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A vontade de Carlos de se libertar de seu sofrimento fez com que fosse as consultas assim
como o estabelecimento de um vínculo terapêutico contribuiu para que ele rememorasse a
sua história de vida através da fala. Com relação ao profissional podemos dizer que este lhe
ofereceu uma escuta terapêutica sem julgamentos responsável e acolhedora um
incentivando a falar e elaborar seu sofrimento.
A disciplina apresenta também fatores específicos as psicoterapias e para tal o grupo
escolheu a teoria psicanalítica e como técnica uma sucinta introdução amadora para tentar
se aproximar do sofrimento de Carlos;
Inconsciente
● (2) "O inconsciente, a partir de Freud, é uma cadeia de significantes que em algum
lugar se repete e insiste" (Lacan, 1960/1998, p. 813);
● (3) "O inconsciente é a soma dos efeitos da fala, sobre um sujeito, nesse nível que o
sujeito se constitui pelos efeitos do significante" (Lacan, 2008, p. 122);
● A repetição pode ser entendida como um ato que abre caminho à atuação (acting
out) - um recado ao analista, de que há um desejo e não uma objetividade, o
inconsciente quer falar algo - e que, de modo geral, se apresenta na análise como
uma força que atualiza componentes psíquicos, quando o analisando repete ou atua
– daí o termo acting out – o que "não pode" ser recordado.
Transferência
● Sujeito Suposto Saber: o paciente chega na clínica sofrendo de algo que ainda é
não-sabido, e sua demanda de tratamento parte do princípio que o outro, o analista,
sabe. Em outras palavras, o paciente supõe que o analista sabe sobre seu
sofrimento. Para Lacan, inicia-se aí o manejo transferencial;
Pulsão
● No primeiro capítulo do Seminário, livro 11, Lacan (2008, p. 27) Pulsão, do alemão
Trieb, como já é sabido, foi traduzido erroneamente por Instinto. A diferença entre os
dois estaria justamente no primeiro capítulo dos Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade;
● O objeto não é necessariamente algo estranho: poderá igualmente ser uma parte do
próprio corpo do indivíduo. Pode ser modificado quantas vezes for necessário no
decorrer das vicissitudes que a pulsão sofre durante sua existência, sendo que esse
deslocamento da pulsão desempenha papéis altamente importantes. (Freud,
1915/2006b, p. 128, grifos nossos)
No intuito de melhor entender a diferença entre as duas noções, pulsão e instinto vejamos
este exemplo:
● Complexo de Édipo;
Depois desta breve exposição de alguns conceitos sobre a teoria e técnica psicanalítica,
faremos apenas alguns comentários que achamos pertinentes. Desde já, ressaltamos que
esta é a visão de um grupo de estudantes que muito respeitam a psicanálise, assim como
qualquer outra psicoterapia e que preocupamos em não trazer um diagnóstico, ou uma
solução para o sofrimento de Carlos, mas trazer observações em torno da sua dinâmica
familiar e seu contato com o mundo externo - escola, brincadeiras e trabalhos - sendo estes
importantes para a formação da personalidade de Carlos - comentado na teoria da
personalidade - assim como da sua estrutura psíquica. Com relação a esta última, o grupo
prefere não arriscar fazer qualquer diagnóstico - apesar de, no caso, o paciente ser
diagnosticado como neurótico obsessivo - pois para tal, seria necessário um maior contato
com o paciente, ou seja, estabelecermos uma escuta, a relação transferencial para assim
perceber e utilizar as técnicas necessárias.
A rigidez do pai
Complexo de Édipo:
● Criança de depara com a incompletude da falta;
● Complexo de castração;
● Lacan busca algo que independente da estrutura familiar, há uma condição humana,
a existência da linguagem articula um nós e o mundo;
● Foi o contato de Carlos com a “nomeação da coisa” que é medida pela palavra. A
linguagem é a articulação de um nós com o mundo. Outro ponto, ele trabalha na
fase de seu desenvolvimento infantil e pontuados que o trabalho infantil é crime,
trazendo danos ao desenvolvimento geral da criança.
O controle
Durante a sua infância Carlos não passeou muito, seus pais preocupados, não deixavam
ele e seus irmãos irem para lugares distantes, nem estar na presença de pessoas que
beberam bebidas alcoólicas. Quando saía, Carlos ia acompanhado de dois irmãos mais
velhos.
“ Apesar de todo o controle exercido pelos pais, Carlos não se sentia preso, percebendo
tudo com naturalidade.” (Relato da história de vida)
Aqui, percebemos a naturalidade de Carlos com relação ao controle que a dinâmica familiar
estabelece.
A escola
Carlos saía da escola, almoçava e ia trabalhar. “Nunca ficava, assim, na rua, à toa,
vadiando na rua.” (Carlos).
Na fase infantil, para de estudar no quarto ano primário pois não havia recursos financeiros
para o custeio do transporte. Na fase adulta, tenta estudar novamente, mas, segundo ele, a
relação trabalha-escola gerou cansaço, o que o fez encerrar os estudos.
Ressaltamos neste ponto, logicamente respeitando o contexto social de Carlos, assim como
sua família, mas utilizando-se da responsabilidade social que o psicólogo possui, que o
ECA estabelece como um direito inalienável de toda criança o acesso à educação, sendo
este um elemento extremamente importante para a formação e o desenvolvimento
cognitivo, social, emocional e psicológico da pessoa humana. Carlos sai da escola na 4°
série do primário.
Pontuamos aqui que Carlos não comenta sobre brincar em casa ou na escola, sendo que
seu único local para tal é o trabalho. Na psicologia estudamos a importância do brincar para
criança, na psicanálise Winnicottiana, o brincar se assemelha ao falar do adulto, é
terapêutico.
O trabalho na infância
Caçula de uma família de 10 filhos e pais lavradores, Carlos cresceu em meio a uma
dinâmica familiar pobre onde o trabalho, segundo o relato de sua história de vida, não era
imposto pelo pai, fazia porque gostava e se achava no seu dever.
Começou a trabalhar aos 8 ou 10 anos e neste período chegou a trabalhar de 7:00 às 00 na
plantação de arroz.
Carlos passou por trabalhos variados e segundo relatos próprios, de sua irmã e sobrinha:
● Na roça era o primeiro a sair de casa e o último a sair do trabalho, a maioria
trabalhava por uma quadra, Carlos fazia duas ou três;
● Em todos os empregos sempre foi muito dedicado;
● Quando trabalhava como garagista, (seu último emprego) tirou férias apenas quando
sua filha se casou;
● Percebe-se uma mudança de empregos por motivações diversas até o último
emprego. Há a mudança também de cidade até chegar na capital e se estabelecer;
● Percebe-se que Carlos é aberto ao aprendizado, assim como a se adaptar em
diferentes funções e tarefas.
Ressaltamos que Carlos, quando entra em contato com o trabalho, vivencia experiências
diferentes de seu contexto familiar, principalmente quando vai adentrando a fase da
puberdade onde segundo Freud (três ensaios sobre a teoria da sexualidade parte 3) o
indivíduo passará de uma fase auto erótica para a necessidade do outro para a sua
satisfação sexual. No trabalho, Carlos experimenta o brincar, o contato com outras pessoas,
conversas, novos aprendizados que lhe foram tolhidos no contexto escolar, conhecer novos
lugares, muda-se para a capital, casa-se, tem filhos e estabelece sua vida. Enfim, o que
Carlos vive no trabalho é diferente do que ele vivenciou em casa.
O retorno do recalcado
Hipótese
O que será de Carlos? Ele continua a se lembrar do relógio, mas já consegue perceber e
elaborar melhor seu real significa e o lugar que ocupa em sua vida. Sua última notícia é de
que seguia em tratamento e que decidiu fazer uma horta em sua casa. Ao final, segue uma
fala de Carlos, sobre o relógio, ele elabora um cadinho de seu sofrimento:
“ Não tem jeito de esquecer (...) Eu comi, vesti e trabalhei com ele. Por que ele veio fazer
isso comigo? Mas não foi ele. O culpado foi alguém ter exigido muito de mim. Não
precisava… Eu morria de medo de chamarem minha atenção (...) Não gosto de fazer nada
errado.”