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DISCIPLINA: TEORIA PSICANALÍTICA.

PROFESSOR: FLÁVIO R. PROVAZI

5a Aula:

Tema de discussão:

A teoria da sexualidade:

 As zonas erógenas e as pulsões.


 A evolução da libido.

REFERÊNCIAS:

FREUD, S. Cinco Lições de Psicanálise: Quarta Lição (1912). In: Obras Completas de
S. Freud (volume XI), Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda.

FREUD, S. A Pulsão e seus destinos (1915). In: Obras Completas de S. Freud (volume
XIV), Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda.

FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). In: Obras


Completas de S. Freud (volume VII), Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda.

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“o sol, o ar em nosso mundo civilizado não são favoráveis à atividade sexual...


Porque não dizer simplesmente, contentando-vos apenas com a descrição
fisiológica, que já no lactente são observadas atividades, como a sucção e a
retenção de excrementos, que nos mostram que a criança visa o prazer do
órgão. Existe então uma sexualidade infantil. A infância não é, ao contrário, o
período da vida marcado pela ausência do instinto sexual? Não meus senhores.
Não é verdade que certamente que o instinto sexual, na puberdade, entre o
indivíduo que segundo o evangelho, os demônios nos porcos. A criança possui,
desde o princípio, o instinto e as atividades sexuais. Ela os traz consigo para o
mundo, e deles provêm, através de uma evolução rica de etapas, a chamada
sexualidade normal do adulto. Não são difíceis de observar as manifestações da
atividade sexual infantil; ao contrário, para deixá-las passar desapercebidas ou
incompreendidas é que é preciso certa arte”. (FREUD, S. pág. 53)

Em 1905, são publicados os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Freud


cria assim a teoria da sexualidade infantil, na qual está também incluída a teoria
das pulsões. Neste constructo teórico, Freud refere a sexualidade humana não
baseada em instintos como nos animais e introduz o conceito de pulsão” trieb”.
A pulsão possui fonte de origem corporal, particularmente ligadas as membranas
e contato com o objeto, como exemplo, a satisfação através dos lábios, ânus, do
olhar, da audição. A pulsão encontra no objeto a sua meta, que é a satisfação.
A pulsão, é inata, constante, instintiva e apreendida, é desde se inclinar para o
alimento a partir de reações fisiológicas ou de desenvolver dependência em
alguma substância. Podemos associar a origem da pulsão com as ondas
cerebrais, que são atividades rítmicas e contínuas do sistema nervoso central,
essas ondas brotam da parte mais primitiva do cérebro, região relacionada à
emoção e a soma. Essas pulsões constantemente se transformam em
representações psíquicas, imagens, ideias, necessidades, fantasias etc. Como
Freud disse, se pararmos de pensar é morte cerebral.

A pulsão tem sua fonte num estado de tensão corporal e a meta do


aparelho/organismo1 é eliminar este estado de tensão, removê-lo para retornar
ao seu estado anterior. Tudo aquilo que remove uma necessidade promove uma
satisfação.

Conforme Freud descreveu, toda pulsão implica a existência de quatro fatores


que lhe são imanentes: uma fonte, uma força, uma finalidade e um objeto. Além
destes, pode-se depreender dos trabalhos de Freud mais essas características:
o deslocamento da pulsão de uma zona corporal para outra, o intercâmbio entre
as distintas pulsões, a compulsão à repetição e as transformações das pulsões.

A fonte provém das excitações corporais, ditadas pelas necessidades de


sobrevivência. A força determina o aspecto quantitativo da energia pulsional, ou
seja, representa o importante aspecto “econômico” do psiquismo, conforme o
modelo energético de Freud acerca do funcionamento psíquico. A finalidade,
primariamente, é a descarga da excitação para conseguir o retorno a um estado
de equilíbrio psíquico, segundo o “princípio da constância” ou o da
“homeostasia”, sendo que ambos são equivalentes à busca do “princípio de
Nirvana”, que alude ao fato de o organismo tentar reproduzir o idilíaco estado
intra-uterino. O objeto – bastante variável e mutável – é aquele que seja capaz
de satisfazer e apaziguar o estado de tensão interna oriunda das excitações do
corpo, ou que, no mínimo, sirva-lhe como mero depósito de descarga.

O conceito de investimento pulsional – ou seja, a catéxis- alude ao fato de que


uma certa quantidade de energia psíquica, a qual também pode manifestar-se
por um “interesse do ego”, esteja ligada a um objeto, tanto externo como ao seu
representante interno, numa tentativa de reencontrar as experiências de
satisfação que lhe estejam correlacionadas. Para cada finalidade pulsional
corresponde um determinado objeto. Um exemplo simples disto é a fome, cuja
finalidade é a sua satisfação, e cujo objeto é o alimento, e, na condição do bebê,

1
PRINCÍPIO DE INÉRCIA: Princípio de funcionamento do sistema neurônico postulado por Freud no
Projeto para uma psicologia científica (Entwurí ciner Psychoiogie, 1895): os neurônios tendem a evacuar
completamente as quantidades de energia que recebem. PRINCÍPIO DE CONSTÂNCIA: Princípio
enunciado por Freud, segundo o qual o aparelho psíquico tende a manter a nível tão baixo ou, pelo
menos, tão constante quanto possível a quantidade de excitação que contém. A constância é obtida, por
um lado, pela descarga da energia já presente e, por outro, pela evitação do que poderia aumentar a
quantidade de excitação e pela defesa contra esse aumento.
isso corresponde à necessidade do leite, ou seja, do objeto parcial “seio”. No
caso em que o objeto do investimento pulsional seja o próprio indivíduo, já
estamos falando de narcisismo.

As transformações das pulsões podem ser depreendidas de muitas concepções


de Freud, como o fenômeno da sublimação, dos mecanismos de defesa do ego,
como a formação reativa entre outros “destinos das pulsões”.2

Freud concebeu a pulsão humana como origem do conflito psíquico. Nesse


sentido, Freud considerava a luta entre a Pulsão de autoconservação
(preservação de si, do eu, da totalidade) em oposição as pulsões sexuais (oral,
anal, fálico, genital etc.).

Partindo do conceito da pulsão Freud descreve desenvolvimento da sexualidade


em fases. Cada fase da sexualidade infantil se caracteriza por autoerotismo, pela
dependência de uma função somática e predominância de uma zona erógena3.
O sexual não é redutível ao genital assim como o psíquico não se reduz a
consciência.

Freud propôs a surpreendente afirmativa de que os fundamentos básicos da


personalidade de um individuo são estabelecidos até a tenra idade de 5 anos.
Para aclamar melhor esses primeiros anos cruciais, ele formulou a teoria de
estágios de desenvolvimento. Enfatizou o quão precocemente as crianças se
ocupam com suas necessidades sexuais, imaturas, mas poderosas (usou o
termo sexual com sentido universal referindo-se às muitas necessidades de
prazer físico). Segundo Freud, essas necessidades sexuais mudam de foco
conforme as crianças passam de um estágio de desenvolvimento para outro.
Inclusive os nomes dos estágios (oral, anal, genital) são baseados em onde as
crianças concentram sua energia sexual durante dado período. Assim os
estágios psicossexuais são períodos de desenvolvimento com foco sexual
característico, que deixam suas marcas na personalidade adulta.

Estágio Idades Aproximadas Foco erótico Principais tarefas e experiências


Oral 0-1 (chupar, morder) Boca Desmame (do peito e da
mamadeira)

2
Destinos das Pulsões -Sublimação: Impulsos indesejados são redirecionados para atividades socialmente aceitáveis
e culturalmente valorizadas, como arte, esportes ou realizações intelectuais. Repressão: Mecanismo central que
mantém pensamentos, desejos ou memórias inconscientes, fora da consciência para evitar ansiedade.
Racionalização: Justificação lógica de comportamentos ou pensamentos contraditórios ou inaceitáveis para reduzir a
ansiedade.Projeção: Atribuição de pensamentos, desejos ou sentimentos indesejados em outras pessoas para evitar
o reconhecimento deles em si mesmo. Deslocamento: Redirecionamento de impulsos emocionais de um objeto ou
pessoa para outro menos ameaçador ou mais aceitável. Formação Reativa: Adoção de comportamentos ou
sentimentos opostos aos desejos ou impulsos verdadeiros, geralmente exagerando a sua expressão. Negação: Recusa
em aceitar a realidade ou verdade de uma situação para reduzir a ansiedade.

3 Zona erógena: qualquer região do corpo suscetível de se tornar sede de excitação sexual. Misto de necessidade
fisiológica, fantasia e zona de prazer.
Anal 2-3 Ânus (expulsão ou retenção de desses) Treinamento de usar o banheiro
Fálico 4-5 Genitais Identificação com modelos de
papéis, adultos; superação da
crise edípica
Latência 6-12 Nenhum (reprimido sexualmente) Expansão de contatos sociais
Genital Puberdade em diante Genitais (ter intimidade sexual Estabelecimento de
relacionamentos íntimos,
contribuição para sociedade por
meio de trabalho

Freud teorizou que cada um dos estágios psicossexuais possui seus desafios ou
tarefas especificas. O modo como se lida com tais desafios supostamente molda
a personalidade. A noção de fixação é muito importante neste processo. A
fixação envolve uma impossibilidade de progredir ao estágio seguinte conforme
seria esperado. Basicamente interrompe o desenvolvimento emocional de uma
criança por certo tempo. Ela pode ser ocasionada devido a excessiva gratificação
de necessidades psicossexuais em determinado estágio ou à excessiva
frustração das necessidades. De qualquer forma, os remanescentes das
fixações na infância afetam a personalidade adulta. A fixação geralmente implica
uma ênfase acentuada nas necessidades psicossexuais mais importantes
daquele estágio fixado. Freud descreveu uma sequência de cinco estágios e
como a fixação pode ocorrer.

Estágio oral: ocorre no primeiro ano de vida. Durante esse período, a principal
fonte de estimulação erótica é a boca (no morder, no sugar, mascar e assim por
diante). Na visão de Freud, a maneira como se lida com as experiências de
alimentação da criança é crucial para seu desenvolvimento subsequente. Ele
atribuía considerável importância à maneira como se dava o desmame da
criança, seja no peito ou mamadeira. Para Freud a fixação no estágio oral pode
estabelecer a base para o comer ou fumar obsessivos no decorrer da vida (entre
várias outras coisas).

A boca é a primeira parte do corpo que a criança irá a prender a controlar,


portanto, ela direciona toda a libido na boca, então tudo que o bebê faz com a
boca, comer, morder, beber, sugar, gera prazer / satisfação, então mesmo
alimentado, ele desejará sugar objetos, por causa da pulsão, a fome já foi
satisfeita organicamente, mas a pulsão que é uma necessidade orgânica e
psíquica nunca saciada. As atividades da criança giram em atividades que lhe
proporcionam prazer oral. Nessa fase, ocorre a primeira experiência de falta,
sendo então suprida pela alimentação. Essa experiência vai servir de modelo
para a organização do aparelho psíquico na forma como este vai definir e buscar
os objetos necessários para saciar suas necessidades, nessa fase ocorre
também a formação do ego. A meta sexual consiste na incorporação do objeto,
paradigma do que mais tarde, sob a forma da identificação, desempenha um
importante papel psíquico.

Estágio anal: Durante o segundo ano de vida, as crianças obtêm prazer erótico
com o movimento do intestino, seja através da expulsão ou da retenção das
fezes. O evento crucial desse período é o treinamento de usar o banheiro, que
representa o primeiro esforço sistemático da sociedade em regular as
necessidades biológicas da criança. Um treinamento altamente punitivo pode,
por exemplo, ocasionar um sentimento latente de hostilidade com relação ao
treinador.

Com o desenvolvimento muscular a criança, ela passa a ter mais autonomia e


maior capacidade de exercer sua vontade. O controle dos esfíncteres vai
possibilitar uma relação ampla de controle de si e das relações entre retenção e
expulsão. Esse controle também é atravessado pelos hábitos de higiene e
normas sociais. O ânus é então o órgão predominantemente associado ao
prazer, as relações de dominação, controle, retenção ou doação se desenvolvem
fortemente nesta fase. Nessa fase ocorre a divisão de opostos que atravessam
a vida social, mas ainda não podemos chamá-la de masculino e feminino e sim
ativo e passivo.

“As dificuldades da criança residem no dilema que se impõe: ou ela continua


apreciando sua criação (fezes) ou rende-se às demandas educacionais e
sociais” (FREUD 1905).

Estágio fálico: Entre 3 e 5 anos, os genitais tornam foco de energia erótica da


criança, principalmente pela autoestimulação. Durante este estágio decisivo,
emerge o complexo de Édipo, ou seja, os meninos desenvolvem uma preferência
com inclinações em relação à mãe. Sentem também hostilidade com relação ao
pai, a quem veem como competidor pela afeição da mãe. Da mesma forma que
a menina desenvolve uma ligação especial com o pai.

Nessa fase a criança já está relativamente desenvolvida e as pulsões que


estavam organizadas primariamente nas funções digestivas (boca e ânus) vão
se concentrar na zona genital, sendo somente o pênis percebido como órgão
genital, nessa fase a oposição dos sexos é equivalente à oposição fálico
castrado ou atrofiado.

A fase fálica corresponde ao momento culminante e ao declínio do complexo de


Édipo; o complexo de castração é aqui predominante fase marcada pela relação
de ciúmes entre os pais.

Estágio de Latência: Dos 5 anos, aproximadamente, até a puberdade, a


sexualidade da criança é recalcada, torna-se latente. Eventos importantes
durante este estágio concentram-se na expansão de contatos sociais além da
família imediata. Devido as regras sociais internalizadas na fase anterior é um
período calmo no desenvolvimento sexual, as relações com os objetos tornam-
se não sexualizadas. Essa energia sexual passa a se expressar através de das
relações de objetos e dos sentimentos de ternura, na construção de laços de
amizade, sentimentos de pudor/ repugnância e de aspirações morais.
Estágio genital: com o advento da puberdade, a satisfação sexual passa a ser
através da sexualidade dirigida a um parceiro. Temos então uma organização da
sexualidade que deverá abarcar tanto os desejos narcísicos (de si) do sujeito
quanto as imposições colocadas pela castração (frustração). O sujeito deve
conseguir amar, de estabelecer relações sociais e sexuais satisfatórias com
outras pessoas, como também trabalhar, ou seja, usar energia para transformar
o meio e para obter satisfação de suas necessidades. Nessa fase a energia
sexual é normalmente canalizada para os objetos, e não a si mesmo, como no
estágio anterior.

Em grande parte, a personalidade do individuo se forma nas fases do


desenvolvimento psicossexual. É nesse período em que se constroem as formas
de como o ego vai lidar com os impulsos libidinais, como o sujeito busca
solucionar as demandas provocada pelos impulsos e as formas de se defender
das pressões exercidas pelo mundo externo. O desenvolvimento dos laços
afetivos e perspectivas morais, bem como o aprendizado realizado no período
de latência. Haverá sempre, então, algum grau de conflito presente no indivíduo
na fase genital. Portanto um sujeito, além de estabelecer a capacidade de amar
outro, desenvolve a capacidade de trabalhar o que implica no desenvolvimento
formal e mais elaborado da personalidade.

Pulsão de vida e Pulsão de morte: De acordo com Zimerman (1999) a partir


de "Além do Princípio do Prazer" (1920), a dualidade inicial que diferenciava as
pulsões do "ego" e as "sexuais" cedeu lugar a uma nova dualidade: pulsões de
vida ("eros") e pulsões de morte ("tanatos"). Freud manteve definitivamente essa
concepção pulsional em sua obra. Além disso, concluiu que o ego tinha uma
energia própria, independente da sexualidade, enfatizando que, acima de tudo,
o ego é corporal.

As pulsões de vida passaram a abranger as "pulsões sexuais" e as de


"autopreservação", unificando a libido como energia, não mais da pulsão sexual,
mas sim da pulsão de vida. Essa concepção de que nem todas as manifestações
da pulsão de vida são necessariamente de natureza sexual possui enorme
importância na prática clínica psicanalítica, especialmente por representarem
primariamente componentes da "libido do ego", voltada para a preservação do
próprio indivíduo.

Freud introduziu o conceito de pulsão de morte, que visa reduzir toda a carga de
tensão orgânica e psíquica, buscando um retorno a um estado inorgânico. Essa
pulsão pode permanecer dentro do indivíduo (sob a forma de fortes angústias e
tendência para a autodestruição) ou para fora (pulsões destrutivas). A partir da
"pulsão de morte", Freud postulou o princípio da "compulsão à repetição", que
expressa a tendência do psiquismo humano em repetir situações penosas e
traumatizantes anteriores, evidente em fenômenos como a neurose de
transferência, nas neuroses traumáticas (notadas nas "neuroses de guerra"), em
muitos jogos infantis ou em certas formas patológicas como melancolias e no
enigma do masoquismo.

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