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Teoria e

prática
psicanalítica
Prof. Ms. Carlos Souza
Trabalho psicanalítico

1ª Fase: (1895-1897):
Recordar → Ab-reagir: Essa dinâmica se orientava através da
técnica da hipnose.
Kátharsis: “purificar”, “purgar” “evacuar”.

Tragédia: Infelicidade e felicidade do herói, gozamos com ele ao nos


projetar na sua trama. Vivemos nele sem precisar “atuar”.
Psicanálise: Descarga emocional (contato com o traumático).
Trabalho psicanalítico

2ª Fase: (1900-):

Pensamentos espontâneos → Recordação: Essa dinâmica se orienta


através da Interpretação.

Divisão do trabalho:

• Paciente: Associa os seus “pensamentos espontâneos”;

• Analista: Identifica resistências e as interpreta;

• Paciente: Supera as resistências, recorda, elabora.


Trabalho psicanalítico

2ª Fase: (1900-1939):

Pensamentos espontâneos → Recordação: Essa dinâmica se orienta através da


Interpretação.

A interpretação dos sonhos é um modelo desse processo: O sonho é um fenômeno


que apresenta um duplo conteúdo:

• Pensamentos manifestos (lembranças, fragmentos, clima, sensações,


sentimentos, atmosfera do sonho)

• Pensamentos oníricos (latentes)


*FREUD, S. Record ar, repeti r e el ab orar (1 9 14 ). Em : Obras c om pletas, vol . 1 0 . Tradução : Paulo C.
de Souza. – São Paulo, Cia das Letras, 2010.
Trabalho psicanalítico

O objetivo do tratamento psicanalítico, segundo Freud, é:

“[...] fortalecer o eu, torna-lo mais independente do Super-eu, ampliar seu


âmbito de percepção e melhorar sua organização, de maneira que possa
apropriar-se de novas parcelas do Id. Onde era Id, há de ser Eu. É uma obra
cultural como o aterro do Zuydersee, digamos” (FREUD, 1933, pág. 223).

*FREUD, S. 31. A dissecção da personalidade psíquica (1933). Em: Novas conferências


introdutórias à psicanálise. Obras completas, vol. 18. Tradução: Paulo C. de Souza. – São Paulo,
Cia das Letras, 2010.
Interpretação

Atividade interpretativa:

Interpretar é dar sentido.

A palavra sentido diz respeito a: Direção / Significação.


Interpretação

Freud integra à atividade analítica o modelo apreendido na arte de Leonardo Da Vinci:

“A pintura, diz Leonardo, trabalha per via di porre [pondo]; ela aplica pequeninos
montes de cores onde não os havia, na tela em branco; já a escultura procede per via
di levare [tirando], ela retira da pedra tudo o que cobre a superfície da estátua nela
contida. De modo bem semelhante, meus senhores, a técnica sugestiva procura atuar
per via de porre, não se interessa por origem, força e significado dos sintomas
patológicos, e sim acrescenta algo, a sugestão, da qual espera que seja forte o
bastante para impedir que a ideia patogênica adquira expressão” (FREUD, 1905, pág.
336-337).
Interpretação

Freud integra a atividade analítica o modelo apreendido na arte de


Leonardo Da Vinci:

“Já a terapia analítica não deseja acrescentar ou introduzir algo novo,


mas sim retirar, extrair, e para isso cuida da gênese dos sintomas
doentios e dos contexto psíquico da ideia patogênica, cuja remoção é
seu objetivo” (FREUD, 1905, pág. 336-337).
Interpretação

A sugestão não é um modelo apropriado segundo Freud observa na


experiência clínica, porque essa atitude impede, “a compreensão do jogo
das forças psíquicas, de, por exemplo, não nos deixar perceber a resistência
com que o paciente se apega à sua doença, com que, portanto, se opõe ao
seu restabelecimento, e que é a única coisa que possibilita o entendimento
de sua conduta na vida” (FREUD, 1905, pág. 337).

* FRE U D, S. Psi co tera p i a ( 1 90 5 ). E m : O b ra s co m p l etas , vol. 6 . Tra d u çã o : Pa u l o C . d e So u z a . – Sã o Pa u l o,


C i a d a s L e tra s , 2 0 1 6 .
Interpretação

Interpretação: per via di levare – Diz respeito àquilo que se faz com um elemento
do material, com uma associação, lapso...;

(Re)Construção: per via de porre – Diz respeito aquilo que podemos apresentar,
conjecturar, ao analisando como um pedaço de sua pré-história esquecida, cindida
de seu mundo psíquico consciente, ajudando o paciente à formular um cenário, um
quadro, do seu mundo interno ou de suas experiências emocionais.

* F R E U D, S. C o n s t r u ç õ e s n a a n á l i s e ( 1 9 3 7 ) . E m : O b ra s c o m p l e t a s , vo l . 1 9 . Tra d u ç ã o : Pa u l o C . d e S o u z a . – S ã o
Pa u l o, C i a d a s L e t ra s , 2 0 1 8 .
Interpretação

Atividade interpretativa:

A interpretação tem a função de dar inteligibilidade ao


material psíquico apresentado pelo paciente.

Interpretações Saturadas e Insaturadas


Vamos imaginar a seguinte situação, o paciente diz:

PACIENTE: “Ontem o meu computador recebeu muitos e-mails e se quebrou”.

ANALISTA: “O spam é um problema!”.

ANALISTA: “Quem lhe mandou tantos e-mails?”

ANALISTA: “Imagino que você tenha ficado bravo com quem lhe mandou tantos e-
mails”

ANALISTA: “Pelo menos havia alguns e-mails interessantes?”

ANALISTA: “Talvez ontem eu lhe disse coisas que você sentiu que eram demais, se
sentiu impotente em processar esses conteúdos, e isso ficou entulhado dentro de
você, fazendo você sentir e fantasias que teve a sua mente quebrada por mim”

ANALISTA: “Aconteceu algo semelhante quando você era criança, quando a sua
mãe gritava com você daquele jeito insuportável. Isso lhe criou tantos problema
que agora com os chefes qualquer sinal de crítica ou desaprovação é sentido por
você como algo paralisante”
Vamos imaginar a seguinte situação, o paciente diz:
PACIENTE: “Hoje na estrada foi terrível, havia um caminhão que estava
grudado atrás de mim e me aterrorizava ficando tão próximo”.
ANALISTA: “Esta é uma experiência terrível, como naquele filme antigo que
passava na sessão da tarde”
ANALISTA: “E para você, seria impossível dirigir mais rápido?”
ANALISTA: “Acho que você pode estar querendo me dizer que eu preciso ir
mais devagar com você”
ANALISTA: “Creio que na última sessão você possa ter sentido que
interpretei demais, e as minhas palavras foram experimentadas como um
caminhão”
ANALISTA: “Há uma parte sua que na ausência da análise o persegue, e
você não sabe como subtrair-se dessa perseguição”
Recordar, repetir, repetir, repetir,
repetir... Elaborar.

A resistência é parte do tratamento, é o elemento que se


apresenta contra à recordação e a elaboração.

A resistência impede a recordação e a substitui pela atuação.


Recordar, repetir, repetir, repetir,
repetir... Elaborar.

Exemplo de atuação: Ao solicitar ao paciente que comunique o que lhe passa em


sua mente, (alguém que sabemos que possui uma vida cheia de eventos, tem uma
longa história com o seu sofrimento), esperando que o seu discurso “flua”, ao
contrário, ele guarda silêncio, e afirma que nada lhe ocorre.

Podemos pensar essa situação como uma repetição de uma atitude passiva. Isto é,
o paciente repete com o analista uma postura que tem na vida cotidiana. Em uma
situação que se espera atividade, o paciente se coloca num modo passivo. O que
então, o outro, o objeto, o analista, pode representar para ele naquela situação?
Recordar, repetir, repetir, repetir,
repetir... Elaborar.

Compulsão de repetição: substitui a recordação pelo impulso, ação (que


representa o conteúdo inconsciente, é um “modo de recordação”.

Transferência; “modo de conduzir a sua vida amorosa”, aquilo que foi


frustrado ou satisfeito que se conduz por um clichê nas relações
intersubjetivas. Seus complexos ics (infantis, realcados) que se atualizam na
figura do analista.

Resistência; “política do avestruz”.


Recordar, repetir, repetir, repetir,
repetir... Elaborar.

“[...] a iniciação do tratamento leva o doente a mudar sua atitude


consciente para com a doença. Normalmente ele se contentou em lamentá-
la, desprezá-la como absurdo, subestimá-la na sua importância, e de resto
deu prosseguimento, ante as suas manifestações, ao comportamento
repressor, à política de avestruz que praticava com as suas origens.”
(FREUD, 1914, pág. 203).

*FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar (1914). Em: Obras completas, vol. 10. Tradução:
Paulo C. de Souza. – São Paulo, Cia das Letras, 2010.
Recordar, repetir, repetir, repetir,
repetir... Elaborar.

“Ele [o paciente] tem de conquistar a coragem de dirigir sua atenção para os


fenômenos de sua doença. A própria doença não deve mais ser algo desprezível para
ele, mas sim tornar-se um digno adversário, uma parcela do seu ser fundamentada em
bons motivos, de que cabe extrair algo valioso para sua vida futura. A reconciliação
com o reprimido que se manifesta nos sintomas é assim preparada desde o início, mas
também admite uma certa tolerância para o estado enfermo. Se esta nova relação com
a doença torna mais agudos os conflitos e faz sobressaírem sintomas até então
indistintos, não é difícil consolar o doente com a observação de que isto é uma piora
necessária e passageira, e que não se pode liquidar um inimigo que está ausente ou
não está próximo o bastante” (FREUD, 1914, pág. 203.
* FRE U D, S. Reco rd ar, r e p et ir e e l a b o ra r ( 1 9 1 4 ) . E m : O b ra s co m p l e ta s , vo l . 1 0 . Tra d u çã o : Pa u l o C . d e
So u z a . – S ã o Pa u l o, C ia d a s L e t ra s , 2 0 1 0 .

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