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Gestão
das águas
Dignidade Humana e Sustentabilidade por
meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor.
www.lumenjuris.com.br
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João Luiz da Silva Almeida
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Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
Inclui bibliografia.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiço-
amento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financia-
mento 001.
ISBN 978-85-519-0991-1
CDD 345
Apresentação................................................................................................... 1
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Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza
Gina Vidal Marcilio Pompeu
Ana Carla Pinheiro Freitas
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
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Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza
Gina Vidal Marcilio Pompeu
Ana Carla Pinheiro Freitas
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Organizadoras
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Desenvolvimento humano e
a gestão das águas: análise do
fortalecimento das cadeias de valor
Introdução
O objetivo geral exposto neste artigo é identificar de que modo pode-se
fortalecer as cadeias de produção rural na América Latina e analisar sua rela-
ção com as águas. Os objetivos específicos são três: identificar maneiras para
implementar o desenvolvimento sustentável no espaço rural a partir do forta-
lecimento das cadeias de valor nas atividades econômicas primárias e agregar
tecnologia e inovação nos processos produtivos; demonstrar que o desenvol-
vimento sustentável pressupõe o desenvolvimento humano e que o uso ético
das águas nas atividades econômicas pressupõe a capacidade para produzir e
acessar dados relevantes; propor a implementação da política industrial rural
para fortalecer as cadeias de valor das atividades no campo. Para alcançar os
objetivos elencados acima são discutidos o escopo das instituições para o de-
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Nesse sentido, por meio dessa pesquisa, discute-se a relevância dos fatores
humanos para o incremento da produção rural com base na análise das cadeias
de valor, do uso intensivo da tecnologia e do desenvolvimento econômico sus-
tentável. Todos esses debates têm origem nas características ambientais e so-
ciais da América Latina e a produção econômica que apresenta. Nota-se que as
águas são o fio condutor da análise em razão de sua relevância para os processos
econômicos e sua abundância ou de sua escassez na Região.
A análise inicia-se ao apresentar o cenário da relevância das águas para a
América Latina e o desenvolvimento humano, nesse viés, abordam-se aspectos
do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social das empresas e dos
indivíduos para a construção de um futuro melhor e equânime. Em seguida,
debate-se o papel da informação para o desenvolvimento humano e as reper-
cussões para a economia e a sociabilidade. Logo após, relaciona-se a agricultu-
ra familiar e os objetivos do desenvolvimento sustentável. Por fim, são tecidas
considerações sobre o significado dessa atividade para a economia local. Por
fim, apresenta-se a Política Industrial Rural delineada pela CEPAL, Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe e suas relações com todos os ele-
mentos produtivos apontados acima, a saber, o desenvolvimento humano, a tec-
nologia e o fortalecimento das cadeias de valor para o setor e a gestão das águas.
3 Segundo as autoras, o Brasil, o Peru e a Colômbia, juntos, detém 21,6% da água doce do globo ao
formar a Bacia Amazônica. Por sua vez, a Bacia do Prata, que se encontra localizada na Argentina,
no Brasil, no Paraguai e no Uruguai, está entre as maiores do mundo.
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4 Stakeholders são partes interessadas nas atividades das empresas. Existem diversos grupos deles,
primários e secundários em relevância, porém todos eles influenciam as empresas para que ofereçam
os resultados que anseiam. As empresas se alimentam das informações dos colaboradores e oferecem
respostas aos seus desejos. O diálogo travado permite às corporações antecipar e construir vantagens
competitivas (POMPEU; SANTIAGO, 2012, p. 40-43).
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5 Os cinco maiores exportadores de água virtual do mundo são Índia, Argentina, Estados Unidos,
Austrália e Brasil. Ademais, países como Colômbia e Peru, que abrigam parte significativa da Bacia
Amazônica e são exportadores de produtos primários, atuam no mesmo cenário, mesmo que em
menor proporção ((BRASIL É..., 2015, p. 1).
6 De acordo com Carneiro, as commodities se caracterizam por serem produtos indiferenciados, com
baixo processamento industrial e elevado conteúdo de recursos naturais.
7 Segundo a ONU, o indicador Nível de Estresse Hídrico revela a retirada de água doce numa proporção
com os recursos de água doce disponíveis (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017).
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avaliação dos resultados de aprendizagem e emprego, em escala de 0 (pior) a 100 (melhor), entre
cinco grupos etários distintos.
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Lembra-se que o fazer humano é orientado por certa ética, portanto, cabe
à sociedade debater e construir práticas que privilegiem o desenvolvimento co-
letivo. Tal empreendimento torna-se viável quando as capacidades humanas
são consideradas relevantes para os processos econômicos. Para tanto, urge a
produção de informações aptas a construção de novas realidades produtivas
num ciclo ininterrupto.
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Conclusão
A água é um bem essencial para o desenvolvimento da vida no planeta,
sendo utilizada nas mais diversas atividades humanas. É também um bem es-
casso e, como tal, oportuniza a racionalização dos seus usos. Diante desse fato,
a Organização das Nações Unidas estruturou a Agenda 2030 em 17 objetivos
voltados para desenvolver a sustentabilidade entre os Estados signatários. Em
tal documento, as 169 metas traçadas estabelecem inúmeras ligações com o
direito às águas uma vez que esse fluído garante a vida.
Em decorrência disso, percebe-se que realizar os princípios da sustentabili-
dade, isto é, harmonizar os ganhos econômicos, sociais e ambientais nas ativi-
dades humanas representa o resultado do esforço coordenado de ações. Desta-
ca-se o papel dos Estados, das empresas, das universidades e das comunidades
locais como instâncias de elevada responsabilidade para a formação de atitudes
sustentáveis. Assim, esses agentes contribuem para o reconhecimento do valor
econômico, cultural e social das águas e influenciam a sua gestão.
Cumpre lembrar que nas atividades econômicas, as águas entram nos pro-
cessos produtivos como insumos, porém, sua natureza de bem comum não é
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afastada. Desse modo, cabe aos usuários diretos e indiretos deste bem construir
os princípios éticos que nortearão as ações produtivas, de consumo, de apoio e
fomento ao desenvolvimento, de pesquisa, de formação de recursos humanos,
entre outras ações indispensáveis para a produção de riquezas.
Assim, priorizar o uso sustentável das águas nas atividades econômicas sig-
nifica reconhecer que todas as atividades humanas são frutos de escolhas e que
a realidade produtiva deve ser associada a boas práticas. Dentre elas, nota-se
a orientação para reduzir as desigualdades regionais e sociais, que expressa a
capacidade de produzir vantagens econômicas que representem, simultanea-
mente, ganhos ambientais e sociais.
Em síntese, percebe-se que o desenvolvimento humano representa a eta-
pa básica para realizar os valores da sustentabilidade, o qual encontra-se in-
timamente relacionado ao direito à informação. Dados relevantes orientam
às mudanças necessárias, diante das decisões nos processos humanos. Nesse
sentido, dados de natureza econômica tratados em conjunto com aspectos
ambientais e sociais instigam melhores percepções e, portanto, preparam
decisões mais acertadas.
As condições para produzir riquezas que agreguem maior valor e que possam
alcançar competitividade exigem elevado padrão de desenvolvimento humano.
Para tanto, urge desenvolver a capacidade de produção de dados que revelem
as potencialidades e as fortalezas locais e permitam ampliar as possibilidades
produtivas da sociedade.
Verifica-se que, a sociedade latino-americana não construiu para si as me-
lhores oportunidades de competitividade e agregação de valor e permanece
praticando uma economia voltada para a produção de commodities, que se ca-
racterizam como produtos de baixo processamento industrial, que contém ele-
vado teor de recursos naturais. Tal situação é alimentada por um contexto de
desinformação relevante e, portanto, pelo reduzido desenvolvimento das capa-
cidades. Assim, percebe-se que os processos de mudanças para enfrentar essa
realidade exigem a valorização das pessoas e das riquezas da Região.
Aponta-se que existem práticas econômicas que possibilitam melhores
resultados associados à ética da sustentabilidade. O desenvolvimento na
América Latina, tradicional exportadora de commodities agrícolas, pressu-
põe a valorização das atividades agropecuárias como estratégia para cons-
truir o desenvolvimento sustentável. Em virtude da quantidade elevada de
recursos naturais, proveniente da abundância de recursos hídricos, a região
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Referências
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Gina Vidal Marcilio Pompeu e Rosangela Souza Bernardo
CASTRO, Douglas de; DENNY, Danielle Mendes Thame; FILHO, José Val-
verde Machado; MACHADO, Alexandre Ricardo; WITT, Gabrielle Fontes.
Segurança alimentar e a governança econômica global. Revista de Direito
Internacional. Brasília, v. 14, n. 1, p. 126-141, jan. 2017. Disponível em <https://
www.publicacoesacademicas.uniceub.br/rdi/article/view/3641/pdf> Acesso em:
03 de jun. de 2017.
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Novo constitucionalismo
latino-americano: exemplo
de acesso à água potável
Introdução
O presente artigo científico tem como escopo apresentar contribuição aos
estudos sobre o acesso à Água Potável, ressaltando o tema sob a perspectiva do
Novo Constitucionalismo Latino Americano. O seu objeto é a Água Potável,
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Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
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6 Tradução nossa: “Es decir, la Constitución no es outra cosa que la juridificación de la democracia, y así debe
ser entendida”. REYES, Manuel Aragón. La Constitución como paradigma. In: CARBONELL, Miguel.
Teoría del neoconstitucionalismo. Ensayos escogidos. Madrid: Editorial Trotta, 2007, p.32.
7 MORAES, G., & JÚNIOR, W. (2013). A Construção do Paradigma Ecocêntrico no Novo
Constitucionalismo Democrático dos Países da UNASUL. Revista De Direito Brasileira, 5(3), 42-69.
8 Síntese objetiva sobre características do Constitucionalismo Clássico e o Constitucionalismo Social,
numa perspectiva submetida ao Direito Comparado e ao Direito Internacional, encontra-se em
MANILI, Pablo Luis. Constitucionalismo social.1. ed. Buenos Aires: Astrea, 2016. p.2.
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Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
9 Relatório Brundtland, de 1987, conhecido como relatório inovador que trouxe o conceito de
Desenvolvimento Sustentável para o discurso público. Disponível em https://nacoesunidas.org/acao/
meio-ambiente/. Acesso em 09/02/208.
10 SOUZA, Maria Cláudia da Silva Antunes de. Por um novo Modelo de Estado: o Estado de Direito
Ambiental. In: SANTO, Davi do Espírito e PASOLD, Cesar Luiz (orgs.). Reflexões sobre Teoria da
Constituição e do Estado. Florianópolis: Insular, 2013. p. 134.
11 Importa registrar que a doutrina é divergente quanto ao caráter pluridimensional da Sustentabilidade
e as dimensões que a suportam. Esclarece-se que não há a pretensão de aprofundar o estudo deste
relevante Tema nesse artigo, pelo que, seguimos o entendimento majoritário que considera a existência
de três dimensões que apoiam a Sustentabilidade: dimensão ambiental, econômica e social. Contudo,
em homenagem à saudável liberdade na Pesquisa Científica, aqui se admite a possibilidade de
percepção de novas dimensões para a categoria Sustentabilidade, principalmente sob a égide de um
“CONSTITUCIONALISMO ECOLÓGICO EM CONSTRUÇÃO”. Aliás, especificamente quanto
à esta importante espécie de Constitucionalismo, vide: SARLET, Ingo Wolfang et FENSTERSEIFER,
Tiago. Direito Constitucional Ambiental. Constituição. Direitos Fundamentais e Proteção do
Ambiente. 5.ed.rev.atual.amp.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. p. 52 e 53.
12 GARCIA, Denise Schimitt Siqueira. El principio de sostenibilidad y los puertos: a atividade
portuária como garantidora da dimensão economica e social do principio da sustentabilidade. 2011.
451f.Tese- (Doctorado em Derecho Ambiental y Sostenibilidade de la Universidade de Alicanre-UA)
– Universiade de Alicante, Espanha, 2011, pp.210-215.
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Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
E, mais:
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dos “direitos dos animais” (“animal liberation”), tendo Peter Singer à sua
frente, o ecofeminismo, a ecologia social e a cosmologia animística dos
povos indígenas Todas essas correntes propõem uma alteração ontológi-
ca na nossa visão da natureza e do nosso relacionamento com ela.
24 A professora Robyn Eckersley apud Antonio Herman Benjamin, define antropocentrismo como
sendo: [...] a crença na existência de uma linha divisória, clara e moralmente relevante, entre a
humanidade e o resto da Natureza; que o ser humano é a principal ou única fonte de valor e significado
no mundo e que a Natureza-não humana aí está com o único propósito de servir aos homens”.
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Grandes temas de direito administrativo:
homenagem ao professor Paulo Henrique Blasi. p. 10.
25 Processo que surge pela “cruel necessidade de sobrevivência do planeta, que sofre com o aquecimento
global, com a elevação dos níveis dos oceanos, com o aquecimento do atlântico, com os tsunamis,
furacões e demais catástrofes ambientais”. MIRANDA, Joao Paulo Rocha de. Fundamentos do Direito
Ambiental Aplicado às Ciências Agrárias, Ambientais e Jurídicas. Juina-MT: Amazon, 2009, p.25.
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28 CORTE, Tais Dalla. A (Re) Definição do Direito À Água No Século XXI: Perspectiva sob os
Enfoques da Justiça e da Governança Ambiental. p.147.
29 BARLOW, Maude. Água Pacto Azul: A crise global da água e a batalha pelo controle da água
potável no mundo. São Paulo: M. books, 2009, p.114.
30 CAUBET, Cristian Guy. O tribunal da água. GEOSUL, Florianópolis, n. 18, ano IX, p. 71-86, 1994, p.71.
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Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
é uma expressão quíchua que significa viver bem ou viver pleno e cujo
conteúdo não é outra coisa senão a ética-não a moral individual - que
deve reger a ação do Estado e de acordo com o que as pessoas devem
também se relacionam entre si e em especial com a natureza. Não se
trata do tradicional bem comum reduzido ou limitado para os seres hu-
31 BARLOW, Maude. Água Pacto Azul: A crise global da água e a batalha pelo controle da água
potável no mundo. p.110.
32 Preâmbulo da Constituição do Equador - Tradução nossa: PREAMBULO: NOSOTRAS Y
NOSOTROS, el pueblo soberano del Ecuador RECONOCIENDO nuestras raíces milenarias, forjadas por
mujeres y hombres de distintos pueblos, CELEBRANDO a la naturaleza, la Pacha Mama, de la que somos
parte y que es vital para nuestra existencia, INVOCANDO el nombre de Dios y reconociendo nuestras
diversas formas de religiosidad y espiritualidad, APELANDO a la sabiduría de todas las culturas que nos
enriquecen como sociedad, COMO HEREDEROS de las luchas sociales de liberación frente a todas las
formas de dominación y colonialismo, Y con un profundo compromiso con el presente y el futuro, Decidimos
construir Una nueva forma de convivencia ciudadana, en diversidad y armonía con la naturaleza, para
alcanzar el buen vivir, el sumak kawsay; Una sociedad que respeta, en todas sus dimensiones, la dignidad
de las personas y las colectividades; Un país democrático, comprometido con la integración latinoamericana
-sueño de Bolívar y Alfaro-, la paz y la solidaridad con todos los pueblos de la tierra; y, En ejercicio de nuestra
soberanía, en Ciudad Alfaro, Montecristi, provincia de Manabí, nos damos la presente.
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33 Tradução nossa do original: El sumak kawsay, que es una expresión quechua que significa buen vivir o
pleno vivir y cuyo contenido no es otra cosa que la ética –no la moral individual- que debe regir la acción del
estado y conforme a la que también deben relacionarse las personas entre sí y en especial con la naturaleza.
No se trata del tradicional bien común reducido o limitado a los humanos, sino del bien de todo lo viviente,
incluyendo por supuesto a los humanos, entre los que exige complementariedad y equilibrio, no siendo
alcanzable individualmente. ZAFFARONI, Eugenio Raul. La naturaleza como persona: Pachamama
y Gaia IN Bolivia: Nueva Constitución Política del Estado. Conceptos elementares para su
desarrollo normativo. Vicepresidencia del Estado Plurinacional: La Paz, Bolivia, 2010, pp.120-121.
34 Art. 12.-El derecho humano al agua es fundamental e irrenunciable. El agua cons-tituye patrimonio
nacional estratégico de uso público, inalienable, imprescriptible, inembargable y esencial para la vida; e
Art. 3.-Son deberes primordiales del Estado: 1.Garantizar sin discriminación alguna el efectivo goce de los
derechos establecidos en la Constitución y en los instrumentos internacionales, en particular la educación,
la salud, la alimentación, la seguridad social y el agua para sus habitantes.
35 Artículo 16. I. Toda persona tiene derecho al agua y a la alimentación e Artículo 20. I. Toda persona tiene
derecho al acceso universal y equitativo a los servicios básicos de agua potable, alcantarillado, electricidad,
gas domiciliario, postal y telecomunicaciones.
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Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
373, I que a água constitui um direito fundamental para a Vida, nos marcos da
soberania do povo.36
Já no ano de 2010, a Bolívia apresentou para a Assembleia Geral da ONU,
por intermédio de seu Embaixador Pablo Sólon37, um pedido de reconheci-
mento expresso da Água como Direito Humano, pelo que veio a ser editada
a Resolução 64/292 pela AG/ONU (2010), sobre o direito humano de acesso à
Água e saneamento, e logo em seguida, a Resolução 15/9 (2010) do Conselho
de Direitos Humanos das Nações Unidas, afirmando que a Água (seu acesso) é
garantia de nível de Vida adequado, saúde e dignidade.
O tratamento jurídico conferido às Águas pela Constituição da Bolívia
(2009) é, sem dúvida, um dos mais evoluídos do mundo. Nesse sentido comenta
William Paiva Marques Junior, que:
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qualquer ser vivo. Dela dependem todos os seres humanos para viver, que não
sobrevive de três a cinco dias sem Água.
Em todo o mundo, cerca de três em cada dez pessoas — em um total de 2,1
bilhões — não têm acesso a Água Potável em casa, e seis em cada dez — ou
4,5 bilhões — carecem de saneamento seguro, de acordo com novo relatório da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF) divulgado em 2017.
Não bastasse isso, todos os anos 361 mil crianças com menos de 5 anos
morrem devido a diarreia. O saneamento deficiente e a Água contaminada
também estão ligados à transmissão de doenças como cólera, disenteria, he-
patite A e febre tifoide40.
No Brasil, não é diferente. Em que pese se tratar de um País que possui
8% da Água doce de toda superfície do planeta e 13% do potencial hídrico do
mundo, ainda tem 45 milhões de brasileiros que não tem acesso à agua potável,
tampouco tratamento de esgoto41.
Por tudo isso, não é difícil acreditar que o motivo de uma futura guerra
mundial seja a água que, a exemplo do petróleo é fonte de riqueza, mas, muito
além disso, é fonte de Vida Digna.
A tutela jurídica da Água no Brasil, como já mencionado, encontra respaldo
em diversos artigos da CRFB/88. Entretanto, antes mesmo de sua publicação,
merece especial destaque, em âmbito infraconstitucional, o Código de Águas
(decreto n° 24.643 de 10 de julho de 1934) que foi o marco legal da normatiza-
ção e disciplina dos recursos hídricos no Brasil. Apesar de ser considerada por
alguns como uma lei completa, posto que já trazia àquela época a previsão do
princípio do poluidor-pagador, ele foi editado com a preocupação única do Go-
verno da época, que geria então um país eminentemente agrícola, e começa a
despertar para sua fase industrial, em regulamentar o aproveitamento industrial
das Águas, sobretudo, da energia hidráulica.
Em 1997, soma-se ao Código de Águas, a Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997,
instituindo a Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH), com intuito de
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Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
42 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos art.1º
a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 7.ed. São
Paulo: Atlas, 2006, p. 21.
43 ANTUNES. Paulo de Bessa. Direito ambiental. 5 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001, p.48.
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Conclusão
A Água Potável não é apenas fonte de Vida, mas condição precípua para
uma existência digna. Por isso, ressalta-se a importância e urgência na redefi-
nição do Direito à Água no Brasil, já inserido num século em que o contexto
internacional pressiona nesse sentido e alguns países o consagram de forma
expressa em seus mandamentos constitucionais.
Imprescindível à concretização dos direitos rogados nas lutas sociais, que
sejam estes formalmente consagrados, na Ordem Constitucional, princi-
palmente porque: “O Direito não pode ficar alheio às exigências sociais da
contemporaneidade”44.
Os direitos não são considerados fundamentais porque estão positivados,
mas devem ser positivados porque são fundamentais. Reconhece-los explicita-
mente, sobretudo na Constituição de um país, reporta à ideia de que o Estado
deve se responsabilizar por seu provimento e qualquer ameaça à efetivação des-
se direito pode (e deve) ser afastada, particularmente pela defesa de seus direitos
perante do Poder Judiciário.
Por certo, a sua formalização no Texto Constitucional é apenas um pas-
so da caminhada que se está iniciando, mas evidencia, como nos casos do
Equador e Bolívia, a concretização da voz da Sociedade, e corresponden-
te às necessidades do Século XXI a uma Vida Digna, em clara direção à
emancipação de seu povo. As duas aqui destacadas são Constituições que
denotam preocupação com o acesso a fontes de Água limpa para seu Povo,
marcando o início de novas bases do Constitucionalismo Ecocêntrico a ex-
pandir-se pelo Mundo.
E sob o ponto de vista das Águas, eleva-se o acesso da Água Potável à condi-
ção de Direito Humano, Fundamental e indissociável do Direto à Vida e Digni-
dade Humana. São novos desafios a serem assimilados para alcançarmos a ver-
dadeira concretização do direito que nos pertence e nem sempre nos é acessível.
Uma Constituição corresponderá aos anseios da Sociedade quando, para
muito além de sua transcendência jurídica, seja o resultado de um Projeto Po-
litico de Vida comum, elaborado legitimamente a partir dos anseios e com o
concurso ativo de toda a Cidadania.
44 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 1999, p.2.
51
Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
Referências
BARLOW, Maude. Água Pacto Azul: A crise global da água e a batalha pelo
controle da água potável no mundo. São Paulo: M. books, 2009.
_______. Água futuro azul: Como proteger a água potável para o futuro das
pessoas e do planeta para sempre. São Paulo: M.books, 2015.
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53
Manoelle Brasil Soldati, Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza e Cesar Luiz Pasold.
SOUZA, Maria Cláudia da Silva Antunes de. Por um novo Modelo de Estado: o
Estado de Direito Ambiental. In: SANTO, Davi do Espírito e PASOLD, Cesar
Luiz (orgs.). Reflexões sobre Teoria da Constituição e do Estado. Florianó-
polis: Insular, 2013. p.134.
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O direito fundamental de acesso à água
potável no Brasil como condição para
um desenvolvimento sustentável
Introdução
“Ouro azul”, assim tem-se designado a água desde final do Século XX, em
comparação ao petróleo, o “ouro negro”, dada a percepção da sua importância
para a humanidade e a sobrevivência do planeta4. O estudo e a preocupação
com a água foi por muito tempo restrita a especialistas, como hidrólogos, en-
genheiros, meteorologistas, com interesses específicos. Esse quadro, no entan-
to, têm mudado com a apreensão de que o acesso à água limpa tem-se tornado
cada vez mais difícil.
Dentro desse contexto, o presente estudo tem como objetivo defender que
o direito de acesso à água é condição para um desenvolvimento sustentável. O
acesso à água potável é direito fundamental na ordem jurídica brasileira, mesmo
não constando expressamente no art. 6º da Constituição Federal de 1988; e
direito humano, reconhecido formalmente no âmbito internacional, pela As-
sembléia Geral das Nações Unidas (ONU).
1 Doutora em Direito das Relações Econômicas Internacionais pela PUC-SP. Professora Pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade de Fortaleza REPJAL/ UNIFOR.
2 Doutoranda em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Professora
Assistente da Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: ivannapequeno@yahoo.com.br
3 Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Professora Assistente
da Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: jahyra@oi.com.br
4 O terno ouro azul é empregado pelos autores Maude Barlow e Tony Clarke, na obra Ouro Azul: como
as grandes corporações estão se apoderando da água doce no planeta (2003).
57
Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
5 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas doces. São
Paulo: Atlas, 2001, p. 60.
58
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
6 TASSIGNY, Monica M.; SANTOS, Ivanna Pequeno; SANTOS, Jahyra Helena P. Água é um sujeito
de direitos? Uma visão ecocêntrica da água. Revista de Direito Ambiental, ano 22, v.85, jan./-mar.,
2017, p.41-59.
7 Ibid., p.47.
8 Ibid., p.48.
59
Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
dução de uma vida digna. Sua fundamentação constrói-se a partir dos arts. 11 e
12 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, relacio-
nando, assim, o direito humano à água com o direito a um nível ou qualidade de
vida adequada e com o direito à saúde. Para o mencionado documento, o direito
humano à água resume-se no direito de todos disporem de água suficiente, sau-
dável, aceitável e acessível, para uso pessoal e doméstico9.
Dentro desse cenário de discussões referentes ao reconhecimento da água
como um direito humano, o Brasil vem produzindo, paulatinamente, legisla-
ções e políticas que buscam valorizar seus recursos hídricos. Com a Consti-
tuição da República de 1988, consagrou-se uma visão da água como bem de
domínio público, integrante do patrimônio ambiental. Repartindo seu domí-
nio entre a União e os Estados, o Texto prevê a implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos, que ocorreu em 1997, com a promulgação da
Lei Federal nº 9.433.
A atual Política Nacional, através de seus fundamentos e objetivos, incorpo-
rou ao arcabouço legal brasileiro conceitos fundamentais, que buscam alcançar
um uso mais racional desse recurso, por meio da hierarquia de prioridade de uso
e de uma gestão descentralizada e participativa. Dentre os seus objetivos esta a
preocupação de assegurar à atual e as futuras gerações a necessária disponibili-
dade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos.
O Brasil, é um país com importante rede hidrográfica, ocupa uma posi-
ção de destaque em relação à água, correspondente a 11,2% da disponibilidade
mundial, no entanto, a distribuição da rede hidrográfica não corresponde à dis-
tribuição espacial da população. De acordo com dados da Secretaria de Recur-
sos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, a região Norte contém 68,5% de
água doce e 6,98% da população do país; a região Centro-Oeste detém 15,7%
de água doce e 6,41% da população; a região Sul possui 6,5% de água doce e
15,5% da população brasileira; o Sudeste, por sua vez, dispõe de 6% de água
doce e 42,65% da população; já o Nordeste, com 3,3% de água doce, concentra
28,91% da população10.
Cerca de 30 milhões de pessoas vivem no chamado Polígono das Secas – que
inclui os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
9 Ibid., p.48.
10 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Águas subterrâneas: programa de água subterrânea.
Brasília: MMA, 2011, p.14.
60
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
11 AGUIAR, Laura; DELDUQUE, Marcelo; SCHARF, Regina. Como cuidar da nossa água. 4 ed. São
Paulo: BEÎ Comunicação, 2014, p.127.
12 Ibid., p.129.
61
Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
das necessidades básicas dos seres vivos. O direito de acesso à água tem relação
direta com os direitos fundamentais a vida, a saúde, a um ambiente sadio e ao
desenvolvimento, assumindo inegável contorno de direito fundamental.
13 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 65-76.
14 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, Estado de derecho y constitución. Madrid:
Editorial Tecnos, 2005, p. 32.
15 SARLAT, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2007, p.34-36.
62
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Em 1977 foi apresentado por Karel Vask o famoso “ modelo de três gera-
ções” […]. Conforme esse modelo, nasceram, no século XVIII nas revolu-
ções norte-americana e francesa, os direitos civis e políticos cuja função
principal consiste da proteção do indivíduo contra a arbitrariedade do
Estado. Surgiram depois, com a Revolução Soviética, em 1917, os direitos
econômicos, sociais e culturais, chamados de “segunda geração”. Sua rea-
lização progressiva exige do Estado, sobretudo, a tomada de medidas po-
sitivas. Vasak argumentou que uma terceira geração de direitos humanos
estivesse em processo de formação. Seriam direitos coletivos que só pode-
riam ser realizados através de esforços orquestrados internacionalmente
de todos s atores do sistema internacional. Vasak os chamou de “direitos
de solidariedade” e apresentou uma lista de direitos com potencial de se
transformarem em direitos positivos, entre outros, o direito ao desenvolvi-
mento, o direito a um meio ambiente sadio e o direito à paz16.
63
Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
17 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Recursos Hídricos: direito brasileiro e ambiental. São Paulo:
Malheiros, 2002, p.25.
18 NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao direito econômico. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2016, p.304.
19 MARINHO, Josaphat. Sociedade e Estado no Brasil na transição do século. Brasília: Senado Federal,
1995, p.38.
64
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Fonte: PEREIRA, João Victor Inácio. Economia global e gestão. Disponível em:
<http:www.scielo.mec.pt>. Acesso em: 30 jun. 2017.
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Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
Dentro desse contexto, foi aprovada em 2015, a Agenda 2030 para o Desen-
volvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU). Constitu-
ída por 17 objetivos, desdobrados em 169 metas, tem como objetivo resolver as
necessidades prementes da população. Aborda as dimensões social, econômica
e ambiental do desenvolvimento sustentável.
A Agenda elenca como um dos seus objetivos, assegurar a disponibi-
lidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. A meta é
alcançar acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos
até meados de 2030; melhorar a qualidade da água reduzindo a poluição;
aumentar a eficiência do uso da água com a participação das comunidades
locais e transfronteiriças23.
66
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
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Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
Art. 2º (…)
I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de
água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o
transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável.
25 Ibid.
26 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Ob. cit., p. 38-39.
68
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Nessa conjuntura, a pegada hídrica tem sido utilizada com a função de ava-
liar a sustentabilidade do uso da água. Consiste em um indicador do seu uso. É
definida como o volume de água doce utilizada para produzir bens e/ou servi-
ços. O termo “pegada” é usado como referência ao fato da humanidade ter-se
apropriado de uma percentagem dos recursos naturais do planeta. Indicador
multidimensional, mostra os volumes de consumo de água por fonte e os vo-
lumes de poluição por tipo de poluição. A sua avaliação é realizada com base
em uma estrutura de cálculo, com variáveis bem definidas e mensuráveis, com
diferentes procedimentos, conforme o objeto de estudo. 28
Essencialmente, “a avaliação de sustentabilidade da pegada hídrica visa
comparar a pegada hídrica humana com o que a Terra pode suportar de modo
sustentável.”29A sustentabilidade pode ser considerada sob diversos pontos de
vista: o geográfico, de um produto, de um produtor ou sob a dimensão de pro-
cesso específico do uso da água. Apresenta-se com as seguintes cores: azul,
quando refere-se ao consumo de água superficial ou subterrânea ao longo de
uma cadeia produtiva; verde, trata do consumo de água de chuva; cinza, quan-
do refere-se a poluição.
27 JACOBI, Pedro Roberto; FRACALANZA, Ana Paula. Comitês de bacias no Brasil: desafios de
fortalecimento da gestão compartilhada e participativa. Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente,
n.11-12, jan./dez. 2005. Editora: UFPR, p.41-49.
28 HOEKSTRA, Arjen Y.; CHAPAGAIN, Ashok K.; ALADAYA, Maite M.; MEKONNEN, Mesfin M.
Manual da Avaliação da Pegada Hídrica: estabelecendo o padrão global. Instituto de Conservação
Ambiental The Nature Conservancy do Brasil e Water Footprint Network, 2011, p.2.
29 Ibid., p. 69
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Ana Carla Pinheiro Freitas, Ivanna Pequeno dos Santos e
Jahyra Helena Pequeno dos Santos
Conclusão
O Brasil não possui, até a presente data, o reconhecimento expresso, afir-
mação ou garantia do direito fundamental de acesso à água potável. Contudo,
30 Ibid., p.71
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Referências
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
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“Pegada hídrica” e o valor
da água: dimensões entre Capitalismo,
Consumismo e Justiça Intergeracional
Introdução
Sabe-se que, da mesma medida que o capitalismo evoluiu, o consumismo
dele estreitamente se aproximou, deixando claro à pauta de debates a necessi-
75
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
dade de trazer à responsabilidade todos nós, atores das cadeias globais do uso
da água potável, e responsáveis pela sua revivificação, de modo que as futuras
gerações possam dela desfrutá-la como Direito Fundamental.
Fruto do método eleito para o presente estudo, cabe registrar a perspectiva
que norteia este trabalho: como hodiernamente maximizar a Justiça Intergera-
cional em prol da água potável em nosso planeta? Para tanto, objetiva-se situar
o leitor num espectro maior, o qual entrelaça o avanço da industrialização e da
tecnologia, quando a Sociedade assumiu um papel mais capitalista e consumis-
ta. Nos bastidores deste novo paradigma Social, este trabalho se debruça em
uma das suas inúmeras consequências para o ambiente, que é o quanto gasta-
mos de água potável para sustentar ciclos de economia e consumo e, sobrema-
neira, o que pode ser feito para a sua proteção como um Direito Fundamental
da humanidade e um dever da geração de hoje em prol daquela do amanhã.
O uso da água potável é um recurso único e extremamente necessário, que
tem passado entre pautas políticas e também econômicas, internas e externas.
As Nações Unidas consideraram 2013 como o “Ano da Água”, e os princípios
enunciados no Relatório Brundtland, da Comissão Mundial sobre o Meio Am-
biente e Desenvolvimento, de 1987, resumem documentos e relatórios, decor-
rentes de encontros anteriores, em prol do Desenvolvimento Sustentável com
responsabilidade ambiental perante as futuras gerações. No Brasil, os protetivos
aos recursos hídricos vão desde a Carta Constitucional até Resoluções da Agên-
cia Nacional de Águas.
No entanto, ainda se localizam no planeta inúmeros exemplos de mau
uso de recursos naturais e uma escassez iminente de água potável, além de
visões de degradação geradas pela poluição e por desastres naturais, fruto
do aquecimento global.
Nesse prumo, buscam-se alternativas factíveis e, assim, informam-se as refe-
rências do texto constitucional brasileiro e normas infraconstitucionais. Ainda,
oferecem-se alguns protetivos internacionais, de forma a ratificar a proteção
ao ambiente, exigindo-se estudos de impacto ambiental para obras e ativida-
des potencialmente causadoras de dano, seu controle e, especialmente, atitudes
conscientes em prol de mudanças e de proteção efetiva da natureza, aqui, em
especial, da água potável.
E, para que se compreenda o que se entende por Sustentabilidade e Desen-
volvimento Sustentável, serão apresentados os seus conceitos, como também a
necessidade de educação à sua efetivação, seja nos bancos escolares, seja pelo
76
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
4 Trata-se da base lógica que corresponde à identificação e colação das diversas partes de um fenômeno
com vistas à obtenção de uma percepção ou conclusão geral. Esta definição foi extraída, na forma de
paráfrase, da leitura de PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica: Teoria e Prática.
13a ed. rev. atual. amp. Florianópolis: Conceito Editorial, 2015, p. 97-99.
5 Método proposto por René Descartes e descrito no âmbito da pesquisa em direito em: PASOLD,
Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica, p. 92.
6 Uma síntese das linhas teóricas da sua perspectiva historiográfica se encontra no primeiro capítulo,
intitulado “O ponto e a linha. História do Direito e Direito Positivo na formação do jurista do nosso
tempo” da obra: GROSSI, Paolo. O direito entre poder e ordenamento. Tradução de Arno Dal Ri
Júnior. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
7 Sua perspectiva historiográfica se encontra na primeira parte de seu manual de História do
Direito, dedicada a pensar o papel dessa disciplina na formação dos juristas, que se confere em:
77
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Por isso, Fritjof Capra alerta para a importância de nossos jovens estarem cien-
tes do domínio do sistema financeiro e da corrupção na política.11
Veja-se que, inúmeras vezes, as transnacionais disputam a utilização do
termo Sustentabilidade como marketing de mercado, o que faz com que in-
centivos fiscais sejam a elas concedidos pelos Estados (sob a premissa de gerar
emprego e renda com benefícios ambientais, quando, em verdade, resultados
concretos não são vistos); decorrendo dai, no mais das vezes, consumidores
enganados por essa propaganda.
Para entender essa questão, vale recordar que boa parte dessas empresas
não fala em Sustentabilidade, mas, sim, em Desenvolvimento Sustentável, ter-
mo trazido pelo relatório Brundtland, produzido pela Comissão Brundtland,
nos anos 80, que sintetizou o conceito de Desenvolvimento Sustentável como
“aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibili-
dade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. Essa refle-
xão, entretanto, já vinha de longa data registrada em documentos do Clube de
Roma, da Conferência de Estocolmo, do Congresso de Belgrado e da Conferên-
cia de Tbilisi. A Comissão Brundtland proporcionou, no entanto, após gran-
des debates, elementos que adquiriram diversos simpatizantes à causa, mas, ao
mesmo tempo, grandes resistências pelos empecilhos aos interesses econômicos
decorrentes de inúmeras restrições12. De too modo, esta terminologia13, concei-
tualmente ou na prática, tem-se revelado insuficiente para conter os avanços da
modernidade na degradação ambiental.
Cabe agregar, ademais, que o Capitalismo Industrial teve seu advento mar-
cado pela Revolução Industrial, trazendo significativas mudanças sociais, cul-
turais e políticas para a Sociedade, especialmente no que se refere às relações
consumeristas, que passaram a ter como finalidade a obtenção de lucro. Nessa
11 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Editora: Cultrix. 2002.
Tradução Marcelo Brandão Cipolla, p. 218 e 268.
12 A criação do CNS em Outubro/1985; a morte de Chico Mendes em 22/12/1988; a oficialização da
COIAB em 19/04/1989 são os resultados desse processo que desembocou na Eco-92. (Disponível em:
<http://www.gta.org.br/quem-somos/>. Acesso em: 20 jul. 2017).
13 Adiante será mais bem explicado por que, conforme ensina Capra, o conceito de Desenvolvimento
Sustentável é insuficiente para resolver os problemas ambientais que o mundo enfrenta. Isso, adianta-
se desde logo, porque o Autor trabalha a ideia dos sistemas em teia e assim também para a natureza,
que, via oblíqua, dependerá de mecanismos de autossustentação. In: CAPRA, Fritjof. As Conexões
Ocultas: ciência para uma vida sustentável, p. 218 e 268.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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16 BAUMAN, Zigmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução
de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p. 63, itálico no original.
17 BAUMAN, Zigmunt. Capitalismo parasitário: e outros temas contemporâneos, p. 26.
18 Idem, p. 22. Para noções mais aprofundadas sobre o sistema jurídico medieval e a civilização medieval,
sugere-se a clássica obra de GROSSI, Paolo. O direito entre poder e ordenamento. Quanto às
estratégias jurídicas da modernidade, indica-se, do mesmo autor: GROSSI, Paolo. Mitologias
jurídicas da modernidade. Tradução de Arno Dal Ri Jr. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
19 ELKINGTON, John. Sustentabilidade, canibais com garfo e faca. Tradução de Laura Prades
Veiga. São Paulo: MBooks, 2012, p. 52.
81
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
20 FERRER, Gabriel Real. La sostenibilidad como guía de acción de la Humanidad. In: CHACON, Mario
Peña (Org). El Principio de No Regresión ambiental en Iberoamérica. Tradução nossa, p. 3.
21 Em apertada síntese, a sustentabilidade ambiental, dimensão mais conhecida, foi aquela em torno da
qual se criaram os primeiros consensos mundiais, constituindo um dos Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio, para que não fosse comprometida a possibilidade de manutenção dos ecossistemas
essenciais à manutenção da espécie. A segunda, econômica, consiste em encontrar um modo de
aumentar a geração de riqueza de um modo ambientalmente sustentável, privilegiando os setores
mais “verdes”. A terceira, tecnológica, menos tratada nos manuais de Direito Ambiental, já não
pode mais ser negligenciada diante dos progressos tecnológicos verificados nos últimos anos e que
impactam diretamente a relação do homem com a natureza. In FERRER, Gabriel Real. El Principio de
no Regresión Ambiental a la luz del paradigma de la Sostenibilidad. In: CHACON, Mario Peña (Org).
El Principio de No Regresión ambiental en Iberoamérica. tradução nossa, p. 4-10.
22 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável, p. 79.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
23 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável, p. 79.
24 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável, p. 206.
25 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável, p. 207.
26 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável, p. 214.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
30 Neste estudo a sigla CRFB sempre se remete à Constituição da República Federativa do Brasil.
31 Após esta primeira citação, as seguintes levarão apenas a sigla PNRH.
32 Publicada no DOU de 18/03/2005.
33 Segundo a Instrução Normativa n. 4, de 26/06/2000, do Ministério do Meio Ambiente, que aprova
procedimentos administrativos para a emissão de outorga de direitos de uso de recursos hídricos em
corpos d’água da União, corpo d’água ou corpo hídrico é o “curso d’água, reservatório artificial ou
natural, lago, lagoa ou aquífero subterrâneo”.
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Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
34 AMORIM, João Alberto Alves. Direito das águas: o regime jurídico da água doce no direito
internacional e no brasileiro. São Paulo: Lex Editora, 2009, p. 31.
35 Oportuno relembrar, brevemente, alguns dos mais relevantes momentos históricos da construção
internacional ao direito à água: Conferência das Nações Unidades sobre Água, em Mar del
Plata, 1977 (conceito de quantidade mínima necessária de água para satisfazer às necessidades
humanas básicas); Convenção internacional sobre a água e o desenvolvimento sustentável na
Conferência de Dublin, em 1992 (Princípio n. 4 reconhece o direito fundamental de todo o ser
humano ter acesso à água potável e ao saneamento a preço acessível); Conferência das Nações
Unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, a Cúpula do Rio, 1992 (reconhecimento
que todas as pessoas têm direito à água potável e à manutenção do abastecimento apropriado
para toda a população do planeta); Cúpula mundial sobre o desenvolvimento sustentável, 2002
(metas para ampliar o acesso a requisitos básicos como a água potável); Comentário geral n. 15,
2002 (orientações para interpretação do direito à água); Projeto de diretrizes para a realização
do direito humano à água potável e ao saneamento, 2005 (projeto de diretrizes para auxiliar
políticas governamentais, agências internacionais que trabalham no setor da água e saneamento).
Catalogação encontrada em: WOLKMER, Maria de Fátima Schumacher. O “novo” direito
humano à água. In: Os “novos” direitos no Brasil: natureza e perspectivas: uma visão básica das
novas conflituosidades jurídica. WOLKMER, Antonio Carlos; MORATO, Leite José Rubens
(org.). 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 195-198.
36 DANTAS, Marcelo Buzaglo; Schmitt, Guilherme Berger. Os desafios da sustentabilidade ambiental na
gestão dos recursos hídricos: o papel do direito e do poder público no Brasil e na Espanha. Disponível
em: <http://siaiapp28.univali.br/lstfree.aspx?type=ebook&id=4> Acesso em: 29 dez. 2017, p. 15.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
37 Mas o que seriam Direitos Fundamentais? Para Ferrajoli, em tradução das Autoras deste trabalho, a
resposta mais fecunda, no âmbito da teoria do direito, é que os identifica com os direitos que estão
adstritos universalmente a todos enquanto pessoas ou enquanto cidadãos ou pessoas com capacidade
de trabalhar, e que são, portanto, indisponíveis e inalienáveis. FERRAJOLI, Luigi. Democracia y
garantismo. Madrid: Editorial Trotta, 2008, p. 42-4.
38 Cabe registrar que autores como o madrilenho Gregório Peces-Barba (tradução igualmente das
Autoras deste trabalho) manifestam sua preferência pela expressão “direitos fundamentais”,
significando a relevância moral de uma ideia que impacta a dignidade humana e seus objetivos de
autonomia moral, e também a relevância jurídica que converte os direitos em norma básica material
do ordenamento, constituindo instrumento necessário para que o individuo desenvolva todas as
suas potencialidades na sociedade. (PECES-BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Curso de Derechos
Fundamentales: teoria general. Madrid: Universidad Carlos III, 1995, p. 37).
39 Características do Comentário Geral n. 15/2002 do Comitê das Nações Unidas, encontradas em:
WOLKMER, Maria de Fátima Schumacher, 2012, p. 201 e 202.
40 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Editora: Cultrix. 2002.
Tradução Marcelo Brandão Cipolla. (acesso livre), p. 232.
87
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
Mas será que o Estado, unicamente, pode sustentar esta garantia? Ademais,
o papel do Estado nesse contexto se limita à normatização hídrica e à fiscaliza-
ção do seu cumprimento se dá pela Sociedade?
Para responder a essa indagação, cabe trazer à baila o que podemos chamar
de responsabilidade compartilhada entre os atores de atitudes de Sustentabili-
dade em prol da água potável como um Direito Fundamental.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
44 THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. Ed. Companhia de Bolso. 2010, p. 18.
45 THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. Ed. Companhia de Bolso. 2010, p. 38 e 39.
46 THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. Ed. Companhia de Bolso. 2010, p. 41.
47 Transconstitucionalismo, em apertada síntese, identifica os problemas que o Estado não tem
como resolver no âmbito de ordenamentos internos, levando-o a aderir a tratados internacionais
89
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
ou, espontaneamente, ao diálogo entre Cortes. Ainda, trata de questões entre o direito estatal e
extra estatal. Assim, segundo Marcelo Neves: “O transconstitucionalismo não toma uma única
ordem jurídica ou um tipo determinado de ordem como ponto de partida ou ultima ratio. Rejeita
tanto o estatalismo quanto o internacionalismo, o supranacionalismo, o transnacionalismo e o
localismo como espaço de solução privilegiado dos problemas constitucionais. Aponta, antes, para a
necessidade de construção de “pontes de transição”, da promoção de “conversações constitucionais”,
do fortalecimento de entrelaçamentos constitucionais entre as diversas ordens jurídicas: estatais,
internacionais, transnacionais, supranacionais e locais.” NEVES, Marcelo. (Não) solucionando
problemas constitucionais: transconstitucionalismo além de colisões. Lua Nova, São Paulo, 93:
2014, p. 208. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n93/08.pdf>, acesso em 26 jan. 2018.
48 O Autor afirma a Era dos riscos globais, dentre eles ressalta os ecológicos, químicos, nucleares
e genéticos, produzidos industrialmente, externalizados economicamente, individualizados
juridicamente, legitimados cientificamente e minimizados politicamente. Somou os riscos
econômicos, como as quedas nos mercados financeiros internacionais. Este conjunto de riscos é
responsável por um novo capitalismo, uma nova forma de economia, uma nova forma de ordem
global, uma nova forma de sociedade e uma nova forma de vida pessoal. E, ao mencionar a
globalização dos riscos, propõe que se criem governos e instituições abertas, transparentes, as quais
eficientemente produzam informações ao público e alertem as indústrias, modos de convivência e
enfrentamento dos riscos, ao invés de bani-los. Tradução livre das Autoras. Beck, Ulrich. World risk
society. Cambridge, Polity Press, 1999, p. 2-7 e 108.
49 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Editora: Cultrix. 2002.
Tradução Marcelo Brandão Cipolla. (acesso livre), p. 232.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
quais abastecem os grandes centros urbanos e as áreas rurais. Isto porque, como
destacam, o desenvolvimento integra a vida cotidiana, porém, pede sempre que
seja “consciente e sustentável”.50
Essa reflexão, entretanto, já constava em documentos do Clube de Roma,
da Conferência de Estocolmo, do Congresso de Belgrado e da Conferência
de Tbilisi. A Comissão Brundtland, mencionada anteriormente, proporcio-
nou, no entanto, após largos debates, material teórico e prático e conquistou
muitos simpatizantes anônimos e famosos, e também muita resistência à
causa ambiental, pelos empecilhos aos interesses econômicos provocados
por diversas restrições51.
A Sustentabilidade, na prática, é termo difícil. De um lado, é compreendido
pelos economistas, com crescimento ilimitado do Produto Interno Bruto – PIB;
por outro, como desejam os ecologistas, com o desenvolvimento multidimensio-
nal da vida, não só das nossas capacidades econômicas, mas também daquelas
culturais e espirituais. Vale lembrar, neste ponto, o preceito de Erich Fromm
em sua célebre obra “Ter ou Ser”, na qual sintetiza a consequência desta atitude
preponderante de egoísmo pelos dirigentes da nossa Sociedade, que acreditam
que as pessoas podem ser motivadas apenas pelo incentivo de vantagens ma-
teriais, ou seja, através de recompensas, e que não reagirão aos apelos da soli-
dariedade e do sacrifício. Portanto, com exceções dos tempos de guerra, estes
apelos raramente são feitos, e as hipóteses de observar os possíveis resultados
perdem-se por completo. Apenas uma estrutura socioeconômica e um quadro
da natureza humana radicalmente diferentes poderiam mostrar outra maneira
de influenciar positivamente as pessoas52.
Nesse contexto, propõe-se o compartilhamento de responsabilidades53,
uma atitude de Governança, quando se poderá buscar otimizar atitudes pri-
50 SOUZA, Maria Cláudia Da Silva Antunes de; GUILARD, Hilariane Teixeira. Revista Jurídica
Unicuritiba. Vol. 2, n. 47. Recursos hídricos, agropecuária e sustentabilidade: desafios para uma
visão ecológica do planeta, p. 93.
51 A criação do CNS em Outubro/1985, a morte de Chico Mendes em 22/12/1988, a oficialização da
COIAB em 19/04/1989 são resultados desse processo, que desembocou na Eco-92. (Disponível em:
<http://www.gta.org.br/quem-somos/> Acesso em: 20 jul. 2017).
52 FROMM, E. Ter ou Ser? 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977, p. 78.
53 No Brasil, vale lembrar que a responsabilidade compartilhada está expressamente prevista, a exemplo,
na Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual elencou a reciclagem, a logística reversa e padrões
sustentáveis de produção e consumo. O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos,
a seu turno, apenas dispõe de informações destinadas ao público, cujo conteúdo se volta mais à
91
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
quantidade, qualidade, eventos críticos de água, planos de recursos hídricos, regulação, fiscalização,
programas de conservação e gestão. (Disponível em: BRASIL. <www3.ana.gob.br>. Acesso em: 28
jan. 2018, não paginado).
54 Como se pode constatar em pesquisas na rede mundial de computadores, valendo citar https://www.
dicionarioinformal.com.br/sinonimos/pegada/. Acesso em: 28 jan. 2018, não paginado.
55 É pública e notória a expressão pelos Autores criada, porém, referências à importância são largamente
encontradas na doutrina, podendo-se citar, por exemplo REYES, Bernardo; WACKERNAGEL,
Mathis; REES, William Rees. Nuestra huella ecológica: Reduciendo el impacto humano sobre la
Tierra, IEP/Lom Ediciones, Santiago 2001, 207 p. , Polis [En línea], 4 | 2003, Publicado el 20 octubre
2012, consultado el 03 junio 2018. URL : http://journals.openedition.org/polis/7216.
92
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
56 CARMO, R. L.; OJIMA, A. L. R. O.; OJIMA, R.; NASCIMENTO, T. T. Água virtual, escassez e
gestão: O Brasil como grande “exportador” de água. B. v.X, n.1, 2007. p. 83-96.
57 Na nota a seguir é dado exemplo da forma como a produção animal é prejudicial à natureza e aos
recursos hídricos, não solucionando o problema da fome mundial. Falar de vegetarianismo é um tema
ainda árido, porque envolve uma discussão sobre costume, hábito humano de comer animais. Porém,
considerando o aumento populacional terreno e larga produção industrial em países com reservas de
água potável para satisfazer apenas uma parcela da população mundial, essas questões já passam da
“hora” de seriamente serem debatidas e a população, esclarecida.
58 Para falar um pouco de animais e o impacto que geramos na natureza para sustentar uma parcela da
humanidade a um custo de água muito alto, vale registrar as palavras de Sônia Felipe, filósofa com
larga notoriedade na temática: Veja-se “[...] Matamos ao redor do planeta atualmente 70 bilhões
de animais. Nós somos 7 bilhões de humanos. E estes animais mortos servem à dieta de apenas 3,5
bilhões de humanos, mesmo tendo uma média de 30 animais mortos por ano per capita, muitos
brasileiros nunca viram e jamais verão carnes ou queijos nos seus pratos.
Por que fazemos isso aos animais? Porque fomos enganados pela propaganda da proteína
animalizada, no sentido de que é necessário comer 300 gramas de proteína animal por dia, mas há
quem sustente que não necessitamos de aminoácidos animalizados, tem-se uma primeira geração de
veganos do mundo. A decisão de excluir da própria biografia a matança de animais é de cada um.
Nós discriminamos os animais pela mesma razão pela qual discriminamos negros, índios, os
"homeless”, os homossexuais, os transexuais. O que o corpo faz é síntese de certos aminoácidos de
que, no nosso caso, precisamos para reposição de nossos tecidos.
93
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
A escola tradicional ainda sustenta a necessidade de proteínas serem ingeridas. Nenhum corpo
animal fabrica proteína, mas sim faz a síntese de aminoácidos.
E uma proteína foi dada de comer ao animal: os grãos, os cereais e plantas. Estes cultivados
neste planeta, sendo que a cada 100 hectares, cerca de 70 a 90% são destinados à digestão dos
animais e de toda essa proteína que é dada aos animais.
30% das áreas mais férteis do planeta são usadas para esta alta tecnologia “meiocida” e de toda
essa proteína que é dada aos animais, quase 100% é desperdiçada pelo próprio metabolismo animal.
Quando comemos a carne bovina para cada 100 gramas de proteína vegetal rica que demos de
comer ao animal (4 gramas –bovina- 12 gramas –porco-17 gramas –frango-; quando bebemos leite,
são 22 gramas e para as galinhas na coleta de ovos ele devolve 23 gramas). [...]”. Palestra proferida
pela filósofa Sônia Felipe explicando seu livro Galactolatria: mau deleite. São José: Ecoânima,
2012. Isso, sem falar na questão ética de matar animais, apesar de não ser aqui o estudo, mas a
oportunidade pede porque é um outro forte argumento em prol da água e da natureza. No congresso
dos neurocientistas reunidos em Cambridge, em 2012, os cientistas fizeram uma declaração pública
de que não há diferença alguma entre o que nós sentimos e que os animais sentem. A única diferença
é que eles não podem expressar a sua dor e o seu favor. Seguindo, portanto, o que os filósofos
animalistas seguem há 40 ou 50 anos, a ONU, em seu relatório de 2010, apontou que não haverá vida
no planeta se seguirmos a dieta animalizada, não há mais rios para irrigar as plantações e hidratar os
animais no mundo.
59 BRASIL, disponível em: <http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=1412>. Acesso em: 28 jan 2018.
60 LAMIN-GUEDES, Valter. A pegada hídrica: conceito e uso em atividades de educação ambiental.
Revista de estudos da água. Disponível em: <http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=1412>.
Acesso em: 28 jan. 2018, não paginado.
94
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
ekstra, destaca que, igualmente para a água doce não podemos olhar de for-
ma fragmentada, como a tudo propõe Capra e explanado no princípio deste
estudo; ao revés, devemos olhar como um todo, assim, podemos compreender
o que falta para que a água doce seja protegida e assegurada como um bem
Fundamental hoje e garantida no amanhã.
Ademais, a “Pegada Hídrica” de um indivíduo ou comunidade pode ser es-
timada multiplicando-se todos os bens e serviços consumidos por seus respecti-
vos conteúdos de “Água Virtual”. E a “Pegada Hídrica” de uma nação consiste
de partes interna e externa, sendo a interna referente ao consumo dos recursos
hídricos dentro do país, enquanto a externa refere-se à apropriação dos recursos
hídricos de outros países61.
61 Para maiores considerações, sugere-se este estudo, onde são anotados mapas mundiais de “Pegada
Hídrica” ou com a sigla PH, e da “virtual, azul, cinza e verde”, assim classificadas, a depender das
condições que levam aos índices correspondentes. No mesmo trabalho, explica-se que: “Os quatro
principais fatores de determinação da PH de um país são: o volume de consumo (em relação ao
Produto Interno bruto - PIB), o padrão de consumo (por exemplo, alto e baixo consumo de carne),
as condições climáticas (condições de crescimento das culturas agrícolas) e práticas agrícolas (uso
eficiente da água). Na média anual, os norte-americanos têm uma PH de 2.482 m3. Já a média global
é de 1.243 m3 e a do Brasil é de 1.381 m3 (CINTRA, 2011). Cerca de 38% da PH global refere-se a três
países: China, Índia e Estados Unidos. O próximo país no ranking é o Brasil, com uma PH total de
482 Gm3/Ano (HOEKSTRA e MEKONNEN, 2012).
A maioria dos usos de água ocorre na produção agrícola, destacando também um número
significativo de volume de água consumida e poluída nos setores industriais e domésticos (SILVA et
al., 2013). É muito interessante destrinchar o perfil de cada região quanto ao consumo de água; por
este motivo, a PH é formada por três componentes: verde, azul e cinza:
PH verde – refere-se ao consumo de água das chuvas, sendo a maior parte consumida na
produção agrícola;
PH azul - água da superfície e do solo, por exemplo, obtida de poços, processos industriais que
produzem vapor ou na incorporada aos produtos;
PH cinza – definida como o volume de água doce que é necessária para assimilar a carga de
poluentes existentes com base em padrões de qualidade de água no ambiente”.
Disponível em: <http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=1412>. Acesso em: 28 jan. 2018.
95
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
Por exemplo, acaso o Estado contabilizasse o valor da água que está obri-
gado a garantir à Sociedade, quanto seria seu valor verdadeiro? E se colocásse-
mos num balanço de uma empresa o efetivo valor da água para sua atividade,
em quanto estaria quantificada? E os indivíduos, qual valor dariam à água?
Quanto você diria que vale a água, especialmente se ela fosse escassa ou
quando ela faltar em sua vida?
Jorge González González, da Universidad de Alicante, expressa que a água
tem e sempre teve um valor econômico, porém sua significação e conteúdo
social, que reverberam um Direito Humano, podem contrastar com o lucrativo
negócio da água que é um recurso insubstituível.62
Ainda, o Autor espanhol explana que:
62 GONZÁLEZ, González Jorge. El acesso al agua potable como derecho humano: su dimensión
internacional. Editorial Clube Universitário: Alicante, España, 2010, p. 18.
63 GONZÁLEZ, González Jorge. El acesso al agua potable como derecho humano: su dimensión
internacional, p. 18.
64 Disponível em: <http://aquapath-project.eu/calculator-po/country.html>. Acesso em: 28 jan. 2018,
não paginado.
96
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Logo, inúmeros casos indicam que investir, por exemplo, na proteção das
bacias hidrográficas é a maneira mais barata de administrar riscos de negócios
que precisam da água potável, seja virtual ou para consumo direto.
Menos poluição e menos erosão significam menos risco de interromper
o fornecimento de água [...]. O fundo da água é também uma forma de a
companhia de água e de todos os demais acionistas terem um programa
de ação comum. Motivar o setor privado a conversar com o setor púbico,
algo difícil em qualquer lugar, é um desafio ainda maior em países emer-
gentes, onde ninguém confia nas instituições públicas.68
65 TERCEK, Mark R.; JONATHAN, S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. p. 49.
66 TERCEK, Mark R.; JONATHAN, S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. p. 202.
67 Disponível em: <http://welcome.curupira.com/blog/o-que-e-sustentabilidade-corporativa/>. Acesso
em: 28 jan. 2018.
68 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. p. 49.
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Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
a matter of adaptation and debate, a proliferation of new forms of participation can be expected to
complement and challenge the traditional governmental system. In the new paradigm, the state is
embedded in civil society and the nation is embedded in planetary society. The market is a social
institution to be harnessed by society for ecology and equity, not simply wealth generation. The
individual is the locus of a web of social relationships, not simply an atom of pain and pleasure.”
71 FERRER, Gabriel Real. El Principio de no Regresión Ambiental a la luz del paradigma de la
Sostenibilidad. In: CHACON, Mario Peña (Org). El Principio de No Regresión ambiental
en Iberoamérica. Gland (Suiza): Universidad de Costa Rica: Unión Internacional para la
Conservación de la Naturaleza (UICN). Comisión Mundial de Derecho Ambiental, 2015. 330
p. Disponível em: <https://portals.iucn.org/library/sites/library/files/documents/EPLP-084.pdf>.
Acesso em: 7 fev. 2017, p. 4.
72 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. P. 49.
99
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
73 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014., p. 169.
74 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. p. 194.
100
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
mindo. Por certo, muitos ficarão surpresos ao saber o volume de “Água Virtual”
embutido em suas vestes e seus alimentos.
E será que empregando também o valor à água, Estado e empresas não terão
um incentivo a mais para proteger este valioso bem que é a água potável e sem
o qual não teremos futuras gerações? Ora, se
75 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. p. 222.
76 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. p. 223.
77 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014, p. 216/7.
101
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
78 CAPRA, Fritjof. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São
Paulo: Cultrix. 2006, p. 09.
79 CAPRA, Fritjof. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São
Paulo: Cultrix. 2006, p. 11.
80 CAPRA, Fritjof. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São
Paulo: Cultrix. 2006, p. 179/99.
102
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103
Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, Priscilla Linhares Albino, Vânia Petermann
83 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Editora: Cultrix. 2002.
Tradução Marcelo Brandão Cipolla. (acesso livre), p. 238.
84 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Editora: Cultrix. 2002.
Tradução Marcelo Brandão Cipolla. (acesso livre), p. 241.
85 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1996, p. 56.
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Conclusão
No presente estudo pode-se apresentar a conexão com a evolução do capitalis-
mo e o consumismo humano, seja para aumentar as necessidades de uso de recursos
naturais nas cadeias de produção, desde o início até o final, seja para o acompa-
nhamento humano nas necessidades de consumir cada vez mais. As necessidades
de vida passam do comer, habitar, vestir, mover-se, para ter conforto, luxo, até a
substituição e sentimentos de vida para a satisfação do simples comprar.
Observou-se que, frente a esse visual, surgiu uma nova forma de organi-
zação do comércio, das relações de trabalho e a acumulação de capital, com
estímulos para que os indivíduos adquirissem bens materiais. Ademais, com a
evolução tecnológica, eletrônica, das comunicações e da informática, ocorrida
86 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Editora: Cultrix. 2002.
Tradução Marcelo Brandão Cipolla. (acesso livre), p. 273.
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87 TERCEK, Mark R.; JONATHAN S. Adams. Capital Natural: como as empresas e a Sociedade
podem prosperar ao investir no meio ambiente. Tradução Vera Caputo. São Paulo: Alaúde
Editorial. 2014. P. 202.
88 CAPRA, Fritjof. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São
Paulo: Cultrix. 2006, p. 179/99.
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Referências
AMORIM, João Alberto Alves. Direito das águas: o regime jurídico da água
doce no direito internacional e no brasileiro. São Paulo: Lex Editora, 2009
BECK, Ulrich. World risk society. Cambridge, Polity Press, 1999, p. 2-7 e 108.
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Gobernanza del agua y ods 2030
Agua y Sostenibilidad
Introducción
Reiterando diversas alertas anteriores, provenientes de varias
organizaciones internacionales, el World Water Council1 advirtió en 2012 que
“las sociedades actuales enfrentan una crisis en el manejo del agua, misma
que podría caracterizarse como una crisis de gobernanza”. En efecto, dado
que el agua es un recurso escaso y necesario, las crecientes tensiones entre
disponibilidad y demanda agravan las disfunciones de algunos modelos de
gestión que únicamente pueden ser satisfactoriamente resueltas mejorando sus
procesos de gobernanza. Incluso en entornos geográficos y jurídico-políticos,
como en España, donde, debido a su secular escasez, tradicionalmente esta
materia ha sido bien abordada, considerándose ejemplar en muchos aspectos2,
es necesario re-considerar sistemáticamente la arquitectura, métodos y
procedimientos de nuestro modelo de gobernanza de cara a asegurar el justo
y suficiente acceso a sus distintos demandantes.
Esta consideración general se refuerza significativamente si pensamos que
este recurso esencial no sólo debe atender las necesidades directas de sus
usuarios, sino que su adecuada gestión es capital para garantizar la sostenibilidad
del Planeta, objetivo global que la Comunidad Internacional ha marcado como
eje insoslayable de todas la políticas públicas. En España y en la gran mayoría
de países se han venido suscribiendo los distintos compromisos internacionales
1 http://www.worldwatercouncil.org/
2 Relativo a España en general, véase el documento del Ministerio de Agricultura, Alimentación y
Medio Ambiente “Sistema Español de Gobernanza del Agua. 2000 años planificando y gestionando
los recursos hídricos con eficacia y seguridad”, disponible en http://www.mapama.gob.es/es/agua/
temas/sistema-espaniol-gestion-agua/
Igualmente puede verse BERGA CASAFONT, Luis, “La gobernanza del agua en España”,
Revista de Obras Públicas, nº 3.507, febrero 2010.
115
Gabriel Real Ferrer
1. Gobernanza
Ampliando su anterior y escueta definición, como “arte o manera de
gobernar”, modernizándola y precisando mejor su significado, desde su 22ª
edición, en 2001, el diccionario de la Real Academia Española define la
gobernanza como:
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5 http://www.oecd.org/cfe/regional-policy/water-governance-initiative.htm
120
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
121
Gabriel Real Ferrer
sector y los diferentes intereses presentes, resultan sin duda inexcusables para
que pueda hablarse de un nuevo modelo de gestión de los intereses públicos.
1. Antecedentes
La gobernanza, como nueva cultura en la gestión de lo público, se
fundamenta más en los principios que deben inspirar las acciones que deben
realizarse para transformar aquellas estructuras y prácticas que pretendemos
mejorar, que en normas o reglas que difícilmente podrían adaptarse a muy
diversas realidades jurídico-políticas.
En este sentido se han realizado múltiples esfuerzos por identificar y definir
aquellos principios que, en el ámbito del agua, deben inspirar los cambios a
introducir para alcanzar los niveles de buena gobernanza a los que se aspira.
Estos intentos arrancan con la “Declaración de Dublín sobre el agua y el
desarrollo sostenible” con la que se concluyó la Conferencia Internacional sobre
el Agua y el Medio Ambiente (CIAMA), mantenida en la ciudad de Dublín
entre el 20 y el 31 de enero de 1992, una reunión técnica previa a la Conferencia
de las Naciones Unidas sobre el Medio Ambiente y Desarrollo (CNUMAD)
que se desarrolló en Rio de Janeiro en junio de 1992.
La Declaración de Dublín, tras llamar la atención sobre las negativas
tendencias entonces existentes, formulaba diversas recomendaciones, en
parte acogidas por la posterior CNUMAD, que debía inspirarse en los
siguientes principios:
122
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
A este inicial intento por definir los principios que deben regir la gobernanza
del agua siguieron muchos otros, como “Principles of good governance at different
water governance levels”7 o los contenidos en “User´s Guide for Assessing Water
Governance”8; sin embargo son los propuestos por la OCDE en 2015 los que han
tenido un mayor seguimiento y aceptación.
2. Principios de la OCDE
Con el visto bueno de Consejo Ministerial de la OCDE de 4 de junio de
2015, este organismo ha publicado un documento9 en el que se establece un
listado de doce principios a aplicar en materia de gobernanza del agua que, hoy
por hoy, podemos considerar como la más completa, avanzada y ajustada a las
necesidades de progreso del sector.
Como dice el propio documento, los principios que enuncian “tienen la
intención de contribuir a la creación de políticas públicas tangibles y orientadas
a la obtención de resultados, en base a tres dimensiones de la gobernanza del
agua que mutuamente se refuerzan y complementan:
7 Documento presentado al workshop celebrado en marzo de 2011, en Delft (Holanda), organizado por
el International Hydrological Programme (IHP) de la UNESCO. Disponible en https://www.unesco.
nl/sites/default/files/dossier/water_governance.pdg_.pdf
8 Presentado por el PNUD en 2013 en colaboración con diversas instituciones, disponible en http://
www.undp.org/content/undp/en/home/librarypage/democratic-governance/oslo_governance_
centre/user-s-guide-on-assessing-water-governance.html
9 El documento, titulado “Principios de Gobernanza del Agua de la OCDE” fue aprobado por la
Junta Directiva de Gobernanza Pública y Desarrollo Territorial a propuesta de la Iniciativa de
Gobernanza del Agua en forma de Declaración. Fue suscrita por 65 organizaciones, nacionales e
internacionales, de los sectores público y privado, así como del tercer sector, comprometiéndose
a incorporarlos en sus actividades y prácticas. Acuamed, las Confederaciones Hidrográficas del
Segura y del Jucar, Aeas (Asociación Española de Abastecimiento de Agua y Saneamiento) y
Aecid (Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo) fueron las entidades
españolas que suscribieron el documento en el que también colaboró el Ministerio de Agricultura,
Alimentación y Medio Ambiente.
Disponible en https://www.oecd.org/cfe/regional-policy/OECD-Principles-Water-spanish.pdf
123
Gabriel Real Ferrer
2.1 Eficacia
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Gabriel Real Ferrer
2.2 Eficiencia
Principio 5. Producir, actualizar, y compartir de manera oportuna datos
e información consistentes, comparables y relevantes relativos al tema
del agua, y utilizarlos para guiar, evaluar y mejorar las políticas del agua,
a través de:
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10 Para mayor información, véase el documento “Memoria del Secretario General sobre la labor de
la Organización” (Asamblea General. Documentos Oficiales. Septuagésimo período de sesiones.
Suplemento núm. 1; A/70/1) Disponible en http://www.un.org/es/comun/docs/?symbol=A/70/1
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Gabriel Real Ferrer
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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13 En esta línea se orienta el Informe Mundial sobre el Desarrollo de los Recursos Hídricos de Naciones
Unidas, 2017 que no en vano se titula “Las Aguas residuales. El recurso desaprovechado”. Un
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Gabriel Real Ferrer
134
Poluição hídrica e os desafios dos
contaminantes emergentes
Introdução
Houve um tempo em que os homens se serviam da água direto da fonte. A
água era límpida, cristalina e pura. A história conta que as civilizações foram
formadas próximas aos cursos d’água. Guerras ocorreram e ainda ocorrem em
razão do domínio da água. Entretanto, a qualidade da água dos dias atuais deixa
a desejar.
As águas doces correm para o mar, neste encontro tudo o que é carreado
pela força dos rios alcança os oceanos. E o homem, hodiernamente, quase
135
Luciana Cordeiro de Souza-Fernandes, Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida
136
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
E enquanto finalizávamos este texto, nos deparamos com mais uma ocor-
rência de poluição hídrica de grandes proporções, onde o descaso e a insusten-
tabilidade ambiental são novamente evidenciados:
137
Luciana Cordeiro de Souza-Fernandes, Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida
2. Poluição da água
A Política Nacional de Meio Ambiente – Lei 6938/1981, conceitua poluição
com sendo a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta
ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravel-
mente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lan-
cem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
5 G1. PA-Belém. 23/02/2018. Hydro Alunorte, acusada de vazamento de rejeitos, já foi multada em
2009 por esse crime. Disponível em https://g1.globo.com/pa/para/noticia/hydro-alunorte-acusada-
de-vazamento-de-rejeitos-ja-foi-multada-em-2009-por-esse-crime.ghtml. Acesso em 23/02/2018
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Luciana Cordeiro de Souza-Fernandes, Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida
por gota, até encharcar o solo alcançando lençol freático e aquífero a poluir
as aguas subterrâneas.
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"O ser humano, por mais que finja o contrário, é parte da natureza.
Será que ele conseguirá escapar de uma poluição que agora está tão
amplamente disseminada pelo mundo?", indagou a bióloga e naturalis-
ta americana Rachel Carson em sua obra máxima Primavera Silenciosa,
que deflagraria, da década de 1960 em diante, uma revolução nos mo-
vimentos ambientalistas mundiais. O algoz era o DDT (sigla de diclo-
rodifeniltricloroetano). Surgido nos anos pós-Segunda Guerra Mundial,
o inseticida foi amplamente empregado em vários países do mundo, in-
cluindo o Brasil, para conter a expansão de epidemias de malária e tifo.
A nocividade do pesticida DDT, porém, não se restringia aos mosquitos
vetores de doenças ou a pragas do campo. Seus efeitos tóxicos atingiam
toda forma de vida, principalmente pássaros e predadores naturais das
pestes. Pulverizado indiscriminadamente no ambiente, sobretudo em
plantações agrícolas, o produto contaminava solo, ar e água. O DDT e
outros venenos encontravam na água seu principal meio de transporte, o
que representava risco sem precedentes para a população e todos os ani-
mais expostos aos recursos hídricos e ao ambiente contaminado. Por ser
a água um solvente universal, tais poluentes tinham passe livre na na-
tureza, facilmente migrando de um lugar para outro. Conforme alertou
Carson, a fabricação dessas substâncias químicas totalmente estranhas
à natureza tornou complexo o processo de purificação da água e aumen-
tou os perigos para quem consumia dela (CARSON; RACHEL, 1962)10.
10 Vanessa Barbosa dos Reis Oliveira, Poluição hídrica: a ameaça dos desreguladores endócrinos à
saúde ambiental, p. 2.
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11 Idem
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indicam que ele recebe altas cargas de esgoto sanitário”, explica. “Nas
águas de abastecimento, uma desinfecção efetiva remove os indícios da
contaminação fecal, mas a cafeína é um composto resiliente e, por isso,
é uma impressão digital química. Podemos dizer que onde existe cafeí-
na, embora nas concentrações encontradas ela não seja tóxica, há uma
grande variedade de outros compostos que não são monitorados, mas
que podem trazer algum impacto à saúde humana.” (...) constatou-se que
os mananciais de superfície (rios e lagos) no Brasil apresentam concen-
trações de cafeína da ordem de mil a 10 mil vezes maiores do que aquelas
encontradas na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e no Japão12.
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VII e VIII e demais disposições desta Portaria. Como também a água potável
deve estar em conformidade com o padrão organoléptico de potabilidade ex-
presso no Anexo X a esta Portaria. Recomenda-se que, no sistema de distribui-
ção, o pH da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5.
De acordo com esta síntese da Portaria, além do atendimento aos pontos
destacados, nos Anexos é que são encontrados os padrões para o tratamento
que conferirá potabilidade à água.
Entretanto, alerta Jardim,
21 Carlos Orsi. Água de 20 capitais tem ‘contaminantes emergentes’. Jornal da UNICAMP. Ed n. 576,
de 23 a 29/09/2013, p. 3.
22 Montagner et al. Contaminantes emergentes em matrizes aquáticas do Brasil: cenário atual e
aspectos analíticos, ecotoxicológicos e regulatórios, p. 1098.
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
23 Baseadas em SCHIAVINI, Joyce de Araujo et al. Desreguladores Endócrinos no Meio Ambiente e o Uso
de Potenciais Bioindicadores. Revista Eletrônica TECCEN, Vassouras, v. 4, n. 3, p. 33-48, set./dez., 2011
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Luciana Cordeiro de Souza-Fernandes, Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida
Conclusão
A água é um elemento que pode ser veículo da vida e da morte, a depender
do “cuidado” para com este bem ambiental essencial à sadia qualidade de vida no
planeta, não sujeita à dominialidade particular nem público-estatal, tratando-se
de bem difuso, patrimônio e bem de uso comum de todos, indistintamente25 26.
Inúmeros e incontáveis são os casos de poluição e contaminação das águas
doces superficiais e subterrâneas em nosso país, diuturnamente ocorrem aci-
dentes pontuais e contínuos que comprometem a disponibilidade e a qualidade
hídrica em diversas localidades.
Causa estranheza o fato dos disruptores endócrinos serem claramente reco-
nhecidos, em estudos e pesquisas, como substâncias que interferem no funciona-
mento do sistema endócrino dos homens e animais, causando malefícios à saúde
humana, animal e ao ambiente em geral; e, em contrapartida, constatar-se a pre-
ocupação, abaixo das expectativas e das necessidades, em relação às iniciativas
do poder público, de diferentes instâncias, em alterar a legislação, para melhor
regular e restringir o uso dessas diversas substâncias.
Outro descompasso preocupante: enquanto se tem o crescimento, ao longo
do tempo, do uso de desreguladores endócrinos, os processos de tratamentos
dos efluentes contaminados com tais substâncias são ainda incipientes e pouco
aplicáveis, pelo alto custo e baixa eficiência de alguns dos processos; os de maior
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
eficiência são de custo mais elevado, o que inviabiliza, do ponto de vistas eco-
nômico, sua implantação em curto prazo.
Apesar da ampla utilização dos bioindicadores para detecção destas subs-
tâncias, pouco deles têm resposta direta e precisa aos disruptores endócrinos,
cabendo estudos mais aprofundados para aperfeiçoar e selecionar espécies mais
eficientes no processo de indicação de alterações de qualidade ambiental.
Por fim, urge que a Portaria analisada seja revista27 e que os CE sejam
contemplados no tratamento da água servida à população brasileira, visan-
do o cumprimento do ditame constitucional que assegura “sadia qualidade
de vida” a todos.
Referências
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http://editorauss.uss.br/index.php/TECCEN/article/download/279/226, acesso
em 22/02/2018.
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Apontamentos acerca da pré-história
e da história da sustentabilidade, do
desenvolvimento sustentável e da inserção
da água no cenário da proteção ambiental
Introdução
Sustentabilidade, pela etimologia da palavra, configura característica ou
condição de um processo ou sistema que permite a sua permanência, em certo
nível e por um determinado lapso temporal. Como tal, a sustentabilidade da
natureza como Nachhaltigkeit, já havia sido concebida há mais de 400 anos,
na Alemanha. Já o conceito de desenvolvimento sustentável em sua concep-
ção contemporânea, sedimentou-se no âmbito internacional com o Relatório
Brundtland, também chamado “nosso futuro comum”, em 1987. Definiu-se por
desenvolvimento sustentável a responsabilidade do ser humano pelo meio am-
biente em que vive, tendo em vista a capacidade das futuras gerações de usu-
fruir igualmente de um ecosistema ecologicamente equilibrado. O desenvolvi-
mento sustentável (DS) tornou-se princípio e foi recepcionado pela maioria das
Constituições e pela Legislação infraconstitucional do mundo ocidental. O DS
se “equilibra" em um tripé que leva em conta, especialmente, aspectos econômi-
cos, sociais e ambientais que devem ser levados em consideração por ocasião da
tomada de decisão sobre empreendimentos ou rumos a serem tomados por toda
conduta humana, tendo em vista o bem-estar da coletividade.
A água é patrimônio natural por excelência, sendo inquestionável a ne-
cessidade de mecanismos de ordem jurídica, social e econômica para a sua
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singular possam vir a ser analisados por uma ótica plural, mais inclusiva e
solidária, com foco nas presentes e futuras gerações. Para tanto, a discussão
aborda uma decisão paradigmática proferida pela Corte Internacional de Di-
reitos Humanos, a fim de averiguar se a Justiça Internacional oportuniza, de
fato, por intermédio de seus julgados, um sentido real e profundo de humani-
dade (BORGES; ARIZO, 2017).
Conclusão
Os apontamentos acerca da pré-história dos conceitos de “sustentabilidade"
e de “desenvolvimento sustentável” serviram para demonstrar a importância
do tema e a Introdução da temática bem antes do que se tem notícia, ao tratar
da concepção de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável na atualidade.
Há 400 anos já havia uma preocupação acadêmica, social, jurídica e até eco-
nômica com a preservação do meio , mesmo que de forma acanhada diante dos
grandes problemas sociais trazidos pela Revolução Industrial e pelo despertar
da ciência e tecnologia.
A preocupação com a sustentabilidade e com o desenvolvimento susten-
tável em sua magnitude social, econômica e jurídica contemporânea foi efe-
tivamente introduzida nos anos de 1970, com a Convenção de Estocolmo
e com os demais Documentos Internacionais, dentre os quais se destacam
o Relatório Brundtland, ou “o nosso futuro comum” e a Convenção do Rio
de 1992, seguida da Rio+10 e Rio+20. Na seara atual, a preocupação com o
meio ambiente se potencializa e ganha atenção do mundo e das comunidades
locais: pensar global, agir local.
A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável tendo como objeto a
crise hídrica e impõe na atualidade, nas perspectivas mundial e local, no nosso
presente e futuro comuns. O tema do acesso à "água potável para as presentes e
futuras gerações" exige o envolvimento de toda a sociedade, de todos e de cada
um. A pré-história do desenvolvimento sustentável marca um lento caminho
até se chegar à sustentabilidade na atualidade, que se desenvolveu muito rapi-
damente, com suas convenções, princípios e regras. É necessário que a manu-
tenção e promoção do acesso à água nos âmbitos, social, econômico e jurídico
se dê da forma mais adequada e na velocidade da sede de cada um.
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Referências
BORGES, Bruna Adeli; ARIZO, Silvia Helena. O tratamento da água como cri-
térios transnacionais: a partir da justiça ecológica. Revista Eletrônica Direito
e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da
UNIVALI, Itajaí, v.12, n.1, 1º quadrimestre de 2017. Disponível em: www.uni-
vali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. Tra-
dução: Marcelo Brandão Cipolla. – São Paulo: Cultrix, 2005.
169
Mercados del agua en españa. Marco
legal y análisis económico
Introducción
La gobernanza del agua debe basarse en criterios de racionalidad económica
que conduzcan a una adecuada gestión y a la preservación de los recursos
naturales. Se trata de buscar mecanismos que trasladen a los consumidores
“señales de escasez”, que les induzca a valorar el agua por su coste efectivo con
la finalidad de moderar las demandas. Una política de precios puede contribuir
significativamente a la valoración del recurso y, como resultado de ello, ser un
estímulo eficaz para el ahorro de agua, mientras que la gratuidad es más bien
un estímulo al despilfarro. El papel que puede desempeñar la introducción de
pautas de comportamiento asociadas al “mercado” puede ser muy relevante ya
que, en principio, el mercado permite percibir señales inequívocas de la escasez
real que tiene el recurso.
Las crecientes demandas de agua, incluidas las medioambientales, han
puesto de manifiesto su valor económico y la necesidad de que el agua sea
asignada a unos usos eficientes. El mercado puede ser un mecanismo eficaz
para introducir racionalidad económica. Sin embrago, hay quien argumenta,
por el contrario, que un mercado de aguas podría tener impactos indeseados
sobre terceros, sean éstos otros usuarios o el medioambiente. Se insiste,
además, en que el mecanismo de precios no es capaz de reflejar algunos valores
sociales que son más cualitativos que cuantitativos (tales como el paisaje, las
tradiciones o la equidad).
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El régimen jurídico del contrato de cesión hubo de ser modificado a los pocos
años de su aprobación para permitir una utilización más generalizada del mismo.
La modificación, que afectaba al régimen de utilización de las infraestructuras
de conexión intercuencas, tuvo durante mucho tiempo carácter temporal y
excepcional, por haberse articulado a través del Real Decreto Ley 15/2005, cuya
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1,2 hm3 a cambio de una compensación de 0,30 €/m3. El acuerdo supuso dejar de
regar unas 300 hectáreas de arroz, y la compensación económica a los regantes
ascendió a 360.000 euros (CEMCT 14/7/2006)
El Real Decreto Ley 15/2005, como ya se ha indicado, abrió la puerta a la
utilización de las infraestructuras de conexión intercuencas, dando un nuevo
impulso al mercado. Gracias a este nuevo marco legal, en 2006 se autorizó una
transferencia de 1,08 hm3 de agua a través del Trasvase Negratín-Almanzora,
desde el bajo Guadalquivir, a Aguas de Almanzora SA, sociedad constituida
para explotar los recursos hídricos del trasvase para el riego de 17 comunidades
de regantes del norte de Almería (Gil Meseguer y Gómez Espín, 2017). A este
contrato siguieron otros sucesivos. El precio estimado fue de 0,18 €/m3 (Palomo
Hierro y Gómez Limón, 2016).
En el ámbito de la cuenca del río Segura, durante el trienio 2006-2008, se
hizo imprescindible la constitución por parte de la MCT de reservas estratégicas
anuales en la cabecera del Tajo, lo que se articuló mediante contratos de cesión
de derechos con la Comunidad de Regantes del Canal de las Aves (Aranjuez)
por un volumen total de 108 hm3. En concreto, en 2006, firmaron contratos
de cesión de derechos de agua por un montante de 35,5 hm³ y un importe de
10,2 millones de euros, como se observa en la tabla 1. En las dos anualidades
siguientes se realizaron operaciones similares.
Tabla 1. Contratos de cesión intercuencas entre la MCT y la CR. Canal de las Aves
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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el primer año, fue de 0,1855 €/m3, valor que fue incrementándose en una cuantía
igual al 50% del valor del IPC de cada año, con excepción del cuarto contrato,
en el que no se realizó actualización alguna de la compensación, y en el que el
precio fue de 0,192 €/m3.
Los resultados económicos de estos contratos ponen de manifiesto
importantes ganancias de eficiencia (rentas privadas de los operadores) como
consecuencia del mercado, las cuales podrían compensar los potenciales efectos
ambientales y sociales negativos de estas operaciones. Puede afirmarse que los
mercados de agua permitieron incrementar el valor del agua, ya que los recursos
hídricos se transfieren de usos de menor valor a otros de mayor valor (Calatrava
y Gómez Limón, 2016).
En claro contraste con estas experiencias, desarrolladas en el anterior
ciclo de sequía que afectó al Sudeste de España, encontramos que en la actual
sequía que se viene produciendo desde 2015 no se han ofrecido caudales
significativos procedentes de cesiones intercuencas. Ni los regantes (SCRATS)
ni los abastecimientos (MCT) han podido hacer uso de este mecanismo
mitigador de la sequía de manera significativa, pese a tener contratos de cesión
en tramitación; es decir, en espera de aprobación por parte de la Dirección
General del Agua y de la CHS. Así, por ejemplo, el SCRATS tiene acuerdos
con titulares de derechos en la cuenca del Tajo: CR de Estremera (6,5 hm³ en
origen), con la CR La Poveda (1,416 hm³ en origen) y con HECOP SL (1,0 hm³
en origen), que no ha podido materializar. En la tabla 2 se puede apreciar el
claro contraste entre el florecimiento de estos contratos en durante la sequía
que se inició en 2005, y la pobre utilización en la actual sequía iniciada en 2015.
Tabla 2. Contratos de cesión entre regantes de la DHT y DHS.
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*Todavía no se han autorizado por la Dirección General del Agua del MAPAMA
(septiembre 2017).
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Conclusiones
Tras analizar los distintos tipos de mercados del agua que en España se han
producido, parece que el contexto en el que estos instrumentos de reasignación
temporal del recurso deben situarse es aquel que viene marcado por la escasez
estructural de agua, de ahí que la mayor parte de los contratos de cesión y los
mercados históricos se hayan producido principalmente en el sureste de España
y en las islas Canarias.
Se trata de mecanismos que albergan un gran potencial para una gestión
eficiente y sostenible de los recursos hídricos. Pese a ello, su desarrollo ha sido
relativamente escaso. Los intercambios se han realizado mayoritariamente
mediante la figura de los contratos de cesión y, en menor medida, mediante los
centros de intercambio, realizándose la mayor parte de ellos en circunstancias
de sequía y entre usuarios del sector agrario.
Los mercados de agua solo han estado realmente activos durante períodos
de sequía extrema, como el ocurrido entre los años 2006-2008; en momentos
de “normalidad” hidrológica, el número de operaciones se ha reducido al
mínimo. Sin embargo, en la actual sequía 2015-2017, pese a su gravedad, las
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Joaquín Melgarejo Moreno, Andrés Molina Giménez
transacciones han sido menores de lo esperado, y ello ha tenido que ver con
limitaciones burocráticas y administrativas. Un instrumento que en principio
estaba pensado para mitigar las sequías en cuencas deficitarias, se ha visto
reducido a pequeños intercambios dentro de la misma cuenca, con lo que su
papel como corrector de situaciones de grave escasez ha quedado en entredicho.
La aplicación práctica de los mercados de agua no siempre ha conducido
a asignaciones eficientes del recurso. Los factores de ineficiencia dependen,
entre otras cuestiones, del tipo de mercado, de la naturaleza de los derechos
de propiedad, del marco regulatorio de los intercambios y del ámbito
espacial del mercado. Incluso con un marco jurídico adecuado, se pueden
producir ineficiencias en las transacciones debido a las profundas divisiones
de carácter político y territorial, que en ocasiones dificultan su desarrollo.
Así, se observa cómo en la actual sequía, que sufre especialmente la cuenca
del Segura, se ha dificultado la llegada de agua de otras cuencas a través de
la cesión temporal de derechos.
En suma, aunque la Ley 46/1999, de Reforma de la Ley de Aguas, surgió
para flexibilizar el modelo demanial-concesional, y reasignar recursos a través
del mercado, sobre todo en momentos de sequía, su alcance ha sido muy
limitado, ya que los volúmenes efectivamente intercambiados han sido escasos.
La mayoría de las “ventas” de agua se han concentrado en la severa sequía
que tuvo lugar en el periodo 2005-2008, mientras que en la actual de 2015-
2017, han sido menores y circunscritos a intercambios internos dentro de cada
demarcación hidrográfica.
Referências
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GIL MESEGUER, E. y GÓMEZ ESPÍN, J. M.: El trasvase de aguas del embalse del
Negratín (Granada) al embalse de Cuevas de Almanzora (Almería. La Conexión
Negratín –Almanzora (C N-A). Universidad de Murcia, 2017.
LÓPEZ PELLICER, J. A.: “El llamado mercado del agua en la Ley 46/1999”,
en Reflexiones sobre el futuro del agua ante el siglo XXI. Homenaje a Emilio Pérez.
Murcia, CAM, 2001.
MACÍAS, A.: “De “Jardín de las Hespérides” a “Islas sedientas”. Por una
historia del agua de las Canarias, c. 1400-1990”, en El agua en la historia de
España. Universidad de Alicante, 2000.
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Joaquín Melgarejo Moreno, Andrés Molina Giménez
SCRATS: http://www.scrats.es/memorias-e-informes.html
ACRÓNIMOS
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Água: bem ou mercadoria?
Introdução
Não restam dúvidas que a água doce é essencial para humanidade, eis que
indispensável para manutenção da vida no planeta. É um recurso renovável,
mas relativamente escasso em algumas regiões do planeta. No Brasil mesmo
tendo-a em abundância existe um mau uso caracterizado tanto pelo uso exces-
sivo, quanto pelo uso inadequado, ou inescrupuloso, o que leva à degradação
desse recurso. Assim a pesquisa aqui desenvolvida traz a tona essa discussão tão
importante, atual e essencial para sobrevida na terra.
O presente artigo tem como objeto e como objetivo geral ANALISAR se
a água deve ser considerada um bem ou uma mercadoria. E os objetivos es-
pecíficos são VERIFICAR a necessidade da proteção da qualidade da água;
ANALISAR quem tem o direito do acesso à água; IDENTIFICAR o que é
bem ambiental, e por fim, DISCUTIR os conceitos de bem e mercadoria para
concluir qual o tratamento que deve ser dado para a água.
Portanto tem como problema central: A água deve ser considerada um bem
ou uma mercadoria?
Para tanto o presente artigo vem dividido em quatro partes. A primeira traz
uma análise acerca da necessidade da proteção da qualidade da água; a segun-
da a abordagem a ser feita é sobre o direito do acesso a água; a terceira é uma
verificação do que é um bem ambiental e a quarta e última adentra no tema
189
Denise Schmitt Siqueira Garcia
central da pesquisa que é analisar se a água deve ser tratada como um bem ou
uma mercadoria.
A metodologia utilizada na fase de Investigação foi o método indutivo; na
fase de Tratamento dos Dados foi utilizado o método Cartesiano e, no relatório
da pesquisa, foi empregada a base lógica indutiva.2
Serão acionadas as técnicas do referente3, da categoria4, dos conceitos ope-
racionais5, da pesquisa bibliográfica6 e do fichamento7.
Nesse contexto que se revela a relevância social e científica desta pesquisa
como modo de se analisar qual o tratamento deve ser dado para a água. Se ela
deve ser considerada um bem ou uma mercadoria.
Em linhas gerais é nesse universo que é desenvolvida a pesquisa, res-
tando assim caracterizada sua relevância social, bem como contribuição à
Ciência Jurídica.
Na metodologia foi utilizado o método indutivo na fase de investigação;
na fase de tratamento de dados o método cartesiano e no relatório da pes-
quisa foi empregada base indutiva. Foram também acionadas as técnicas do
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Denise Schmitt Siqueira Garcia
14 D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Água juridicamente sustentável. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 2010. p. 28.
15 PES, João Hélio Ferreira. Água potável e a teoria dos bens fundamentais de Luigi Ferrajoli. http://
www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=da6cb383f8f9e58f. Consultado em 05 de março de 2018.
16 Parte navegável de via marítima ou a passagem estreita, cavada por processo natural ou artificial,
separando dois trechos de costa, ilhas, rochedos, etc., com largura ainda suficiente para permitir a
navegação. In: LEAL, Abinael Morais. Dicionário de termos náuticos, marítimos e portuários.
São Paulo: Aduanerias, 1992. p. 83.
17 Lugar destinado ao estacionamento do navio no porto marítimo, fluvial ou lacustre, desde que
a embarcação possa ancorar com segurança. O ancoradouro deve ser protegido do vento e do
movimento das águas, pelo aspecto apropriado de um ponto da costa, ou pelas edificações contruídas
especialmente para permitir a ancoragem. Diz-se também, fundeadouro. In: LEAL, Abinael Morais.
Dicionário de termos náuticos, marítimos e portuários. p. 83.
18 Acidente geográfico ou qualquer lugar côncavo do litoral onde se possa aportar. É de grande
significação na organização e instalação de um porto. In: LEAL, Abinael Morais. Dicionário de
termos náuticos, marítimos e portuários.. p. 83.
19 SILVA, José Afonso. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007.p. 119.
20 SILVA, José Afonso. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 119.
192
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Embora o Brasil seja um país com essa importante rede hidrográfica ainda
existem muitas disparidades, ou seja, algumas regiões com excesso de uso e ou-
tras com parcos acessos. “Daí surge a importância da gestão de recursos hídri-
cos, tanto no âmbito do planejamento como no controle de seu uso, com vistas
não apenas a garantir o acesso à água a toda população, como para organizar os
diversos tipos de usos desse recurso por seus usuários”.23
Os graves problemas que afetam as águas em todo o mundo levaram a co-
munidade internacional a firmarem princípios para a utilização sustentada das
águas e para a sua conservação para as futuras gerações.
Os princípios ora referidos foram estabelecidos pela Conferência Internacio-
nal sobre Água e Desenvolvimento, realizada em Dublim, Irlanda, no ano de
1992. Os princípios são os seguintes:
21 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de janeiro: Editora Lúmen Júris, 2006. p.687.
22 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Editora Atlas, 2009. p. 185.
23 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Editora Atlas, 2009. p. 185.
193
Denise Schmitt Siqueira Garcia
194
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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da União (artigo 26, inciso I do CRFB30), como são os açudes construídos nas
regiões assoladas pela seca.31
São dos Estados as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
e em depósito, essas águas desde que tenham nascente e foz no seu território,
salvo os que estiverem nas condições referidas no artigo 20, inciso III da CRFB,
como de domínio da União.
No campo internacional quatro são os textos sobre a proteção das águas
continentais que são destacados:
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Denise Schmitt Siqueira Garcia
33 D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Água juridicamente sustentável. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010. p. 81.
34 SANTIN, Janaína Rigo. CORTE, Thaís Dalla. O direito das águas subterrâneas. No Brasil, no
MERCOSUL e na União Europeia, Um estudo comparado. Santa Maria: Ed. Da UFSM, 2013. p. 22.
196
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
35 Trata-se de 17 objetivos, todos ligados ao desenvolvimento sustentável e 169 metas para serem
acalcados a nível mundial até 2030. Objetivo 01. Acabar com a pobreza em todas as suas formas,
em todos os lugares; Objetivo 02. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria
da nutrição e promover a agricultura sustentável; Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e
promover o bem-estar para todos, em todas as idades; Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e
equidade e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem, ao longo da vida para todos;
Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; Objetivo
6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos;Objetivo
7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos;
Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego
pleno e produtivo e trabalho decente para todos;Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes,
promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; Objetivo 10. Reduzir
a desigualdade dentro dos países e entre eles; Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos
humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; Objetivo 12. Assegurar padrões de
produção e de consumo sustentáveis; Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a
mudança do clima e seus impactos; Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos,
dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; Objetivo 15. Proteger,
recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável
as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade;Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes,
responsáveis e inclusivas em todos os níveis;Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação
e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. (https://nacoesunidas.org/
pos2015/agenda2030/. Consultado em 27 de fevereiro de 2017).
36 SANTIN, Janaína Rigo. CORTE, Thaís Dalla. O direito das águas subterrâneas. No Brasil, no
MERCOSUL e na União Europeia, Um estudo comparado. Santa Maria: Ed. Da UFSM, 2013. p. 33.
197
Denise Schmitt Siqueira Garcia
Conforme previsto na Carta Magna de 1988 no seu art. 21, o Sistema Nacio-
nal de Recursos Hídricos deveria ser criado e sendo assim foi promulgada a Lei
9.43339, de 8 de janeiro de 1997, a qual instituiu a Política Nacional de Recursos
Hídricos, que regulamentou o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal,
criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
40 SILVA, José Afonso. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 131.
41 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Editora Atlas, 2009.
p. 191/192.
199
Denise Schmitt Siqueira Garcia
hão de ser aplicados no sentido de evitar o monopólio das águas, seja por órgãos
públicos, seja por particulares.42
Desta forma essa lei traz como objetivos: a) assegurar à atual e às futuras
gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade ade-
quados aos respectivos usos; b) a utilização racional e integrada dos recursos
hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sus-
tentável; c) a preservação e a defesa contra os eventos hidrológicos críticos de
origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
Para discussão do tema que se propõe esse artigo faz-se necessário uma aná-
lise do que seja bem ambiental.
3. Bem ambiental
Bem ambiental podem ser tanto bens materiais ou corpóreos (águas, rios,
florestas) ou imateriais ou incorpóreos ( paisagem, ambiente de trabalho, etc).
No Brasil há autores que dizem que o bem ambiental é espécie de bem pú-
blico de uso geral do povo, mas a maioria defende ser um bem difuso, cuja
titularidade é transindividual e que não se enquadra mais na dicotomia traçada
pelo Código Civil de bens públicos e privados.
A autora entende ser um bem difuso eis que visa assegurar um interesse
transindividual e transgeracional de natureza indivisível e de que sejam titula-
res todos e cada um.
42 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 18 ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
p. 469
43 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14 ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 183.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
4. Bem ou mercadoria?
Adentra-se agora no tema central da problemática levantada que é saber se
a água deve ser tratada como bem ou como mercadoria.
Prefacialmente deve-se colacionar que mercadoria é o resultado da transfor-
mação da matéria prima, que seriam os bens da natureza, em bens de consumo.
Seria, por exemplo, o caso da madeira que pode ser usada na construção de
casas e móveis.
No caso da água, esta mesmo depois de sofrer tratamento químico ou de in-
cidir sobre ela qualquer outra forma de força de trabalho, não sofre modificação
44 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14 ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 155.
45 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14 ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 188.
201
Denise Schmitt Siqueira Garcia
não podendo ser considerada como mercadoria eis que é bem ambiental vital a
sobrevida das pessoas no planeta.
A água potável, por ser um bem ambiental indispensável a manutenção da
vida, deve ser gerida como um bem difuso que visa assegurar interesses transin-
dividuais e transgeracionais de natureza indivisível de que sejam titulares todos
e cada um. Admitir a água como mercadoria, posta à venda, significa dizer que
somente detentores de capital poderiam ter acesso.
Com o passar dos anos após a promulgação da Constituição Federal de
1988 e, evoluindo-se o estudo acerca das águas, esta passou a ser vista como
direito fundamental.
Acerca do caráter fundamental que o Direito ao Acesso à Água possui, as-
severa Daniel Henrique de Souza Lyra46:
A autora Bonissoni47 vai mais além, pois, entende que o direito ao acesso
à água está intimamente ligado ao direito à vida, ultrapassando a categoria de
direito fundamental de terceira geração podendo também ser classificado como
de primeira geração.
E ainda:
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Conforme pode ser percebido, existe uma estreita correlação entre direi-
tos e bens, tanto fundamentais como patrimoniais. Conforme Ferrajoli
bens patrimoniais são aqueles disponíveis no mercado através de atos
de disposição e de troca. Por outro lado, são denominados bens fun-
damentais, os bens cuja acessibilidade é garantida a todos e a cada um
dos indivíduos, porque são objeto de outros direitos fundamentais que,
igualmente, se subtraem à lógica do mercado, como o ar, a água e outros
bens do patrimônio ecológico da humanidade, incluindo-se ainda órgão
do corpo humano, os fármacos considerados ‘essenciais’ e similares. 50
A água deve ser tratada com bem fundamental porque sua acessibilidade
deve ser garantida a todos e a cada um por ser objeto de tantos outros direitos
fundamentais e que por isso, não são submetidos à lógica de mercado tal como
acontece com as mercadorias.
Nessa seara há que se distinguir o que sejam direitos fundamentais e
bens fundamentais.
Os direitos fundamentais são indisponíveis e essa indisponibilidade é con-
ceitual, lógica, portanto inviolável, ligada à natureza de generalidade e abstra-
ção das normas que estabelecem direitos fundamentais.
Já os bens fundamentais possuem uma indisponibilidade somente jurídica, e,
portanto, passível de violação, tendo em vista que os bens fundamentais de fato,
são sempre materialmente disponíveis. Pode-se dizer que os bens fundamentais
são objeto de direitos fundamentais.
203
Denise Schmitt Siqueira Garcia
Advirta-se que as garantias dos bens comuns e dos bens sociais requerem
instituições públicas voltadas à sua prestação. É claro que estas garan-
tias não podem limitar-se apenas às garantias dos direitos respectivos,
exigindo-se também, o desenvolvimento de complexos aparatos admi-
51 FERRAJOLI, Luigi. Los fundamentos de los derechos fundamentales. Debate com L. Baccelli, M.
Bovero, R. Guastini, M. Jori, A. Pintore, E. Vitale Y D. Zolo, Traducción de A. Perfecto Ibañez el allí.
Madrid: Trotta, 2001.
52 Sugere-se bibliografia da autora relacionada ao tema: GARCIA, Denise Schmitt Siqueira. Uma
nova perspectiva para o Direito Ambiental: o direito ao ambiente como direito fundamental da
pessoa humana. Interesse Público (Impresso), v. 18, p. 95-110, 2016; GARCIA, Denise Schmitt
Siqueira. A NECESSIDADE DO ALCANCE DO MÍNIMO EXISTENCIAL ECOLÓGICO
PARA GARANTIA DA DIMENSÃO SOCIAL DA SUSTENTABILIDADE. Revista Direito à
Sustentabilidade - RDS, v. 1, p. 139-155, 2014; GARCIA, Denise Schmitt Siqueira; BENDLIN,
S. L.. Dimensão social do Princípio da Sustentabilidade frente ao artigo 6º da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. Revista Eletrônica Direito e Política, v. 6, p. 419-441, 2011.
53 Trata-se da proposta de emenda à constituição PEC 258/2016, que dá nova redação ao artigo 6º
da Constituição Federal, para introduzir o direito humano ao acesso à terra e à água como direito
fundamental. Apresentação feita por Paulo Pimenta do PT/RS em 04 de agosto de 2016. (BRASIL.
PEC 258/16. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2093044.
Consultado em 27 de fevereiro de 2018).
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
54 CADERMATORI, Daniela Mesquita Leutchuk de. CADERMATORI, Sergio Urquhart de. A água
potável como um bem e um direito humano fundamental: proposta teórica de políticas públicas.
In. Desenvolvimento sustentável e meio ambiente: estudos e perspectivas / organizadores José
Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra ... [et al.] – Florianópolis : Consórcio Projeto
REGSA, 2014. p. 9.
55 AGUDO, Pedro Arrojo. Crisis global del água: valores y derechos en juego. https://www.fnca.
eu/guia-nueva-cultura-del-agua/images/documents/Patrimonio/Crisis_global_del_agua.pdf.
Consultado em 01 de março de 2018.
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Conclusão
Verificou-se que a preocupação com a proteção da água já remonta algum
tempo, pois já é consagrado que este bem é finito, tanto que em várias regiões
no Brasil está-se deparando com crises graves de falta de água, realidade que a
Europa já enfrente há bastante tempo e por isso já possui procedimentos muito
mais eficientes para proteção desse recurso natural.
O Brasil possui uma Política Nacional e de Gerenciamento de recursos hí-
dricos, que organiza as formas de proteção dos recursos hídricos contra a po-
luição que está regulamentada pela Lei 9.433 de 08 de janeiro de 1997. Essa lei
determina que o Conselho Nacional de Recursos Hídricos deve promover a
articulação dos planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuá-
rios elaborados pelas entidades que integram o Sistema Nacional de Gerencia-
mento de Recursos Hídricos. Esse conselho não possui competência executiva
a qual pertence a Agência Nacional de Águas – ANA.
O conceito a ser adotado de bem ambiental é de que este é um bem difuso
cuja titularidade é transindividual e que não se enquadra na dicotomia entre
público e privado. Assim, o Estado não atua jamais como proprietário desses
bens, mas simples ‘administrador’ de um patrimônio que pertence à coletivida-
de no presente, e que deve ser transferido às futuras gerações.
Pode-se concluir que o direito ao acesso a água potável realmente é um
direito fundamental, visto que intimamente ligado ao direito à vida e a saúde.
Desse modo, nada mais óbvio que o correlacionar com o principio da dignidade
humana, já que um leva a fruição do outro. A vida é o bem mais precioso que
o homem possui e todos os elementos que a tornam possível são igualmente
preciosos e devem ser protegidos.
A água, porém, deve ser considerada como um bem fundamental eis que
possui uma indisponibilidade somente jurídica e, portanto, passível de viola-
ção, tendo em vista que os bens fundamentais de fato, são sempre material-
mente disponíveis. Pode-se dizer que os bens fundamentais são objeto dos
direito fundamentais.
O que deve ficar bem claro é que a água não pode ser tratada como merca-
doria, primeiro porque ela não preenche os requisitos para o conceito dessa ca-
tegoria, segundo porque seria dizer que somente aqueles que possuem condições
financeiras poderiam ter esse acesso. Isso seria uma violação ao direito a vida.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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Referências
AGUDO, Pedro Arrojo. Crisis global del água: valores y derechos en juego.
https://www.fnca.eu/guia-nueva-cultura-del-agua/images/documents/Patrimo-
nio/Crisis_global_del_agua.pdf. Consultado em 01 de março de 2018.
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Denise Schmitt Siqueira Garcia
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
PES, João Hélio Ferreira. Água potável e a teoria dos bens fundamentais de Luigi
Ferrajoli. http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=da6cb383f8f9e58f.
Consultado em 05 de março de 2018.
SANTIN, Janaína Rigo. CORTE, Thaís Dalla. O direito das águas subterrâ-
neas. No Brasil, no MERCOSUL e na União Europeia, Um estudo comparado.
Santa Maria: Ed. Da UFSM, 2013.
209
Transposição do Rio São Francisco:
entre a crise ambiental e Política
Introdução
O presente artigo destaca os aspectos jurídicos da transposição do rio São
Francisco, dialogando com conceitos do direito ambiental, fazendo uma liga-
ção entre a crise ambiental, na qual se insere a crise hídrica e a crise política.
Aborda ainda a questão da seca como fenômeno da crise ambiental e a relação
do homem com a natureza, de forma a manter o desenvolvimento sustentável
sob aspecto socioambiental. Aborda a ênfase do problema definido pelo ques-
tionamento da falta de transparência e efetividade da participação popular no
projeto da transposição ante os impactos socioambientais apresentados, pelos
impactos não arrolados nos estudos de impacto ambiental mas já identificados,
pelo estudo do problema da seca no Nordeste e a transposição como proposta
de sua mitigação.
1 Mestre em Direito Econômico pela UFPB, integrante do Grupo de Pesquisa CNPq "Saberes
Ambientais - Homenagem a Enrique Leff: Sustentabilidade, Impacto, Gestão e Direitos", professor
de Pós-graduação. Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (2006).
Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Administrativo e Direito Público.
2 Professora Associada UFPB. Professora do PPGCJ e do PRODEMA - Mestrado e Doutorado em
Meio Ambiente e Desenvolvimento; Coordenadora do Grupo de Pesquisa CNPq "Saberes
Ambientais - Homenagem a Enrique Leff: Sustentabilidade, Impacto, Gestão e Direitos".
Pós-doutorado CAPES Universidade Autônoma do México, Instituto de Investigaciones Sociales,
UNAM. Autora de Livros, artigos, palestrante, consultora e assessora científica. Lançou em co-
autoria com Leff pela EDUCS, ebook divulgado em ACADEMICS.EDU "Ohar Jurídico em
saberes Ambientais"; Organizadora "Direito Agrário Ambiental" pela UFRPE,
2016. Organizadora da obra "CRISE AMBIENTAL", entre outros, além de capítulos
em livros e periódicos estrangeiros. Integra conselhos editoriais e científicos nos temas do Direito,
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientadora de Mestrado e Doutorado.
211
Welison Araújo Silveira, Belinda Pereira da Cunha
Para uma melhor compreensão e investigação do tema sob enfoque, foi uti-
lizada uma pesquisa teórica dogmática, através de um procedimento metodo-
lógico dedutivo, dessa forma busca-se apresentar conceitos relevantes para a
pesquisa partindo de um aspecto geral para o específico.
Apesar do tema ser de extrema atualidade, tendo em vista o andamento das
obras do Projeto de Integração das Bacias Hidrográficas do rio São Francisco
(PISF) em estágio avançado, seu objeto específico possui poucas obras na área
jurídica, necessitando de complementação de pesquisas acadêmicas e artigos
científicos de diversas áreas, o que não nos impediu que fossem colhidas as
ideias deixadas pelos doutrinadores citados na bibliografia, quando se referem
aos fundamentos específicos do assunto ora estudado, possuindo natureza in-
terdisciplinar, tendo em vista que engloba várias áreas do conhecimento, tais
como o direito constitucional, direito administrativo, o direito econômico, di-
reito civil, direito ambiental, economia, geografia, e as ciências ambientais de
modo geral, além de relação com outas ciências sociais, como a sociologia, por
exemplo.
O trabalho analisa a transposição do rio São Francisco como problemática
política e os efeitos jurídicos através de análise de ações judiciais acerca da
matéria, sob enfoque das fundamentações utilizadas, a tramitação processual e
as decisões que permeiam o assunto e suas implicações para o prosseguimento
da obra.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
3 CF/88.Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa
popular.
4 CF/88. Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias,
constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que
resultar sua criação.
[...]
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
[...]
II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;
213
Welison Araújo Silveira, Belinda Pereira da Cunha
5 CF/88. Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados
dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
discussão e deliberação.
6 CF/88. Art. 37. § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública
direta e indireta, regulando especialmente:
7 Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma licitação ou para um conjunto de licitações
simultâneas ou sucessivas for superior a 100 (cem) vezes o limite previsto no art. 23, inciso I, alínea
"c" desta Lei, o processo licitatório será iniciado, obrigatoriamente, com uma audiência pública
concedida pela autoridade responsável com antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis da data
prevista para a publicação do edital, e divulgada, com a antecedência mínima de 10 (dez) dias úteis
de sua realização, pelos mesmos meios previstos para a publicidade da licitação, à qual terão acesso e
direito a todas as informações pertinentes e a se manifestar todos os interessados.
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8 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos;
9 Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a
Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia,
empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência
ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
10 Súmula 643 STF-O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo
fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares. Súmula3299 STJ - O Ministério
Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público.
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
11 Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização
assemblear. § 1º O requisito da pré- constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas
nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. (grifos nosso)
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ção de uma motobomba de grande porte como necessária para a conclusão das
obras do trecho Norte da transposição.
As obras do eixo norte da transposição do Rio São Francisco tiveram a lici-
tação suspensa por ordem do Tribunal Regional Federal da 1ª Região-TRF-1. O
motivo foi uma ação movida pelo consórcio formado pelas construtoras Passa-
relli, Construcap CCPS Engenharia e Comércio e PB Construções Ltda, que se
sentiram prejudicadas pela sua exclusão da licitação da obra.
A Advocacia-Geral da União então moveu uma ação no Supremo Tribunal
Federal pedindo a suspensão da decisão do TRF-1, que paralisou, em abril, o
procedimento licitatório para a escolha do consórcio que vai concluir as obras,
sob alegação de que a decisão de suspender os trabalhos oferece risco de grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas e destaca que a sus-
pensão do processo licitatório.
A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, deferiu
a Suspensão de Segurança (SS-5183) para cassar os efeitos da decisão proferida
por desembargador do TRF-1, que havia determinado a paralisação da licitação
para as obras do Eixo Norte do projeto de transposição do rio São Francisco.
A suspensão de segurança foi ajuizada pela União, visando suspender a decisão
do relator do caso no TRF-1 por meio da qual antecipou os efeitos da tutela re-
cursal para determinar a suspensão do procedimento licitatório conduzido pelo
Ministério da Integração Nacional.
A Ministra Cármen Lúcia considerou que a manutenção dos efeitos da de-
cisão expõe a risco de lesão à ordem econômica, pois o prejuízo desencadeado
pela paralisação do certame e consequente descontinuidade das obras supera
significativamente eventual vantagem da proposta oferecida pelas empreiteiras.
Qualquer contrato com a administração pública deve guardar os preceitos
da legalidade e publicidade, sobretudo em se tratando de uma obra de relevante
interesse público como é o caso da transposição do São Francisco, devendo
ainda atender à preservação do meio ambiente e às condicionantes do licencia-
mento ambiental.Sendo uma obra de transferências de águas deve buscar o am-
paro legal e realizar diversas pesquisas e estudos para a viabilização do projeto
e a concessão da Licença Ambiental. Devido à grande quantidade de impactos
ambientais, a obra precisa de um minucioso estudo de impacto ambiental. Cabe
lembrar que, em caso de conflitos em que o meio ambiente está em jogo, a regra
basilar é de que seja feita uma interpretação favorável à proteção ambiental.
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Welison Araújo Silveira, Belinda Pereira da Cunha
Assim, após entregue o estudo, muitos críticos alegaram que o governo federal
deixou de lado certos fatores que poderiam afetar o meio ambiente
A Constituição brasileira de 1988, em seu art. 22, IV, estabelece que com-
pete privativamente à União legislar sobre as águas. Estabelece ainda em seu
art. 43 que a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeco-
nômico e social, visando a seu desenvolvimento e a redução das desigualdades
regionais e estabeleça como prioridade para o desenvolvimento econômico e
social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de bai-
xa renda, sujeitas a secas periódicas, estabelecendo estratégias para o combate à
seca exaustiva e a migração forçada devido aos problemas expostos.
Mesmo com as ações judiciais, o IBAMA concedeu a Licença Ambiental
ao Ministério da Integração Nacional. Muitos impetraram ações alegando por
exemplo: inúmeros fatores omissos ou falhas pelo EIA, não considerando o im-
pacto ambiental, sócio e econômico; não terem sido estudadas outras alternati-
vas para o projeto; desrespeito a Política Nacional de Recursos Hídricos; a falta
de autorização do Congresso Nacional para a realização do Projeto, já que há
aproveitamento de recursos hídricos em terras indígenas, de acordo com o ar-
tigo 231, § 3º da Constituição Brasileira; algumas imprecisões técnicas quanto
aos recursos hídricos da bacia do rio São Francisco; concessão de licença am-
biental apesar das falhas e omissões do EIA.
A parte contraria, respondeu que estas alegações não eram cabíveis. Isso por
fim, acarretou o julgamento sem extinção de mérito dessas ações. Foi alegado
que todos os estudos realizados seguiram a resolução do CONAMA 01/86 e,
portanto, a realização do projeto poderia ser continuada.
Com a não realização de audiências públicas, controvérsia nos estudos apre-
sentados, o TRF acatou o pedido do MPF em suspender as obras já iniciadas.
Nessa época, a Diretoria do Comitê da bacia Hidrográfica do rio São Francisco
reiterou sua resistência ao projeto publicando a seguinte nota:
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12 “Saúde ambiental é o campo de atuação da saúde pública que se ocupa de forma de vida, das
substâncias e das condições em torno do ser humano, que podem exercer alguma influência sobre a
sua saúde e o seu bem-estar” (Brasil-MS, 1999)
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Ibama, diante do interesse jurídico dos entes federais, além do interesse do Mi-
nistério Público Federal de integrar o pólo ativo da ação, e ainda que a Agência
Nacional de Águas - ANA, enquanto gestora dos recursos hídricos, autorizou o
aumento da captação de água e o consequente fim do racionamento.
Por sua vez, o Ministério Público Federal de Campina Grande, através
do Inquérito Civil nº 1.24.001.000217/2017-79, ajuizou Ação Civil Pública Nº
0809088-57.2017.4.05.0000 em que reiterou o pedido formulado pela Defenso-
ria Pública Estadual da Paraíba para impedir o fim do racionamento. Em que
pese em primeiro grau o juiz da 2ª Vara Federal haver concedido liminar deter-
minando o retorno do racionamento de água em Campina Grande e as cidades
abastecidas pelo açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, bem como, a proibição
da autorização para uso agrícola das águas do reservatório. O Tribunal Regional
Federal da 5ª Região concedeu uma liminar suspendo a decisão que impedia o
fim do racionamento de água em Campina Grande e 18 cidades. Consta tam-
bém a instauração de procedimento (Nº 1.24.001.000238/2016-11 no âmbito da
Procuradoria da República de Campina Grande (PB), que apura as ações dos
Governos Federal, Estadual e municipais em relação à questão hídrica
No âmbito dos procedimentos, foram constatados problemas de execução
da obra, descontinuidade do serviço, identificação de ligações clandestinas de
esgotos, atraso no andamento de obras complementares, assoreamento do rio
Paraíba, extração de areia clandestino e construção de poços artesianos no leito
desse rio, além da identificação de plantios nas áreas destinadas às matas cilia-
res, desvio e canalização do leito do rio.
Uma das grandes preocupações do MPF se dava em relação a rede coletora
de esgoto na cidade de Monteiro, onde foi identificado a necessidade de interli-
gação dos esgotos domiciliares à rede de esgoto pública. A fim de evitar a con-
taminação, através do despejo clandestino de esgoto nas águas do rio Paraíba,
que serve de veículo de transporte das águas da transposição para o açude de
Poções e ao açude de Boqueirão. Preocupa também o andamento das obras de
revitalização do rio Paraíba, sendo considerado imprescindível para o perfeito
escoamento das águas da transposição. Em vários trechos pode-se observar a
ausência de preservação das matas ciliares e o assoreamento do rio Paraíba,
sobretudo no trecho entre Monteiro e o açude Poções, bem como a falta de
revitalização do trecho do rio compreendido a jusante da barragem do açude de
Camalaú. Tal constatação põe em risco a transposição em razão da possibili-
dade de erosão e do grande volume de água que percorrerá esses trechos do rio
230
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
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Welison Araújo Silveira, Belinda Pereira da Cunha
Conclusão
A prevenção de danos socioambientais e a apuração da Responsabilidade Ci-
vil adquirem importância para proteção ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado para garantia das gerações futuras, assim como preconiza o texto constitu-
cional, com o escopo de reduzir, reparar e minimizar os danos ambientais.
Apesar da proposta do PISF ser a utilização da água para diversos fins, até
o momento de entrega parcial da obra, o abastecimento de água está garanti-
do apenas para dessendentação dos animais e consumo humano. É importan-
te frisar, no entanto, que o Projeto vai garantir água para uma infraestrutura
de reservação e distribuição já existente, formada por açudes, rios e aduto-
ras. Além disso, atuará no sentido de complementar soluções e programas
governamentais (municipais, estaduais ou federais) de distribuição de água.
O Projeto não é uma solução isolada: vem somar e dar maior estrutura aos
compromissos e ações já existentes de combate aos efeitos da seca e da má
distribuição de água no Semiárido.
O Nordeste enfrenta um sério problemas de intermitência de chuvas e ele-
vadas temperaturas, o que ocasiona o esvaziamento dos reservatórios e evasão
da população para os grandes centros urbanos. Com isso, o problema da seca
acaba que gerando um problema de conotação social, que é a migração de tra-
balhadores do campo para as cidades, para viver em condições difíceis, muitas
vezes sub-humanas, à marginalização da sociedade.
À proporção que foram contextualizados historicamente eventos de seca
no Nordeste, clarificou-se a ação espasmódica dos governos contra os impactos
do fenômeno. As providencias (raras exceções) jamais enfrentaram o extremo
subdesenvolvimento. Na maioria nem foram ações, mas tímidas reações à seca
(SARMENTO, 2005).
232
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Welison Araújo Silveira, Belinda Pereira da Cunha
Referências
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235
Instrumentos de proteção dos
recursos hídricos: parte I
Introdução
A garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, seja para as pre-
sentes, seja para as futuras gerações, é direito constitucional incontestável, e
como tal, merece não apenas atenção e cuidados, mas instrumentos que visem
a, de fato, assegurar a sua implementação, nos termos do que dispõe o art. 225,
caput, da CF/883.
Especialmente naquilo que se refere aos recursos hídricos, apesar da apa-
rente abundância, o histórico de mau uso faz com que dispensar-lhes maiores
cuidados seja uma atitude não apenas desejável, mas imprescindível por parte
da sociedade e do Poder Público.
Dentre os mais variados fatores que contribuem para problemas como a es-
cassez, vivenciados na atualidade, podemos citar como exemplo o crescimento
acelerado e desordenado dos centros urbanos, desacompanhado dos necessá-
rios planejamentos e investimentos para suprir a demanda populacional; o uso
desmedido dos recursos; os desperdícios; e, ainda, os diversos casos de poluição
que se veem no dia-a-dia das cidades. O fato é: a situação das águas é frágil e
merece observância.
1 Advogado. Mestre e Doutor em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC-SP. Pós-Doutor e Docente
Permanente do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciência Jurídica da
UNIVALI. Professor Visitante da Universidad de Alicante (Espanha) e da Widener University –
Delaware Law School (EUA).
2 Advogado. Pós-graduando em Direito Ambiental e Urbanístico pelo Complexo de Ensino Superior
de Santa Catarina (CESUSC).
3 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
237
Marcelo Buzaglo Dantas, Lucas São Thiago Soares
Por conta disso, o legislador vem criando ao longo dos anos uma série de
mecanismos legais com o objetivo de incentivar, coagir e assegurar a preserva-
ção e o equilíbrio ambiental das águas, os quais, em maior ou menor medida,
entendemos de grande relevância comentar.
Para isso, optamos por bem em dividir a exposição em duas diferentes eta-
pas. Na primeira delas, objeto do presente trabalho, analisaremos instrumentos
de caráter material, notadamente o Licenciamento Ambiental, as Áreas de Pre-
servação Permanente e a Outorga de uso d’água.
Em outro trabalho, a ser desenvolvido futuramente, trataremos dos instru-
mentos de comando e controle que se consubstanciam nas tutelas civil, penal e
administrativa do meio-ambiente.
Dito isso, passa-se, então, à análise dos aludidos instrumentos materiais, um a um.
a. Licenciamento Ambiental
4 v. DANTAS, Marcelo Buzaglo. SOUZA, Lucas Dantas Evaristo. Considerações acerca do licenciamento
ambiental: evolução histórica e perspectivas futuras, p. 177-199.
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Marcelo Buzaglo Dantas, Lucas São Thiago Soares
6 Sobre o tema, v. DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de conflitos, p. 46-64 e 180 e ss.
______. A influência do Direito Ambiental sobre alguns institutos clássicos do Direito Civil, p. 335-352.
7 Aspectos jurídicos do licenciamento ambiental, p. 3. Daí Édis Milaré afirmar, com acerto, que “o
licenciamento constitui importante instrumento de gestão do ambiente, na medida em que, por
meio dele, a Administração Pública busca exercer o necessário controle sobre as atividades humanas
que interferem nas condições ambientais, de forma a compatibilizar o desenvolvimento econômico
com a preservação do equilíbrio ecológico” (Direito do Ambiente, p. 511).
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Marcelo Buzaglo Dantas, Lucas São Thiago Soares
B- Espécies
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olhos d’água intermitentes configuram Área de Preservação Permanente - APP. Vencido o Ministro
Gilmar Mendes e, em parte, os Ministros Marco Aurélio de Mello e Carmen Lúcia. Disponível em:
www.stf.jus.br.
13 Comentários ao novo código florestal: de acordo com a Lei 12.727/12.
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Marcelo Buzaglo Dantas, Lucas São Thiago Soares
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C- Outorga de Uso
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Marcelo Buzaglo Dantas, Lucas São Thiago Soares
É que como bem se sabe, as águas são caracterizadas por serem bens de
uso comum do povo (art. 99, I, do Código Civil), destinando-se, portanto, ao
benefício de todos os cidadãos. Esse fato faz com que o Estado tenha que regrar
a exploração dessa espécie de recurso, sempre buscando viabilizar que todos
consigam usufrui-lo de maneira igualitária.
Quer nos parecer seja esse um dos grandes motivos que fazem com o que o
instrumento da outorga não se confunda com uma autorização tradicional, ou
seja, a sua concessão não se vincula apenas à discricionariedade administrativa,
mas sim ao objetivo precípuo de garantir a disponibilidade hídrica a todos que
dela necessitam, respeitada a sua efetiva disponibilidade. Se assim não fosse, a
outorga não seria sempre concedida com limite e prazo determinado.
Nesse viés, Maria Luiza Machado Granzieira externa o seguinte posiciona-
mento:
Tanto é assim que, repita-se, o ato jamais poderá ser concedido em caráter
definitivo, devendo obedecer o prazo máximo de 35 anos18.
Resta claro, portanto, que o regime da outorga de direitos de uso possui
como grande objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos
da água, garantido a todos o efetivo exercício dos direitos de acesso ao recurso,
respeitadas as respectivas disponibilidades.
Para isso, o art. 12 da mesma Lei n. 9.433/97 aproveita para cotejar algumas
atividades que dependem da concessão de outorga para o seu exercício, quais sejam:
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Marcelo Buzaglo Dantas, Lucas São Thiago Soares
Ou seja, muito embora não haja expressa isenção da outorga por parte dos
consumidores carentes, deve-se analisar a situação com viés social, de modo a
enquadrar o consumo no inciso II, do §1º, do art. 12, ou seja, tratando os volu-
mes da água dispensados nessa ocasião como insignificantes.
Por fim, na linha do exposto acima, fica claro que a concessão da outorga
não gera direito adquirido, tratando-se, por conseguinte, de espécie de instru-
mento autorizativo que pode, a qualquer tempo, ser suspenso (parcial ou total-
mente), ou até extinto, de vez que a suspensão pode se dar de forma definitiva,
conforme se depreende da redação do art. 15, da Lei 9.433/97, senão vejamos:
250
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Referências
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 19ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2011.
251
A tutela jurídica do
ciclo urbano da água:
elementos introdutórios
Talden Farias1
José Irivaldo Alves O. Silva2
Introdução
Diante das crises vivenciadas atualmente no cenário nacional e internacional, o
acesso à água e ao esgoto tratado são das mais graves, na medida em que falta acesso
a esses dois serviços essenciais, atingido de forma desigual diferentes camadas da po-
pulação, principalmente as mais vulneráveis, numa expressão clara de desigualdade
social. Há uma patente irregular distribuição da água e dos serviços de esgotamento
sanitário, mesmo que esses sejam essenciais à vida, sendo direitos fundamentais, não
cumpridos pelo poder público. Outra questão que é preciso ser verificada é a regulação
da água, ainda bastante frágil, talvez em decorrência de deficiências dos órgãos fisca-
lizadores e da necessidade de uma discussão mais profunda no Direito Ambiental.
O problema que ensejou o presente ensaio parte da necessidade de se tute-
lar a água no âmbito do seu ciclo urbano, o que preocupa bastante, na medida
em que os países, incluindo-se o Brasil, são essencialmente urbanos, e há um
aumento da demanda por água para consumo domestico e industrial, sendo es-
sencial que se cuide para que as águas dos mananciais municipais, estaduais ou
federais, bem como as águas da chuva e do subsolo sejam utilizados da melhor
forma possível. Portanto, tem-se aí um sistema complexo interligado que inclui
1 Advogado. Doutor em Recursos Naturais. Doutor em Direito das Cidades. Professor do Programa de
Pós-graduação em Ciências Jurídicas da UFPB. Doutorado sanduíche pela Universidade de Paris 1/
Pantheón-Sorbonne (CAPES-COFECUB)
e-mail: taldenfarias@gmail.com
2 Professor do Curso de Gestão Pública da UFCG. Doutor em Ciências Sociais. Doutorando em
Ciências Jurídicas. Pós-Doutor em Desenvolvimento Regional. Pós-doutorando em Direito
Ambiental pela UFSC
253
Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
cuidados com o solo, com as florestas, com a pureza do ar, entre outros fatores,
que poderão se refletir na qualidade da água e, consequente acesso à ela. O
objetivo do trabalho é justamente descrever o ciclo urbano da água, abordando
de que forma ocorre a tutela jurídica do mesmo.
Talvez abordar exclusivamente como ocorre a tutela jurídica do ciclo urbano
da água não seja suficiente para se problematizar acerca de uma injusta distri-
buição e, por conseguinte, injusto acesso à água, sendo fundamental refletir a
partir de um marco teórico que transcenda o fenômeno jurídico como forma de
buscar explicar as dinâmicas sociojurídicas que atravessam esse ciclo.
Dessa forma, a hipótese aqui estabelecida diz respeito à existência de um baixo
grau de regulação do ciclo urbano da água, o que favoreceria a condução à escassez
ou, até mesmo, uma distribuição injusta da água. Quanto ao esgotamento, a lógica
é parecida, às vezes tem-se a água, mas não se possui o esgoto, ou tem-se a água e o
esgoto, mas o mesmo não é tratado, enfim, um leque de possibilidades que apontam
para uma ineficiência da ação do Estado na implementação de políticas públicas.
Para se ter uma ideia, muitas cidades do nordeste semiárido, norte de Minas
Gerais, até mesmo São Paulo, passam ou já passaram pelos efeitos do racionamen-
to da água ou de interrupções no abastecimento e, certamente, os efeitos não são
sentidos de modo uniforme nas cidades considerando-se estratos da sociedade, por
exemplo, por bairros, por renda, ou por atividade econômica, enfim, os efeitos da
falta de acesso ou escassez de saneamento básico são sentidos de modo diferenciado.
É preciso levar em consideração que há um processo muito forte de descons-
trução de um sistema público de fornecimento de água e saneamento, inclusive
como contrapartida para concessão de empréstimos nacionais e internacionais,
como é o caso da Companhia de Água e Esgotos (CEDAE) do Rio de Janeiro,
além do caso do lançamento de ações da SABESP (Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo) na bolsa de valores, ambas numa lógica especí-
fica de mercado. Como estratégia metodológica foi utilizada a pesquisa biblio-
gráfica e documental aliada à análise de dados secundários sobre o saneamento
básico, no caso, o abastecimento de água e o esgotamento sanitário.
254
Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
3 ECHAID, J. El derecho humano al agua potable y los tratados de protección recíproca de inversio-
nes. Tese (Doutorado en Derecho) - Facultad de Derecho, Universidad de Buenos Aires. Buenos
Aires, p. 406, 2013.
4 Swyngedouw, E.; CASTRO, J. E. Agua urbana: una perspectiva ecológico-política. In WATERLAT-
GOBACIT Network Working Papers Thematic Area Series SATCUASPE – TA3 - Urban Water
Cycle and Essential Public Services –Vol. 3, N7, 2016.
255
Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
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257
Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
7 Swyngedouw, E. Social Power and the Urbanisation of Water. Flows of Power. Oxford: Oxford
University Press, 2004.
8 BRITTO, A. L.; FORMIGA-JOHNSSON, R. M.;CARNEIRO, P. R. F. Abastecimento público e
escassez hidrossocial na metrópole do Rio de Janeiro. In Ambiente & Sociedade, São Paulo v. XIX,
n. 1, p. 185-208 n jan.-mar. 2016.
9 Peña-Guzmán, C. A; PRATS, D.; MELGAREJO, J. El ciclo urbano del agua en Bogotá, Colombia:
estado actual y desafíos para la sostenibilidad. In Tecnología y Ciencias del Agua, vol. VII, núm. 6,
noviembre-diciembre de 2016, pp. 57-71.
10 Peña-Guzmán, C. A; PRATS, D.; MELGAREJO, J. El ciclo urbano del agua en Bogotá, Colombia:
estado actual y desafíos para la sostenibilidad. In Tecnología y Ciencias del Agua, vol. VII, núm. 6,
noviembre-diciembre de 2016, pp. 57-71, p. 57.
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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Para a ecologia política é importante saber Estes metabolismos produzem uma série de
quem ganha e quem perde, o que é extra- condições sociais e ambientais que têm efei-
mente útil para os atores políticos em po- tos habilitantes e incapacitantes. De fato,
sição de decisão e legisladores no momento esses ambientes produzidos costumam in-
de transformar em lei determinada política corporar tendências contraditórias. Embora
e propor mecanismos de regulação com a as qualidades ambientais (sociais e físicas)
intenção de dar acesso igualitário; possam ser melhoradas em alguns lugares e
para algumas pessoas, muitas vezes essas me-
lhorias levam à deterioração das qualidades e
condições sociais e físicas de outros lugares;
As perspectivas ecológico-políticas procu- Os processos de mudança socioambiental, por-
ram decifrar a natureza das relações sociais tanto, nunca são socialmente ou ecologicamen-
que se desenvolvem entre indivíduos e gru- te neutros. Isso causa condições em que deter-
pos sociais e como estes, por sua vez, são minadas trajetórias particulares do processo de
mediados e estruturados por processos de mudança socioambiental minam a estabilidade
mudança ecológica; e a coerência de alguns grupos e lugares sociais,
enquanto podem melhorar a sustentabilidade
de outros grupos e lugares. Em resumo, o estudo
ecológico-político do processo de urbanização
revela a natureza intrinsecamente contraditória
do processo de mudança socioambiental e evi-
dencia os inevitáveis conflitos (ou deslocamen-
tos no tempo e no espaço) gerados pela mudan-
ça socioambiental
Comunga-se da preocupação do autor em relação às necessidades crescentes
da população no meio urbano o que, inevitavelmente, exigirá um processo cres-
cente de transformação socioambiental cada vez mais forte, para poder suportar
a pressão das mudanças urbanas contemporâneas Swyngedouw14. É importante
destacar que o processo de urbanização contínuo na história provocou mu-
danças em relação ao ciclo da água, considerando que a compreensão de que
o ciclo urbano da água nada mais é do que a circulação da água em território
classificado como urbano, tem-se uma complexidade considerável com diversas
maneira de captação, represamento e reutilização da água.
Os estudos de Swyngedouw15 vem problematizar essencialmente a transfor-
mação do ciclo urbano da água, que tem sido modificado ao longo da história
261
Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
Esse é um quadro ruim para quem? Quem efetivamente sofre com um sis-
tema de saneamento básico injusto? Essa é uma questão a ser respondida, mas
com base nos estudos realizados no campo sócio-jurídico é preciso avançar no
sentido de compreender o ciclo urbano da água como sendo um ciclo hidrosso-
cial, no qual o poder e outros fatos moldam seus caminhos pela urbe. Isso pode
apontar que a água potável não é para todos e que o ordenamento jurídico é
incapaz de proteger ou reaver o direito fundamental à água, não a enxergando
como algo isolado mas que compõe um sistema que tem que ser protegido em
sua integralidade.
Na figura 1 fica exposta a complexidade do ciclo urbano da água, sendo
necessário órgãos técnicos administrativos, reguladores e judiciais capacitados
para analisar e tutelar o direito fundamental ao saneamento, uma vez que o
Brasil se ressente da ausência de uma órgão que regule o saneamento, tem-se a
Agência Nacional de Águas (ANA), porém, não se tem uma agência de regu-
lação do saneamento.
17 é importante deixar claro que “abastecimento de água” é diferente de “recursos hídricos”, que dizem
respeito aos corpos d’água que fornecem água para o abastecimento e são regulados pela Política
Nacional de Recursos Hídricos, com lei própria, Lei n. 9.433/97.
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
Apesar de não se ter esse categoria “ciclo urbano da água” na legislação bra-
sileira, o que chega mais próximo é a Resolução do Conama n. 303/2002, que
define a categoria jurídica “área urbana consolidada”18, como sendo,
18 A Lei n . 13.645/2017 detalha mais que seria essa “área urbana consolidada”, art. 16C (…)
§ 2o Para os fins desta Lei, considera-se área urbana consolidada aquela:
I - incluída no perímetro urbano ou em zona urbana pelo plano diretor ou por lei municipal específica;
II - com sistema viário implantado e vias de circulação pavimentadas;
III - organizada em quadras e lotes predominantemente edificados;
IV - de uso predominantemente urbano, caracterizado pela existência de edificações residenciais,
comerciais, industriais, institucionais, mistas ou voltadas à prestação de serviços; e
V - com a presença de, no mínimo, três dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana
implantados:
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
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XIII - aìrea urbana consolidada: aquela que atende aos seguintes criteìrios:
a) definiçaÞo legal pelo poder puìblico;
b) existência de, no miìnimo, quatro dos seguintes equipamentos de
infra-estrutura urbana:
1. malha viaìria com canalizaçaÞo de aìguas pluviais,
2. rede de abastecimento de aìgua;
3. rede de esgoto;
4. distribuiçaÞo de energia eleìtrica e iluminaçaÞo puìblica;
5. recolhimento de resiìduos soìlidos urbanos;
6. tratamento de resiìduos soìlidos urbanos; e
c) densidade demograìfica superior a cinco mil habitantes por km2.
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a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de
superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento
de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento; (Incluído pela
Lei nº 12.727, de 2012).
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
(…)
22 NAZARETH, P. A. Planos diretores e instrumentos de gestão urbana e ambiental no Estado do Rio
de Janeiro. In Rev. Serv. Público Brasília 69 (1) 211-240 jan/mar 2018.
23 FARIAS, T., CORREIA, A. F. Considerações a respeito da edificação urbana às margens de rios: a
lei 12.651/2012 (novo código florestal) e a competência legislativa municipal. In FERREIRA, O. A.
V. A., GRAU NETO, W. Temas polêmicos do Novo Código Florestal. São Paulo: Migalhas, 2016.
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26 http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/AECBF8E2/ Plansab_Versao_Conselhos_
Nacionais_020520131.pdf
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
Milênio, firmado pelo Brasil e outros 190 paiìses, em setembro de 2000, prevendo,
entre outras metas, a reduçaÞo em 50%, ateì 2015, da parcela da populaçaÞo que
naÞo tinha acesso aÌ aìgua potaìvel e ao esgotamento sanitaìrio no ano de 1990
(como visto no Gráfico 1 não foi atingido, e certamente não será atingido mesmo
com o adiamento para 2030); (ii) a ResoluçaÞo A/RES/64/292, da Assembleia
Geral das NaçoÞes Unidas, de 28 de julho de 2010, apoiada por 122 naçoÞes,
com 41 abstençoÞes e nenhum voto contraìrio, com forte suporte da diplomacia
brasileira, e que trata dos direitos aÌ aìgua e ao esgotamento sanitaìrio, afirma ser
o acesso aÌ aìgua limpa e segura e ao esgotamento sanitaìrio adequado um direito
humano, essencial para o pleno gozo da vida e de outros direitos humanos. Es-
sas recomendações e resoluções nacionais e internacionais devem ser levadas em
consideração quando da tutela jurídica do ciclo urbano da água, isso em íntima
ligação com a proteção aos recursos hídricos, dos chamados corpos de água, seja
de um lago, rio, mar, reservatório, poços, em que a água é estocada.
A despeito da atuação do Ministério Público foram selecionados aleatoriamente
alguns estados da federação, sendo feitas consultas processuais acerca de informa-
ções sobre a atuação ministerial na proteção jurídica do ciclo urbano da água. Veri-
fica-se que essa atuação tem crescido, entretanto, há dificuldade, e mesmo ausência
de informações sobre a atuação administrativa e judicial. Chama atenção o ende-
reço eletrônico do Ministério Público do Estado do Amazonas que se apresentou
como sendo o site que menos informações possuía dentro dos que foram verificados.
É importante destacar que não significa dizer que não haja atuação, mas apenas as
inferências foram feitas a partir de informações disponibilizadas nos sites.
Quadro 2 - Breve panorama da atuação do Ministério Público nos Estados.
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
SÃO PAULO A Lei n. 16.050 de 2014 insere a proteção aos mananciais superficiais e
subterrâneos como política de desenvolvimento urbano. Insere num con-
texto de interligação o abastecimento de água, o tratamento de esgoto
e resíduos sólidos, sendo objetivos estratégicos da política de desenvol-
vimento urbano. Apesar de ter consolidado um texto que visa instalar
uma política integrada no campo hídrico e de saneamento básico, não
fica claro no texto, assim como ficou em Salvador, a necessidade de se
prover formas de reuso da água e tecnologia de tratamento dessa água,
principalmente em se tratando da maior cidade do país.
BELO A Lei n. 7.166 de 1996 estabelece, entre outras questões, a neces-
sidade de Licenciamento Ambiental junto ao Conselho de Meio
HORIZONTE Ambiente de obras que provoquem intervenção em corpos de água.
Além disso, pode-se dizer que foi tímida, comparativamente com as
demais, em relação ao ciclo urbano da água, principalmente no que
se refere ao reaproveitamento, ao reuso da água, seja da chuva seja
daquela utilizada pelo usuário doméstico e industrial. Ao que pare-
ce, mitigou o escopo de atuação do município em relação à tutela
do ciclo urbano da água, porém isso não isenta a responsabilidade
da municipalidade.
GOIÂNIA Lei Complementar 171 de 2007, ela trata do planejamento urbano,
diferente da lei de Belo Horizonte ela trata do planejamento urbano,
não apenas do parcelamento do solo, mas dá um cunho mais amplo a
essa questão. Diferencialmente, a água está inserida numa estratégia
de sustentabilidade sócio-ambiental. Insere num programa de Gestão
Ambiental esgotamento sanitaìrio, abastecimento de aìgua, drenagem
urbana, gerenciamento dos resiìduos soìlidos, poluiçaÞo ambiental,
com vistas aÌ articulaçaÞo e qualificaçaÞo das açoÞes e reduçaÞo dos
custos operacionais no âmbito das bacias hidrograìficas. Dispõe sobre
o saneamento, o abastecimento, bem como a necessidade de reutiliza-
ção da água para fins potáveis. Propõe a formulação de instrumento
legal que obrigue os proprietários de imóveis a instalar estruturas que
reaproveitem a água. A água e o saneamento estão incluídos numa es-
tratégia sócio-ambiental.
PORTO Lei Complementar n. 434 de 1999, classificada como o Plano Diretor
ALEGRE de Desenvolvimento Urbano Ambiental, a água, o solo e o subsolo
são considerados patrimônio natural, o que possibilita a tutela ju-
rídica dos mesmos pelo Poder Público, o saneamento e a proteção
estão agrupados para preservação do ciclo urbano da água, embora
não esteja implícito, não menciona nenhuma ação ou princípio para
a reutilização da água.
277
Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
27 IBGE. Síntese de indicadores sociais : uma análise das condições de vida da população brasileira :
2017 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro : IBGE, 2017.
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Gestão das águas: Dignidade Humana e Sustentabilidade
por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
28 BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2015.
Brasília: SNSA/MCIDADES, 2017.
29 BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2015.
Brasília: SNSA/MCIDADES, 2017.
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por meio do Fortalecimento das Cadeias de Valor
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
30 SILVA, J. I. A. O.; CUNHA, B. P. da; GOMES, I. R. F D.. Políticas públicas ambientales: legalización
y activismo judicial para el desarrollo sostenible. Revista de la Facultad de Derecho (2° época), [S.l.],
n. 42, p. 161-187, jun. 2017. ISSN 2301-0665. Disponible en: <http://revista.fder.edu.uy/index.php/
rfd/article/view/574>. Fecha de acceso: 15 ene. 2018 doi:10.22187/rfd201718.
31 D`ISEP, C. F. M. Água Juridicamente sustentável. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
36 D`ISEP, C. F. M. O rio e a cidade: o o diálogo jurídico entre o plano hídrico e o plano diretor. In
Rev. Bras. Polít. Públicas (Online), Brasília, v. 6, no 3, 2016 p. 359-370; D`ISEP, C. F. M. Água
Juridicamente sustentável. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
37 PEREIRA, J. C.; FREITAS, M. R. Cities and Water Security in the Anthropocene: Research
Challenges and Opportunities for International Relations In Contexto Internacional vol. 39(3)
Sep/Dec 2017.
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Talden Farias, José Irivaldo Alves O. Silva
Fonte: https://noticias.uol.com.br/album/2012/03/15/chuvas-pelo-brasil.htm
Fonte: http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2017/01/emparn-registra-chuvas-
-em-39-municipios-do-rn-no-fim-de-semana.html
Portanto, para deixar claro, faz parte do escopo da regulação do ciclo ur-
bano da água: a captação (reservatórios, barragens, rios, poços, entre outros),
a drenagem da água das chuvas, a coleta do descarte residencial e industrial, o
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tratamento desse descarte ou resíduos, e a forma de descarte dessa água que foi
usada, se será reutilizada ou mesmo lançada em corpos de água para retornar ao
ciclo. Os problemas vistos nas Fotos 1 e 2 faz parte da drenagem da água. Dessa
forma no quadro 4 apresentam-se as normas que se relacionam com a tutela
jurídica do ciclo urbano da água.
Quadro 4 - Demonstração do microssistema hídrico para que haja a
tutela do ciclo urbano da água
Política Nacional do Meio Esse diploma legal é a base para uma análise inicial da tutela
Ambiente - Lei n. 6.938 ambiental e por conseguinte do ciclo urbano da água. Nela
de 1981 a racionalização da água é princípio da Política Nacional do
Meio ambiente e a água, seja ela subterrânea ou superficial é
considerada recurso ambiental, isso já possibilita a tutela da
água em seu ciclo urbano.
Política Urbana - Lei n. 10 Prevê os cuidados necessários com o solo quando do seu par-
257 de 2001 celamento, do seu uso em geral para edificações, elencando as
obras de saneamento e abastecimento de água como sanea-
mento. O ciclo urbano da água deve necessariamente está in-
serido nessa política urbana, tendo o uso do solo como o acesso
e uso da água estão intimamente ligados, sendo necessários
cuidados específicos com o solo para permitir o correto esco-
amento da agua, permitindo a recarga das águas do subsolo.
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Política Nacional do Meio Esse diploma legal é a base para uma análise inicial da tutela
Ambiente - Lei n. 6.938 ambiental e por conseguinte do ciclo urbano da água. Nela
de 1981 a racionalização da água é princípio da Política Nacional do
Meio ambiente e a água, seja ela subterrânea ou superficial é
considerada recurso ambiental, isso já possibilita a tutela da
água em seu ciclo urbano.
RESOLUÇAÞO No 420 Art. 3. A proteçaÞo do solo deve ser realizada de maneira pre-
de 2009, do Conselho Na- ventiva, a fim de garantir a manutençaÞo da sua funcionalida-
cional de Meio Ambiente de ou, de maneira corretiva, visando restaurar sua qualidade
(CONAMA) ou recuperaì-la de forma compatiìvel com os usos previstos.
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Política Nacional do Meio Esse diploma legal é a base para uma análise inicial da tutela
Ambiente - Lei n. 6.938 ambiental e por conseguinte do ciclo urbano da água. Nela
de 1981 a racionalização da água é princípio da Política Nacional do
Meio ambiente e a água, seja ela subterrânea ou superficial é
considerada recurso ambiental, isso já possibilita a tutela da
água em seu ciclo urbano.
Lei de Diretrizes Nacio- Essa lei lidará essencial de fenômenos que ocorrem diretamen-
nais para o Saneamento te nas cidades, o abastecimento de água, o esgotamento sanitá-
Básico, Lei n. 11.445 de rio, a drenagem e a limpeza urbana e manejo de resíduos. Esse
2007. diploma legal precisa está dialogando, em sua execução, com
as demais leis, especialmente a Política Nacional de Recursos
Hídricos.
Sistema Nacional de Uni- Essa lei cuida da preservação de espaços, seja no solo ou água,
dades de Conservação, de modo a cuidar dos organismos lá, existentes fauna e flora,
Lei n. 9.985 de 2000. além do próprio solo e água. Além disso, regula o acesso a esses
recursos, bem como à água no interior dessas unidades, uma
vez que ela é considerada um recurso ambiental. Dessa forma,
vê-se que é fundamental uma atuação sistêmica com as demais
leis que tratam da água em termos de uso, de acesso para o
consumo humano, ou lazer.
Código Florestal, Lei n. Essa traz diversos dispositivos que incluem a água, destacando-
12.651 de 2012 -se a obrigatoriedade de proteção e recomposição das Áreas de
Preservação Permanente (APP), o que conserva as margens
dos rios evitando seu assoreamento. Destaca o caráter público
das águas nas florestas, em forma de nascentes, olhos d’água,
enfim, de qualquer corpo d’água que esteja nas áreas de mata,
que, na verdade, beneficia às cidades diretamente, por isso é
fundamental o diálogo dessa lei num sistema de proteção da
água, pois o solo, e outros organismos e estruturas são fun-
damentais para a preservação dos cursos de água tendo um
impacto positivo no ciclo urbano da água.
Código de Mineração, Esse decreto é o marca regulatório da atividade minerária bra-
Decreto-Lei 227 de 1967 sileira, entretanto, está tramitando no Congresso Nacional
uma proposta de novo marco legal. O que está vigente cuida
de regular também o uso das águas na área de mineração, bem
como proteger os corpos d’água subterrâneos e superficiais, o
que é substancialmente importante para as comunidades urba-
nas que se aproveitam do ciclo da água.
Política Nacional de Re- Esse marco legal veio disciplinar a disposição e todo o resíduo
síduos Sólidos, Lei n. sólidos produzido na vida em sociedade, especialmente nas
12.305 de 2010 cidades. Sua execução é polêmica no âmbito dos municípios,
pois boa parte deles ainda não tem o local apropriado para dis-
posição dos resíduos, o que pode causar, inclusive, a contami-
nação do solo e dos corpos d’água subterrâneos e superficiais.
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Política Nacional do Meio Esse diploma legal é a base para uma análise inicial da tutela
Ambiente - Lei n. 6.938 ambiental e por conseguinte do ciclo urbano da água. Nela
de 1981 a racionalização da água é princípio da Política Nacional do
Meio ambiente e a água, seja ela subterrânea ou superficial é
considerada recurso ambiental, isso já possibilita a tutela da
água em seu ciclo urbano.
Decreto n. 4.297, de 10 de Esse decreto institui um instrumento essencial à Política Na-
julho de 2002 cional de Meio Ambiente, e que coloca a obrigatoriedade de
se planejar os limites de atuação do homem sobre o meio am-
biente, incluindo os recursos hídricos, devendo-se planejar as
ações para a necessária preservação dos recursos ambientais,
dentre eles a água.
Lei n. 9.605, de 12 de fe- Essa lei institui ps crimes ambientais, dentre eles está aquele
vereiro de 1998 que macula as espécies da fauna dos corpos d’água, porém,
entende-se que a penalização é tímida para a extensão do
dano, por exemplo, ao rio, que é um verdadeiro organismo
vivo, pulsante e que terá um impacto direto no ciclo da água,
inclusive no meio urbano. Causar a interrupção do abasteci-
mento de água nas cidades por meio de alguma ação poluido-
ra é crime. Na esfera penal, infelizmente, a punição é deveras
tímida para a magnitude da ação que, em muitos casos, é um
desastre ambiental.
Lei 9.795, de 1999 – Lei Essa lei estabelece diretrizes para uma ação planejada na edu-
de Educação Ambiental cação que capacita as atuações gerações e as vindouras sobre a
importância do meio ambiente e dos recursos naturais que ele
gera, como a água.
CONAMA, Resolução n. Essa resolução é fundamental para compreender os elementos
303, de 2002 tuteláveis no meio ambiente que tem impacto direto sobre as
águas que fluem pelas cidades.
CONAMA, Resolu- Essa resolução regulamenta o licenciamento da construção de
ção n. 335, de 2008 cemitérios, que vai impactar diretamente nas águas subterrâ-
neas, sendo necessário a regulação da construção desses espa-
ços para que não contamine esses corpos d’água, prejudicando
o ciclo da água.
CONAMA, Resolu- Essa norma é pertinente ao uso das águas subterrâneas, ditan-
ção n. 396, de 2008 do parâmetros de qualidade para que não haja contaminação,
orientando os órgãos de fiscalização ambiental.
Código de Águas Mine- Esse decreto estabelece o regramento para extração de águas
rais, Decreto n. 7.841, de subterrâneas classificadas como minerais, desde a mera pes-
1945 quisa para verificação de viabilidade, até a lavra, que é a ex-
ploração com fins comerciais. Também dá parâmetro para que
haja uma fiscalização à contendo por parte do Poder Público.
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Conclusão
No presente texto teve-se a pretensão de estabelecer parâmetros para se pen-
sar a tutela jurídica do ciclo urbano da água e, dessa forma, chega-se a um ponto
que o jurista, ou mesmo o gestor público, terá que ter um olhar menos linear e
mais complexo do fluxo da água do meio urbano, desde a captação, até o des-
carte das águas, e essa complexidade aumenta, certamente, proporcionalmente
à extensão do seu perímetro urbano.
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Referências
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Tales de Mileto afirmava que “tudo é água”, na defesa de que a ma-
téria básica do cosmos seria o líquido primordial do qual tudo o
mais derivaria. Já Zygmunt Bauman chama a contemporaneidade
de ‘“modernidade líquida”. A liquidez serve como metáfora carac-
terizadora das virtudes e mazelas que nos rodeiam. Seja na Anti-
guidade ou na Pós-Modernidade a água sempre esteve presente
no cotidiano dos seres humanos permeando o mundo concreto
assim como o seu imaginário.
A presença do tema “água” potencializa-se à medida que sua es-
cassez se impõe no cenário mundial. Nesse viés os textos que
compõem a presente obra têm o intuito de expor o problema e
propor soluções para a falta de água de várias perspectivas. Dada
a abrangência dos assuntos abordados, tem-se que o livro espelha
a multi-trans- e interdisciplinaridade que o tema enseja. Serve
como fonte de informação e de instigação à construção de novas
soluções para o problema. Converge para o interesse de profissio-
nais do Direito, assim como das demais ciências afins. É indicado a
pessoas comprometidas com a relação entre a gestão das águas e o
desenvolvimento humano, por meio do fortalecimento das várias
cadeias de valor propostas na obra.
ISBN 978-85-519-0991-1