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A Consciência e o

Inconsciente
Por
Dante Carrasco Aragón
-
4 de agosto de 2017
993

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Introdução

No mundo da Psicologia ouve-se falar muito do Inconsciente e do


Subconsciente, de fato estes conceitos foram bastante desenvolvidos
pela Psicanálise. Posteriormente, outras correntes psicológicas fizeram
um aprofundamento sobre este tema. Porém, para compreender melhor
este tema, vemos a importância de compreender primeiro o que significa
a Consciência.
Na Psicologia, a Consciência ou a mente consciente é relacionada com a
Atenção, tecnicamente a mente consciente seria uma apresentação
lógica da Atenção. Por meio deste conceito psico-fisiológico, vemos que
o homem consegue perceber e reagir diante da percepção.

A informação pré-consciente (subconsciente e inconsciente) seriam


memórias armazenadas que não estamos usando em um dado tempo. A
maior parte do nosso comportamento cotidiano não é objeto de reflexão,
da nossa atenção; e por isso não o consideramos como atos conscientes.
Quando executamos a Atenção, pode ser feito por processos controlados
ou automáticos, estes últimos costumam ser tarefas fáceis e ocorrem
fora do conhecimento consciente. Quando surgem situações
inesperados, aí prestamos atenção ao que realizamos. Quando
realizamos atividades rotineiras, a nossa atenção se relaxa até quase o
ponto de desaparecer, e isso é bom porque assim poupamos muita
energia psíquica.

Desde uma aproximação mais integral do ser humano, que não só


considera à pessoa somente como um ser psico-fisiológico, e sim com
sua dimensão espiritual, vemos que existem dois níveis da Consciência
(Ratzinger, 2010).

– Anamnesis: O nível ontológico da consciência, ou a lei escrita em


nossos corações. E acredita-se que essa verdade, essa lei, provem de
Deus.

– Conscientia: O nível do juízo e da decisão. Pois a consciência ilumina o


juízo prático visando a tomada de decisões.

Também, encontramos no livro ‘El Elogio de la Conciencia’ de Joseph


Ratzinger a seguinte definição: “A consciência não constitui uma
faculdade independente e infalível; é um ato de juízo moral que se
refere a uma opção responsável. A consciência reta é uma consciência
devidamente iluminada pela fé”.
A base deste pensamento desenvolvido por Ratzinger a encontramos, na
Constituição Pastoral ‘Gaudium et Spes’: “No fundo da própria
consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo,
mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao
amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade
do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei
escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por
ela é que será julgado. A consciência é o centro mais secreto e o
santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se
faz ouvir na intimidade do seu ser”. (Concilio Vaticano II. Gaudium et
Spes, 16, 1965).

Dentro da ciência psicológica, encontramos uma relação com algumas


definições, pois, também, a Consciência pode ser definida como a regra
do bem dentro de nós, a voz da verdade dentro do homem e que
considera a existência de uma transcendência nela, como por exemplo
diz Viktor Frankl, “a Consciência é a voz da transcendência”. (Frankl,
1984).

Mente humana, níveis da mente

Consideramos que existem três níveis na mente humana, com os quais


as pessoas podem se desenvolver pessoalmente. Estes três níveis são
chamados: mente consciente, mente subconsciente e mente
inconsciente.

A mente consciente é a mente lógica, racional e proativa, na qual ao


pensar e raciocinar no dia a dia, nos leva a tomar as decisões em nossa
vida, mantendo o controle dela, e conformando nosso caráter e
personalidade.
A mente subconsciente é a mente que no momento não é consciente da
informação e se encontra num nível um pouco mais profundo da mente
consciente. Ela tem acesso a todas as nossas memórias passadas, e o
que gerou e nós emotiva, afetiva e sentimentalmente. O objetivo desta
mente subconsciente é controlar e tentar guiar a nossa vida por meio de
tudo o que não compreendemos, mas que pode ir tomando controle da
mente consciente. Um exemplo seria a pessoa que realiza compras
compulsivas.
A mente inconsciente é a mente que se encontra ainda num nível mais
profundo da mente subconsciente. Ela contém matéria esquecida,
reprimida ou que nunca chegou ao conhecimento consciente. Podemos ir
tendo controle sobre nossa mente subconsciente e inconsciente.
Para realizar um estudo mais aprofundado sobre o Inconsciente na
Psicologia, devemo-nos lembrar que, na Filosofia, o termo Inconsciente
já era conhecido e estudado, principalmente por Arthur Shopenhauer,
embora este conceito já apareça com Friedrich Wilhelm Joseph von
Schelling, quem no seu sistema filosófico coloca ao Inconsciente como
um dos aspectos essências do absoluto. Shopenhauer, primeiro filosofo
que nega o conhecimento puro, é quem depois formula uma verdadeira
metafisica do inconsciente, também chamado de vontade que
condicionará nossas ações e nossos pensamentos, fazendo que a pessoa
sinta que não tudo o que passa por ela é controlável pelo consciente e
conhecido. (Savater, 1995) diz que “a originalidade de Schopenhauer foi
suspeitar que poderíamos estar condicionados desde dentro, pela
vontade mesma: esta foi a via que depois seguiu Freud e a psicanálise”.

Na história da Psicologia, vemos que, os behavioristas se recusaram a


reconhecer a existência do Inconsciente. Por outro lado, na Psicanálise,
Freud viu no Inconsciente uma fonte essencial do comportamento. A
escola psicanalítica fez um aporte muito importante ao mundo da saúde
mental, a partir da dimensão psicológica, pois sustentando-nos na
psicanálise, se faz impossível integrar fé e razão, pois a sua antropologia
não contempla o homem como ser bio-psico-social-espiritual. Segundo
a aproximação psicanalítica, esta mente inconsciente busca, afastar-nos
do perigo e aproximar-nos ao prazer, e a pessoa cada vez tem que
tentar diminuir a zona desconhecida (inconsciente). O Inconsciente
Psicanalítico é entendido com o aparelho psíquico constituído de três
partes: “id”, ego e superego; no qual o “id” seria o inconsciente e
caraterizado pelas pulsões e desejos. Na terapia psicanalítica, a pessoa
necessariamente tem uma relação com o inconsciente, o qual trata de
recordar o trauma para obter uma descarga emocional. Depois Freud
abandonou este modelo, pois era muito simples, e passou para um
modelo mais de mosaico (raiz da neurose de vários momentos na
história), complementando com a sua Interpretação dos sonhos, a qual
seria a estrada real para o Inconsciente. No fundo, vemos na Psicanálise
uma “coisificação” da pessoa, pois ela é impulsionada por um “id”.

Porém, o Inconsciente na Psicologia não se resume somente à


abordagem a partir da Psicanálise. A Cognição –uma das principais
vertentes da Psicologia– não só envolve processos conscientes
(pensar, sonhos, recordar, aprender, fantasia) senão, também,
processos inconscientes. Por isso, na Cognição ou na Psicologia
Cognitiva não só devemos estar interessados pelos fenômenos da
Consciência, senão também, pelo Inconsciente Cognitivo. A ideia do
Inconsciente Cognitivo, também a encontramos na Psicologia da Gestalt,
que vem do Gestaltismo, o qual tem como grande tema a Percepção[1],
e que por meio da Insight, obtemos conhecimento de forma intuitiva.

Inconsciente Cognitivo e Inconsciente Espiritual

O Inconsciente Cognitivo deve ser separado do Inconsciente Psicanalítico


devido à metodologia de ambas, pois enquanto o Inconsciente Cognitivo
é Experimental, o Inconsciente Psicanalítico é Hermenêutico.

O Inconsciente Cognitivo apresentou-se como um modelo alternativo


sobre a mente inconsciente. A ideia central é a de que o cérebro efetua
muitas operações complexas cujo resultado pode se transformar em
conteúdo consciente, embora não tenhamos acesso às operações que
originam este conteúdo (Kihlstrom e Cantor, 1985). Esta nova teoria
sobre os processos inconscientes foi formulada pelo psicólogo John
Kihlstrom, que cunhou a expressão “Inconsciente Cognitivo” em um
artigo publicado na revista Science (Kihlstrom, 1987). Fundamentando-
se no conceito de mente como mecanismo de processamento de
informação, Kihlstrom utilizou a teoria computacional, a Psicologia
Cognitiva e as Ciências Cognitivas como substrato teórico para entender
o funcionamento consciente e inconsciente. Para Kihlstrom, o
funcionamento mental envolve processos inconscientes e conteúdos
conscientes. Os conteúdos conscientes provêm do processamento de
informações, mas não estamos conscientes do processamento em si,
somente do resultado. Esta nova conceptualização inclui processos como
perseguição inconsciente de metas, por exemplo.

O professor Ap Dijksterhuis, também um estudoso do Inconsciente


Cognitivo, diz: “dado que na Psicanálise o Inconsciente é o construto
lógico central, ao passo que na abordagem da Cognição Social o
Inconsciente é a ideia que se tem sobre processos desencadeados sem
participação Consciente, mas que, ainda que subjacentes, exercem uma
influência decisiva na cognição, na afetividade e em comportamentos e
condutas sociais” (Ap. Dijksterhuis, 2010).

Nos últimos anos vemos que o Inconsciente Cognitivo está tomando


mais destaque, por exemplo, (Kahneman, 2011) distingue dois níveis no
processo cognitivo: nível consciente e nível inconsciente.

O Inconsciente Cognitivo, então, é o Inconsciente que afeta à totalidade


da pessoa, pois quando uma pessoa está atenta no momento em que
realiza uma atividade, está sendo influenciada pela sua inconsciência
cognitiva. Vejamos que utilizamos a palavra afeta e não condiciona, a
qual seria o Inconsciente Psicanalítico.

Na Logoterapia, a mente da pessoa profunda é Inconsciente, Pré-


consciente e Consciente. Sendo esta última um órgão de sentido que
poderia definir-se como “a faculdade de descobrir e localizar esse único
sentido que se esconde detrás de cada situação” (Frankl, 1984).

Nesta nova teoria do Inconsciente Espiritual, Viktor Frankl, não só trata


o impulsivo na pessoa, como foi feito pela Psicanálise, senão que a
Logoterapia fala de Inconsciente Espiritual, porque é uma psicoterapia a
partir do espiritual, já que introduz na parte médica o conceito do
espiritual.
Se bem é certo que um aspecto marcante da Logoterapia é a abertura
para a compreensão da experiência religiosa dos pacientes, quando esta
se refere ao espiritual na pessoa, não se refere à religiosidade da pessoa
e sim ao nous. Lembremos, que, na Antropologia da Logoterapia, o ser
humano é uma pessoa espiritual composta de três dimensões: bio-psico-
espiritual. Esta dimensão (nous) é uma dimensão que não dá para se
destruir, é a dimensão do que a pessoa dá para o mundo, em outras
palavras a liberdade de vontade. Noogenico quer dizer, proveniente do
espirito. A pessoa espiritual na sua dimensão mais profunda é sempre
inconsciente, pois o espiritual é inconsciente no mais profundo como no
mais alto da estrutura da pessoa. Vemos, pois, que esta dimensão
noética ou espiritual pode ser consciente, como inconsciente.

Como já foi mencionado, na Psicoterapia, se considera o inconsciente,


pois vemos uma tentativa de fazer consciente algo inconsciente. Na
Psicanálise, este processo é forçado, pois não obtenho consciência de
mim mesmo a partir de meu próprio eu, e sim a partir do id. Na
Logoterapia, este processo de fazer consciente algo inconsciente é mais
natural, porque se acredita na transcendência da consciência, pois são
coisas que não procedem da pessoa unicamente. Se bem a consciência
pertence ao ser humano, esta alcança uma profundidade inconsciente,
pois a consciência se encontra imersa no inconsciente. É por essa razão
que na Logoterapia encontramos o conceito de suprasentido, ou seja,
aquilo que ultrapassa a compreensão do homem. O sentido supra-
individual é o que está referido a valores supraindividuais (conforme a
normas, o crítico-objetivo). Concluindo, podemos dizer que o
Inconsciente Espiritual seria englobar o espiritual, também, dentro do
Inconsciente. A pessoa não é impulsionada por um “id”, como na
Psicanálise, e sim, por um “eu” que decide e que é responsável e livre.

Conclusão

Realizado este estudo introdutório sobre a mente humana,


primeiramente viu-se importância de compreender o que significa a
Consciência, pois ela deve guiar e iluminar o juízo prático visando a
tomada de decisões das pessoas. E é só a partir dela devo me aproximar
a estudar e querer compreender o Inconsciente, Subconsciente ou Pré-
consciente.

As pessoas estão chamadas a seguir sua própria consciência, mas


também estão obrigadas a formá-la. Se entendemos a Consciência como
a voz da verdade dentro do homem, Só podemos ser servos dela, pois a
entendemos como fenômeno transcendente ao mero ser do homem. A
Consciência, então é uma Guia para o homem, quem deve obedecer a
sua consciência, nisto temos um grande exemplo na vida de Santo
Tomás Moro.

Por outro lado, ao estudar o homem psíquico não nos referimos à sua
consciência moral, e sim a um conceito psico-fisiológico no qual por meio
da consciência o homem consegue perceber e de reagir diante da
percepção. Porém, é sumamente importante que as pessoas que se
dedicam a estudar e atender nesta dimensão psicológica, tenham
sempre uma aproximação à pessoa em sua totalidade e integridade,
cultivando um pensamento unitário-integral, ou seja, uma visão trial do
ser humano. Todo terapeuta em qualquer nível que esteja agindo, não
pode prescindir da dimensão espiritual do ser humano.

Hoje em dia existem psicologismos, nos quais há uma exaltação do


inconsciente e uma desaparição de Deus. Pensamos, que esta realidade,
não deve fazer-nos cair no extremo de falar formalmente de uma
psicologia cristã, porém, sim podemos plantear uma orientação cristã do
exercício profissional psicológico. Achamos sumamente importante
buscar a Integração de escolas psicológicas, para poder abordar os
tratamentos psicológicos, considerando que o homem é um ser bio-
psico-socio-espiritual.

Referências
 Beck, A. Além da Crença: Uma Teoria de Modos, Personalidade
e Psicopatologia. In P. Salkovskis & M. Paul (Ed.). Fronteiras da
Terapia Cognitiva. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
 CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES. Documentos do
Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.
 DIJKSTERHUIS, Ap. Automaticity and the Unconscious.
Handbook of Social Psychology Radboud University, Nijmegen,
Behavioral Science Institute, Nijmegen, The Netherlands, 2010.
 FRANKL, Viktor. La presencia ignorada de Dios. Barcelona:
Editorial Herder, 1984.
 Kahneman, Daniel. Thinking, Fast and Slow 2011. New York:
Farrar, Straus and Giroux, 2011.
 KIHLSTROM, John. CANTOR, Nancy. Social Intelligence. The
cognitive basis of personality. California: Sage Publications,
1985.
 KIHLSTROM, John. The cognitive unconscious. Published Online:
<science.sciencemag.org/content/237/4821/1445.long>, 1987.
 OVEJAS, Patricia. Psicoanálisis y Logoterapia en el tratamiento
de las neurosis de transferencia. Buenos Aires: Ed. San Pablo.
2011.
 RATZINGER, Joseph. El Elogio de la Conciencia. Madrid:
Ediciones Palabra, 2010.
 SAVATER, Fernando. Invitación a la ética. Barcelona:
Anagrama. 1995.

Nota

[1] A percepção é diferente do pensamento, pois o pensamento se


baseia em produtos que saem da percepção.

http://vidacrista.org.br/a-consciencia-e-o-inconsciente/

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