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revista ex-isto no. 1 | p. 1 


 

Revista ex-isto 
Há pouco mais de dois anos surgiu a ideia 
de criar uma revista sobre existencialismo, 
fenomenologia, filosofia e psicologia, 
relacionando com a história, as artes e a 
vida. Contudo, para colocá-la em prática, 
foi preciso tempo e amadurecimento dessa 
proposta, assim como somar interessados 
em difundir tais temáticas. Enfim, aqui 
estamos com o primeiro número da 
revista ex-isto​ em formato digital. 
 

Bruno Carrasco, novembro de 2020. 

Conteúdo 
Não há fatos, apenas interpretações​ | p. 2
O dia em que procurei um terapeuta existencial
| p. 5
Existencialismo: doutrina de ação​ | p. 7
Essência, existência, gênero​ | p. 11
 
Um “demônio” trágico​ | p. 15  
 
A era da estupidez, George Christian​ | p. 17  

Cotidiano, Guto Nunes​ | p. 18 _________________________________________________ 


Livro: O ser e o nada​ | p. 19  
 

Carrasco, Bruno Barbedo, 1982-, 


Filme: A primeira noite de tranquilidade​ | p. 20 Revista  ex-isto:  existencialismo,  filosofia, 
O que é o esperanto?​ | p. 21 psicologia e artes / Bruno Carrasco (organizador). no. 
1. Pouso Alegre, MG: ex-isto, 2020. 
Fundamentos da psicoterapia fenomenológico
_________________________________________________ 
existencial​ | p. 22
 

O que é 'ex-isto'?​ | p. 34
   
_____________________________________________  Este trabalho está licenciado com uma Licença 
Imagem da capa​: Lago antes do nascer do sol,  Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 
Ferdinand Hodler, 1918.  4.0 Internacional​. 

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Filosofia   
Não há fatos, apenas interpretações   

 
 
 
O  que  Nietzsche  quis  dizer  com  Para  entendê-la,  penso  ser 
"Não  há  fatos,  apenas  interpretações"?  importante  conhecer  um  pouco  a  respeito 
Muitos  são  aqueles  que  criticam  essa  da  filosofia  nietzschiana,  em  especial  o 
sentença,  defendendo  os  fatos  como  modo  como  esse  pensador  entende  o 
inquestionáveis,  criticando  e  classificando  conhecimento  e  a  verdade. Para Nietzsche, 
esta  ideia  como  absurda  e  sem  sentido,  a  verdade  e  o  conhecimento  não 
enquanto  outros  a  enaltecem  enquanto  correspondem  a  algo  único,  acabado  ou 
característica da filosofia pós-moderna.  absoluto,  mas  sim  como  elementos 
  determinados  por  interesses  e 
perspectivas distintas. 
 

Para  Nietzsche,  todo  conhecimento  é 


inevitavelmente  guiado  por  interesses  e 
condicionamentos  subjetivos,  ideológicos;  o 
conhecimento  resulta  da  projeção  de 
nossos  impulsos  e  anseios,  razão  pela  qual 
Nietzsche  considera  sempre  determinado 
por  certa  perspectiva,  seja  individual,  seja 
sócio culturalmente determinada. 
(Oswaldo Giacoia, em 'Nietzsche', 2000) 
  

Granier  (2009)  apresenta  como 


características  da  filosofia  nietzschiana  o 
perspectivismo  e  o  pluralismo.  Nesse 
sentido,  um  fato  nunca  é  entendido  como 
algo independente da perspectiva de quem 
  o  observa,  ou  seja,  os  fatos  são  sempre 
(Friedrich Nietzsche)  observados  e  interpretados  por  um  viés  e 
  

por  valores  específicos.  Deste  modo, 


Em  ambos  os  casos,  a  própria  frase 
coexistem  diferentes  interpretações  e 
gera  diferentes  interpretações  e 
pontos de vista sobre um mesmo fato. 
posicionamentos,  portanto  podemos 
começar  seu  entendimento  partindo  dela  De  acordo  com  Giacoia  (2006),  o 
mesma,  do  modo  como  ela  é interpretada,  perspectivismo  entende  que  todo 
pois  essa  mesma  citação  não  é  um  fato,  conhecimento  depende  sempre  de 
que  possui  um  entendimento  igual  para  condicionamentos  subjetivos,  históricos, 
todos,  mas  sim  entendida  por  meio  de  sociais,  econômicos,  culturais  e 
diversas interpretações.  psicológicos,  que  determinam  a  valoração 
e  implicam  uma  perspectiva  específica,  de 

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modo  que  não  há  conhecimento  absoluto,  verdade  absoluta,  mas  como  uma 
neutro ou objetivo.  possibilidade,  um  caminho.  Examinemos, 
então,  essa  frase  contextualizada  em  seu 
O  pluralismo  corresponde  às 
fragmento póstumo: 
tendências  filosóficas  que  constatam  a 
coexistência  de  variados  princípios  que 
 

Contra  o  positivismo,  que  permanece  no 


constituem  as  coisas  e  a  realidade,  fenômeno:  ‘só  há  fatos’,  diria  eu:  não, 
tendendo  assim  a  acolher  os  diferentes  justamente  não  há  fatos,  apenas 
pontos  de  vista,  distintas  formas  de  interpretações. 
valoração,  experiências  culturais,  (Friedrich Nietzsche, KSA XII, 7 [60]) 
  
convicções ou visões de mundo. 
 

O  pluralismo  Nietzschiano  é  uma 


determinação  primordial  da  realidade,  (...). 
Não  existe  conhecimento  a  não  ser 
interpretativo,  e  não  existe  interpretação  a 
não ser no plural. 
(Jean Granier, em 'Nietzsche', 2009) 
  

Harari  (2015)  comenta  que  até  a 


década  de  1940  não  havia  um  crime  de 
"estupro  da  esposa",  pois  a  mulher  era 
entendida  como um "objeto" que pertencia 
ao  homem:  ao  pai,  ao  irmão ou ao marido. 
Seu  "uso"  era  um  direito  desses  homens. 
Hoje  entendemos  essa antiga prática como 
absurda  e  abusiva,  portanto  o 
 
entendimento  sobre  as  relações  sexuais  e 
o  respeito  ao  corpo  se  transformou  de  Positivismo  é  uma  tendência  de 
acordo com a época e contexto.  filosofia  que  se  mantêm  apenas  nos  fatos 
enquanto  observáveis  e  mensuráveis. Mas, 
Agora,  analisemos  outra  frase  de 
para Nietzsche, um fato nunca é observado 
Nietzsche:  "não  há  fatos,  apenas 
apenas  enquanto  fato,  por  ser  sempre 
interpretações".  Ele  não  está  proferindo 
interpretado  e  valorado.  Não  é  possível 
uma  verdade  absoluta com essa frase, pois 
entender  as  coisas  "em  si".  Enquanto  o 
não é essa a intenção de sua filosofia. Além 
positivismo  se  detêm  aos  fatos,  o  filósofo 
disso,  podemos  aplicar  essa  sentença a ela 
vai  declarar  que  o  entendimento  de  um 
mesma,  de  modo  que  a  própria  frase  se 
fato é resultante de uma interpretação. 
apresenta  como  uma  interpretação,  e  não 
como uma verdade.  Seu entendimento apresenta que os 
fatos  são  sempre  tomados  por  uma 
Em  sua  frase,  o  próprio  filósofo  se 
perspectiva  específica,  e  esse 
coloca  neste  sentido,  ou  seja,  ele  não 
entendimento  propõe  um  inacabamento  à 
apresenta  a  sua  filosofia  como  uma 
filosofia,  pois  todo  entendimento  e 

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interpretação  se  dá,  inevitavelmente,  opera  com  um  desejo  de  domínio, 
dependendo  de  um  momento histórico, de  buscando  impor  sua  perspectiva  como 
condições,  interesses,  situações  e  norma  sobre  os  outros,  onde  não  há 
circunstâncias  específicas,  tal  como  verdades absolutas. 
comenta  em  'Humano,  demasiado   

humano':  Para  ele  [Nietzsche],  o  conhecimento  não 


 
passa  de  uma  interpretação,  de  uma 
atribuição  de  sentidos,  sem  jamais  ser  uma 
Falta  de  sentido  histórico  é  o  defeito 
explicação  da  realidade.  Ora,  o  conferir 
hereditário  de  todos  os  filósofos  (...)  Não 
sentidos  é,  também,  o  conferir  valores,  ou 
querem  aprender  que  o  homem  veio  a  ser, 
seja,  os  sentidos  são  atribuídos  a  partir  de 
e  que  mesmo  a  faculdade  de  cognição  veio 
uma  determinada  escala  de  valores  que  se 
a  ser  (...)  tudo  veio  a  ser;  não  existem  fatos 
quer promover. 
eternos:  assim  como  não  existem  verdades 
(Aranha; Martins, em 'Filosofando', 1993) 
absolutas. 
(Nietzsche  em  'Humano,  demasiado   
humano', aforismo 2) 
 
 
O  conhecimento  e  a  verdade  não   
correspondem  a  algo  dado,  mas  criado,  Referências: 
inventado  e  recheado  de  interpretações.  ARANHA;  MARTINS.  Filosofando:  introdução  à 
Apesar  de  conhecermos  o  mundo  de  um  filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. 
modo,  ele  pode  ser  sempre  interpretado  GIACOIA  JÚNIOR,  Oswaldo.  Nietzsche.  São 
de  outro  modo,  pois  não  há  um  sentido  Paulo: Publifolha, 2000. 
por  detrás  das  coisas,  mas  inúmeros  GIACOIA  JÚNIOR,  Oswaldo.  Pequeno  Dicionário 
sentidos e perspectivas possíveis.  de  Filosofia  Contemporânea.  São  Paulo: 
Publifolha, 2006. 
Como  crítico  da  metafísica,  GRANIER,  Jean.  Nietzsche.  Porto  Alegre:  L&PM, 
Nietzsche  entende  que o conhecimento e a  2009. 
verdade  não  correspondem  a  algo  dado,  a  HARARI,  Yuval.  Sapiens  -  uma  breve  história  da 
um  fato.  A  verdade,  para  o  filósofo,  é  algo  humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015. 
criado,  inventado  e  recheado  de  NIETZSCHE,  Friedrich.  Humano,  Demasiado 
interpretações.  O  mundo  e  as  coisas  Humano. Companhia das Letras, 2005. 

podem  sempre  ser  interpretados  de  outro   


modo,  pois  não  há  um  sentido  por  detrás   

das  coisas,  mas  inúmeros  sentidos  e   


perspectivas possíveis.   
Nosso  conhecimento  de  mundo  Por  ​Bruno  Carrasco​,  terapeuta dos afetos, 
está  sempre  relacionado  aos  nossos  estudioso  de  filosofia  e  psicologia,  em 
impulsos  e  intenções,  por  isso  mesmo  favor  da  ampliação  de  possibilidades  de 
Nietzsche  coloca  em  questão  a  vontade  de  escolhas e do cuidado de si. 
verdade,  entendendo  que  interpretamos  o   

mundo  a  partir  de  nossos  impulsos  e  www.fb.com/brunodevir 


necessidades  diversas,  onde  cada  impulso  www.instagram.com/brunodevir 
 
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Psicologia   
O dia em que procurei um   

 
terapeuta existencial 
 
   

Aconteceu  quando  eu  ainda  era 


um  estudante  de  psicologia,  que  como 
outros  passou  boa  parte  da  graduação 
pensando  não  precisar  da  tão  falada 
psicoterapia,  mas  com  a  realidade  dos 
atendimentos  chegando  tão  rápido, 
decidi ir e falar de uma ou outra coisa que 
me  incomodava,  “bobagem  sabe”,  “coisa 
do  dia  a  dia”,  “coisas  que  todo  mundo 
vive”.  Então  foi  assim,  escolhi  um 
profissional  que  já  conhecia,  sabia  ser 
alguém  sério,  marquei  a  sessão  e  fui, 
chegando  lá  não  sabia  muito  bem  o  que 
dizer,  na  sala  de  espera já me perguntava 
se  realmente  tinha  sido  uma  boa  ideia, 
por  que  afinal  “eu  não  precisava,  era  só 
pela  faculdade  mesmo”.  Deu  o  horário,  o 
terapeuta  me  acompanhou  até  o   
consultório, eu escolhi uma poltrona e me   

sentei,  e  aí,  a  partir  desse  momento  Ao  contrário  do  que  eu  esperava, 
comecei  uma  das  melhores  experiências  não  houveram  muitas  perguntas,  mesmo 
da minha vida.  estudando  psicologia,  eu  ainda  carregava 
o  estereótipo  das  mídias  de  que  o 
Conversei por uma hora com outra 
terapeuta  vai  te  aplicar  “zilhões”  de 
pessoa  que  realmente  me  ouviu,  que 
perguntas,  de  que  ele  iria  querer  invadir 
estava  atento  a  cada  palavra,  que 
meus  mais  profundos  segredos  e  que  de 
demonstrou  profundo  interesse  por  cada 
alguma  forma  poderia  até  mesmo  saber 
banalidade ou “besteira” que eu contava e 
se  eu  estivesse  mentindo  em  algum 
que  fui  percebendo  não  ser  tão  banal 
momento,  mas  não  as  poucas  perguntas 
assim,  e  que  nem  era  tanta  “besteira”, 
que  vieram  foram  simples,  diretas  e 
que  ali  haviam  coisas  importantes  que 
cirúrgicas,  e  talvez  nem  fossem  bem 
precisavam  sair  de  dentro  do  meu 
perguntas,  era  o  famoso  “fale  mais  sobre 
imaginário,  que  precisavam  ser  ditas  em 
isso”  ou  “como  é  isso  pra  você”,  mas  foi 
voz  alta,  não  para  o  psicólogo,  mas  para 
tão bem aplicado, que me levava a pensar 
mim mesmo. 

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em  respostas  e  relacionar  vivências  e  Deixo  este  relato,  pois  tenho  a 


sentimentos  que  eu  nunca  havia  esperança  de  que  por  aí  tem  uma  outra 
considerado,  que  talvez  nunca  tivesse  de  pessoa  nesse  ponto  crítico  de  ir  ou  não  a 
alguma forma relacionado.  terapia,  e  espero  que  essa  vivência  possa 
auxiliar na sua escolha. 
Logo nessa primeira sessão, passei 
a  compreender  que  força  e  coragem   
frente  a  vida  não  tinham  nada  a  ver  com 
 
aguentar  tudo  calado,  ou  suportar  a  dor 
sem  demonstrar,  mas  sim  tem  relação 
com  compreender,  ter  a  real  bravura  de 
encarar-se, de sentir de verdade e saber o 
motivo  do  que  se  sente,  de  avaliar  as 
escolhas,  boas  e  ruins  e  lidar  de  verdade 
com  a  responsabilidade,  e  não  com  viver 
a  famosa  má-fé  de  “está  tudo  bem”,  logo 
de  cara  aprendi  a  importância  que  meus 
sentimentos  e  emoções  tinham  e quando 
eles  precisavam  ser  demonstrados  e 
expostos,  assim  como  passei  a  pensar 
que  haviam  momentos  que  eram  só 
meus,  e  tudo  bem.  Passei  a  me  aceitar 
melhor,  fisicamente  e  emocionalmente,  e 
a  não  esperar  tanto  o  julgamento  dos   
demais  sobre  a  vida,  mas sim ter a minha   
percepção e criar consciência desta. 
 
Quando  a  sessão  acabou,  eu  saí 
Por  ​Patricio  Lauro​,  psicólogo  existencial, 
do  prédio  e  senti  algo  inédito,  uma 
professor,  responsável  pelo  podcast 
profunda  leveza,  um  alívio  enorme,  como 
‘Sessão  Brainstorming’,  amante  da 
se  existisse  um  peso  invisível  sob  meus 
filosofia, espírito livre. 
ombros  que  tinha  finalmente  sido 
aliviado.  O  que  quero  dizer  aqui  é  que   
com  um  terapeuta  existencial,  encontrei  www.fb.com/patriciopsi 
www.instagram.com/patriciolaurom 
empatia  e  acolhimento,  encontrei 
www.youtube.com/sessaobrainstorming 
realmente  um  espaço  meu  que  não 
 
simplesmente me ligou a uma pessoa que 
tinha  técnicas  de  psicologia  para  aplicar  Ser-com​:  um  casal  de  psicólogos  falando 
em  mim,  mas  que  me  colocou  realmente  sobre psicologia, relações e a vida. 
em contato comigo mesmo.  www.instagram.com/sercompsi   

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Existencialismo   
Existencialismo: doutrina de ação   
 
   
Como  estudante  de  Psicologia,  antes  de  nascer,  o  homem  é  “nada”  e, 
buscava  uma  vertente  que  viesse  de  somente  a  partir  do  momento  em  que se 
encontro com minhas ideias e percepções  coloca  no  mundo, em contato com outros 
de  indivíduo  e  de  mundo  para  o  homens  e  na  ocasião  de  suas  primeiras 
atendimento  clínico  futuro.  Quando,  escolhas,  é  que  esse  homem  se torna um 
brevemente,  tive  contato  com  o  conceito  indivíduo  capaz  de  construir  sua  essência 
de  que  “o  homem  é  o  único  responsável  (valores, ideais, projetos).  

por  seu  caminho”  e  li,  pela  primeira  vez,  O  homem,  tal  como  o  existencialista  o 
Jean  Paul  Sartre  sentenciar  que  “não  concebe,  só  não  é  passível  de  uma 
importa  o  que a vida fez de ti, e sim o que  definição  porque,  de  início,  não  é nada: só 
você  faz  com  o  que  a  vida  fez  de  você”,  posteriormente  será  alguma  coisa  e  será 
aquilo  que  ele  fizer  de  si  mesmo.  Assim, 
percebi  que  havia  encontrado  algo  que, 
não  existe  natureza  humana,  já  que  não 
finalmente,  fazia  sentido.  Era  o  existe um Deus para concebê-la. O homem 
Existencialismo.  é  tão-somente,  não  apenas  como  ele  se 
concebe,  mas  também  como  ele  se  quer; 
A escola ou doutrina existencialista  como  ele  se  concebe  após  a  existência, 
surge  entre  os  séculos XIX e XX na Europa  como ele se quer após esse impulso para a 
e  tem  entre  seus  principais  expoentes  existência (SARTRE, p. 10, 2014).  
 

Søren  Kierkegaard,  Martin  Heidegger  e  Melhor  explicando,  a  essência  do 


Jean  Paul  Sartre.  Cada  qual  a  sua  homem  se  dá  a  partir  de  seu  nascimento 
maneira,  esses  pensadores  refletem  e  das  escolhas  que  faz  ao  longo  de  seu 
acerca  de  temas  comuns,  tais  como  projeto  de  vida,  até  a  morte.  Essa 
liberdade,  escolha,  responsabilidade,  essência,  portanto,  não  vem  pronta,  é 
angústia  e  finitude.  E  colocam  o  homem  mutável  e  se  constitui  ao  longo  da 
como o centro de sua experiência de vida,  existência/experiência  de  cada  indivíduo, 
em  outras  palavras,  como  o  autor  de  seu  em conformidade com suas escolhas. 
próprio destino. 
Ainda  de  acordo  com  Sartre  em 
  seu  manifesto  em  defesa  do 
“A existência precede a essência”  Existencialismo  –  O  Existencialismo  é  um 
Humanismo  –  “o  homem  nada  mais  é  do 
 
que  aquilo  que  ele  faz  de  si  mesmo:  é 
Contrariando  a  ideia  cartesiana 
esse  o  primeiro  princípio  do 
que  separa  o  corpo  e  a  mente,  para  os 
existencialismo.  É  também  a  isso  que 
filósofos  do  Existencialismo,  corpo  e 
chamamos  de  subjetividade:  a 
mente  são  indissociáveis.  Além  disso, 
subjetividade  de  que  nos  acusam”  (p.  10, 
estudiosos existencialistas colocam que, 
2014). 

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Liberdade x responsabilidade  Ainda de acordo com Jean-Paul Sartre, 


  Ao  afirmarmos  que  o  homem se escolhe a 
O  ser  é  livre  para  escolher  o  seu  si mesmo, queremos dizer que cada um de 
nós  se  escolhe,  mas  queremos  dizer 
caminho.  Suas  escolhas  são  realizadas  a  também  que,  escolhendo-se,  ele  escolhe 
todo  momento  e,  ainda  que  o  indivíduo  todos  os  homens.  De  fato,  não  há  um 
imagine  “não  escolher”,  estará  realizando  único  de  nossos  atos  que,  criando  o 
a  escolha  de  “se  levar  pela  multidão”,  homem  que  queremos  ser,  não  esteja 
criando,  simultaneamente,  uma  imagem 
deixar  que  outros  escolham  para  si. 
do homem tal como julgamos que ele deva 
Contudo,  essa  liberdade  acarreta  sempre  ser.  Escolher  ser  isto  ou  aquilo  é  afirmar, 
a  responsabilidade  pelos  resultados  –  concomitantemente,  o  valor  do  que 
positivos  ou  negativos  –  de  cada  uma  estamos  escolhendo,  pois  não  podemos 
nunca  escolher  o  mal; o que escolhemos é 
dessas escolhas. 
sempre  o  bem  e  nada  pode  ser  bom  para 
Desse  modo,  o  primeiro  passo  do  nós  sem  o  ser  para  todos.  Se,  por  outro 
existencialismo  é  o de pôr todo homem na  lado,  a  existência  precede  a  essência,  e  se 
posse  do  que  ele  é  e  de  submetê-lo  à  nós  queremos  existir  ao  mesmo  tempo 
responsabilidade  total  de  sua  existência.  que  moldamos  nossa  imagem,  essa 
Assim,  quando  dizemos  que  o  homem  é  imagem  é  válida  para  todos  e  para  toda  a 
responsável  por  si  mesmo,  não  queremos  nossa  época.  Portanto,  a  nossa 
dizer  que  o  homem  é  apenas  responsável  responsabilidade  é  muito  maior  do  que 
pela  sua  estrita  individualidade,  mas  que  poderíamos  supor,  pois  ela  engaja  a 
ele  é  responsável  por  todos  os  homens  humanidade inteira (p. 12, 2014). 
(SARTRE, p. 11, 2014). 
   
O  sujeito  pode,  por  exemplo,  Angústia e má-fé 
escolher  deixar  um  emprego  de  prestígio   
e  com  bom  salário  por  não  suportar  as 
regras  e  a  rotina  do dia a dia. Porém, terá  A  responsabilidade  por  cada 
de  lidar  com  as  consequências  de  ficar  escolha  feita é imensa e, como vimos, não 
sem  o  dinheiro,  de  precisar  buscar  um  é  possível  deixar  de  escolher,  a  partir  do 
novo  emprego,  da  frustração  da  família  momento  em  que  o  homem  nasce  no 
com  sua  decisão  etc.  Ou  ele  pode,  de  mundo,  até  o  momento  em  que  deixa  de 
outra  forma,  continuar  nesse  emprego  existir.  O  sentimento  que  acompanha 
que  não  lhe  traz  felicidade, mas que paga  essas  escolhas  é  a  angústia.  Angústia, 
as  contas,  traz  alegria  para  a  família  e  desamparo,  desespero  são  termos 
prestígio  social.  Seja  qual  for  a  decisão,  o  bastante  presentes  nos  estudos  do 
sujeito  sempre  terá  de  fazer  escolhas  na  Existencialismo.  Pois  não  é  possível  estar 
vida,  das  mais  simples  às  mais  no  mundo  escolhendo  a  si  mesmo  e  aos 
complexas.  E  se  responsabilizar  por  cada  outros  homens  sem  deparar  com  esses 
uma  delas,  sabendo  que  as  afetos. 
consequências  refletem  não  apenas  em  Para  Sartre,  “o  homem  é  angústia” 
sua vida, mas em toda a sociedade.  (p.  13,  2014).  E  para  compreender  a 
 

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angústia  na  concepção  existencialista,  o  Cada  homem  deve  perguntar  a  si  próprio: 
pensador propõe o seguinte:  sou  eu,  realmente,  aquele  que  tem  o 
direito  de  agir  de  tal  forma  que  os  meus 
O  homem  que  se engaja e que se dá conta 
atos  sirvam  de  norma  para  toda  a 
de  que  ele  não  é  apenas  aquele  que 
humanidade?  E,  se  ele  não  fazer  a  si 
escolheu  ser,  mas  também  um  legislador 
mesmo  esta  pergunta,  é  porque  estará 
que  escolhe  simultaneamente  a  si  mesmo 
mascarando  sua  angústia.  Não  se  trata de 
e  a  humanidade  inteira,  não  consegue 
uma  angústia  que  conduz  ao  quietismo,  à 
escapar  ao  sentimento  de  sua  total  e 
inação.  Trata-se  de  uma  angústia  simples, 
profunda  responsabilidade.  É  fato  que 
que  todos  aqueles  que  um  dia  tiveram 
muitas  pessoas  não  sentem  ansiedade, 
responsabilidades  conhecem  bem.  (...) 
porém nós estamos convictos de que estas 
Veremos  que  esse tipo de angústia – a que 
pessoas  mascaram  a  ansiedade  perante si 
o  existencialismo  descreve  –  se  explica 
mesmas,  evitam  encará-la;  certamente 
também  por  uma  responsabilidade  direta 
muitos  pensam  que,  ao  agir, estão apenas 
para  com  os  outros  homens  engajados 
engajando  a  si  próprios  e,  quando  se  lhes 
pela  escolha.  Não  se  trata  de  uma  cortina 
pergunta:  mas  se  todos  fizessem  o 
entreposta  entre  nós  e  a  ação,  mas  parte 
mesmo?,  eles  encolhem  os  ombros  e 
constitutiva  da  própria  ação  (SARTRE,  p. 
respondem:  nem  todos  fazem  o  mesmo. 
14-16, 2014). 
Porém,  na  verdade,  devemos  sempre 
perguntar-nos:  o  que  aconteceria  se  todo   
mundo  fizesse  como  nós?  e  não  podemos 
escapar  a  essa  pergunta inquietante a não  “Doutrina de ação” 
ser  através  de  uma  espécie  de  má  fé  (p.   
14, 2014). 
 
Posso  finalizar  o  texto  com  a 
Diferentemente  da  ideia  do  afirmação  sartreana  de  que,  acima  de 
senso-comum,  para  o  pensamento  tudo,  o  Existencialismo  é  uma  “doutrina 
existencialista  a  má-fé  acontece  quando  de  ação”  (p.  48,  2014).  Pois  se  trata  de 
um  homem  “mente  para  si  mesmo”,  não  colocar  o  sujeito  como  centro  do  seu 
reconhecendo  sua  liberdade  de  fazer  universo,  um  “universo  humano”  ou 
escolhas  e  se  autodeterminar.  Tentando  “universo  da  subjetividade  humana”  (p. 
mascarar sua angústia por ter de escolher  46,  2014),  em  que  a  relação  dialética  de 
a  todo  momento,  o  indivíduo  abre  mão  ser-no-mundo  (in  Ser  e  Tempo, 
de  sua  autenticidade,  de  uma  vida  HEIDEGGER,  1927),  em  que  o  homem 
autêntica,  passando  a  viver  escolhas  de  existe,  nasce  no  mundo  e,  só  depois, 
outros  –  vivendo  de  maneira  inautêntica,  constrói  sua  subjetividade,  sua  essência, 
fingindo  crer  que  as  escolhas  já  estão  por  meio  de  escolhas  que  transformam 
postas,  sendo  impossível,  assim,  de  não  apenas  a  si,  mas  a  todos  em 
serem transformadas.  determinado  local,  determinada  época  e 
O  indivíduo  que  se  submete  às  contexto  histórico,  gera  responsabilidade 
regras  e  normas  sociais,  sem  e  uma  angústia  propulsora  de  ações  e 
questioná-las ou mesmo sem acreditar no  mudanças  significativas  tanto 
que  vive;  aquele  Homem  que  mente para  individualmente, como coletivamente. 
si  mesmo,  seria  o  indivíduo  que  vive  na  Por  perseguir  “objetivos 
má-fé existencialista.   transcendentes  é  que  ele  (o  homem) 

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revista ex-isto no. 1 | p. 10 
 

pode  existir;  sendo  o  homem  essa   


superação  e  não  se  apoderando  dos 
 
objetos  senão  em  relação  a  ela,  ele  se 
situa  no  âmago,  no  centro  dessa 
superação”  (SARTRE,  p.  47,  2014).  Ainda 
sobre  o  caráter  humanista  do 
Existencialismo,  que  coloca  o  Homem 
como único legislador de si: 
...recordamos  ao  homem  que  não  existe 
outro  legislador  a  não  ser  ele  próprio  e 
que  é  no  desamparo  que  ele  decidirá 
sobre  si  mesmo;  e porque mostramos que 
não  é  voltando-se  para  si  mesmo  mas 
procurando  sempre  uma  meta  fora de si – 
determinada  libertação,  determinada 
realização  particular  –  que  o  homem  se 
realizará  precisamente  como  ser  humano 
(p. 47, 2014). 
 

A  transcendência  do  homem 


existencialista  reside  no  seu  esforço  de 
superação  de  vida  –  nas  escolhas 
ininterruptas  objetivando  romper 
barreiras,  explorar  possibilidades  para 
alcançar sua subjetividade mais autêntica,   
alterando  a  si  próprio,  ao  outro  e  à  Jean-Paul Sartre (1905-1980) 
sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
Referências: 
 
REYNOLDS,  J.  Existencialismo.  Petrópolis,  RJ: 
Vozes, 2013. (Série Pensamento Moderno). 
Por  ​Luana  Muñoz  de  Oliveira  Orlandi​, 
jornalista e estudante de psicologia. 
SARTRE,  J.  P.  O  Existencialismo  é  um 
Humanismo. 4a ed. São Paulo: Vozes, 2014.  E-mail: luana_orlandi@uol.com.br 

   
   
   
     
 

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Gênero   
Essência, existência, gênero   

 
 
 
Aristóteles  defendia  que  Além  de  garantirem  a 
compreender  a  verdadeira  causa  de  um  continuidade  da  vida,  estarão  cumprindo 
evento  era  intuir  sua  essência,  com  as  normas  religiosas  e 
especificidade  e  necessidade.  Outro  mandamentos  sociais  estabelecidos. 
filósofo  que  corroborou  com  as  idéias  de  Aristóteles  ainda  dizia  que  tudo  é 
Aristóteles  foi  o alemão Gottfried Wilhelm  composto  de  uma  substância,  o  termo 
Leibniz  (1646–1716).  Para  ele,  o  mundo  significa  literalmente  o que está por baixo 
foi  criado para um determinado fim. Tudo  de.  Não  possui uma existência acidental e 
o  que  existe  tem  uma  causa  final  que  eventual.  Ela  existe  para  si.  Tem  vida 
define  o  seu  propósito  e  a  sua existência.  própria  e  goza  de  determinadas 
Nada  acontece  sem  uma  razão  profunda  propriedades  possuindo  apenas  uma 
suficiente.  Agir  para  um  fim e, em relação  essência.  Substância  e  essência 
a  este,  avaliar  os  próprios  meios  é  típico  coincidem. 
da  natureza  humana.  Conforme  a 
Nesse  caso  podemos  pensar  na 
hipótese  finalista,  a  natureza  também 
“essência  masculina”  e  na  “essência 
seria  movida  por  análogo  critério  de 
feminina”.  Essas,  por  sua  vez,  são 
intencionalidade.  O  cristianismo  fez  do 
compostas  de  comportamentos 
finalismo sinônimo de providência divina.  
normatizados  e  específicos  para  cada 
Influenciada  pelo  pensamento  gênero  em  questão.  Tal  forma  de 
essencialista  e  finalista,  as  questões  de  raciocinar  ficou  conhecida  na  filosofia 
gênero  foram  sendo  construídas  pelas  como  essencialismo.  As  essências  são 
normas  religiosas,  médicas,  políticas  e  produzidas  através  de  respostas  dadas  à 
jurídicas.  Portanto,  o  raciocínio  seguinte  pergunta:  o que é isto ou aquilo? 
estabelecido  foi  o  seguinte:  aquele  que  é  Quando  se  pergunta,  por  exemplo,  o  que 
definido  como  homem  biológico  foi  feito  é  o  gênero,  a  mulher,  o  homem,  o  idoso 
com  um  pênis.  Depois  foi  dotado  de uma  ou  a  travesti,  está  se  perguntando  pela 
“essência  masculina”.  Sua  finalidade  é  definição desses entes. 
buscar  uma  mulher  biológica que foi feita 
Para  Aristóteles  pode-se  descrever 
com  uma  vagina  e  dotada  de  uma 
a  essência  como  aquilo  que  permanece  e 
“essência  feminina”.  A  partir  desse 
se  conserva  imutável,  apesar  da  mutação 
encontro,  os  dois  estabelecerão  uma 
aparente.  Definir  a  essência  da  vida  é 
relação  complementar  e  serão  os 
mais  difícil  do  que  definir  a  essência  de 
responsáveis  pela  perpetuação  da 
um  triângulo,  por  exemplo.  Em  oposição 
espécie  humana  (Abbagnano,  2007; 
ao  essencialismo,  há  outra  corrente  na 
Chauí,  2003;  Nicola,  2005  apud  Antunes, 
filosofia  denominada  de  existencialismo. 
2017). 

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Essa  linha  de  pensamento  diz  que  o  ser  estado  em  que  as  possibilidades  estão 
humano  não  é  um  conjunto  de  teorias.  sempre irrealizadas. 
Há  uma  preocupação  com  o  sentido  ou o 
Para  Sartre  só  nos  tornamos  algo 
objetivo  das  vidas  humanas,  mais  que 
acabado  quando  morremos.  O  homem 
com  verdades  científicas  ou  metafísicas 
passa  toda  sua  existência  em  um 
sobre o universo. 
processo  de  devir.  Estamos  sempre 
Assim,  o  existencialismo  foi  abertos  às  novas  possibilidades  de 
influenciado  pela  fenomenologia  do  reinvenção  partindo  de  um  determinado 
filósofo  alemão  Edmund  Husserl  (1859-  contexto  existencial  possível.  Sartre 
1938).  Tal  pensamento  dizia  que  a  chamou  isso  de  facticidade.  Ela  diz 
experiência  interior  ou  subjetiva  é  respeito  às  resistências  e  objetos  que  a 
considerada  mais  importante  do  que  a  liberdade  necessariamente  se  defronta 
verdade  “objetiva”.  O  existencialismo  diz  quando  cria  nova  situação.  Como 
que  o  homem  não  foi  planejado  por  exemplo  de  facticidade,  podemos  pensar 
alguém  para  uma  finalidade,  como  os  no  sexo  biológico,  família,  país,  cidade, 
objetos  que  o  próprio  homem  cria.  O  cultura, época e condição socioeconômica 
homem  se  faz  em  sua  própria  existência.  que nascemos. 
Não  havendo  tal  essência,  todos  são 
As  condições  impostas  pela 
iguais  e  igualmente livres para se fazerem 
facticidade  conjugadas  ao  significado 
em  relação  a  determinado  contexto. 
dado  pela  liberdade  se  combinam  para 
Afirma  o  primado  da  existência  sobre  a 
criar  uma  nova  situação.  Sartre  defende 
essência. 
que  não  importa  o  que  foi  feito  do 
Não  há  afirmações  gerais  e  indivíduo,  e sim o que o indivíduo faz com 
verdadeiras  sobre  o  que  os  homens  aquilo  que  foi  feito  dele.  A  resistência  é 
devem  ser.  Um  de  seus  principais  intrínseca  à  liberdade  e  ao  humano. 
representantes  é  o  filósofo  francês  Travestis  nasceram  biologicamente 
Jean-Paul  Sartre  (1905-1980)  que  leva  homens.  Podemos  pensar  que  esse  fato 
esse  indeterminismo  às  suas  mais  remete  à  facticidade  ou  àquilo  que  foi 
radicais  consequências.  Para  Aristóteles,  feito  delas.  Alteram  seus  corpos  com 
e  muitos  outros  filósofos,  a  essência  de  signos  considerados  culturalmente 
ser  humano  era  ser  racional.  Mas  para  próprios  do  feminino.  Esse  fato  remete  à 
Sartre,  a  pessoa  deve  produzir  sua  liberdade  ou  ao  que  fazem  com  aquilo 
própria  essência.  A  existência  precede  a  que foi feito delas. 
essência.  Como  seres  conscientes, 
No  entender  de  Sartre  estamos 
estamos  sempre  querendo  preencher  o 
condenados  à  liberdade.  Cada  ato 
“vir  a  ser”  que na realidade é a verdadeira 
contribui  para  definir  como  nos 
“essência”  do  nosso  ser  consciente. 
apresentamos  ao  mundo.  Em  qualquer 
Queremos  nos  transformar  em coisas em 
momento  podemos  começar  a  agir  de 
vez  de  permanecer  perpetuamente  num 
modo  diferente  e  desenhar  um  retrato 
diferente  de  nós  mesmos.  Há  sempre 

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revista ex-isto no. 1 | p. 13 
 

uma  possibilidade  de  mudança,  de  existencialismo  ateu  de  Sartre.  Sem 
começar  a  fazer  um  tipo  diferente  de  diretrizes  absolutas,  nós  devemos  sofrer 
escolha.  Temos  o  poder  de  nos  a  agonia  de  nossa  tomada  de  decisão  e a 
transformar  indefinidamente,  tendo  angústia de suas consequências. 
sempre  como  ponto  de  partida,  nossa 
A  angústia  é,  então,  a  consciência 
facticidade.  Não  há  nenhuma  “essência” 
da  própria  liberdade  e  a  consciência  da 
determinada  que  oriente  a  priori  o 
imprevisibilidade  última  do  nosso 
comportamento de ninguém. Porém, há o 
comportamento.  Sartre  define  como  “má 
que Sartre chama “projeto original”. 
fé”  a  tentativa  de  fugir  da  angústia 
Como  uma  pessoa é uma unidade,  fingindo  que  não  somos  livres.  Tentamos 
e  não  apenas  um  amontoado  de  desejos  nos  convencer  que  as  nossas  atitudes  e 
ou  hábitos  sem  relação,  deve  haver  para  ações  são  determinadas  pela  nossa 
cada  uma  delas  uma  escolha  personalidade,  horóscopo,  situação  ou 
fundamental  por  um  papel  ou  script  de  por  qualquer  outra  coisa  fora  de  nós 
vida,  o  qual  dá  o  significado  de  qualquer  mesmos.  Segundo  Sartre,  nenhum 
aspecto  específico  de  seu  motivo ou resolução passada determina o 
comportamento.  Essa  escolha  nem  que  fazemos  agora.  Cada  momento 
sempre  acontece  de  forma  consciente.  requer  uma  escolha  nova  ou  renovada. 
Saber  sobre  o  “projeto  original”  de  Mesmo  que  não  fizermos  nada,  uma 
alguém  demanda  cuidadosa  análise  de  escolha  já  está  sendo  realizada:  o  não 
sua  trajetória  existencial.  Sartre  agir. 
acreditava  que  não  há  nenhum  deus  e, 
Negar  a  liberdade  é  uma  tomada 
portanto,  não  há  qualquer  plano  divino 
de  posição  covarde,  a  fim  de  fugir  da 
que determine o que deve acontecer. Não 
angústia  da  escolha,  e  achar  o  repouso  e 
há  um  sentido  ou  propósito  último 
a  segurança  na  confortável  ilusão  de  ser 
inerente  à  vida  humana.  Logo  ela  é 
uma  essência  acabada.  Portanto,  o 
absurda. 
existencialismo  se  contrapõe  ao 
Isto  significa  que  o  indivíduo  foi  essencialismo,  à medida que defende que 
jogado  de  fato  na  existência  sem  não  somos  determinados.  Para  essa 
nenhuma  razão  real  para  ser.  corrente  filosófica,  podemos  nos 
Simplesmente  descobrimos  que  reinventar  a  cada  momento. Inicialmente, 
existimos  e  temos  então  que  decidir  o  as  ideias  essencialistas  se  tornaram  mais 
que  fazer  de  nós  mesmos.  O homem não  expressivas  que  as  ideias  existencialistas 
é  mais  do  que  aquilo  que  ele  faz  de  si  (Perdigão,  1995;  Sartre,  2005  apud 
mesmo.  Se  não  há  nenhum  deus,  não  há  Antunes, 2017). 
nenhum  padrão  objetivo  de  valores. 
Portanto,  as  primeiras 
Consequentemente, devemos estabelecer 
influenciaram  mais  as  ciências  biológicas 
ou  inventar,  a  partir  da  liberdade  e 
do  que  as  ciências  humanas.  Logo,  para 
facticidade  nossos  próprios  valores 
as  ciências  médicas  e  biológicas,  assim 
particulares.  Tal  é  o  primeiro  princípio  do 
como  todos  os entes, homens e mulheres 

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revista ex-isto no. 1 | p. 14 
 

também  possuem  uma  essência  e  simultânea  do  hegemônico  e  do 


finalidade  que  serão  manifestadas  ao  subalterno.  Tais  estudos  se  preocupam 
longo da vida.  em  criticar  os  processos  normatizadores. 
Portanto,  segundo  Pelúcio  (2009)  apud 
Os  estudos  ​queer  se  propõem  a 
Antunes,  (2017)  os  estudos  queer, 
compreender  as  práticas  sociais  que 
procuram  desvelar  mecanismos  de 
organizam  a  sociedade  como  um  todo 
naturalização  e  essencialização  dos 
através  da  “sexualização”, 
termos e relações por eles significados.  
“heterossexualização”, 
“homossexualização”  de  corpos  desejos,   
atos,  identidades,  relações  sociais, 
 
conhecimentos,  cultura  e  instituições 
sociais.  Interrogação  dos  processos  Referência Bibliográfica: 
sociais  normatizadores  que  criam  ANTUNES,  P.  P.  S.  Homofobia 
classificações  gerando  a  ilusão  de  que  internalizada:  o  preconceito  do 
existem  sujeitos  estáveis,  identidades  homossexual contra si mesmo. São Paulo: 
naturais  e  comportamentos  regulares  Annablume, 2017. 
(Seidman  apud  Miskolci,  2009  apud   
Antunes, 2017). 
Disponível em PDF:  
Para  Miskolci (2009) apud Antunes, 
https://tede2.pucsp.br/browse?type=author&
(2017),  a  matriz  essencializadora  e  value=Antunes%2C%20Pedro%20Paulo%20Sa
hierarquizadora  criada  pela  sociedade  mmarco&fbclid=IwAR1I0drxfNKO40FTTT7gks
seria  formada  pela  conexão  entre  etnia  e  WiCJhtmZTTYBEE2-R1TaRc8wgDOfEQ5Gf-zeI 
sexualidade. Nela há um nó que evidencia 
 
o  mesmo  processo  normatizador  que 
acaba  criando  seres  considerados  mais   
 
humanos  e  menos  humanos  (seres 
 
abjetos).  Os  seres  humanos  só  se tornam 
viáveis  através  de  categorias  socialmente  Por  ​Pedro  Sammarco​,  psicólogo  clínico 
reconhecidas.  Portanto,  segundo  tal  graduado  pelo  Mackenzie,  com  formação 
matriz  essencializadora,  travestis  idosas,  em  Gestalt-Terapia pelo Sedes Sapientiae, 
são  consideradas  abjetas  e  invisíveis,  especialização  em  Sexualidade  Humana 
justamente  por  não  corresponderem  a  pela  USP,  mestrado  em  Gerontologia  e 
nenhuma  categoria  considerada  viável  e  doutorado  em  Psicologia  Social  pela 
às normas estipuladas.   PUC-SP.  É  autor  dos  livros  "Travestis 
envelhecem"  e  "Homofobia  internalizada: 
A  teoria  ​queer  ​desafia  a  sociologia 
o  preconceito  do  homossexual  contra  si 
a  não  estudar  mais  aqueles  que  rompem 
mesmo",  publicados  pela  editora 
as  normas,  nem  os  processos  sociais  que 
Annablume. 
os  criaram  como  desviantes.  Ao  invés 
 

disso,  insiste  em  focar  nos  processos  www.instagram.com/pedrosammarco 


normatizadores  marcados  pela  produção  www.fb.com/pedrosammarcopsicologo 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 15 
 

Literatura   
Um “demônio” trágico   
 
   
A  literatura  russa  nos  legou  O  personagem  de  Kiríllov  é  belo 
grandes  escritores,  dentre  tantos  deles  porque  trágico,  trágico  à  la  Sófocles 
Fiódor  Dostoiéviski  (1821-1881)  se  (497-405  a.C.).  Kiríllov  é  um  personagem 
destaca  como  um  dos  mais  densos  febril,  que  se  consome  em  seus 
filosoficamente e psicologicamente.  pensamentos,  num  raciocínio  constante 
Em  sua  obra  “Os  demônios”  sobre  suas  ideias  que  o  levará  a  um 
encontram-se  diversos  personagens,  um  destino  trágico.  Kiríllov  quer  provar  que 
deles  me  recordou  o  filósofo  Friedrich  Deus  morreu!  Grande  missão  este 
Nietzsche  (1844-1900),  o  personagem  personagem  se  impõe!  Mas  como,  como 
Aleksiei  Kiríllov  incorpora  o  apolíneo  e  o  provar  a  morte  de  Deus?  Em  seu  estado 
dionisíaco  da  filosofia  de  Nietzsche  e  nos  febril  Kiríllov  decide  que  está  disposto  a 
remonta  a  uma  tragédia  grega  antiga  do  levar  às  últimas  consequências  para 
período pré-socrático.  tentar  provar  a  inexistência  desse  “ser”, 
deus. 
 
Kiríllov  raciocina:  “...se  crê,  crê  que 
  não  crê.  Mas  se  não  crê,  então  crê  que 
não  crê.”  Não  há  saída,  para  Kiŕillov  é 
impossível  deixar  de  acreditar  em  algo, 
mesmo  não  crendo  em  nada  se  crê 
sempre  em  algo,  constata.  A  “salvação” 
para  seus  dilemas,  e seu trunfo enquanto 
herói,  é  se  matar  por  um  ideal,  matar-se 
em  defesa  do  Ateísmo,  que  ele  diz 
ninguém  ainda  o  ter  feito,  ninguém  se 
matou  em  defesa  da  “não-crença”  e  ele 
seria  o  primeiro!  Grande  constatação! 
Matando  a  si  ele  demonstra  a  todos  que 
quem  tem  o  poder  sobre  a  vida,  é  ele,  e 
não  Deus.  Kiríllov  almeja a independência 
de  sua  existência,  sem  submissão  a  nada 
transcendente. 
 
 
 
Fiódor Dostoiévski   

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 16 
 

   
Esse  “herói  trágico  moderno”  - 
 
assim como nas tragédias gregas antigas - 
vence  todas  as  circunstâncias  colocadas 
pela  sua  razão  pela  tragicidade  de  seu 
ato,  o  suicídio. Seu ato é dionisíaco, pois é 
a  desintegração  do  “eu”, um somar com a 
natureza,  e  também  apolíneo  por  ser  um 
ato  individual  (​principium  individuationis​) 
mesmo  que  para  dar  término  da  própria 
vida  culminando  numa  tragédia.  Como 
afirma  Roberto  Machado  em  seu  livro 
Nietzsche e a verdade: 
Para  o  herói  trágico  é  necessário  perecer, 
por onde ele deve vencer. 
(pág.38) 

Kiríllov  vence,  por  matar  a  si 


mesmo  em  defesa  de  uma  ideia,  um 
herói  trágico  que  num  ato  de 
autoconsciência  encontra  uma  forma  de 
anunciar  ao  mundo  que  não  é  um deus o 
mantenedor  da  vida,  do  mundo,  o 
 
homem  tem  poder  sobre  si  mesmo  de 
dar  cabo  à  sua  vida  justificado  pela   
“razão”, e nisso encontra sua consolação.   
Eis a estranha consolação que proporciona 
 
a  tragédia:  a  certeza  de  que  existe  um 
prazer  superior  a  que  acede  pela  ruína  e  Por  ​João  Marcos​,  proprietário  do  Sebo 
pelo  aniquilamento  do  herói,  da 
São  Darwin,  tatuador,  interessado  em 
individualidade,  da  consciência;  pela 
destruição  dos  valores  apolíneos.  (pág.  40  literatura, filosofia e história. 
–  Roberto  Machado  em  Nietzsche  e  a 
 
verdade). 
Sebo São Darwin: 
Fica  aqui  o  convite  à  leitura  desta 
www.facebook.com/saodarwin 
obra  literária  excepcional.  Lembrando 
www.instagram.com/sebo_sao_darwin 
que  as  melhores  traduções  de 
 
Dostoiévski  no  Brasil  são  da  editora  34, 
Tatuaisô: 
em  especial  dos  tradutores  Boris 
www.instagram.com/tatuaiso 
Shnaiderman e Paulo Bezerra. 
www.facebook.com/tatuaiso 
 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 17 
 

 
Galeria Independente   
George Christian   
 
   

 
A Era da Estupidez 
 
Seu  álbum  mais  recente,  'A  Era  da 
Estupidez',  é  o  álbum  mais  progressivo 
em  sua  discografia.  Trata-se  de  um 
trabalho  conceitual  em  que  se  observa, 
paradoxalmente,  uma  narrativa  que  se 
inicia  como  um  lamento  solitário  e  vai  se 
desdobrando  num  cataclisma  ultra 
psicodélico  de  timbragens  ao  observar  a 
estupidez no mundo. 
 
O  compositor  se  assume  solista  e 
 
multiinstrumentista,  onde  o  corpo  da 
George  Christian  é  compositor,  improvisação  e  da  composição 
multiinstrumentista  e  cantor,  residente  espontânea  percorre  contornos  mais 
em  Salvador  (BA),  fortemente  engajado  estruturados  e  desafiadores.  Das  dores 
na  produção  e  difusão  de  sua  música  secretamente  autobiográficas às dores do 
independente  por  distintos  meios  online,  mundo  ao  redor.  O  álbum  é  um 
tendo  produzido  diversos  EPs  e  álbuns  manifesto  contra  uma  época  de 
lançados,  utilizando  como  principal  retrocessos  éticos  e  um  elogio  à  loucura 
instrumento  o  violão  elétrico,  juntamente  criativa. 
com explorações instrumentais. 
 
Também atua como compositor de 
Link para escutar o disco: 
trilhas  sonoras, tendo em seu currículo os 
hamfuggirecords.bandcamp.com/album/
filmes  "Imagens",  de  Luiz  Rosemberg 
a-era-da-estupidez 
Filho,  e  a  série  "No  Icons"  (inédito),  de 
 
Alexandre  Guena.  Seus  trabalhos 
trafegam  nos  campos  tanto  da  música  George Christian: 
experimental,  quanto  da  música  de  georgechristianmusic.wixsite.com 
concerto,  realizando  esporádicas  instagram.com/gc.soundartifacts 
performances ao vivo.  fb.com/georgechristianmusic 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 18 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
   
cotidiano / junho 2020  Guto Nunes 
pastel seco em papel kraft  instagram.com/gggguto/ 
 
   

   
   

   

Galeria  Independente  é  um  O  intuito  desta  galeria  é  gerar 


projeto  do  ex-isto  que  visa  divulgar  visibilidade  de  artistas  pouco  conhecidos 
artistas  que  produzem  um  trabalho  pelos  meios  midiáticos  de  massa,  que 
autoral,  de  caráter  inventivo,  crítico  e/ou  atuam  principalmente  de  maneira 
libertário,  que  se  relacione  (de  alguma  independente,  seja  na  música,  pintura, 
maneira)  com  as  temáticas  do  escultura,  literatura,  fotografia,  cinema, 
existencialismo,  fenomenologia,  filosofia  dança,  teatro,  história  em  quadrinhos  ou 
contemporânea ou psicologia.  arte digital. 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 19 
 

Livro  Podemos  rastrear  também  sua 


O ser e o nada - Jean-Paul Sartre  dívida com Kierkegaard, quando o filósofo 
francês  escreve  sobre  a  condição  da 
humanidade  como  radicalmente  livre  e  a 
relação  dessa  liberdade  com  a  angústia. 
O  ser  não  é  pré-determinado,  sua 
essência  é  uma  construção,  onde  nos 
autoafirmamos  através  de  nossas  ações 
(escolhas),  somos  condenados  a  sermos 
livres  e  por  isso  somos  obrigados  a 
escolher,  agir,  a  não  escolha  também  é 
uma  escolha  onde  somos  totalmente 
responsáveis.  Já  a  angústia  jaz  da 
liberdade,  “um  sentimento  inevitável  de 
 
profunda  e  total  responsabilidade  por 
“O  Ser  e  o  Nada”  do  filósofo  nossas próprias escolhas e ações”. 
francês  Jean-Paul  Sartre  é  um  grande 
Constantemente tentamos fugir da 
clássico  do  existencialismo,  publicado 
responsabilidade,  e  essa  tentativa  foi  o 
pela  renomada  Editora  Vozes.  Neste  livro 
que  Sartre  chamou  de  má-fé,  aqui 
encontramos  reflexões  sobre  a 
concentra-se  as  temáticas  do  engano  de 
consciência,  percepção,  autoilusão, 
si. A mentira implica que o mentiroso está 
existência  e  o  livre-arbítrio.  Um  livro 
completamente  a  par  da  verdade,  não  é 
robusto  e  de linguagem complexa, porém 
um  ignorante  ou  vítima  de  um  erro,  mas 
indispensável  para  os  interessados  dessa 
sim  tem  uma  consciência  cínica 
corrente de pensamento. 
incoerente  com  suas  palavras.  A  mentira 
Influenciado  fortemente  por  também  pressupõe  o  “outro”,  o 
filósofos  como  Martin  Heidegger  e  enganado.  Já  a  má-fé  compartilha  muitos 
Edmund  Husserl  no  uso  do  método  aspectos  da  mentira,  porém,  não 
fenomenológico  como ótica para explorar  pressupõe  o  outro:  sendo  assim  uma 
o  ser  (ontologia),  nosso  autor  configura  mentira  para  si  mesmo.  A  má-fé  é  uma 
uma  relação  entre  consciência  e  mundo  “desagregação íntima no seio do ser”. 
de  maneira  posicional,  pois, consciência é 
 
sempre  consciência  de  algo  e  o  método 
fenomenológico  é  justamente  aquele que  Por  ​Kaíque  Jeordhanne​,  bacharel  em 
busca  o  fenômeno  como  ele  aparece.  A  Ciências  Ambientais,  idealizador  do 
aparência  não  é  mera ilusão que esconde  projeto  Ler  e  Despertar,  onde  faz 
a  essência  de  algo,  ao  contrário,  a  resenhas e oferece dicas de livros. 
 
essência mesma é uma aparição. 
www.instagram.com/leredespertar   
 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 20 
 

Filme  poética  e  melancólica  –  Zurlini  oferece 


belos  takes  da  cidade  no  outono, período 
A primeira noite de tranquilidade  em  que  transcorre  a  história  –  Daniele 
  tem  sua  existência maquinal e indiferente 
agitada  por  um  sentimento  que  há 
Valério  Zurlini  foi  um  diretor  de  tempos  não  o  movia;  o  desejo.  Ele  é 
destaque  no  cinema  italiano  nas  décadas  despertado  por  outra  personagem  que 
de  50  a  70,  mas  de  alguma  forma,  no  parece  viver  um  impasse  tão  grande 
âmbito  internacional,  seu  nome  ganhou  quanto  o  de  Daniele.  A  bela  e  triste 
menor  repercussão  que  o  de  outros  Vanina,  a  aluna  adolescente  que 
cineastas.  Talvez  obscurecido  pela  demonstra  interesse  por  suas  aulas. 
fenomenal  repercussão  que  outros  Daniele  irá,  é  claro,  se  apaixonar  por 
cineastas  do  período  alcançaram  – Fellini,  Vanina.  Mas  para  além  da  diferença  de 
Visconti,  Antonioni...  Mas  certamente  não  idade  e  das  relações  sociais  que  irão 
por  conta  de  seu  cinema ser algo inferior.  obstruir  os planos de Daniele, há também 
Zurlini  dirigiu  poucos  filmes,  mas  alguns  o  fato  de  Vanina  ser  amante  de um rapaz 
deles,  como  “A  primeira  noite  de  envolvido  com  a  máfia  local  e  de  ter  um 
tranquilidade”,  revelam  seu  talento  para  passado  tão  complicado  quanto  o  de 
retratar  o  estado  de  espírito  de  Daniele. 
personagens  imersos  em  crises 
existenciais e situações limites.  O  filme  se  constrói  pela  força  de 
seus  personagens.  Além  de  Daniele  e 
“A  primeira  noite de tranquilidade”  Vanina,  outras  figuras  interessantes 
remete  a  uma  passagem  da  obra  de  habitam  essa  história  onde  parece  que 
Goethe,  que  ao  final  do  filme  irá  revelar  ninguém  vai  conseguir  o  mínimo  de 
seu  caráter  trágico.  A  história  é  centrada  satisfação  em  suas  complicadas 
no  personagem  de  Daniele  (Alain  Delon),  existências.  O  filme  lida  com  várias  das 
um  professor  de  literatura  de  meia  idade  questões  centrais  ao  existencialismo  – 
que  fracassou  em  se  mostrar a altura das  angústia,  solidão,  liberdade, 
expectativas  de  sua  família  burguesa. Um  singularidades  que  ora  aproximam,  ora 
Delon  derrotado,  com  olheiras  e  eterno  afastam  os  indivíduos.  “A  primeira  noite 
semblante  de  quem  passou  a  noite  em  de  tranquilidade”  versa  sobre  um  mundo 
alguma  festa  decadente  entrega  uma  onde  impera  a  falta  de  sentido  e  sobre  o 
atuação  lapidar.  Daniele  parece  ir  de  quanto  nossas vidas são um tanto quanto 
cidade  a  cidade,  de  emprego  a  emprego,  absurdas. 
sem  qualquer  desejo  de  chegar  a  algo  ou 
algum  lugar.  Seu  currículo  é  cheio  de   
espaços  vazios,  e  Daniele  não  está   
minimamente  interessado  em  explicar  Por  ​Graziela  Maria  Lisboa  Pinheiro​, 
tais  ausências,  assim  como  também  estudante  de  psicologia,  mestre  e 
parece  ter  pouco  interesse  por  sua  doutora  em  letras,  graduada  em 
namorada  deprimida.  Numa  Rimini  comunicação social e cinema. 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 21 
 

Diversos  princípio  fundamental  à  neutralidade,  o 


esperantista  se assume como um cidadão 
O que é o esperanto?  do  mundo,  totalmente  integrado  às 
  interações transnacionais. 
O  falante  do  esperanto  tem  a 
Em  poucas  palavras, o esperanto é  oportunidade  de  se  inserir  em  qualquer 
uma  língua  planejada  criada  na  intenção  grupo  social,  não  impondo,  de  maneira 
de  facilitar  a  comunicação  entre  pessoas  alguma,  sua  língua  nacional, dessa forma, 
que  falam  línguas  diferentes.  A  base  do  tais  indivíduos  atingem  uma  aquisição 
esperanto  foi  iniciada  pelo  médico  e  cultural  plenamente  efetiva.  Tolerância, 
filólogo  polonês Dr. Lázaro Zamenhof, em  respeito  e  cordialidade  são  alguns  dos 
1887.  Desde  então,  o  projeto  de  língua  principais  valores  cultivados  no  meio 
planejada  transformou-se  em  uma  língua  esperantista. 
viva,  com  cultura  própria,  mas 
internacional,  tendo  até  mesmo  falantes  Será  um  grande  prazer  poder 
nativos.  mostrar um pouco deste universo cultural 
para você leitor da revista ex-isto. 
Hoje  podemos  também  dizer  que   

o  esperanto  é  muito  mais  que  apenas 


uma  língua  inventada,  atualmente,  é uma 
cultura  rica  e  diversa  que  reúne  pessoas 
de  várias  partes  do  mundo,  essa  cultura 
se  mostra  através  de  músicas,  filmes, 
redes  sociais,  literatura,  teatro  e  outras 
manifestações artísticas. 
O  esperanto  não  pertence  a 
nenhuma  nação  e  pertence  a  todos 
aqueles  que,  de  alguma  maneira,  têm   
contato  com  essa  ferramenta 
 
extremamente  eficaz  de  comunicação 
Por  ​Fábio  Silva​, licenciado em Letras pela 
transnacional. Essa língua é culturalmente 
UFLA,  pós-graduado  em  linguística 
cosmopolita,  aquele  está  inserido  na 
aplicada  à  educação pela Faveni, membro 
comunidade  esperantista,  na  maioria  das 
da  Liga  Internacional  de  Professores 
vezes,  também  tem  interesse  por  um 
Esperantistas  e  é  diretor  da  Embaixada 
mundo  sem  fronteiras  e,  principalmente, 
do Esperanto de Pouso Alegre. 
sem barreiras linguísticas. 
 
O  livre  contato  e  a  facilidade desta  www.linguainternacional.org 
comunicação  fluida,  possibilita  aos  www.facebook.com/ambasadejo 
usuários  do  esperanto  total  acesso  às  www.instagram.com/esperanton 
mais  diversas  culturas.  Tendo  como 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 22 
 

Artigo   
Fundamentos da psicoterapia   
 

fenomenológico existencial   

Bruno Carrasco  Introdução 

   

Resumo:  O  presente  trabalho  pretende 


oferecer  uma  breve  introdução  sobre  os 
Este  artigo  tem  como  intuito  apresentar 
fundamentos  filosóficos  da  psicoterapia 
os  embasamentos  filosóficos  e 
fenomenológico  existencial,  expondo 
metodológicos  da  psicoterapia 
seus  norteamentos  teóricos,  iniciando 
fenomenológico  existencial:  a  filosofia 
com  a  filosofia  existencialista  e  seu 
existencialista  e  o  método 
entendimento sobre a existência humana, 
fenomenológico,  destacando  sua 
e  o  método  fenomenológico,  que  indica 
particularidade  no  modo  de  encarar  a 
atitudes  e  disposições  para  se  aproximar 
existência  humana  e  de  proceder  o 
da  existência  em  seus  distintos modos de 
processo  psicoterapêutico.  O 
se expressar. 
existencialismo  oferece  um  olhar  sobre  a 
condição  humana  enquanto  algo  não  Existencialismo  é  uma  filosofia 
definido,  livre  e  responsável  por  suas  contemporânea  que  encara a existência a 
escolhas,  e  em  constante  transformação,  partir  de  sua  manifestação  concreta, 
que  se  constitui  em  seu  existir  concreto  singular  e  afetiva,  entendendo  o  ser 
por  meio  de  sua  experiência  singular,  no  humano  livre  para  fazer  escolhas  e 
mundo,  em  constante  relação  com  as  responsável  por  elas,  sempre  aberto  a 
pessoas,  objetos,  espaços  e  consigo  novas  possibilidades.  A  fenomenologia se 
mesmo.  A  atitude  fenomenológica dispõe  apresenta  como  uma  atitude  para  se 
uma  abertura  para  as  singularidades  da  aproximar  das  singularidades,  do  modo 
existência  em  seus  modos  próprios  de  se  como cada um se apresenta. 
manifestar,  buscando  compreender  as  O intuito desta pesquisa é explorar 
distintas  características,  interesses  e  os  pressupostos  filosóficos  e  as  teorias 
desinteresses  de  cada  indivíduo, evitando  que  servem  de  embasamento  para  a 
pressuposições  ou  conceitos  prévios  prática  da  psicoterapia  fenomenológico 
sobre  a  pessoa,  captando  o  modo  como  existencial.  Pretende-se,  portanto, 
esta se revela a cada encontro.  apresentar  algumas  questões  do 
  existencialismo  e  da  fenomenologia  com 
relação  ao  entendimento  de  ser  humano, 
Palavras-chave: Psicoterapia, 
e  sobre  o  modo  como  proceder  a  análise 
Existencialismo, Fenomenologia, 
da  existência  humana,  de  acordo  com 
Psicologia. 
estas vertentes. 
 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 23 
 

A  psicoterapia  fenomenológico  1. Existencialismo 


existencial dispõe uma maneira específica 
 
de  encarar  a  existência  humana, 
entendendo  esta  como  um  processo  e  O  termo  ‘existencialismo’  é 
não  como  algo  fixo,  mas  sempre aberto à  resultante  da  soma  da  palavra ‘existência’ 
transformações,  sendo  constantemente  com  o  sufixo  ‘ismo’.  Segundo  Penha 
afetada  pela  relação  com  as  outras  (2014,  p.11),  a  palavra  ‘existência’  é  uma 
pessoas,  objetos  e  espaços,  aberta  a  derivação  do  verbo  existir,  que  se  origina 
novos  entendimentos  de  mundo  e  de  si.  do  latim  ​existere​,  cujo  significado 
O  método  fenomenológico  possibilita  corresponde  a  “sair  de  uma  casa,  um 
uma  aproximação  das  singularidades  e  domínio,  um  esconderijo.  Mas 
da  relação  afetiva  da  pessoa  com  o  precisamente:  existência,  na  origem,  é 
mundo,  com  os  outros  e  consigo  mesma,  sinônimo  de  mostrar-se,  exibir-se, 
compreendendo  seus  modos  de  ser  e  movimento para fora”. 
suas vivências no mundo.  O  existencialismo  enquanto 
Este  trabalho  se  inicia  com  a  vertente  de  filosofia  possui  influências  de 
descrição  dos  fundamentos  teóricos,  diversos  filósofos,  entre  eles  Sören 
filosóficos  e  conceituais  da  psicoterapia  Kierkegaard  (1813-1855),  Friedrich 
fenomenológico  existencial,  com  a  Nietzsche  (1844-1900),  Martin  Heidegger 
pretensão  de  oferecer  uma  introdução  (1889-1976),  e  outros  que  contrariam boa 
sobre  esta  vertente  de  psicoterapia,  que  parte  das  bases  da  filosofia  ocidental 
por  ser  pouco  conhecida,  acaba  sendo  desde  a  Antiguidade  até  a  Idade 
erroneamente  confundida  com  outras  Moderna.  Porém,  foi  por  meio  do filósofo 
tendências  como  a  Abordagem  Centrada  francês  Jean-Paul  Sartre  (1905-1980)  que 
na  Pessoa,  de  Carl  Rogers,  a  esta  filosofia  se  tornou  popular.  Sartre  se 
Gestalt-Terapia,  de  Fritz  Perls,  ou  a  assumiu  enquanto  existencialista  e 
Psicoterapia  Existencial  Humanista,  de  destacou  o  existencialismo  como  uma 
Rollo May.  filosofia  do  engajamento  e  da  ação, 
evidenciando  a  responsabilidade  de  cada 
Para  a  pesquisa  foram  utilizados 
pessoa por sua existência. 
alguns  dos  livros  mais  destacados 
publicados  sobre  existencialismo  e  Reynolds  (2014)  destaca  entre  os 
fenomenologia,  juntamente  com  artigos  temas  fundamentais  tratados  pelos 
sobre  os  temas  abordados.  Essa  existencialistas:  a  liberdade,  a  morte,  a 
necessidade  de  voltar  aos  fundamentos  finitude,  a  experiência  fenomenológica,  a 
possui  justamente  o  intuito  de  oferecer  angústia,  a  náusea,  o  tédio,  a 
um  breve  entendimento  introdutório  autenticidade  e  a  responsabilidade. 
sobre  as  bases  para  que  se  possa  Segundo  ele,  eventos  como  a  Segunda 
compreender  melhor  sua  proposta  Guerra  Mundial  e  a  ocupação  alemã  na 
psicoterapêutica na prática.  França,  possibilitaram  um  maior 
questionamento  sobre  questões  como  a 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 24 
 

liberdade,  a  responsabilidade  e  a  morte. 


Foulquié  (1975)  apresenta  o 
Segundo  Penha  (2014),  o  existencialismo 
existencialismo  partindo  de  sua diferença 
foi  a  corrente  filosófica  mais  discutida 
para  com  o  essencialismo.  Para  ele,  até  o 
entre as décadas de 1940 e 1950. 
século  XIX  o  pensamento  essencialista 
No  livro  ‘O  existencialismo  é  um  prevalecia,  e  a  filosofia não questionava o 
humanismo’,  Sartre  cita  sua  célebre  frase  primado  da  essência  sobre  a  existência, 
“a  existência  precede  a  essência”  (2014,  ou  seja,  partiam  do  entendimento de que 
p.18),  argumentando  que  este  é  o  toda  existência  era  fruto de uma essência 
primeiro  princípio  do  existencialismo,  previamente definida. 
complementando  que  “o  homem  nada  é 
Seja  no  mundo  das  ideias  de 
além  do  que  ele  se  faz”  (2014,  p.19). 
Platão,  como  nas  categorias  em 
Segundo  ele,  não  há  nenhuma  definição 
Aristóteles,  ambos  no  século  IV  a.C.,  nas 
prévia  sobre  o  ser  humano  com  relação 
essências  da  escolástica,  na  segunda 
aos  seus  modos  de ser, de se relacionar e 
metade  da  Idade  Média,  e  nas  ideias 
de  se  colocar  no  mundo.  Cada  pessoa  se 
inatas  de  René  Descartes,  no  século  XVII, 
constrói  na  prática  da  vida  concreta,  na 
todas  estas  filosofias  priorizavam  as 
relação  com  outras  pessoas  e  por  meio 
essências em detrimento da existência. 
das escolhas que faz. 
 
Uma  tendência  muito  presente  na 
Que  significa,  aqui,  que  a  existência  filosofia  ocidental,  desde  Aristóteles,  que 
precede  a  essência?  Significa  que  o  inclusive  foi  utilizada  pela  ciência 
homem  existe  primeiro,  se  encontra,  moderna,  é  olhar  para  as  coisas  partindo 
surge  no  mundo,  e  se  define  em  seguida. 
Se  o  homem,  na  concepção  do 
das  categorias  que  são  estabelecidas 
existencialismo,  não  é  definível,  é  porque  sobre  elas  de  acordo  com  suas 
ele  não  é,  inicialmente,  nada.  Ele  apenas  semelhanças  com  relação a outras coisas, 
será  alguma  coisa  posteriormente,  e  será  e  que  inclusive  as  discrimina  por  suas 
aquilo  que  ele  se  tornar.  Assim,  não  há 
diferenças.  Essa  tendência  de  encarar  as 
natureza  humana,  pois  não  há  um  Deus 
para concebê-la. (SARTRE, 2014, p.19)  coisas  partindo  de  suas  categorias 
  prévias,  ao  invés  das  experiências  sobre 
O  conceito  essência,  segundo  a  as  coisas,  nos  dificultou  a  captação  das 
tradição  filosófica,  refere-se  àquilo  que  distintas  particularidades  sobre  o  que 
seria  previamente  determinado,  que  percebemos,  ou  seja, de suas distinções e 
caracterizaria  algo  ou  um  ser  antes  singularidades. 
mesmo  de  sua  existência  concreta.  Neste 
 

O  existencialismo  surge,  pois,  como  uma 


sentido,  a  existência  seria  resultante 
teoria  que  afirma  o  primado  ou  a 
desta  essência.  A  filosofia  existencialista  prioridade  da existência. Mas em relação a 
se  contrapõe  a  esta  vertente  que  afirma  este  primado  ou  prioridade? 
essencialista,  entendendo  a  existência  Em  relação  à  essência.  (FOULQUIÉ,  1975, 
7p.) 
como  resultante  da  própria  existência 
 
concreta, e não de uma essência. 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 25 
 

Para  a  filosofia  essencialista,  a  No  existencialismo,  a  existência  é 


essência  corresponderia  a  algo  universal  concebida  como  um  privilégio  do  ser 
contendo  todas  as  características  de  um  humano,  não  sendo  algo  pronto  ou 
ser,  enquanto  que  a  existência  seria  previamente  determinado,  tal  como 
apenas  uma  disposição  para  transformar  entendiam  os  filósofos  essencialistas, 
em  ato  tal  essência,  portanto  uma  mera  mas  como  um  constante  vir-a-ser,  em 
efetivação  das  essências  prévias.  O  permanente  transformação.  Por  não  ser 
existencialismo,  pelo  contrário,  considera  definida  previamente,  a  existência 
a  existência  como  prioridade,  ao  invés  da  humana  é  livre  para  fazer  escolhas,  pois 
essência.  Neste  sentido,  a  existência  não  para  existir precisamos, necessariamente, 
é  uma  efetivação  de  uma  essência  escolher.  Não  escolhemos  como  e  onde 
previamente  definida,  mas  uma  condição  nascer,  mas  podemos  escolher  o  que 
que  constitui justamente os modos de ser  fazer  diante  das  circunstâncias  em  que 
e  as  características  mais  próprias de cada  estamos  inseridos.  É  por  meio  da  relação 
pessoa,  na  relação com as outras pessoas  que  estabelecemos  com  os  lugares,  com 
e com o mundo.  os  objetos  e  com  as  pessoas,  juntamente 
 
com  as  escolhas  que  fazemos,  que 
Como  indica  a  própria  palavra,  o  constituímos nosso modo de existir. 
existencialismo  caracteriza-se  sobretudo   

pela  tendência  de  colocar  o  acento  na 


(...)  eu  sou  bonito  ou  feio,  filho  de 
existência.  O  existencialista 
proletário ou de ilustre ascendência, chove 
desinteressa-se  das  essências,  dos 
ou  faz  calor…  diante  destes  fatos  sou 
possíveis,  das  noções  abstratas:  situa-se 
impotente.  Mas  sou  senhor  de  minha 
nas  antípodas  do espírito matemático; seu 
atitude  à  respeito  destas  maneiras  de ser, 
interesse  dirige-se  ao  que  existe,  ou 
independentes  de  mim:  posso 
melhor,  à  existência  daquilo  que  existe. 
orgulhar-me  ou  envergonhar-me  delas, 
(FOULQUIÉ, 1975, 37p.) 
aceitá-las  ou  insurgir-me  contra  elas.  Eu 
não  as  escolho,  mas  escolho  a  forma 
 

Segundo  Foulquié  (1975),  o  como  as  considero,  ou,  no  dizer  dos 
existencialismo  também  se  coloca  existencialistas,  eu as assumo. (FOULQUIÉ, 
1975, 46p.) 
contrário  ao  racionalismo  e  ao 
 

positivismo,  que  priorizaram  a  razão  e  a 


Essa  liberdade  de  fazer  escolhas, 
objetividade,  respectivamente,  em 
segundo  o  entendimento  existencialista, 
detrimento  da  experiência.  Contrariando 
não  consiste  em  vivenciar  momentos  do 
essas  teorias  sobre  a  existência  humana, 
modo  como  desejamos  ou  esperamos, 
a  filosofia  existencialista  parte  do 
mas  escolher  o  que  fazer  diante  das 
entendimento  de  que  é  impossível  fixar 
distintas  situações  e  adversidades  que 
regras  prévias  para  a  existência  e  para os 
atravessamos. 
modos  de  ser  de  cada  indivíduo, 
buscando  olhar  para  as  diferenças  ao  Para  a  filosofia  existencialista, 
invés das teorias ou generalizações.  todos  somos  livres  para  fazer  escolhas  e 
direcionar  a  nossa  existência  a  todo 

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momento,  de  acordo  com  nossas  modos  de  viver,  não  há  também nenhum 
condições  e  possibilidades.  Porém,  não  sentido  previamente  estabelecido  sobre 
temos  nenhuma  garantia  sobre  o  que  como  viver  a  vida.  Essa  constatação  pode 
pode  acontecer por conta de um caminho  parecer  angustiante,  mas  é  também 
que  escolhemos  seguir,  de  modo  que  libertadora.  Para  o  existencialismo,  o 
toda  escolha  é  um  risco,  e  isso  nos  gera  sentido  da  vida  pode  ser  acolhido, 
uma sensação de angústia.  abraçado ou criado.  
Por  não  termos  uma  essência  que 
 

Sem  a  orientação  de  regras  universais  de 


nos  defina  ou  que  nos  constitua  moralidade,  da  natureza  humana  ou  de 
previamente,  somos  nós  os  únicos  um  Deus  cognoscível,  que  emitiu  certos 
responsáveis pelas escolhas que fazemos.  mandamentos  indiscutíveis  (e  várias 
Isso  nos  torna  responsáveis  por  nossa  teologias  podem  acordar  com  isso), 
devemos  dotar  o  mundo  de  significado  e 
existência,  pela  pessoa  que  nos  somente  nós  podemos  fazer  isso. 
tornamos.  A  cada  escolha  que  fazemos, a  Devemos  realizar  este  ato  de  fé:  criar  o 
cada  momento  que  escolhemos, estamos  significado  em  que  buscamos  viver. 
escolhendo  a  nós  mesmos,  a  pessoa  que  (REYNOLDS, 2014, 17p.) 

estamos sendo. 
 

  A  escolha  que  cada  um  faz  sobre 


Mas  se  realmente  a  existência  precede  a  sua  existência  é  acompanhada,  segundo 
essência  o  homem é responsável pelo que  Kierkegaard,  pelo  temor  e  por  uma  falta 
é.  Assim,  a  primeira  decorrência  do 
de  tranquilidade,  pois  apesar  de  todas  as 
existencialismo  é  colocar  todo homem em 
posse  daquilo  que  ele  é,  e  fazer  repousar  nossas  avaliações  e  deduções  racionais 
sobre  ele  a  responsabilidade  total  por sua  sobre  o  que  iremos  escolher,  nunca 
existência. (SARTRE, 2014, 20p.)  teremos  certeza  de  que  uma  de  nossas 
 
escolhas  será  como  desejamos  ou 
Toda  pessoa  pode,  em  certo  esperamos,  ou  mesmo  que  será  melhor 
sentido,  e  de  acordo  com  suas  condições  do  que  aquela  que  não  escolhemos. 
e  circunstâncias  externas,  escolher  o  que  Neste  sentido,  toda  escolha  que  fizermos 
fazer  de  si  mesma,  a  todo  momento  de  será  sempre  um  risco,  e  cada  escolha 
sua  existência.  O  que  não  é  possível,  implica  na  negação  das  outras 
segundo  Sartre  (2014),  é  não  escolher.  É  possibilidades de escolha. 
neste  sentido  que  ele  declara  que  “o 
Tanto  em  Kierkegaard  quanto  em 
homem  está  condenado  a  ser  livre” 
Sartre,  a  angústia  consiste  numa  espécie 
(Sartre,  2014,  24p.),  ou  seja,  a  liberdade 
de  medo  de  si,  do  que  pode  ser  feito 
não  é  uma  opção,  mas  uma  condição  da 
diante  de  uma  escolha,  e  da  dificuldade 
existência  humana.  Enquanto  condição 
de  se  escolher,  ao  perceber-se  o  único 
implica  em  estarmos  sempre  escolhendo 
responsável  por  sua  escolha,  portanto 
o que vamos fazer de nossa existência. 
também responsável por sua existência. 
Como  não  há  uma  essência  prévia 
 
que  determine  nossa  existência  e  nossos 

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2. Fenomenologia  Entre  o  discurso  especulativo  da 


Metafísica  e  o  raciocínio  das  ciências 
  positivas  deve,  pois,  existir  uma  terceira 
via,  aquela  que  antes  de  todo  raciocínio, 
O  termo  ‘fenomenologia’  foi 
nos  colocaria  no  mesmo  plano  da 
utilizado  por  diversos  autores,  com  realidade ou, como diz Husserl, das “coisas 
intenções  distintas.  Etimologicamente  mesmas”. (DARTIGUES, 2008, 18p.) 
  

significa  o  estudo  ou  a  ciência  dos 


fenômenos,  sendo  os  fenômenos  aquilo  A  fenomenologia  é  uma  atitude 
que aparece.  que  busca  encarar  o  fenômeno  do  modo 
como  este  se  mostra  por  si  mesmo, 
Do  modo  como  hoje  entendemos,  libertado  de  seus  encobrimentos, 
essa  temática  começa  a  aparecer  entre  o  teorizações  e  interpretações.  Trata-se  de 
final  do  século  XIX  e  início  do  século  XX,  um  método  que  busca  descrever  os 
com  o  filósofo  e  matemático  alemão  fenômenos  do  modo  como  são 
Edmund  Husserl  (1859-1938),  sendo  percebidos  e  experimentados,  ao  invés 
continuada  e  transformada  por  filósofos  de  estabelecer  teorias  ou  categorias 
como  Martin  Heidegger  (1889-1976),  sobre o que se mostra. 
Jean-Paul  Sartre  (1905-1980),  Maurice 
Merleau-Ponty (1908-1961), entre outros.  Se  apresenta,  portanto,  como  um 
método  de  acesso  à  experiência,  que não 
Apesar  de  autores  anteriores  a  pretende  encontrar  razões  metafísicas ou 
Husserl  terem  utilizado  este  termo,  como  descrever  as  coisas  de  maneira  objetiva, 
Hegel  (1770-1831)  ou  Kant  (1724-1804),  é  mas  se  aproximar  do  modo  como 
com  Husserl  que  a  fenomenologia  segue  sentimos  e  apreendemos  o  mundo.  Para 
um  novo  caminho,  que  irá  influenciar  a  Cerbone  (2012,  20p.),  a  fenomenologia 
filosofia,  a  psicologia  e  o  modo  de  se  “está  precisamente  ocupada  com  os 
fazer  ciências  humanas  no  século  XX  em  modos  pelos quais as coisas aparecem ou 
diante,  entendendo  que  “o  sentido do ser  se  manifestam  para  nós,  com  a  forma  e 
e  o  do  fenômeno  não  podem  ser  estrutura  da  manifestação”.  Trata-se, 
dissociados” (Dartigues, 2008, 11p.).  portanto,  de  uma  busca  da  compreensão 
Partindo  de  um  questionamento  das  coisas  como  são  captadas,  do  modo 
sobre  a  ciência  positivista  e  a  filosofia  como são captadas. 
idealista,  criticando  o  uso  do  método  das   

ciências  naturais  na  psicologia  e  nas  A  fenomenologia  tem  por  objeto  as coisas 
que  se  manifestam  ou  se  mostram,  tais 
ciências  humanas,  a  fenomenologia 
como  se  manifestam  os fenômenos; neste 
aparece  como  um  contraponto  e  uma  sentido,  as  coisas  constituem  aquilo que é 
nova  perspectiva  de  se  fazer  ciência,  rigorosamente  dado,  aquilo  que  eu 
contrariando  o  entendimento  objetivista  encontro e que é, para mim, originalmente 
presente.  (...)  É  a  filosofia  do 
e  as  teorizações  metafísicas,  propondo 
inacabamento,  do  devir,  do  movimento 
encarar  as  coisas  tal  como  aparecem,  constante,  onde  o  vivido  aparece  e  é 
retornando ao mundo da vida.  sempre  ponto  de  partida  para  se chegar a 
  algo. (LIMA, 2014, 12-13p.) 

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modo  que  nos  abrimos  para  a  percepção 


O  método  fenomenológico  é  um 
deste  e  o  experimentamos  como  belo  ou 
esforço  para  ir  de  encontro  com  as 
feio,  interessante  ou  desinteressante, 
experiências  sem  estar  permeado  pelas 
alegre  ou  triste,  expressivo  ou  morno, 
especulações  teóricas  ou  pressuposições 
entre  tantas outras possíveis experiências 
sobre  elas.  Por  conta  disso,  não  parte  da 
que  emergem  dessa  relação.  Ou  seja, 
generalização  teórica  nem  da  abstração, 
nossa  captação  de mundo não se trata de 
mas  busca  reconhecer  e  valorizar  as 
uma  mera  relação  objetiva,  mas  também 
singularidades  daquilo  que  é  percebido, 
afetiva e valorativa. 
observando  a  existência  partindo  de  sua 
manifestação singular.  Esta  percepção  é  intencional,  pois 
resulta  da  relação  entre  a  nossa 
Esta  atitude  é  utilizada  em 
consciência,  do  modo  como  se  direciona 
distintas  abordagens  de  psicologia  que 
para  um  objeto,  e  o  objeto,  do  modo 
possuem  como  foco  a  subjetividade  e  as 
como  se  apresenta  a  nossa  consciência. 
emoções,  como  a Psicoterapia Existencial, 
Porém,  nunca  captamos  um  objeto  em 
a  Abordagem  Centrada  na  Pessoa,  a 
sua  totalidade,  o  observamos  sempre 
Gestalt-Terapia,  entre  outras.  Ao 
partindo  de  um  ângulo,  de  modo  que  há 
contrário  das  abordagens  objetivas  e 
muitos  ângulos  e  variações possíveis, que 
interpretativas,  busca-se  aproximar  da 
podem  alterar  a  nossa  percepção  das 
pessoa  atendida  do  modo  como  ela 
coisas e do mundo. 
experimenta suas vivências. 
 

A  consciência  é  sempre  intencional,  está 


Trata-se,  na  verdade,  de  um  “retorno”, um 
constantemente  voltada  para  um  objeto, 
caminho  de  volta,  em  que  o  “fim”  nada 
enquanto  este  é  sempre  objeto  para  uma 
mais  é  do  que  o  começo:  “de  volta  às 
consciência;  há  entre  ambos  uma 
coisas  mesmas”,  para  citar  a  tão  famosa 
correlação  essencial,  que  só  se  dá  na 
expressão husserliana. A fenomenologia é, 
intuição  originária  da  vivência.  A 
portanto,  o  caminho  de  volta  às  coisas 
intencionalidade  é,  essencialmente,  o  ato 
mesmas,  ao  mundo  da  experiência  vivida 
de  atribuir  um  sentido;  ela  é  que  unifica a 
ou  Lebenswelt  (mundo-da-vida). 
consciência  e  o  objeto,  o  sujeito  e  o 
(STRUCHINER, 2007, 242p.) 
mundo.  Com  a  intencionalidade  há  o 
   
reconhecimento  de  que  o  mundo  não  é 
Uma das críticas da fenomenologia  pura  exterioridade  e  o  sujeito  não  é  pura 
está  relacionada  ao  uso  dos  métodos das  interioridade,  mas  a  saída  de  si  para  um 
mundo  que tem uma significação para ele. 
ciências  naturais  para  os  estudos  das 
(FORGHIERI, 2019, 15p.) 
ciências  humanas.  A  fenomenologia     
constata  que  quando  olhamos  para  um 
O  filósofo  e  psicólogo  alemão 
objeto  qualquer,  como  uma  pintura,  o 
Franz  Brentano  (1838-1917)  influenciou  a 
que  vemos  não  são  as  moléculas e ondas 
fenomenologia  de  Edmund  Husserl, 
de  luz  que  atingem  a  nossa  retina,  tal 
especialmente  com  o  seu  entendimento 
como  entende  a  ciência  positivista.  Nós 
sobre  a  intencionalidade  da  consciência. 
estabelecemos  uma  relação  com  este 
De  acordo  com  Brentano,  “todos  os 
objeto,  uma  consciência  intencional,  de 

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processos  psíquicos  seriam  marcados  significa  abstenção  ou  suspensão  do 


pela  intencionalidade,  ou  seja,  estariam  juízo,  de  modo  que  colocamos  todas  as 
sempre  dirigidos  para  um  objeto” (Penna,  nossas  suposições,  hipóteses  ou 
2001,  18p.).  A  experiência  que  tenho  com  imaginações  entre  parênteses.  Isso  não 
algo  é  apenas  uma  aparição  possível  significa  eliminar  as  pressuposições,  mas 
deste algo.  deixá-las  de  lado,  para  se  abrir  ao  que  se 
apresenta. 
O  interesse  da  fenomenologia  não 
é  sobre  a  consciência  ou  sobre  o  objeto,  A  redução  fenomenológica 
mas  sobre  a  correlação  entre ambos, que  consiste  em  focar  a  atenção  não  nas 
surge  da  relação  entre  a  consciência  e  o  coisas,  mas  na  experiência  que 
objeto,  deixando  de  lado  qualquer  estabelecemos  com  as  coisas,  se 
intenção  de  formular  hipóteses  ou  aproximando  dos  fenômenos  tal como se 
estabelecer  inferências  sobre  o  que  é  apresentam  à  consciência,  despindo-se 
percebido,  de  modo  a  permitir  que  o que  de  abstrações,  ideias  feitas,  teorias  e 
é  percebido  se  mostre  em  seu  modo  de  hábitos.  Neste  sentido,  fenômeno  é  tudo 
aparecer.  aquilo  que  se  apresenta  à  consciência, 
 
seja  este  um  objeto,  uma  situação,  uma 
(...)  os  filósofos  tradicionais  costumavam  imagem  ou  uma  lembrança,  real  ou 
começar  por teorias ou axiomas abstratos, 
imaginada. 
mas  os  fenomenólogos  alemães  iam 
direto  à  vida  como  a  viviam  a  cada 
 

momento.  Deixavam de lado quase tudo o  O  que  é,  então,  uma  xícara de café? Posso 


que  vinha  alimentando  a  filosofia  desde  definir  a  bebida  em  termos  da  química  e 
Platão:  enigmas  sobre  a  realidade  das  da  botânica  da  planta,  acrescentar 
coisas  ou  sobre  a  possibilidade  de  resumidamente  como  os  grãos  são 
conhecermos  com  certeza  alguma  coisa  cultivados  e  exportados,  como  são 
sobre  elas.  Esses fenomenólogos alemães,  moídos,  como  a  água  quente  passa  pelo 
em  vez  disso,  ressaltavam  que  qualquer  pó  e  então  esse  líquido  é  vertido  num 
filósofo  que  faça  tais  perguntas  já  está  recipiente  de  determinado  formato,  para 
inserido  num  mundo  cheio  de  coisas  —  ser  apresentado  a  um  integrante  da 
ou,  pelo  menos,  cheio  de  aparências  de  espécie  humana  que  o  ingere  oralmente. 
coisas  ou  “fenômenos”  (da  palavra  grega  Posso analisar o efeito da cafeína no corpo 
que  significa  “coisas  que  aparecem”).  ou  abordar  o  comércio  internacional  do 
Então  por  que  não  se  concentrar  nesse  café.  Posso  encher  uma  enciclopédia  com 
encontro  com  os  fenômenos  e  ignorar  o  esses  fatos  e  ainda  assim  estarei  longe de 
resto?  Não  é  necessário  abandonar  para  dizer  o  que  é  esta  xícara  de  café  em 
sempre  os  velhos  enigmas,  mas  eles  particular,  à  minha  frente.  Por  outro  lado, 
podem  ser  postos  entre  parênteses,  por  se  procedo  ao  inverso  e  invoco  um  leque 
assim  dizer,  para  que  os  filósofos  possam  de  associações  puramente  pessoais  e 
lidar  com  assuntos  mais  terrenos.  sentimentais.  (...)  essa  xícara  de  café é um 
(BAKEWELL, 2017, 10p.)  aroma  rico,  ao  mesmo  tempo  agreste  e 
    perfumado;  é  o  movimento  indolente  de 
uma  voluta  de  vapor  erguendo-se  de  sua 
Para  proceder  com  o  método  superfície.  Quando  o  levo  à  boca,  é  um 
fenomenológico,  é  preciso  praticar  a  líquido  que  se  move  placidamente  e  um 
redução,  ou  a  ​'epoché'​,  termo  grego  que  peso  dentro  da  xícara  de  bordas  grossas 

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em  minha  mão.  É  um  calor  que  se  retomando  a  si  mesma  em  meio  a 
aproxima,  então  um  intenso  sabor  confusão  de  suposições  ideais e racionais 
carregado  em  minha  língua,  começando 
com  um  impacto  levemente  austero  e 
sobre si mesma. 
então  se  distendendo  num  calor  Essa  análise  parte  das  coisas  tal 
reconfortante,  que  se  espalha  da  xícara 
como  são  percebidas  enquanto  vivências 
para  meu  corpo,  trazendo  a  promessa  de 
um  estado  duradouro  de  alerta  e  para  a  pessoa  que  as  experimenta.  Os 
revigoramento.  A  promessa,  as  sensações  objetos  percebidos  nunca  são  "objetos 
antecipadas,  o  cheiro,  a  cor  e  o  sabor  em  si",  com  valores  em  si  próprios, 
fazem,  todos  eles,  parte  do  café  como 
independente  dos  indivíduos  que  os 
fenômeno.  Todos  emergem  ao  serem 
experimentados. (BAKEWELL, 2017, 46p.)  percebem,  mas  são  sempre "objetos para 
    uma  consciência",  pois  sempre  aparecem 
A  fenomenologia  nos  possibilita  enquanto  objeto  que  é  percebido, 
tratar  de  qualquer  objeto  enquanto  pensado,  rememorado,  imaginado,  entre 
experiência  subjetiva,  do  modo  como  é  tantas outras possibilidades. 
sentida  e  captada  por  uma  consciência,  A  consciência  e  o  objeto  não  são 
voltando-se,  portanto,  para  as  vivências  duas  instâncias  separadas,  mas  estão  em 
de  uma  pessoa. De acordo com Dartigues  constante  relação,  e  essa  relação 
(2008),  os  fenômenos  ocorrem  para  nós  estabelece  o  que  entendemos  por  "real", 
enquanto  experiências  que  se  dão  por  sendo  uma  possibilidade  captada  por 
meio  dos  sentidos,  as  vivências  sempre  meio  da  correlação  entre  a  consciência  e 
estão  dotadas  de  sentido,  e  o  sentido  do  o  objeto.  A  análise  fenomenológica busca 
fenômeno  pode  ser  percebido  por  meio  a  compreensão  dessa  correlação,  que 
da análise intencional.  constitui  o  "real",  e  que  se  apresenta  de 
 
diferentes  maneiras  em  cada  sujeito  e 
O  princípio  da  intencionalidade  é  que  a  circunstância. 
consciência  é  sempre  “consciência  de   

alguma  coisa”,  que  ela  só  é  consciência 


A  tarefa  efetiva  da  fenomenologia  será, 
estando  dirigida  a  um  objeto  (sentido 
pois,  analisar  as  vivências  intencionais  da 
intentio).  Por  sua vez, o objeto só pode ser 
consciência  para  perceber  como  aí  se 
definido  em  sua  relação  à  consciência,  ele 
produz  o  sentido  dos  fenômenos,  o 
é  sempre  objeto-para-um-sujeito. 
sentido  desse  fenômeno  global  que  se 
(DARTIGUES, 2008, 22p.) 
chama mundo. (DARTIGUES, 2008, 22p.) 
  
   
Por  meio  da  análise  intencional, 
O  método  fenomenológico 
podemos retornar às "coisas mesmas", ao 
consiste  em  retornar  a  uma  experiência 
estágio  pré-reflexivo,  antepredicativo,  à 
anterior  à  teórica  e  aos  conceitos,  indo 
nossas  percepções, afetos e vivências que 
em  direção  à  experiência  intencional  e 
são  experimentados  antes  de  quaisquer 
originária,  retomando  toda  a  riqueza  das 
elaborações  e  teorizações  sobre  eles.  É 
vivências  que  foram  descartadas  pela 
este  estágio  anterior  e  originário  que 
objetividade  científica,  da  conceituação  e 
interessa  à  fenomenologia,  possibilitando 
da interpretação metafísica. 
restabelecer  os  sentidos  da  pessoa, 

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conta  disso,  o  processo  psicoterapêutico 


3. Psicoterapia Fenomenológico 
enfatiza  a  compreensão  dos  afetos  da 
Existencial 
pessoa,  para que esta possa se aproximar 
  da  realidade  de  sua  experiência  e 
A  psicoterapia  fenomenológico  existência,  de  modo a fazer escolhas mais 
existencial  é  uma  abordagem  de  significativas para sua vida. 
psicoterapia  que  utiliza  como  A  psicoterapia  fenomenológico 
embasamento  teórico  o  existencialismo  e  existencial  busca  promover  o 
como  método  a  fenomenologia,  tendo  o  reconhecimento  e  a  valorização  da 
intuito  de  proporcionar  uma  maior  responsabilidade  de  cada  indivíduo  na 
aproximação  da  pessoa  com  seus  construção  de  sua  existência, 
sentimentos,  percepções  e  valores,  favorecendo  sua  autonomia  e  a 
visando sua autonomia psicológica.  ampliação  da  possibilidade  de  fazer 
De  acordo  com  Teixeira  (2006),  escolhas.  Trata-se  de  um  processo  de  se 
não  há  apenas  uma  abordagem  de  perceber  e  se  reconhecer,  com  vistas  a 
psicoterapia  que  utiliza  como  base  o  tornar-se  mais  responsável,  lidando  com 
existencialismo  e  a  fenomenologia,  mas  suas  dificuldades  e  assumindo  sua 
diversas,  entre  elas  a  Psicoterapia  existência,  indo  de  encontro  com  o  que  é 
Experiencial,  a  Psicoterapia  Vivencial,  a  realmente  significativo  para  si,  se 
Daseinsanalyse,  a  Logoterapia,  a  responsabilizando  por  suas  escolhas  e 
Psicoterapia  Existencial-Humanista,  a  abrindo-se a novas possibilidades. 
Psicoterapia Existencial, entre outras.   

Em  síntese,  trata-se  de  facilitar  ao 


Essas  distintas  vertentes  de  indivíduo  o  desenvolvimento  de  maior 
psicoterapia  não  se  apresentam  com  o  autenticidade em relação a si próprio, uma 
objetivo  de  “curar”  as  “perturbações  maior  abertura  das  suas  perspectivas 
sobre  si  próprio  e  o  mundo  e,  ainda,  de 
mentais”,  tal  como  é  a  proposta  do 
ajudar  a  clarificar  como  é  que  poderá agir 
modelo  médico-científico  tradicional,  mas  no  futuro  de  uma forma mais significativa. 
possuem  como  intuito  “facilitar  o  O  centro  é  a  responsabilidade  da 
encontro  do  indivíduo  com  a  liberdade  de  escolha  do  indivíduo.  A 
palavra-chave é a construção, uma vez que 
autenticidade  da  sua  existência,  de forma 
se  trata  de  desafiar  o  indivíduo  a  ser  o 
a  assumi-la  e  projectá-la  mais  livremente  construtor  da  sua  existência.  (TEIXEIRA, 
no  mundo”  (Teixeira,  2006,  289p.), onde o  2006, 294p.) 
foco  principal  é  a  existência  da  pessoa  e     
não suas “perturbações”.  Algumas  das  características  desta 
Os  sofrimentos  emocionais  psicoterapia  são  a  abertura  para  receber 
trazidos  pelas  pessoas  que  procuram  a  a  pessoa  tal  como  se  mostra,  a 
psicoterapia  são  entendidos  enquanto  constatação  da  liberdade  para  se  fazer 
resultantes  de  “dificuldades  do  indivíduo  escolhas  e  a  valorização  da  autenticidade 
em  fazer  escolhas  mais  autênticas  e  e  singularidade  de  cada  indivíduo,  que 
significativas”  (Teixeira,  2006,  289p.).  Por  corresponde  em  receber  a  pessoa  tal 

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como  ela  se  apresenta,  sem  buscar 


Segundo Tenório (2003), o enfoque 
explicações  racionais,  objetivas  ou 
fenomenológico  existencial  está 
interpretativas  sobre  seus  próprios 
embasado  numa  compreensão  de  ser 
modos  de  se  apresentar, se aproximando 
humano  livre  e  aberto  às  possibilidades, 
de  seu  modo  de  existir,  livre  de 
responsável  por  suas  escolhas  e capaz de 
suposições,  deixando  que  se  mostre  tal 
se  inventar  e  cuidar  de  sua  existência, 
como percebe e sente sua existência. 
sendo  essas  concepções  referidas  a 
Para  o  psicoterapeuta,  é  autores  como  Martin  Heidegger, 
necessário  uma  postura  de  abertura  com  Jean-Paul  Sartre,  Merleau-Ponty,  José 
relação  ao  outro,  de  modo  a  captá-lo  em  Ortega e Martin Buber, entre outros. 
seus  afetos  e  desafetos,  suas  vivências  e   

seus  sentidos,  enfim,  se  aproximando  da  A  pessoa,  no  processo  diagnóstico,  deve 
ser apreendida como sendo um fenômeno 
totalidade  de  suas  experiências,  inclusive 
único  e,  como  tal,  respeitada  em  sua 
da  relação  que  estabelece  com  sua  totalidade;  não  deve,  portanto,  ser 
história  de  vida.  Por meio dessa abertura,  avaliada  segundo  normas  e  padrões  de 
é  possível  desvelar  suas  características  comportamento  preestabelecidos,  numa 
existenciais,  compreendendo  seu  papel  total  revelia  a  sua  própria  existência.  Seu 
nível  de  crescimento  ou  de  maturidade 
nas  decisões  e  escolhas  de  sua  vida,  deve  ser  dimensionado  por  meio  dos 
promovendo  uma  maior  autonomia  projetos  de  vida  por  ela  própria 
consigo mesmo e com os outros.  idealizados  e  de  acordo  com  seu  próprio 
 
mundo  e  contexto  existencial.  (TENÓRIO, 
Estes  pressupostos  existencialistas  2003, 41p.) 
tornam-se  fundamentais na construção da     
postura  do  psicólogo  e  dos  objetivos  de  Deste  modo,  a  psicoterapia 
um  processo  diagnóstico.  Dentro  dessa 
fenomenológico  existencial  não  trabalha 
abordagem,  o  psicólogo não tenta explicar 
e  enquadrar  a  pessoa  examinada  em  com  classificação  de  modos  de  ser  em 
categorizações  e  parâmetros  “doenças”  ou  “patologias”,  pois  encara  a 
arbitrariamente  teorizados,  pois  ele  existência  de  maneira  singular,  não 
acredita  que a vivência dessa pessoa é sua  atuando  para  uma  ou  outra  doença,  mas 
própria  explicação,  sendo  ela  a  melhor 
interprete  de  si  mesma.  (TENÓRIO,  2003, 
buscando  captar  a  existência  como  um 
41p.)  todo,  em  seus  distintos  modos  de  ser,  de 
    se  expressar,  em  suas  dificuldades  e  em 
É  por  meio  da  aproximação  da  suas possibilidades. 
pessoa  atendida,  do  modo  como  esta  se  Trata-se  de  um  processo  que 
sente  e  se  mostra  que  o  psicoterapeuta  possibilita  uma  revisão  sobre  suas 
poderá  proporcionar  uma  maior  escolhas  e  seus  modos  de  existir,  de 
aceitação  de  si  mesma,  incentivando  a  modo  a  assumir  sua  existência  como 
liberdade  de  ser  e  fazer  escolhas  protagonista  de sua história, encontrando 
autênticas,  possibilitando  assim  uma  novos meios para lidar com dificuldades e 
abertura  a novas maneiras para lidar com  se abrindo à novas experiências. 
a vida e com suas questões. 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 33 
 

Considerações finais  Para  tanto,  o  psicoterapeuta 


  necessita  de  um grande preparo teórico e 
experiência  prática  para  se  dedicar a este 
Neste  trabalho  foi  possível 
modo  de  fazer  psicoterapia,  que  não  é 
constatar  que  a  filosofia  existencialista 
nada  simples,  pois  parte  muito  mais  da 
somada  à  atitude  fenomenológica  na 
filosofia  do  que da técnica científica. Além 
psicoterapia  possibilita  um  processo 
de  conhecer  os  pressupostos,  demanda 
muito  valioso  para  se  reconhecer  as 
uma  postura  de  abertura  para  os 
singularidades,  os  afetos  e  desafetos  da 
distintos modos de ser de cada pessoa. 
pessoa  em  atendimento.  Diferente  dos 
modelos tradicionais de psicoterapia, esta   
não  busca  resolver  um  “problema”  ou  Referências: 
interpretar  os  significados  “ocultos”,  mas  BAKEWELL,  Sarah.  No  café  existencialista. 
permitir  que  a  existência  se  apresente do  Tradução:  Denise  Bottman.  1ª  ed.  Rio  de 
modo  como  cada  um  se  sente  e  Janeiro: Objetiva, 2017. 
experimenta a vida.  CERBONE,  David.  Fenomenologia.  Tradução: 
Caesar Souza. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. 
Trata-se  de  uma  alternativa  às 
DARTIGUES,  André.  O que é a fenomenologia? 
tendências  mais  convencionais  e  Tradução:  Maria  José  de  Almeida.  10ª  ed.  São 
presentes  no  cenário  da  psicologia  na  Paulo: Centauro, 2008. 
atualidade,  tais  como  as  abordagens  FORGHIERI,  Yolanda.  Psicologia 
psicanalíticas  e  comportamentais,  Fenomenológica.  1ª  ed.  São  Paulo:  Cengage 
oferecendo  uma  compreensão  mais  Learning, 2019. 
aberta  e  aprofundada  sobre  a  FOULQUIÉ,  Paul.  O  Existencialismo.  Tradução: 
singularidade  e  as  questões  existenciais  J. Guinsburg. 3ª ed. São Paulo: DIFEL, 1975. 
LIMA,  Antônio  Balbino,  org.  Ensaios  sobre 
de  cada  indivíduo,  possibilitando  uma 
fenomenologia:  Husserl,  Heidegger  e 
maior  compreensão  de  si  e  autonomia, 
Merleau-Ponty. Ilhéus, BA: Editus, 2014. 
aumentando  o potencial de escolha sobre  PENHA,  João  da.  O  que  é  Existencialismo.  1ª 
sua própria vida.  ed. São Paulo: Brasiliense, 2014. 
Por  fim,  a  psicoterapia  PENNA,  Antonio.  Introdução  à  psicologia 
fenomenológica.  Rio  de  Janeiro:  Imago  Ed., 
fenomenológico  existencial  entende  que 
2001. 
grande  parte  das  dificuldades emocionais 
REYNOLDS,  Jack.  Existencialismo.  Tradução: 
se  desenvolvem  por  conta  de  uma 
Caesar Souza. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014. 
relação  inautêntica consigo mesmo e com  SARTRE,  Jean-Paul.  O  Existencialismo  é  um 
os  outros.  Por  isso,  sua  prática  pretende  Humanismo.  Tradução:  João  Kreuch.  4ª  ed. 
possibilitar  o  contato  da  pessoa  com  sua  Petrópolis: Vozes, 2014. 
própria  existência  de  maneira  mais 
 
autêntica  e  própria,  alinhada  com  seus 
afetos,  livre  para  fazer  escolhas  e  ir  de  Por ​Bruno Carrasco​. 
 
encontro  ou  criar  o  que  faça sentido para  www.fb.com/brunodevir 
si, a cada momento.  www.instagram.com/brunodevir   

nov.2020 | e
​ x-isto.com  
revista ex-isto no. 1 | p. 34 
 

O que é ‘ex-isto’?   
 
 
 
 
Objetivos: 
   
Ex-isto  é  um  projeto  dedicado  ao  ● Promover  estudos  e  pesquisas  sobre 
estudo  e  pesquisa  sobre  o  o  existencialismo,  a  fenomenologia,  a 
existencialismo,  a  fenomenologia,  a  filosofia  contemporânea  e  a 
filosofia  antiga  e  contemporânea,  e  a  psicologia,  relacionando  com  a 
psicologia,  relacionando  essas  temáticas  história, a literatura e as artes;  
com  a  história,  a  literatura  e  as  artes,  ● Oferecer  conteúdos  sobre  os  temas 
iniciado no final de 2016.  estudados  de  maneira  didática  e 
Tem  como  intuito  oferecer  acessível  para  estudantes  de 
conteúdos  e  materiais  como  textos,  psicologia, de filosofia e interessados; 
vídeos,  aulas  e  cursos,  que  abordam  as  ● Aproximar  pessoas  interessadas  nos 
temáticas  relacionadas,  priorizando  uma  temas  abordados,  possibilitando  a 
linguagem  acessível,  visando  possibilitar  troca  de  conhecimentos  e  de 
reflexões  sobre  a  existência  em  seus  experiências; 
distintos modos de se expressar.  ● Oferecer  cursos,  minicursos,  livros, 
e-books,  oficinas  e  palestras  sobre  os 
Existencialismo  é  uma  vertente  de  temas pesquisados. 
filosofia  contemporânea  que  reflete 
sobre  a  existência  humana  em  seus   
aspectos  concreto,  singular,  afetivo,  Criado  e  mantido  por  Bruno  Carrasco, 
temporal  e  histórico,  valorizando  a  fenomenólogo  existencial  e  professor, 
liberdade  de  escolha,  a  responsabilidade  graduado  em  psicologia,  licenciado  em 
e as diferenças entre os indivíduos.  filosofia  e  pedagogia,  pós-graduado  em 
O  nome  "ex-isto"  é  um  jogo  com  a  ensino  de  filosofia,  especializado  em 
palavra  "existo".  O  prefixo  "ex",  separado  psicoterapia fenomenológico existencial. 
de  "isto",  representa  algo  que  já  foi  ou   
deixou  de  ser,  entendendo  a  existência  Links: 
como  um  vir-a-ser, onde a todo momento  www.ex-isto.com 
deixamos  de  ser  algo  para  nos  tornar  www.fb.com/existocom 
outro,  num  constante  movimento  e  www.youtube.com/existo 
transformação.  www.instagram.com/existocom 

nov.2020 | e
​ x-isto.com  

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