Você está na página 1de 67

ANÁLISE TRIDIMENSIONAL

DOS SONHOS

Por Gilvan Melo


gilvanmusic@gmail.com
Oração Ao Tempo (Caetano Veloso)
● És um senhor tão bonito ● Que sejas ainda mais vivo
Quanto a cara do meu filho No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido Ouve bem o que eu te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo Tempo, tempo, tempo, tempo
● Compositor de destinos ● Peço-te o prazer legítimo
Tambor de todos os ritmos E o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo Tempo, tempo, tempo, tempo
● Por seres tão inventivo ● De modo que o meu espírito
E pareceres contínuo Ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo Tempo, tempo, tempo, tempo
A Caverna de Platão

3
Bem-vindo ao mundo
dos sonhos....
A palavra
“sonho”
corresponde
ao grego
“onar”,
que significa
algo
visto dormindo
O Trajeto Metodológico
● Algumas curiosidades sobre os sonhos
● Parte 1: Freud e os sonhos
● Parte 2: Jung e os sonhos
● Parte 3: Frankl e os sonhos
● Parte 4: Análise tridimensional dos sonhos
Livros sobre sonhos
Livros sobre sonhos
Algumas Curiosidades
sobre os sonhos
O que significa ter sonhos recorrentes?Qual a função de um sonho
Qual a explicação do déjà vu?

Como sonha uma pessoa cega?


O que significa sonhar fugindo de algo?Posso
10 sonhar com o futuro?
Freud e os
sonhos

Sigmund Freud (1856-1939)


• “Um método científico pode
interpretar o sentido de um
sonho”;
• “O sentido do sonho não é
imediatamente acessível nem
ao sonhador, nem ao
intérprete”;
• “O registro do sonho lembrado
e contado pela pessoa é o
conteúdo manifesto. O registro
do sonho oculto, inconsciente, é
o pensamento latente. A
interpretação consiste em
percorrer o caminho que leva
do conteúdo manifesto aos
pensamentos latentes”;
• “O que se interpreta é o relato
do sonho, não é o sonho
sonhado”;
• “O trabalho de interpretação é
realizado ao nível da linguagem
e não ao nível das imagens
oníricas recordadas pelo
paciente”;
• “O conteúdo manifesto é uma
transcrição dos pensamentos
oníricos latentes cuja sintaxe é
dada pelo inconsciente”.
• “O sonho é uma forma
disfarçada de realização de
desejos, cuja deformação é
efetivada por mecanismos de
censura”;
• “A deformação onírica protege
o sonhador do caráter
ameaçador dos seus desejos”;
• “O sonho é uma forma de
canalizar desejos não
realizados sem despertar o
corpo”;
• “O sonho preserva o sono das
situações conflituosas e
pensam por meio de imagens”;
• “O processo onírico é
estimulado pelo presente (dia
ou noite anterior), mas
provocado por anseios infantis
primitivos”;
• “As fontes dos sonhos são:
Excitações sensoriais externas
e objetivas, excitações
sensoriais internas e subjetivas,
excitações somáticas orgânicas
e fontes psíquicas de
excitação”.
Jung e os
sonhos

Carl Jung (1875-1961)


• “Os sonhos têm uma significação
própria, mesmo quando provocados
por alguma perturbação emocional”
oriunda dos complexos do indivíduo
(JUNG, 2008, p. 28);
• Devemos “prestar mais atenção à
forma e conteúdo dos sonhos, ao
invés de nos deixarmos conduzir
pela livre associação de ideias”, até
chegarmos aos complexos (JUNG,
2008, p. 28);
• “O sonho é uma expressão
específica do inconsciente” (JUNG,
2008, p. 34);
• Todo sonho é normal, causal e
intencional (JUNG, 2008);
• “O inconsciente não é um simples
depósito do passado, mas está
também cheio de germes de ideias e
de situações psíquicas futuras”
(JUNG, 2008, p. 41);
• “Muitos sonhos apresentam imagens
e associações análogas a ideias,
mitos e ritos primitivos.” (JUNG,
2008, p. 51);
• “A função geral dos sonhos é tentar
restabelecer a nossa balança
psicológica, produzindo um material
onírico que reconstitui o equilíbrio
psíquico total. É o que chamo de
função complementar ou
compensatória dos sonhos.” (JUNG,
2008, p. 56);
• “Os sonhos muitas vezes nos
advertem; mas tantas outras parece
que não o fazem (...) parece que uma
força benéfica por vezes funciona e
outras não (...) os sonhos às vezes
provam ser armadilhas.” (JUNG,
2008, p. 58);
• “Nenhum símbolo onírico pode ser
separado da pessoa que o sonhou,
assim como não existem
interpretações definidas e específicas
para qualquer sonho.” (JUNG, 2008,
p. 61);
• “Os sonhos, na verdade, estão
sempre perturbando o sono (...) e
revelam apenas o “rastro da
consciência””. (JUNG, 2008, p. 77-
78);
• Os arquétipos, sob a forma de
“tendências instintivas”
representadas no consciente, podem
se manifestar nos sonhos como
“fantasias” e se revelam por meio de
“imagens simbólicas.” (JUNG, 2008,
p. 83);
• “A tarefa principal dos sonhos é
trazer de volta uma espécie de
“reminiscência” da pré-história e do
mundo infantil no nível dos nossos
instintos mais primitivos.” (JUNG,
2008, p. 125).
Frankl e os
sonhos

Viktor Frankl (1905-1997)


• “O sonho deixa de ser uma imposição
estranha, ou um recanto sem
importância. O sonho é parte da
existência e pertence à pessoa.”
(Hernández, 1986b, p. 79 apud
XAUSA, 2003, p. 32);
• “Os sonhos são manifestações da
voz da consciência (Gewissem), o
mais íntimo do inconsciente
espiritual” (FRANKL, 2004, p. 34);
• “Os sonhos são caminhos por onde o
“inconsciente instintivo” e o
“inconsciente espiritual” são trazidos
à consciência (Bewusstsein) e à
responsabilidade do sonhador”
(FRANKL, 2004, p. 32);
• “O diálogo socrático é
absolutamente necessário para
desvendar o simbolismo dos
sonhos” (XAUSA, 2003, p. 56);
•Os sonhos são indicativos de
sentido para a vida do sonhador,
onde neles se manifestam para
além da decifração do quadro
psíquico atual, “soluções para
conflitos existenciais” (XAUSA,
2003, p. 52; FRANKL, 2004);
•“A análise logoterapêutica dos
sonhos prioriza a pessoa do
sonhador, que, orientado por um
diálogo socrático, descobre o
significado de seu sonho.” (XAUSA,
2003, p. 46-47)
• “O sonho tem uma origem
psico-neuro-orgânica e uma
origem psico-espiritual e a
linguagem simbólica poderá
ser também uma
manifestação destas
realidades.” (XAUSA, 2003,
p. 49);
• “O comportamento analítico-
existencial apela para a
maior consciência de
percepções do paciente no
estado desperto do que no
sonhar” (XAUSA, 2003,
p.68);
• “O logoterapeuta também procurará
ajudar os pacientes a tomarem
consciência de seus conflitos espirituais
reprimidos e de seus conflitos de
consciência, assim como o psicanalista
procura conscientizar seus pacientes
sobre seus impulsos reprimidos” (XAUSA,
2003, p. 110);
• “Também não nos surpreenderá encontrar
às vezes sonhos flagrantemente
religiosos até em pessoas
manifestamente irreligiosas, pois agora
conhecemos as razões profundas e
essenciais ao ser das quais surge não
apenas uma libido inconsciente e
reprimida, mas também uma religio
igualmente inconsciente e reprimida.”
(FRANKL, 2004, p. 39, grifos do autor);
• “A Logoterapia encontra sua legitimidade
no fato de que ela não se ocupa apenas
da vontade de sentido, mas também da
busca de um sentido final, um meta-
sentido. E a fé religiosa é, em última
análise, a crença no meta-sentido”
(Frankl, 1978, p. 258 apud XAUSA, 2003,
p. 163).
• “A espiritualidade do homem não se
refere unicamente ao sentido religioso.
Inclui vários fenômenos, como por
exemplo afetos, amor, vontade de
sentido, ideias, valores, fenômenos
intelectuais, racionais e intuitivos, enfim,
toda a gama da criatividade humana,
incluindo os mitos, conceitos religiosos,
fé, manifestações místicas, etc.” (XAUSA,
2003, p. 48-49);
Quadro Comparativo
FREUD JUNG FRANKL
Analisa um sonho para chegar aos Analisa um sonho para entender a Analisa um sonho para orientar que
complexos do sonhador organização psíquica da atitude o sonhador deve tomar, a partir
(Reductio ad primam figuram) personalidade do sonhador ou o que de indícios da voz da consciência e
o inconsciente está fazendo com os das atitudes das personagens
complexos representadas no sonho

Usa o método da associação livre Usa o método filológico ou Usa a associação livre e
linguístico e a amplificação o diálogo socrático

Prioriza o relato dos sonhos, a fim Prioriza formas e conteúdos Prioriza relato dos sonhos, a fim de
de desvelar desejos oriundos do simbólicos (imaginário centrado nos desvelar intenções oriundas do
inconsciente impulsivo (imaginário símbolos apresentados no sonho) inconsciente espiritual (imaginário
centrado no discurso posterior ao centrado no discurso posterior ao
sonho) sonho)
Quadro Comparativo
FREUD JUNG FRANKL
Sonho manifestado disfarça Sonho manifestado expressa Sonho manifestado disfarça
conteúdo latente (desejo) linguagem simbólica passível conteúdo latente (sentido e
de leitura manifestações espirituais)

A função do sonho é realizar A função do sonho é A função do sonho é indicar


desejo restabelecer a balança sentido
psicológica, (consciência X
inconsciência)
O inconsciente é impulsivo, O inconsciente é impulsivo, O inconsciente é impulsivo,
cujo núcleo é inconsciente dividido em duas dimensões: pessoal e espiritual, cujo núcleo
(modelo estratificado). pessoal e coletivo, cujo núcleo é consciente (Gewissem)
é inconsciente (modelo espiralado).
(modelo estratificado).
Análise
Tridimensional
dos Sonhos

Izar Xausa (1932-2018)


DO Mytho ao logos 1
“A Logoterapia não é apenas uma
complementação da
psicoterapia, mas também uma
complementação da somatoterapia, de
uma terapia somatopsíquica
simultânea, e que atua tanto no
somático quanto no psíquico”
(FRANKL, 2016, p. 185).
DO Mytho ao logos 2
“O interesse preponderante do homem
não é por quaisquer condições internas
dele próprio, sejam elas prazer ou
equilíbrio interno, mas ele é orientado
para o mundo lá fora, e neste mundo
procura um sentido que pudesse
realizar ou uma pessoa que pudesse
amar” (FRANKL, 2003, pp.77-78).
DO Mytho ao logos 3

Fundamentos teóricos: Teoria


freudiana dos sonhos, teoria junguiana
dos sonhos e a teoria frankliana dos
sonhos. Enquanto as duas primeiras
contribuem nas análises de sonhos
cujo motivo encontra-se na dimensão
biopsíquica, a terceira é a base da
análise de sonhos cujo motivo
encontra-se na dimensão noética.
DO Mytho ao logos 4
Fundamentos antropológicos: Análise
Existencial de Viktor E. Frankl, com seus
princípios básicos já supracitados: 1. Em sua
Ontologia dimensional, o ser humano é um ser
biopsiconoético; 2. O ser humano é, em sua
essência, espiritual; 3. O ser humano é livre; 4. O
ser humano é responsável; 5. O ser humano se
encontra numa tensão entre SER e o “DEVER-
SER”; 6. O ser humano busca o sentido; 7. A
vida tem sentido; 8. O ser humano é um HOMO
PATIENS (Prefácio de Marino apud FRANKL,
2019a, pp. 13-20, grifos da autora).
DO Mytho ao logos 5
Noopsicodinâmica da A. T. S:
A Análise Tridimensional dos Sonhos sustenta
que o ser humano é movido pelo movimento
destas três dimensões: biológica, psíquica e
noética, oscilando entre o movimento
intrapsíquico e existencial, num
noopsicodinamismo cuja tendência é a abertura
para um processo contínuo de amadurecimento
psicológico, deste à sua “infância” e
“adolescência” biopsíquicas (destensão e
individuação) até o seu amadurecimento pessoal
(autotranscedência).
Categorias de Análise
Sentimentos

Símbolos

Atitudes
Tipos de sonhos

A análise dos sentimentos representados no sonho serve de


parâmetro para a definição do tipo de sonho: sonho indicativo de
desejo, sonho compensatório e sonho indicativo de sentido.
CATEGORIA SENTIMENTOS

Sonho indicativo de sentido


a presença de sentimentos tensionais
e mobilizadores ou desequilibrantes
(angústia, medo, mistério) na diegese
onírica ou/e ao acordar, configura-se o
sonho como indicativo de sentido em
estado manifesto. A presença de
sentimentos tensionais e mobilizadores
apenas durante o diálogo socrático,
configura-se como um sonho indicativo
de sentido em estado latente. Nestes
tipos de sonho o paciente é mobilizado
a buscar algum valor ou algumas
possibilidades de sentido.
CATEGORIA SENTIMENTOS

Sonho de desejo

A presença de
sentimentos de satisfação
e saciação configura-se
como sonho indicativo de
desejo (onde o sonho
representa a realização
de um desejo manifesto
ou latente).
CATEGORIA SENTIMENTOS

Sonho compensatório
A presença de sentimentos
tensionais e equilibrantes, ora
com sentimento de satisfação,
ora com sentimento de
insatisfação, configura-se como
sonho compensatório (onde o
sonho representa a tentativa de
equilíbrio psíquico). Nestes tipos
de sonho o paciente é imbuído
de uma tentativa de compensar
uma falta psíquica.
Sonho indicativo de sentido, de desejo
e compensatório CATEGORIA SÍMBOLOS
Quanto ao objeto (símbolo) mobilizador
da busca no sonho, se for um objeto
com fins de se obter prazer, configura o
sonho como indicativo de desejo. Se for
um objeto movido por um valor,
configura-se o sonho como indicativo de
sentido. No caso de ser um sonho cuja
finalidade seja apenas a tentativa de
equilíbrio psíquico, sem
necessariamente haver um objeto de
desejo ou de valor, o sonho configura-se
como compensatório;
Sonho indicativo de sentido, de desejo
e compensatório CATEGORIA SÍMBOLOS
A análise dos símbolos representados
no sonho serve também de parâmetro
para se definir o tipo de sonho quanto ao
nível de interpretação. Busquei em Jung
a seguinte assertiva: “um sonho é
interpretado no nível subjetivo quando a
imagem no sonho se refere primária ou
exclusivamente ao próprio sujeito; e é
interpretado no nível objetivo quando a
imagem se refere a outra pessoa”
(JUNG, 2014, p. 50).
Sonho indicativo de sentido, de desejo
e compensatório CATEGORIA SÍMBOLOS
Desta forma, entendo como símbolo
toda e qualquer imagem que aparece no
sonho, seja uma pessoa ou objeto
qualquer. Pelo processo metafórico ou
metonímico, a analítica da A. T. S
destacará a imagem que aparece em
seu estado metafórico (que se
assemelha ao símbolo analisado) ou em
seu estado metonímico (que se coloca
próximo ou no lugar do símbolo
analisado).
Sonho indicativo de sentido, de desejo
e compensatório CATEGORIA ATITUDE
A análise das atitudes dos personagens e de
outros símbolos representados no sonho,
serve de parâmetro para a percepção dos
processos de destensão biopsíquica,
individuação e de autotranscendência do
sujeito, percorrida a sua trajetória existencial
através dos sonhos analisados durante o
processo psicoterapêutico. A análise das
atitudes, tanto de personagens quanto de
símbolos muitas vezes condensados em
outros, revelará em que processo o paciente
se encontra e que caminho ainda tem a
percorrer em seu amadurecimento pessoal.
Passo a passo do
Método da A. T. S

1. INTRODUÇÃO
2. RELATO DOS
SONHOS COM
BASE NAS
CATEGORIAS
PROPOSTAS:
SENTIMENTOS,
SÍMBOLOS E
ATITUDES DOS
PERSONAGENS

FORMAS DE
3. ASSOCIAÇÃO
LIVRE A PARTIR
DO RELATO
4. AMPLIFICAÇÃO

DISTRIBUIR
DO SONHO
5. DIÁLOGO
SOCRÁTICO
6. FECHAMENTO

EL CONTENIDO
DA SESSÃO
INTRODUÇÃO: Analista solicita que o paciente,
imediatamente após os sonhos da noite, anote
cada sonho num caderno de cabeceira ou grave
áudio de forma totalmente espontânea. Em
seguida, anote os seguintes pontos: 1.
simbologias e símbolos apresentados em cada
sonho; 2. sentimentos vivenciados pelo sonhador
durante a diegese onírica e imediatamente após

FORMAS DE
cada sonho; 3. atitudes dos personagens e
objetos animados de cada sonho, repetindo a
atividade nos dias que antecedem à próxima

DISTRIBUIR
sessão psicoterapêutica. Analista também sugere
que se anote os restos diurnos do dia anterior aos
sonhos;

EL CONTENIDO
RELATO DOS SONHOS: A partir das anotações, o
paciente deve reescrever cada sonho com o máximo de
detalhes, tentando realizar as associações entre o sonho e
restos diurnos, pondo, obrigatoriamente, caso haja, as
categorias sugeridas pelo analista: sentimentos, símbolos
e atitudes dos personagens;

ASSOCIAÇÃO LIVRE: Durante a sessão psicoterápica, o


paciente deve relatar oralmente o sonho ou/e ler texto

FORMAS DE
espontâneo sobre o mesmo (de preferência o sonho
anotado ou gravado na cabeceira da cama). Num segundo
momento pode relatar também alguns detalhes do sonho

DISTRIBUIR
não apresentados no primeiro relato), sem interrupções do
analista, a fim de fazer um relato o mais catártico possível.
A pergunta que possivelmente será respondida após esta
fase será: "O que o sonho disse?” O texto lido é só

EL CONTENIDO
indicado para pessoas que tem dificuldade de se
expressar oralmente;
AMPLIFICAÇÃO DO SONHO: Após o relato espontâneo do sonho, o paciente poderá
fazer a sua elaboração secundária, valendo-se, caso deseje, das associações que fez
durante a anotação ou gravação do sonho, imediatamente após o seu episódio. Nesta
fase, ainda que permitindo a fala do paciente fluir, o analista poderá explorar as
categorias básicas da analítica. Em relação aos sentimentos vivenciados no sonho, e
imediatamente após ele, o analista poderá solicitar, caso não seja evidente no relato do
paciente, que o mesmo descreva os sentimentos de cada personagem do sonho e os
sentimentos do paciente ao acordar, bem como os sentimentos no momento da
sessão; entendendo personagem como toda pessoa ou objeto que no sonho,
aparentemente tenha vida própria.

Em relação aos símbolos representados no sonho, o analista poderá solicitar, desde


que não tenha sido claro na associação livre, que o paciente descreva os símbolos que

FORMAS DE
apareceram no sonho, desde objetos, partes do corpo e personagens, que lhe
chamaram a atenção, percebendo condensações, closes, sincronias e diacronias em
relação ao contexto atual de vigília (presente), situações do passado ou previsões do
futuro; inclusive, se possível, observando a relação sincrônica ou diacrônica entre o

DISTRIBUIR
símbolo e os sentimentos nele contidos, ou seja, o que o símbolo sentiu e o que o
sonhador sentiu na relação com este símbolo. Em relação às atitudes dos personagens
(sejam pessoas ou objetos), o analista poderá solicitar ao paciente, em caso de dúvida,
para que ele descreva as atitudes de cada símbolo, sobretudo aquelas consideradas

EL CONTENIDO
mais mobilizadoras e provocativas para o paciente, durante e após o sonho. A pergunta
que possivelmente será respondida pelo paciente após esta fase será: "O que o sonho
quis me dizer?”;
DIÁLOGO SOCRÁTICO: Após a realização das técnicas de
associação livre e amplificação dos sonhos, o analista poderá iniciar
um diálogo socrático com o paciente, com o objetivo de esclarecer
pontos da análise realizada pelo próprio paciente, e das
amplificações do relato do paciente, a partir das solicitações do
analista. Neste diálogo, o analista deverá saber, e caso queira, dizer
ao paciente, que tipo de sonho ele teve: um sonho indicativo de
desejo, um sonho compensatório ou um sonho indicativo de sentido.
Porém, o mais importante é que, através do diálogo socrático nesta,
ou em outras sessões subsequentes, o paciente entenda o seu
processo de desenvolvimento pessoal representado no sonho,
sobretudo em que lugar de sua trajetória psíquica o paciente se

FORMAS DE
encontra: se no limiar da sua infância e adolescência psíquicas (no
campo da realização de desejos ou em processo de
individuação/autorrealização) ou na maturidade psíquica (em
processo de autotranscedência). A pergunta que possivelmente será

DISTRIBUIR
respondida pelo paciente após esta fase será: "O que o sonho me
pede que eu faça?”;

EL CONTENIDO
FECHAMENTO DA SESSÃO: Após se despedir
do paciente, faz-se a escrita do decurso da
sessão. Como é possível que a Análise
Tridimensional do Sonho de um paciente não
ocorra de forma rápida e conclusiva, sugiro que a
sessão dure uma hora e quarenta minutos, o
equivalente a duas sessões de cinquenta
minutos. Entretanto, e é bem provável, caso seja
necessário, que outras sessões possam ser
marcadas, uma vez que as fases podem não ter
sido concluídas e que outros sonhos, durante a

FORMAS DE
semana subsequente, venham a complementar o
sonho anteriormente analisado, inclusive com
mudanças de sentimentos, acréscimos de

DISTRIBUIR
símbolos e novas atitudes dos personagens.

EL CONTENIDO
Apresentação de um caso (Sonho do
telefone)
SONHO (Apresentado por Frankl):
“O enfermo relata um sonho que se repete
constantemente a intervalos relativamente
curtos, aparecendo até repetidas vezes durante
uma mesma noite, como um sonho em cadeia.
Sonha que se encontra numa cidade
estrangeira, onde tenta telefonar para uma
determinada senhora, o que nunca consegue.
O principal motivo de não conseguir fazer a
ligação é que o disco do telefone é
demasiadamente grande, com cerca de cem
números, impedindo-o de efetuar corretamente
a discagem.” (FRANKL, 2004, p. 33).
ASSOCIAÇÃO LIVRE

● “Ao acordar, percebeu que o número que queria discar era apenas
semelhante ao número real do telefone daquela senhora; por outro lado, o
número era idêntico ao número de telefone de uma empresa para a qual
estava atualmente trabalhando com sucesso.” (FRANKL, 2004, p. 33).
ANÁLISE COM BASE NO DIÁLOGO SOCRÁTICO
● “Ao discutir o sonho com o paciente, evidenciou-se que ele, que era compositor, estivera
realmente naquela cidade estrangeira e, durante sua estadia, dedicara-se a um trabalho de
composição que lhe dava profunda satisfação; tratava-se de música de conteúdo religioso.
No seu trabalho atual, compondo música de jazz para filmes, era bem sucedido, porém não
tinha aquela sensação de realização interior. Em seguida, o paciente declarou
decididamente que não se tratava absolutamente de saudades daquela cidade estrangeira,
pois os anos que lá vivera foram desagradáveis em todos os sentidos, com exceção do seu
trabalho. Também não era saudade daquela senhora, pois não havia nenhuma ligação
erótica entre eles. Espontaneamente, porém, declarou que, naquela parte do sonho em que
aparece o enorme disco de telefone, ele vê a constatação resignada de que atualmente
tem dificuldade de optar. Qual opção?, precisamos perguntar. A resposta é óbvia: a
escolha profissional, a decisão entre compor música profana ou sacra, sendo esta última a
que representa a sua vocação autêntica.” (FRANKL, 2004, p. 33-34).
MENSAGEM DO SONHO

● “De repente, também se elucida para nós o significado do conteúdo central


do sonho, a saber: nosso paciente tenta repetidamente, porém em vão,
estabelecer uma comunicação, uma “nova ligação”. Substituindo esta “nova
ligação” por “religação”, basta traduzi-la ao seu equivalente latino e, assim,
teremos religio, ou “religião”.” (FRANKL, 2004, p. 34, grifos do autor). “O
sonho representa uma auto-repreensão. O sonho se origina da consciência
(Gewissen), ou seja, do mais íntimo do inconsciente espiritual. Manifesta-se
claramente não apenas a consciência ética, mas também a artística.
Manifesta também a problemática religiosa” pessoal, de forma “latente””
(FRANKL, 2004, p. 34, grifos do autor)
1 - PONTUAÇÕES CRÍTICAS A PARTIR DA A. T. S
● Inicialmente Frankl não apresenta a idade do paciente, também não apresenta o sonho
em primeira pessoa, o que, em seu método, parece ser a sua maior intenção transcorrer
acerca do relato necessário para a sua análise e suas eventuais considerações, a partir
das interpretações discursivas do paciente. Por se tratar de sonhos produzidos a
intervalos curtos, configurando como sonhos em cadeia ou em série, o sonho poderia
ser entendido como um sonho anunciador de um conflito, cujos avisos o inconsciente
anuncia a fim de parar somente quando o desejo for realizado ou percebido.
Evidentemente que o motivo religioso também encontra-se presente, evidenciando a
presença do inconsciente instintivo e espiritual. Por que não a presença de ambos?
Seguindo a proposta de análise da A. T. S, teríamos alguns símbolos importantes, que
poderiam ser aprofundados ou apresentados ao paciente na fase da amplificação do
sonho, uma vez que já o foi na fase da associação livre apresentado por Frankl.
2 - PONTUAÇÕES CRÍTICAS A PARTIR DA A. T. S

● O símbolo da senhora poderia remeter, tomando a teoria junguiana por base, à parte
sentimental do paciente (sua anima ou alma, cujo centro é seu inconsciente pessoal).
Representa também a opção pela música sacra (escolha musical movida pela
satisfação ou autorrealização). A cidade estrangeira seria o lugar onde a senhora (sua
anima) residia, ou seja, a sua estrutura psíquica. O motivo (tema) principal do sonho,
evidentemente, é um conflito, representado pela impossibilidade de realizar a ligação
telefônica, denotado pelo “impedimento” de efetuar a discagem. Dentro da analítica da
A. T. S, o símbolo central seria o disco do telefone (uma condensação), com cem
números (uma hiperbolização que remete ao aspecto financeiro), ou seja, uma
representação da outra opção profissional (o seu trabalho atual, no qual compunha
música de jazz para filmes, e era bem sucedido financeiramente).
3 - PONTUAÇÕES CRÍTICAS A PARTIR DA A. T. S

● Para Frankl, o paciente declarou decididamente que não se tratava absolutamente de


saudades daquela cidade estrangeira (...) Também não era saudade daquela senhora,
pois não havia nenhuma ligação erótica entre eles. O que isto pode expressar é que
Frankl descarta a possibilidade de “sonho indicativo de desejo”, o que seria
evidentemente expresso pelo desejo do paciente de voltar àquela cidade e de se
encontrar eroticamente com aquela senhora. Parece que Frankl tenta se desviar da
analítica freudiana. Também por expressar que não havia ligação entre o paciente e a
senhora, Frankl reforça a ideia de que se tratava de sonho de origem subjetiva, ou
seja, o sonho queria dizer algo ao paciente (fase da amplificação: “o que o sonho quer
me dizer?”), além de remeter que os símbolos referiam-se a outras “personas” e teriam
vários deslocamentos.
4 - PONTUAÇÕES CRÍTICAS A PARTIR DA A. T. S

● Na análise frankliana, o autor fala que o paciente, espontaneamente, declarou que


naquela parte do sonho em que aparece o enorme disco de telefone, ele vê a
constatação resignada de que atualmente tem dificuldade de optar. No entanto
pergunto: E se caso o paciente não se atentasse para esta simbologia central do disco
do telefone, haveria problema em o analista perguntar? Vejo que não, uma vez que o
sonho que apresenta estes mecanismos de condensação ou deslocamento, quer
sempre dizer alguma coisa ao sonhador, mesmo porque o mesmo sonho se repetia em
séries. Diante do disco do telefone, na fase do diálogo socrático, Frankl faz a
pergunta–chave: “Qual opção?”, sendo a resposta do paciente óbvia: “a escolha
profissional”.
1 - MENSAGEM FINAL SEGUNDO A A. T. S

● Em relação à mensagem final do sonho, Frankl infere o termo latino religio, “religação”,
para remeter à religião, cujo motivo, a meu ver, foi secundário ou paralelo ao motivo do
conflito profissional. Aqui caberia uma pergunta: o paciente teria consciência do termo
latino religio, não fosse a intervenção do analista durante o processo de interpretação?
Acredito que não, o que justifica a necessidade de se ter no método a fase de
amplificação dos sonhos, além do diálogo socrático e da associação livre. A pergunta
final: o que o sonho pediu que o sonhador fizesse? A resposta é dada no sonho.
Vejamos: o paciente “tenta telefonar para uma determinada senhora, o que nunca
consegue. O principal motivo de não conseguir fazer a ligação é que o disco do
telefone é demasiadamente grande, com cerca de cem números” (FRANKL, 2004, p.
33).
2 - MENSAGEM FINAL SEGUNDO A A. T. S

● Clareia tudo a meu ver: o motivo do sonho era o conflito representado no disco grande,
de “cem números”. Tratava-se de um conflito entre a opção pela música sacra cujo
valor era “a satisfação” e a “autorrealização” e a opção pela música profana, cuja
importância residia no “sucesso” e nos “cem números”, representando o aspecto
quantitativo da segunda opção. O sonho era um indicativo de sentido, pois em sua
decisão existia um valor artístico e religioso latentes. Sob este aspecto Frankl teve
razão: o sonho foi uma “repreensão da consciência artística”, que orientava o paciente
a optar pelo valor da arte e da religião. Ainda em meio à sua trajetória como pessoa
espiritual, a busca da autorrealização do paciente, como músico e pessoa, fazia parte
do seu processo contínuo de autotrancendência.
BIBLIOGRAFIA
FRANKL, V. E. A Presença Ignorada de Deus. Trad. Walter O.
Schlupp e Helga H. Reinhold. São Leopoldo, Editora Sinodal;
Petrópolis: Vozes, 2004.
FRANKL, V. E. O sofrimento humano: Fundamentos
Antropológicos da Psicoterapia. Trad. Renato Bittencourt e
Karleno Bocarro. São Paulo: É Realizações, 2019a.
FREUD, S. A Interpretação dos Sonhos. São Paulo: Círculo do
Livro, 1980.
GARCIA – ROSA, L. A. Freud e o Inconsciente. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998.
JUNG. C. G. O homem e seus símbolos. Trad. Maria Lúcia Pinho.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
JUNG. C. G. Seminários sobre análise de sonhos: Notas do
seminário dado em 1928-1930 por C. G. Jung, organizado por
William McGuire. Petrópolis – RJ: Vozes, 2014.
SANTOS, G. M. Do Mytho ao logos: Análise Tridimensional dos
Sonhos. João Pessoa: Ideia, 2020..
XAUSA, I. A. de M. Sentido dos sonhos na psicoterapia em
Viktor Frankl. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
FIGURAS
A Caverna de Platão.
http://marcosmucheroni.pro.br/blog/?p=17434#.XYu5pVVKjIU
Teoria Junguiana
http://arquetiposjungianos.blogspot.com/2015/07/carl-jung-principais-
arquetipos-da.html
A porta. https://www.madermac.com.br/portas/porta-lisa-semi-solida-angelim
Édipo Rei
https://micenas.net/leituras/sofocles-edipo-rei/
Sigmund Freud. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud
Inconsciente pessoal. https://www.youtube.com/watch?v=dXFm768GLR0
Inconsciente coletivo. https://medium.com/@xamanismocurumim/afinal-o-que-
%C3%A9-xamanismo-parte-2-o-transe-f031af81136b
Telefone de disco
https://br.freepik.com/vetores-premium/disco-de-telefone-antigo-ilustracao-
vetorial_3220495.htm
FIGURAS Foto Izar e Gilvan
Figura 17: Gilvan Melo e a doutora Izar Xausa. Foto: Raisa Mariz, em 07 de novembro de
2014, Porto Alegre, RS, Brasil. Acervo pessoal.
Carl Jung. https://www.skoob.com.br/autor/407-c-g-jung
Frankl. https://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/viktor-frankl-e-a-busca-por-sentido/
Holocausto.
Desejo
https://claudia.abril.com.br/sua-vida/especialistas-indicam-maneiras-de-recuperar-o-desejo-
perdido/
Sono
https://paizinhovirgula.com/sonoinfantil/
Filme “Sonhos”, de Akira Kurosawa. https://www.youtube.com/watch?v=XZzm7THZTMo
Uma mente brilhante
https://pt.wikipedia.org/wiki/Uma_Mente_Brilhante
Homens de honra
https://www.microsoft.com/pt-br/p/homens-de-honra/8d6kgwzl5r
dh?activetab=pivot%3aoverviewtab
As horas
https://deliriumnerd.com/2016/06/10/as-horas-filme-mulheres-patriarcado-genero/
O Dedo de Deus. https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/o-dedo-
de-deus-20182.html
Lançamento do Livro
PREÇO DE CADA EXEMPLAR: 75 Reais + Frete (10 Reais)

PROMOÇÃO DE LANÇAMENTO:
● Desconto de 20% para aniversariantes

CONTATOS PARA VENDAS APÓS O LANÇAMENTO


● Email: gilvanmusic@gmail.com
● Fone e WhatsApp: 83 98780 1901
● Pedidos de livros: 83 3321 3880 / 83 98780 1901
Curso de Análise Tridimensional dos Sonhos
“Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas
máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso
mundo...”
Mário Quintana
(Em 80 anos de poesia, 2008, p. 179)
Obrigado

Você também pode gostar