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ISSN 2238-6335

Rev. Ibirapuera, São Paulo, n. 15, p. 23 31, Jan/Jun 2018

ÉDIPO NEGRO: ESTRUTURA E ARGUMENTO


¹Rafael Alves Lima

¹Universidade de São Paulo

rafaelnego@gmail.com

Não esqueci da senhora limpando o chão desses boy cuzão


Tanta humilhação não é vingança, hoje é redenção
Uma vida de mal me quer, não vi fé
Profundo ver o peso do mundo nas costas de uma mulher
(Emicida – “Mãe”)

Resumo

O presente artigo apresenta uma interpretação da proposição do conceito de Édipo Negro, da antropóloga Rita Segato.
Por meio da reconstrução das estratégias argumentativas e autores de referência da autora, busca-se sublinhar especi-
ficidades do conceito e marcar diferenças deste em relação a outras proposições que lhe são vizinhas. A organização do
campo a que se destina o conceito de Édipo Negro visa reforçar a importância e a pertinência do conceito para iluminar
este elemento central que organiza o campo social no Brasil que é o exercício da maternidade transferida da mãe legíti-
ma para a babá, compreendida como herdeira da ama-de-leite da história escravagista brasileira. Contemplando os des-
dobramentos imediatos dessa formulação na psicanálise e na experiência clínica, por fim, procura-se incluir o conceito
no interior de uma paisagem comum a outros autores que se relacionam lateralmente a ele, incluindo-o no debate geral
da interseccionalidade, que torna indispensável a articulação entre os níveis de classe, raça e gênero na crítica social
brasileira e no debate contemporâneo da psicanálise no Brasil.

Palavras-chave: Édipo Negro; Rita Segato; psicanálise; maternidade; Brasil; racismo.

Black Oedipus: structure and argument

Abstract

This article presents an interpretation of the proposition of the concept of Black Oedipus by the anthropologist Rita
Segato. Through the reconstruction of the argumentative strategies and authors of reference of the author, it is
sought to emphasize specificities of the concept and to mark its differences in relation to other propositions that are
neighbor to it. The organization of the field to which the concept of Black Oedipus is intended aims to strengthen the
importance and relevance of the concept to illuminate this central element that organizes the social field in Brazil,
which is the exercise of motherhood transferred from the legitimate mother to the nanny, understood as direct heir
of the wet nurse of Brazilian slavery history. Contemplating the immediate unfolding of this formulation in psychoa-
nalysis and clinical experience, finally, it is sought to include the concept within a landscape common to other authors
who relate laterally to it, including it in the general debate of intersectionality, which makes it indispensable the arti-
culation between the levels of class, race and gender in Brazilian social criticism and in the contemporary debate of
psychoanalysis in Brazil.

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Keywords: Black Oedipus; Rita Segato; psychoanalysis; maternity; Brazil; racism.

Édipo Negro: estructura y argumento

Resumen

El presente artículo presenta uma interpretación de la proposición del concepto de Edipo Negro, de la antrop-
óloga Rita Segato. Por medio de la reconstrucción de las estrategias argumentativas y autores de referencia
de la autora, se busca subrayar especificidades del concepto y marcar diferencias de éste en relación a otras
proposiciones que le son vecinas. La organización del campo a que se destina el concepto de Edipo Negro
pretende reforzar la importancia y la pertinencia del concepto para iluminar este elemento central que organiza
el campo social en Brasil que es el ejercicio de la maternidad transferida de la madre legítima a la niñera, com-
prendida como la heredera de la ama de cría de la historia esclavista brasileña. Contemplando los desdobla-
mientos inmediatos de esa formulación en el psicoanálisis y en la experiencia clínica, por fin, se intenta incluir
el concepto dentro de un paisaje común a otros autores que se relacionan lateralmente a él, incluyendo en el
debate general de la interseccionalidad, que hace indispensable la articulación entre los niveles de clase, raza
y género en la crítica social brasileña y en el debate contemporáneo del psicoanálisis en Brasil.

Palabras clave: Edipo Negro; Rita Segato; psicoanálisis; maternidad; Brasil; racismo.

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1) Introdução tória. É curioso, outrossim, que o campo psicanalítico
Nas últimas décadas parece estar sendo uma tenha tardado demasiadamente a acompanhar este
exigência maior do pensamento social brasileiro ajus- movimento . As três figuras intelectuais provavelmen-
tar as contas com o seu passado. As mais diversas te mais notáveis que a história da psicanálise do Bra-
tradições da antropologia e da sociologia da primeira sil busca recuperar a importância – Virgínia Bicudo,
metade do século XX, do eugenismo de Oliveira Vian- Neusa Santos Souza e Lélia Gonzalez – pertencem
na ao mito da democracia racial de Gilberto Freyre a momentos históricos e circulações intelectuais dife-
, passaram a estar sob os mais intensos debates in- rentes, com compromissos intelectuais diversos en-
telectuais e revisões até o importante giro efetuado tre si no que tange ao saber e à prática psicanalítica.
por Florestan Fernandes em A Integração do Negro Penso que este movimento recente de recuperação
na sociedade de classes (1965), bem como de seu destas três figuras maiores (entre outras a serem re-
grupo, que teve como uma de suas componentes a descobertas e revigoradas) da reflexão social de ins-
psicanalista Virgínia Bicudo. Para dar alguns exem- piração psicanalítica sobre a questão racial se dá hoje
plos, os livros de Abdias Nascimento (1978/2016), por uma dificuldade latente que tardou a ser enuncia-
Clóvis Moura (1988) e mais recentemente Kabenge- da com todas as letras – a saber, que a psicanálise
le Munanga (1999) atestam a imprescindibilidade de em suas múltiplas dimensões (discurso, saber, movi-
se pensar a história do pensamento social brasileiro mento, instituição e prática clínica) não deve se eximir
sob a ótica da questão racial, ou mais precisamen- 1) de problematizar a questão racial, 2) de apresentar
te, a indispensabilidade de compreender os compro- suas leituras acerca do racismo estrutural e os mo-
missos que a intelectualidade brasileira firmou com dos de subjetivação que lhe são correlatos e 3) de se
as agendas de políticas raciais do Estado. Seja para manter em posição crítica à altura de seus vizinhos
justificá-las sob o prestígio da Ciência, seja para dar críticos da teoria social a toda forma de segregação
ensejo a políticas públicas (especialmente de saú- que se imponha do Estado e da vida social por sobre
de e de segurança) que interferiram diretamente na o indivíduo. Esta dificuldade latente se sedimenta em
vida da população negra no pós-abolicionismo, os solo brasileiro não por acaso. Afinal, a partir de que
ditos cientistas sociais espelhavam em seus livros e pontos seria possível assumir esta responsabilidade
teorizações gerais a razão de Estado de seu tempo – ética maior? Ou seja, de que modo a psicanálise pode
como aliás costuma acontecer a toda ciência social a partir de suas especificidades contribuir de fato para
que não dispõe de autonomia relativa de pautas para a intelectualidade do movimento negro brasileiro na
decidir a respeito de sua própria agenda intelectual contemporaneidade, mantendo a potência de seu
segundo crivos que lhe seriam internos. A ausência escopo e sem delegar o diálogo que lhe compete a
da reflexividade necessária para o olhar crítico em re- outrem?
lação à realidade social (ou a indisponibilidade para
ela, seja por critérios objetivos ou subjetivos) bloqueia Penso que há inúmeras formas que a psica-
o processo de desnaturalização dos fenômenos apa- nálise pode e deve reivindicar um lugar neste debate.
rentes, de tal modo que se torna impossível aplicar Virgínia Bicudo, Neusa Santos Souza e Lélia Gonza-
métodos de aproximação e compreensão da realida- lez são exemplos de como fazê-lo de forma extraordi-
de social capazes de fomentar a autocrítica do exercí- nária, e penso ainda que há outras formas de manter
cio mesmo do pensar. o legado delas sem necessariamente repeti-las ou
imitá-las, posto que ainda está em curso a tarefa de
A intelectualidade recente do movimento ne- reconhecê-las devidamente como agentes em um
gro brasileiro, como nos exemplos acima, realiza um campo que ainda parece ser refratário à urgência do
notável esforço nesse sentido, produzindo obras cujo debate sobre a questão racial.
impacto é inquestionável, mas cujos efeitos estão sob
avaliação crítica neste exato momento de nossa his- Um dos elementos chave para dar destino a

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tal urgência parece ter sido os incontáveis encami- a ser renovada e realizada a cada controvérsia que
nhamentos que se quis dar ao complexo de Édipo aparece no campo. Trata-se de uma qualificação da
na história da psicanálise. Se a adjetivação do Édipo recepção da crítica no campo, como por exemplo afe-
pode estar entregue a tantos mal-entendidos, levan- rir se ela sofreu prejuízos de recepção em função do
tando a suspeita da vulgarização de um dos mais im- próprio argumento, ou se ela pôde se disseminar por
portantes pilares do edifício conceitual psicanalítico, responder a questões que aguardavam por serem
a confusão pode parecer ainda maior quando vista nomeadas – portanto, uma avaliação do nível e da
de longe. Isso porque há uma longa e tortuosa as- disposição ao compromisso entre a crítica e o cam-
cendência da questão da universalidade do comple- po a que ela se destina. É como se, neste balanço
xo de Édipo na história da psicanálise. Lembremos entre a defesa do caráter universalista ou estrutural
por exemplo das propostas de Heisaku Kosawa e de da teoria edipiana (que pode ser ou não da ordem de
Girindrasekhar Bose nos anos 20 e 30, submeten- um conservadorismo epistêmico) e as interpelações
do a teoria edípica às particularidades culturais e no oriundas de ocorrências regionais ou particulares, re-
Japão e na Índia respectivamente. Se quisermos, tornássemos obrigatoriamente à pergunta que a cul-
poderíamos estender o espectro da problematização tura popular brasileira se encarregou de encaminhar
do binômio universal-cultural do complexo de Édipo de forma clara – não por acaso, uma expressão que
até (para citar alguns poucos nomes) Karen Horney, remete aos cuidados para com uma criança: “como
Erich Fromm, Anne Parsons, George Devereux, Nan- não jogar o bebê com a água suja?”.
cy Chodorow, Julia Kristeva, Luce Irigaray, Gilles De-
leuze e Félix Guattari - ou seja, uma problematização É desta posição que alguém que trabalha no
que atravessa a psiquiatria transcultural, a etnopsi- campo da história da psicanálise – como este que
canálise, a filosofia da diferença, o pensamento pós- aqui escreve – acaba se defrontando inevitavelmente
-colonial, os feminismos e as teorias de gênero . Com em suas pesquisas quando se vê diante de uma abor-
efeito, o complexo de Édipo parece ter se prestado a dagem crítica em relação ao complexo de Édipo, nas
críticas e revisões teóricas de ordens tão diversas que versões freudiana e pós-freudianas. Uma das últimas
obviamente não nos cabe aqui avaliar a pertinência que me ocorreu estudar com maior atenção nestes
de cada uma delas. O fato é que de maneira geral últimos anos foi o de Rita Laura Segato, antropóloga
pode-se dizer que as críticas acabaram funcionando argentina radicada no Brasil e professora da UnB, e
na história da psicanálise como uma espécie de motor a sua proposição do Édipo Negro (Segato, 2006). Di-
produtivo, que exigia dela uma reinvenção constante rigimo-nos a ele não apenas para desfazer possíveis
no que tange à absorção das críticas e à tarefa ética confusões com outras abordagens, mas sobretudo
e política maior de estar à altura de seu tempo, como para podermos anunciar aquilo que estamos buscan-
afirmara Lacan: “deve renunciar à prática da psica- do: afinal, como pôde o campo psicanalítico no Brasil
nálise todo analista que não conseguir alcançar em desenvolver um discurso tão abundante e rigoroso
seu horizonte a subjetividade de sua época” (Lacan, sobre a maternidade, pautado nas teorizações anglo-
1953/1998, p. 321). -saxônicas , a despeito da percepção de que o exer-
cício real e concreto da maternidade é objetivamente
Não obstante, muitas das contra-críticas às desempenhado por babás geralmente negras nos la-
querelas da não universalidade do Édipo foram não res das classes médias e altas, ou entre famílias de
erroneamente taxadas de conservadoras – e, no camadas sociais minimamente distintas?
caso das contra-críticas à “culturalização” do Édipo,
um conservadorismo colonialista ou eurocêntrico. 2) Estrutura e desenvolvimento do Édipo Negro:
Nas decisões que dividem as leituras entre universais articulações e referências principais
aplicáveis, sujeitos a variações culturais específicas,
e simplesmente não universais, há uma avaliação Vale iniciar com algumas indicações a respei-

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to da nomeação Édipo Negro. Optamos por manter a do antropólogo é sedimentar a ideia de uma transmis-
denominação Édipo Negro apesar do fato de que para são da “sensualidade difusa”, da “licença mesclada,
a publicação em português optou-se pelo título “Édipo ou temperada pela afetividade” que seria o marco da
Brasileiro”, diferentemente de como ele foi nomeado relação entre a mãe preta e o infante ou a “sinhazi-
nas versões anteriores em francês e em espanhol. É nha”: “a babá imprime, por assim dizer, na criança,
importante também não confundir o Édipo Negro ou suas modalidades de organização da afetividade, e
Édipo Brasileiro com o Édipo Africano de Marie-Céci- suas formas próprias de reagir pela emocionalidade
le Ortigues e Edmond Ortigues (Ortigues & Ortigues, ao mundo circundante” (Aragão, 1991, p. 30). Con-
1989). Não há uma menção sequer ao trabalho dos sequentemente, a separação entre sexo e casamen-
Ortigues no ensaio de Segato, e pela argumentação to aparece sob a pena de uma proposição genérica,
geral do ensaio, veremos que se trata de algo de fato chamada de “exílio do corpo”. É a condição de exílio
bastante distinto. que liga a transmissão da sexualidade difusa desau-
torizada do reconhecimento social com a dita “tris-
Com efeito, é do conhecido debate tido como teza branca”, resultado da experiência do exílio dos
seminal na história da psicanálise entre Bronislaw europeus mediterrâneos no Brasil. Ou seja, por meio
Malinowski e Ernest Jones a respeito da universalida- desta ligação tácita que estabelece um elo comum
de do Édipo que parte o texto de Rita Segato, debate entre transmissão da violência da mãe preta e a tris-
este que, segundo a autora, “acredito ter sido uma teza branca , é possível extrair crivos com potencial
antecipação do hoje aceito desacoplamento entre a heurístico capazes de dar razões explicativas para a
estrutura edípica e suas manifestações concretas” configuração social brasileira, pautada no privilégio
(grifos nossos ). Tendo atravessado inclusive Lacan da licença (ligada à ideia de posse) em oposição ao
e sua obra, na inflexão desde Complexos Familiares sistema de trocas (calcado na relação com a lei).
(Lacan, 1938/2002) até a assunção textualmente levi-
-straussiana do Édipo estrutural (Sales, 2008), os im- Ora, com efeito, é por isso que a análise de
pactos dessa discussão se estenderam até às obras Segato parece suficientemente distante – e por isso
mais recentes do antropólogo e psicanalista Melford mais contemporânea – daquela promovida por mui-
Shapiro. tos psicanalistas nos anos 80 e início dos 90, que
buscavam compreender na ideia de “déficit da lei” a
No recorte que Segato faz para tratar das raiz fundamental dos problemas sociais brasileiros e
questões da maternidade no Brasil, a autora se vale da brasilidade que lhes é subjacente (Backes, 2000;
da desvinculação entre estrutura geral e ocorrência Dunker, 2014; Dunker, 2015). É por isso que o con-
particular para refletir sobre a “mãe” e a babá. A an- ceito de maternidade transferida, proposto por Suely
tropóloga menciona o trabalho Mãe Preta, Tristeza Gomes Costa (2002), com efeito, parece mais ade-
Branca do antropólogo Luiz Tarlei de Aragão (1991), quada para a formulação do Édipo Negro do que de
advertindo que há pouca coincidência entre os dois. fato oferece Tarlei de Aragão em seu texto.
Com efeito, Tarlei de Aragão parte da pergunta “o que
é a mãe?” para decompô-la em “dois segmentos ca- Segundo a autora:
tegóricos, duas figuras epônimas: a mãe biológica, e
a ama-de-leite, a mãe preta, ou a babá, ou ambas” Mulheres mais e menos abastadas vincularam-
(Aragão, 1991, p. 27). É verdade que, neste sentido, -se a milhares de mulheres mais e menos po-
Tarlei de Aragão parece antecipar Segato naquilo que bres aplicadas ao trato de suas casas, através
ele classifica enquanto “disjunção da função mater- de infindáveis tarefas e de um grande número
na”, “transcrita no âmbito do simbólico e que se se- de compensações recíprocas. A saída para es-
dimentou ao longo de um processo sócio-histórico” tudar, trabalhar e equiparar-se aos homens, ou
(Aragão, 1991, p. 28). No entanto, o objetivo do texto para a mera permanência no ócio, através da

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maternidade transferida de umas para outras espécie de prevenção contra corrupções morais que
mulheres, marca seguidos pactos (e guerras) o excesso de convivência e intimidade entre brancos
domésticos. Só o cuidadoso preparo dessa e negros poderiam gerar.
transferência de responsabilidades e de afetos
no interior da vida doméstica podia impedir o São de uma virulência que chama a atenção as
risco de caos na vida familiar. (Gomes Costa, diatribes da época na imprensa escrita contra
2002, p. 308) as humildes provedoras da maternidade que
doavam seu afeto e cuidado às crianças de fa-
Há aqui uma ideia interessante no que tange mílias brancas e branqueadas. Diatribes estas,
à reprodução do trabalho doméstico que fundamenta impregnadas de intenso ódio, escritas segura-
a maternidade transferida. A precariedade salarial e mente por homens que, na infância, foram em-
o sucateamento das condições laborais conduzem balados junto a seios como os delas. A estas
a informalidade dos vínculos empregatícios à fusão expressões de ódio opõem-se as de apreço di-
compulsória entre laços de trabalho e laços afetivos. rigidas ao seio materno branco e limpo, o seio
É como se em determinado momento a oferta da mão recomendado, agora, da mãe-senhora. Dessa
de obra da empregada doméstica ou da babá aos época data a conhecida frase que rodou nosso
patrões que por ela se interessam viesse a se tornar continente em boca dos higienistas: “mãe tem
secundária diante da sensação de pertencimento à uma só”. (Segato, 2006)
família contratante, da comunhão identitariamente
retroalimentada de uma mesma causa tácita que re- Segato também está atenta às fotografias das
cebe o nome de maternidade. amas-de-leite com os seus bebês, que constituem por
si só uma fonte historiográfica valiosa (Stancik, 2009).
A partir da segunda sessão do ensaio, Segato Na impossibilidade evidente de reconstruir tal história
recupera a história da contratação das amas-de-leite por meio de registros ou rastros escritos, é razoável
na chave de uma história de ambiguidades. O saber que para este tipo de trabalho as fotos sejam a fonte
médico-“científico” que promovia ideias como, por primária por excelência, a partir das quais se constrói
exemplo, a de que o ato sexual era vedado à mãe o argumento conceitual e seu lastro histórico. As fo-
grávida, pois o esperma “contaminaria” o leite ma- tografias retratam a rede de afetos e reciprocidades
terno. Mais proeminente ainda foi a crítica ao “aleita- (Koutsoukos, 2009) e são emblemáticas no que diz
mento mercenário” da segunda metade do séc. XIX. respeito aos usos e costumes da época – vestimen-
Segundo descreve Sandra Koutsoukos (2009), houve tas, adornos, posição central ou periférica no enqua-
neste período uma diferença entre as amas-de-leite dre etc..
escravas que os senhores alugavam a terceiros para
a amamentação e as amas livres, brancas ou negras. Posteriormente, Segato recupera o desaco-
As primeiras tinham uma espécie de garantia (expe- plamento entre a estrutura edípica e suas manifesta-
riências prévias, competências, obediência, servilis- ções concretas na chave da maternidade pela tradi-
mo, “caráter”) atestadas pelo senhor, enquanto as ção das religiosidades africanas, na diferença entre
segundas eram taxadas de “mercenárias”, cujo juízo Iemanjá e Oxum. Iemanjá representa a “mãe legíti-
negativo se ancorava no abandono da amamentação ma”, confluência entre a mãe biológica e a mãe jurí-
do próprio filho em benefício do filho do senhor que a dica, enquanto Oxum representa a “mãe de criação”.
contratava. Assentados nessa mitologia, os arranjos familiares no
Brasil frequentemente se justificam em chave mítica-
É daí que se pode traçar uma genealogia da -religiosa, em que a mãe legítima delega a criação de
expectativa de “boa índole” de babás e da rede que a seus filhos a outrem. A autora também chama aten-
sustenta de confiança entre senhores-patrões, uma ção para o expediente que se assenta sob a égide da

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transgeracionalidade e da repetição do padrão da ma- tuto do mito de Édipo. Pelo contrário, a estratégia da
ternidade transferida, uma vez que a “mãe legítima”, antropóloga não é a de abandonar o Édipo enquanto
quando associada ao mar enquanto dissimulação e matriz para a compreensão da vida subjetiva, ou tro-
incredulidade (“pode-se ver a superfície, mas nunca o cá-lo pela mitologia iorubá ou outra; tudo indica que a
fundo”), não é necessariamente a mais indicada para tentativa de buscar pontos de encontro e cruzamento
o cuidado dos filhos – especialmente se comparada entre o Édipo tal como estabelecido na tradição psica-
a Oxum, “mãe de criação” genuinamente amorosa e nalítica e outras mitologias não visa a culturalização
protetora. Em suma, do Édipo no sentido em que apontamos anteriormen-
te. É por isso que a autora, por exemplo, chega a falar
a figura da “mãe legítima” faz referência a pelo em “foraclusão do nome-da-mãe”:
menos três temas nucleares para a tradição, em
geral carregados de ambivalência: separação foraclusão idiossincrática do nome-da-mãe,
dos vínculos de parentesco dos laços biológi- na linha em que Judith Butler amplia o concei-
cos [...]; o papel do mar na separação da África to lacaniano de foraclusão [...]. De outra forma
originária; e a indiferença e a traição do estado esta foraclusão - do - nome da mãe poderia ser
(Segato, 2006). descrita de forma mais ortodoxa e concordante
com a interpretação lacaniana de psicose como
Para Segato, o elemento mítico é um articu- foraclusão (psicótica) do nome do pai, em este
lador fundamental nesta tríade. É ele quem organiza caso numa falência específica da metáfora pa-
subjetivamente a rede de maternidades transferidas terna: sua incumbência de nomear e gramatica-
perante a negligência do Estado. Mais do que isso, lizar a mãe. (Segato, 2006)
ele atravessa também as expectativas das classes
menos abastadas de virem a ter uma babá como sig- No texto, Segato não explora profundamen-
no de ascensão social, fazendo com que tal ambição te a referência a Judith Butler – que, com efeito, es-
seja comum a estratos sociais diversos: pecialmente no livro citado, A Vida Psíquica do Po-
der (Butler, 2017), recorre ao conceito de foraclusão
o trabalho da hegemonia do discurso burguês diversas vezes com finalidades distintas do uso a
em todo o espectro das sociedades capitalistas, que Segato recorre. A ideia é sugestiva, pois pode-
que unifica as aspirações, fazendo neste caso ria apontar para o fenômeno próprio das configura-
que mães dos estratos sociais menos favore- ções familiares brasileiras em que a não inscrição do
cidos (como achei entre as próprias mulheres nome do pai na assunção da paternidade no regis-
do Candomblé) aspirem, por sua vez, a contra- tro da Lei é bastante recorrente, em um cenário em
tar babás como um bem prezado no universo que, nas palavras de Emicida em Levanta e Anda, “a
familiar. É, portanto, nas vozes codificadas do mãe assume, o pai some de costume: no máximo é
discurso higienista e do mito que encontramos um sobrenome” – ou ainda, como diria Mano Brown
a marca inconfundível e contrastante das duas em Negro Drama: “Família Brasileira: dois contra o
posições a falar sobre o perfil e o valor de cada mundo”. Não obstante, apesar de tendermos a ima-
uma das mães. (Segato, 2006) ginar que a “falência específica da metáfora paterna”
e consequentemente o seu insucesso em “nomear e
Bem, dito isso, fica evidente que a materni- gramaticalizar a mãe” incide nesse fenômeno, o uso
dade transferida é transversal à divisão de classes, do conceito acaba por parecer mais um projeto, um
sendo sustentada por aspirações e valores facultados “gesto em direção a”, do que uma concepção de ares
pelo capital. Logo, por mais central que seja a função definitivos. A hipótese lançada, mas não desenvol-
do mito na sustentação da diagonal da maternidade vida de Segato de “foraclusão idiossincrática do no-
transferida, Segato não procura fazer dele um substi- me-da-mãe” por fim se torna tão idiossincrática que

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carece de uma justificativa epistêmica e metapsico- Vejamos com a autora analisa um texto cur-
lógica maior do que aquela apresentada. É provável to, porém potente, que é o epílogo do historiador Luiz
que possamos encontrar efeitos e outras pistas em Felipe de Alencastro ao segundo tomo de História da
outro livro de Segato, Las estructuras elementares Vida Privada no Brasil (Alencastro, 1997). Segato afir-
de la violencia (Segato, 2003), no qual há um diálo- ma:
go mais direto da autora com Lacan. No entanto, no O “direito de propriedade” [...] não é exclusivo
que se refere ao presente ensaio – e, vale lembrar, do senhor e do escravo, é também o sentimento
“nome-da-mãe” não é um conceito consagrado nem edípico de toda criança com relação ao territó-
por Lacan, nem por Butler –, ao que tudo indica, não é rio inteiro e indiscriminado do corpo materno-in-
nesta ideia que a referência psicanalítica aparece de fantil. Este sentimento de propriedade territorial
forma mais produtiva e reluzente. sobre o corpo da mãe como parte do próprio
demora e custa em ser abandonado. Ele é per-
Com efeito, parece que o diálogo com a psi- sistente. O sujeito se prende a ele por muito
canálise se fortalece por outras vias apresentadas tempo até depois de que já compreendera que
mais adiante no texto. Recuperando o trabalho da a unidade territorial originária não é tal. Quan-
historiadora Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro sobre do se perde o sentido de unidade, permanece
os discursos sobre as amas-de-leite na segunda me- o sentimento de propriedade. O que era um,
tade do séc. XIX no Rio de Janeiro (Carneiro, 2006), passa a ser o pressuposto do domínio de um
Segato sublinha a pergunta central, como se interpe- sobre o outro. Tudo o que trai ou limita esse do-
lasse com precisão cirúrgica ao mesmo tempo tanto mínio não é bem recebido, e facilmente o senti-
as suas fontes primárias, documentos e fotografias, mento amoroso transforma-se em ira perante a
como as fontes secundárias e o trabalho de seus co- perda daquilo que se crê próprio. Se somarmos
legas: “onde está a babá?”. Logo, não se trata de per- isto ao fato de que se é, de fato, proprietário ou
guntar “o que é a mãe?”, tal como o fez Tarlei de Ara- locatário, do corpo da mãe, por aluguel ou por
gão – e quiçá também por isso tenha havido tamanha salário, a relação de apropriação se duplica, e
discrepância na condução das análises, posto que assim também suas consequências psíquicas.
perguntas tão distintas só poderão levar a respostas Finalmente, percebemos o agravamento das
igualmente distintas. A antropóloga critica o fato de dificuldades ao lembrar que a mãe substituta,
não haver uma análise específica sobre as babás na escrava ou contratada, ainda quando se invista
celebrada coletânea História das Mulheres no Brasil, afetivamente no vínculo contraído com a crian-
de Mary Del Priore (2006), bem como também não há ça, permanecerá dividida, “fendida”, como diz o
em trabalhos considerados clássicos de Caio Prado nosso autor, pela consciência de um passado
Jr. ou Emília Viotti da Costa, por exemplo. Excluídas - de escravidão ou pobreza - que não lhe dei-
de cena em meio aos desvarios da ideologia da de- xou escolha. Por mais amor que sinta, sempre
mocracia racial, as babás irrompem enquanto ponto saberá que não chegou ao vínculo como conse-
cego: é inútil buscar na bibliografia clássica corrente a quência de suas próprias ações e, sim, coagida
história profunda das babás no Brasil, pois isso seria pela busca de sobrevivência (Segato, 2006).
como tentar encontrar a babá em respostas à inespe-
Ora, citar este longo parágrafo se faz neces-
cificidade da pergunta “o que é a mulher?”. Com isso,
sário para entendermos como Segato articula a te-
Segato recorta uma pergunta bastante específica por oria psicanalítica do Édipo e as suas manifestações
meio da qual ela encontra a interlocução com a psica- locais nos modos de subjetivação brasileiros. A inci-
nálise. dência social no uso da categoria de propriedade é
notável, pois ela faz precipitar na relação mãe-bebê a
dimensão do domínio sobre o outro. Realiza-se assim
3) “Um gesto psíquico só”: o expediente edípico
um elo entre o sentimento de posse característico da
Definição do conceito de estresse experiência edípica nos momentos primevos da vida

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da criança, própria à condição fusional da materni- que a gente quer dizer é que ela não é esse
dade indispensável para a constituição subjetiva do exemplo extraordinário de amor e dedicação to-
bebê, e a investidura que se desdobra a partir dessa tais como querem os brancos e nem tampouco
paisagem afetiva em termos de relação de poder em essa entreguista, essa traidora da raça como
sentido largo. “A objetificação do corpo materno - es- quem alguns negros muito apressados em seu
cravo ou livre, negro ou branco - fica aqui delineada: julgamento. Ela, simplesmente, é a mãe. É isso
escravidão e maternidade revelam-se próximas, con- mesmo, é a mãe. Porque a branca, na verdade,
fundem-se, neste gesto próprio do mercado do leite, é a outra. Se assim não é, a gente pergunta:
onde o seio livre oferece-se como objeto de aluguel” que[m] é que amamenta, que dá banho, que
(Segato, 2006). limpa cocô, que põe prá dormir, que acorda de
noite prá cuidar, que ensina a falar, que conta
a perda do corpo materno, ou castração sim- história e por aí afora? É a mãe, não é? Pois
bólica no sentido lacaniano, vincula definitiva- então. Ela é a mãe nesse barato doido da cul-
mente a relação materna com a relação racial, tura brasileira. Enquanto mucama, é a mulher;
a negação da mãe com a negação da raça e as então “bá”, é a mãe. A branca, a chamada legí-
dificuldades de sua inscrição simbólica. Ocorre tima esposa, é justamente a outra que, por im-
um comprometimento da maternidade pela ra- possível que pareça, só serve prá parir os filhos
cialidade, e um comprometimento da racialida- do senhor. Não exerce a função materna. Esta
de pela maternidade. Há uma retroalimentação é efetuada pela negra. Por isso a “mãe preta” é
entre o signo racial e o signo feminino da mãe. a mãe. (Gonzalez, 1984, p. 235)
Portanto, longe de dizer que a criação do bran-
co pela mãe escura resulta numa plurirraciali- É notável que a posição de Lélia Gonzalez é
dade harmônica ou que se trata de um convívio significativamente mais radical aqui. A radicalidade
inter-racial íntimo como fazem os que tentam reside principalmente no fato de que não há disjunção
romantizar este encontro inicial, o que afirmo é, da função materna, dividida em “mãe legítima” e “mãe
pelo contrário, que o racismo e a misoginia, no de criação”. A mãe branca ou mãe biológica tampou-
Brasil, estão entrelaçados num gesto psíquico co representa a matrilinearidade pretendida por Ma-
só (Segato, 2006, grifos nossos). linowski como crítica ao Édipo enquanto estrutura
universal. Por isso, não há transmissão de “sensua-
Ora, nesta leitura cruzada entre estrutura edí- lidades difusas” como pretendia Tarlei de Aragão: no
pica e suas manifestações concretas, quem de fato trabalho de Lélia Gonzalez, aquilo que se transmite é
parece ter antecipado o Édipo Negro de Rita Sega- a linguagem – que ela denomina pretuguês:
to não aparece citada no texto. Não estamos falando
nem de Malinowski, nem de Tarlei de Aragão: não seria E quando a gente fala em função materna,
arriscado sustentar que a interlocutora remota e não a gente tá dizendo que a mãe preta, ao exer-
declarada de Édipo Negro é Lélia Gonzalez. Leiamos cê-la, passou todos os valores que lhe diziam
por exemplo um parágrafo de Racismo e Sexismo na respeito prá criança brasileira, como diz Caio
Cultura Brasileira, de 1984:A palavra estresse vem do Prado Júnior. Essa criança, esse infans, é a dita
inglês stress. Este termo foi usado inicialmente na físi- cultura brasileira, cuja língua é o pretuguês. A
ca para traduzir o grau de deformidade sofrido por um função materna diz respeito à internalização de
material quando submetido a um esforço ou tensão e valores, ao ensino da língua materna e a uma
transpôs este termo para a medicina e biologia, signi- série de outras coisas mais que vão fazer parte
ficando esforço de adaptação do organismo para en- do imaginário da gente . Ela passa prá gente
frentar situações que considere ameaçadoras a sua esse mundo de coisas que a gente vai chamar
vida e a seu equilíbrio interno. (SELYE, 1956, p. 2) de linguagem. E graças a ela, ao que ela passa,
a gente entra na ordem da cultura, exatamen-
É interessante constatar como, através da fi- te porque é ela quem nomeia o pai (Gonzalez,
gura da “mãe-preta”, a verdade surge da equi- 1984, p. 235-236).
vocação (Lacan, 1979) . Exatamente essa figu-
ra para a qual se dá uma colher de chá é quem É neste sentido que a última antecipa a pri-
vai dar a rasteira na raça dominante. É através meira na percepção de que não é no campo da pro-
dela que o “obscuro objeto do desejo” (o filme pagação de uma desordem afetiva que contamina a
do Buñuel), em português, acaba se transfor- relação do brasileiro com a Lei que a mãe-preta se faz
mando na “negra vontade de comer carne” na presente. A diferença entre as duas reside no fato de
boca da moçada branca que fala português. O que para Gonzalez não há disjunção da maternidade

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(a mãe-preta é a mãe), enquanto que para Segato a fica igualmente aprisionada numa lógica mas-
desagregação entre mãe legítima e mãe de criação é culina e misógina, que retira da mãe-babá sua
fundamental para a formulação do Édipo Negro. Nes- condição humana e a transforma em objeto de
se sentido, é razoável que Segato não se valha do compra e venda. (Segato, 2006)
argumento de Gonzalez, pois isso traria consequên-
cias para a construção do argumento geral. Não obs- Notemos como é interessante a articulação
tante, a anterioridade de Gonzalez se dá na medida aqui sugerida. A mãe legítima cumpre função pater-
em que para ela a mãe-preta se faz presente na su- na ao barrar o gozo fusional da relação entre bebê
perfície palpável e material da linguagem, nos signos e babá pela via do contrato. A esta altura parece já
que deveriam ser discretos e secundários, mas que bastante claro que não há naturalização de lugares
no laço social se tornam prerrogativas da exclusão e posições. Muito pelo contrário. Neste arranjo com-
social por meio das sutilezas nada sutis daquilo que plexo, há sobretudo os impactos nefastos do colonia-
Pierre Bourdieu (2007) denominou distinção. Acom- lismo que se atualiza na triangulação mãe legítima,
panhemos o exemplo de Gonzalez: mãe-babá e criança em uma estrutura historicizada
nos expedientes contratuais, capitalistas e patriarcais
Chamam a gente de ignorante dizendo que a . Poderíamos dizer simplesmente que a articulação
gente fala errado. E de repente ignoram que a de Segato é de caráter interseccional. É precisamen-
presença desse r no lugar do l, nada mais é que te a interseccionalidade que permite à autora tratar o
a marca linguística de um idioma africano, no fenômeno na qualidade histórica dos resultados do
qual o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? higienismo e na qualidade psicanalítica do sintoma:
Ao mesmo tempo, acham o maior barato a fala
dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos Na sua transferência ao Brasil por médicos e
verbais, que condensa você em cê, o está em pedagogos, aproveita-se a externalidade da
tá e por aí afora. Não sacam que tão falando postura higienista, moderna e ocidental, para
pretuguês. (Gonzalez, 1984, p. 238) produzir aqui uma situação de externalidade
com relação ao quadro percebido como de con-
É notável a influência de Lacan no pensamen- taminação afetiva e cultural pela África. O higie-
to de Lélia Gonzalez aqui. Sendo significativamente nismo oferece a possibilidade de um olhar de
instigada pelas ideias do psicanalista carioca Magno fora, estranhado, a uma elite que está, precisa-
Machado Dias (cognominado MD Magno, uma refe- mente, buscando essa saída. A foraclusão da
rência constante em seus textos) e a leitura lacaniana raça encarnada na mãe é fundamentalmente
promovida pelo Colégio Freudiano do Rio de Janeiro isso: é o acatamento da modernidade colonial
entre o fim dos anos 1970 e meados dos anos 1980, como sintoma (Segato, 2006, grifos nossos).
Gonzalez se revela uma herdeira de tipo raro do laca-
nismo à brasileira. Provavelmente por isso mesmo a Mais uma vez, a categoria de foraclusão se
radicalidade seja maior em Gonzalez, pois pensar em apresenta aqui, sob a ideia de uma “foraclusão da
termos de função materna não implica necessaria- raça encarnada na mãe”. Aparentemente, trata-se
mente em um compromisso relativista quanto a quem novamente de um momento alusivo ao conceito psi-
ou quantos/quantas ocupam a função ou se alternam canalítico de foraclusão, que, assim como na ideia an-
nela, posto que isso seria secundário ao fato de a fun- terior de “foraclusão do nome-da-mãe”, padeceu de
ção ser ou não cumprida. Por outro lado, a divisão maiores explicações. No entanto, arriscaríamos que
entre mãe legítima e mãe de criação em Segato pro- a ideia de foraclusão da raça se oferece nas margens
porciona um diagnóstico sagaz, que talvez não fosse do texto. Chamou-nos ainda a atenção a referência
possível em outros termos. Trata-se da ideia de fun- no texto de Segato a Jurandir Freire Costa, no mo-
ção paterna da mãe legítima: mento em que ela afirma que o psicanalista se apro-
xima dela quando critica o silenciamento do caráter
hegemonizada pelo pensamento burguês e as violento do racismo. Se é verdade que, para ambos,
prédicas da modernidade, [a mãe legítima] terá racismo é violência, é igualmente verdade que Frei-
que encarnar pelo menos em parte a função pa- re Costa, cuja bagagem crítica acumulada em seus
terna, no sentido de incorporar a lei e barrar a primeiros livros História da Psiquiatria no Brasil (Frei-
intimidade entre a babá e a criança. Esta entra- re Costa, 1981) e Ordem Médica e Norma Familiar
da paterna da mãe na cena familiar condiz tam- (Freire Costa, 1983a), haveria de insistir na questão
bém com o fato de que, ao negar o investimento racial direcionada aos conflitos sobre o corpo. Pro-
materno por parte da babá substituindo a clave vavelmente devido à forte influência do pensamento
do afeto pela clave do contrato, a mãe legítima de Michel Foucault em suas primeiras obras, Freire

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Costa não repete a condição de alienação da experi- compreender a proposição do Édipo Negro de Rita
ência do corpo na chave do “exílio de si” tal como o fez Segato no tempo e no espaço, posicionando-a no
Tarlei de Aragão, mas de fato tal estratégia argumen- campo a fim de extrair consequências clínicas e políti-
tativa não favorece a possibilidade de traçar rotas de cas de suas reflexões, aliada a outros autores que re-
leitura capazes de dar conta da localização da babá forcem o conceito preconizado. Lembremos também
em sua profundidade histórica mais pungente. Pesa de Jessé de Souza, um dos mais destacados intelec-
aqui o fato de que Freire Costa de fato não se dedicou tuais da atualidade que busca o acerto de contas com
diretamente à questão racial em suas primeiras obras o pensamento social brasileiro tradicional (Souza,
– apesar de tangenciá-la nos livros supracitados; não 2015) de que falávamos no início, em seu brilhante
obstante, é interessante a sua presença na obra de estudo sobre a ralé brasileira (Souza, 2009) nota que
Segato como alguém que poderia ter entregado mais um elemento fundamental que representa não ape-
material do que conseguiu desenvolver em texto. nas um signo de distinção, mas também uma possi-
bilidade real de acesso a bens culturais e materiais é
Há uma hipótese que pode explicar pela mar- a aquisição do tempo. Ora, vale lembrar que isso não
gem por que isso se dá dessa forma. A questão é que se dá apenas nas camadas médias e altas: mesmo a
o texto “Da cor ao corpo: a violência do racismo” foi ralé faz uso do dispositivo babás quando tem a pos-
escrito por Jurandir Freire Costa como prefácio para sibilidade. Os elementos desejados aparecem nas
o clássico Tornar-se Negro, de Neusa Santos Sou- mais diversas contradições da experiência subjetiva
za (1983). Reproduzido fora do contexto – ou seja, do negro em situação de “ascensão social” – cuja lei-
quando lido na coletânea avulsa de textos de Juran- tura do supracitado Tornar-se Negro permanece mais
dir Freire Costa denominada Violência e Psicanálise do que atual. Acrescenta-se a ela outro texto mais do
(Freire Costa, 1986) e aliado ao fato de que em ne- que obrigatório – Pele Negra, Máscaras Brancas de
nhum momento o texto declara com todas as letras Frantz Fanon (2008) –, justamente naquilo que ele
qual livro está sendo prefaciado (na verdade, sem dar compreende como intensa cruzada que é a entrada
nome à autora que “empresta seu talento aos oprimi- na dialética do reconhecimento, como saída da zona
dos” (Freire Costa, 1983b, p. 1), parece ter escapado do não-ser.
aos olhos da autora os reais motivos pelos quais o
psicanalista “fica aquém das possibilidades da sua Uma vez postas essas referências comple-
análise quando coloca no centro da mesma o sujei- mentareUma vez postas essas referências comple-
to negro como único portador do sintoma” (Segato, mentares, nossa escolha pelo tema do Édipo Negro
2006). A foraclusão (que, se não é a foraclusão do no- não faz dele uma condenação moral sobre ter ou não
me-da-mãe ou a foraclusão da raça, é certamente no babás, posto que o problema é econômico, político e
mínimo a omissão do nome de Neusa Santos Souza racial muito antes de ser moral. Aliás, lembremos que
no texto de Jurandir Freire Costa) também tem seus os problemas morais que fazem sombra à experiência
efeitos, posto que não torna possível saber como Se- da maternidade são um grande empecilho para as-
gato receberia este livro – cuja análise se dá em cima sunção da posição e da função materna. Como se já
do recolhimento de histórias de vida, segundo uma não bastasse esta espécie de luto do “filho ideal” ante
tradição metodológica cara à antropologia e às ciên- ao “filho real”, as fantasias de horror do infanticídio
cias sociais em geral – em sua formulação sobre o e os diversos problemas em torno do diagnóstico de
Édipo Negro. depressão pós-parto, encarar os desafios da materni-
dade e dispor de ajudas e parcerias para realizar suas
De qualquer modo, os nomes de Neusa San- inúmeras tarefas na chave da culpa moral alimenta
tos Souza e de Lélia Gonzalez, foracluídos, inexplo- ainda mais os afetos hostis que podem reger uma re-
rados ou simplesmente omitidos – fica a encargo do lação entre mães contratantes e mães contratadas.
leitor decidir sobre os destinos dessa provocação – O fato concreto e histórico que subjaz a névoa moral
no Édipo Negro de Rita Segato, vale-nos sobretudo que o envolve é justamente a ignorância sistemática
sublinhar as inúmeras possibilidades e futuras potên- de que babás e empregadas são profissões que her-
cias heurísticas que podem ser desenvolvidas com a dam do nosso passado-presente escravagista o pior
leitura cruzada destas autoras sobre temas avizinha- da nossa escandalosa desigualdade de classes. Em
dos, da qual certamente a psicanálise haveria de se um documentário luminoso chamado Mulheres Ne-
beneficiar enormemente. gras: Projeto de Mundo, dirigido por Day Rodrigues,
chama a atenção nas mulheres negras entrevistadas
4) Apontamentos finais como vir a ser babá ou empregada doméstica está
sempre no horizonte da mulher negra no universo da
À guisa de conclusão, penso que devemos busca por trabalho; diante de recusas e negativas

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inexplicáveis em seleções de emprego, é como se o ria de Milton Nascimento. De todo modo, entre todas
lugar da mulher negra no mundo do trabalho resul- as possibilidades, quisemos sobretudo levantar um
tasse sempre nesta condição vivida e experienciada problema histórico na psicanálise no Brasil desde a
como inescapável. Vale lembrar que, assim como ser posição de psicanalista, uma vez que consideramos
policial militar (ser “praça”, para ser mais exato) não é urgente que tal reflexão possa incidir não apenas nos
uma profissão desejada pelas classes médias e altas desafios da maternidade colocada de forma genéri-
no universo masculino, pode-se dizer igualmente que ca, mas sobretudo tratar o tema desde uma leitura
babás ou empregadas domésticas não tinham estes interseccional sob a alcunha de Édipo Negro, que jul-
trabalhos no horizonte dos famigerados sonhos de re- gamos plenamente adequada na medida em que é
alização profissional. Pelo contrário. capaz de nomear e lançar luz aos esquemas de repro-
dução da desigualdade social em nosso país em sua
Diante disso, uma série de descompassos se radical interseccionalidade – de classe, de gênero e
apresentam. Aquilo que se ouve com frequência na de raça.
experiência clínica comparece no exame do Édipo
Negro, como os relatos de “ciúmes” da babá, pelo afe- Referências Bibliográficas
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cotidiano. Por parte das babás, empregadas e mães Curitiba: Juruá, pp. 29-40.
pretas, a situação opressora de indignidade e ausên-
cia de direito à subjetividade também é frequente na Alves Lima, R. (2018) Alcances e limites de uma lei-
experiência clínica , seja pela indisponibilidade tem- tura biopolítica da implantação da psicanálise no
poral e afetiva para o cuidado com os próprios filhos, Brasil: racismo científico, educação sexual e projeto
seja pela percepção de que o laço com os filhos da civilizatório. Em: Teshainer, M. C. R., ALVES LIMA, R.
patroa ganham tom de enraizamento inescapável no & D’AFONSECA, V. C. P. (orgs) Biopolítica e Psica-
trabalho. Os efeitos das dissimetrias em diversos ní- nálise: vias de encontro. São Paulo: Via Lettera, pp.
veis determinam e configuram esse campo afetivo, 71-86.
certamente hostil, mas disfarçado de cordialidade.
Lembremos, novamente, de Emicida: “Pra nós punk Aragão, L. T. (1991) Mãe Preta, Tristeza Branca. Em:
é quem amamenta, enquanto enfrenta as guerra, os Aragão, L. T. (org). Clínica do Social: Ensaios. São
tanque, as roupa suja: vida sem amaciante.”. Nesse Paulo: Escuta, pp. 21-38.
campo, não haverá gentileza nem tampouco “ama-
ciante” se a realidade da desigualdade de condições Backes, C. (2000) O que é ser brasileiro? São Paulo:
não for encarada enquanto tal e superada. Escuta.

Os cenários são bastante complexos. Não Bourdieu, P. (2007) A Distinção: crítica social do julga-
procuramos estabelecer um panorama exaustivo, mento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk.
até porque este ensaio foi construído a partir de refle-
xões clínicas e teóricas. Além disso, podemos dizer Bresciani, M. S. M. (2005) O charme da ciência e a
que uma análise exaustiva nem nos caberia, posto sedução da objetividade. Oliveira Vianna entre intér-
que certas posições a respeito do tema não compe- pretes do Brasil. São Paulo: Unesp.
tem ao nosso “lugar de fala”. Se quisermos recorrer a
experiências estéticas, teríamos em nosso horizonte Butler, J. (2017) A Vida Psíquica do Poder – Teorias da
o longa metragem Que Horas Ela Volta?, da direto- Sujeição. Belo Horizonte: Autêntica.
ra Anna Muylaert, bem como poderíamos encontrar
inspirações paralelas no norte-americano Histórias Carneiro, M. E. R. (2006) Procura-se “preta, com mui-
Cruzadas, no pungente filme peruano A Teta Assus- to bom leite, prendada e carinhosa”: uma cartografia
tada ou no recentíssimo Roma. Também poderíamos das amas-de-leite na sociedade carioca (1850-1888).
nos referir, ao lado de Emicida e outros já citados, a Tese (Doutorado em História) – Universidade de Bra-
músicas como Minha Mãe de Djavan ou Maria Ma- sília, Brasília.

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