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Civilizações Antigas

Apontamentos 2022/2023

Sara Peixoto – 1º Ano Arqueologia 1


Introdução – Módulo I
O que é uma Civilização?
Podemos categorizar uma civilização como um conjunto das
instituições, técnicas. costumes, crenças, que caracterizam uma sociedade ou
um grupo de determinadas comunidades; um conjunto dos conhecimentos e
realizações das sociedades humanas mais evoluídas, marcadas pelo
desenvolvimento intelectual, económico e tecnológico;

Em suma uma civilização é o conjunto de características próprias


referentes a vida social, política, econômica e cultural de um país ou região. É
o ato ou efeito de civilizar (se), ou seja, de tornar (se) civil, cortês, civilizado.
Civilização é o estado de cultura social, caracterizados por um relativo
progresso no domínio das ciências, da religião, da política, das artes, dos
meios de expressão, das técnicas econômicas e científicas, e de um grau de
refinamentos dos costumes.

As civilizações sofreram um processo de reformação ao longo de


diferentes épocas e são estudadas através da análise e interpretações dos
historiadores que se utilizam de vestígios deixados pelo homem, entre eles,
restos arqueológicos, monumentos, tradições e documentos escritos que são
fundamentais para o conhecimento da história de uma civilização.

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Tratamento Histórico da Civilização
➢ Evolucionistas (finais do século XIX) - Lewis Henry Morgan e
Edward Tylor
o Etapas pelas quais passaram todas as sociedades:
• 1ª - “selvagismo”;
• 2ª - “barbárie” ;
• 3ª - “civilização”

➢ Determinista ambiental (séc. XX)


o Oswald Spengler (usa o modelo biológico do desenvolvimento):
• Juventude
• Maturidade
• Velhice

➢ Definição de civilização como conjunto de características:


o Gordon Childe (1950) – Revolução urbana
• 10 características para definir e reconhecer as primeiras
formas de urbanismo e tentou demonstrar como
funcionavam e como se inter-relacionavam.

Características primárias (Gordon Childe):


1.Tamanho e densidade demográfica das cidades: o crescimento de uma
população organizada implica um nível mais amplo de integração social

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2. Especialização do trabalho a tempo inteiro: a institucionalização da
especialização produtiva dos trabalhadores, tal como dos sistemas de
distribuição e intercâmbio

3. Concentração de excedentes: existência de meios para armazenar e gerir os


excedentes de camponeses e artesãos

4. Estruturação social de classes: organização e direção da sociedade por uma


classe dirigente privilegiada, composta por funcionários religiosos, políticos e
militares

5. estatal: existência de uma organização política bem estruturada, baseada na


adição residencial, que substituiria a identificação política baseada no
parentesco.

Características Secundárias (Gordon Childe):


6. Obras públicas monumentais: existência de empresas coletivas em forma
de templos, palácios, armazéns e sistemas de irrigação.

7. Comércio a longa distância: expansão da especialização e do intercâmbio


para além da cidade como marco do desenvolvimento comercial.

8. Obras de arte normalizadas e monumentais: formas artísticas altamente


desenvolvidas que expressam identificação simbólica e gosto estético.

9. Escrita: a técnica da escrita como instrumento nos processos de organização


e gestão.

10. Aritmética, geometria e astronomia: início das ciências exatas e preditivas


e da engenharia.

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O nascimento das primeiras civilizações no
Próximo – Oriente
Teorias sobre a emergência do Estado e da Civilização
1. A hipótese hidráulica

2. A hipótese de Gordon Childe sobre a especialização artesanal e a irrigação

3. As hipóteses da pressão e os conflitos populacionais

4. As hipóteses do comércio local e inter-regional

5. As hipóteses da urbanização como resultado de múltiplos fatores

6. Modelo sistémico ecológico

1- A Hipótese Hidráulica
➢ Karl Wittfogel (1957)
o Inter-relações de variáveis na hipótese baseada na gestão hidráulica
para a formação do Estado (Wittfogel)

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2. A hipótese de Gordon Childe sobre a especialização
artesanal e a irrigação
➢ Inter-relações de variáveis na hipótese baseada na especialização artesanal
e na irrigação para o desenvolvimento do urbanismo (Gordon Childe)

3. As hipóteses da pressão e os conflitos populacionais


➢ Inter-relação de variáveis nas hipóteses baseadas na pressão e os
conflitos populacionais para a formação do estado (Carneiro;
Diakonoff; Smith e Young e Gibson)

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4. As hipóteses do comércio local e inter-regional
➢ Inter-relação de variáveis nas hipóteses baseadas no comércio local e inter-
regional para o desenvolvimento urbano (Sanders; Flannery)

5. As hipóteses da urbanização como resultado de múltiplos


fatores
➢ Inter-relação de variáveis nas hipóteses baseadas na multiplicidade de
fatores e em elementos organizativos para a formação do estado

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6. Modelo sistémico ecológico
➢ Charles Redman um marco de investigação para o surgimento da
civilização
o Múltiplos fatores e as relações sistémicas que estimularam o
desenvolvimento do estado
o O urbanismo ou a civilização: sistema social complexo com
grandes diferenças internas, organizado segundo uma estratificação
de classes e com uma elite administrava que controla as instituições
organizativas mais importantes.
o O nascimento da civilização deve conceptualizar-se como uma série
de processos em crescente interação que foram desencadeados por
condições ecológicas e culturais favoráveis, e que continuaram a
desenvolver-se mediante interações de reforço mútuo.

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O surgimento das primeiras comunidades
agropastoris e a origem da agricultura

O neolítico e as origens da agricultura


➢ A origem do conceito do Neolítico

o Christian Thomsen (antiquário dinamarquês do séc. XIX): sistema


das três idades (Idade da Pedra; Idade do Bronze; Idade de Ferro)
o John Lubbock (Prehistoric Times - 1865): Periodização clássica da
Pré História: Paleolítico; Mesolítico; Neolítico

➢ O significado do conceito:
o Transformações tecnológicas (instrumentos de pedra polida +
indústria de cerâmica)
o Infraestrutura económica (Vere Gordon Childe- The Dawn of
European Civilisation - 1925)
o Revolução neolítica - Economia, sociedade e tecnologia
o Revolução neolítica vs Neolitização

Breve Introdução ao Neolítico


O período do Neolítico, é um período histórico/arqueológico da
antiguidade e subconsequentemente a divisão final do que nós chamamos a
Idade da Pedra, este período é referente a uma enorme revolução no modo de
vida das comunidades humanas intitulada pela “Revolução do Neolítico” á

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qual se ira referir mais tarde, em que consistia num vasto conjunto de
desenvolvimentos nas diversas partes do globo .

Este "pacote Neolítico" incluiu assim a introdução da prática agricultura, a


domesticação de animais, e mudança de um estilo de vida de caçador-recoletor
para um estilo de vida de povoamento.

Este período iniciou há cerca de 12.000 anos quando a agricultura apareceu


no Epipalaeolithic Near East designado como Epipalaeolithic (ou seja, o
estádio final da Idade da pedra também conhecido como Mesolítico) no antigo
território do Próximo Oriente, e mais tarde difundindo-se para outras partes
do mundo.

O Neolítico durou no Próximo Oriente até ao período de transição do


Calcolítico (Idade do Cobre) de há cerca de 6.500 anos (4500 a.C.), marcado
pelo desenvolvimento da metalurgia, que conduziu à Idade do Bronze e à
Idade do Ferro.
➢ Noutros lugares o Neolítico seguiu o Mesolítico (Idade Média da Pedra)
e posteriormente durou até mais tarde.
➢ No Antigo Egipto, o Neolítico durou até ao período Proto-dinástico, c.
3150 AC.
➢ Na China durou até cerca de 2000 AC com a ascensão da cultura pré-
Shang Erlitou,
➢ Norte da Europa, o Neolítico durou até cerca de 1700 AC. Algumas
outras partes do mundo (incluindo a Oceânia e algumas regiões das
Américas) permaneceram globalmente comparáveis ao Neolítico até ao
primeiro contacto

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➢ O termo Neolítico é moderno, baseado no grego νέος néos 'novo' e
λίθος líthos 'pedra', literalmente 'Nova Idade da Pedra'. O termo foi
cunhado por Sir John Lubbock em 1865 como um refinamento do
sistema de três idades.

Revolução do Neolítico
A Revolução do Neolítico, ou a (Primeira) Revolução Agrícola, foi a
transição em grande escala de muitas culturas humanas durante o período
Neolítico, de um estilo de vida de caça e recolha para um estilo de vida de
agricultura e povoamento, tornando possível uma população cada vez maior,
transformando-as em consequência no que hoje entendemos como
“Civilizações”. Estes novos conhecimentos levaram à domesticação das
plantas em culturas e a domesticação de animais selvagens.

Dados arqueológicos indicam que a domesticação de vários tipos de


plantas e animais aconteceu em locais separados em todo o mundo,
começando na época geológica do ***Holoceno*** há 11.700 anos. Foi a
primeira revolução historicamente verificável na agricultura.

A Revolução do Neolítico reduziu de sobremodo a diversidade de


alimentos disponíveis, resultando na quebra da qualidade nutricional da
alimentação humana em comparação com a obtida anteriormente através da
recorrente recolha e procura de alimentos.

Porém este fenómeno envolveu muito mais do que a adoção de um


conjunto limitado de técnicas de produção de alimentos, durante os milénios
seguintes, transformou os pequenos e móveis grupos de caçadores-coletores
que até então dominavam a pré-história humana em sociedades sedentárias

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(não nómadas) sediadas em aldeias e cidades construídas. Estas sociedades
modificaram radicalmente o seu ambiente natural através do cultivo
especializado de culturas alimentares, com atividades como a irrigação e a
deflorestação que permitiram a produção de excedentes alimentares.

Outros desenvolvimentos que se encontram muito difundidos durante


esta época são nomeadamente a domesticação de animais, a introdução da
indústria de cerâmica, ferramentas de pedra polida, e casas (retangulares ?).
Em muitas regiões, a adoção da agricultura pelas comunidades pré-históricas
causou episódios de rápido crescimento populacional, um fenómeno
conhecido como a **transição demográfica neolítica**.

Estes desenvolvimentos, por vezes chamados o pacote Neolítico,


forneceram a base para administrações e estruturas políticas centralizadas,
ideologias hierárquicas, sistemas despersonalizados de conhecimento (por
exemplo, escrita e a arte), assentamentos densamente povoados,
especialização e divisão de áreas de trabalho, a instauração da
comercialização, desenvolvimento de arte e arquitectura não-portáteis (ou
monumentos funerários, religiosos ou políticos), e maior propriedade.

A relação das características neolíticas acima mencionadas com o


início da agricultura, a sua sequência de emergência, e a relação empírica entre
si em vários locais do Neolítico continua a ser objecto de debate académico, e
varia de lugar para lugar, em vez de ser o resultado de leis universais de
evolução social. O Levante viu os primeiros desenvolvimentos da Revolução
Neolítica a partir de cerca de 10.000 a.C., seguidos por locais no Crescente
Fértil mais vasto.

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Crescente fértil
O Crescente Fértil é uma região em formato de cresce localizado no
Médio Oriente, abrangendo o Iraque, Síria, Líbano, Israel, Palestina e Jordânia
dos tempos modernos, juntamente com a região norte de Kuwait, a região da
Turquia e a parte Ocidental do Irão. Algumas fontes apontam também para a
abrangência dos territórios do Chipre e o Norte do Egipto.

O Crescente Fértil fora a primeira região onde a fixação da agricultura


surgiu aquando das comunidades iniciaram o processo de limpeza e
modificação da vegetação natural a seu redor para cultivar plantas
recentemente domesticadas como culturas. As primeiras civilizações humanas
como a Suméria na Mesopotâmia floresceram como resultado do avanço da
agricultura e da fomentação. Os avanços tecnológicos na região incluem o
desenvolvimento da agricultura e o uso da irrigação, da escrita, da roda, e do
vidro, a maioria emergindo primeiro na Mesopotâmia.

Por mais cruciais que os rios e pântanos fossem para a ascensão da


civilização no Crescente Fértil, eles não foram o único fator. A área é
geograficamente importante como a "ponte" entre o Norte de África e a
Eurásia, o que lhe permitiu reter uma maior quantidade de biodiversidade do
que a Europa ou o Norte de África, onde as alterações climáticas durante a
Idade do Gelo levaram a repetidos eventos de extinção quando os ecossistemas
se apertavam contra as águas do Mar Mediterrâneo.

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O Crescente Fértil teve muitos climas diversos, e grandes mudanças
climáticas encorajaram a evolução de muitas plantas anuais do tipo "r", que
produzem mais sementes comestíveis do que as plantas perenes do tipo "K".
A drástica variedade em elevação da região deu origem a muitas espécies de
plantas comestíveis para experiências precoces no cultivo. Mais importante
ainda, o Crescente Fértil foi o lar das oito culturas fundadoras do Neolítico
importantes na agricultura precoce (ou seja, progenitores selvagens para o
trigo em grão, a cevada, o linho, a ervilha, a ervilha, a lentilha, a ervilhaca
amarga), e quatro das cinco espécies mais importantes de animais
domesticados - vacas, cabras, ovelhas e porcos; a quinta espécie, o cavalo,
vivia nas proximidades. A flora do Crescente Fértil compreende uma elevada
percentagem de plantas que podem autopolinizar-se, mas também podem ser
polinizadas transversalmente. Estas plantas, chamadas "selfers", eram uma das
vantagens geográficas da área porque não dependiam de outras plantas para
reprodução.

➢ Em suma:
o Fim da última Era do Gelo
o Início no Crescente Fértil (Iraque)
o Localizado entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates
o O clima quente permitiu que os cereais selvagens crescessem em
abundância
o Estes cereais estão muito próximos das variedades domesticadas
que temos atualmente

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Domesticação de Plantas
Uma vez que a agricultura começou a ganhar impulso, cerca de 9000
BP, a atividade humana resultou na criação seletiva de gramíneas de
cereais (a começar com o farro, o Triticum monococcum e a cevada), e não
simplesmente daquelas que favoreciam maiores retornos calóricos através
de sementes maiores. As plantas com determinadas características como
pequenas sementes ou um sabor amargo eram consideradas indesejáveis.

As plantas que derramavam rapidamente as suas sementes no período


de maturidade tendiam a não ser colhidas durante a colheita, não sendo,
portanto, armazenadas e posteriormente não semeadas na estação seguinte;
anos sucessivos de colheita espontaneamente selecionadas para estirpes
que conservavam as suas sementes comestíveis durante mais tempo.

➢ Daniel Zohary identificou várias espécies vegetais que poderiam ser-se


consideradas como “culturas pioneiras” ou culturas fundadoras do
Neolítico. Ele destacou a relevância de espécies como o Trigo, cevada
e centeio, e sugeriu que a domesticação do linho, ervilhas, grão-de-bico,
ervilhaca amarga e lentilhas veio numa fase tardia.
➢ Com base na análise dos genes das plantas domesticadas, ele preferiu
teorias de um único, ou no máximo um número reduzido de eventos de
domesticação para cada táxon que se espalharam num arco a partir do
corredor do Levante em torno do Crescente Fértil e mais tarde
difundindo-se para a Europa.
➢ Gordon Hillman e Stuart Davies realizaram experiências com variedade
de trigo selvagem para mostrar que o processo de domesticação teria
ocorrido durante um período relativamente curto de 20 a 200 anos.
➢ Algumas das tentativas pioneiras falharam no ínicio e as culturas foram
abandonadas, por vezes para serem retomadas e domesticadas com

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sucesso milhares de anos mais tarde, nomeadamente: Centeio,
experimentado e abandonado na Anatólia Neolítica, chegou á Europa
como sementes de ervas daninhas e foi domesticado com sucesso na
Europa, milhares de anos após o primeiro contacto com a agricultura.
➢ As lentilhas selvagens apresentava um problema diferente: a maioria
das sementes selvagens não germinam no primeiro ano; as primeiras
provas de domesticação de lentilha, quebrando a dormência no seu
primeiro ano, aparecem no Neolítico inicial em Jerf el Ahmar (na Síria
moderna), e as lentilhas espalharam-se rapidamente para sul até ao local
de Nevit HaGdud no Vale do Jordão.
➢ O processo de domesticação permitiu que as culturas fundadoras se
adaptassem e eventualmente se tornassem maiores, mais facilmente
colhidas, mais fiáveis [clarificação necessária] no armazenamento e
mais úteis para a população humana.
➢ Figos propagados seletivamente, cevada selvagem e aveia selvagem
foram cultivadas no local inicial do Neolítico de Gilgal I, onde no ano
de 2006, os arqueólogos encontram cachos de sementes de cada um em
quantidades demasiado grandes para serem contabilizadas mesmo por
recolha intensiva, em estratos datáveis de c.11.000 anos atrás.
➢ Algumas das plantas experimentadas e depois abandonadas durante o
período Neolítico no Antigo Oriente Próximo, em locais como Gilgal,
foram mais tarde domesticadas com sucesso noutras partes do mundo.
Uma vez que os primeiros agricultores aperfeiçoaram as suas técnicas
agrícolas, como a irrigação, as suas culturas produziram excedentes que
precisavam de ser armazenados.
➢ A maioria dos caçadores-colectores não podia facilmente armazenar
alimentos durante muito tempo devido ao seu estilo de vida migratório,
enquanto os que tinham uma habitação sedentária podiam armazenar os
seus excedentes de cereais. Finalmente, foram desenvolvidos celeiros

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que permitiram às aldeias armazenar as suas sementes por mais tempo.
Assim, com mais alimentos, a população expandiu-se e as comunidades
desenvolveram trabalhadores especializados e ferramentas mais
avançadas.
➢ O processo não foi tão linear como se pensava, mas um esforço mais
complicado, que foi empreendido por diferentes populações humanas
em diferentes regiões, de muitas maneiras diferentes.

Domesticação de Animais
Aquando da transição da recolha de alimento começou a ser substituída
pela sua produção sedentária, tornou-se mais eficiente manter os animais perto
das comunidades. Assim, tornou-se uma necessidade trazer animais
permanentemente para as povoações, embora em diversos casos houvesse uma
distinção entre agricultores relativamente sedentários e pastores nómadas.

O tamanho dos animais, temperamento, dieta, padrões de acasalamento,


e tempo de vida foram fatores fulcrais no desejo e sucesso na domesticação de
espécies animais. Os animais que forneciam leite, tais como vacas e cabras,
ofereciam uma fonte de proteína que era renovável e, portanto, bastante
valiosa. A capacidade do animal como trabalhador (por exemplo, lavoura ou
reboque), bem como uma fonte alimentar, também tinha de ser tida em conta.
Além de ser uma fonte direta de alimento, certos animais podiam fornecer
couro, lã, peles e fertilizantes. Alguns dos primeiros animais domesticados
incluíam cães (Ásia Oriental, cerca de 15.000 anos atrás), ovinos, caprinos,
vacas e porcos.

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Domesticação de animais no Próximo Oriente
O Próximo Oriente serviu de fonte para muitos animais que poderiam
ser domesticados, tais como ovelhas, cabras e porcos. Esta área foi também a
primeira região a domesticar o dromedário.

A presença destes animais deu à região uma grande vantagem no


desenvolvimento cultural e económico. À medida que o clima no Próximo
Oriente mudou e se tornou mais seco, muitos dos agricultores foram forçados
a partir, levando consigo os seus animais domesticados. Foi esta emigração
maciça do Próximo Oriente que mais tarde ajudou a distribuir estes animais
pelo resto da Afroeurásia. Esta emigração foi principalmente num eixo este-
oeste de climas semelhantes, uma vez que as culturas têm geralmente uma
estreita gama climática ótima fora da qual não podem crescer por razões de
luz ou mudanças de chuva.

Por exemplo, o trigo não cresce normalmente em climas tropicais, tal


como as culturas tropicais como as bananas não crescem em climas mais frios.
Alguns autores, como Jared Diamond, postularam que este eixo este-oeste é a
principal razão pela qual a domesticação de plantas e animais se espalhou tão
rapidamente do Crescente Fértil para o resto da Eurásia e Norte de África,
enquanto não alcançou através do eixo norte-sul de África para alcançar os
climas mediterrânicos da África do Sul, onde as culturas temperadas foram
importadas com sucesso por navios nos últimos 500 anos. Do mesmo modo,
o Zebu africano da África Central e os bovinos domesticados da crista fértil -
separados pelo deserto seco do Sahara - não foram introduzidos uns nos outros
na região da outra.

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Síntese - Domesticação das Espécies
1. A sobrevivência das espécies resulta do equilíbrio entre três funções:
alimentação, defesa e reprodução.
2. Na natureza, qualquer desequilíbrio pode conduzir à extinção. Se tais
funções forem artificialmente favorecidas ocorre um desenvolvimento
intensivo e extensivo das espécies.
3. O Homem substitui-se à Natureza (protege e encoraja as espécies que
mais produzem – grão ou carne; manipula a sua reprodução), passando
a ocupar um papel ativo nos ecossistemas (pressões seletivas)

➢ Domesticação: criação de uma simbiose entre o homem e certas


espécies animais de que resulta uma microevolução particular destas,
mediante a sua adaptação a um novo nicho ecológico, culturalmente
construído:
o CÃO: primeira espécie animal a ser domesticada (Tardiglaciar –
15.000/17.000 a.C.), mas no contexto das comunidades de
caçadores recoletores (Europa; Próximo Oriente; Ásia).

➢ Animais:
o Condições: animais sociais, gregários, sem grande aparato
defensivo, com comportamento hierarquizado e sem grande
sentido territorial.
o Consequências: redução do tamanho (alteração da estrutura
óssea e da massa muscular), diminuição do tamanho do cérebro,
retração do focinho e redução da dimensão da dentição, aumento
da gordura, alterações da pelagem:
• Cabra: 8500/8000 a.C. - Ali Kosk; Asiab (Irão).
• Ovelha: 8500/8000 a.C. - Ali Kosk (Irão).

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• Porco: 8500/8000 a.C. – Cayönü (Turquia).
• Boi: 8500/8000 a.C. (N. de África 7000 a.C.)
• Gato: 7500/7000 a.C. - Cayönü (Turquia).

➢ Plantas:
o Condições: existência de antepassados silvestres; sedentarização
das comunidades; dependência de recursos vegetais na dieta
alimentar; desenvolvimento técnico necessário à exploração
eficaz dos recursos.
o Consequências: novas espécies mais produtivas e mais
resistentes; alteração das espigas (passam a exigir a ação humana
para a propagação).
• Cereais:
▪ Trigo: 9000 - Ali Kosk (Irão); Cayönü e Can Hassan
(Turquia).
▪ Cevada: 9300/8600 - Jarmo (Iraque); Tell Aswad
(Síria).
▪ Centeio: 8500 – Can Hassan (Turquia).
• Leguminosas:
▪ Ervilha Ervilhaca: 9000/8000 - Jarmo (Iraque); Can
Hassan (Turquia).
▪ Lentilha: 8000 – Jarmo (Iraque); Cayönü (Turquia);
Ali Kosk (Irão).
▪ Fava: 8800/8500 – Yiftha e Jericó (Israel).
• Fibras vegetais:
▪ Linho: 9000 - Cayönü (Turquia); Ali Kosk (Irão).

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Desenvolvimento independente VS. Difusão Cultural
➢ Áreas de desenvolvimento independente:
o Sudoeste da Ásia (trigo, ervilha, azeitona, ovelha, cabra)
o China e sudeste da Ásia (arroz, milho, porco)
o Américas (milho, feijão, batata, batata-doce)
➢ Áreas de agricultura por difusão
o Europa
o África Ocidental e Subsaariana (?)
o Vale do Rio Indo (cultivo de arroz)

Interações entre os Povos Nómadas e as Sociedades


agrícolas sedentárias
➢ Alguns povos nómadas empenhados na pastorícia.
➢ Alguns praticaram a agricultura de corte e queima.
➢ A interação violenta e pacífica entre nómadas e agricultores perdura ao
longo da história (comércio e invasões).
o Quando?
• O fim da última era do gelo há cerca de 10.000 anos
• Grupos adaptados ao novo ambiente, enquanto outros
continuaram a ser caçadores coletores
• Os grupos que se adaptaram
▪ criaram um abastecimento alimentar mais fiável
▪ menos diversificado
▪ enorme impacto sobre o ambiente
▪ os animais foram domesticados para alimentação e
trabalho

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• Resultado
▪ As populações aumentaram
▪ Grupos familiares deram lugar à vida de aldeia, e,
posteriormente, à vida urbana
▪ Desenvolveu-se o patriarcado e o trabalho forçado
▪ Emergência da pastorícia em África e Eurásia.
▪ A mobilidade dos pastores tornou-se um canal para
a difusão de tecnologia e ideias, enquanto atores da
interação com as comunidades estabelecidas.

Custos e Vantagens da Agricultura


➢ Vantagens
o Têm uma fonte permanente de alimento
o Podem criar animais para se alimentar e usá-los no trabalho
o Aumento da população
o Conduz a sociedades organizadas capazes de apoiar novas
competências (soldados, gestores)
➢ Custos
o Muito dependente de certas culturas alimentares (falha = fome)
o Doenças por contacto próximo com animais, humanos e
desperdícios
o Não pode deixar facilmente os novos locais

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Esta mudança foi para melhor?
Se analisarmos com atenção este longo processo percebemos que a
mudança das comunidades nómadas para a implantação de comunidades
sedentárias, foi definitivamente uma mudança positiva, analisemos cada
característica básica destes dois tipos de comunidades:

➢ As comunidades nómadas exerciam de uma maior quantidade de tempo


livre, o que em alguns dos casos ajudaria na procura e recolha de
mantimentos, ao progredirem para o sedentarismo e com a introdução
da agricultura o tempo livre era reduzido devido ao trabalho constante,
porém a fonte alimentar tornou-se mais fiável.
➢ Em termos de habitação e abrigo, as C.N movimentavam-se de um lado
para o outro, sazonalmente devido à mudança das estações ou à escassez
de comida, o que levava a abrigos temporários e desprotegidos. Com a
implantação da agricultura e por sua vez a necessidade de residir num
só local, estas comunidades foram obrigadas a construir melhores
habitações pois já não existia a necessidade de se deslocarem à procura
de recursos.
➢ Enquanto caçadores recoletores, era comum que os grupos
populacionais fossem reduzidos para poupar gastos e recursos
alimentares, ainda assim com poucos conflitos internos, porém com a
construção de pequenas aldeias, estes grupos populacionais foram
progressivamente começando a aumentar e a distribuição de tarefas por
vezes provocava intrigas e conflitos internos, assim como a fácil
propagação de doenças.

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Em suma ainda que enquanto comunidades nómadas os seus
“terrenos” eram públicos devido a grande movimentação de massas
populacionais, havia pouca estabilidade de governação, por isso mesmo
que a mudança de C.N para C.S foi um aspeto positivo na vida do ser
humano.

Impacto da agricultura
➢ Vida sedentária
➢ Sociedade unida, necessidade de cooperação e esforço de grupo
➢ A terra torna-se mais eficiente resultando num excedente de alimentos
➢ Permite a especialização, desenvolvimento de ferramentas e armas
➢ Aumento da população e dos bens materiais
➢ Nova organização social - da igualitária à estratificação social
(hierarquias sociais)
➢ Patriarcado (Regra por homens/mulheres, valorizando a necessidade de
proteção ou controlo)

Em consequência, como já referido anteriormente o aparecimento


da agricultura, leva a consequências positivas e negativas no contexto
destas novas comunidades, nomeadamente o aumento da população e
consequentemente a produção de alimentos em excesso, o que significa
que nem todos os membros desta sociedade têm de se dedicar ao cultivo
de alimentos ou cuidar dos animais. Podem assim assumir outras tarefas
e especializar-se em algumas tarefas não agrícolas. A isso podemos
chamar de:

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➢ Especialização de emprego
o Tecelões
o Pedreiros
o Oleiros
o Sacerdotes
o Escribas
o Comerciantes
o Oficiais do Exército

➢ O trabalho dos metais: do cobre ao bronze


o O trabalho dos metais tornou-se muito mais importante
para os primeiros povoamentos humanos, essenciais para
o desenvolvimento tecnológico (ferramentas de trabalho e
armas)
o Gradualmente, a partir de 3.000 AC, as primeiras
povoações passaram do cobre para uma liga de bronze
(inaugurando a Idade do Bronze)
o O trabalho dos metais espalhou-se lentamente pelas
comunidades humanas, como a agricultura.

➢ Outros avanços tecnológicos


o Veículos com rodas - Economiza a mão-de-obra, permite
o transporte de grandes cargas e melhora o comércio
o Roda de oleiros (c.6000AC) - Permite a produção de
recipientes de barro e obras de arte mais duráveis
o Rega e introdução de arados - Permite aumentar ainda
mais a produção de alimentos, encoraja o crescimento da
população.

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Impacto humano precoce sobre o meio ambiente
➢ Deflorestação nos locais onde foram produzidos cobre, bronze, e sal.
➢ Erosão e inundação onde a agricultura perturbou o solo e a vegetação
natural.
➢ Extinção seletiva de grandes animais terrestres e ervas daninhas devido
à caça e à agricultura.

Síntese - As Consequências da Revolução do Neolítico


Mudanças Sociais
Apesar do significativo avanço tecnológico presente, a R.N não levou
de forma imediata a um crescimento rápido e progressivo da população. Os
seus benefícios parecem ter sido compensados por diversos efeitos adversos,
sobretudo doenças e conflitos (guerras).

Com a introdução da agricultura não foi necessariamente conduzido a


progressos inequívocos. Os padrões nutricionais das populações Neolíticas em
crescimento eram inferiores aos dos caçadores-colectores. Vários estudos
etnológicos e arqueológicos concluem que a transição para dietas baseadas em
cereais causou uma redução da esperança de vida e da estatura, um aumento
da mortalidade infantil e doenças infeciosas, o desenvolvimento de doenças
crónicas, inflamatórias ou degenerativas (tais como a obesidade, diabetes tipo
2 e doenças cardiovasculares) e múltiplas deficiências nutricionais, incluindo
deficiências vitamínicas, anemia por deficiência de ferro e doenças minerais
que afetam os ossos (tais como osteoporose e raquitismo) e os dentes.

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A visão tradicional é que a produção de alimentos agrícolas apoiava
uma população mais densa (aumento populacional), que por sua vez apoiava
comunidades sedentárias maiores, a acumulação de bens e ferramentas, a
especialização em diversas formas de nova mão-de-obra e o aparecimento de
novos trabalhos/empregos.

O desenvolvimento de sociedades maiores levou ao desenvolvimento


de diferentes meios de tomada de decisão e à organização governamental. Os
excedentes alimentares tornaram possível o desenvolvimento de uma elite
social que não estava de outro modo envolvida na agricultura, indústria ou
comércio, mas que dominava as suas comunidades por outros meios e tomava
decisões monopolizadas.

➢ Jared Diamond (in The World Until Yesterday) identifica a


disponibilidade de leite e grãos de cereais como permitindo às mães
criar simultaneamente uma criança mais velha (por exemplo, com 3 ou
4 anos) e uma criança mais nova.
➢ O resultado é que uma população pode aumentar mais rapidamente.
Diamond, de acordo com estudiosos feministas como V. Spike
Peterson, salienta que a agricultura trouxe profundas divisões sociais e
encorajou a desigualdade de género.
➢ Esta remodelação social é traçada por teóricos históricos, como
Veronica Strang, através de desenvolvimentos em representações
teológicas.
➢ Strang apoia a sua teoria através de uma comparação de divindades
aquáticas antes e depois da Revolução Agrícola Neolítica, sobretudo a
Vénus de Lespugue e as divindades greco-romanas como Circe ou
Charybdis: as primeiras veneradas e respeitadas, as segundas
dominadas e conquistadas.

27
➢ A teoria, complementada pela suposição amplamente aceite de Parsons
de que "a sociedade é sempre objecto de veneração religiosa",
argumenta que com a centralização do governo e a aurora do
Antropoceno, os papéis dentro da sociedade tornaram-se mais
restritivos e foram racionalizados através do efeito condicionador da
religião; um processo que se cristaliza na progressão do politeísmo para
o monoteísmo.

Dieta alimentar e Saúde


Em comparação com as comunidades nómadas, as dietas dos
agricultores do neolítico eram mais elevadas em hidratos de carbono, mas
mais baixas em fibras, micronutrientes e proteínas. Isto levou a um aumento
da frequência dos dentes cariados e a um crescimento mais lento na infância e
aumento da gordura corporal, e estudos têm consistentemente descoberto que
as populações em todo o mundo se tornaram mais curtas após a transição para
a agricultura. Esta tendência pode ter sido exacerbada pela maior sazonalidade
das dietas agrícolas e, com ela, pelo aumento do risco de fome devido ao
fracasso das culturas.

Ao longo do desenvolvimento das sociedades sedentárias, a doença


propagou-se mais rapidamente do que durante o tempo em que existiam
sociedades de caçadores-colectores. As práticas sanitárias inadequadas e a
domesticação de animais podem explicar o aumento de mortes e doenças após
a Revolução Neolítica, à medida que as doenças saltavam do animal para a
população humana.
Alguns exemplos de doenças infeciosas disseminadas dos animais
para os seres humanos são a gripe, a varíola e o sarampo. A antiga genómica
microbiana mostrou que os progenitores de estirpes de Salmonela entérica
adaptadas ao homem infetaram até 5.500 anos de idade agropastoris de toda a

28
Eurásia Ocidental, fornecendo provas moleculares para a hipótese de que o
processo de Neolitização facilitou a emergência da doença humana.
Em concordância com um processo de seleção natural, os humanos
que primeiro domesticaram os grandes mamíferos rapidamente construíram
imunidades contra as doenças, uma vez que dentro de cada geração os
indivíduos com melhores imunidades tinham maiores hipóteses de
sobrevivência.
Nos seus aproximadamente 10.000 anos de proximidade partilhada
com animais, tais como vacas, eurasiáticos e africanos tornaram-se mais
resistentes a essas doenças em comparação com as populações indígenas
encontradas fora da Eurásia e África. Por exemplo, a população da maioria
das Caraíbas e várias ilhas do Pacífico foi completamente dizimada por
doenças. 90% ou mais de muitas populações das Américas foram dizimadas
por doenças europeias e africanas antes do contacto registado com
exploradores ou colonos europeus.
Algumas culturas como o Império Inca tinham um grande mamífero
doméstico, a lhama, mas o leite de lhama não era bebido, nem a lhama vivia
num espaço fechado com humanos, pelo que o risco de contágio era limitado.
De acordo com a investigação bioarqueológica, os efeitos da agricultura na
saúde dentária nas sociedades de cultivo de arroz do sudeste asiático, de 4000
a 1500 BP, não era prejudicial na mesma medida que noutras regiões do
mundo.
Jonathan C. K. Wells e Jay T. Stock argumentaram que as alterações
alimentares e o aumento da exposição a agentes patogénicos associados à
agricultura alteraram profundamente a biologia humana e a história de vida,
criando condições em que a seleção natural favoreceu a afetação de recursos
para a reprodução em detrimento do esforço somático.

29
Tecnologia
No seu livro Guns, Germs, and Steel, Jared Diamond argumenta que
os europeus e os asiáticos de Leste beneficiaram de uma localização
geográfica vantajosa que lhes proporcionou um avanço na Revolução
Neolítica. Ambos partilhavam o clima temperado ideal para os primeiros
cenários agrícolas, ambos estavam próximos de um número de espécies
vegetais e animais facilmente domesticáveis, e ambos estavam mais seguros
dos ataques de outras pessoas do que as civilizações da parte média do
continente euro-asiático.

Estando entre os primeiros a adotar a agricultura e estilos de vida


sedentários, e outras sociedades agrícolas vizinhas com as quais podiam
competir e negociar, tanto os europeus como os asiáticos de Leste foram
também dos primeiros a beneficiar de tecnologias como armas de fogo e
espadas de aço e ferramentas que mais tarde foram um fato fulcral para o
desenvolvimento da agricultura no período posterior.

As primeiras civilizações
Conceito de Civilização
Uma civilização (ou civilização) é qualquer sociedade complexa
caracterizada pelo desenvolvimento do Estado, estratificação social,
urbanização e sistemas simbólicos de comunicação para além da linguagem
falada natural (nomeadamente, um sistema de escrita. As civilizações estão

30
diretamente associadas a características adicionais como a centralização, a
domesticação de espécies vegetais e animais (incluindo humanos), a
especialização do trabalho, as ideologias de progresso culturalmente treinadas,
a arquitectura monumental, a fiscalidade, a dependência social da agricultura,
e o expansionismo.

Historicamente, uma civilização tem sido muitas vezes entendida


como uma cultura maior e "mais avançada", em contraste implícito com
culturas menores, supostamente menos avançadas. Neste sentido amplo, uma
civilização contrasta com sociedades tribais não centralizadas, incluindo as
culturas de pastores nómadas, sociedades neolíticas ou caçadores-colectores;
contudo, por vezes também contrasta com as culturas encontradas dentro das
próprias civilizações. As civilizações estão organizadas em assentamentos
densamente povoados, divididos em classes sociais hierárquicas com uma
elite dominante e populações urbanas e rurais subordinadas, que se dedicam à
agricultura intensiva, à mineração, ao fabrico e ao comércio em pequena
escala. A civilização concentra o poder, alargando o controlo humano sobre o
resto da natureza, incluindo sobre outros seres humanos.

A civilização, como a sua etimologia sugere, é um conceito


originalmente associado a vilas e cidades. A primeira emergência de
civilizações está geralmente ligada às fases finais da Revolução Neolítica na
Ásia Ocidental, culminando no processo relativamente rápido de revolução
urbana e formação do Estado, um desenvolvimento político associado ao
aparecimento de uma elite governante.

Características de uma Civilização

31
Estudiosos como Gordon Childe nomearam uma série de características que
distinguem uma civilização de outros tipos de sociedade. As civilizações têm
sido distinguidas pelos seus meios de subsistência, tipos de subsistência,
padrões de povoamento, formas de governo, estratificação social, sistemas
económicos, alfabetização e outras características culturais. Andrew
Nikiforuk argumenta que "as civilizações se baseavam em músculos humanos
acorrentados. Foi necessária a energia dos escravos para plantar culturas,
vestir os imperadores e construir cidades" e considera a escravatura como
uma característica comum das civilizações pré-modernas. Todas as
civilizações dependeram da agricultura para a sua subsistência, com a possível
exceção de algumas civilizações primitivas no Peru que podem ter dependido
dos recursos marítimos.

O tradicional "*modelo de excedentes*" postula que a cerealicultura


resulta em armazenamento acumulado e num excedente de alimentos,
particularmente quando as pessoas utilizam técnicas agrícolas intensivas tais
como fertilização artificial, irrigação e rotação de culturas. É possível, mas
mais difícil acumular a produção hortícola, pelo que as civilizações baseadas
na horticultura têm sido muito raras. Os excedentes de cereais têm sido
especialmente importantes pois os cereais podem ser armazenados durante
muito tempo.

Um excedente de alimentos permite que algumas pessoas façam coisas


para além de produzir alimentos para viver: as primeiras civilizações incluíam
soldados, artesãos, padres e sacerdotisas, e outras pessoas com carreiras
especializadas. Um excedente de alimentos resulta numa divisão de trabalho
e numa gama mais diversificada de atividade humana, um traço definidor das
civilizações. Contudo, em alguns locais os caçadores-colectores tiveram
acesso a excedentes alimentares, tais como entre alguns povos indígenas do
Noroeste do Pacífico e talvez durante a cultura Natufiana Mesolítica. É

32
possível que os excedentes alimentares e a organização social e divisão do
trabalho em relativamente grande escala sejam anteriores à domesticação de
plantas e animais.

As civilizações têm padrões de povoamento claramente diferentes de


outras sociedades. A palavra "civilização" é por vezes simplesmente definida
como "'viver nas cidades'". Os não agricultores tendem a reunir-se nas cidades
para trabalhar e comerciar.
Comparadas com outras sociedades, as civilizações têm uma estrutura
política mais complexa, nomeadamente o Estado. As sociedades estatais são
mais estratificadas do que outras sociedades; há uma maior diferença entre as
classes sociais, ou seja, uma hierarquização. A classe dominante,
normalmente concentrada nas cidades, tem controlo sobre grande parte do
excedente e exerce a sua vontade através das ações de um governo ou de uma
burocracia. Morton Fried, um teórico de conflitos e Elman Service, um teórico
da integração, classificaram as culturas humanas com base em sistemas
políticos e desigualdade social. Este sistema de classificação contém quatro
categorias:

➢ Grupos de caçadores-colectores, que são geralmente igualitárias.


➢ Sociedades hortícolas/pastoris nas quais existem geralmente duas
classes sociais herdadas; chefe e plebeu.
➢ Estruturas altamente estratificadas, ou chefaturas, com várias classes
sociais herdadas: rei, nobres, livres, servos e escravos.
➢ Civilizações, com hierarquias sociais complexas e governos
organizados e institucionais.

Economicamente, as civilizações apresentam padrões de


propriedade e intercâmbio mais complexos do que as sociedades menos
organizadas. Viver num só lugar permite que as pessoas acumulem mais

33
bens pessoais do que os nómadas. Algumas pessoas também adquirem
propriedade fundiária, ou propriedade privada da terra. Como uma
percentagem das pessoas nas civilizações não cultiva os seus próprios
alimentos, devem trocar os seus bens e serviços por alimentos num
sistema de mercado, ou receber alimentos através da cobrança de
tributo, impostos redistributivos, tarifas ou dízimos do segmento de
produção alimentar da população.

As primeiras culturas humanas funcionavam através de uma


economia de oferta complementada por sistemas de permuta limitados.
No início da Idade do Ferro, as civilizações contemporâneas
desenvolveram o dinheiro como um meio de troca para transações cada
vez mais complexas. Numa aldeia, o oleiro faz um pote para a cervejeira
e a cervejeira compensa o oleiro dando-lhe uma certa quantidade de
cerveja. Numa cidade, o oleiro pode precisar de um novo telhado, o
oleiro pode precisar de sapatos novos, o sapateiro pode precisar de
ferraduras novas, o ferreiro pode precisar de um novo casaco e o
curtidor pode precisar de um novo pote. Estas pessoas podem não se
conhecer pessoalmente e as suas necessidades podem não ocorrer todas
ao mesmo tempo. Um sistema monetário é uma forma de organizar
estas obrigações para garantir o seu cumprimento. Desde os tempos das
primeiras civilizações monetizadas, os controlos monopolistas dos
sistemas monetários têm beneficiado as elites sociais e políticas.

A escrita, desenvolvida primeiro pelos povos da Suméria, é


considerada uma marca da civilização e "parece acompanhar a ascensão
de complexas burocracias administrativas ou o estado de conquista". Os
comerciantes e burocratas confiaram na escrita para manterem registos
precisos. Tal como o dinheiro, a escrita era necessária pelo tamanho da
população de uma cidade e pela complexidade do seu comércio entre

34
pessoas que não conhecem pessoalmente umas às outras. No entanto, a
escrita nem sempre é necessária para a civilização, como mostra a
civilização Inca dos Andes, que não utilizava a escrita de todo, mas sim
um sistema de registo complexo que consiste em cordas atadas de
comprimentos e cores diferentes: o "Quipus", e ainda funcionava como
uma sociedade civilizada.

Ajudadas pela sua divisão do trabalho e planeamento do governo


central, as civilizações desenvolveram muitos outros traços culturais
diversos. Estes incluem a religião organizada, o desenvolvimento nas
artes, e inúmeros novos avanços na ciência e tecnologia.

Ao longo da história, as civilizações de sucesso espalharam-se,


ocupando cada vez mais território, e assimilando cada vez mais pessoas
incivilizadas anteriormente. No entanto, algumas tribos ou pessoas
permanecem incivilizadas mesmo até aos dias de hoje. Estas culturas
são chamadas por algumas "primitivas", um termo que é considerado
por outras como pejorativo. "Primitivo" implica de alguma forma que
uma cultura é "primeira" (latim = primus), que não mudou desde os
primórdios da humanidade, embora isto tenha sido demonstrado como
não sendo verdade. Especificamente, como todas as culturas atuais são
contemporâneas, as chamadas culturas primitivas de hoje não são de
modo algum antecedentes daquelas que consideramos civilizadas. Os
antropólogos utilizam hoje o termo "não alfabetizados" para descrever
estes povos.

A civilização tem sido difundida pela colonização, invasão, conversão


religiosa, extensão do controlo burocrático e do comércio, e pela
introdução da agricultura e da escrita aos povos não alfabetizados.
Alguns povos não civilizados podem adaptar-se de bom grado ao

35
comportamento civilizado. Mas a civilização é também difundida pelo
domínio técnico, material e social que a civilização engendra.

As avaliações do nível de civilização atingido por uma sociedade


baseiam-se em comparações da importância relativa da agricultura em
oposição às capacidades comerciais ou de produção, das extensões
territoriais do seu poder, da complexidade da sua divisão do trabalho, e
da capacidade de carga dos seus centros urbanos. Os elementos
secundários incluem um sistema de transporte desenvolvido, escrita,
medição padronizada, moeda, sistemas legais contratuais e baseados em
torção, arte, arquitectura, matemática, compreensão científica,
metalurgia, estruturas políticas, e religião organizada.

Tradicionalmente, as políticas que conseguiram alcançar um


notável poder militar, ideológico e económico definiam-se como
"civilizadas" em oposição a outras sociedades ou agrupamentos
humanos fora da sua esfera de influência - chamando a estes últimos
bárbaros, selvagens e primitivos.

Identidade cultural
"Civilização" pode também referir-se à cultura de uma sociedade
complexa, e não apenas à própria sociedade. Cada sociedade, civilização ou
não, tem um conjunto específico de ideias e costumes, e um certo conjunto de
manufaturas e artes que a tornam única. As civilizações tendem a desenvolver
culturas intrincadas, incluindo um aparelho de decisão baseado no Estado,
uma literatura, arte profissional, arquitectura, religião organizada e costumes
complexos de educação, coerção e controlo associados à manutenção da elite.

36
A cultura intrincada associada à civilização tem tendência para se
espalhar e influenciar outras culturas, por vezes assimilando-as na civilização
(sendo um exemplo clássico a civilização chinesa e a sua influência em
civilizações próximas, como a Coreia, Japão e Vietname). Muitas civilizações
são na realidade grandes esferas culturais que contêm muitas nações e regiões.
A civilização em que alguém vive é a mais ampla identidade cultural dessa
pessoa.

Sistema Complexo
Outro grupo de teóricos, fazendo uso da teoria de sistemas, considera uma
civilização como um sistema complexo, ou seja, um quadro através do qual
um grupo de objectos pode ser analisado que trabalham em conjunto para
produzir algum resultado. As civilizações podem ser vistas como redes de
cidades que emergem das culturas pré-urbanas e são definidas pelas interações
económicas, políticas, militares, diplomáticas, sociais e culturais entre elas.
Qualquer organização é um sistema social complexo e uma civilização é uma
grande organização. A teoria dos sistemas ajuda a proteger contra analogias
superficiais e enganosas no estudo e descrição de civilizações.

Os teóricos dos sistemas analisam muitos tipos de relações entre cidades,


incluindo relações económicas, intercâmbios culturais e relações
políticas/diplomáticas/militares. Estas esferas ocorrem frequentemente em
diferentes escalas.

➢ Por exemplo, as redes comerciais eram, até ao século XIX, muito


maiores do que as esferas culturais ou as esferas políticas. As extensas
rotas comerciais, incluindo a Rota da Seda através da Ásia Central e as
rotas marítimas do Oceano Índico que ligam o Império Romano, o

37
Império Persa, a Índia e a China, foram bem estabelecidas há 2000 anos,
quando estas civilizações quase não partilhavam quaisquer relações
políticas, diplomáticas, militares ou culturais.
➢ A primeira prova de tal comércio de longa distância encontra-se no
mundo antigo. Durante o período Uruk, Guilhermo Algaze argumentou
que as relações comerciais ligavam o Egipto, a Mesopotâmia, o Irão e
o Afeganistão. Sugere-se que a resina encontrada mais tarde no
Cemitério Real de Ur foi comercializada para norte a partir de
Moçambique.
➢ Muitos teóricos argumentam que o mundo inteiro já se tornou integrado
num único "sistema mundial", um processo conhecido como
globalização. Diferentes civilizações e sociedades em torno do globo
são económica, política e mesmo culturalmente interdependentes em
muitos aspetos. Há debates sobre quando esta integração começou, e
que tipo de integração - cultural, tecnológica, económica, política, ou
militar-diplomática - é o indicador chave para determinar a extensão de
uma civilização.
➢ David Wilkinson propôs que a integração económica e militar-
diplomática das civilizações mesopotâmicas e egípcias resultou na
criação daquilo a que ele chama a "Civilização Central" por volta de
1500 a.C.
➢ A Civilização Central expandiu-se mais tarde para incluir todo o Médio
Oriente e Europa, e depois expandiu-se a uma escala global com a
colonização europeia, integrando as Américas, Austrália, China e Japão
até ao século XIX.
➢ De acordo com Wilkinson, as civilizações podem ser culturalmente
heterogéneas, como a Civilização Central, ou homogéneas, como a
civilização japonesa. O que Huntington chama o "choque de

38
civilizações" pode ser caracterizado por Wilkinson como um choque de
esferas culturais dentro de uma única civilização global.
➢ Outros apontam para o movimento Cruzado como o primeiro passo na
globalização. O ponto de vista mais convencional é que as redes de
sociedades se expandiram e encolheram desde tempos antigos, e que a
atual economia e cultura globalizada é um produto do colonialismo
europeu recente.

Síntese - As Civilizações
➢ As civilizações são culturas complexas em que um grande número de
seres humanos partilham uma série de elementos comuns.
o Características básicas das civilizações:

1. Cidades
o Localização de muitas pessoas que vivem juntas, mas em
agregados familiares separados.
2. Governo
o Organizar e regular a atividade humana. Proporcionar uma
interação harmoniosa entre indivíduos e grupos. As
primeiras civilizações foram lideradas por monarcas (rei
ou rainha) que organizavam exércitos e faziam leis.
3. Religião
o Uma forma de explicar as forças da natureza e o seu papel
no mundo. Deuses e deusas eram importantes para o
sucesso da comunidade. Os sacerdotes realizavam rituais
para lhes agradar.
o
4. Estrutura Social
o Com base no poder económico. Governantes, sacerdotes,
guerreiros e oficiais do governo dominavam a sociedade.
Seguindo-se pessoas livres (agricultores, artesãos,
artesãos). No fundo, encontravam-se os escravos.
5. Escrita
o Forma de manter registos precisos. Eventualmente, a
escrita pode ter sido utilizada como expressão criativa.
6. Arte

39
o Os arquitetos construíram templos e pirâmides como
locais de culto ou sacrifício. As obras de arte retratavam
histórias da natureza, bem como, governantes e deuses.

O aparecimento das primeiras comunidades


agropastoris - Neolitização no Mundo

Teorias e Modelos Interpretativos sobre a Neolitização


1. Evolucionismo Linear (Século XIX)
A evolução linear, também referida como evolução social clássica, é
uma teoria social do século XIX sobre a evolução das sociedades e culturas.
Foi composta por muitas teorias concorrentes de vários antropólogos e
sociólogos, que acreditavam que a cultura ocidental é o auge contemporâneo
da evolução social. Um estatuto social diferente está alinhado numa única
linha que passa da mais primitiva para a mais civilizada. Esta teoria é agora
geralmente considerada obsoleta nos círculos académicos.

➢ Ou seja, evolução por estádios devido ao progresso (N. Condorcet; L.


Morgan)
o Progresso: A domesticação resulta de uma evolução biológica e
cultural em que o motor é a tendência óbvia e natural para o
progresso das sociedades (modelo de equilíbrio).

2. Meio Ambiente (Século XX - Anos 30)

40
➢ Teoria do Oásis/conceito de Revolução Neolítica (G. Childe).
o Determinismo Ambiental: A domesticação é a resposta
adaptativa das comunidades às mudanças climáticas operadas na
transição Pleistocénico/Holocénico. O motor da evolução é a
adaptação (modelo de desequilíbrio).
o Gordon Childe: Vere Gordon Childe (14 de Abril de 1892 - 19
de Outubro de 1957) foi um arqueólogo marxista australiano que
se especializou no estudo da pré-história europeia. Passou a
maior parte da sua vida no Reino Unido, trabalhando como
académico para a Universidade de Edimburgo e depois para o
Instituto de Arqueologia, Londres. Escreveu vinte e seis livros
durante a sua carreira. Inicialmente um defensor precoce da
arqueologia cultural-histórica, tornou-se mais tarde o primeiro
expoente da arqueologia marxista no mundo ocidental.
• Um dos arqueólogos mais conhecidos e mais citados do
século XX, Childe tornou-se conhecido como o "grande
sintetizador" pelo seu trabalho integrando a investigação
regional com um quadro mais amplo da pré-história do
Próximo Oriente e da Europa.
• Era também conhecido pela sua ênfase no papel dos
desenvolvimentos tecnológicos e económicos
revolucionários na sociedade humana, tais como a
Revolução Neolítica e a Revolução Urbana, refletindo a
influência das ideias marxistas sobre o desenvolvimento
da sociedade. Embora muitas das suas interpretações
tenham desde então sido desacreditadas, ele continua a ser
amplamente respeitado entre os arqueólogos.

41
4. Evolução Cultural (Século XX - Anos 50)
➢ Teoria das Áreas Nucleares (R. Braidwood).
o Progresso: A domesticação resulta do progresso normal de
algumas comunidades implantadas em determinadas zonas
favoráveis/áreas nucleares (modelo de equilíbrio).
o Robert John Braidwood: (29 de julho de 1907 - 15 de janeiro
de 2003) Foi um arqueólogo e antropólogo americano, um dos
fundadores da arqueologia científica, e um líder no campo da Pré-
história do Próximo Oriente.

5. Crescimento Demográfico (Século XX - 70/80)


➢ Teoria dos rendimentos decrescentes (M. Harris)
o Crise do sistema alimentar: A domesticação tem lugar por via
da progressiva diminuição/desaparecimento da megafauna; as
economias de amplo espectro traduzem-se, para um sistema
baseado na caça/recoleção, num aumento da relação
custo/benefício, daí a procura de um outro sistema mais rentável
(modelo de desequilíbrio).

6. Relações Sociais (Século XX - 70/80)


➢ Teoria das tensões sociais (B. Bender);
➢ Teoria da "revolução" mesolítica (A. Testart; B. Hayden)

42
o Complexificação Social: A domesticação é consequência das
pressões exercidas no seio da comunidade (sociedades de
caçadores-recolectores especializados, sedentários, com
economias de rendimento diferido  sociedades de caçadores-
recolectores generalistas, nómadas, com economias de
rendimento imediato) por um grupo reduzido de indivíduos, no
sentido de elevar a produtividade alimentar com o intuito de
promover a sua afirmação/posição social (modelo de equilíbrio).

7. Casualidade ( Século XX - Anos 90)


➢ Teoria da co-evolução (D. Rindos)
o Acaso: A domesticação não foi uma opção consciente adotada
para melhorar as condições de subsistência das comunidades,
antes resultou do acaso. O Homem, pela sua presença, modifica
o ambiente natural, criando, assim, as condições para que as
espécies se transformem; as espécies adaptam-se às novas
condições e o homem adapta-se culturalmente às novas espécies
– tem lugar uma verdadeira co-evolução (modelo de equilíbrio).

8. Ideologia e Sociedade (Século XX - Anos 90)


➢ Teoria da Mudança Espiritual (J. Cauvin)
o Escolha Cultural: Corrente teórica que chama a atenção para a
importância das escolhas culturais na explicação dos fenómenos
de mudança, reabilitando os fatores culturais e ideológicos. O
fenómeno da neolitização teria arrancado a partir de uma
“mudança de olhar sobre o mundo natural”, que antes era
dominador (o homem era apenas mais uma espécie no meio de

43
todas as outras), e que a partir de agora algumas comunidades
humanas querem passar a controlar. A domesticação é a
expressão dessa apropriação (modelo de desequilíbrio).

Transformações económicas, socais, tecnológicas e


ideológicas
➢ O tradicional “Pacote Neolítico”
o Economia - agricultura e pastorícia
o Sociedade - sedentarização e complexificação social
o Tecnologia - produção cerâmica e polimento da pedra

A nível económico
1 - Implementação progressiva de um novo modelo económico, com o
desenvolvimento gradual da economia de produção, baseada na agricultura e
pastorícia, a par da caça e da recoleção:

➢ ocorre primeiro nas áreas onde existem antepassados selvagens e


silvestres das espécies;

44
➢ abrange várias espécies consoante as zonas ecológicas do mundo em
que nos situamos.

2 - Implementação de um novo ciclo técnico-económico-social complexo


associado ao desenvolvimento da prática agrícola:

➢ deflorestação
➢ preparação do terreno
➢ sementeira
➢ monda
➢ colheita
➢ armazenagem
➢ preparação para o consumo

3 - Economia de produção (autossuficiência económica) não pressupõe


isolamento, bem pelo contrário (intercâmbio):

➢ aumento de intercâmbios intergrupais para satisfação de matérias-


primas
➢ troca de excedentes (alimentares, cerâmicas) por produtos de prestígio
(âmbar, conchas, variscite, obsidiana).

A nível Social
1 - Progressivas, mas substantivas alterações do quadro de ordenamento
social:

➢ economia de produção
o novas atividades
➢ multiplicação de tarefas

45
o divisão do trabalho
o especialização das atividades
o organização e coordenação do trabalho
o hierarquização e dependência social
o complexificação social
o desigualdade social

2 - Surgimento de excedentes alimentares potência o crescimento demográfico


novas relações sociais de produção (redistribuição);

➢ passagem de uma sociedade baseada na reciprocidade generalizada


(sociedade igualitária??) para uma sociedade segmentada, assente na
redistribuição ou na reciprocidade restrita;
➢ acumulação de riqueza ;
➢ institucionalização da violência e do conflito na sociedade (guerra);

3 - Desenvolvimento de um novo modelo de habitat: ainda pode incluir


soluções tradicionais (gruta/abrigo-sob-rocha) mas, progressivamente,
começa a estabelecer-se um novo padrão:

➢ habitat de ar livre, com tendência para uma ocupação cada vez mais
prolongada e aumento da sua dimensão (povoado);
o Maior investimento no habitat
o alterações tecnológicas e sociológicas (material desconstrução,
forma)
o nova gestão do espaço em resposta de novas funcionalidades.
o O homem neolítico não pode viver sozinho - urbanismo

Nível Tecnológico

46
1 - Desenvolvimento de novas utensilagens associadas às novas práticas
económicas:

➢ agricultura
o moinhos, enxós, machados, foices

2 - Desenvolvimento de novas tecnologias:

➢ polimento da pedra (primeiro aplicada a objetos ornamentais, somente


depois às utensilagens);
o tecnologia de produção cerâmica (contentores de alimentos,
herdeiros de recipientes de madeira e cestaria)
• No 8º milénio na bacia do médio Eufrates, generaliza-se
um pouco por todo o lado a partir do 7º milénio (Irão
ocidental, Síria, Anatólia, Balcãs, bacia do Mediterrâneo
ocidental); fabrico manual e cozedura a baixas
temperaturas (≈ 600º centígrados);
• exploração mineira (argila, sílex, obsidiana, rochas
ornamentais, variscite);
• fiação e tecelagem (lã, linho)

Nível Ideológico
1 - A progressiva sedentarização conduz ao estabelecimento de uma nova
relação do Homem com a Natureza que se traduz por:

➢ nova construção social do espaço, concretizada através de rituais e da


sinalização do mesmo (locais de significado social e espiritual -
monumentos funerários e cultuais)
➢ O Homem apropria-se da Natureza
➢ criação de novas identidades culturais, mitos e ritos;

47
➢ enterramento praticado dentro do habitat.

As culturas “Pré-Cerâmicas”
Substrato Epipaleolítico/Mesolítico (13-10.000)
➢ Cultura Natufense
o A cultura natufense é uma cultura arqueológica epipaleolítica

tardia do Levante, datada de cerca de 15.000 a 11.500 anos atrás.


A cultura era invulgar na medida em que suportava uma
população sedentária ou semi-sedentária mesmo antes da
introdução da agricultura. As comunidades natufenses podem ser
os antepassados dos construtores dos primeiros povoados
neolíticos da região, que podem ter sido os mais antigos do
mundo. Algumas provas sugerem o cultivo deliberado de cereais,

48
especificamente centeio, pela cultura natufense, em Tell Abu
Hureyra, o local das primeiras provas de agricultura no mundo.
o No entanto, em geral, os natufenses exploravam cereais
selvagens e animais de caça, incluindo gazelas. A análise
arqueogénica revelou a derivação de mais tarde (Neolítico para
Idade do Bronze) Levantines principalmente de natufenses, para
além de uma mistura substancial de anatólitos calcolíticos
o Dorothy Garrod cunhou o termo Natufense com base nas suas
escavações na caverna de Shuqba (Wadi an-Natuf), perto da
cidade de Shuqba, nas montanhas da Judeia ocidental.
• Áreas geográficas: Israel, Líbano, Síria e Jordânia, até ao
Eufrates; Irão, Iraque e Turquia.
• Economia: sociedades de caçadores-recolectores
especializados [caça à gazela e recoleção seletiva de
gramíneas e leguminosas selvagens que assumem uma
importância crescente na dieta alimentar (agricultura pré-
doméstica – sementeira de selvagens); seleção dos abates
e controlo das manadas (proto-criação)].
• Povoamento: habitats mais permanentes (povoados) com
habitações em pedra e/ou adobe (materiais menos
perecíveis); complexificação do habitat
(multifuncionalidade de espaços e arquiteturas);
progressiva sedentarização.
• Tecnologia: indústrias de componente laminar e
microlítica (pontas e elementos de foice); foices, moinhos
manuais; tecnologias de armazenagem (silos - recoleção
intensiva de grãos).
• Desenvolvimento da Agricultura: Foi encontrado um
pão que datava ser apartir de 12.500 AC atribuído aos

49
natufenses. Este pão é feito de sementes de cereais
selvagens e tubérculos de papiro primo, moídos em
farinha. De acordo com uma teoria, foi uma mudança
súbita no clima, o evento Younger Dryas (c. 10,800 a 9500
AC), que inspirou o desenvolvimento da agricultura.
• O Younger Dryas foi uma interrupção de 1.000 anos nas
temperaturas mais elevadas prevalecentes desde o Último
Máximo Glacial, que produziu uma súbita seca no
Levante. Isto teria posto em perigo os cereais selvagens,
que já não podiam competir com o mato de terra firme,
mas dos quais a população se tinha tornado dependente
para sustentar uma população sedentária relativamente
grande. Ao limparem artificialmente o mato e plantarem
sementes obtidas de outros locais, começaram a praticar a
agricultura. No entanto, esta teoria sobre a origem da
agricultura é controversa na comunidade científica.

Neolítico Pré-Cerâmico (8.500-7.500 a.C.)


➢ Colheita intensiva de cereais
➢ Sedentarização do habitat (aldeias)
➢ Abandono de cavernas
➢ Casas circulares
➢ Principais Sítios
o Uadi Natuf
o Jericó (Palestina)
o O Wad (zona monte Carmelo)
o Ain Mallaha
o Mureibet

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o Tell Abu Hureyra

A cultura Natufiana
Jericó (13 050 - 7 050 a.C.)
➢ Período “Natufiense”
o A construção epipaleolítica no local parece ser anterior à

invenção da agricultura, com a construção de estruturas culturais


natufianas a começar antes de 9000 a.C., o início da época
Holocénica na história geológica.
o Jericó tem provas de assentamento que datam de 10.000 a.C.
Durante o período de frio e seca, a habitação permanente de
qualquer local era impossível. Contudo, a Primavera de Ein es-
Sultan no que viria a ser Jericó era um acampamento popular para
os grupos de caçadores-colectores de Natufian, que deixaram
atrás de si uma dispersão de ferramentas em forma de lua
crescente. Por volta de 9600 a.C., a seca e o frio do estaladial das
Younger Dryas tinham acabado, tornando possível aos grupos de
Natufianos prolongar a duração da sua estadia, acabando por
conduzir a habitações e assentamentos permanentes durante todo
o ano.
o Em síntese
• Até 9000 a.C. aprox.:
▪ Dryas Recente
▪ Local de acampamento de grupos de caçadores-
recolectores “natufienses”
▪ Tecnologia caraterizada por micrólitos
• A partir de 9000 a.C. aprox.:

51
▪ Assentamentos de cariz permanente
▪ Cabanas circulares de tijolos de lama
▪ Desenvolvimento: Muralha (8000 a.C.)
▪ 1,6 Há

➢ Neolítico pré-cerâmico A
o O primeiro assentamento permanente no local de Jericó

desenvolveu-se perto da Primavera de Ein es-Sultan entre 9.500


e 9000 a.C. Com o aquecimento do mundo, surgiu uma nova
cultura baseada na agricultura e habitação sedentária, que os
arqueólogos denominaram "Pre-Pottery Neolithic A" (abreviado
como PPNA). As suas culturas careciam de olaria, mas
apresentavam o seguinte:
• pequenas habitações circulares
• enterro dos mortos debaixo do chão dos edifícios
• dependência da caça de caça selvagem
• cultivo de cereais selvagens ou domésticos
o Em Jericó, foram construídas habitações circulares de argila e
tijolos de palha deixados a secar ao sol, que foram rebocados
juntamente com uma argamassa de barro. Cada casa media cerca
de 5 metros de largura, e foi coberta com uma escova de barro.
As lareiras estavam localizadas dentro e fora das casas.
o O Pré-Sultão (c. 8350 - 7370 a.C.) é por vezes chamado
Sultaniano. O local é um assentamento de 40.000 metros
quadrados (430.000 pés quadrados) rodeado por um enorme

52
muro de pedra com mais de 3,6 metros de altura e 1,8 metros de
largura na base, no interior do qual se encontrava uma torre de
pedra, com mais de 8. 5 metros (28 pés) de altura, contendo uma
escada interna com 22 degraus de pedra[18][28] e colocada no
centro do lado ocidental do tell
o Esta torre e as ainda mais antigas escavadas em Tell Qaramel na
Síria são as torres mais antigas alguma vez descobertas. O muro
de Jericó pode ter servido de defesa contra a água das cheias, com
a torre utilizada para fins cerimoniais.
o O muro e a torre foram construídos durante o período Pre-Pottery
Neolítico A (PPNA) por volta de 8000 a.C. Para a torre, as datas
de carbono publicadas em 1981 e 1983 indicam que foi
construída por volta de 8300 a.C. e permaneceu em uso até c.
7800 a.C.[29] O muro e a torre teriam demorado mais de cem
homens a construir, sugerindo assim algum tipo de organização
social. [citação necessária] A cidade continha casas de tijolos de
lama redondas, mas sem planeamento de rua.
o A identidade e o número dos habitantes de Jericó durante o
período PPNA ainda está em debate, com estimativas que
atingem os 2.000-3.000, e tão baixo como 200-300. Sabe-se que
esta população tinha domesticado o trigo emalhado, a cevada e
as leguminosas e caçado animais selvagens.

➢ Neolítico pré-cerâmico B
o O Pré-Pottery Neolithic B (PPNB) foi um período de cerca de 1,4

milénios, de 7220 a 5850 a.C. [clarificação necessária] (embora


as datas de carbono-14 sejam poucas e precoces). As
características culturais do PPNB são as seguintes:
• Gama expandida de plantas domesticadas

53
• Possível domesticação de ovelhas
• Culto aparente envolvendo a preservação de crânios
humanos, com características faciais reconstruídas usando
gesso, e olhos com conchas em alguns casos
o Após alguns séculos, a primeira povoação foi abandonada. Após
a fase de colonização PPNA, houve um hiato de vários séculos,
depois a colonização PPNB foi fundada sobre a superfície
erodida do tell. Este segundo assentamento, estabelecido em
6800 a.C., representa talvez o trabalho de um povo invasor que
absorveu os habitantes originais na sua cultura dominante. Os
artefactos datados deste período incluem dez crânios humanos
rebocados, pintados de modo a reconstituir as características dos
indivíduos, que representam ou teraphim ou o primeiro exemplo
de retrato na história da arte, e pensa-se que foram guardados nas
casas das pessoas enquanto os corpos eram enterrados.
o A arquitectura consistiu em edifícios retilíneos feitos de tijolos
de lama sobre fundações de pedra. Os tijolos de lama eram em
forma de pão com impressões profundas de polegar para facilitar
a colagem. Nenhum edifício foi escavado na sua totalidade.
Normalmente, várias salas agrupam-se em torno de um pátio
central. Há uma sala grande [6,5 m × 4 m (21,3 pés × 13,1 pés)
[duvidoso - discutir] e 7 m × 3 m (23,0 pés × 9,8 pés)] [duvidoso
- discutir] com divisões internas; as restantes são pequenas,
presumivelmente utilizadas para armazenamento. Os quartos têm
pavimentos em terrazzo-rosa ou vermelha, feitos de cal. Algumas
impressões de esteiras feitas de canas ou juncos foram
preservadas. Os pátios têm chão de barro [citação necessária].
o Kathleen Kenyon interpretou um edifício como um santuário.
Continha um nicho na parede. Um pilar lascado de pedra

54
vulcânica que foi encontrado nas proximidades poderia ter
cabido neste nicho [citação necessária].
o Os mortos foram enterrados debaixo do chão ou nos escombros
de edifícios abandonados. Existem vários enterros coletivos.
Nem todos os esqueletos estão completamente articulados, o que
pode apontar para um tempo de exposição antes do enterro. Uma
cache do crânio continha sete caveiras. As mandíbulas foram
removidas e as faces cobertas de gesso; as vacas foram usadas
como olhos. Foi encontrado um total de dez crânios. Também
foram encontrados crânios modelados em Tell Ramad e
Beisamoun.
o Outros achados incluíram pedras, tais como pontas de flechas
(emaranhadas ou de pontas laterais), foices finamente
denticuladas, brocas, raspadores, alguns eixos de tranchet,
obsidiana, e obsidiana verde de uma fonte desconhecida. Havia
também consultas, pedras de martelo, e alguns machados de
pedra moída feitos de pedra verde. Outros artigos descobertos
incluíam pratos e taças esculpidas em pedra calcária macia, espátulas
de pedra e possíveis pesos de tear, espátulas e brocas, figuras
antropomórficas estilizadas em gesso, figuras quase em tamanho natural,
antropomórficas e teriomórficas de barro, bem como contas de concha e
malaquite.
o No final do 4º milénio a.C., Jericó foi ocupada durante o
Neolítico 2 [dúbio - discussão] e o carácter geral dos restos
mortais no site liga-o culturalmente aos sites do Neolítico 2 (ou
PPNB) nos grupos Sírio Ocidental e do Eufrates Médio. Esta
ligação é estabelecida pela presença de edifícios de tijolos de
lama retilíneos e pavimentos de gesso característicos da época.

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Jericó (Tell es Sultan)
➢ “Crânios de Gesso” - Prática funerária/religiosa
o As pessoas viviam em casas de tijolos de barro e, dentro dessas
casas, as pessoas construíam plataformas para colocar os crânios
dos seus ancestrais.
o Preparação:
• Mandíbula inferior removida
• Lacunas preenchidas com gesso.
• Cobertura com gesso com camadas externas moldadas
para se assemelhar à estrutura facial da pessoa.
• Pintados com ocre vermelho ou betume preto
o Detalhes:
• Cabelo pintado
• Características faciais pintadas (bigodes)
• Conchas de búzios como olhos

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Neolítico Antigo (Pré-Cerâmico)
Neolítico Pré-Cerâmico A
O período Neolítico 1 (PPNA) começou cerca de 10.000 AC no
Levante. Uma área de templo no sudeste da Turquia em Göbekli Tepe, datada
de cerca de 9500 AC, pode ser considerada como o início do período. Este
local foi desenvolvido por tribos de caçadores-colectores nómadas, como
evidenciado pela falta de habitações permanentes nas proximidades, e pode
ser o local de culto mais antigo conhecido de origem humana. Pelo menos sete
círculos de pedra, cobrindo 25 acres (10 ha), contêm pilares de pedra calcária
talhados com animais, insetos e aves. Ferramentas de pedra foram utilizadas
por talvez até centenas de pessoas para criar os pilares, que poderiam ter
suportado telhados. Outros sítios iniciais de PPNA datados de cerca de 9500-
9000 AC foram encontrados em Tell es-Sultan (antiga Jericó), Israel
(nomeadamente Ain Mallaha, Nahal Oren, e Kfar HaHoresh), Gilgal no Vale
do Jordão, e Byblos, Líbano. O início do Neolítico 1 sobrepõe-se, até certo
ponto, aos períodos Tahuniano e Neolítico Pesado.

O grande avanço do Neolítico 1 foi a verdadeira agricultura. Nas


culturas proto-Neolíticas Natufianas, foram colhidos cereais selvagens, e
talvez tenha havido uma selecção precoce de sementes e uma nova sementeira.

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O grão era moído em farinha. O trigo Emmer era domesticado, e os animais
eram pastoreados e domesticados (criação de animais e reprodução seletiva).

Em 2006, foram descobertos restos de figos numa casa em Jericó datada


de 9400 AC. Os figos são de uma variedade mutante que não pode ser
polinizada por insetos, e, portanto, as árvores só se podem reproduzir a partir
de estacas. Estas evidências sugerem que os figos foram a primeira cultura
cultivada e marcam a invenção da tecnologia de cultivo. Isto ocorreu séculos
antes do primeiro cultivo de grãos.

Os assentamentos tornaram-se mais permanentes, com casas circulares,


muito parecidas com as dos natufianos, com quartos individuais. No entanto,
estas casas foram pela primeira vez feitas de tijolo de lama. O povoado tinha
um muro de pedra circundante e talvez uma torre de pedra (como em Jericó).
O muro servia como protecção contra grupos próximos, como protecção
contra inundações, ou para manter os animais aprisionados. Alguns dos
recintos sugerem também o armazenamento de cereais e carne

➢ Características Gerais
o Primeiras práticas agrícolas;
o Primeiros povoados organizados com habitações de planta
circular multicelulares;
o Organização comunitária de atividades (torre e muralha de
Jericó);
o Indústrias líticas de tradição laminar e microlítica (caça e
elementos de foice);
• Ex: GOBEKLI TEPE (TURQUIA) 10.000 a.C.

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Neolítico Pré-Cerâmico B
O Neolítico 2 (PPNB) começou por volta de 8800 a.C. de acordo com
a cronologia ASPRO no Levante (Jericó, Cisjordânia). Tal como as datas
PPNA, existem duas versões dos mesmos laboratórios acima referidas. Este
sistema de terminologia, contudo, não é conveniente para o sudeste da
Anatólia e povoados da bacia média da Anatólia. [citação necessária] Foi
encontrado um povoado de 3.000 habitantes na periferia de Amã, Jordânia.
Considerado como um dos maiores assentamentos pré-históricos do Próximo
Oriente, chamado 'Ain Ghazal, foi continuamente habitado desde
aproximadamente 7250 a.C. até aproximadamente 5000 a.C.

Os assentamentos têm casas rectangulares de tijolos de lama onde a


família vivia junta em quartos individuais ou múltiplos. Os achados dos
cemitérios sugerem um culto dos antepassados onde as pessoas preservavam
os crânios dos mortos, que eram rebocados com lama para fazer feições
faciais. O resto do cadáver poderia ter sido deixado fora da povoação para se
decompor até que apenas os ossos fossem deixados, depois os ossos foram
enterrados dentro da povoação debaixo do chão ou entre as casas.

➢ Características Gerais:
o Generalização da agricultura acompanhada pelo pastoreio;

o Povoados complexos, com habitações retangulares pluricelulares


(com um ou dois pisos);
o Indústrias líticas de tradição laminar e microlítica (caça e
elementos de foice);
o Surgimento da tecnologia cerâmica a partir de 8500 BP (Síria e
Turquia)
o Forte intercâmbio.
• ÇATAL HUYUK (TURQUIA) 7.500 a.C

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