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No decorrer da história muito vem sendo falado sobre os sonhos. Temos registros
de sonhos proféticos, premonitórios, mensagens de pessoas que já morreram, de
indicações simbólicas que apontavam para um determinado fazer na vida. Na perspectiva
bíblica, Deus havia dado a José e a Daniel a capacidade de interpretar os conteúdos
oníricos. (Gênesis 40 e 41e Daniel 7: 1-7). Quando da batalha entre Gideão, seus 300
homens e os midianitas, a Bíblia apresenta o propósito de encorajar aquele grupo a
enfrentar a batalha, certos da vitória dita pelo Senhor através do sonho. (Juízes, 7:13-15)
Também seriam um alerta e uma indicação sobre o que fazer, quando numa manifestação
onírica os reis magos foram orientados a não retornarem a Herodes. (Mateus 2:12). A
filosofia também se propôs a estudar e a emitir considerações sobre os sonhos, sendo que
Platão e Aristóteles apresentaram algumas considerações sobre o tema. Na obra Odisséia,
Penélope, ao apresentar um sonho a Odisseu, este lhe diz que o sonho já carrega sua
própria interpretação, já teria uma explicação clara. (Homero, 2001). Sigmund Freud em
sua obra A Interpretação dos Sonhos, apresentou os sonhos como reflexos do nosso
cotidiano inconsciente, sendo que as imagens apresentadas ali se referem a questões que
não foram resolvidas anteriormente e como elas nos afetam.
Sobre os sonhos, Freud (2019) disse:
“Nossos sonhos se associam regularmente às representações que estiveram
em nossa consciência pouco antes.”
A logoterapia não poderia ficar de fora de um tema tão importante. Isar Xausa (2019),
grande expoente da abordagem no Brasil escreveu O Sentido dos Sonhos na Psicoterapia
em Viktor Frankl.“ A logoterapia revelou-se não só como uma psicologia que investiga as
profundezas do homem, mas também como a psicologia das alturas.” Ela conta do seu
encantamento com a linguagem dos sonhos e do quanto ela sabia que poderia se conectar
com o paciente e de que, juntos, poderiam realizar grandes descobertas do mundo
inconsciente, revelando mensagens contidas ali.
Frankl (2019, p. 37) afirmava que o seu método ia além da interpretação dos sonhos
de Freud, pois além da perspectiva de trazer à consciência e à responsabilidade
inconsciente, incluía a elementos também da espiritualidade inconsciente. Visava a
descoberta deste inconsciente espiritual de modo a dizer que marcava os passos em
separados com a psicanálise, mas que a logoterapia caminhava junto a ela. Relata utilizar
o método do pai da psicanálise para acessar o inconsciente impulsivo, mas que se dirige a
outro fim.
Para Frankl (apud Xausa, 2019 p. 60) afirma que é o insconsciente espiritual que
revela todos os elementos que dele fazem parte, ainda que estes tenham sido reprimidos.
Neste contexto, ao inconsciente espiritual cabem a criatividade quanto à religiosidade.
Encontrou em sua história clínica elementos religiosos em grandes proporções, incluindo
aqueles em estado latente e em pessoas irreligiosas.
TRÍADE TRÁGICA
O INCONSCIENTE ESPIRITUAL
Para a análise existencial da Logoterapia, o ser humano é visto como uma unidade
antropológica, uma entidade bio-psico-espiritual, sendo que este último alude ao noos. É
denominado noético, existindo para além do religioso. Frankl menciona que o noético ou
espiritual está presente em uma dimensão superior e especificamente humana. Isto porque
a psique produz fenômenos que escapam ao biológico e ao psíquico. O conhecimento da
espiritualidade inconsciente, ao ser agregada ao conceito de homem na Logoterapia,
aponta para a reabilitação inconsciente. (Xausa,2019)
A partir deste conceito entende-se que o logos é mais complexo do que a lógica. Em
linhas gerais, o que se apresenta é o fato de que a existência tem um sentido incondicional
ainda que tenhamos que suportar o fato de que não temos recursos intelectuais para
compreendê-lo. Assim, nutro a ideia de que quando a ciência ou a experiência não puderem
responder às nossas indagações e aflições, um sentido maior, algo para além de qualquer
explicação, nos auxilia a dar respostas à vida. E segundo Frankl, imagino que as respostas
sejam aquelas do dizer sim à vida seja em quaisquer circunstâncias.
CONCLUSÃO
Nas palavras de Freud, os sonhos como via régia para o inconsciente sempre
causaram fascínio à humanidade. Nós, psicólogos, não ficaríamos de fora! A minha
avaliação neste estudo é de uma logoterapia mais humanizada e prospectiva, melhor
percebida pela dinâmica dos fenômenos que se apresentam do que pelos símbolos
mitológicos folclore ou psicologia primitiva entre outras.
A obra da Professora Isar Xausa é, de fato, uma grande contribuição ao nosso fazer
de cada dia a partir de uma abordagem terapêutica acessível que nos traz e faz com que
também sejamos veículos da mensagem do dizer sim à vida, do dotá-la de sentido, do
apesar da dor, podemos atravessar de cabeça erguida, do ser melhor com a compreensão
da culpa, do apesar da morte, vale a pena responder à vida.
Agora, os sonhos me parecem mais singulares, mesmo aqueles que muitas pessoas
possam ter experimentado. Assim, a relação terapeuta-paciente parece mais eficaz,
levando o paciente a desenvolver a esperança quando se descobre um sentido. Também
soa mais leve trabalhar com os sonhos dos meus pacientes.
Sempre trabalhei com sonhos a partir da perspectiva junguiana, porém vivia tensa
na busca pelo entendimento dos símbolos na história da humanidade. Parecia haver um
molde que regulava tudo isso...
ALMEIDA, João Ferreira de. Trad. A Bíblia Sagrada (revista e atualizada no Brasil) 2 ed.
São Paulo. Sociedade Bíblica Brasileira, 1993.
FRANKL, V. E. A presença ignorada de Deus.19.ed.rev. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis:
Vozes, 2019.
FRANKL. V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 45. Ed. –
São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2019.
FREUD, Sigmund, 1856-1939. Obras completas, volume 4: A interpretação dos sonhos
(1900) / Sigmund Freud; tradução Paulo César de Souza. — 1a ed. — São Paulo:
Companhia das Letras, 2019.
HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ed. Ediouro, 2001.
JUNG, C.G. O Homem e seus Símbolos. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
XAUSA, Isar Aparecida. de Moraes – O sentido dos sonhos na psicoterapia em Viktor
Frankl. Belo Horizonte: Editora Artesã, 2019