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Disciplina:
Sigmund Freud
São Gonçalo, RJ –
Brasil Junho - 2023
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A Obra: Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade foi publicado por Freud em 1905, sendo
o texto onde o conceito de sexualidade é mais trabalhado. Ele sofre alterações até 1925. Esta
obra é considerada a segunda mais importante de Freud, depois de A Interpretação dos
Sonhos (1900), das 23 produzidas ao londo de sua carreira.
Freud, diante de todo um contexto cultural e social em sua época, desafia valores e conceitos
nesse livro. Indo contra a opinião popular e os preconceitos vigentes sobre a sexualidade.
Assim, ele estendeu a noção de sexualidade para além dos limites em que era mantida por
sua definição convencional; ele pontua em sua obra , que a sexualidade não inicia somente na
puberdade, mas na infância e que ela segue um desenvolvimento em fases sucessivas até
culminar na sexualidade adulta. Freud também estabelece uma ponte entre as formas
anormais de sexualidade e a sexualidade dita normal.
- Em 1908 entra a fase anal com um texto a parte dos 3 Ensaios chamado Caráter e
erotismo anal;
A fonte
É corporal, endógena;
O objeto
A coisa (real/fantasmática) por meio
da qual a pulsão é capaz de atingir
seu objetivo. O que há de mais
variável numa pulsão;
Quando Freud fala em Instinto (Instinkt), ele se refere ao comportamento animal, hereditário,
característico da espécie. Já o termo Pulsão (Trieb) coloca em evidência impulsão. Segundo
Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo
ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a
ele que a pulsão pode atingir sua meta. Processo dinâmico que consiste numa pressão ou
força (carga energética) que faz o indivíduo tender para um objetivo.
- Pulsões de Vida se classificam como uma grande categoria de pulsões que Freud se
utiliza para contrapor, em sua última teoria, às Pulsões de Morte. Eros é a pulsão libidinal,
que motiva o indivíduo a vida. Engloba todos os impulsos e comportamentos que motivam a
nossa sobrevivência sem abrir mão do prazer e contribuindo para a sensação de bem-estar.
A pulsão de vida faz com que o indivíduo sinta necessidade de satisfazer suas vontades, de
buscar o prazer e de satisfazer a libido, mas, para o indivíduo que vive em sociedade, sua
libido se concretiza através do instinto organizado. O instinto organizado, por sua vez, é a
consciência social implantada no indivíduo para viver coletivamente (ou seja, a ação do Ego
sobre o Id, conforme a 2ª tópica Freudiana*). O ego procura substituir o princípio de
prazer que reina sem restrições no Id pelo princípio de realidade.
Princípio do prazer — Toda a atividade psíquica tem por objetivo, proporcionar prazer e
evitar desprazer. O prazer está ligado à redução das quantidades de excitação e o
desprazer está relacionado ao aumento da excitação. O organismo tende sempre à
descarga das pulsões instintivas, regido pelo princípio do prazer.
A pressão: caráter ativo da pulsão, exigência de trabalho, fator dinâmico. Elemento motor
que impele o organismo para a ação específica responsável pela eliminação da tensão.
A fonte: é corporal, endógena. Uma excitação somática que ocorre num órgão ou parte do
corpo. Esta excitação é representada na vida mental por uma ideia e por um afeto.
O objeto: a coisa (real/fantasmática) por meio da qual a pulsão é capaz de atingir seu
objetivo. o que há de mais variável numa pulsão.
Neste ensaio, Freud critica os pré-conceitos populares e contesta a opinião dominante entre
os cientistas da época segundo a qual as perversões, resultam de uma degenerescência ou
são uma tara constitutiva. Considera que as perversões decorrem de um componente
adquirido da sexualidade humana, não sendo um componente inato ou constitutivo. Freud
propõe buscar a origem das perversões na infância, isto é, no desesenvolvimento
psicossexual. É inclusive muito questionado por afirmar que a perversão é a sexualidade da
criança.
Mas não a perversão como pensamos no senso comum: refere-se ao prazer que a criança
tinha no seu próprio corpo, fase autoerótica, que é perverso porque não visa a reprodução,
como o prazer na amamentação, o prazer de controlar as fezes, ou seja, o prazer nas
diversas zonas erógenas como a boca, ânus, a pele e etc.
Perverso é tudo aquilo que foge da norma – a norma seria o sexo para reprodução –
então a sexualidade infantil é perversa pois não visa a reprodução.
Aqui cabe elucidar que o conceito de sexualidade para Freud também diverge do senso
comum. Muitos autores criticaram a Freud por essa questão da sexualidade, mas ele não
planejou focar na sexualidade, mas no consultório Freud observou que as pessoas sempre
falavam e se remetiam às questões da sexualidade no sentido amplo. Como por exemplo a
escolha dos objetos de um paciente (escolha do sujeito A ou B). Freud entendia isso como
uma questão da sexualidade. Freud pensava a sexualidade como um todo. Ele nota que os
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sintomas dos seus pacientes estavam sempre ligados a sexualidade (de ordem psíquica).
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Freud fala no terceiro prefácio do livro, que o seu conceito de sexualidade tem relação com o
conceito platônico de amor, Eros, ou seja, que não tem nada a ver com questões como a
impotência, frigidez, etc. Mas fala dos relacionamentos dentro das questões psíquicas e
emocionais, dos conflitos, das faltas, dos sintomas e etc. Para Freud o normal tem a ver com
a genética e a reprodução e tudo que fica de fora dessa sexualidade é perversa. Até o olhar
de um casal um pelo outro, o beijo, o toque, fazem parte de uma preliminar que vai levar ao
ato sexual, a sexualidade dita normal.
A noção de apoio da PULSÃO
A fome é para a pulsão de nutrição como a libido para a pulsão sexual. Objeto (outro sexo) e
finalidade (reprodução) - objeto sexual a pessoa de quem provém a atração sexual - alvo
sexual a ação para a qual a pulsão impele. Perversões: desvios em ambos, o objeto sexual
e o alvo sexual.
Desvios sexuais em relação ao objeto (pessoa pela qual emana uma atração sexual):
autoerotismo, pedofilia, gerontofilia, incesto, homossexualidade, zoofilia, fetichismo,
necrofilia, travestismo, etc.
Desvios sexuais em relação à meta (objetivo sexual - ato que leva à pulsão): voyeurismo,
exibicionismo, violação, sadismo, masoquismo, dom-juanismo etc.
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AS PULSÕES PARCIAIS
Freud aborda em seguida a questão dos "desvios em relação à meta (objetivo) sexual“:
nas perversões a pulsão sexual se mantém desintegrada em vários componentes chamados
de "pulsões parciais", enquanto na sexualidade normal as pulsões parciais se reúnem e se
colocam a serviço da maturidade genital. As perversões se baseiam, então, na dominação
de uma pulsão parcial de origem infantil.Constituem fixações em metas sexuais preliminares.
PERVERSÃO E NORMALIDADE
Freud chegou a duas conclusões que chocaram particularmente o público:
⮚ A neurose é por assim dizer o negativo da perversão. Metáfora tirada da fotografia que
significa que o que é agido pelos perversos através de seus comportamentos sexuais
aberrantes, os neuróticos imaginam em suas fantasias e em seus sonhos.
AS INVERSÕES (HOMOSSEXUALIDADE)
Há homens cujo objeto sexual não é a mulher, mas o homem, e mulheres para quem não o
homem, e sim a mulher, representa o objeto sexual. Diz-se dessas pessoas que são “de
sexo contrário”, ou melhor, “invertidas”, e chama-se o fato de inversão.
Tipos de “invertidos”:
a) absolutos (homossexuais);
b) bissexuali
dade c )
ocasionais.
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Particularmente interessantes são os casos em que a libido se altera no sentido da inversão
depois de se ter uma experiência penosa com o objeto sexual normal.
No que se refere às inversões (homossexualidade), Freud se pergunta: Quais são os fatores
que levam a escolha de objeto homossexual ou heterossexual?
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Freud resolve a questão recorrendo à bissexualidade, predisposição universal de todo ser
humano.
Freud foi o primeiro a aplicar essa noção ao nível psicológico, postulando que tendências
masculinas e tendências femininas coexistem desde a infância em todo indivíduo, de forma
que a escolha de objeto definitivo depende da predominância de uma tendência em relação
a outra. “Era sugestivo transpor essa concepção para o campo psíquico e explicar a
inversão em todas as suas variedades como a expressão de um hermafroditismo psíquico.”
É bem sabido que em todos os períodos houve, como ainda há, pessoas
que podem tomar como objetos sexuais membros de seu próprio sexo, bem
como do sexo oposto, sem que uma das inclinaçõesinterfira na outra.
Chamamos tais pessoas de bissexuais e aceitamos sua existência sem
sentir muita surpresa sobre elas. Viemos a saber, contudo, que todo ser
humano é bissexual nesse sentido e que sua libido se distribui, quer de
maneira manifesta, quer de maneira latente,por objetos de ambos os sexos.
Mas ficamos impressionados pelo ponto seguinte. Ao passo que na primeira
classe de pessoas as duastendências prosseguem juntas sem se chocarem,
na segunda classe,mais numerosa, elas se encontram num estado de
conflito irreconciliável. A heterossexualidade de um homem não se
conformará com nenhuma homossexualidade e vice-versa. Se a primeira é
a mais forte, ela obtém êxito em manter a segunda latente e em afastá-la,
pela força, da satisfação na realidade. Por outro lado, não existe maior
perigo para a função heterossexual de um homem do que o de ser
perturbada por sua homossexualidade latente. (Análise Terminável e
Interminável,1937)
Freud crítica essa percepção, pois vários fatores permitem ver que os invertidos não são
degenerados nesse sentido legítimo da palavra: Encontra-se a inversão em pessoas que
não exibem nenhum outro desvio grave da norma; do mesmo modo, encontramo-la em
pessoas cuja eficiência não está prejudicada e que inclusive se destacam por um
desenvolvimento intelectual e uma cultura ética particularmente elevados.
De modo algum se pode chamar de uniforme a meta sexual dos invertidos Nos homens, a
relação sexual “per anum” não coincide em absoluto com a inversão; a masturbação é com
igual frequência seu alvo exclusivo, a ponto de ser um mero extravasamento da emoção –
são aqui ainda mais comuns do que no amor heterossexual. Também entre as mulheres
invertidas são múltiplos os alvos sexuais,parecendo privilegiado entre elas o contato com a
mucosa bucal.
DESVIOS COM RESPEITO AO ALVO SEXUAL - Considera-se como alvo sexual normal a
união dos genitais no ato designado como coito, que leva à descarga da tensão sexual e à
extinção temporária da pulsão sexual (uma satisfação análoga à saciação da fome).
SADISMO E MASOQUISMO - A inclinação a infligir dor ao objeto sexual, bem como sua
contrapartida, que são as mais frequentes e significativas de todas as perversões, foram
denominadas por Krafft-Ebing, em formas ativa e passiva, de “sadismo” (ativo)e
“masoquismo” (passivo).
O sadismo, suas raízes são fáceis de apontar nas pessoas normais. A sexualidade
damaioria dos varões exibe uma mescla de agressão, de inclinação a subjugar, cuja
importância biológica talvez resida na necessidade de vencer a resistência do objeto sexual
de outra maneira que não mediante o ato de cortejar. Assim, o sadismo
DUAS CONCLUSÕES
1) A pulsão sexual tem de lutar contra certas forças anímicas que funcionam como
resistências, destacando-se entre elas com máxima clareza a vergonha e o asco.
2) A própria pulsão sexual não seja uma coisa simples, mas reúna componentes que
voltam a separar-se nas perversões. A clínica nos alertaria, portanto, para a existência de
fusões que perderiam sua expressão como tais na conduta normal uniforme.
⮚ Homossexualidade masculina - Vínculo intenso entre filho e mãe. Filho se identifica com
mãe, transforma-se nela e busca objeto capaz de substituí-lo e a quem possa amar
(1915)
No segundo ensaio, Freud abala ainda mais a crença popular, segundo a qual a pulsão
sexual está ausente durante a infância e aparece apenas na puberdade, como também os
estudos científicos que ignoravam a existência de uma sexualidade na criança.
Ele atribui essa ignorância ao que chama de "amnésia infantil", isto é, ao fato de que os
adultos têm pouca ou nenhuma lembrança de seus primeiros anos de infância. Para Freud,
tanto o esquecimento da amnésia infantil quanto o esquecimento da amnésia histérica têm
como causa o recalque.
Freud defendeu ser a infância um dos períodos mais importantes para os indivíduos,por ser
no decorrer desta que as experiências vividas determinavam a existência de adultos
possivelmente neuróticos. Ele afirmava que as experiências negativas que alguém vive
nesta época da vida podem se tornar verdadeiros traumas na vida adulta.
Por conta disso, Freud estudou como a forma que as pessoas lidam com a energia sexual e
a libido durante os anos de infância poderiam causar marcas futuras na vida adulta. Para
ele, uma criança passa por três fases de descoberta, seguidas de outras duas até a sua vida
adulta, são elas:
Oral (0 até 1 ano): quando o prazer chega pela boca, por meio da sucção;
Anal (2 a 3 anos): aprende a controlar os esfíncteres, sentindo satisfação;
Fálica (3 a 5 anos): descobre que, ao tocar seus órgãos genitais, sente
prazer; Latência (5 anos até a puberdade);
Genital (puberdade e vida adulta).
Fase Oral ( 0 a 1 ano de idade) - zona bucal como zona erógena ou fonte corporal
pulsional. Geralmente, dá-se esse nome de "fase oral" à fase de organização libidinal que
vai do nascimento ao desmame.
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Nesta fase, o interesse primário está concentrado na boca e o que ela pode realizar, assim o
levar tudo à boca e o sugar adquirem a maior importância. Um pouco mais adiante, quando
já dispõe de dentes, o morder também passa a ser uma grande expressão. Os sons e os
movimentos da boca passam a ser altamente gratificantes, como cuspir, balbuciar, babar etc.
Nesta fase a criança é narcisista e os prazeres são autoeróticos. Ela se considera o centro
do mundo. Mais tarde ela descobre, à custa de muitas frustrações, que o mundo não está
sob seu controle. Ela aprende as limitações do próprio corpo e que é uma entidade
separada, onde surge o conceito de“ego original”.
São da fase oral os elementos básicos de muitos impulsos parciais que poderão se
manifestar em uma fase qualquer, inclusive na adulta, como o beber, o falar, o comerem
excesso, o agredir com palavras (correspondendo ao morder), como xingar, humilhar com
palavras, fazer gozações, ser sarcástico, ser passivamente protegido (o mesmo que ser
alimentado como uma criança), a frugalidade no comer (correspondendo a relutância em
falar).
A separação da mãe, no momento do nascimento, instaura uma nova relação mãe - bebê,
relação dependente e praticamente simbiótica, fusional. O principal mediador da relação, a
partir do nascimento, é a função alimentar ou nutricional. A essa função relaciona-se um
prazer que o bebê experimenta no momento de ser nutrido. E essa satisfação libidinal,
apoiada sobre a necessidade fisiológica de ser nutrido, vai separar-se desta. O bebê
descobre que a excitação pela boca e pelos lábios proporciona um prazer em si, ainda que
não seja acompanhada de nutrição (chupar os lábios, sucção do polegar, etc.).
A literatura contém muitas referências que sugerem a existência de uma pulsão de mamar,
que operaria independentemente do processo da nutrição. Por exemplo, ultrassonografias
mostram que desde o período intra-uterino o feto suga o polegar.
O objetivo pulsional - Pode-se dizer que ele é duplo: por um lado, é a estimulação
agradável da zona erógena bucal, prazer que é autoerótico. Por outro lado, é o desejo de
incorporar os objetos, desejo específico da oralidade apesar do emprego do termo"objeto",
não se confere a este o verdadeiro estatuto de objeto exterior. O objeto quase que não é
senão uma parte do sujeito (incorporado ou engolido), a criança leva à boca tudo o que lhe
interessa.
A esses fins de incorporação correspondem medos e angústias orais específicos, tais como: o
medo de ser comido que se vê reviver nos sonhos e fantasias.
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A Fase Oral divide-se em duas subfases:
(De 0 a 6 meses): fase oral precoce: Prevalência da sucção, que tende à incorporação, à
assimilação oral das excitações oriundas do exterior, ou seja, de um "objeto" sentido como
bom e que, teoricamente, não é destruído; há satisfação autoerótica de compensação,
sobretudo nas frustrações (sucção masturbatória do polegar, pelo simples prazer de chupar)
- Ausência de amor e ódio propriamente ditos, com o psiquismo estando, então, livre
de ambivalência afetiva.
A fase oral sádica (de 6 a 12 meses): é marcada pelo surgimento dos dentes, da mordida
e dos mordiscamentos dos objetos. inicialmente o seio materno, nessa época, o bebê
responde a uma frustração mordendo, ele exprime, ao morder, uma pulsão agressiva. A
incorporação tornou-se sádica, ou seja. destrutiva; o objeto incorporado, na vivência do
bebê, é atacado, mutilado, absorvido e rejeitado, no sentido da destruição do objeto. A
relação ambivalente é concomitante à segunda parte da fase oral, quando do surgimento
das pulsões sádicas.
O desmame é frequentemente um trauma que é vivido como uma punição / sobre o modo
da frustração – conseqüência da agressão. É o conflito relacional específico quese liga à
resolução da fase oral.
Fonte pulsional corporal ou zona erógena parcial. A mucosa ano-retal, mais geralmente,
toda a mucosa da zona intestinal de excreção, investida de uma libido difusa a todo o interior
(e não apenas ligado aos orifícios).
O Objeto da pulsão anal - ocorre uma complexidade crescente do jogo pulsional. A mãe, que
permanece sendo o objeto privilegiado das pulsões da criança, tornou-se uma pessoa
inteira. A mãe é um objeto que estará sobretudo em questão, para a criança manipular,
como ela "manipula" suas matérias fecais
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.
Outro objeto na fase anal é o conteúdo intestinal ou cilindro fecal. Ele é, de início, um
excitante direto da erogeneidade da zona corporal. O cilindro fecal é considerado pela
criança como uma parte de seu próprio corpo, que ela pode – por uma “decisão voluntária” -
conservar no interior de sí, ou expulsar, dele se separando. O cilindro fecal representa para
a criança uma moeda de troca entre ela mesma e os adultos. Freud estabelece as
equivalências entre as fezes, o presente que se oferece ou que se recusa.
Objetivo pulsional - Expulsar a produção intestinal, não é o único ato anal ao qual está
ligado um prazer, retardar essa defecação, isto é, reter suas matérias ao menos durante um
certo tempo, é, para a criança, de um prazer erógeno indiscutível.
- por um lado, na origem, o próprio ato de expulsão está em causa, as matérias fecais
sendo consideradas como objetos que são destruídos e pelos quais a criança não
experimenta nenhuma consideração;
- por outro lado, os fatores sociais desempenham mais tarde um papel, pois a criança
pode utilizar sua faculdade de expulsão ou reter as fezes para desafiar os pais, que
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procuram lhe ensinar a necessidade da limpeza.
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Relação de objeto - É no modelo das relações mantidas pela criança com suas matérias
fecais, e em função dos conflitos suscitados pela educação para a limpeza, que o sujeito vai
orientar sua relação de objeto. Características específicas = Ambivalência, é aqui
fisiologicamente fundada na atitude contraditória face às matérias fecais, que serve de
modelo às relações com o outro.
Assim, os objetos: mãe, pessoa no entorno, etc - poderão ser: recusados, expulsos e por
isso mesmo destruídos; introjetados, isto é, guardados como objetos de apropriação, retidos
como uma possessão preciosa e amada.
Fase fálica - instaura uma relativa unificação das pulsões parciais sob o primado dos órgãos
e das fantasias genitais. Seja pela masturbação, seja por meio de suas investigações, a
criança irá pouco a pouco tomar consciência da realidade anatômica do pênis, e começará a
se fazer perguntas sobre a existência ou a não-existência desse atributo corporal nela ou
nos outros.
Nesse momento, o pênis não é ainda percebido como um órgão genital, mas sim como um
órgão de potência ou de completude. A criança não faz a diferença entre um homem em
relação a uma mulher, mas entre a presença ou a ausência de um só termo, o falo.
A menina: trata-se de uma verdadeira e profunda ferída narcísica que traz consigo um
sentimento de inferioridade no plano corporal e genital, ainda por cima complicado e
reforçado por fatores socioculturais.
Não há necessidade, em absoluto, da intervenção dos adultos para que a criança "sofra" de
uma angústia de castração, face à qual ela deve aprender a se defender. A princípio, a
criança vai rejeitar esse mal-estar ou essa angústia, defender-se dela. Pensará que aquilo
crescerá.
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Complexo de Édipo
No menino: encontramos no menino a seguinte sequência:
- Desejo edipiano.
- Angústia de castração e ameaça fantasmática de castração pelo pai.
O Complexo de Édipo é superado, ao mesmo tempo, pela renúncia à mãe (objeto incestuoso) e
identificação com o pai.
Final abrupto do Édipo e entrada na latência.
Nenhuma recusa pode apagar nela a falta real, que não é vivida como a ameaça de uma
castração imaginária, mas como um fato fisiológico. Forçada, mesmo assim, a aceitar sua
falta (incompletude, inferioridade), a menina vai recriminar sua mãe e se aproximar do pai,
surge uma defesa de natureza edipiana: o desejo de ter um filho, que irá substituir o desejo
de ter um pênis. Com esse objetivo a menina escolhe o pai como objeto de amor.
O dilema se coloca novamente entre a relação materna objetiva pré-genital e dual, porum
lado, e, por outro, a relação objetal e genital com os homens e mulheres que vão substituir
esses pais. Como regra geral e de maneira característica, o jovem indivíduo vai isolar-se e
se comportar como um estranho em relação à sua família; é a revolta pubertária contra os
pais, a autoridade ou seus substitutos simbólicos.
Na puberdade, a libido que estava ligada aos pais se deslocará para uma outra pessoa,outro
objeto. Mas o não desligamento, ou seja, a fixação no pai ou na mãe pode levar a pessoa a
desenvolver uma neurose, uma fixação na imagem dos pais e não conseguir ter um
relacionamento com uma outra pessoa. Por exemplo: o homem pode desejar ter uma mulher
para uma relação obscena e outra para uma relação mais pura, e não consegue se
desvencilhar dessas duas imagens pois não conseguiu se desvencilhar da imagem em que
se fixou no Complexo de Édipo. Também pode se encontrar presente o deslocamento onde
o indivíduo busca inconscientemente no objeto sexual coisas semelhantes dos seus pais,
como cor de cabelo, tom de voz, tipo de corpo, mesma profissão, etc.
O argumento central dessa obra freudiana é que existe a sexualidade infantil e essa
sexualidade pode ter pontos de fixação e se tornar uma sexualidade perversa, também pode
se desenvolver em sintoma posterior a partir de um recalcamento e o indivíduo se torna um
sujeito neurótico; e numa terceira possibilidade pode se tornar numa sexualidade normal.
Um dos pontos principais da teoria da sexualidade é sabermos que a neurose é o
negativo da perversão. É o motivo pelo qual Freud estuda a perversão na infância. Antes
ele data na puberdade as neuroses, mas depois ele regride no tempo em relação a isso.
Freud diz que a neurose é o que nega a perversão, é como uma substituição dessa
perversão.
Três Ensaios da Teoria da Sexualidade, como o próprio título diz, não é um texto fechado e
conclusivo, é um ensaio, um esboço de muitas coisas que Freud vai trabalhar depois. Freud
sempre reformulava seus conceitos e modificava através das experiências que ele tinha na
clínica com seus pacientes.
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Referências
GLOSSÁRIO:
Bissexualidade — Noção primeiramente descrita por Wilhelm Fliess e depois assumida e desenvolvida por
Freud, que inclui aspectos genéticos, embriológicos, anatômicos e psíquicos, segundo os quais todos os
indivíduos, sejam homens ou mulheres, mantém vestígios do sexo oposto, embora, no curso de sua evolução, se
orientem para uma predominância monossexual. Dessas predisposições e das decorrentes identificações que o
indivíduo assume no seu desenvolvimento, define- se a sua heterossexualidade ou homossexualidade,
permanecendo, contudo, sempre presentes aspectos secundários relacionados à sua predisposição bissexual
inata.
Complexo de Castração — Ocorre em resposta aos afetos contidos na situação psíquica do complexo de édipo.
Os meninos temem, na fantasia, a castração como realização de uma ameaça paterna, pela rivalidade e
hostilidade que eles próprios sentem em relação ao pai e pela culpa secundária aos desejos sexuais que sentem
pela mãe. Daí decorre uma intensa "angústia de castração" que introduz o menino nomundo das leis e das
proibições, abrindo assim o caminho para o seudesenvolvimento socializado. Na menina, a ausência do pênis é
sentida como um dano sofrido, uma falta importante que ela procura negar, compensar ou reparar.
Complexo de Édipo — Édipo, segundo a mitologia grega narrada por Sófocles (Édipo Rei), estava amaldiçoado e
deveria vir a matar seu próprio pai e casar com sua própria mãe. Ao descrever a relação da criança (entre os três
e os cinco anos) com seus pais,na fase fálica do desenvolvimento sexual infantil, Freud percebeu a presença de
desejos amorosos e hostis, contraditórios, porém complementares, dirigidos pela criança a seus genitores.
Genericamente, predomina o amor pelo genitor do sexo oposto e a raiva e rivalidade pelo genitor do mesmo
sexo. A inviabilidade de concretizar esses desejos libidinosos incestuosos e agressivos permite a repressão dos
mesmos, que assim se tornam inconscientes acompanhando, contudo, a pessoa por toda a vida. O conceito
evoluiu e ganhou uma expressão importante e complexa dentro da psicanálise, sendo a forma acima descrita a
mais simplificada possível.
Instinto — Na presente tradução das "Obras Completas" de Freud, o uso do termo instinto equivale a impulso
instintivo ou pulsão (do alemão trieb); algumas vezes, na edição original alemã, aparece a palavra instinkt, no
sentido clássico, correspondente a um comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia
de um indivíduo para outro. Esse fato pode acarretar um risco de confusão entre a teoria freudiana das pulsões e
as concepções psicológicas do instinto animal, distorcendo e anulando a originalidade da concepção freudiana,
particularmente a tese do caráter indeterminado da pulsão e a variabilidade de seus alvos (objetos), o que explica
o caráter inacabado e indeterminado do ser humano.
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Neurose — (palavra grega, relativa a "nervo") — Afecção psicogênica na qual os sintomas são a expressão
simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do indivíduo e constituem compromissos
entre o desejo e a defesa. Há diferentes tipos de neuroses, entre as quais a neurose obsessiva, a histeria e a
neurose fóbica.
Objeto — Em Psicanálise, é o alvo, o objetivo para o qual se dirige um impulso ou pulsão, seja sexual ou
agressivo, com a finalidade de obter uma satisfação. O objeto pode ser uma pessoa, parte de uma pessoa
(objeto parcial), um objeto real mesmo ou um objeto fantasiado. A capacidade de esclarecer relações objetais e
particularmente amor objetal com outra pessoa evidencia um importante desenvolvimento da personalidade de
um indivíduo.
Pulsão (impulso) — Processo dinâmico que implica uma pressão ou força (carga energética, fator de movimento)
que faz tender o organismo para um alvo ou objeto. Esse impulso ou pulsão tem sua origem numa excitação
corporal, sua meta é resolver a tensão presente na fonte pulsional e para isso dirige-se a um objeto, graças ao
qual obtém a satisfação. O conceito de pulsão, segundo Freud, é "um conceito limite entre o psíquico e o
somático".
Sexualidade — No significado que Freud lhe confere, relativo ao seu efeito no desenvolvimento psíquico e
responsabilidade no aparecimento da neurose, constitui um dos objetos centrais da investigação da psicanálise.
Em psicanálise, a sexualidade é inseparável do descobrimento do inconsciente e dos processos que dependem
dele. Não designa apenas as atividades e o prazer que dependem do aparelho genital, mastoda uma série de
excitações e de atividades presentes desde a infância que proporcionam prazer e que se encontram presentes
em todas as formas de amor. Nas fases de desenvolvimento infantil, a sexualidade está presente e domina
determinadas zonas corporais (a boca, o ânus, o pênis ou a vagina), dizendo-se neste caso sexualidade oral,
anal, fálica ou genital. Fantasias sexuais estão presentes na criança desde a tenra infância.
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