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Introdução
O presente artigo tem por objetivo situar, desde os pontos de vista histórico,
psicopatológico e psicanalítico, aquela que constitui provavelmente a única referência em
toda obra de Lacan a uma contribuição teórica de autores brasileiros. Trata-se do célebre
estudo de Juliano Moreira e Afrânio Peixoto dedicado à paranóia e às síndromes
paranóides, mencionado por Lacan no capítulo inicial de sua tese sobre as psicoses
paranóicas. Busca-se, aqui, pela primeira vez, investigar o contexto no qual se inscreve a
referência lacaniana ao trabalho desses nomes maiores da psicopatologia no Brasil.
Naquele estudo, os dois psiquiatras baianos buscavam, a partir de uma metodologia
explicitamente kraepeliniana, estabelecer os critérios clínicos e psicopatológicos para a
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PEREIRA M.E.C., “Lacan com Juliano Moreira e Afrânio Peixoto: a autofilia primitiva e a psicopatologia
da paranóia verdadeira, in Associação Psicanalítica de Porto Alegre _ APPOA (Org.), Psicose:aberturas da
clínica, Porto Alegre, Libretos, 2007, pp. 18-53.
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Psicanalista, psiquiatra. Professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de
Ciências Médicas da UNICAMP. Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de
Paris 7. Diretor do Laboratório de Psicopatologia Fundamental/(UNICAMP). Professor do Departamento de
Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.
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Em 1932, ano em que Jacques Lacan publica sua tese de doutorado em medicina, a
separação entre a paranóia e os demais estados paranóides era muito menos nítida e
consensual do que para os clínicos e pesquisadores contemporâneos. Trata-se de um
momento da história da psiquiatria de declínio dos chamados “clássicos”: autores, em geral
grandes clínicos e alienistas que, baseados em rigorosa observação e sistematização
classificatória de seus achados, construíram as bases da nosologia e da nosografia
psiquiátricas. Historicamente, as duas grandes tradições psicopatológicas – alemã e
francesa – haviam tratado os fenômenos paranóides segundo perspectivas muito diversas.
Enquanto a corrente alemã os estudava no contexto de perturbações psicóticas mais amplas,
associadas a graves perturbações afetivas, condições alucinatórias e deterioração
[Verblödung] do conjunto da personalidade, do lado francês eram os delírios crônicos, de
evolução progressiva, mas sem conduzir à desagregação psíquica, que formavam o centro
de seus interesses. A grande questão permanecia sendo a das relações entre esses diferentes
quadros psiquiátricos, ou seja, o estabelecimento preciso do conteúdo clínico e
psicopatológico delimitado pelo antigo termo “paranóia”.
Assim, especificamente para a tese Lacan, tal elucidação revestia-se de um interesse
maior, uma vez que se tratava de circunscrever o âmbito específico de seu objeto de
investigação – a psicose paranóica – face aos demais estados mórbidos “paranóides”, assim
denominados por sua semelhança com a paranóia, sem, contudo, serem a ela redutíveis.
É justamente nesse contexto que, no capítulo histórico do estudo Sobre a psicose
paranóica em suas relações com a personalidade, Jacques Lacan evocaria o trabalho de
Juliano Moreira e Afrânio Peixoto dedicado à delimitação da “paranóia verdadeira”, o que
o psiquiatra francês faz nos seguintes termos:
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Permanecendo restrita ao longo dos séculos a esse uso meramente popular, situado
na fronteira entre a linguagem quotidiana e o jargão técnico, a palavra “paranóia” precisaria
aguardar a psiquiatria alemã do século XIX para ser recuperada como conceito médico
mais específico. É bem verdade que em 1772, Vogel já havia empregado esse termo, mas
referia-o ainda apenas como sinônimo genérico de “loucura”, conotação que seria retomada
de maneira mais sistemática por Heinroth em 1818 (cf. GARRABÉ, 1992).
Convém aqui lembrar que a própria idéia de que pudessem existir diferentes
entidades nosológicas constituindo o campo clínico da loucura, tida como auto-evidente em
nossa psicopatologia contemporânea, foi objeto de intensas polêmicas na história da
psiquiatria. A construção do conceito atual de paranóia confunde-se, sob inúmeros
aspectos, com a evolução desses debates. Para isso, basta evocar as intensas discussões
ocorridas desde o início do século XIX em torno da chamada “psicose única”
(Einheitpsychose), conceito que teve em Wilhelm Griesinger seu principal defensor e
propagador. Segundo tal perspectiva teórica, todas as psicoses clinicamente identificáveis
constituiriam apenas diferentes etapas de um único e mesmo processo psicopatológico. Para
Griesinger - nome mais importante e influente da psiquiatria alemã daquele período e cuja
obra fora detalhadamente estudada por Freud -, na origem de qualquer processo psicótico
existiria o que designou como “depressão de base”, ou seja, uma condição de natureza
melancólica ligada à perda em idade precoce de um significativo objeto de amor, a qual
funcionaria como espécie de núcleo permanente de fragilidade psíquica. A depressão de
base seria o ponto de partida de uma regressão no funcionamento mental, determinando
diferentes formas de reação, segundo o indivíduo.
Dessa maneira, os diferentes quadros psicopatológicos clinicamente observáveis
representariam tão-somente diferentes modalidades de regressão – e de reação - a esse
mesmo substrato mórbido fundamental. Griesinger chegou mesmo a descrever inúmeras
formas secundárias de loucura, as quais constituiriam expressões das diferentes etapas de
desenvolvimento desse único processo psicótico. Entre elas estaria a Verrücktheit, delírio
sistematizado reativo ao estado depressivo (ou maníaco) primário, resultante da tentativa
desesperada do psiquismo para integrar na personalidade aquele processo depressivo
primário e irredutível, através da estruturação do delírio. Tal maneira de conceber a
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É nesse sentido que os atuais sistemas de diagnóstico psiquiátrico, como o DSM-IV, são descritos por
inúmeros autores como “neo-kraepelinianos”.
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É sob tal perspectiva que Kraepelin endereça sua crítica aos procedimentos da
psicanálise freudiana, cujos procedimentos ele caracterizava nos seguintes termos: “...
apresentação de suposições e conjecturas arbitrárias como se fossem fatos seguros, as quais
são usadas sem hesitação para a construção de sempre novos castelos no ar, cada vez mais
altos e a tendência à generalização ultrapassando toda a medida, a partir de observações
únicas” (KRAEPELIN, 1996, vol. 1, p. 93).
Sua obra principal, o Tratado de Psiquiatria (Lehrbuch der Psychiatrie), teve oito
edições revisadas e substancialmente ampliadas durante a vida de seu autor. Em sua quarta
edição, publicada em 1893, Kraepelin introduz o conceito de demencia praecox, expressão
anteriormente utilizada por Morel para designar um quadro clínico de imobilização súbita
das faculdades psíquicas ocorrendo durante a juventude. O autor francês buscava assim
enfatizar o aspecto cronológico de instalação dessa alteração psíquica, sem pretender fazer
do termo a denominação de uma nova entidade psicopatológica. Serão as pesquisas de
Kraepelin que estabelecerão as bases para o recorte nosológico e nosográfico da entidade
clínica atualmente conhecida como “esquizofrenia”.
A clássica edição do Tratado (6ª. Edição), publicada em 1899, estabelece uma
definição bastante ampla da “demência precoce”, nela incluindo os delírios crônicos
sistematizados, de caráter persecutório, dando a esse quadro específico o nome de
“demência paranóide”. A dementia paranoides englobava, portanto, aquilo que viria, após
Bleuler, a ser conhecido como esquizofrenia em sua forma paranóide, bem como a paranóia
em geral e o delírio crônico de evolução sistemática, de Magnan. Além disso, o critério
evolutivo empregado por Kraepelin indicava que o destino desses sujeitos era um estado
terminal de desagregação mental, o que era contraditório com as concepções clássicas da
escola francesa, que sustentavam a perservação da personalidade malgrado o curso crônico
e incurável do transtorno. Compreende-se, assim, que a inclusão por Kraepelin da paranóia,
de maneira quase integral, na descrição da forma paranóide da demência precoce (dementia
paranoide), tenha sido considerada pelos franceses como um esvaziamento da
especificidade clínica e nosológica desses quadros.
Dessa forma, o ponto de vista kraepeliniano foi fortemente criticado na França,
onde se insistia quanto ao caráter autônomo e primário da paranóia em relação aos quadros
delirantes crônicos que conduziam à deterioração do funcionamento psíquico global.
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França em particular, uma grande confusão quanto ao sentido exato a atribuir ao termo de
“paranóia” e suas relações com os demais estados paranóides.
É sobre esse pano de fundo que se inscreve a tese de Lacan sobre a psicose
paranóica.
1999a), estariam na base do interesse de Lacan pelos crimes passionais, pela folie-à-deux e
pela paranóia de auto-punição, descrita em sua tese a partir de seu estudo do famoso caso
Aimée.
A outra figura de referência no percurso psiquiátrico de Lacan foi o chefe do serviço
de psiquiatria do Hospital Sainte-Anne, Henri Claude. Esse grande patrono da psiquiatria
francesa dos anos 20 e 30, dedicara uma grande parte de suas investigações
psicopatológicas à elucidação do campo das psicoses paranóicas. O verbete “Claude, H.”,
do Dicionário da Psicanálise, de E. Roudinesco e M. Plon, refere-se a ele como “o clínico
da esquizofrenia”. Na segunda metade dos anos vinte, período em que Lacan realizava
parte de sua formação psiquiátrica no Hospital Sainte-Anne, sob a direção de Claude, este
trabalhava diretamente sobre a paranóia e sobre as psicoses paranóídes, tendo, à época,
publicado uma série de artigos importantes sobre esses temas, os quais tiveram grande
repercussão no debate psiquiátrico de seu tempo. Além disso, Claude havia orientado a tese
de Marcel Montassut, defendida em 1924, a qual tratava da “constituição paranóica” e que
também tivera um importante impacto na compreensão psicopatológica da participação da
personalidade na instalação da paranóia4. Formado em tal ambiente teórico e clínico, não é
de surpreender que Lacan tenha eleito especificamente o campo da psicose paranóica para
desenvolver sua própria tese de doutorado.
Em março de 1925, Henri Claude publica na prestigiosa revista médica
L’Encéphale um estudo particularmente importante sobre a delimitação psicopatológica do
campo da paranóia e os estados paranóides, intitulado “Les psychoses paranoïdes”
(CLAUDE, 1924). Neste texto extremamente denso, o autor discute, a partir da análise
minuciosa das modificações de diagnóstico de que foi objeto uma paciente psicótica
internada há 25 anos em seu serviço, o processo de estabilização mental que nela se
implanta à medida que o quadro delirante paranóico vai-se instalando, a ponto de
modificar-lhe totalmente a personalidade. Contudo, contestando a idéia de que as psicoses
paranóicas só se instalam ao final de um longo processo de elaboração subjetiva do delírio,
Claude demonstra a existência de quadros de paranóia aguda, representados pelas “bouffées
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Lacan refere-se amplamente ao trabalho de Montassut em sua própria tese sobre a psicose paranóica.
Considera que a contribuição de Montassut sobre a constituição paranóica marca a maturidade do conceito, na
medida em que delimita claramente os traços essenciais do caráter paranóico: supervalorização de si mesmo,
desconfiança, falsidade de julgamento, inadaptação social.
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delirantes” e pelo “delírio polimorfo d‟emblée”. Estes devem ser distintos dos quadros de
delírios sistematizados crônicos, como o “delírio crônico d‟emblée” e o delírio de evolução
sistemática, descrito por Magnan.
Para explicar a particular susceptibilidade de certos indivíduos para desenvolverem
quadros paranóicos, Henri Claude prefere a noção de “constituição mental mórbida”, ao
invés de recorrer ao já desgastado conceito de degenerescência. Coloca-se, assim, para este
autor, a necessidade de elucidação teórica e clínica da chamada “constituição paranóica”,
ou seja, uma personalidade marcada pelo orgulho, desconfiança, julgamentos falsos,
emotividade e inadaptabilidade ao meio social, tal como descrita por Montassut.
Por fim, Henri Claude propõe certos critérios clínicos para o diagnóstico diferencial
entre as psicoses paranóicas e as psicoses paranóides – distinção que estará subjacente à
tese de Lacan. Para isso, Claude retoma o ponto de vista sustentado por Kraepelin, em
1907, em sua “Introdução à Psiquiatria Clínica”. Nesse trabalho fundamental, o autor
alemão separa o quadro genérico da paranóia propriamente dita da forma paranóide da
demência precoce (dementia paranoides). Segundo ele, a verdadeira noção que deve servir
de pedra fundamental reside na progressiva “deterioração” (Verblödung) mental do sujeito,
idêntica àquela observada nas fases terminais dos dementes precoces”. (CLAUDE, 1925,
pp. 142-43). Para Kraepelin, enquanto na dementia paranoides os sujeitos chegam a um
estado de indiferença generalizada e a um embrutecimento da personalidade, isso jamais
ocorreria na paranóia verdadeira. A questão que permanecia era a de que sua teoria, naquele
momento histórico, deixava pouco espaço para essa “paranóia legítima”.
Contudo, é apenas em 1915 que Emil Kraepelin completaria suas descrições da
demência precoce de tipo paranóide, já sob o impacto da introdução por Bleuler, em 1911,
do conceito de “esquizofrenia”. É, portanto, relevante recordar aqui que o diagnóstico
atribuído por Freud ao presidente Schreber no título de seu famoso estudo, igualmente
publicado em 1911, é o de dementia paranoides, ou seja, ele se refere à nomenclatura
kraepeliana da 6ª. Edição do Lehrbuch (1899). Jean Garrabé sugere, em sua Histoire de la
schizophrénie (GARRABE, 1992, pp. 73-77), que inúmeros comentadores do texto de
Freud cometeram o equívoco de considerar que os termos “paranóia” e “demência precoce”
tinham naquele momento, sob a pluma do pai da psicanálise, o mesmo sentido que nos dias
de hoje. Lacan mostra claramente no capítulo histórico de sua tese que a concepção
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“... seria, portanto, necessário, assim como o reclamam Peixoto e Moreira5, que
quando se fala da paranóia verdadeira, compreenda-se o termo clínico isolado pelo
mestre de Munique, nomeando-o simplesmente de „paranóia‟, a fim de se evitarem
as deploráveis confusões nas quais se caiu até aqui.” (CLAUDE & MONTASSUT,
1926, p. 63).
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Aqui, no texto original, está inserida uma nota de rodapé, com a seguinte referência: Peixoto & Moreira. La
paranóia legitime. (Congrès de Lisbonne, 1906)
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enquanto, basta-nos lembrar que é desse ponto dos debates que Lacan parte para situar suas
próprias proposições concernindo a psicose paranóica.
O artigo de vulgarização de sua própria autoria a que Lacan faz alusão em sua tese -
justamente na passagem em que se refere ao trabalho de Juliano Moreira e Afrânio Peixoto
(cf. indicado mais acima) - intitulava-se “Structure des psychoses paranoïaques”, tendo sido
publicado na revista Semaine des Hôpitaux de Paris, em julho de 1931 (LACAN, 1931).
Chama a atenção o fato de que nesse texto, Lacan refere-se às “psicoses paranóicas” - no
plural -, enquanto que em sua tese, defendida um ano depois, utiliza a expressão no singular.
Trata-se de um detalhe relevante uma vez que o artigo de 1931 buscava delimitar, de um ponto
de vista estrutural, três tipos específicos de psicose paranóica: a constituição paranóica, o
delírio de interpretação e os delírios passionais.
Naquele texto, o então jovem psiquiatra pretendia demonstrar de forma rigorosa a
estrutura do grupo das psicoses paranóicas, as quais se definem, segundo seus termos, pela
manutenção de sua “integridade intelectual, com exceção das perturbações estruturais precisas
do delírio” (LACAN, 1931). Nesses casos, a evolução é crônica e sem demência (no sentido
da Verblödung alemã). Manifestando uma preocupação com as implicações médico-legais
desse diagnóstico, Lacan considera que algumas formas das psicoses paranóicas são passíveis
de dissolução, enquanto outras são irredutíveis.
Dessa maneira, o diagnóstico preciso tem conseqüências sobre o prognóstico, sobre a
terapêutica a ser proposta e sobre as atitudes médico-legais a serem tomadas. Divide, assim,
esse grupo nas três formas acima indicadas: constituição paranóica, delírio de interpretação e
delírios passionais. A primeira caracteriza-se, segundo Lacan, por quatro sinais cardinais: 1)
superestima patológica de si mesmo; 2) desconfiança; 3) julgamentos falsos, os quais tendem
a uma organização em um “sistema”, tal como observado nos “loucos raciocinantes”, descritos
por Sérieux e Capgras e 4) inadaptabilidade social (“longe de ser um esquizóide”, diz o texto,
“ele adere à realidade de maneira estreita”; “ele tem sede de ser apreciado” pelos outros à
altura da grandeza que ele próprio se atribui, mas fracassa regularmente na conquista desse
objetivo). Nesses casos, os delírios de interpretação tendem a ser irredutíveis com a evolução
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da doença e apesar dos esforços terapêuticos. Este já não é o caso dos delírios passionais
(erotomaníacos), nos quais o quadro delirante pode desaparecer, mas de maneira brutal,
através de certos tipos de passagem ao ato, em particular, o ato criminoso. Este pode levar ao
abrandamento ou mesmo ao desaparecimento completo do delírio. Vemos aqui Lacan
antecipar a tese que será desenvolvida mais amplamente em sua análise do caso Aimée e em
sua correlativa descrição daquilo que denominou como “paranóia de auto-punição” (cf.
LACAN, 1932).
Compreende-se, assim, a importância para Lacan do estabelecimento preciso do
âmbito da paranóia face aos demais estados paranóides, e da necessidade de recorrer a autores
que, antes dele já houvessem se debruçado sobre o problema e elaborado concepções
esclarecedoras da especificidade psicopatológica da paranóia. É assim que entram em cena,
sob sua pluma, as figuras de Henri Claude e Marcel Montassut e, sobretudo, de Juliano
Moreira e Afrânio Peixoto que, muito antes da maioria dos pesquisadores psicopatológicos de
seu tempo, já haviam antevisto na nascente noção de paranóia proposta por Kraepelin no
início do século XX – ainda em um estado embrionário e não suficientemente especificado de
um ponto de vista teórico e nosográfico – uma possibilidade de esclarecimento do campo da
antiga Verrücktheit dos alemães.
Inicialmente foi discípulo de Juliano Moreira, com quem viria a estabelecer uma
estreita parceria científica no campo da psiquiatria. Com este, foi co-fundador da Sociedade
Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, em 1907.
Em sua tese de doutorado intitulada “Epilepsia e crime”, defendida em 1899 na
Faculdade de Medicina da Bahia, Afrânio Peixoto já citava o artigo de Freud “A
hereditariedade na etiologia das neuroses”. A referência às teses freudianas acompanha, de
certa maneira, toda sua obra.
Os dois médicos colaboravam de maneira constante em vários artigos de psiquiatria.
Entre outros trabalhos, no mesmo ano de 1905 eles publicaram um texto sobre a
classificação das doenças mentais, tal como proposta por Kraepelin (MOREIRA &
PEIXOTO, 1905 a).
Mais especificamente sobre o tema da psicose paranóica, pode-se afirmar que o
trabalho de Juliano Moreira e Afrânio Peixoto sobre a paranóia e as síndromes paranóides
teve significativa repercussão nacional e internacional. Foi re-publicado em diversas
ocasiões, tendo sido também apresentado, com pequenas modificações, em vários eventos
científicos. Sua primeira versão apareceu em 1904, na revista Brasil Médico. Nesse mesmo
ano, foi apresentado em Buenos Aires, por ocasião do IIIo. Congresso Latinoamericano de
Medicina. No ano seguinte, constitui o artigo de abertura do primeiro periódico nacional
especializado em psiquiatria, os Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Ciências
afins (cf. ODA & DALGALARRONDO, 2000), revista criada por iniciativa de Moreira e
Peixoto.
Em 1906, o estudo foi apresentado no XVo. Congresso Internacional de Medicina,
ocorrido em Lisboa. É a essa versão que se refere o artigo de Henri Claude, mencionado
por Lacan. Tratava-se de um evento científico da maior importância, o qual reuniu alguns
dos nomes mais expressivos da medicina e da psiquiatria do começo do século XX.
Durante esse evento ocorreu a memorável homenagem a Fritz Richard Schaudinn,
pesquisador alemão que havia descoberto um ano antes o Treponema pallidum, agente
causal da sífilis (cf. Souza, 2005). Na mesma ocasião, Juliano Moreira encontraria
pessoalmente Emil Kraepelin para discutirem a tão esperada – mas nunca concretizada –
vinda do mestre de Munique para o Brasil, a fim de realizar suas pesquisas psicopatológicas
sobre a demência precoce em indígenas brasileiros.
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Como vimos acima, também Lacan fala de “uma diversidade digna de Babel”, para situar, no contexto de
sua tese de medicina, o estado de confusão reinante na psiquiatria durante o final do século XIX e início do
século XX.
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Desde a abertura do texto, Moreira e Peixoto afirmam que “tudo tem sido descrito
sob a mesma rubrica”: “de estados agudos e transitórios a idéias fixas ou obsessões, de
conceitos arrazoados em sistemas a demências com idéias residuais de grandeza ou
perseguição, até mesmo estados em que tais delírios faltam por completo” (p. 135). O
motivo principal para tamanha confusão seria o fato de que a simples presença de
síndromes mentais caracterizadas por perseguição, grandeza e suas variantes vinha sendo
considerada como condição suficiente para o diagnóstico de paranóia, independentemente
das condições clínicas em que aparecesse e de outras considerações de natureza etiológica,
patogênica, sintomatológica e mesmo quanto às características do delírio.
A solução para esse impasse estaria, segundo os autores, na delimitação mais
restrita dada por Kraepelin à noção de paranóia. Munidos desse instrumento conceitual lhes
seria possível estabelecer uma fronteira mais nítida entre a paranóia propriamente dita e as
chamadas “síndromes paranóides”.
Antes, contudo, de enfrentarem diretamente essa questão central do artigo, Moreira
e Peixoto realizam uma crítica contundente do conceito de degenerescência e de seu
emprego indiscriminado na psiquiatria de seu tempo para explicar a origem da paranóia.
Dada a extrema amplitude explicativa assumida por aquela noção etiológica tão em voga na
época, a degenerescência passou a constituir “uma estereotipia diagnóstica, quando não seja
uma simples ecolalia da designação” (p.137). A hereditariedade, tal como concebida
naquele contexto teórico de degeneração e atavismo, representava uma espécie de
elucidação científica a priori de todos os fatos da psicopatologia. Referem os autores que a
doutrina da degeneração, desde os tempos de Morel, encontrou uma acolhida acrítica e
generalizada na psiquiatria, o que obscureceu a forte carga imaginária de culpas e de
julgamentos morais a ela ligada, bem como levou a que se negligenciasse a falta de provas
biológicas que consubstanciassem uma posição teórica tão ambiciosa. A certo momento do
texto, declaram de maneira contundente: “Tenhamos, pois, a boa-fé de procurar em nós,
principalmente no meio em que vivemos, as causas de nossos males: não criemos palavras
sonoras que contentam a ignorância ociosa, mas não bastam à curiosidade persistente” (p.
139).
É justamente através uma perspectiva que enfatiza o papel do ambiente e da história,
pessoal e coletiva, na constituição da personalidade humana - e conseqüentemente da
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psicopatologia - que Moreira e Peixoto propõem nesse artigo uma descrição alternativa das
condições subjetivas que conduzem à paranóia. Para eles, a compreensão de tais
determinantes permite melhor situar a especificidade clínica dessa condição, face a outros
estados ditos, por semelhança a ela, “paranóides”.
A teoria proposta parte, pois, de uma tentativa de elucidação das dimensões
ontológicas e sociais implicadas nos processos de constituição da subjetividade. Segundo
os autores, “a paranóia é originária” (p. 139), na medida em que esta descreve as condições
primitivas do Eu - egofilia extrema, subjetivismo exagerado, pouca consideração pelo
mundo exterior:
Observa-se nessa afirmação, tal como o indicam Oda & Dalgalarrondo (2001) as
marcas da teoria da recapitulação, de Heckel, tão cara a Freud, segundo a qual “a
ontogênese recapitula a filogênese”. Entretanto, a postura de Moreira e Peixoto quanto ao
recurso de explicação pela filogênese é de profunda moderação: “É, pois, escusado ir
buscar exemplos de egofilia em eras remotas, tão mal conhecidas e, por isso mesmo, tão
mal julgadas, para os fazer ancestrais de cada aberração atual. Temos, todos os dias, no
presente, a apreciação desse subjetivismo exagerado, mas absolutamente normal e que foi o
de todos nós: a afirmação mesma da personalidade” (p. 139).
Sob essa perspectiva teórica que enfatiza o papel central de um investimento
amoroso excessivo voltado para si mesmo, Oda & Dalgalarrondo (in MOREIRA &
PEIXOTO, 2001, p. 136) chamam a atenção para o fato de que, anos mais tarde, tratando
da raridade da paranóia entre as mulheres, Afrânio Peixoto afirmaria: "Seriam as mulheres,
ordinariamente seres mais vaidosos, segundo o nosso conceito, paranóicas rudimentares
ou latentes; não chegarão, porém, ao desequilíbrio, à paranóia declarada, porque sua
vaidade, exclusivamente de méritos físicos e pessoais, passíveis de correspondência sexual,
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têm aceitação fácil no meio em que vivem, o que lhes evita as recriminações e a
excessividade. Contraprova é o impiedoso e maléfico humor das solteironas. Certamente é
muito mais fácil a um homem iludir-se sobre o seu merecimento do que uma mulher. Além
da fraqueza e do recato do sexo, o espelho, a consciência, o fato evidente do celibato as
desilude facilmente. Os outros, por motivos opostos, chegam à paranóia."(Peixoto, A.-
Medicina Legal, 3a. ed., volume II - Psicopatologia forense, Rio de Janeiro, Francisco
Alves, 1938, p. 282, nota 1).
Segundo Moreira e Peixoto, o estado originário de “autofilia egocêntrica” tenderia a
continuar inalterado e, mesmo, a expandir-se, não fosse a ação civilizatória da cultura e da
educação. Tal influência é imposta ao pequeno humano pela ação do outro-semelhante, na
medida em que este é o agente de sua introdução no pacto civilizatório: “Esse contrato
tácito, que todos temos, não se herda, faz-se pelos primeiros anos com a convivência, a
lição, a experiência; vem sem violência, porque vem desde o começo, invisivelmente e
inconscientemente, pelo próprio fato de viver no meio civil” (p. 139). O advérbio aqui
empregado pelos autores – “inconscientemente” – não deixa de evocar a perspectiva
lacaniana segundo a qual, nesse processo de constituição da subjetividade a partir da
inscrição da criança em no mundo simbolicamente organizado, proposto já em cada contato
efetivo com os parceiros humanos, estes igualmente assujeitados ao pacto simbólico que
instituiu a ordem humana, o “Inconsciente é o discurso do Outro”.
Os autores sustentam, portanto, que a consideração pelo outro não é algo de
primitivo: “O altruísmo não é uma aquisição definida e já somática: é apenas uma espécie
de contrato a que nos submetemos tacitamente ao partilhar a vida social que nos impõem: e
não são raras as infrações do pacto” (p. 139).
Delineia-se, assim, a proposta de Moreira e Peixoto para a determinação
psicopatológica da paranóia: “No paranóico houve apenas a persistência desse originário
modo de ser, por deficiência de educação, de treinamento, de cultura...; o subjetivismo
primitivo cresceu com o indivíduo, vive com ele e é por meio dele que ele julga o mundo
exterior.” (p. 139)
Temos, pois, até aqui, uma teoria que parte da hipótese da existência de um estado
de “autofilia primitiva”, comum a todos os humanos, de natureza fundamentalmente
paranóica, dada o extremo subjetivismo e susceptibilidade que comporta, o qual, em
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situações normais, termina por ser circunscrito e superado pela ação civilizatória do contato
com os outros humanos, portadores de um pacto simbólico que obriga a tomada em
consideração da alteridade e do mundo.
Os “destinos” dessa autofilia primitiva podem ser os mais diversos. Em condições
ordinárias, espera-se que a ação do meio sócio-cultural, sobretudo através dos pais,
imponha um limite aos exageros relacionados a esse amor-próprio originariamente
desmedido. Nos casos patológicos, contudo, identifica-se freqüentemente a história de pais
que insuflaram e estimularam as idéias infantis de grandeza e de exceção do filho.
Encontravam satisfação nas excelências que atribuíam ao futuro paranóico, contribuindo,
assim, sem se darem conta, à construção de uma forte predisposição à susceptibilidade e
aos sentimentos de injustiça e de perseguição.
O artigo de Moreira e Peixoto traz, em sua parte final, a descrição clínica detalhada
de um caso típico de “paranóia legítima”, apresentado em contraste com outros doze
fragmentos clínicos de quadros paranóides ou assemelhados. Na história desse paciente
observa-se com nitidez a grande participação da família no encorajamento da
sobrevalorização de si mesmo do paciente durante sua infância: o pai de G.P.O. falece
quando este tinha por volta de quatro anos de idade. O menino passa a ser cuidado pela avó
e pela mãe “que o cumulam de vontades (...) cuidavam-no com um desvelo excessivo: avó,
tias, mãe, irmãs serviam-no com solicitude e progressivamente com submissão: a sua
vaidade e o seu egoísmo prodigiosamente cresceram neste ambiente” (p. 150) ... “Ainda
depois de casado, como sempre, as tias lhe forneciam dinheiro” (p. 151).
A descompensação paranóica, por sua vez, ocorreria em tais sujeitos
constitucionalmente predispostos, ou seja, naqueles em que se associaria uma disposição
herdada com uma autofilia egocêntrica jamais desmentida ou moderada pela ação da
cultura ou, mais especificamente, dos pais. O desencadeamento da paranóia franca
decorreria em função dos “atritos inevitáveis com o meio social” (p.140) de pessoas assim
susceptíveis. No caso de G.P.O., acima mencionado, a entrada na doença ocorre após sérios
incidentes em sua existência: a morte de dois filhos por sua negligência em levá-los à
vacinação contra a varíola; a mulher o abandona, fugindo com um oficial da marinha;
fracassos no campo profissional. A partir daí, passa a apresentar episódios delirantes de
perseguição, com medo de ser assassinado.
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Os dois psiquiatras chamam atenção para o fato de que “o profundo desacordo entre
o meio e o paranóico” termina por desencadear no indivíduo reações de perseguição ativa.
Diante da recusa do ambiente social e da própria realidade em reconhecerem a
grandiosidade e a excelência que o sujeito predisposto secretamente se atribui, começam a
surgir sentimentos extremamente penosos de injustiça, perseguição e de revolta. A extrema
susceptibilidade desses indivíduos a interpretarem como ofensas e desconsideração toda a
falta de reconhecimento por parte do meio de seus valores excepcionais, os conduziria a
uma experiência subjetiva de injustiça, perseguição e humilhação. Moreira e Peixoto
desenvolvem, portanto, bem antes das formulações de Kretschmer, sobre os delírios
sensitivos de relação, e de Génil-Périn, sobre o temperamento ou caráter paranóico, a idéia
de uma predisposição de personalidade ao desenvolvimento da paranóia.
Eles observam que são os próprios paranóicos que, inicialmente, tendem através de
suas “sensibilidades extraordinárias”, a reagir de forma irritada, violenta ou mesmo
positivamente perseguidora, em relação a seus supostos inimigos e detratores. Os
perseguidos foram, a princípio, perseguidores, tal como a situação psicopatológica descrita
por Lasègue: o perseguido-perseguidor. Dessa forma, a “paranóia legítima” constitui a
expressão da descompensação de uma alteração de caráter já presente: autofilia exagerada,
egocentrismo hipertrofiado, amor-próprio insaciável.
“Existe, pois, afirmam os autores, um período prodrômico ou de elaboração da
paranóia propriamente dita: (...)
O estudo aqui realizado examina pela primeira vez de forma sistemática a evocação
de Lacan, em sua tese de doutorado, do trabalho de Juliano Moreira e Afrânio Peixoto
sobre a paranóia. Nosso objetivo principal foi o de contextualizar histórica e teoricamente
essa referência lacaniana à contribuição dos dois psiquiatras brasileiros ao problema
psicopatológico da psicose paranóica. Uma discussão mais rigorosa das eventuais
incidências da teoria de Moreira e Peixoto sobre a concepção psicanalítica das psicoses
exigiria novos estudos específicos dedicados a esse fim, além de comportar importantes
limitações que restringem o âmbito desse projeto.
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Em primeiro lugar, é preciso levar-se em conta o fato óbvio que os autores, apesar
de bem informados sobre a descoberta e as teorias freudianas, não eram eles próprios
psicanalistas, nem pretenderam com seus estudos elaborar uma abordagem psicanalítica da
paranóia. Sob esse prisma, pode-se, no máximo, buscar maiores esclarecimentos sobre os
possíveis efeitos de sua aproximação da psicanálise sobre a elaboração de sua própria teoria
da paranóia. Pode-se, também, especular – de maneira mais ou menos sustentada pelos
documentos disponíveis - sobre aquilo que o ponto de vista proposto pelos brasileiros
anteciparia, em certo sentido, os desdobramentos da teorização de Freud sobre a psicose em
suas relações com o narcisismo.
Em sua dissertação de mestrado sobre a história da psicanálise na Bahia, Maria
Odete Menezes destaca o fato de que Juliano Moreira havia tentado, na passagem do século
uma aproximação efetiva entre a psicanálise e a psiquiatria (MENEZES, 2002, p. 25), bem
como apoiou sua divulgação no meio médico-acadêmico. Como vimos, em seu estudo
sobre a paranóia, Juliano Moreira e Afrânio Peixoto opuseram-se frontalmente ao
mecanicismo desmedido das teorias atávicas de Tanzi e Riva. Para eles, “a gênese da
paranóia estaria em um defeito da educação que não corrigiu a autofilia e o egocentrismo
na criança” (p. 58). Contudo, o que para os dois autores seria o resultado da persistência
mórbida na vida adulta de uma fixação narcisista infantil, no pensamento de Freud
corresponderia a uma regressão associada a um mecanismo mental específico (Verwerfung:
a rejeição, segundo a tradução proposta por Laplanche e Pontalis, ou forclusão, na
terminologia de Lacan).
No que concerne mais especificamente à teoria do narcisismo, ODA &
DALGALARRONDO (2001) propõem, como vimos, que a noção de “autofilia originária”,
enquanto etapa primitiva de hipervalorização do Eu, precederia o conceito freudiano de
narcisismo. Com efeito, sob a óptica de um investimento afetivo grandioso da própria
imagem, modelado a partir dos ideais parentais e, inicialmente, não limitado pela realidade,
“a autofilia” descrita por Moreira e Peixoto recobre sobre vários aspectos as proposições
freudianas referentes ao narcisismo primário e à constituição do Eu Ideal. Deve ser
destacado que, tal como acontece na releitura lacaniana do papel do narcisismo na
constituição do Eu e na estruturação da psicose, a teoria de Moreira e Peixoto sublinha o
caráter fundamentalmente paranóico que articula os ideais parentais, a organização do Eu
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