção: 1) reflexa ou passiva e 2) voluntária ou ativa.

a) espontânea ou não volitiva e b) volitiva ou indireta.

Os termos citados são os de maior uso na literatura, porém nunca se deve esquecer que alguns
deles (ativo-passivo) implicam uma posição já tomada em problemas psicológicos mais gerais, como por
exemplo, na questão de se é possível um processo mental passivo. Além disso oferece problemática a
distinção entre uma atenção reflexiva e uma atenção voluntária espontânea.

Com relação aos objetos distingue-se também atenção sensorial (dirigida a uma sensação) e atenção
ideal ou intelectual (dirigida a uma ideia). A atenção sensorial pois, ganha um sentido mais especial
quando é oposta à atenção motriz. A primeira significa assim a atenção a um sinal esperado, e a segunda
a um ato determinado, a executar quando o sinal é dado. Neste caso há duas atenções ou dois objetos de
atenção, simultaneamente, no espírito, uma dirigida contra o sinal esperado e a outra como preparação
do ato de executar.

No mundo orgânico subconsciente encontramos fenômenos análogos à atenção que, para distingui-
los da atenção propriamente dita, são chamados de atenção primária. As necessidades da vida prática
exigem que a atenção, tanto possa concentrar-se com bastante intensidade e persistência a um objeto
determinado, como também deve ser capaz de dirigir-se em atos sucessivos a um número bastante
grande de objetos diferentes, que se apresentam como de importância vital ou de importância indireta
(por exemplo, profissional). Cada defeito em uma dessas capacidades, se é bastante pronunciado, é
patológico, a não ser que se trate da fraqueza geral da atenção, que é uma característica da infância e
como tal perfeitamente normal.

Como a atenção é um fenômeno que se acha em íntima ligação com a totalidade da vida psíquica, é
óbvio que quase não há nenhuma perturbação mental que não implique também um defeito dessa
faculdade. Deficiência da atenção aparece regularmente ligada à idiotia e à imbecilidade, como também
à senilidade e à demência. Uma capacidade subnormal de fixar a atenção é igualmente característica de
uma série de perturbações funcionais do sistema nervoso. Cansaço, fraqueza devida a doenças podem
uma série de perturbações funcionais do sistema nervoso. Cansaço, fraqueza devida a doenças podem
produzir sintomas semelhantes de caráter mais ou menos temporário, como também a intoxicação
cerebral devido a drogas.

O defeito contrário da atenção fixa revela-se, principalmente, na ideia fixa, que ocupa o campo
inteiro da consciência, vedando o acesso a todos os outros objetos. Esse fenômeno é característico da
melancolia, mas também de estados extáticos e hipnóticos, que estreitam o campo da receptividade
normal pela predileção pessoal ou pela sugestão alheia de uma ou poucas ideias chegadas a um domínio
exclusivo da atenção.

Coordenadas da atenção: 1) excitante; 2) memória; 3) interesse; 4) direção da tensão da consciência;


5) imobilidade. O interesse maior ou menor que nos causa o fato exterior ao espírito poderá provocar a
maior ou menor intensidade da tensão de consciência, que é em certo grau volitiva, pois nessa direção, a
atividade dirigida, sendo consciente, assume as características da vontade.

Há no ato de atenção um representar antecipado da experiência que se espera. E realmente, de


antemão, criamos imagens com as quais acolheremos a percepção nova, como salienta Roustan: "E
representar-se com antecipação a experiência, que vai produzir-se, ou pedir à nossa imaginação apenas
uma representação precisa, antecipada, pelo menos uma hipótese, que nos ajudará a compreender o
significado do espetáculo, a relação desta sensação nova com alguma porção de nossa experiência
passada. Não há atenção voluntária, sem o que diversos psicólogos chamaram de pre-percepções". Elas
são necessárias, pois não percebemos claramente senão aquilo que pré-percebemos. Continua: "Fazei
que vos mostrem, à distância, uma figura desconhecida, e que a mantenham, a princípio, muito longe, a
ponto de vos impedir o que representa. Pedi que a aproximem até o ponto de perceber alguns traços,
algumas manchas de sombra e de luz, sem que ainda possais interpretá-la. Pedi, então, que se detenham,
e comprovai que, apesar de vossos esforços, estais impossibilitados de entender o esboço. Notai o
ponto onde estais e o ponto em que está a figura. Fazei então que vos entreguem a figura; olhai-a de
perto e depois colocai-a no mesmo lugar, e voltai ao posto, que ocupáveis antes; não podereis
compreender, então, como fostes incapazes, um momento antes, de interpretar essa figura, que
percebeis agora com bastante nitidez. É que dispondes, agora, de uma percepção, que não tínheis antes".

Divisões da atenção: 1) atenção interior — a que se dirige a um fato do mundo interior; 2) atenção
exterior — a que se dirige a um fato do mundo exterior.

A atenção interior se subdivide em: a) atenção reflexiva — quando se dirige para estados subjetivos
que podem ser para conhecê-los melhor: atenção cognitiva; sobre nossos afetos: atenção afetiva; sobre
nosso querer: atenção volitiva; b) atenção reflexiva-operatória — quando se dirige às nossas ideias, quando
meditamos: atenção mental; se se dirige a relações: atenção racional.

Subdivide-se a atenção exterior: a) atenção eletiva — a que realiza uma escolha entre os dados,
segundo o interesse; b) atenção expectante — a que consiste num dirigir-se a um fato, que se espera, a um
fato futuro. Na primeira temos a direção dada pelos nossos esquemas, que se acomodam a um fato para
assimilá-lo. Na segunda há uma acomodação geral e não específica como no primeiro caso. No primeiro
atendemos a isto ou aquilo; no segundo atendemos em geral. No primeiro caso, a atenção é mais intensa
e concentrada em...; no segundo é intensa também, mas descentrada.

Na psicologia clássica dividia-se a atenção em espontânea quando era provocada pelo objeto;
voluntária quando provocada pelo sujeito, dirigindo-se para o objeto.

Teorias sobre a atenção: Para Condillac ela não seria mais do que uma sensação exclusiva. A
intensidade da excitação sensorial seria a causa da atenção. O estrondo de um tiro de peça arrebata-nos
a atenção e impede de pensarmos em outra coisa. Desta forma desligava a atenção da tensão ativa, em
que é manifesta a intencionalidade. Essa explicação serve apenas para alguns casos, pois noutros é
evidente que dirigimos a atenção para o que nos interessa como, por exemplo, quando lemos ou quando
estudamos alguma coisa, ou queremos resolver um problema; pois quando nos encontramos nesse ato
atencional, os ruídos, embora intensos, nem sempre desviam a atenção. O que é aproveitável de
Condillac é a afirmativa de que também existe uma atenção involuntária, espontânea, o que aliás já a
haviam estudado os escolásticos.

Ribot voltou à concepção empirista de Condillac e estabeleceu duas formas distintas de atenção:
uma espontânea, natural, e outra voluntária, artificial. A primeira era a forma verdadeira, primitiva e
fundamental da atenção, enquanto a segunda dela se derivara, e era um resultado da educação, do
adestramento, do treinamento, uma atenção adquirida. A atenção espontânea para Ribot, quer forte ou
débil, em todas as partes, e sempre, tem ela por causa estados afetivos. Esta regra era absoluta, sem
exceções. (E também o era para os escolásticos, pois o affectum era uma causa da atenção).

"O homem consciente, como o animal, não presta atenção senão àquilo que o interessa...Um homem
ou um animal, incapaz, por hipótese, de experimentar prazer ou dor, seria incapaz de atenção. As
grandes atenções são causadas e sustentadas sempre por grandes paixões". Esta observação de Ribot
aplicada à vida prática oferece grande significação, pois não podemos chamar a atenção dos outros
senão para aquilo que lhes é de interesse. Ele estuda as manifestações físicas da atenção: fenômenos
vasomotores, respiratórios, motores e expressivos. Embora vacile de início a dar a esses movimentos o
papel de causa, acaba por inclinar-se para essa solução: "a atenção depende de estados afetivos; os
estados afetivos se reduzem a tendências; as tendências são, no fundo, movimentos (ou tenções de
movimentos), conscientes ou inconscientes. A atenção está, pois, ligada a condições motrizes desde a
sua origem".

Como da atenção chamada espontânea deriva a atenção chamada voluntária? Sem assinalar os
móveis inumeráveis, postos pelo educador em ação para fazer nascer e consolidar a atenção derivada,
Ribot aponta três períodos na formação dessa disposição adquirida. Na primeira o educador só tem
ação sobre os sentimentos simples. Usa o temor, em todas as suas formas, das tendências egoístas, do
atrativo das recompensas, das emoções ternas e simpáticas, dessa curiosidade inata, que é como o
apetite da inteligência e que se encontra em todos em certo grau, por débil que seja. No segundo, a
atenção artificial se sustenta e se mantém pelos sentimentos de formação secundária: o amor próprio, a
emulação, a ambição, o interesse ou o sentido prático, o dever. etc. No terceiro, o da organização, a
atenção se suscita e se mantém pelo hábito. O escolar na sala de estudo; o operário na oficina; o
empregado no escritório; o comerciante detrás do mostrador. Quereriam muitas vezes estar em outro
lugar, mas o amor próprio, a ambição, o interesse criaram por repetição, um treinamento duradouro.

O mecanismo interior, que mantém a consciência desperta, apesar da diversidade dos outros
estados, é para Ribot a vontade que opera sobre os músculos e pelos músculos. E a atenção derivada é
produzida e se mantém graças a inibições de movimentos. (Voluntas quae quidem praecípua attentionis
causa, attamen minima única est: é um pensamento escolástico. A vontade é uma das causas precípuas da
atenção, por mínima que seja).

Para ele todo estado de consciência é uma ação em seus primórdios. Este estado de consciência
será entorpecido se for entorpecido o movimento a que está ligado. Desta forma, atenção significa
concentração e inibição de movimentos. Distração significa dispersão de movimentos. Ribot sustenta,
assim, a tese empirista: a atenção é produzida sempre por uma causa exterior, que atua como uma
excitação e provoca um movimento reflexo, ou uma forma derivada, graças a um adestramento prévio.
Em ambos os casos a atenção depende dos estados afetivos e é puramente motriz. (4)

(1) SANTOS, T. M. Manual de Filosofia - Introdução à Filosofia Geral - História da Filosofia - Dicionário de
Filosofia. 10. ed. São Paulo: Nacional, 1958.

(2) GAUQUELIN, M., GAUQUELIN, F. Dicionário de Psicologia. Lisboa/São Paulo: Verbo, 1987.

(3) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. 2. ed., São Paulo:
Martins Fontes, 2011.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

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