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Sonhos - Freud

Docente: Profaª Draª Liliana Scatena


Universidade Anhembi Morumbi - Piracicaba
UC Teorias e Técnicas na Psicanálise
E-mail: liliana_scatena@hotmail.com
Outubro/2022
Povos da Antiguidade clássica
 Povos antigos acreditavam que os sonhos estavam relacionados
com o mundo dos seres sobre-humanos nos quais acreditavam, e
que constituíam revelações de deuses e demônios.

 Não havia dúvida, além disso, de que, para aquele que sonhava, os
sonhos tinham uma finalidade importante, que era, via de regra,
predizer o futuro.

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 Aristóteles – Sua teoria nos informava que os sonhos não são
enviados pelos deuses e não são de natureza divina, mas que são
“demoníacos”, visto que a natureza é “demoníaca”, e não divina.
 Sonhos - decorrem de manifestações sobrenaturais, mas seguem
as leis do espírito humano, embora este, é verdade, esteja
relacionado ao divino.
 Definem-se os sonhos como a atividade mental de quem
dorme, na medida em que esteja adormecido.

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Material dos sonhos
a memória nos sonhos
 Todo o material que compõe o conteúdo de um sonho é
derivado, de algum modo, da experiência, ou seja, foi
reproduzido ou lembrado no sonho – ao menos isso podemos
considerar como fato indiscutível.
 Seria um erro supor que uma ligação dessa natureza entre o
conteúdo de um sonho e a realidade esteja destinada a vir à luz
facilmente, como resultado imediato da comparação entre
ambos.

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Material dos sonhos
a memória nos sonhos

 A ligação exige, pelo contrário, ser diligentemente procurada, e


em inúmeros casos pode permanecer oculta por muito tempo.

 A memória nos sonhos, embora geralmente observada, até hoje


têm resistido à explicação.

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Sonho – vigília
É possível que surja, no conteúdo de um sonho, um material que,
no estado de vigília, não reconheçamos como parte de nosso
conhecimento ou nossa experiência.
Lembramo-nos, naturalmente, de ter sonhado com a coisa em
questão, mas não conseguimos lembrar se ou quando a
experimentamos na vida real.
Ficamos assim em dúvida quanto à fonte a que recorreu o sonho e
sentimo-nos tentados a crer que os sonhos possuem uma capacidade
de produção independente.

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Sonho – vigília

 Então, finalmente, muitas vezes após um longo intervalo, alguma


nova experiência relembra a recordação perdida do outro
acontecimento e, ao mesmo tempo, revela a fonte de sonho.

 Somos assim levados a admitir que, no sonho, sabíamos e nos


recordávamos de algo que estava além do alcance de nossa
memória de vigília.

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Freud – relato de um sonho
 “Durante anos, antes de concluir este livro, fui perseguido pela imagem de

uma torre de igreja de desenho muito simples, que eu não lembrava ter
visto jamais. E então, de súbito, reconheci-a com absoluta certeza numa
pequena estação da linha férrea entre Salzburgo e Reichenhall”.

 “Isso ocorreu na segunda metade da década de 1890, e eu viajara naquela

linha pela primeira vez em 1896”.

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 “Em anos a frequente repetição, em meus sonhos, da
imagem de determinado lugar de aparência inusitada
tornou-se para mim um verdadeiro incômodo. Numa
relação especial específica comigo, à minha esquerda, eu
via um espaço escuro onde reluziam diversas figuras
grotescas de arenito. Uma vaga lembrança à qual eu não
queria dar crédito dizia-me tratar-se da entrada de uma
cervejaria. Mas não consegui descobrir nem o significado
do quadro onírico nem sua origem”.

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Sonho de FREUD– desejo idealizado
 “Em 1907, ocorreu-me estar em
Pádua, que, lamentavelmente, eu
não pudera visitar desde 1895.
Minha primeira visita àquela
encantadora cidade universitária
fora uma decepção, pois eu não
pudera ver os afrescos de Giotto
na Madonna dell’Arena.
Voltara a meio caminho da rua
que leva até lá ao ser informado
de que a capela estava fechada
naquele dia”.
10 Afrescos de Giotto na Madonna dell’Arena
18/10/2022
 “Em minha segunda visita, doze anos depois, resolvi compensar
isso, e a primeira coisa que fiz foi encaminhar-me para a capela da
Arena”.

 “Na rua que conduz a ela, à minha esquerda e, com toda


probabilidade, no ponto do qual retornara em 1895, deparei com
o lugar que tantas vezes vira em meus sonhos, com as figuras de
arenito que faziam parte dele. Era, de fato, o acesso ao jardim de
um restaurante”.

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Fontes dos sonhos
 As fontes dos sonhos – podem ser de muitas espécies, e que tanto os
estímulos somáticos quanto as excitações mentais podem vir a atuar
como instigadores dos sonhos.
 As opiniões diferem amplamente, contudo, na preferência
demonstrada por uma ou outra fonte dos sonhos e na ordem de
importância atribuída a elas como fatores na produção dos sonhos.
 Qualquer que seja a ordem das fontes dos sonhos leva ao
reconhecimento de quatro tipos de fonte, e estes também têm sido
utilizados para a classificação dos próprios sonhos.

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São eles:

(1) excitação sensoriais externas (objetivas);


(2) excitações sensoriais internas (subjetivas);
(3) estímulos somáticos internos (orgânicos); e
(4) fontes de estimulação puramente psíquicas.

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Excitações sensoriais internas (subjetivas)
- imagens oníricas – segundo Freud
 Para explicar todas as imagens oníricas, somos incentivados a buscar
outras fontes de sonhos análogas a eles em seu funcionamento.
 Não se sabe ao certo quando despontou pela primeira vez a ideia de
se levarem em conta as excitações internas (subjetivas) dos órgãos
dos sentidos, juntamente com os estímulos sensoriais externos.
 É fato, porém, que isso é feito, mais ou menos explicitamente, em
todas as discussões mais recentes da etiologia dos sonhos.

Achados em (Wundt, 1864)

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Estímulos somáticos orgânicos internos
 Tissié dizia que o órgão específico afetado dá um cunho
característico ao conteúdo do sonho.
 Assim, os sonhos dos que sofrem doenças cardíacas costumam
ser curtos e têm um fim assustador no momento do despertar;
seu conteúdo quase sempre inclui uma situação que implica uma
morte horrível.
 Os que sofrem de doenças pulmonares sonham com sufocação,
grandes aglomerações e fugas, e estão notavelmente sujeitos ao
conhecido pesadelo.

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 No caso de distúrbios digestivos, os sonhos contêm ideias
relacionadas com o prazer na alimentação ou a repulsa.
 Finalmente, a influência da excitação sexual no conteúdo dos
sonhos pode ser adequadamente apreciada por todos
mediante sua própria experiência, e fornece à teoria de que
os sonhos são provocados por estímulos orgânicos, seu mais
poderoso apoio.
Freud cita Tissié [1898,
60 e segs.].

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Fontes psíquicas de estimulação
 Verifica-se que os mais antigos e mais recentes estudiosos dos
sonhos eram unânimes na crença de que os homens sonham com
aquilo que fazem durante o dia e com o que lhes interessa
enquanto estão acordados.
 Durante a análise da vida onírica, sentimos que é impossível fazer
generalizações sem nos resguardarmos por meio de ressalvas
como “frequentemente”, “via de regra” ou “na maioria dos casos”,
e sem estarmos dispostos a admitir a validade das exceções.
 A maioria dos que escrevem sobre o assunto tende a reduzir ao
mínimo o papel desempenhado pelos fatores psíquicos na
instigação dos sonhos, visto ser tão difícil chegar a esses fatores.

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 Dormindo, produzimos estranhas histórias, que parecem
fazer sentido, sem que saibamos qual. Chegamos a pensar que
nos anunciam o futuro, simplesmente porque parecem
anunciar algo, querer comunicar algum sentido. Freud,
tratando dos sonhos, partia do princípio de que eles diziam
algo e com bastante sentido.

 A técnica interpretativa de Freud era mais ou menos assim.


Tomava as várias partes de um sonho, seu ou alheio, e fazia
com que o sonhador associasse idéias e lembranças a cada
uma delas. Foi possível descobrir assim que os sonhos diziam
respeito, em parte, aos acontecimentos do dia anterior,
embora se relacionassem também com modos de ser infantis
do sujeito.

18 18/10/2022
 Ele descobriu algumas regras da lógica das emoções que
produz os sonhos.
 Com frequência, uma figura que aparece nos sonhos,
uma pessoa, uma situação, representa várias figuras
fundidas, significa isso e aquilo ao mesmo tempo.
Chama-se este processo condensação, e Freud explica
o porquê de qualquer interpretação ser sempre muito
mais extensa do que o sonho interpretado.

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 Outro processo, chamado deslocamento, é o de dar ao
sonho uma importância emocional maior a certos elementos
que, quando da interpretação, se revelarão secundários,
negando-se àqueles que se mostrarão realmente importantes.
Um detalhezinho do sonho aparece, na interpretação, como o
elo fundamental.
 Digamos que o sonho, como um estudante desatento, coloca
erradamente o acento tônico (emocional, é claro), criando
um drama diverso do que deveria narrar.
 Consiste em que tudo é representado por meio de símbolos
 Reside na forma final do sonho que, ao contrário da
interpretação, não é uma história contada com palavras,
porém uma cena visual. (...)

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Exemplo de mecanismo de defesa da
Projeção: Louis Wain - ilustrador inglês
Do conjunto de
associações que
partem do
sonho, o
intérprete retira
um sentido que
lhe parece
razoável. Para
Freud, todo
sonho é uma
tentativa de
realização do
desejo. (...)1
1.Fábio Herrmann. O que é Psicanálise. São Paulo, 1984.
21 (Coleção Primeiros Passos). 18/10/2022
Interpretação dos sonhos - 1900
 Conteúdo manifesto – sonho tal como é relatado e no qual o

sentido geralmente é obscuro.

 Conteúdo latente – o seu significado só aparece com toda a sua

clareza depois que o sonho é decifrado à luz das associações do


paciente.

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 Trabalho de sonho – conjunto de operações psíquicas que

transforam o conteúdo latente em conteúdo manifesto como


objetivo de torná-lo irreconhecível.

 Trabalho de análise – é a operação inversa, que visa

encontrar seus sentidos ocultos a partir do conteúdo


manifesto.

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(QUINODOZ,2007)
Sonhos
 Sobre a Interpretação dos Sonhos (1900)

 Freud faz um estudo histórico do olhar sobre os sonhos para

concluir que o sonho é um a produção própria de quem sonha e que


não provém de um a fonte estranha a ele, imposta de fora.

 É nesse texto que ele traz uma das suas frases mais conhecidas:

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“A interpretação dos sonhos é via régia que conduz
ao conhecimento do inconsciente da vida psíquica”

 Através da análise de vários sonhos, inclusive dos seus, ele


conclui alguns fundamentos que o levarão à forma de se
trabalhar analiticamente.

(QUINODOZ,2007)
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Considerações freudianas
 Segundo Freud

“No método de interpretação de sonhos que aqui


indiquei, verificaremos que os sonhos têm mesmo um
sentido e estão longe de constituir a expressão de
uma atividade fragmentária do cérebro, como têm
alegado as autoridades. Quando o trabalho de
interpretação se conclui, percebemos que o sonho é a
realização de um desejo.”

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O sonho é a realização de um desejo inconsciente
(recalcado/reprimido).

❑Nas crianças, muitas vezes, o desejo é “límpido” como o caso da


menina que sonha com morangos que lhe foram negados no dia
anterior. Mas no adulto, a maioria das vezes o desejo vem
dissimulado de forma a parecer incoerente à primeira vista só
sendo elucidado pelo trabalho de análise.

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.(QUINODOZ,2007)
Mecanismos na formação dos sonhos

 Condensação - é reunir em um único elemento vários elementos–


imagens, pensamentos, etc., pertencentes a diferentes cadeias de
associação.
 Deslocamento - o trabalho do sonho substitui os pensamentos mais
significativos de um sonho por pensamentos acessórios, de modo que
o conteúdo importante de um sonho é desfocado e dissimula a
realização do desejo.

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.(QUINODOZ,2007)
Mecanismos na formação dos sonhos
 Representação ou representabilidade – é a
transformação de pensamentos em imagens sobretudo
visuais.
 Elaboração secundária – apresentação do conteúdo
onírico de forma a ser um cenário coerente e inteligível.
 Dramatização – transformar um pensamento em uma
situação.
 Substituição pelo seu contrário – inversão pelo oposto.

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.(QUINODOZ,2007)
Sonho
 Restos diurnos + realização de um desejo = sonho

 O principal motivo para a deformação dos sonhos está ligado à


CENSURA (posterior Superego) – que é uma instância
particular na fronteira entre o consciente e o inconsciente que
só permite passar o que lhe é agradável gerando o processo de
REPRESSÃO/RECALQUE e constituindo o que é
REPRIMIDO.

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 O recalcamento primário é uma fixação do
representante psíquico no solo do inconsciente

 É lícito, portanto, admitirmos um recalcamento primário,


uma primeira fase do recalcamento, que consiste em que ao
representante psíquico (representante- representação) da
pulsão é recusado o acesso ao consciente.

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 O recalcado é apenas uma parte do inconsciente
(sendo a outra parte constituída pela ação do
próprio recalcamento)

 A psicanálise nos ensinou que a essência do processo de


recalcamento não consiste em suprimir, em aniquilar uma
representação que representa a pulsão, mas em impedir que
ela se torne consciente.

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 Dizemos, então, que a pulsão se encontra em estado
“inconsciente”, e podemos fornecer sólidas provas de que,
mesmo sendo inconsciente, ela pode produzir efeitos, alguns
dos quais chegam até a atingir a consciência.
 Todo recalcado é necessariamente inconsciente, mas
fazemos questão de afirmar, desde logo, que o recalcado não
abrange todo o inconsciente.
 O inconsciente tem uma extensão maior; o
recalcado é uma parte do inconsciente.

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 No sonho, uma parte da censura sofre um relaxamento e
o que está reprimido se apresenta através dos
mecanismos de deformação dos sonhos citado
anteriormente, sofrendo modificações e formando o
compromisso.
 A função do sonho é a realização de um desejo para a
permanência do sono.
 “o sonho é o guardião do sono, e não um
perturbador”.

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Sonhos e símbolos

 Os desejos reprimidos são desejos sexuais infantis que se originam


da sexualidade infantil.

 O SÍMBOLO tem um papel central no sonho pois permite que a


pessoa que sonha contorne a censura camuflando as
representações sexuais de sua intelegibilidade.

Temos dois tipos de símbolos:


 Símbolos universais
 Símbolos individuais
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Questionamento
 Quais são os ensinamentos que a
interpretação dos sonhos nos propicia?

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Análise pessoal de um sonho de - FREUD
 Referência do material:
 Vol. IV -(3) Capítulo II -O MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO
DOS SONHOS: ANÁLISE
 SONHO DE 23-24 DE JULHO DE 1895
(especificamente) p.2
 PREÂMBULO
 No verão de 1895, eu vinha prestando tratamento psicanalítico a
uma jovem senhora[...].

Atividade acadêmica:
* Leitura e discussão do texto

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