A interpretação

dos sonhos

Sigmund Freud
UC: Estética e Teorias da Arte
Alina Cepeliuc
Nora Penny
Rúben Henriques
Sara Neves
Sigmund Freud
Neurologista e psiquiatra austríaco que desenvolveu a
psicanálise.

Alvo de críticas da comunidade médica científica.

Fundação da teoria e prática da psicanálise.

Obras mais importantes: "A interpretação dos sonhos"

(1899), "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade"
(1905), "Totem e tabu" (1913), "Além do princípio do
prazer" (1920), "O ego e o id" (1923) e "O mal-estar na
civilização" (1930).
A Interpretação dos sonhos
TEMAS ANALISADOS

O Método da Interpretação dos Sonhos

pp. 75-82

Sonho como Realização de um Desejo

pp. 95-102

A Consideração pela Representabilidade

pp. 246-253

Autoanálise dos sonhos e Objeções a Freud

pp. 373-380

Relação de Estética com o Freud

 O MÉTODO DA INTERPRETAÇÃO
DOS SONHOS
OS SONHOS SÃO SUSCEPTÍVEIS DE INTERPRETAÇÃO,
POIS SÃO RESULTADO DE UMA ATIVIDADE PSÍQUICA.

Oposição ao ponto de vista científico - sonhos como um mero processo somático.

Opinião popular oposta à Interpretação simbólica - sonho como um

científica todo.

Interpretação pela decifração - sonho como um

conjunto de partes individuais.
 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
“POPULAR”
(Henry Fuseli, "The Nightmare", 1781)
”Opinião leiga”, enquanto oposição à
opinião científica:

“Levada por uma intuição difusa, parece antes

partir do princípio de que os sonhos têm um
significado, embora oculto; que se destinam a
substituir outro processo de pensamento e que
nos basta detectar corretamente esse substituto
para descobrir o significado oculto do sonho.”
(Freud, 2009, p. 75)
 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO “POPULAR”
Dois “métodos” de interpretação:
1. Interpretação simbólica - vê o conteúdo do sonho como um todo.

LIMITAÇÕES: não aplicável a sonhos incoerentes.

2. Interpretação pela decifração - Resposta às limitações da interpretação simbólica. A

interpretação, neste caso, não se aplica ao sonho na sua totalidade, mas ao seu conteúdo
separadamente (cada fragmento é analisado individualmente): SIGNO e CHAVE.

LIMITAÇÕES: depende de “livros de signos”, cuja fiabilidade é dúbia.

*Em ambos estes métodos, o significado do sonho é aplicado ao futuro.

 MÉTODO PSICANALÍTICO
Sonhos têm um impacto significativo no psíquico e que devem, por isso, ser analisados
através do método psicanalítico.

Dois esforços necessários do paciente:

a) reforçar a capacidade de atenção às suas percepções psíquicas;
b) suspender o espírito crítico que filtra constantemente todos os pensamentos
considerados “inaceitáveis” ou “inadequados”.

O método aplica-se às componentes individuais do sonho.

Aperfeiçoamento do método da decifração: a cada elemento onírico

pode-lhe corresponder diversos significados, consoante diferentes
pessoas e/ ou contextos.
MÉTODO PSICANALÍTICO E CRIAÇÃO POÉTICA
O método psicanalítico freudiano é especialmente relevante visto que é o processo
fundamental para a criação poética.

Ideia isolada pode parecer insignificante, mas quando associada a uma cadeia de
pensamentos pode ter potencial.

Deve-se, na produção poética, eliminar a crítica - ter a mente aberta a todas as ideias que
surgirem - e, posteriormente, julgá-las.

Falta de criatividade artística Excesso de crítica

SONHO COMO REALIZAÇÃO DE UM
DESEJO

consciente: acesso e controlo

inconsciente: região obscura

SONHO COMO REALIZAÇÃO DE UM
DESEJO

Sonho seria um fenómeno onde as barreiras entre o

consciente e o inconsciente se dissipam, permitindo que os
"O sonho, na
desejos reprimidos do inconsciente sejam representados e, em sua essência
muitos casos, realizados mais íntima, é
a realização
Conteúdo dos sonhos é simbólico e que a análise desses
de um desejo "
símbolos pode desvendar os seus significados escondidos.

(Freud, 2009 , p. 98)

SONHO COMO REALIZAÇÃO DE UM
DESEJO

Exemplo do desejo de beber água

“O sonhar toma pois o lugar do agir, como acontece noutros

aspectos da vida. Infelizmente, a necessidade da água para
aplacar a sede não pode ser satisfeita por um sonho”

(Freud, 2009, p. 96)

 SONHO COMO REALIZAÇÃO DE UM
DESEJO

censura diurna: modo como as

pessoas lidam com as suas emoções
Sonhos disfarçados de maneira a evitar a censura
da consciência

censura noturna: responsável por

estar alerta a possíveis estímulos
enquanto a pessoa dorme
SONHO COMO REALIZAÇÃO DE UM
DESEJO
Conteúdo manifesto: na Conteúdo latente: desejo reprimido
superficie quando uma pessoa expresso de maneira desfarçada
acorda

Papel do analista

"O sonho busca sempre realizar um desejo, mas a

forma como ele faz isso pode ser distorcida ou
censurada."

(Freud, 2009, p.)

SONHO COMO REALIZAÇÃO DE UM
DESEJO

A importância da análise dos sonhos para a compreensão da psique

humana, já que eles são uma manifestação direta do inconsciente. Freud
argumenta que essa análise é fundamental para o tratamento de
transtornos psicológicos e para a compreensão da vida emocional do
indivíduo.
A CONSIDERAÇÃO PELA REPRESENTABILIDADE
O problema das transformações que a formação dos sonhos impõe sobre o material onírico.

1) substituições de um elemento por outro que lhe é

associativamente contíguo :

2 elementos passam a 1 só no sonho

Os processos de deslocamento
- um elemento intermédio e comum (condensação).

2) substituição em que um elemento troca a sua

expressão verbal por outra:
substituição de uma expressão incolor e abstrata dos pensamentos
oníricos por outra icónica e concreta (representável).
Também causa a censura e condensação dos pensamentos.
 A CONSIDERAÇÃO PELA REPRESENTABILIDADE

A importância do deslocamento para uma expressão icónica susceptível de representação no sonho.

Através da modificação verbal/ de expressão, ao ser transladado de uma linguagem abstrata para
uma icónica e concreta, dá-se a possibilidade de formação e unificação dos pensamentos oníricos
singulares no sonho.

"Não é difícil de compreender a utilidade e consequentemente o propósito

desta substituição. O icónico é susceptível de representação no sonho e pode
ser incluído numa situação, ao passo que a expressão abstrata ofereceria à
representação onírica dificuldades análogas às que encontraríamos ao querer
ilustrar um artigo de fundo de um diário político."
(Freud, 2009, p. 246)
 EXEMPLO DO POETA

“As melhores poesias são aquelas em que não nos

apercebemos da intenção de encontrar a rima, em que
ambos os pensamentos, por indução recíproca,
escolheram uma expressão verbal que, mediante uma
ligeira elaboração ulterior, faça surgir a consonância.”

(Freud, 2009, p.247)

Discussão: Possível paralelismo com a ideia kantiana de

intenção oculta, que parece natural e indiscernível,
possibilitada pela intuição do génio artista.
J. M. William Turner , "Snow Storm, Hannibal and
his Army Crossing the Alps" (1812)
 O PROBLEMA DA LINGUAGEM

1) A importância da palavra para a elaboração

dos sonhos e das suas representações, visto
que ela é inerente e comum - "o pilar" - do
pensamento humano.
2) A palavra é um ponto nodal de múltiplas
representações/ significados.
A linguagem pode tanto ajudar a
condensar a formação e
interpretação do sonho, como
disfarçar e distorcer o seu real
significado a partir das discrepâncias
de significados que possui.

“Só para raros temas se formou um simbolismo onírico universalmente

válido com base em substituições de palavras e alusões geralmente
conhecidas.”
(Freud, 2009, p.251)
(Margarida Fernandes , "O Sonho já O PROBLEMA DA LINGUAGEM
é outra Vida", 2023)

Problemas da interpretação dos sonhos devido à

linguagem/expressão verbal ser ambígua e distorcida:

1) Não se sabe se deve ser interpretado como positivo

ou negativo;
2) interpretado historicamente (reminiscência do
passado);
3) interpretado simbolicamente;
4) ou interpretado literalmente.

Discussão: Paralelismo com

“Apesar desta multiplicidade de sentidos, pode dizer-se
a condição do modernismo
que as representações do trabalho do sonho, que não
artístico e a arte
pretendem ser compreendidas, (...) “ contemporânea?
(Freud, 2009, p.247)
 O PROBLEMA DA MULTIPLICIDADE DE
INTERPRETAÇÕES

Mesmo após a finalização da interpretação do sonho, o trabalho do

intérprete não está concluído - existe quase sempre uma ou múltiplas
sobre-interpretações a serem tomadas em conta.

Freud chega à conclusão que nem todos os sonhos são susceptíveis de interpretação.

“Esse é o umbigo do sonho, o ponto em que ele assenta no desconhecido. Pela

natureza das coisas, os pensamentos oníricos a que somos levados pela
interpretação não podem ter fronteiras definidas, antes de se ramificarem
necessariamente em todas as direções dentro da intricada rede do nosso
mundo do pensamento.”

(Freud, 2009, p.374)

 REPRESENTAÇÃO PLÁSTICA E
INDIVIDUALIDADE NA TEORIA FREUDIANA

1) A importância da representação plástica das ideias

abstratas para a concretização do sonho e da sua análise.

"Entre os vários pensamentos acessórios ligados aos pensamentos

Duas importantes oníricos e essenciais, serão preferidos os que permitam uma
conclusões deste capítulo representação visual (…)” (Freud, 2009, p.249)

2) É necessário um conhecimento dos elementos contingentes e

contextuais das circunstâncias do próprio sonhador para criar
uma chave específica e particular - individualismo - , recusando
teorias universalistas da interpretação dos sonhos; Cada
elemento do sonho deve ser tratado em particular, pois cada
um necessita uma forma de interpretação diferente.
 SIMBOLISMO SEXUAL
Curiosidade sexual - projetada nos órgãos genitais - é um assunto que predomina
nos sonhos.

Símbolos fálicos e/ou aspetos do quotidiano

“Por meio de alusões, aparentemente inocentes, às tarefas culinárias podem

também pensar-se e sonhar-se as mais repulsivas e íntimas particularidades da vida
sexual (...) o simbolismo sexual pode ocultar-se, melhor que em nenhum outro lado,
por detrás do quotidiano e insignificante.”
(Freud, 2009, p. 247)
 SIMBOLISMO SEXUAL E A ARTE
Paralelismo entre repressão sexual no inconsciente e repressão sexual a nível
social.

(Michelangelo, “A Criação de Adão”, 1511)

Discussão: Em que medida é que a

repressão sexual inconsciente e
individual se pode relacionar com o
simbolismo erótico que habita na
arte?
 AUTOANÁLISE DOS SONHOS

“esforçar-se por, durante o trabalho, se abster de qualquer crítica, qualquer parti pris e qualquer
inclinação afetiva ou intelectual (...) “travailler comme une bête”- isto é, trabalhar com a mesma
persistência de um animal e com indêntica despreza pelo resultado.”
(Freud, 2009, p. 373)
Condições necessárias para a
autoanálise dos sonhos

“Será notoriamente mais difícil captar as «representações não desejadas»."

(Freud, 2009, p. 373)
A autocrítica e censura inerente
ao pensamento humano como
limitação do processo de análise.
AUTOANÁLISE DOS SONHOS E A
CRIAÇÃO ARTÍSTICA
A criação artística vista a partir do método de autoanálise dos sonhos de Freud:

1) A abstenção da censura a priori;

2) O fluir e potencialização de todas as ideias sem crítica imediata;
3) A "persistência animal" tanto técnica como conceptual;
4) A desconexão do resultado /produto final.

Criação artística como processo inconsciente e não como uma relação com um fim
(produto).
O artista como "homem introspetivo" freudiano, que procura entender os seus
processos psíquicos (ideias e conceitos) e que se esforça para eliminar a crítica.
 OBJEÇÕES A FREUD
O método é demasiado vago e arbitrário.

parece que não existe nenhuma forma objetiva de

percebermos quando realmente chegámos ao significado do
sonho.

“Mas tudo isso é completamente arbitrário e uma exploração do acaso, só

aparentemente espirituosa. Assim, quem se der a todo esse trabalho inútil
poderá desencantar para qualquer sonho uma interpretação arbitrária que lhe
agrade.” (Freud, 2009, p. 376)
 OBJEÇÕES A FREUD
O primeiro elemento do sonho decifrado enquanto limitação do
significado dos restantes, na procura de uma conexão entre eles.

DEFESA DE FREUD: impacto das interpretações

+
improbabilidade de chegar a uma conclusão

Crítica aceite pelo autor: cadeias de pensamento no estado

de vigília não são necessariamente transitáveis com os
processos do sono.
LIMITAÇÃO DO MÉTODO
 RELAÇÃO DE ESTÉTICA COM FREUD
Inconsciente e o
impulso artístico
Fonte de normas e comportamentos
baseados nos ideais e educação moral
obtida, tornando-se parte da pré-
consciencia do sujeito
Mediador formado entre o ID inato e
o Superego adquirido .
Faz parte das camadas tanto de consciente
como de pré-consciente.
Corresponde aos impulsos
nativos/irracionais do
insconsciente, referentes aos
desejos sexuais ou agressão
que procuram uma
satisfação imediata
Associação da psicanálise com a estética
Em "A Interpretação dos Sonhos", Freud afirma o sonho como essencial na vida
de um sujeito, relacionando-o com o ato criativo - segundo a influência que o
mesmo tem na vida de um artista;
O surrealismo começou a retratar o estranho e o "horrível" de um sonho, o que
ultrapassou o princípio do prazer artístico: a obra não era criada com o
propósito da sua beleza ser contemplada.

Conflitos interiores
Frustrações Obra de arte
Artistas
Agressões (satisfação imediata)
(constituintes do ID)
Associação da psicanálise com a estética

Para Freud, o ato criativo (inato, resultante do ID) é indissociável do

complexo de Édipo, que ocupa lugar no Superego do sujeito;
O ato criativo, paradigma de uma beleza em transformação (arte da
vanguarda), não tem sempre o objetivo de atingir o belo, o que deu
espaço à expressão do sublime.
A beleza para Freud carrega o carácter de deciframento e revelação do
sentido oculto;

 Insatisfação ID (impulso,
Artista
Frustração inconsciente)

Desejo de criar um
mundo melhor

Mostra-se omnipontente Resultado: Obra com valor social

e cria o próprio mundo a (simbolismo provavelmente
partir do sonho oculto devido à censura)
Em síntese
Se a arte tem origens psicanalíticas, são as da fantasia na fantasia da
omnipotência: o artista tem o desejo de construir um mundo melhor que se apoia
na realidade, mas transofrma-o de acordo com a sua imaginação;
O Ego, com receio dos seus desejos proibidos, não permite que estes se tornem
realidade e transporta-os a um nível inconsciente, onde se acumulam e criam uma
sobrecarga que consequentemente leva à loucura - destruição da psique.
Para evitar isso, a sociedade desenvolve mecanismos de sublimação, ou seja,
transfere a energia dos impulsos biológicos para a corrente principal da atividade
socialmente útil, que Freud identifica na atividade humana política, científica e
artística.
Discussão
1) Será possível um paralelismo com a ideia kantiana de intenção oculta do génio
artista e exemplo da poesia de Freud ?

2) Como é que o problema da linguagem - as múltiplas interpretações e a sua

complexidade teórica - favorece a condição da perda da definição de arte no
modernismo artístico e na arte contemporânea ?

3) Em que medida é que a repressão sexual inconsciente e individual se pode

relacionar com o simbolismo erótico que habita na arte ?

4) Como é que o livro "A interpretação dos sonhos" pode ajudar na reflexão sobre a
linguagem simbólica e a comunicação em diversas áreas?