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João Luiz da Silva Almeida
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Categoria:
Produção Editorial
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
________________________________________
Apresentação
Os Coordenadores
Sumário
1. Introdução
A tributação da transferência de software via download é um tema que
tem gerado fortes controvérsias no campo tributário, especialmente diante do
conflito de competências instaurado entre os Estados e os Municípios.
Nos últimos anos, ocorreu um notório crescimento do acesso e uso das
tecnologias de informação e comunicação em todo o mundo. Diante disso, é
essencial que o Direito implemente adaptações dos diplomas legais já existen-
tes para que acompanhem o progresso tecnológico e consigam abarcar essas
novas realidades econômicas.3
O advento das novas tecnologias permitiu que os “produtos” oriundos
delas, como a “comercialização” de softwares via download, convivam e con-
corram com outros produtos que dependem de métodos tradicionais de tran-
sação. Isso gera impactos na concorrência, pois a economia digital se revelou
muito mais dinâmica, além de não possuir fronteiras geográficas ou políticas,
o que significa que um sujeito não residente pode concorrer com aqueles resi-
dentes em um território nacional.
A despeito de sua inegável relevância, que tende a aumentar nos anos por
vir, a economia digital tem gerado insegurança jurídica, pois os contribuintes
– e as próprias autoridades fiscais – não raro não sabem quais são os tributos
que incidirão nessas operações.
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4 Artigo 2º, § 1º, item VI c/c artigo 6º, § 6º da Lei Estadual nº 7.098/98.
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5 XAVIER, Alberto. Direito Tributário e Empresarial. Pareceres. Rio de Janeiro: Forense, 1982. p. 294.
6 COSTA, Alcides Jorge. Estudos sobre IPI, ICMS e ISS. São Paulo: Dialética, 2009. p. 40.
7 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense,
2006. p. 533.
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é passagem das mercadorias de uma pessoa para outra, sob o manto de um título
jurídico, equivale a declarar, à sombra de um ato ou de um contrato, nominado e
inominado. Movimentação com mudança de patrimônio”.8
A seguinte passagem de Roque Antonio Carrazza sintetiza bem a mate-
rialidade da incidência do ICMS sobre operações de circulação de mercadoria:
“Este tributo, como vemos adiante, incide sobre a realização de opera-
ções relativas à circulação de mercadorias. A lei que veicular sua hipó-
tese de incidência só será válida se descrever uma operação relativa à
circulação de mercadorias.
É bom esclarecermos, desde logo, que tal circulação só pode ser jurí-
dica (e não meramente física). A circulação jurídica pressupõe a trans-
ferência (de uma pessoa para a outra) da posse ou da propriedade da
mercadoria. Sem mudança da titularidade da mercadoria, não há falar
em tributação por meio de ICMS. Esta ideia, abonada pela melhor dou-
trina (Souto Maior Borges, Geraldo Ataliba, Paulo de Barros Carvalho,
Cléber Giardino etc.), encontrou ressonância no próprio STF.
Salientamos que a Constituição não prevê a tributação de mercadorias
por meio de ICMS, mas, sim, a tributação das ‘operações relativas à
circulação de mercadorias’, isto é, das operações que têm mercadorias
por objeto. Os termos ‘circulação’ e ‘mercadorias’ qualificam as ope-
rações tributadas por via de ICMS. Não são todas as operações jurídi-
cas que podem ser tributadas, mas apenas as relativas à circulação de
mercadorias. O ICMS só pode incidir sobre operações que conduzem
mercadorias, mediante sucessivos contratos mercantis, dos produtores
originários aos consumidores finais”.9
8 MELO, José Eduardo Soares de. ICMS: Teoria e Prática. 13 Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2017. p. 15.
9 CARRAZZA, Roque Antonio. ICMS. 12 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 38-39.
10 Primeira Seção, Recurso Especial nº 1.125.133/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25.08.2010, DJe
10.09.2010.
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11 MEIRELLES, Hely Lopes. Imposto Devido por Serviço de Concretagem. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 453, Jul.-1973, p. 45-52.
12 ANTONIO CARRAZZA, Roque. ICMS. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 42.
13 CARVALHO, Paulo de Barros. Hipótese de incidência e base de cálculo do ICM. Revista de Direito
Tributário, São Paulo, n. 5, 1978, p. 87.
14 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 34 ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 377.
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Dessa forma, o software é definido pela legislação como uma criação in-
telectual, um bem imaterial que não se confunde com o suporte utilizado para
a sua difusão. Nessa linha, o artigo 9º da referida lei determina que o uso de
programa de computador será objeto de contrato de licença.15
Como se pode ver, a disponibilização do software se formaliza, via de regra,
por meio de um contrato de licença de uso, através do qual o contratante não se
torna seu proprietário, mas tão somente detém uma autorização para utilizá-lo.
Dessa forma, considerando a natureza dos contratos de cessão de uso, o
usuário não está autorizado a exercer qualquer um dos direitos patrimoniais
15 Lei nº 9.609/1998: “Art. 9º O uso de programa de computador no País será objeto de contrato de licença.”
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16 Lei nº 9.609/1998: “Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra,
por quaisquer modalidades, tais como: I - a reprodução parcial ou integral; II - a edição; III - a
adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; IV - a tradução para qualquer
idioma; V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual; VI - a distribuição, quando não
intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra; VII
- a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou
qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-
la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em
que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo
usuário; VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante:
a) representação, recitação ou declamação; b) execução musical; c) emprego de alto-falante ou de
sistemas análogos; d) radiodifusão sonora ou televisiva; e) captação de transmissão de radiodifusão
em locais de frequência coletiva; f) sonorização ambiental; g) a exibição audiovisual, cinematográfica
ou por processo assemelhado; h) emprego de satélites artificiais; i) emprego de sistemas óticos, fios
telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser
adotados; j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas; IX - a inclusão em base de dados, o
armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;
X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.”
17 Lei nº 9.609/1998: “Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao
adquirente qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as
partes e os casos previstos nesta Lei.”
18 BITTAR, Carlos Alberto. Os Contratos de Comercialização de Software. In: Novos Contratos
Empresariais. São Paulo: RT, 1990, p. 39.
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19 STF, RE 540829, Rel. Min. Gilmar Mendes, Rel. p/ acórdão Luiz Fux, Tribunal Pleno, j. 11/09/2014,
DJe 18/11/2014.
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20 “A r. sentença deve ser mantida. Com efeito, o programa de computador não é objeto de venda,
vez que pertence sempre ao seu criador. Tal se dá nos moldes do art. 27 da Lei de Software (Lei n.
7.646/87), verbis: ‘A exploração econômica de programas de computador, no País, será objeto de
contratos de licença ou de cessão, livremente pactuados entre as partes.’ Nem se diga que o suporte
físico (disquete ou chip) é mercadoria, pois, in casu, a preponderância é o programa nele contido.
Dessa forma decidiu este E. Tribunal de Justiça, nos autos da apelação cível n. 126.690-1, ao dizer
que: ‘Não se confunde, pois, software com o correspondente suporte (disquete, fita cassete ou chip),
que se constitui em seu corpo mecânico (assim como o disco é o suporte da música, esta a obra
intelectual protegida)... E, nessa definição, ingressam todos os elementos componentes do software,
desde o código fonte, diagramas e manuais de instruções com o texto descritivo” (cf. Carlos Alberto
Bittar, A Lei de Software e seu Regulamento, 1ª ed., Forense, 1998, n. 12, pp. 18-19).” Ademais,
o Código de Propriedade Industrial prevê que o titular de privilégio depositado ou concedido,
seus herdeiros e sucessores, poderão conceder licença para sua exploração. Acrescente-se, ainda, a
decisão proferida por esta E. 16ª Câmara, nos autos da apelação n. 192.456-2/5, em que foi relator
o E. Des. Bueno Magano, cuja cópia encontra-se juntada, por determinação deste relator, às fls.
255/256. Destaca-se, ainda, na referida apelação, a declaração de voto vencedor do E. Des. Marcello
Motta, verbis: ‘Meu voto também acompanhou o do ilustrado Relator, pois pareceu-me que a
tributação do software pelo ICMS caracterizaria invasão do Estado na competência tributária do
Município. O programa de computador ou software constitui bem intelectual regido pelas Leis n°s
5.988/73 (Lei dos Direitos Autorais) e 7.646/87 (Lei do Software), esta regulamentada pelo Decreto
n° 96.036/88. Consoante a teoria da preponderância, o conceito de serviços é mais racionalmente
assimilável nessa área que o da circulação de mercadoria, restrito este último ao do simples suporte
físico (ou disquete), desvinculado do conteúdo, que envolve a criação intelectual.’ Apreciando fato
superveniente (legislação juntada), nos moldes do art. 462 do CPC, tem-se que em nada interfere
ele nesta decisão, eis que, como dito, ‘a tributação do software pelo ICMS caracterizaria invasão
do Estado na competência tributária do Município’ (Voto vencedor do Des. Marcello Motta, já
transcrito). Assim, esse fato apenas confirma que o Estado busca, de todas as formas, tributar o
programa para computador que, pela teoria de preponderância, como dito, supera o mero suporte
físico. Demais disso, aqui a apelada pleiteou apenas a declaração de inexistência de relação jurídico
tributária em razão de atos negociais com programas (fls. 22). Ante tais motivos, nega-se provimento
aos recursos voluntário e oficial.” (STF, RE 176.626, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma,
j. 10.11.98, DJ 11/12/1998, grifou-se).
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21 STF, RE 176.626, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, j. 10/11/98, DJ 11/12/98.
22 Conforme destacado no voto do Relator, à fl. 316 dos autos: “O que individualiza o software em
relação aos outros instrumentos a serviço da informação é a sua natureza imaterial na medida em
que ele mesmo é constituído por informação - a qual não tem substância tangível, e é, em si, um bem
imaterial. O software apresenta-se, pois, como um produto, simultaneamente, utilitário e imaterial.
Sendo o software um dos chamados ‘bens informacionais’ ou ’produtos de informação’, ele não
pode ser objecto duma protecção eficaz contra os actos dos não proprietários. Tal protecção só
poderá relevar do Direito Intelectual, ou seja, através da organização de um ‘direito de exclusivo’
a favor daqueles que elaboram o software”. Rui Saavedra ainda continua: “Os programas standard
constituem, em regra, pacotes (packages) de programas bem definidos, estáveis , concebidos para
serem dirigidos a uma pluralidade de utilizadores - e não a um utilizador em particular -, com vista
a uma mesma aplicação ou função. São, portanto, concebidos para tratamento das necessidades de
uma mesma categoria de utilizadores (por exemplo, a contabilidade dos escritórios de advogados).
Mas possibilitam uma configuração adequada para que cada utilizador, em concreto, encontre
solução para a sua realidade específica - serão o ‘esqueleto’ a que falta o ‘revestimento muscular’. São
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como que ‘vestuário de pronto-a-vestir’. Este software ‘produto acabado’, é aquilo que os franceses
denominam progiciel, neologismo criado partindo dos termos ‘produit’ e ‘logiciel’. Alguns
destes programas dependendo - da sua compatibilidade - podem ser utilizados em diferentes
equipamentos. São programas fabricados em massa e, como são vocacionados a um vasto público,
são até comercializados nos hipermercados - daí que também se fale aqui de software ‘off the shelf’.
O seu desenvolvimento comercial chegou a proporções tais que movimenta cifras de vários milhões.
Alguns desses programas proporcionaram fortunas aos seus criadores”. Por fim, em relação aos
programas “por encomenda”, o autor afirma: “Em todo o mundo, os serviços informáticos das
empresas desenvolvem programas para atender às necessidades internas. Mas, paralelamente, há
empresas produtoras de software (as chamadas software houses) que fazem programas para os seus
clientes conforme o pedido e as solicitações destes, e que visam satisfazer as respectivas necessidades
específicas. Trata-se de ‘programas aplicacionais’, que geralmente não se mantêm estáveis e
acabados como os ‘programas standard’; pelo contrário, são continuamente adaptados, corrigidos
e melhorados para responder aos requisitos internos e externos das empresas.’ (SAAVEDRA, Rui.
A proteção jurídica do software e a internet. Don Quixote, Lisboa, 1998, pp.29/30 e 106/107)” (STF,
RE 176.626, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, j. 10/11/98, DJ 11/12/98, grifou-se).
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23 Conforme destacado pelo Relator, às fls. 319/320 dos autos, citando novamente as lições de Rui
Saavedra: “Seja qual for o tipo de programa, contudo, é certo, não se confundirão a aquisição do
exemplar e o licenciamento ou cessão do direito de uso, também presente até quando se cuide do
software ‘enlatado’ ou ‘de prateleira’.
‘Nas relações com os seus clientes’ - ensina Rui Saavedra (ob. cit., p. 79) – ‘a empresa produtora de
software surge como proprietária do software que ela cria e comercializa, quer se trate de software
standard, comercializado em massa, quer de software concebido especificamente em função das
necessidades de um utilizador em particular. Com efeito, mesmo neste último caso, a propriedade
do software permanece, habitualmente, na titularidade da empresa que o realizou; mas nada
impede que as partes estipulem o contrário, no caso de o cliente querer proteger o seu investimento
solicitando que lhe seja cedida a propriedade do software, se ele tiver financiado totalmente os
custos de desenvolvimento’.
‘Diferentemente sucede’ - assinala o autor – ‘nas relações com o utilizador de um software standard,
porque este vocaciona-se a ser comercializado junto de uma clientela potencialmente vasta: a
propriedade do software em si, normalmente, nunca é cedida ao cliente, apenas um direito de uso
não exclusivo. Isso não obsta a que se considere que o cliente adquire as ‘manifestações físicas’
do software, com todas as prerrogativas ligadas a esta propriedade, se a licença de uso lhas tiver
concedido a título definitivo e por um preço”. (STF, RE 176.626, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
Primeira Turma, j. 10/11/98, DJ 11/12/98).
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24 STF, RE 199.464, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, j. 02/03/99, DJ 30/04/99, grifou-se.
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A Medida Cautelar foi relatada Ministro Octavio Gallotti que, citando o en-
tendimento adotado no julgamento dos Recursos Extraordinários nº 176.626/98
25 STF, ADI 1945 MC, Rel. Min. Octavio Gallotti, Rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, Tribunal
Pleno, j. 26/05/2010, DJe 14/03/2011.
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Por sua vez, o Ministro Nelson Jobim abriu divergência para defender a
incidência de ICMS sobre a circulação de mercadoria virtual. Nesse sentido,
convém destacar um trecho do voto-vista do Ministro:
“A pergunta fundamental, portanto, é essa: é possível a incidência de
ICMS sobre a circulação de mercadoria virtual?
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26 Manifestação do Ministro Marco Aurélio, às fls. 89/90: “Presidente, volto à Constituição Federal, ao
disposto no artigo 146, no que, mediante a alínea a do inciso III, remete a fixação de fatos geradores à
lei complementar. A lei complementar à Constituição Federal, evidentemente, não é a lei de unidade da
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tido de deferir a liminar, uma vez que, de acordo com o seu entendimento, seria
necessária a elaboração de uma lei complementar ou o aditamento da Lei Com-
plementar nº 87/96 para demarcar os elementos da hipótese de incidência tributá-
ria do ICMS nas operações comerciais de software realizadas via download.
Sendo assim, a despeito das cautelosas e pertinentes considerações feitas
pelos Ministros Ricardo Lewandowski e Octavio Gallotti, a Egrégia Corte,
por maioria de votos, indeferiu a liminar requerida pelo autor contra os votos
dos Ministros Octavio Gallotti (Relator), Ricardo Lewandowski, Marco Au-
rélio e Celso de Mello. Seguiram o voto do Ministro Nelson Jobim, no sentido
da constitucionalidade do artigo 2º, §1º, inciso VI e do artigo 6º, §6º da lei nº
Federação, mas do Estado, mas federal. [...] Então, a base maior do meu voto é a necessidade de uma lei
complementar, ou seja, de um aditamento à Lei Complementar 87 de 1996, já que não se pode classificar o
que foi previsto na lei do Estado de Mato Grosso como mercadoria propriamente dita que verse o tema.”
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27 Manifestação do Ministro Dias Toffoli, à fl. 83: “É realmente impressionante como evoluem a
tecnologia e o tempo. No pronunciamento feito em plenário, quando pediu vista, em 19/4/99, o
Ministro Nelson Jobim disse exatamente que não haveria distinção entre o fato de uma pessoa ir até
uma loja, a uma livraria, e comprar o produto na prateleira e o fato de compra-lo via download; [...].
A tecnologia já evoluiu tanto hoje que ninguém mais tem que esperar esses 10 ou 15 minutos: o
download é praticamente imediato. [...] Senhor Presidente, acompanho esse voto e agrego também
o que trouxe o Ministro Gilmar Mendes.”
28 Manifestação do Ministro Eros Grau, à fl. 85: “Lavou minha alma ouvir o Ministro Gilmar Mendes
dizer que a realidade altera o significado dos textos. Passei seis anos nesta corte tentando dizer isto:
o movimento da vida e da realidade é o que dá o significado normativo dos textos.”
29 Manifestação do Ministro Ayres Britto, à fl. 86: “Estou raciocinando como raciocinou o Ministro
Gilmar Mendes: eraclitianamente. O ser das coisas é o movimento, e as palavras, para efeito de
movimento, são coisas. Hoje temos uma realidade virtual, isso é tão verdadeiro que a própria
expressão realidade virtual é paradoxal; seria paradoxal há dez anos, porque virtual era o oposto do
real. E hoje já falamos de realidade virtual eliminando toda e qualquer contradição.”
30 Manifestação do Ministro Gilmar Mendes, às fls. 77 e 79: “Não faz muito, eu comentava há pouco
com o Ministro Marco Aurélio – um pequeno produtor de CDs de música, uma pequena produtora,
alguém responsável por isso, comentava que esse negócio está desaparecendo e, fundamentalmente,
a produção de CDs está desaparecendo graças a essa atividade da internet. Então, dizia ele, a não ser
que haja as encomendas para fim de ano e para ocasiões etc, as pequenas produtoras desaparecem,
e também as grandes estão enfrentando grandes dificuldades. [...] Nessa linha, Senhor Presidente,
vou pedir vênia para também acompanhar o eminente Ministro Nelson Jobim, não só pelas razoes
expendidas, mas, também, por essas razões de conveniência política. Penso que temos realmente de
discutir esse tema, porque é extremamente delicado, sob pena de, em algumas áreas, desaparecer
inclusive o objeto da cobrança do ICMS, porque é disso que se fala.”
31 Manifestação do Cezar Peluso, às fls. 91 e 92: “É possível distinguir – não apenas em relação ao
tema em pauta, mas a qualquer outro, até quanto aos livros é possível – entre a operação intelectual
e os direitos derivados da operação intelectual, como bens incorpóreos, e os produtos resultantes
dessas operações intelectuais, tais como livro, programas de computador, etc. São duas coisas
absolutamente discerníveis, não apenas do ponto de vista prático, mas do ponto de vista jurídico.
Uma coisa é a criação intelectual, o direito intelectual, como bem incorpóreo; outra, são os produtos
de certo modo físicos, que alguns chamam de corpos mecânicos, ou coisa semelhante. Estes últimos
são susceptíveis de trafico jurídico como mercadoria, assim como qualquer outro produto. [...] O
imposto recai sobre aquilo que é, característica e tipicamente, transferência de propriedade de
mercadoria. O resto, licenciamento, etc, são serviços que não estão sujeitos a este imposto.”
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cia do ICMS, mesmo que a sua utilização seja feita por download ou streaming.
O Município de São Paulo, por sua vez, ao editar o Parecer Normativo nº 1/17,
adotou o entendimento de que todas as operações com transferência de software,
seja de prateleira ou por encomenda, estariam sujeitas ao ISS, independentemente
da forma de contratação se operacionalizar por download ou streaming.
Diante disso, fica nítido o conflito de posicionamento entre o Estado e o
Município de São Paulo, já que ambos os entes entendem que possuem com-
petência para instituir tributos sobre as mesmas operações.
Isto posto, a partir da diferenciação entre as possíveis formas de transfe-
rência de software, o caminho para a análise da natureza dessas operações e
sua repercussão tributária fica mais claro.
Como visto, podem existir três espécies de software: (i) produzidos em
série, sem customização; (ii) produzidos em série com alguma customização
e (iii) produzidos por encomenda. Entretanto, a referida classificação, feita no
julgamento do Recurso Extraordinário nº 176.626/98, em uma época em que
a maioria das aquisições de software envolvia meio físico, acabou perdendo
grande parte de sua utilidade nos dias atuais. Isso porque, de modo geral, as
transferências de software, seja em qualquer uma de suas modalidades, são
feitas mediante download por meio de um contrato de cessão de direito de uso
temporário ou definitivo, este último mais comum.
Em princípio, nenhuma transação envolvendo a transferência do direito
de uso de um programa de computador, seja ela temporária ou definitiva, seja
o software de prateleira, customizado ou customizável, amolda-se à materia-
lidade constitucional do ICMS, conforme a doutrina e jurisprudência tradi-
cionais. Com efeito, tratando-se de uma licença de um direito de uso, a sua
remuneração dá-se, necessariamente, por meio do pagamento de um royalty,
o qual não gera a incidência do imposto estadual.
De outra parte, é possível que a jurisprudência – leia-se, o Supremo Tri-
bunal Federal – acabe por realizar uma mutação constitucional do conceito de
“operação de circulação de mercadoria”, para sustentar que, em alguns casos,
uma transação comercial que não gera a efetiva transferência da propriedade do
bem, que sequer se caracterizaria como mercadoria segundo o conceito tradi-
cional, sujeita-se à incidência do imposto estadual. Embora não seja esta nossa
posição, é certamente possível que a jurisprudência se direcione neste sentido.
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Neste caso, parece-nos que o único critério razoável para sustentar uma
mutação constitucional como esta seria com base não mais no caráter custo-
mizado ou não do software, mas sim no prazo pelo qual o cessionário terá o
direito de utilizar o bem intangível.
Com efeito, a transferência temporária do direito de utilização de um
bem intangível, como um software, em nenhum caso poderá ser considerada
tributável pelo ICMS, independentemente da natureza do programa de com-
putador – se customizado ou não.
A seu turno, parece mais razoável que se considere que a transferência de-
finitiva do direito de uso de um programa de computador tem ao menos alguns
traços que a aproximam de uma operação de circulação de mercadoria, embora,
de uma perspectiva formal, não seja uma operação de circulação de mercadoria.
Percebe-se, assim, que embora haja muita discussão na doutrina sobre a
questão da mutação do conceito constitucional de mercadoria, na realidade a
evolução que deveria ser mais debatida é justamente a referente ao conceito de
operação de circulação para que a questão da inclusão da cessão de uso defi-
nitiva possa ser analisada. Seria possível transmutar a cessão de uso definitiva
em uma operação de circulação de mercadoria para encaixá-la no fato gerador
do ICMS? Entendemos que não, pois a cessão definitiva claramente possui
natureza de cessão de um direito de uso remunerada por royalty.
Ademais, cumpre destacar que a evolução da internet e os avanços tecno-
lógicos vão continuar a alterar as características das operações com software.
A tendência é que a transferência de software mediante download migre pro-
gressivamente para o modelo do serviço de plataforma digital, como ocorre
na “nuvem” do Software as a Service. Caso isso ocorra, a discussão da tribu-
tação dessas operações ficará muito mais complexa. Nesse caso, poderá haver
um conflito com o ISS muito mais claro do que se tem hoje.
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Ao que tudo indica, a direção atual aponta para uma mutação constitu-
cional pela via judicial. Ou seja, os entes tributantes estão se posicionando na
defesa de suas interpretações, como vemos no campo da tributação do direito
de uso de software. Este caminho levará, inevitavelmente, a uma longa discus-
são judicial, que dependerá de uma solução pelo Supremo Tribunal Federal.
O problema de se apostar na via judicial é que a solução de conflitos de qua-
lificação pelo Supremo Tribunal Federal leva muito tempo até uma decisão final.
Considerando o dinamismo da economia digital, este caminho nos parece inviá-
vel. No momento em que se alcançar uma posição final sobre o tratamento fiscal
de transações digitais com software o modelo de negócio já se terá alterado.
Outra possibilidade seria a implementação de uma reforma constitucio-
nal digital. Esta via, que nos parece mais eficaz do que a primeira, teria como
foco a revisão das materialidades constitucionais dos tributos que oneram a
circulação de mercadorias e serviços para incluir nas mesmas fatos econômi-
cos como o pagamento de royalties e licenças de uso.
Por fim, ao invés de uma reforma constitucional, poderíamos imaginar
a edição de uma lei complementar disciplinando a tributação da economia
digital, a qual, tendo base no inciso I, do artigo 146, da Constituição Federal,
disciplinaria a repartição de competências tributárias entre Estados e Municí-
pios no contexto da economia digital.
Talvez esta terceira via, da edição de uma Lei Complementar lidando
com a matéria de que nos ocupamos, seja a mais adequada para que, em um
prazo de tempo razoável, consigamos alguma estabilidade no que se refere à
tributação de transações com software e outros bens digitais.
7. Conclusão
Diante de um cenário de muita instabilidade e insegurança jurídica, o
contribuinte deve se preparar para sofrer situações de bitributação enquanto
ainda não há um posicionamento definitivo da jurisprudência sobre o tema ou
uma lei complementar (ou reforma constitucional) que regule a tributação das
operações de transferência de software.
A expansão da economia digital colocará em xeque o ICMS e o ISS. A
solução poderá ser interpretativa, acompanhada de décadas de litígio judicial,
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Dedutibilidade de Pagamentos de
Royalties para o Exterior pelo Direito de
Distribuição/Comercialização de Software
Resumo
O presente artigo analisa as regras de dedutibilidade de pagamento de
royalties, à luz da Lei de Direitos Autorais e da Lei do Software, buscando com-
preender se as pessoas jurídicas podem ser consideradas autoras/criadoras de
programas de computador, de modo a justificar que os pagamentos realizados
pelo licenciamento de direitos de comercialização de software não sejam clas-
sificados como royalties nos termos do artigo 22, alínea “d”, da Lei no 4.506/64
sujeitando-se, portanto, à regra geral de dedutibilidade de pagamentos para
não residentes. Analisamos também os dispositivos legais pertinentes à dedu-
tibilidade dos pagamentos de royalties feitos para sócios pessoas jurídicas ou
para parte relacionada no exterior.
Palavras-chave: Direito autoral, software, royalties, dedutibilidade, pre-
ços de transferência.
Abstract
The focus of this paper is the analysis of the tax deductibility rules that
apply to royalty payments, considering the provisions established by the Bra-
zilian Copyrights’ Law and the Software Law. Our goal was to establish whe-
ther legal entities can be considered as authors and/or developers of software.
35
Tributação da Economia Digital
1. Introdução
Tema relevante, que vem sendo analisado pelo Conselho Administra-
tivo de Recursos Fiscais (“CARF”), diz respeito à dedutibilidade de despesas
incorridas com a licença de direitos de comercialização de software, quando
pagas por fonte brasileira para parte relacionada no exterior – controladora ou
não da empresa brasileira. A controvérsia gira em torno da qualificação de tais
pagamentos como royalties e sua eventual indedutibilidade na hipótese de re-
messa para beneficiário no exterior pertencente ao mesmo grupo econômico
da fonte brasileira, nos termos do que dispõe o artigo 363, I, do Regulamento
do Imposto de Renda (“RIR”).35
De forma resumida, o atual entendimento da Câmara Superior de Re-
cursos Fiscais (“CSRF”) do CARF é no sentido de que tais pagamentos são
classificados como royalties sempre que realizados para beneficiário pessoa
jurídica, ao argumento de que o Direito Autoral brasileiro somente admitiria
a pessoa física na condição de autor ou criador de obra literária, artística ou
científica. Considerando que o regime de proteção à propriedade intelectual
do software seria aquele aplicável às obras literárias, sustenta a CSRF que não
seria possível admitir às pessoas jurídicas a condição de criadoras de um pro-
grama de computador.
35 O referido dispositivo estabelece que as despesas com royalties serão indedutíveis na apuração do
Lucro Real sempre que pagos para “sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou dirigentes de empresas, e
a seus parentes ou dependentes”.
36
Tributação da Economia Digital
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Tributação da Economia Digital
38
Tributação da Economia Digital
38 Sobre o tema, ver: SOARES, Romero Lobão; SIQUEIRA, Marcelo Gustavo Silva. A Instrução
Normativa INPI 70/2017: Dedutibilidade e Remessa de Royalties Para o Exterior m Face do novo
posicionamento do Instituto Nacional De Propriedade Industrial – INPI. Revista Direito Tributário
Internacional Atual, São Paulo, n. 3, 2018, p. 141.
39 Cf. SOARES, Romero Lobão; SIQUEIRA, Marcelo Gustavo Silva. A Instrução Normativa INPI
70/2017: Dedutibilidade e Remessa de Royalties Para o Exterior m Face do novo posicionamento
do Instituto Nacional De Propriedade Industrial – INPI. Revista Direito Tributário Internacional
Atual, São Paulo, n. 3, 2018, p. 141.
39
Tributação da Economia Digital
40 SCHOUERI, Luís Eduardo. Preços de Transferência no Direito Tributário Brasileiro. 2 ed. São Paulo:
Dialética, 2006. p. 230-231. Sobre o tema, ver: TROIANELLI, Gabriel Lacerda. Preço de Transferência:
Intangíveis, Acordos de Repartição de Custos e Serviços de Grupo. In: SCHOUERI, Luís Eduardo
(Coord.). Tributos e Preços de Transferência: 3º Volume. São Paulo: Dialética, 2009. p. 60.
41 Sobre o tema, ver: ROCHA, Sergio André. Política Fiscal Internacional Brasileira. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2017. p. 203-299.
42 Hugo de Brito Machado admite a liberdade do legislador para estabelecer normas reguladoras da
determinação do montante da renda, tendentes a evitar, por exemplo, práticas fraudulentas. Após
citar lição de Brandão Machado, no sentido de que a liberdade do legislador vai até o ponto em
que as suas regras sobre ajustes da renda do contribuinte não desnaturem o próprio conceito de
renda, o autor destaca que: “A lei pode validamente prescrever a não consideração como despesa, de
40
Tributação da Economia Digital
desembolsos que: [...] (c) possam acobertar práticas evasivas, fraudulentas ou não” (Cf. MACHADO,
Hugo de Brito. A supremacia constitucional e o imposto de renda. In: MARTINS, Ives Gandra da
Silva (Coord.). Imposto de renda: conceitos, princípios, comentários. São Paulo: Atlas, 1996. p. 47).
43 ULHÔA CANTO, Gilberto de. “Royalties”, imposto sobre a renda. Distinção entre “royalties” e
outras formas de remuneração ou pagamento de direitos, bens ou serviços. Direitos autorais
e direitos de autor, diferenças e tratamento fiscal. Rendimentos de residentes no estrangeiro.
Dedutibilidade de despesa, pela fonte pagadora. In: ULHÔA CANTO, Gilberto de. Temas de Direito
Tributário. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1964. v. 2. p. 208.
44 Nesse sentido, o autor esclarece: “Na literatura nacional, também não se encontra o conceito de
‘royalty’, de modo a permitir diferençar as várias hipóteses de rendimento, suscetíveis de subordinação
41
Tributação da Economia Digital
tais fontes, o autor concluiu que royalty seria mais adequadamente tratado
como uma modalidade de remuneração decorrente do uso de bens imateriais
ou de direitos, estando abarcados no conceito, por exemplo, os pagamentos
decorrentes do licenciamento de marcas, patentes, direitos autorais, além da
exploração de direitos minerários. 45
Noé Winkler, fazendo referência a estudo de Rubens Gomes de Souza,
destacou que o termo pode ser definido como “regalia”, sendo originalmente
utilizado “para designar o pagamento exigido pelo soberano em razão da con-
cessão, a um particular, do privilégio de exercer uma atividade lucrativa”.46
Segundo seu estudo, a noção do termo evoluiu e passou a ser usado para
abarcar também relações entre particulares, inserindo em seu escopo “(1º) a in-
denização paga ao proprietário do solo pela exploração mineral do subsolo, (2º)
o pagamento, ao titular de uma patente de invenção ou marca de fábrica ou de
comércio, do direito de explorar o produto patenteado ou garantido pela mar-
ca, (3º) o pagamento de informações técnicas referentes a processos industriais,
ao prescrito no artigo 74, da Lei 3;470/58. Impõe-se, pois, a procura do vocábulo em dicionários,
enciclopédias e outras obras estrangeiras” (ULHÔA CANTO, Gilberto de. “Royalties”, imposto
sobre a renda. Distinção entre “royalties” e outras formas de remuneração ou pagamento de direitos,
bens ou serviços. Direitos autorais e direitos de autor, diferenças e tratamento fiscal. Rendimentos
de residentes no estrangeiro. Dedutibilidade de despesa, pela fonte pagadora. In: ULHÔA CANTO,
Gilberto de. Temas de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1964. v. 2. p. 208).
45 Vale notar que o artigo 74, da Lei no 3.470/58 também associa o termo royalty às remunerações de
assistência técnica, científica, administrativa ou semelhantes. Para Gilberto de Ulhôa Canto, os
serviços de assistência técnica, científica, administrativa, ou semelhantes cobertos pela Lei no 3.470/58
seriam aqueles serviços que possuem uma relação direta entre a natureza do serviço e a produção
industrial, o volume de vendas ou de operações de quem se beneficia da assistência recebida. Esta
questão mostra-se mais evidente nas hipóteses em que a assistência se verifique no escopo de
contratos de cessão ou licença para uso de patente, processo, fórmulas e etc., uma vez que, diante
da interligação dos ajustes contratuais, a assistência restaria vinculada à cessão ou à licença. O autor
destaca, ainda, que a modalidade mais sutil de prestação de assistência técnica é aquela conhecida no
direito anglo-americano como know-how (Cf. ULHÔA CANTO, Gilberto de. “Royalties”, imposto
sobre a renda. Distinção entre “royalties” e outras formas de remuneração ou pagamento de direitos,
bens ou serviços. Direitos autorais e direitos de autor, diferenças e tratamento fiscal. Rendimentos
de residentes no estrangeiro. Dedutibilidade de despesa, pela fonte pagadora. In: ULHÔA CANTO,
Gilberto de. Temas de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1964. v. 2. p. 213-214).
46 WINKLER, Noé. Imposto de Renda – Doutrina – Comentários – Decisões e Atos Administrativos –
Jurisprudência (Conselho de Contribuintes – Poder Judiciário). Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 521.
42
Tributação da Economia Digital
ainda que não patenteados, mas mantidos secretos pelo seu inventor ou proprie-
tário, e sob idêntico compromisso de segredo por parte do beneficiário”.47
No Direito Brasileiro, o termo royalties foi definido no artigo 22, da Lei
nº 4.506/64, sendo conceituado como rendimento decorrente do uso, fruição
ou exploração de direitos, nos seguintes termos:
“Art. 22. Serão classificados como ‘royalties’ os rendimentos de qualquer
espécie decorrentes do uso, fruição, exploração de direitos, tais como:
a) direito de colher ou extrair recursos vegetais, inclusive florestais;
b) direito de pesquisar e extrair recursos minerais;
c) uso ou exploração de invenções, processos e fórmulas de fabricação
e de marcas de indústria e comércio;
d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo au-
tor ou criador do bem ou obra.
Parágrafo único. Os juros de mora e quaisquer outras compensações
pelo atraso no pagamento dos “royalties” acompanharão a classificação
destes.”48 (Destaque nosso)
43
Tributação da Economia Digital
51 Diante destas duas possíveis interpretações, as empresas brasileiras, que habitualmente remuneram
suas controladoras ou outras partes relacionadas pelos direitos de comercialização de software,
tendem a classificar estes pagamentos como rendimentos associados a direitos autorais não
classificáveis como royalties, por considerarem que os respectivos beneficiários seriam os efetivos
autores/desenvolvedores destes programas. Seguindo esta lógica, estes pagamentos se amoldariam
ao conceito de despesa necessária, submetendo-se à regra geral de dedutibilidade prevista pelo
artigo 47, da Lei no 4.506/64, reproduzida pelo artigo 311 do RIR, mesmo quando pagos a partes
relacionadas. Neste caso, seriam aplicáveis as regras de preços de transferência previstas na Lei no
9.430/1996 e, quando a beneficiária estiver localizada em país com tributação favorecida, ou sob
regime fiscal privilegiado, as limitações estabelecidas pelo artigo 26 da Lei no 12.249/2012.
44
Tributação da Economia Digital
52 A equiparação da proteção dos programas de computador à proteção conferida a uma obra literária
está presente na Convenção de Berna (1971) e no Acordo TRIPS (sigla em inglês para Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio), adotado em 1995, no âmbito da
Organização Mundial do Comércio, que, em seu artigo 10 (1) define: “Programas de computador,
em código fonte ou objeto, serão protegidos como obras literárias pela Convenção de Berna (1971)”.
45
Tributação da Economia Digital
Neste contexto, seria legítimo desde já concluir que nem todos os dispo-
sitivos da Lei de Direitos Autorais serão aplicados aos software, mas somen-
te aqueles que lhes sejam compatíveis. E quais seriam os dispositivos da Lei
de Direitos Autorais aplicáveis aos programas de computador? A resposta nos
parece bastante simples: somente aqueles dispositivos que (i) não contrariem
a própria Lei do Software e (ii) que sejam, de fato, condizentes com as particu-
laridades dos programas de computador.
Com isso, a primeira questão que se enfrenta é o argumento de que a pessoa
jurídica poderia ser titular de direitos patrimoniais, mas nunca poderia ser con-
siderada como autora/criadora do software, tendo em vista que seriam os direitos
morais que assegurariam a autoria de uma obra (i.e. no caso, a autoria do progra-
ma de computador), e esta dimensão moral não se estenderia às pessoas jurídicas.
Esta concepção parte do pressuposto de que, para fins de definição da
autoria do software (em função de sua equiparação às obras literárias), somen-
te as pessoas físicas poderiam ser titulares dos chamados direitos morais do
autor, dentre eles, o direito de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra,
direito este inalienável e irrenunciável, nos termos do artigo 22,53 do artigo
53 “Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.” (Destaque nosso)
46
Tributação da Economia Digital
24, inciso I,54 e do artigo 27,55 todos da Lei de Direitos Autorais, enquanto a
titularidade dos direitos patrimoniais poderiam ser normalmente atribuída às
pessoas jurídicas, com base no artigo 28 da referida lei. 56
Deve-se destacar que esta interpretação está restrita às hipóteses em que
uma determinada obra (i.e. o software em função de uma equiparação) seja
individualmente desenvolvida por um autor identificável. Contudo, no con-
texto empresarial, a criação de um software na maioria das vezes não envolve
um esforço criativo individual, mas uma comunhão de esforços sob a direção
comum da empresa, que se responsabiliza pelo desenvolvimento do programa
de computador mediante a disponibilização de recursos materiais e financei-
ros, assumindo todos os riscos e encargos do negócio.57
Marcos Wachowicz destaca que a complexidade de trabalhos que envol-
vem a criação e desenvolvimento do software muitas vezes é “fruto do esforço
intelectual de uma equipe de técnicos, analistas, engenheiros, que são cons-
tituídos e organizados por uma terceira pessoa, física ou jurídica, que teria a
54 “Art. 24. São direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do
autor, na utilização de sua obra; III - o de conservar a obra inédita; IV - o de assegurar a integridade
da obra, opondo-se a quaisquer modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam
prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra; V - o de modificar a obra, antes
ou depois de utilizada; VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de
utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputação e
imagem; VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em
poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual,
preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em
todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.” (Destaque nosso)
55 “Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.” (Destaque nosso)
56 “Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou
científica.”
57 Denis Borges Barbosa identifica e individualiza as diversas etapas necessárias à elaboração de um
programa de computador. O autor considera que o desenvolvimento de um software ocorre em 6
(seis) fases, e a classificação da criação em cada fase ajuda a determinar como ela se relaciona com
o código fonte do programa. Vejamos: (1) a concepção da ideia que soluciona o famoso problema
técnico de que falam as lei de patentes; (2) a formulação do método a seguir, usualmente expresso
em fórmulas matemáticas ou lógico-matemáticas, denominado algoritmo; (3) o organograma ou
plano de solução, resultante do algoritmo; (4) um texto em linguagem de programação - BASIC, C,
PASCAL - que toma os elementos do organograma, chamado de programa fonte ou código fonte; (5)
um texto em linguagem intermediária, assembly ou de compilação; (6) um texto legível diretamente
pela máquina, denominado código objeto (Cf. BARBOSA, Denis Borges. Propriedade Intelectual –
Direitos Autorais, Direitos Conexos e Software. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 154).
47
Tributação da Economia Digital
atribuição dos seus direitos autorais sobre o bem intelectual produzido”. Para
o autor, nestes casos, “a obra é o caso de uma coletiva havida por iniciativa e
responsabilidade de uma software house. Esta obra coletiva será comercializa-
da com o nome e a marca da software house”.58
Diante deste plexo de atividades, resta evidente que o resultado final do
produto “software” dependerá de expressa aprovação da empresa responsável
pelo projeto, a quem caberá o direito de fiscalizar e supervisionar todas as
etapas pertinentes à sua criação, sendo, portanto, impossível atribuir a uma
pessoa específica a atividade criativa. É graças à atuação da empresa, diga-se,
da pessoa jurídica através de indivíduos que laboram com um objetivo econô-
mico comum, que o software ganha sua feição final.
Com base neste contexto específico, no qual se verifica a iniciativa de
criação por parte da pessoa jurídica, que o regime aplicável ao software passa
a ser o regime das obras coletivas, definido pela alínea “h”, do inciso VIII,
do artigo 5º da Lei de Direitos Autorais,59 e a titularidade originária da pes-
soa jurídica passa a ser plenamente plausível, principalmente se levarmos em
consideração o disposto no parágrafo único do artigo 11 da Lei de Direitos
Autorias, que garante à pessoa jurídica a mesma proteção concedida ao au-
tor.60 Importante registrar que na obra coletiva, as contribuições de todos os
participantes se fundem em uma criação autônoma, criada justamente por
iniciativa, organização e responsabilidade da pessoa jurídica.
Nessa linha, Antonio Carlos Morato defende a necessidade de se garantir a
integridade da criação autônoma por parte da pessoa jurídica, garantindo-lhe a
proteção ao direito de paternidade da obra, direito moral por excelência, tomando
também como base o disposto no artigo 52 do Código Civil61. Seria garantido,
58 WACHOWICZ, M. O software: instituto de direito autoral sui generis. Âmbito Jurídico, v. 07, 2007, p. 148.
59 “Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se: [...] VIII - obra: [...] h) coletiva - a criada por iniciativa,
organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou
marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem
numa criação autônoma; [...].” (Destaque nosso)
60 “Art. 11 […] Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas
nos casos previstos nesta Lei.”
61 “Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.”
48
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51
Tributação da Economia Digital
A análise deste dispositivo, contudo, deve ser feita à luz da lei que lhe
dá fundamento, qual seja, a Lei no 4.506/64, que em seu artigo 71, parágrafo
único, alínea “d”, dispõe:
“Art. 71. A dedução de despesas com aluguéis ou ‘royalties’ para efeito
de apuração de rendimento líquido ou do lucro real sujeito ao imposto
de renda, será admitida:
[...]
Parágrafo único. Não são dedutíveis:
[...]
d) os ‘royalties’ pagos a sócios ou dirigentes de empresas, e a seus pa-
rentes ou dependentes; [...].” (Destaque nosso)
52
Tributação da Economia Digital
dependente de sócio se este fosse pessoa física, afinal, pessoas jurídicas não
possuem parentes ou dependentes.67
Por mais que, nos marcos do pluralismo metodológico,68 não haja ne-
nhuma prevalência apriorística entre os elementos de interpretação, o fato é
que, em qualquer hipótese, o texto normativo apresenta os limites, a moldura
dentro da qual as possibilidades de sentido estão contidas.69 Dessa forma, não
se pode afastar com facilidade ou sem reflexão os limites apresentados pelo
texto objeto de interpretação.
Feitos esses comentários e apresentada nossa opinião, temos que reco-
nhecer que é possível uma leitura parcial da alínea “d” do parágrafo único
do artigo 71 da Lei no 4.506/64, que separe a primeira parte do dispositivo da
segunda, interpretando seção “os ‘royalties’ pagos a sócios ou dirigentes de
empresas” de forma isolada. Como mencionamos, não nos parece a melhor
interpretação desta alínea, mas vamos assumir, para fins argumentativos, que
seja uma interpretação possível. Cabe-nos, então, examinar se, neste caso, a
limitação ali prevista se aplicaria apenas a royalties pagos a pessoas jurídicas
não residentes que tenham participação societária direta na empresa brasilei-
ra, ou se a mesma seria igualmente aplicável a pagamentos feitos a empresas
não residentes que sejam parte de um mesmo grupo econômico, mas que não
possuam vínculo societário direto com a empresa brasileira.
67 Nesse mesmo sentido, ver: MARCONDES, Rafael Marchetti. A Tributação dos Royalties. São Paulo:
Quartier Latin, 2012. p. 94-95.
68 Ver: ROCHA, Sergio André. Interpretação os Tratados para Evitar a Bitributação da Renda. 2 ed.
São Paulo: Quartier Latin, 2013. p. 129; TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e de
Integração do Direito Tributário. 4 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 153-154.
69 ROCHA, Sergio André. Interpretação os Tratados para Evitar a Bitributação da Renda. 2 ed. São
Paulo: Quartier Latin, 2013. p. 93-97.
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Tributação da Economia Digital
70 Ver o § 2º do artigo 243 da Lei das S/A. Sobre o tema, ver: ROCHA, Sergio André. Tributação de Lucros
Auferidos por Controladas e Coligadas no Exterior. 2 ed. São Paulo: Quartier Latin, 2016. p. 134-139.
54
Tributação da Economia Digital
71 Nestes casos, a dedutibilidade ficou condicionada aos percentuais previstos pela Portaria MF
no 436/58, variando entre 1 a 5% da receita líquida de vendas do produto fabricado ou vendido
pela empresa brasileira, devendo os respectivos contratos envolvendo transferência de tecnologia
passarem pelo procedimento prévio de averbação perante o Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (“INPI”) e registrados perante o Banco Central do Brasil (“BACEN”), como condição
prévia à dedutibilidade de royalties. Para uma abordagem mais detalhada sobre ver: SOARES,
Romero Lobão; SIQUEIRA, Marcelo Gustavo Silva. A Instrução Normativa INPI 70/2017:
Dedutibilidade e Remessa de Royalties Para o Exterior Em Face do Novo Posicionamento do
Instituto Nacional De Propriedade Industrial – INPI. Revista Direito Tributário Internacional
Atual, São Paulo, n. 3, 2018, p. 127-148.
55
Tributação da Economia Digital
72 Para uma análise da literatura que sustenta essa linha doutrinária, ver: ROCHA, Sergio André.
Para que Serve o Parágrafo Único do Artigo 116 do CTN Afinal? In: GODOI, Marciano Seabra
de; ROCHA, Sergio André (Coords.). Planejamento Tributário: Limites e Desafios Concretos. Belo
Horizonte: Editora D’Plácido, 2018. p. 489-498.
73 Sobre o tema, ver: ROCHA, Sergio André. Planejamento Tributário na Obra de Marco Aurélio
Greco. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019; SOARES, Romero Lobão. Tentativas de Regulamentação
da Norma Antielisiva Brasileira e a Influência na Produção Jurisprudencial do CARF. In: GODOI,
Marciano Seabra de; ROCHA, Sergio André (Coords.). Planejamento Tributário: Limites e Desafios
Concretos. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018. p. 463-485.
56
Tributação da Economia Digital
5. Conclusão
Diante de todo o exposto, as remessas para o exterior a título de licença
de direitos de comercialização de software devem ser tratadas como remune-
ração pelo licenciamento de direito autoral, desde que o pagamento seja feito
ao criador do programa do programa, pessoa física ou jurídica. Muito em-
bora a CSRF tenha se manifestado pela classificação destes pagamentos como
royalties, sob o argumento de que somente pessoas físicas podem ser conside-
radas como autoras/criadoras dos programas de computador, parece-nos que
a interpretação adotada, neste caso, não reflete o disposto na legislação.
De fato, a pessoa jurídica pode ser investida na condição de autora do
software quando este tiver sido criado no contexto das obras coletivas, nos
termos da alínea “h”, do inciso VIII, do 5º, da Lei de Direitos Autorais, no
qual as contribuições de todos os participantes se fundem em uma criação
autônoma, desenvolvida justamente por iniciativa, organização e responsabi-
lidade da pessoa jurídica.
Neste caso, a pessoa jurídica é investida tanto dos direitos morais do
autor (incluindo aí, o direito de paternidade da obra), como dos respectivos
direitos patrimoniais, resguardados os interesses individuais dos participan-
tes. Como destacado, no caso de um software desenvolvido por uma empresa
de tecnologia, torna-se impossível identificar a criação individual de qualquer
participante, já que, ao fim e ao cabo, é a empresa que valida a versão final
para fins de circulação comercial. É a empresa também, que fornece todos os
recursos necessários ao desenvolvimento do programa, assim como incorre
em todos os riscos associados à criação.
Desta forma, desde que devidamente comprovadas tais particularidades,
não há como afastar a condição de autora às pessoas jurídicas em tais casos,
57
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Conflito de competência entre
Estados e Municípios e as operações
envolvendo transferência e/ou
licenciamento para uso de software
1. Introdução
O surgimento de novas tecnologias tem acirrado as disputas entre os en-
tes tributantes, na busca por garantir a sua fatia de tributação sobre novas
expressões de capacidade contributiva percebidas no mundo atual.
Novas tecnologias, como tudo que é novo, têm como principal carac-
terística uma dificuldade de enquadramento nos conceitos de “circulação de
mercadoria” ou “prestação de serviço”, que foram moldados para uma econo-
mia de um outro tempo. Como resultado, Estados e Municípios se digladiam
na tentativa de lhes enquadrar nesses conceitos.
A rigor, num mundo ideal este cenário de guerra fiscal entre Estados e Muni-
cípios deveria encontrar limites no sistema de repartição das competências tribu-
tárias previsto na Constituição, bem como no princípio da legalidade tributária.
Contudo, os conceitos de mercadoria e serviço estão longe de terem um
significado unívoco, e mesmo após anos e anos de intensos debates, ainda
parece haver mais dúvidas do que certezas sobre os seus contornos.
Conforme exemplifica Eurico De Santi “quem já frequentou aulas e leu
livros de Semiótica, Linguística, Teoria da Linguagem e Teoria do Conheci-
mento, que têm por objeto o estudo da ‘comunicação’ e do ‘significado’, sabe
que esses vocábulos [aqui o autor comenta vocábulos vagos, como “prestação”,
“serviço” e “comunicação”], talvez refletindo os limites destas ciências, são de
difícil apreensão”. (2014, p. 199).
59
Tributação da Economia Digital
60
Tributação da Economia Digital
76 Em sentido semelhante, Ricardo Lobo Torres (2007, p. 244) defende que na interpretação do fato
gerador do ICMS deve preponderar a interpretação jurídico-econômica e finalista, de maneira que
todo ato jurídico que implique circulação econômica de mercadorias, independentemente de sua
forma ou de sua natureza gratuita ou onerosa, será fato gerador do ICMS, abrangendo inclusive a
circulação econômica sem circulação física, sem a transferência do domínio ou da propriedade.
61
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62
Tributação da Economia Digital
77 Quanto ao serviço de composição gráfica, a Lei Complementar nº 157/2016 alterou a redação do item
13.05 da lista de serviços anexa à Lei Complementar nº 116/2003, passando a prever que o ISS não
incidirá na hipótese em que os materiais forem destinados a posterior operação de comercialização
ou industrialização, ainda que incorporados, de qualquer forma, a outra mercadoria que deva ser
objeto de posterior circulação, tais como bulas, rótulos, etiquetas, caixas, cartuchos, embalagens e
manuais técnicos e de instrução, quando ficarão sujeitos ao ICMS.
63
Tributação da Economia Digital
64
Tributação da Economia Digital
(download), que restou acompanhado pelos votos dos Ministros Gilmar Men-
des, Cezar Peluso, Dias Toffoli, Eros Grau e Ayres Britto. Os Ministros Ricardo
Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello acompanhavam o Relator.
Mais de dez anos depois do ajuizamento da ADI, em 2010, finalmente
foi concluído o julgamento da medida cautelar na ADI 1945, no sentido da
possibilidade da exigência do ICMS sobre softwares adquiridos por meio de
transferência de dados (download), considerando-se irrelevante a inexistência
de bem corpóreo ou mercadoria em sentido estrito.
Note-se que o entendimento adotado em 2010 pelo Plenário do Supremo
Tribunal, quando do julgamento da medida cautelar na ADI 1945, representou
uma alteração do posicionamento que foi anteriormente firmado pela Primei-
ra Turma no ano de 1998 na ocasião do julgamento do Recurso Extraordinário
176.626, passando a entender que o ICMS poderia incidir em operações com sof-
tware, ainda que realizadas meramente por transferência eletrônica de dados.
De acordo com a maioria dos Ministros, que votaram pelo indeferimento do
pedido liminar na ADI 1945, o Tribunal não poderia se furtar a abarcar situações
novas, consequências concretas do mundo real, com base em premissas jurídicas
que não são mais totalmente corretas. Neste contexto, ficou registrado na ementa
da MC na ADI 1945 que o apego a tais diretrizes jurídicas acabaria por enfraque-
cer o texto constitucional, pois não permite que a abertura dos dispositivos da
Constituição possa se adaptar aos novos tempos, antes imprevisíveis.
Após o julgamento da medida cautelar, o Tribunal admitiu o ingresso
na qualidade de amicus curiae de diversos entes da Federação e entidades re-
presentativas. Em agosto de 2018, o feito chegou a ser incluído em pauta para
julgamento do mérito, no entanto, a sessão de julgamento foi cancelada pelo
Tribunal, e após a mudança da Presidência do Tribunal em 13/09/2018, foi
excluído do calendário de julgamento da Corte.
Desde o ajuizamento da ADI 1945 em 1999, o cenário fático e jurídico
mudou bastante, de modo que o seu julgamento no ano de 2018 possivelmente
resultaria numa decisão inócua, pois inábil para efetivamente resolver o con-
flito existente nos dias de hoje.
Do ponto de vista fático, atualmente a grande maioria das operações
envolvendo software não mais pressupõe circulação, como se verificava, por
exemplo, no software de prateleira ou mesmo na aquisição do programa por
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Justiça paulista. Neste caso, em 23/08/2018 foi proferida sentença, que confir-
mou a liminar antes concedida, para julgar procedente o pedido, de modo a
garantir às associadas da impetrante o direito de não se sujeitarem às normas
do Decreto Estadual nº 63.099/17 e Convênio ICMS nº 106/2017.
A matéria ainda foi questionada nos autos do Mandado de Segurança Co-
letivo nº 1019249-28.2018.8.26.0053, igualmente impetrado perante a Justiça
paulista. Nesta demanda, o pedido liminar foi deferido apenas parcialmente, en-
tendendo o juízo que em casos de disponibilização de software com cessão defi-
nitiva a incidência do ICMS seria válida, considerando que a Lei Complementar
nº 116/2003 somente disporia sobre a disponibilização sem cessão definitiva. No
entanto, ao proferir a sentença o juízo reconheceu a ilegitimidade ativa da impe-
trante, cassando a liminar e extinguindo o feito sem resolver o mérito.
Sobre este problema do conflito de competência aqui analisado, Maurine
Feitosa considera que caberá ao Supremo Tribunal Federal “dar a última pala-
vra sobre os conflitos de competência entre o ISS e o ICMS, assim como julgar
se isoladamente as hipóteses colocadas à sua apreciação ensejam a incidência
de um ou outra espécies tributárias” (2018, p. 86).
Contudo, no atual cenário, qualquer solução que venha a ser adotada pelo
Supremo Tribunal Federal parece que será insuficiente para pacificar a questão.
Conforme exposto anteriormente, há pelo menos cinco processos distin-
tos no Tribunal que perpassam por esta discussão (as Ações Diretas de Incons-
titucionalidade 1945, 5.958, 5.576 e 5.659, e o Recurso Extraordinário 688.223).
A Ação Direta 5.659 consta no sistema do Tribunal como vinculada à
Relatoria do Ministro Dias Toffoli e desde o dia 11/09/2018 já estava liberada
para inclusão em pauta para julgamento. Contudo, diante da posse do Minis-
tro Relator como Presidente do Tribunal em 13/09/2018, será necessária a sua
redistribuição para outro Relator.
Já a ADI 5.958 era da Relatoria do Ministro Dias Toffoli, pois foi dis-
tribuída por prevenção à ADI 5.659. Em 13/09/2018 foi redistribuída para a
Ministra Carmen Lúcia.
A ADI 1945 também está sob a Relatoria da Ministra Carmen Lúcia, e,
conforme mencionado anteriormente, chegou a ser incluída em pauta no mês
de agosto de 2018, mas em seguida foi excluída do calendário de julgamento
pelo então Presidente do Tribunal.
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Considerações Finais
Conforme assinala Eurico De Santi (2012, p. 42), no lugar de disputar-
mos por conceitos metafísicos, universais ou abstratos, o debate haveria de ser
pautado pela convergência dos interesses sobre os diretivos do País.
Diante da guerra fiscal verificada entre Estados e Municípios e da dificul-
dade de o Judiciário resolver as questões tributárias a contento, o contribuinte
fica no meio de um fogo cruzado fiscal.
A Lei Complementar nº 116/2003 supostamente deveria apaziguar a situação,
no entanto, não tem sido de muito utilidade com relação às novas tecnologias.
A mudança introduzida pela Lei Complementar nº 157/201679 não apenas per-
deu a oportunidade de tratar sobre o assunto, como parece ter colocado mais lenha
na fogueira, uma vez que ainda buscou ampliar o campo de incidência do ISS.
79 Ressalta-se que a LC 157/2016 ainda trouxe significativas complicações ao deslocar para o Município
do local do tomador do serviço ou do usuário do serviço a competência para exigir o ISS com relação
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aos serviços de administração de cartão de crédito e de planos de saúde, que não serão abordadas
aqui por não estarem relacionadas à questão das novas tecnologias. Tais dispositivos tiveram a sua
eficácia suspensa por decisão proferida no âmbito da ADI 5835.
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Referências
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MIGUEL, Luciano Garcia; OZAI, Ivan Ozawa. “ICMS e a tributação das mer-
cadorias digitais”. In Revista de Direito Tributário Contemporâneo. Vol. 1, jul-
-ago/2016, pp. 237-262.
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Um estudo da doutrina brasileira
a respeito da incidência do ICMS
sobre operações com software
Introdução
A Constituição Federal do Brasil não somente descreveu as possíveis ba-
ses de incidência dos impostos, sendo o consumo uma delas, mas as repartiu
entre os diversos entes da Federação, sob o pressuposto de que, assim o fazen-
do, iria conferir maior autonomia a cada um deles.
A verdade, entretanto, é que essa descrição e repartição foi muito infeliz, pois
decompôs a incidência sobre o consumo em três impostos distintos (sem falar das
contribuições) e repartiu-os entre entes diversos (IPI de competência da União
Federal, ICMS dos Estados e ISS dos Municípios), dando azo a inúmeros conflitos
de competência e inconsistências sistêmicas, como chama a atenção Gustavo da
Gama Vital de Oliveira81. E esses problemas têm se acirrado cada vez mais com
a evolução tecnológica. Nas palavras de Ives Gandra da Silva Martins: “a solução
de uma tríplice incidência sobre a produção (IPI), comercialização (circulação) de
mercadorias (ICM) e prestação de serviços (ISS), partilhada entre União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, foi consequência imposta mais pela realidade polí-
tica do que pelas melhores técnicas de arrecadação.”82
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83 SOUZA, Rubens Gomes. O imposto sobre vendas e consignações – o imposto sobre circulação
de mercadorias e a conferência de bens móveis ao capital de sociedade. Revista de Direito
Administrativo nº 90, p. 428.
84 MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1946. vol. I, Rio de Janeiro: Livraria Boffoni,
1947, p. 452.
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85 FALCÃO, Amilcar de Araújo. O conceito de consignação como fato gerador do imposto de vendas
e consignações. Revista de Direito Administrativo nº 62, p. 22.
86 FALCÃO, Amilcar de Araújo. O conceito de consignação como fato gerador do imposto de vendas e
consignações. Revista de Direito Administrativo nº 62, p. 23. No mesmo sentido, confira-se: COSTA,
Alcides Jorge. O imposto de vendas e consignações – fato gerador – transferência de mercadorias
para outro Estado. Revista de Direito Administrativo nº 74, p. 362.
87 BORGES, José Souto Maior. O fato gerador do ICM e os estabelecimentos autônomos. Revista de
Direito Administrativo nº 103, p. 34.
88 SOUZA, Rubens Gomes. O imposto sobre vendas e consignações – o imposto sobre circulação
de mercadorias e a conferência de bens móveis ao capital de sociedade. Revista de Direito
Administrativo nº 90, p. 429.
89 BALEEIRO, Aliomar. ICMS sobre a importação de bens de capital para uso do importador. Revista
Forense nº 250, p. 139.
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90 BARRETO, Aires F. ICMS e ISS – Estremação da incidência. Revista Dialética de Direito Tributário
nº 71, p. 9.
91 ATALIBA, Geraldo. ICMS – competência impositiva na Constituição de 1988. Revista de Direito
Administrativo nº 195, p. 25-30.
92 CARVALHO, Paulo de Barros. Regra matriz do ICMS. 1981, p. 206.
93 Diz continuaria porque, à época do IVC, não havia dúvida quanto a essa não incidência. Nesse
sentido, confira-se: RÁO, Vicente. Imposto sobre venda e consignações – discriminação de rendas
– normas gerais do direito financeiro. Revista de Direito Administrativo nº 70, p. 454.
94 MELO, José Eduardo Soares de. ICMS: Teoria e prática. 10ª ed. São Paulo: Dialética, 2008, p. 27-30.
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99 SOUZA, Rubens Gomes. O imposto sobre vendas e consignações – o imposto sobre circulação
de mercadorias e a conferência de bens móveis ao capital de sociedade. Revista de Direito
Administrativo nº 90, p. 433.
100 BORGES, José Souto Maior. O fato gerador do ICM e os estabelecimentos autônomos. Revista de
Direito Administrativo nº 103, p. 42.
101 MACHADO, Hugo de Brito. Aspectos fundamentais do ICMS. São Paulo: Dialética, 1997, p. 26-27.
Aliás, o mesmo autor sinaliza que esse entendimento tem levado à glosa, na sua visão indevida, de
crédito de ICMS do estabelecimento remetente. (MACHADO, Hugo de Brito. O estabelecimento
como contribuinte autônomo e a não-cumulatividade do ICMS. Revista Dialética de Direito
Tributário nº 82, p. 26.
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102 MACHADO, Hugo de Brito. Não incidência, imunidades e isenções no ICMS. Revista Dialética de
Direito Tributário nº 18, p. 31-33. É interessante notar que, à época do artigo, o STJ tinha posicionamento
pela incidência de ICMS sobre salvados de sinistro, mas esse entendimento foi alterado.
103 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. vol. IV – Os
tributos na Constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, p. 244.
104 RIBEIRO, Ricardo Lodi. A base de cálculo do ICMS em operações interestaduais entre
estabelecimentos do mesmo titular. Revista Dialética de Direito Tributário nº 227, p. 102-121.
105 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Transferência de cana própria de área de produção para a usina
– hipótese sem incidência do ICM à luz de jurisprudência dos tributos superiores – outros aspectos
correlatos. Revista Dialética de Direito Tributário nº 35, p. 91-92.
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106 GREGO, Marco Aurélio. ICMS – transferências de mercadorias entre estabelecimentos da mesma
empresa. In PRETO, Raquel Elita Alves (Coord.). Tributação brasileira em evolução: estudos em
homenagem ao professor Alcides Jorge da Costa. São Paulo: IASP, 2015, p. 791-804.
107 MARTINS, Ives Gandra da Silva; Souza, Fátima Fernandes Rodrigues. ICMS. Transferência
de mercadorias entre estabelecimentos da mesma empresa situados em diferentes unidades
da Federação. Fato gerador do imposto. Autonomia dos estabelecimentos. Base de cálculo. Lei
Complementar nº 87/1996, art. 13, parágrafo 4º, I. Conceito de valor de entrada mais recente.
Necessidade de serem agregados. Aspectos peculiares da operação interestadual. Prestação de
serviços de transporte interestadual. Imposto pago pelo estabelecimento remetente. Transferência
do ICMS incidente para aproveitamento no Estado de destino. Revista Dialética de Direito
Tributário nº 219, p. 133.
108 CARRAZZA, Roque Antonio. ICMS. 9ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 55.
109 MELO, José Eduardo Soares de. ICMS: Teoria e prática. 10ª ed. São Paulo: Dialética, 2008, p. 31-34. A
mesma falta de habitualidade afastaria a tributação sobre a venda pontual de cadastro de assinantes.
(CAMARGO, José Roberto. Comercialização de cadastro de assinantes – incidência de tributos –
inexistência de hipótese de incidência in abstracto e in concreto do ICMS e ISS. Revista Dialética
de Direito Tributário nº 65, p. 68-72. Também a venda de veículos usados por locadoras estaria
fora do campo de incidência do ICMS (MOREIRA, André Mendes. O Convênio ICMS nº 64/06 e
a ilegitimidade da exigência do imposto estadual na alienação de veículos usados por locadoras de
automóveis. Revista Dialética de Direito Tributário nº 147, p. 22-29), bem como a alienação dos bens
da massa falida (MACHADO, Shubert de Farias. A não-incidência do ICMS nos leilões dos bens da
massa falida. Revista Dialética de Direito Tributário nº 122, p. 82-89).
110 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Venda de refeições a empresas que as fornecem a seus empregados
no bojo do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) – inexistência de operação de saída de
mercadoria – desnecessidade de recolhimento do ICMS-ST. Revista Dialética de Direito Tributário
nº 129, p. 127.
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111 LEITE, Antonio de Oliveira. Imposto de vendas e consignações. Revista de Direito Administrativo
nº 41, p. 34.
112 NASCIMENTO, Paulo Nelson Lemos Basto. ICMS – Importação de bens para uso próprio e a
Emenda Constitucional nº 33/2001. Revista Dialética de Direito Tributário nº 86, p. 103-110.
CASTRO, Danilo Monteiro de. O ICMS e o IPI na importação por não-contribuintes, a não-
cumulatividade, a Súmula 660 do STF e suas atuais implicações à luz da própria jurisprudência
desta Corte. Revista Dialética de Direito Tributário nº 147, p. 42-53. CARDOSO, Oscar Valente. A
não incidência de IPI e ICMS na importação de bens para uso próprio. Revista Dialética de Direito
Tributário nº 194, p. 101-109.
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113 BAPTISTA, Luiz Olavo. A proteção dos programas de computador em direito comparado e
internacional. Revista de Direito Mercantil nº 50, 1983, p. 27-29.
114 REsp 39.797/SP, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/12/1993,
DJ 21/02/1994 e REsp 39.457/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 13/08/1994, DJ 05/09/1994.
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115 GOMES, Orlando et al. A proteção jurídica do software. Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 2.
116 RMS 5.934/RJ, Rel. Ministro HÉLIO MOSIMANN, Segunda Turma do STJ, julgado em 04/03/1996,
DJ 01/04/1996. No âmbito do STF, RE 176626, Relator Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira
Turma, julgado em 10/11/1998, DJ 11-12-1998.
117 BRITO, Edvaldo. Software: ICMS, ISS ou imunidade tributária? Revista Dialética de Direito
Tributário nº 5, p. 19-28.
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118 SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. Os CD-ROMS e disquetes com programas gravados
são imunes? Revista Dialética de Direito Tributário nº 34-39.
119 MOTTA FILHO, Marcello Martins. Software de prateleira e o ICMS. Revista Dialética de Direito
Tributário nº 35, p. 64-70. Também Hugo de Brito Machado defendia a extensão da imunidade
ao software e até mesmo ao suporte físico virgem (MACHADO, Hugo de Brito. Não-incidência,
imunidades e isenções no ICMS. Revista Dialética de Direito Tributário nº 18, p. 34).
120 GREGO, Marco Aurelio. Comércio exterior e novas realidades – problemas emergentes. Revista
Dialética de Direito Tributário nº 44, p. 122.
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121 GREGO, Marco Aurelio. Internet e Direito. São Paulo: Dialética, 2000, p. 53 e 86-88.
122 Idem, p. 95.
123 ABREU, Claudio de e PRADO, Marcos Vinícius Passarelli. Tributação na internet. Revista Dialética
de Direito Tributário nº 67, p. 19.
124 NEVES, Guilherme Pereira das. ICMS – Comercialização de conteúdos digitais na internet –
imunidade. Revista Dialética de Direito Tributário nº 74, p. 50-52.
125 BEIJA, Osvaldo Bispo. ICMS e comércio de ‘mercadorias’ intangíveis, via internet. Revista Dialética
de Direito Tributário nº 88, p. 66-72.
126 PONTES, Helenilson Cunha. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.).
Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 364.
127 SCAFF, Fernando Facury. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.).
Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 411-412.
128 ADI 1945 MC, Relator(a): Min. OCTAVIO GALLOTTI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR
MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 26/05/2010, DJe-047 DIVULG 11-03-2011 PUBLIC 14-03-2011
129 MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2001, p. 50-54.
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130 BERGAMINI, Adolpho. A não incidência do ISS nas operações com softwares. Revista de Estudos
Tributários nº 99, 2014, p. 17.
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131 MACHADO, Hugo de Brito. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.).
Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 94.
132 MACHADO, Hugo de Brito. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.).
Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 97.
133 ALVES, Francisco de Assis. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.).
Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 184-185.
134 LUCCA, Newton de. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Tributação
da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 142-144.
135 YAMASHITA, Douglas. Licenciamento de software no Brasil: novas tendências tributárias. Revista
Dialética de Direito Tributário nº 141, p. 62-68.
136 MELO, José Eduardo Soares de. Tributação e internet. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.).
Tributação da internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 250.
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Conclusão
Em resumo, vimos que a doutrina entende que a definição do conceito
de ICMS (mercantil) passa pelo exame dos três termos expressos na norma
constitucional: operação, circulação e mercadoria.
Não há, contudo, um consenso na doutrina a respeito desses termos.
Em primeiro lugar, há divergência quanto à necessidade de que exista efeti-
137 CARRAZA, Roque Antonio. ICMS. 17ª edição. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 198.
138 CHIESA, Clélio. Competência para tributar operações com programas de computador (softwares).
Revista Tributária e de Finanças Públicas nº 36, 2001, p. 41-53.
139 BRIGAGÃO, Gustavo e LYRA, Bruno. Aspectos tributários do comércio eletrônico internacional.
In: TORRES, Heleno Taveira (coord.). Direito tributário e ordem econômica: homenagem aos 60
anos da ABDF. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 632.
140 MACEDO, Alberto. Licenciamento de software não pode ser considerado mercadoria virtual. http://www.
conjur.com.br/2017-dez-13/alberto-macedo-stf-desvirtuar-conceito-mercadoria. Acesso em 16/07/2018.
141 AMARAL, Thiago Abiatar Lopes. O ICMS e a tributação do download de softwares no Estado de
São Paulo. São Paulo: Almedina, 2018.
142 DORNELLES, Arnaldo Diefenthaeler. O Imposto Sobre Serviços e o seu alcance sobre os softwares.
Revista de Estudos Tributários nº 1, p. 46-47.
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143 Há no STF, hoje, pendente de julgamento alguns processos paradigmáticos sobre a tributação de
software: ADI 5.958, ADI 5.576, ADI 5.659, RE 688.223.
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A Competência Territorial do Imposto
sobre Serviços de Qualquer Natureza
(ISSQN) nos Serviços de Intermediação
Eletrônica de Transporte Privado
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1. Considerações preliminares
O surgimento e aprimoramento de novas tecnologias na sociedade mo-
derna tem gerado novas realidades e causado modificações significativas nas
relações jurídicas já existentes, o que culmina na urgente necessidade de adap-
tação e alteração do Direito Positivo, em suas diversas searas.
Essa adaptação e alteração se traduzem na necessidade de regulamen-
tação legislativa dessas mudanças trazidas pelas tecnologias colocadas à dis-
posição dos indivíduos, especialmente quando os critérios de interpretação e
integração do Direito não se mostrarem suficientes para tal finalidade.
Em um cenário de crise econômica, como o que vem sendo experimen-
tado pelo Brasil, com reflexos diretos na redução da arrecadação pela União,
Estados, Municípios e Distrito Federal, torna-se indispensável que o Poder
Público atue no sentido de reunir as condições necessárias para alcançar, atra-
vés da tributação, as riquezas geradas por essas novas atividades.
Na seara tributária, em atendimento aos Princípios da Legalidade, da Tipici-
dade e da Legalidade Tributária, exige-se que todos os elementos formais e materiais
para cobrança do tributo estejam previstos em lei. Desta feita, imperiosa se faz a
atuação do legislador, no sentido de regular a tributação dessas novas tecnologias.
Tal atuação legislativa deve prezar por critérios de justa repartição do
valor arrecadado, visto que, com o advento das novas tecnologias, o prestador
do serviço muitas vezes está estabelecido em local sem qualquer vínculo com
o da efetiva realização. O preço pela inobservância de critérios justos para a
repartição é o crescente aumento de guerra fiscal entre Municípios.
Uma das novas tecnologias com grande repercussão em território nacio-
nal consiste no desenvolvimento de aplicativos de intermediação de venda de
mercadorias ou de prestação de serviços.
O presente artigo se limitará a abordar os desdobramentos trazidos pelo
desenvolvimento de aplicativos de intermediação eletrônica de transporte pri-
vado, tal como o disponibilizado pela empresa Uber.
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2. O conceito de serviço
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O fato gerador do imposto, por sua vez, será definido pela legislação de cada
Município, que deverá observar as limitações constantes na lei complementar.
Machado (2010, p. 424) esclarece que:
O fato gerador do imposto – insista-se neste ponto – é definido pela lei
municipal; mas esta definição há de respeitar os limites fixados pela lei
complementar, que, por seu turno, não pode ultrapassar os limites decor-
rentes da norma da Constituição que atribui competência aos Municípios.
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ção que não constituísse hipótese de incidência de outro tributo e que estivesse
previsto na Lei Complementar. Essa foi a forma encontrada para tributar-se as
atividades que apresentavam crescente importância econômica, muitas delas
relacionadas à evolução da tecnologia e dos meios de comunicação, atividades
essas que trazem, cada vez mais, destaque para os bens incorpóreos.
Tal mudança de entendimento foi pautada na interação entre Direito e
Economia, em substituição ao formalismo jurídico, como forma de viabilizar
o atendimento ao Princípio da Capacidade Contributiva, uma vez que, por
tal fundamento, conseguia-se justificar a tributação da riqueza produzida por
determinadas atividades, que antes não estavam sujeitas nem ao recolhimento
do Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Presta-
ção de Serviços - ICMS, nem do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Nature-
za (ISSQN). Parte da Doutrina afirma ser questionável a constitucionalidade
de atividades que tenham sido inseridas na Lista Anexa da Lei Complementar
nº 116 de 2003, sob esse fundamento.
Nesse momento, operou-se o desenvolvimento de uma nova lógica in-
terpretativa segundo a qual o Direito Tributário não estaria obrigado a inter-
pretar os conceitos constitucionais a partir de legislação ordinária de Direito
Privado, o que significou dizer que a definição constitucional de serviço não
estava vinculada a definição de Direito Privado, que preconizava que serviço
seria somente “obrigação de fazer”. Os significados e interpretações deveriam
ser resultado de uma interpretação conforme a Constituição.
O RE 651703/PR, de relatoria do Ministro Luiz Fux, e o RE 592.905/SC,
de relatoria do Ministro Eros Grau, constituem Jurisprudência relevante sobre
essa nova maneira de definir serviço.
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147 Senador Airton Sandoval, ao justificar o Projeto de Lei: ”Dois foram os aspectos principais dessa
questão: a ausência de previsão legal para o serviço de transporte remunerado individual de passageiro,
que se contrastava com o serviço público de táxi, e a indefinição em torno da natureza jurídica do
serviço de intermediação desse contrato de transporte realizado por meio de plataformas digitais”.
110
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148 BRASIL. Emenda Constitucional nº. 87, de 16 de abril de 2015. Altera o § 2º do art. 155 da Constituição
Federal e inclui o art. 99 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para tratar da
sistemática de cobrança do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação incidente
sobre as operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final, contribuinte ou
não do imposto, localizado em outro Estado. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc87.htm>. Acesso em: 12 set. 2018.
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149 Transcreve-se a cristalina lição de Nabais (2007, p. 5): “O que significa que a Administração Tributária
deixou de ser a aplicadora das normas de imposição ou de tributação, com base em elementos de
que antecipadamente dispunha, que proporcionavam uma fiscalização tributária ex ante, para passar
a ser a fiscalizadora da aplicação dessas normas por parte das empresas. Com efeito, enquanto no
sistema que podemos considerar clássico de lançamento, liquidação e cobrança dos impostos, que
entre nós vigorou no essencial até à reforma fiscal dos anos oitenta do século passado, tínhamos um
sistema de administração pública dos impostos, presentemente temos fundamentalmente um sistema
de administração privada dos impostos. Por isso, compreende-se que a parte de leão da administração
tributária se traduza, hoje em dia, numa actividade de mera fiscalização ou inspecção. O que coloca
não poucos problemas, quer os ligados aos reforços dos poderes da Administração que, deste modo,
passou a ter sobre os seus ombros a enorme responsabilidade da quase totalidade da luta contra a
fraude e evasão fiscal, quer os relativos à necessidade acrescida de salvaguarda dos direitos, liberdades
e garantias fundamentais dos contribuintes e demais sujeitos passivos fiscais que passaram a ser
destinatários de uma multiplicidade de novos e cada vez mais onerosos deveres fiscais”.
150 “Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§ 1º A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento
de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.
§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas
ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos.
§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação
principal relativamente à penalidade pecuniária.
[...]
Art. 115. Fato gerador da obrigação tributária acessória é qualquer situação que, na forma da
legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal”.
112
Tributação da Economia Digital
151 CARRAZZA, Roque Antonio. Imposto sobre a Renda: perfil constitucional e temas específicos. 3. ed.
São Paulo: Malheiros, 2009. p. 175. Prosseguindo o raciocínio, o autor destaca que “cumprir a obrigação
acessória não é o mesmo que pagar o tributo; mas é o cumprimento daquela que torna possível o correto
pagamento deste. [...] Em rigor, a obediência aos deveres instrumentais tributários é mais importante,
para a Administração Fazendária, que o próprio recolhimento do tributo, porque são eles que controlam
e viabilizam o bom funcionamento do sistema arrecadatório” (CARRAZZA, 2009, p. 175-176).
113
Tributação da Economia Digital
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157 BREYNER, Frederico Menezes; DERZI, Misabel Abreu Machado, op. cit., nota 11, p. 954-955.
158 CARRAZZA, Roque Antonio, op. cit., nota 7, p. 176.
159 Ibid., p. 177-179.
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Tributação da Economia Digital
160 BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei Complementar n. 493/2017. Altera a Lei Complementar
nº 116, de 31 de julho de 2003, para estabelecer o local do embarque do tomador dos serviços de
intermediação eletrônica de transporte privado individual previamente contratado por intermédio
de provedor de aplicações da internet para fins de incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza. Disponível em:
<https://legis.senado.leg.br/sdleggetter/documento?dm=7328148&ts=1533653304508&dispositio
n=inline&ts=1533653304508 >. Acesso em: 12 set. 2018. A justificativa à alteração sustenta que “o
transporte de passageiros realizado através de plataformas digitais compreende um conjunto de
obrigações, direitos e deveres, que, ultimamente, materializam-se na prestação de serviços que
vão muito além do mero transporte: há, também, o serviço de intermediação eletrônica através do
aplicativo. Ou seja: contratar o transporte por meio de um aplicativo compreende, também, a execução
de atividades de agenciamento, organização e planejamento de rotas e de pagamento. É parte de um
‘todo’, que viabiliza o transporte em si. Não é demais lembrar que os aplicativos são, por exemplo, os
definidores unilaterais dos preços do serviço de transporte, tal a sua ingerência no modelo do negócio.
Nesse sentido, temos a percepção de que, se o Município é o local onde se exercem as atividades, por
que não se estabelecer uma definição, nesse sentido, para fins de incidência da tributação respectiva?
Ora, hoje, o ISS é recolhido somente no local do estabelecimento das empresas de tecnologia, ou seja,
nas grandes cidades onde estejam sediadas” (BRASIL. Senado Federal, 2017, p. 3).
161 UBER. Descubra quais cidades do Brasil têm Uber. 28 jun. 2018. Disponível em: <https://www.uber.
com/pt-BR/blog/em-quais-cidades-a-uber-esta-no-brasil/>. Acesso em: 12 set. 2018.
117
Tributação da Economia Digital
162 BREYNER, Frederico Menezes; DERZI, Misabel Abreu Machado, op. cit., nota 11, p. 966-969.
No estudo referenciado, os autores tratam especificamente das situações introduzidas pela Lei
Complementar n. 157/2016, a qual definiu que serviços vinculados a área de planos de saúde seriam
tributados no Município de domicílio dos tomadores.
163 Ibid., p. 967.
164 Ibid., p. 968.
165 A alínea b do inciso III do artigo 146 da CRFB/88 traz tão somente o vocábulo “obrigações”, motivo
pelo qual os autores prelecionam que se adotou o termo enquanto gênero, que se desdobra em
obrigação principal e obrigação acessória. Sob essa ótica, caberia à Lei Complementar estabelecer,
também, “normas gerais” em matéria de obrigações acessórias do Imposto sobre Serviços de
Qualquer Natureza (ISSQN), diminuindo as distorções e assimetrias entre as legislações tributárias
dos diversos Municípios.
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Tributação da Economia Digital
166 BREYNER, Frederico Menezes; DERZI, Misabel Abreu Machado. op. cit., nota 11, p. 969.
167 BRASIL. Senado Federal. Parecer nº. 111, de 2018. De Plenário, sobre o Projeto de Lei do Senado nº
493, de 2017 - Complementar, do Senador Airton Sandoval, que altera a Lei Complementar nº 116, de
31 de julho de 2003, para estabelecer o local do embarque do tomador dos serviços de intermediação
eletrônica de transporte privado individual previamente contratado por intermédio de provedor
de aplicações da internet para fins de incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza.
Brasília, 29 maio 2018. p. 3. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm
=7821216&ts=1533653305586&disposition=inline&ts=1533653305586>. Acesso em: 25 set. 2018.
119
Tributação da Economia Digital
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Tributação da Economia Digital
5. Conclusão
As repercussões das inovações tecnológicas e informacionais sobre os
institutos tradicionais do Direito constituem fenômenos intransponíveis da
sociedade contemporânea, demandando que sejam revisitados conceitos clás-
sicos do sistema jurídico-positivo pátrio – tais como o de serviços, que integra
a materialidade do imposto previsto no artigo 156, inciso III, da Constituição
Federal de 1988. Não obstante as normas jurídicas não consigam acompanhar
pari passu as transformações inerentes à realidade empírica, o Direito não
pode se manter infenso e inerte a elas, sob pena de perder o ritmo da história,
tornando seus instrumentos regulatórios e tributários letra morta.
Nesta vereda, esclarecedora é a cátedra de Marco Aurélio Greco (2000),
em obra seminal sobre o tema, no sentido de que o conhecimento acerca da
base lógica e teórica que conforma as transações realizadas por intermédio
da tecnologia é indispensável para a compreensão do sentido e do alcance dos
problemas jurídicos deflagrados pelos referidos avanços.
As prováveis alterações pretendidas pelo Projeto de Lei Complementar do
Senado n. 493/2017, atualmente convertido no PLC n. 521/2018 em tramitação
na Câmara dos Deputados, demonstram a permeabilidade das definições tribu-
tárias às novas diretrizes semânticas provenientes da sociedade de informação.
Além de inserir na lista anexa à Lei Complementar n. 116/2003 o serviço
de intermediação eletrônica de transporte privado, a modificação preocupa-se
com a concretização dos ideais de justiça fiscal e com a necessidade de harmo-
nia e equitativa distribuição de competências e rendas entre os Entes Munici-
pais – assim como o Distrito Federal, no exercício da competência municipal.
Para tanto, almeja alterar o critério espacial, considerando prestado o serviço
no local de embarque do tomador e criando outra exceção.
A redação original do projeto, proposto pelo Senador Airton Sandoval
(MDB/SP), contudo, falhava ao não contemplar as implicações provocadas pela
alteração na regra de competência territorial do ISSQN nos princípios da prati-
cidade e da proporcionalidade, que informam e limitam a capacidade colabora-
tiva dos sujeitos passivos no cumprimento das obrigações tributárias acessórias.
Os vícios enunciados supra foram corrigidos após o Parecer da Comis-
são de Assuntos Econômicos, que endossou a relevância da adoção de um
121
Tributação da Economia Digital
Referências bibliográficas
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Tributação da Economia Digital
______. Senado Federal. Parecer nº. 111, de 2018. De Plenário, sobre o Pro-
jeto de Lei do Senado nº 493, de 2017 - Complementar, do Senador Airton
Sandoval, que altera a Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003, para
estabelecer o local do embarque do tomador dos serviços de intermediação
eletrônica de transporte privado individual previamente contratado por in-
termédio de provedor de aplicações da internet para fins de incidência do Im-
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125
Imposto Único nas Operações de
Internet: a Consensualidade como
Paradigma e o Combate aos Conflitos
Tributários na Era Digital
Introdução
O mundo contemporâneo concebido dentro da Sociedade de Risco es-
pelha a complexidade em todos os sentidos da realidade multifacetada por
setores sociais de várias matizes, sendo que o fenômeno tributário se encontra
cada vez mais sensível a este emaranhado de relações e valores, considerando
especialmente a dificuldade na tributação das operações pela Internet.
Este breve estudo pretende explicitar a carência do sistema em lidar com
o novo paradigma de percepções imateriais trazidas pela Internet e suas re-
flexões no campo tributário, sendo certo que a litigiosidade é uma marca que
atravessa o direito tributário há longa data tanto no poder legislativo, no exe-
cutivo e no judiciário.
169 Advogado e Mestre em Direito pela UERJ (Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento).
127
Tributação da Economia Digital
128
Tributação da Economia Digital
129
Tributação da Economia Digital
172 BRIGAGÃO, Gustavo e Lyra, Bruno. Aspectos Tributários do Comércio Eletrônico Mundial. In
Direito Tributário e Ordem Econômica – Homenagem aos 60 anos da ABDF. Ed, Quartier Latin.
2010. São Paulo. P. 615 e 616.
173 Ibid, p. 629-630.
130
Tributação da Economia Digital
ou a cessão de uso do bem incorpóreo protegido, neste caso, pela lei de direitos
autorais, de modo que se percebe que não foram transferidos todos os elemen-
tos da propriedade (uso, gozo, fruição).
Neste sentido, parte da doutrina entende que não haveria circulação da
mercadoria para que repercutisse na hipótese de incidência do ICMS na comer-
cialização de bens digitais já que, por sua vez, não haveria alienação do bem em
referência mas, contudo, apenas se perceberia o instituto civil da cessão de uso.174
Nesta esteira, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o software de
prateleira seria tributável pelo ICMS, já que se encontra corporificado em um
bem e, assim, podendo-se falar em consequente circulação da mercadoria pela
existência do suporte físico como elemento material e corporificado do bem.
De outra forma, conceber-se-ia diferentemente se a comercialização fosse
realizada em um próprio ambiente virtual por meio de download. Embora, ainda,
haja vozes defendendo a impropriedade na tributação de ICMS para os softwares
de prateleiras posto que o direito autoral continua sendo a mercadoria, em apreço
comercializada, não se tratando de mera cessão de direito de uso.175
Neste contraponto da doutrina com o Supremo tribunal Federal, há de se ex-
pressar o entendimento crítico de que, mesmo admitindo a tributação pelo ICMS,
este só poderia ter como base de cálculo o valor da base física em si, e não o valor
do programa dado pelo “corpus misticus” gravado na referida base física.176
Embora a mesma controvérsia possa ser transferida para a questão do
ISS, mutatis mutandis, o Rio de janeiro editou em 11 de outubro de 2017 a Lei
Municipal nº 6.263/2017 no intuito de adequar a legislação ao alterado na LC
157/2016, em especial aos novos serviços que foram inseridos na lista anexa
ao corpo legal, abarcando os serviços de streaming (Spotify, Amazon, Prime
e Netflix) que passaram a constar na Lei Municipal 691/1984, artigo 8°, no
item 1.09, dado pela disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de
áudio, vídeo, imagem e texto por meio da internet, com respeito a imunidade
de livros, jornais e periódicos.
131
Tributação da Economia Digital
177 Súmula 31: “é inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISS
sobre operações de locação de bens móveis”) e inviabilizaria a incidência do imposto”.
178 CHIESA, Clelio. A Tributação da comercialização de programas de computador> incidência do
ICMS, ISS ou Fato atípico? Disponível em https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/29010. Acesso
em 17 de setembro de 2018.
132
Tributação da Economia Digital
179 CABRAL, Ana Clara Madeiro Campos e VIEIRA, Andrey Bruno Cavalcante A
INCONSTITUCIONALIDADE DA TRIBUTAÇÃO DAS PLATAFORMAS DE STREAMING À
LUZ DA LEI COMPLEMENTAR Nº 157/2016. Disponível em http://enpejud.tjal.jus.br/index.
php/exmpteste01/article/view/233. Acesso em 17 de setembro de 2018.
133
Tributação da Economia Digital
180 CATÃO, Marcos André Vinhas. Novas tendências da tributação sobre o comércio eletrônico. In
Direito Tributário Internacional Aplicado, V. IV, 2007. Ed. Quartier Latin. p. 310-311.
134
Tributação da Economia Digital
181 REsp 814.075/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/02/2008, DJe
02/04/2008). Ver também REsp 1070404/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 26/08/2008, DJe 22/09/2008.
135
Tributação da Economia Digital
3. Consensualidade x Litigiosidade
Diante do apontado, o direito tributário da atualidade com esta realida-
de deveras complexa para fazer frente aos desafios da pós modernidade, onde
se desconstrói a formalidade para se tentar buscar justiça nos atos decisórios,
pelo viés administrativo e judicial, objetivando atingir a pacificação social.
Não se deve perder de vista que os paradigmas não são verdades absolu-
tas (dogmas), estanques, mas estão em constante mutação. A discussão quan-
to a evolução ou não é irrelevante para este momento, já que se assim fosse, se
denotaria uma preferência por um determinado paradigma, o que é moldável
182 AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.627.818 - DF (2016/0250557-8). Rel. Ministro Gurgel de Faria.
DJe 06.04.2017.
183 Ver Relatório do Conselho Nacional de Justiça quanto aos dados de litigiosidade. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/08/44b7368ec6f888b383f6c3de40c32167.pdf.
Acesso em 19.09.2018.
136
Tributação da Economia Digital
184 KUHN, Thomas. Teoria das Revoluções Científicas. Editora Perspectiva. São Paulo:2003, pág. 13.
185 CARVALHO, Cristiano. O Conflito entre contribuintes e o Estado na busca do Crédito Tributário:
Uma visão pela análise econômica do Direito. In Medidas de Redução do contencioso tributário e o
CPC/2015. Contributos práticos para ressignificar o processo administrativo e judicial tributário.
São Paulo. Ed. Almedina, 2017, p. 80.
137
Tributação da Economia Digital
4. Um evento empírico
Com a finalidade de ressaltar a necessidade de um consenso para escalar
a proposta do imposto único, aborda-se uma breve sequência de atos nor-
mativos que demonstram a complexidade e falta de entendimento fazendário
para uma solução palpável com o arsenal moldado pelo paradigma normativo
atual do direito tributário, começando com os convênios 181/15 e 106/17.
O Convênio do ICMS nº 181 do CONFAZ, autorizou a cobrança do re-
ferido imposto nas operações com softwares, jogos eletrônicos, aplicativos e
congêneres, inclusive os disponibilizados por download. Após um ano, foi pu-
blicada a Lei Complementar nº 157, que em sua disposição passou a aceitar,
por exemplo, que as prefeituras cobrem o tributo sobre a disponibilização de
conteúdo de áudio e vídeo por meio da internet.
Por outro lado, no âmbito da Receita Federal, a Solução de Divergência
da Coordenação-Geral de Tributação (COSIT) nº 18 dispôs no sentido de que
incide Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) na comercialização ou dis-
tribuição de software, para aqueles casos de revenda ao consumidor final.
138
Tributação da Economia Digital
Com essa teia de normas, as empresas que operam com a produção de bens
digitais se encontram em evidente estado de insegurança jurídica, diante da pre-
tensão fazendária e arrecadatória associada a uma falta de consenso nas narrati-
vas dos entes federativos que percorrem a esteira da desarmonia e da dissonância.
Tal cacofonia pode ser percebida, de forma exemplificativa, na tributação
da publicidade on line no Estado de São Paulo que, por sua vez, fixou em 5% a
alíquota do ISS sobre esses serviços. Porém, como abarcava produtos imunes,
tal preceito normativo foi revogado.
Em virtude deste espaço aberto, os Estados começaram a entender pela
incidência de ICMS na alíquota de 25% sobre o serviço de comunicação. En-
tretanto, posteriormente, alguns Municípios voltaram a tributar pelo ISS na
alíquota de 5% os serviços prestados por agência de publicidade.
Neste cenário, as empresas que não pagaram o ICMS foram autuadas com
multa correspondente a 50% do valor da operação por não terem emitido nota
fiscal e as que não pagaram ISS receberam multa de 50% do valor do imposto, não
sendo raro que muitas empresas foram autuadas pelos dois entes sobre a mesma
atividade, o que explicita a insegurança jurídica e o clima de litigiosidade.
Mas, admitindo o ICMS como o imposto devido, resta a dúvida onde
ocorreria o fato gerador do ICMS, seria o local onde acontece o download?
Embora haja controvérsia sobre o assunto, há um peso maior no entendimen-
to de que ocorre o fato gerador no local de realização do download.
Por sua vez, o Convênio 106/2017 realizou a equiparação dos bens di-
gitais à mercadorias transferidos por download, fazendo que o ICMS incida
sobre tais operações mesmo quando acessados em nuvem o conteúdo, restan-
do excluída, ab initio, o streaming, que para alguns se trata de uma decisão
acertada e coerente diante da particularidade que lhe é extraída bem como
ocorre no software as a service.186
186 FILHO. Vicente do carmo Sapienza. Tributação de software as a service em São Paulo é equivocada.
Disponível em:https://www.conjur.com.br/2018-jul-25/sapienza-filho-tributacao-software-service-
sp-equivocada?imprimir=1. “O avanço tecnológico, que possibilitou o acesso ao conteúdo dos
programas de computador pela nuvem, não se coaduna ao conceito de que mercadoria é o bem
padronizado. Há interação entre o usuário e o software por meio da inserção de funcionalidades
ajustáveis, e haverão portanto, diferentes maneiras de utilização e acesso a determinado programa
de computador, o que não permite a equiparação das operações na nuvem ao download de software
conforme pretendido pelo Fisco Paulista.” p. 4
139
Tributação da Economia Digital
Conclusão
Considerando a nebulosidade que acolhe o assunto da hipótese de inci-
dência, uma forma de colocar um ponto final nas controvérsias em matéria
tributária na economia digital, evitando uma nova Guerra Fiscal e conflitos
de competência tributária, seria a instituição de um imposto único para as
operações da internet, tal como ocorre no simples nacional, porém em âmbito
eletrônico, tal como aponta Marco Aurélio Greco.
O ponto mais importante do imposto único é que poderia representar
um início de aproximação de uma cultura de consensualidade, acabando com
o comportamento litigioso entre os entes no que concerne aos conflitos de
competência tributária e com as inúmeras controvérsias em matéria tributária
no que toca aos elementos da obrigação tributária, ao fato gerador, etc.
De fato, e não se pode desmentir, que haveria, possivelmente, um longo
debate quanto a repartição de receitas financeiras mas que não trariam efeitos
como os conflitos tributários que se vivenciam na contemporaneidade, pas-
sando a ser uma questão que se alojaria no direito financeiro e no pacto de
índole constitucional.
Resta notório que tratar os fenômenos quanto aos desdobramentos da
internet no mundo contemporâneo trazem complicações e resistências de or-
dem prática num ambiente de constante guerra arrecadatória, tendo o impos-
to único papel de sanar tais desgastes sociais e institucionais.
Não há mais tempo a perder com disputas onde todos são prejudicados e
a insegurança jurídica implantada e perpetuada, com grandes danos aos entes
federativos, aos contribuintes e aos investidores da iniciativa privada que se
aventuram na era da Economia Digital e investem porções financeiras signifi-
cativas no desenvolvimento tecnológico e nos mercados virtuais.
140
Tributação da Economia Digital
Bibliografia
141
Tributação da Economia Digital
142
Tributação de Novas Tecnologias e o
Histórico Conflito entre os Princípios
da Origem e do Destino na Delimitação
da Competência Tributária
187 *Mestre em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), Especialista em Direito Tributário e Contabilidade Tributária pelo IBMEC,
Advogado. Av. Almirante Barroso, nº 22, 15º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ. Tel. (21) 98010-8143.
E-mail: alexandretjorge@yahoo.com.br
**Doutoranda em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ), advogada. R. Visconde de Pirajá, 495, 7º andar, Ipanema, Rio de Janeiro/
RJ. Tel. (28) 99909-6494. E-mail: vanessa_benelli@hotmail.com.
*** Doutoranda em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ), Procuradora do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ), Professora de Direito
Financeiro e Tributário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Professora da Pós-
Graduação em Direito Tributário da Universidade Federal Fluminense (UFF), Professora da Escola
da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), Professora da Pós-Graduação em Advocacia
Pública - UERJ/PGE-RJ. Rua do Carmo nº 27, sala 906, Centro, Rio de Janeiro/RJ - CEP. 20.011-900.
Tel. (21) 2332-9360. E-mail: vanessahps@gmail.com.
143
Tributação da Economia Digital
144
Tributação da Economia Digital
1. Introdução
O presente artigo tem como finalidade analisar, no contexto da econo-
mia digital, os princípios de origem e destino, utilizados na implementação
doméstica da tributação indireta. Sabe-se que a tributação pressupõe a exis-
tência de signos presuntivos de riquezas indicados pelo legislador como mate-
rialidades potencialmente geradoras da obrigação tributária. Por essa razão, a
tributação alcança, principalmente, fatos relacionados à renda, propriedade e
consumo. No cenário da economia digital, a identificação dos fatos econômi-
cos, até então típicos da economia industrial, tem representado um dos gran-
des desafios para o direito tributário.
O modelo brasileiro de tributação sobre produção e consumo de bens e
serviços é composto por tributos alocados na competência da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios. Desse modo, a primeira parte do trabalho cui-
dará da exposição das particularidades desse modelo de tributação, destacan-
do as suas principais características a fim de viabilizar a compreensão sobre a
imposição indireta no atual contexto econômico.
No panorama ora descortinado, a especialização da atividade produti-
va caracterizadora da economia industrial do século XX cede terreno a uma
nova realidade, ditada não apenas pela desintermediação dos negócios, mas
pela virtualização das transações, a culminar na quebra das cadeias produti-
vas, tornando irrelevante, para fins de classificação dos bens que circulam na
economia, a distinção entre o material e o imaterial.
A crescente desmaterialização e os novos modelos de negócios desenvol-
vidos ou aprimorados no cenário da economia digital apresentam significati-
vo impacto nos fatos geradores dos impostos sobre o consumo.
Por essa razão, será apresentada a estrutura constitucional do sistema tri-
butário brasileiro, delineada sistematicamente pelo constituinte originário no
texto de 1988. O prestígio ao pacto federativo e a autonomia dos entes políticos
resultaram na repartição da competência tributária referente aos impostos que
compõem a tributação sobre o valor agregado, instituída no bojo da reforma do
sistema tributário implementada pela Emenda Constitucional nº 18/1965.
Nesse sentido, torna-se necessário apreender os aspectos centrais dos
princípios de origem e destino, que servem de instrumento para a implemen-
tação da tributação sobre o consumo. Os referidos critérios, normalmente uti-
145
Tributação da Economia Digital
188 O “Estudo da Carga Tributária no Brasil de 2016”, elaborado pela Secretaria da Receita Federal
do Brasil, corresponde a uma série histórica, iniciada em 1995, de dados que permitem a análise
e comparação da carga tributária brasileira ao longo dos anos. No último estudo divulgado,
a arrecadação total, em 2016, representou 32,38 % do PIB. Desse montante, na análise por ente
federativo, 22,11% corresponde à participação da União; 8,23% representa a participação dos
Estados; e, 2,05% é a fatia correspondente à participação dos Municípios. Quanto à participação
dos entes federativos na arrecadação total de 2016, o Governo Federal atingiu de 68,27%; o Governo
Estadual, 25,40%; e, o Governo Municipal alcançou 6,34% do total arrecadado. Em relação à análise
por base de incidência, considerando o enfoque econômico, bens e serviços representaram 47,39%
do total da arrecadação em 2016 e 49,37% em 2015. Já a renda e a propriedade representaram 19,97%
e 4,67%, respectivamente, do montante arrecadado no ano de 2016.
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Tributação da Economia Digital
sistema tributário brasileiro esse modelo foi adotado a partir de 1965, com re-
forma tributária implementada pela Emenda Constitucional nº 18. De acordo
com Ricardo Varsano193, “o principal evento tributário da segunda metade do
século XX foi a adoção do imposto sobre o valor adicionado (IVA) por um
grande número de países”.
No Brasil, a tributação sobre o valor agregado, inspirada no modelo fran-
cês , apresenta particularidades que a destoa do arquétipo universalmente
194
193 De acordo com o autor, mais de 150 países no mundo adotam o IVA. Os Estados Unidos é a única
economia relevante que não adota um modelo geral de tributação sobre o consumo, tendo as
unidades federativas competência para cobrar o imposto sobre vendas a varejo (sale tax). VARSANO,
Ricardo. A tributação do valor adicionado, o ICMS e as reformas necessárias para conformá-los às
melhores práticas internacionais. Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, 2014, p. 2. No
mesmo sentido, Sérgio Vasques destaca a relevância desse modo de tributação, afirmando que “o
imposto sobre o valor acrescentado constitui o mais importante imposto geral sobre o consumo
da modernidade, encontrando-se espalhado pelos quatro cantos do mundo”. VASQUES, Sérgio. O
imposto sobre o valor acrescentado. Coimbra: Almedina, 2015.
194 VARSANO, Ricardo. A tributação do valor adicionado, o ICMS e as reformas necessárias para
conformá-los às melhores práticas internacionais. Banco Interamericano de Desenvolvimento –
BID, 2014, p. 2.
195 VARSANO, Ricardo. A tributação do valor adicionado, o ICMS e as reformas necessárias para conformá-
los às melhores práticas internacionais. Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, 2014.
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196 Na emenda substitutiva global à PEC nº 293-A, de 2004, é proposta uma ampla reforma do modelo
brasileiro de tributação de bens e serviços, substituindo os tributos incidentes sobre o consumo (IPI,
ISS, ICMS, PIS e COFINS) por um único imposto sobre bens e serviços (IBS), que incidirá sobre
base ampla de bens, serviços e direitos, tangíveis e intangíveis. Disponível em:< http://www.ccif.
com.br/wp-content/uploads/2018/08/PEC-e-JUSTIFICATIVA-Emenda-Mendes-Thame-1-1.pdf>.
Acesso em: 23 out. 2018.
197 MACHADO, Hugo de Brito. Tributação indireta no direito brasileiro. In: _____. Tributação
indireta no direito brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 182.
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198 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 13. ed. Atualizado por Misabel Abreu Machado
Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 1303-1306.
199 Segundo André Mendes Moreira, além de configurar uma regra de abatimento do imposto pago
nas etapas anteriores, a não cumulatividade é um verdadeiro princípio constitucional. MOREIRA,
André Mendes. A não-cumulatividade dos tributos. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2012, p. 122.
200 Ricardo Lodi Ribeiro entende, por exemplo, que apenas o IPI e o ICMS são classificados como
impostos indiretos. Afirma que o ISS é um imposto direto, pois, embora incida sobre as fases
da cadeia de serviço, a eventual repercussão jurídica existente não tem relevância jurídica, não
gera o direito de crédito, salvo na construção civil (cf. RIBEIRO, Ricardo Lodi. Tributos: teoria
geral e espécies. Niterói: Impetus, 2013, p. 122; 242; 316). Para Vacir Gassen, IPI, ICMS e ISS são
impostos indiretos, pois o ônus é transferido para o contribuinte de fato. Considera ainda, o IOF,
PIS e COFINS como tributos que repercutem ao consumidor final o ônus tributário suportado,
podendo, por isso, serem considerados como tributos incidentes sobre o consumo (cf. GASSEN,
150
Tributação da Economia Digital
Valcir; D’ARAÚJO, Pedro Júlio Sales; PAULINO, Sandra Regina da F. Tributação sobre o consumo:
o esforço em onerar mais quem ganha menos. Seqüência, n. 66, jul. 2013, p. 218).
201 Disponível em: https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/boletim-do-icms/@@consulta_arrecadacao
202 REZENDE, Fernando. A Reforma tributária e a federação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009, p. 33.
203 Vale notar que a desmaterialização impacta, além dos impostos sobre o consumo (ISS e ICMS),
a incidência, sobre serviços, do Imposto de Renda na Fonte (IRRF), da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição
de Intervenção de Domínio Econômico destinada a financiar o Programa de Estímulo à Integração
Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação (CIDE-Tecnologia). In: MACEDO, Alberto, p. 68-69.
204 GASSEN, Valcir. Tributação na origem e destino: tributos sobre o consumo e processos de integração
econômica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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205 Fausto de Freitas e Castro noticia que “o resultado [da Lei nº 187/36] foi legalizar a politributação.
Ninguém queria entender como sucessivos os critérios estabelecidos; cada Estado invocava um
pretexto para cobrar, procurado no mesmo dispositivo. Alegava um, ter sido, no estabelecimento
situado em seu território, obtido inicialmente o produto; outro invocava em seu favor a “preparação
definitiva”; outro, a “expedição originária”; outro, o local onde a venda realmente se realizara.
4 – Também o rótulo de “imposto de vendas e consignações” era aplicado a tudo quanto se queria
tributar, embora inconstitucionalmente. As leis estaduais se satisfaziam em “considerar venda”
este ou aquele ato que de venda nada tinha: - pintura e consertos de casas, locação de filmes
cinematográficos, etc., etc.
As relações entre estabelecimentos do mesmo comerciante, se consideravam “venda ou consignação”
quando situados em Estados diversos, e assim se tributava a exportação interestadual (cf. CASTRO,
Fausto de Freitas e. Vendas mercantis (transferência de mercadorias): notas ao decreto-lei nº 915
de 1 de dezembro de 1938. Rio de Janeiro: Biblioteca da Associação Comercial do Rio de Janeiro,
153
Tributação da Economia Digital
1939, p. 13-14). Em idêntico sentido, ainda, vide: COSTA, Alcides Jorge da. Impôsto de vendas e
consignações. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 59, abr. 1960, p. 27.
206 Art. 1º O imposto sobre vendas e consignações a que se refere a letra d do nº 1 do artigo 23 da
Constituição é devido no local de origem da operação, e para efeito da tributação consideram-se
vendas ou consignações as transferências de mercadorias a esses fins destinadas.
§ 1º As mercadorias que não forem de produção do Estado, quando transferidas para outro, afim de
formar stocks em agências ou filiais, não serão tributadas pelo Estado de procedência.
207 CASTRO, Fausto de Freitas e. Vendas mercantis (transferência de mercadorias): notas ao decreto-
lei nº 915 de 1 de dezembro de 1938. Rio de Janeiro: Biblioteca da Associação Comercial do Rio de
Janeiro, 1939, p. 14-15; COSTA, Alcides Jorge da. Impôsto de vendas e consignações. Revista de
Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 59, abr. 1960, p. 27-28.
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Tributação da Economia Digital
208 Art. 1º. Fica isenta do imposto de vendas e consignações a primeira venda feita a comerciante,
exclusivamente atacadista, de mercadorias transferidas para o lugar em que a mesma se efetue, desde
que haja prova do pagamento do imposto devido pela transferência ou de sua isenção legal, no lugar de
procedência, conforme preceitua o art. 1º do Decreto-lei n. 140, de 29 de dezembro de 1937.
Art. 2º. Considera-se “transferência”, para os efeitos deste decreto-lei, a remessa de mercadoria a
filiais ou depósitos dos próprios remetentes ou vice-versa.
209 Art. 1º O imposto sobre vendas e consignações a que se refere a letra d, do n. 1, do art. 23 da
Constituição Federal [de 1937], é devido no lugar em que se efetuar a operação.
Parágrafo único. Para os efeitos fiscais considera-se lugar em que se efetua a operação (venda
ou consignação) o em que tem sede o estabelecimento do vendedor ou consignante, seja matriz,
filial, sucursal, agência ou representante, com depósito a seu cargo das mercadorias vendidas ou
consignadas, salvo quando se tratar de venda efetuada diretamente pelo próprio fabricante ou
produtor, caso em que o lugar da operação será aquele onde foi fabricada ou produzida a mercadoria.
210 Art. 2º Não estão sujeitas ao imposto as operações entre os vários estabelecimentos da mesma
pessoa, bem como as realizadas entre esta e seus agentes ou representantes, observando-se, nos
casos de consignação, os arts. 8º e 9º da Lei n. 187, de 15 de janeiro de 1936.
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Tributação da Economia Digital
211 CASTRO, Fausto de Freitas e. Vendas mercantis (transferência de mercadorias): notas ao decreto-
lei nº 915 de 1 de dezembro de 1938. Rio de Janeiro: Biblioteca da Associação Comercial do Rio de
Janeiro, 1939, p. 30-31.
212 Art. 2º [omissis]§ 1º Quando as mercadorias destinadas a venda ou consignação forem produzidas
em um Estado e transferidas para outro pelo fabricante ou produtor, afim de formar estoque em
filial, sucursal, depósito, agência ou representante, o imposto será pago adiantadamente, por
ocasião da saída, ao Estado em cujo território foram produzidas.
213 Enquanto os Decretos-leis nº 140/37 e nº 348/38 dispunham que o IVC era pago no ato da transferência
da mercadoria, desde que a esta fosse produzida no Estado de onde era transferida, sendo irrelevante
a pessoa que promovia esse deslocamento, o art. 2º, §1º do DL nº 915/38 estabelecia que essa exigência
antecipada do IVC só se daria quando a transferência fosse feita pelo produtor ou fabricante.
214 Art. 2º [omissis]
§ 2º Ao serem vendidas ou consignadas essas mercadorias no Estado para que foram transferidas,
não será devido novo imposto por essa primeira operação feita pela mesma pessoa, natural ou
jurídica, que as transferiu, se o preço da venda ou o constante da consignação for o mesmo que lhes
houver sido atribuído no ato da transferência, conforme o disposto no parágrafo anterior. Se for
maior o preço da venda ou consignação a diferença de imposto relativa ao excesso será devida ao
Estado em que foram produzidas tais mercadorias.
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Tributação da Economia Digital
215 Art. 1º O impôsto sôbre vendas e consignações, a que se refere o artigo 19 nº IV da Constituição
Federal [de 1946], é devido no lugar em que se efetuar a operação.
§ 1º Considera-se lugar da operação aquêle onde se encontrar a mercadoria na ocasião da venda
ou consignação. Quando o objeto do contrato fôr produto agrícola, pecuário ou extrativo, sôbre a
operação de venda ou consignação para fora do Estado incidirá a tributação do Estado em que foi
produzida a coisa vendida ou consignada.
157
Tributação da Economia Digital
de serviço de construção civil (em que o imposto seria devido no local da pres-
tação), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou jurisprudência em sentido
diametralmente oposto ao que dispunha o Decreto-lei nº 406/68, assentando
que o local da prestação do serviço seria o critério a prevalecer em todos os
casos, transformando a exceção em regra.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ISS. COMPETÊNCIA. LOCAL DA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. PRECEDENTES.
I - Para fins de incidência do ISS - Imposto Sobre Serviços -, importa
o local onde foi concretizado o fato gerador, como critério de fixação
de competência do Município arrecadador e exigibilidade do crédito
tributário, ainda que se releve o teor do art. 12, alínea “a” do Decreto-
-Lei n.º 406/68.
II - Embargos rejeitados.216
216 STJ, EREsp 130.792/CE, Rel. Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi,
Primeira Seção, julgado em 07/04/2000, DJ 12/06/2000.
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Tributação da Economia Digital
217 Comércio eletrônico pode ser entendido como um modelo de transações pela rede de computadores,
considerado indireto quando envolve comercialização de bens tangíveis, com a entrega física da
mercadoria, e direto quando envolve bens intangíveis, comercializados e entregues por meio eletrônico.
218 STF, ADI 4.628/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2014, DJe 21/11/2014.
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Tributação da Economia Digital
219 De acordo com o artigo 99 do ADCT, a proporção da partilha do imposto entre os Estados de origem
e destino seria, para o ano de 2015: 20% (vinte por cento) para o Estado de destino e 80% (oitenta
por cento) para o Estado de origem; para o ano de 2016: 40% (quarenta por cento) para o Estado de
destino e 60% (sessenta por cento) para o Estado de origem; para o ano de 2017: 60% (sessenta por
cento) para o Estado de destino e 40% (quarenta por cento) para o Estado de origem; para o ano
de 2018: 80% (oitenta por cento) para o Estado de destino e 20% (vinte por cento) para o Estado de
origem; a partir do ano de 2019: 100% (cem por cento) para o Estado de destino. O Convênio ICMS
93/2015 estabelece os procedimentos a serem observados nas operações e prestações eu destinem bens
e serviços a consumidor final não contribuinte do imposto, localizado em outra unidade federada.
220 Na tentativa de defender a validade do Protocolo ICMS nº 21/2011, o Estado do Pará destacou
a evolução do comércio eletrônico, que havia movimentado em 2013 cerca de R$ 28 bilhões no
Brasil. Desse modo, as modificações introduzidas buscaram evitar a concentração da receita
nos Estados produtores. Disponível em:< http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.
asp?idConteudo=275382>. Acesso em: 23 out. 2018.
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Tributação da Economia Digital
221 Percebe-se que os Convênios dispuseram sobre matérias reservadas à lei complementar, ferindo
dispositivos da Constituição de 1988: artigo 146, I, III, a; artigo 155, § 2º, VII.
222 Nos autos da ADI 5.835/DF, o Ministro Alexandre de Moraes concedeu liminar para suspender
dispositivos da LC 116/2003 alterados pela LC 157/2016. Na ação, questiona-se os dispositivos que
determinam que o ISS será devido no município do tomador do serviço no caso dos planos de
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Tributação da Economia Digital
225 Nas diretrizes do cenário de reforma da tributação indireta, apresentadas pelo Programa “Fórum
Fiscal dos Estados Brasileiros & Fundação Getúlio Vargas”, afirma-se que “a adoção do princípio do
destino na tributação subnacional sobre bens e serviços é uma necessidade que já há algum tempo
tem contado com amplo reconhecimento, tendo sido analisada com razoável grau de detalhamento
em trabalhos anteriores do Fórum Nacional Fiscal dos Estados Brasileiros”. BARATTO, Gedalva;
LOBATO, José Roberto Soares. Cenário de Reforma Tributária com Tributação Dual sobre o
Consumo. REZENDE, Fernando (Coord.). Cadernos Fórum Fiscal, n. 5, 2007, p. 20. Na mesma
linha: VARSANO, Ricardo. A tributação do valor adicionado, o ICMS e as reformas necessárias
para conformá-los às melhores práticas internacionais. Banco Interamericano de Desenvolvimento
– BID, 2014. CARVALHO et. al. Uma reforma dual e modular da tributação sobre o consumo no
Brasil. Reforma Tributária IPEA-OAB/DF. Rio de Janeiro: 2018.
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226 REZENDE, Fernando. A Reforma tributária e a federação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009, p. 147.
227 CARVALHO et. al. Uma reforma dual e modular da tributação sobre o consumo no Brasil. Reforma
Tributária IPEA-OAB/DF. Rio de Janeiro: 2018, p. 101.
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Tributação da Economia Digital
cadação que chegam a quase R$ 1,4 bilhão, como no caso de São Paulo,
em valor absoluto, ou 13,4%, para o Espírito Santo, em termos relati-
vos. Já os ganhadores são os Estados consumidores, em geral, os menos
desenvolvidos da federação, mas que também inclui alguns dos mais
desenvolvidos e com relativamente pouca produção de mercadorias.
Em termos absolutos, os maiores ganhos estão no Rio de Janeiro, quase
R$ 1 bilhão, e Distrito Federal, R$ 576 milhões. Em termos relativos, os
mais favorecidos são Piauí, com um acréscimo de 37% na sua arrecada-
ção, e Alagoas com um incremento de 33%.
Dado o impacto significativo nas finanças dos Estados prejudicados pelo
princípio do destino, é recomendável que a transição de um regime para
outro seja feita num intervalo de tempo razoável e com o apoio do gover-
no federal, de forma a minimizar os custos de bem-estar que serão im-
postos à população. Políticas de aumento da eficiência na Administração
Tributária são importantes tanto para ganhadores quanto para perdedo-
res. Os primeiros para que a receita potencial com a nova sistemática se
torne real, e os últimos como tentativa de recuperar parte das perdas.228
228 PAES, Nelson Leitão. A implantação do princípio do destino na cobrança do ICMS e suas
implicações dinâmicas sobre os Estados. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 63, n. 3,
2009, p. 246-247.
229 FONSECA, Ricardo Coelho da; BORGES, Djalma Freire. Tributação interestadual do ICMS e adoção
do princípio do destino. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1, jan. 2005, p. 21.
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Tributação da Economia Digital
Considerações finais
A estrutura do sistema tributário nacional, centrada na força arrecada-
tória dos tributos incidentes sobre o consumo, destaca a importância dos es-
tudos relacionados à tributação indireta, que tem como característica a reper-
cussão jurídica ou econômica do ônus tributário para o contribuinte de fato,
uma vez que o ônus fiscal é repassado pelo contribuinte de direito no valor da
mercadoria ou do serviço ao consumidor final.
Os princípios da tributação na origem e da tributação no destino repre-
sentam, no plano interno, critérios para definição da competência tributária
das imposições que recaem sobre o consumo. A análise histórica realizada no
presente estudo demonstrou que, desde a Constituição de 1934, com a alo-
cação do imposto sobre venda e consignação (IVC) na competência das uni-
dades federadas, os conflitos entre unidades produtoras e consumidoras são
observados como fator decorrente do interesse arrecadatório, interferindo na
eleição dos referidos princípios.
No contexto brasileiro, ao adotar um sistema misto, observa-se que, em
regra, as unidades produtoras detêm a competência para arrecadação e, ex-
cepcionalmente, são previstas hipóteses nas quais a competência é deslocada
para os entes consumidores.
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Tributação da Economia Digital
230 BARROS, Maurício. O papel dos convênios no sistema tributário brasileiro e os Convênios 181/2015 e
106/2017: invalidade do ICMS nas operações com os chamados “bens digitais”. PISCITELLI, Tathiane
(Coord.). In: Tributação de bens digitais: a disputa tributária entre estados e municípios Notas sobre o
Convênio ICMS 106/ 2017 e outras normas relevantes (versão digital). São Paulo: InHouse, 2018.
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Referências bibliográficas
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 13. ed. Atualizado por Mi-
sabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
CARVALHO et. al. Uma reforma dual e modular da tributação sobre o consu-
mo no Brasil. Reforma Tributária IPEA-OAB/DF. Rio de Janeiro: 2018.
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RIBEIRO, Ricardo Lodi. Tributos: teoria geral e espécies. Niterói: Impetus, 2013.
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Os Relatórios do Projeto BEPS Ação 1, as
propostas da União Europeia e as Atualizações
Referentes a Tributação da Economia Digital
1. Introdução
A digitalização não só transformou radicalmente aspectos do cotidiano,
mas também a organização e as funções da economia e da própria socieda-
de. É inegável que tal impacto afetou as normas tributárias internacionais.
Mais especificamente, a digitalização mudou os métodos de comunicação e
a interação entre as pessoas e a sociedade trazendo dispositivos e máquinas
que transformaram relacionamentos e mercados consequentemente mexendo
com empregos, privacidade e segurança, educação, saúde e política. Além de
trazer mudanças, a digitalização desempenha um papel central na promoção
da inovação. Diversas tecnologias emergentes, incluindo a Internet das Coi-
sas, criptografia, impressão 3D, robótica avançada e dados governamentais
abertos foram introduzidas em nossas vidas.
Nesse contexto, a Ação 1 do Projeto BEPS teve como foco a tributação da
economia digital (ou digitalização da economia, nomenclatura escolhida por
alguns doutrinadores233 eis que, para eles, as indústrias tradicionais também
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Tributação da Economia Digital
234 Resumo elaborado com base no OECD Interim Report to discuss Tax Challenges Arising from
Digitalisation disponível em: http://www.oecd.org/ctp/tax-challenges-arising-from-digitalisation-
interim-report-9789264293083-en.htm consulta em 2 de abril de 2018
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veis e uma rede social como exemplos de redes de valor; e (iii) uma empresa de
computação em nuvem como exemplo de uma loja de valor.
Evolução da política fiscal relevante (capítulo 4)
O Capítulo 4 descreve as medidas unilaterais relevantes para a digitaliza-
ção que foram introduzidas pelos países e as agrupa em quatro categorias: (i)
aplicações alternativas do limite do estabelecimento permanente; (ii) impostos
retidos na fonte; (iii) impostos sobre o volume de negócios; e (iv) regimes espe-
cíficos destinados a grandes empresas multinacionais. Essas medidas caracteri-
zam-se por proteger e / ou expandir a base tributária no país em que os clientes
ou usuários estão localizados, incluindo elementos vinculados a um mercado
no projeto da base tributária (por exemplo, receita de vendas, local de uso ou
consumo) e refletem um descontentamento entre alguns países com os resulta-
dos tributários produzidos pelo atual sistema internacional de imposto de ren-
da. O relatório provisório apresenta o seguinte detalhamento de cada medida:
i) Aplicações alternativas dos limites do Estabelecimento Permanen-
te (PE): Incluir medidas tomadas por alguns países, a fim de alterar
a forma como o limite da tributação baseada na fonte dos lucros das
empresas - a definição do PE - é aplicado ao abrigo da legislação na-
cional e / ou em tratados fiscais. Os desenvolvimentos observados são
ou medidas que incorporam fatores de presença digital ou a aplicação
do limite de “estabelecimento permanente de serviço” sem restrições
de requisitos de presença física. As primeiras medidas são projetadas
para estabelecer nexos em situações em que uma empresa não residen-
te, fisicamente estabelecida em um local remoto, está tomando medi-
das proativamente para criar e manter uma interação contínua com os
usuários e clientes de um determinado país. Exemplos de países que
avançaram com a adoção do teste de presença econômica significativa
são Israel e a Índia. As últimas medidas referem-se à opinião expressa
por alguns países de que a exigência de presença física deixou de ser
relevante para a aplicação da definição de “o estabelecimento perma-
nente de serviço” do Artigo 5 (3) (b) da Convenção Modelo. Esta po-
sição decorre da preocupação de que a digitalização facilitou a adoção
de modelos centralizados de vendas e distribuição, onde os serviços
online podem ser realizados remotamente, sem qualquer presença
significativa nos mercados atendidos. Essa ampla interpretação é co-
nhecida como o “estabelecimento permanente de serviço virtual” e foi
oficialmente endossada na Arábia Saudita.
ii) Impostos retidos na fonte: Entre as medidas relevantes nessa área,
o Relatório Provisório aponta que alguns países expandiram sua defi-
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ver eficiência econômica e bem-estar global. Para esse fim, eles concordaram
em construir uma revisão coerente e simultânea dos dois aspectos-chave da
estrutura tributária existente (a alocação de lucros e as regras de nexo) que
considerariam os impactos da digitalização na economia.
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da proposta contra a erosão da base tributável não está limitada a empresas di-
gitais e sim procura propor uma solução sistemática concebida para garantir
que todas as empresas paguem um nível mínimo de imposto.
238 Resumo elaborado com base no “Press Release” da Comissão Europeia, disponível em: http://
europa.eu/rapid/press-release_IP-18-2041_en.htm, consulta em 10 de abril de 2018
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239 Vide comentário do Secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin em https://home.treasury.
gov/news/press-releases/sm0316, acesso em 10 de abril de 2018: The U.S. firmly opposes proposals
by any country to single out digital companies. Some of these companies are among the greatest
contributors to U.S. job creation and economic growth. Imposing new and redundant tax burdens
would inhibit growth and ultimately harm workers and consumers. I fully support international
cooperation to address broader tax challenges arising from the modern economy and to put the
international tax system on a more sustainable footing.”
187
Tributação da Economia Digital
Conclusões
Como se vê, o assunto ora tratado é instigante, porém polêmico e todos
estão aprendendo a navegar no novo mundo digital. Há um claro embate entre
a necessidade de tributação e também do incentivo ao crescimento das ativi-
dades digitais. Os conceitos tributários até aqui utilizados não estão dando
conta da nova economia digital que quase não exige a presença física para a
celebração de negócios. Desta forma, ficamos no aguardo dos próximos capí-
tulos da evolução desse assunto tão recente e desafiador.
240 http://business-review.eu/tech/the-eus-digital-service-tax-may-be-set-for-all-member-states-by-
march-2019-193392
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O Poder Executivo e a Tributação
do Software no Brasil: um Enfoque
no Princípio da Legalidade
1. Introdução
Os debates doutrinários acerca da tributação do software no Brasil gravitam,
em regra, em torno da discussão quanto à competência tributária242. E não pode-
ria ser diferente. Num cenário de conflito entre os entes federativos e de ampla
judicialização da matéria243, sem que tenha havido uma resposta definitiva pelo
Poder Judiciário, multiplicam-se as perguntas e faltam respostas conclusivas.
Nesse quadro de ampla controvérsia não há vitoriosos. Perde o setor
produtivo, que desconhece, ao certo, qual tributo deve ser pago. Ao mesmo
tempo, perdem Estados e Municípios, que direcionam seus contenciosos a in-
tensas batalhas em âmbito administrativo e pretoriano, sem a real perspectiva
de um fim ou, ao menos, de uma trégua.
Não se pretende, nessa oportunidade, enfocar a controvérsia sob a ótica
da segurança jurídica. Com efeito, num ambiente de profunda insegurança,
uma análise real do Direito Tributário permitiria, quando muito, cogitar-se
de alguma ou, quiçá, de uma segurança jurídica possível.
241 Procuradora do Estado do Rio de Janeiro. Mestre e Doutoranda em Finanças Públicas, Tributação e
Desenvolvimento pela UERJ.
242 Cabe fazer referência, por todos, ao quanto se escreveu em: FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O
conflito de competência entre o ICMS e o ISS: um estudo de casos na Era da Internet. Belo Horizonte:
Fórum, 2018, p. 75-129.
243 Podem ser catalogadas, na presente oportunidade, ao menos 5 (cinco) ações que tramitam no STF,
envolvendo o contencioso quanto à tributação do software no Brasil. Nos trabalhos referidos nos
itens 1 e 3 foram exaustivamente analisadas a RE 688.223/PR, rel. Min. LUIZ FUX e a ADI 1945/
MT, rel. Min. CÁRMEN LÚCIA. Na presente oportunidade, será possível examinar algumas delas,
notadamente as ADIs 5576/SP, rel. Min. ROBERTO BARROSO e 5659/MG, rel. Min. DIAS TOFFOLI.
189
Tributação da Economia Digital
244 Para além da obra descrita no item 1, cumpre fazer referência a: OLIVEIRA, Maurine Morgan
Pimentel de. O conflito de competência entre o ISS e o ICMS à luz do RE 688223/PR. In: GOMES,
Marcus Lívio; SCHOUERI, Luís Eduardo. (Orgs.). A Tributação Internacional na Era Pós-BEPS:
soluções globais e peculiaridades de países em desenvolvimento. Volume III – Transparência e
Economia Digital. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 243-284.
190
Tributação da Economia Digital
245 BRANCHER, Paulo M. R. As criptomoedas e os motivos para uma imediata e mínima regulação.
Revista Fórum de Direito na Economia Digital – RFDED, Belo Horizonte, 1, n. 1, p. 248, jul./dez.
2017. O autor destaca que a expressão disruptiva designa desordenado, perturbado, o que resulta da
tradução da expressão disruptive.
246 Ibid.
191
Tributação da Economia Digital
247 MEDAGLIA, Thiago Rufalco e VISINI, Eric Simões. Breves considerações sobre o tratamento legal,
contábil e fiscal das moedas virtuais. In: FARIA, Renato Vilela; SILVEIRA, Ricardo Maitto da e
MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Coords.). Tributação da economia digital: desafios
no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 625.
248 GRECO, Marco Aurélio. Tributação e Novas Tecnologias: Reformular as incidências ou o modo de
arrecadar? Um “SIMPLES” Informático. In: FARIA, Renato Vilela; SILVEIRA, Ricardo Maitto da
e MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Coords.). Tributação da economia digital: desafios
no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 782-784.
249 KADAMANI, Rosine. Criptomoedas são moedas? In: PISCITELLI, Tathiane (Coord.). Tributação
da Economia Digital. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 207-208. A autora destaca que as
criptomoedas são moedas do ponto de vista econômico e social, eis que servem como instrumento de troca.
Contudo, do ponto de vista jurídico, apenas seriam moedas aquelas emitidas e controladas pelo Estado.
250
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposic
ao=1555470> Acesso em: 20 dez. 2018.
251 DALCASTEL, Marcia Bataglin. Criptomoeda ou criptoativo: uma proposta de regulação para
o bitcoin. Disponível em: <https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/criptomoeda-ou-
criptoativo-em-busca-de-uma-regulacao-para-o-bitcoin-30042018> Acesso em: 20 dez. 2018.
192
Tributação da Economia Digital
das virtuais devem ser declaradas pelo valor de aquisição, por equiparação a
um ativo financeiro, verbis:
447 — As moedas virtuais devem ser declaradas?
Sim. As moedas virtuais (bitcoins, por exemplo), muito embora não
sejam consideradas como moeda nos termos do marco regulatório atu-
al, devem ser declaradas na Ficha Bens e Direitos como “outros bens”,
uma vez que podem ser equiparadas a um ativo financeiro. Elas de-
vem ser declaradas pelo valor de aquisição.
Atenção: Como esse tipo de “moeda” não possui cotação oficial, uma
vez que não há um órgão responsável pelo controle de sua emissão, não
há uma regra legal de conversão dos valores para fins tributários. En-
tretanto, essas operações deverão estar comprovadas com documenta-
ção hábil e idônea para fins de tributação. [Grifo nosso]
607 — Os ganhos obtidos com a alienação de moedas “virtuais” são
tributados?
Os ganhos obtidos com a alienação de moedas virtuais (bitcoins, por
exemplo) cujo total alienado no mês seja superior a R$ 35.000,00 são
tributados, a título de ganho de capital, segundo alíquotas progressivas
estabelecidas em função do lucro, e o recolhimento do imposto sobre
a renda deve ser feito até o último dia útil do mês seguinte ao da tran-
sação. As operações deverão estar comprovadas com documentação
hábil e idônea252. [Grifo nosso]
193
Tributação da Economia Digital
194
Tributação da Economia Digital
258 Art. 2°, Lei 9.609/1998. O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador
é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País,
observado o disposto nesta lei.
259 Art. 7º, Lei 9.610/1998. São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por
qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente
no futuro, tais como:
(...)
XII - os programas de computador.
260 Art. 9°, Lei 9.609/1998. O uso de programa de computador no País será objeto de contrato de licença.
Verifica-se que, embora a lei preveja que se está diante de um contrato de licença, em verdade, há um
contrato de cessão de uso, conforme se verifica em: SOUTO, Luisa de Brito Dutra. Da subsunção da
contratação de acesso a softwares disponibilizados em nuvem (software as a service) às hipóteses de
incidência do ICMS e do ISS. Dissertação (Graduação) – Faculdade de Direito, Curso de Graduação
em Direito da Universidade de Brasília, Brasília, 2013, p. 23.
261 24 – Análises, inclusive de sistemas, exames, pesquisas e informações, coleta e processamento de
dados de qualquer natureza.
262 1.05 – Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação.
195
Tributação da Economia Digital
196
Tributação da Economia Digital
266 Para uma análise crítica da LC 24/1975, especialmente da exigência de unanimidade para aprovação
dos convênios, assim como sinalizando a possibilidade de criação de outros modelos de ajustes,
como protocolos ou câmaras de conciliação entre estados federativos, cabe fazer referência a:
MARINS, Daniel Vieira e OLIVEIRA, Gustavo da Gama Vital de. A autonomia federativa e o
problema da unanimidade nos convênios do CONFAZ. Revista do Direito Público, Londrina, v. 12,
n. 2, p. 260-267, ago 2017.
197
Tributação da Economia Digital
267 GRECO, Marco Aurélio. Tributação e Novas Tecnologias: Reformular as incidências ou o modo de
arrecadar? Um “SIMPLES” Informático. In: FARIA, Renato Vilela; SILVEIRA, Ricardo Maitto da
e MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Coords.). Tributação da economia digital: desafios
no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 789-790.
198
Tributação da Economia Digital
268 O trecho pode ser extraído do item 50 da inicial da ADI 5576/SP e 58 da ADI 5659/MG.
269 RE 651.703/PR, rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, Julgamento 29/09/2016, DJe 26/04/2017.
270 Esse argumento é sustentado na manifestação da ABES (item 7.11 da ADI 5576/SP e da ADI 5659/
MG) e da ABRASF (item v-b-1 da ADI 5576/SP e da ADI 5659/MG).
199
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Tributação da Economia Digital
282 ADI 1945 MC/MT, rel. Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, Julgamento 26/05/2010, DJe 14/03/2011.
283 A grande exceção ao caráter genérico das materialidades descritas no art. 2°, LC 87/1996 dá-se em
relação a “petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e de
energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou à industrialização, decorrentes de
operações interestaduais” (art. 2°, § 1°, III, LC 87/1996).
203
Tributação da Economia Digital
284 Os artigos 21, 26 e 65 do CTN devem ser tidos como não recepcionados pela Constituição de 1988,
eis que a Carta de 1988, diferentemente da EC 18/1965 e das Constituições subsequentes, não previu
que o Poder Executivo alterasse as bases de cálculo de tributos. SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito
Tributário. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 320.
285 Art. 24, Lei 6374/1989. Ressalvados os casos expressamente previstos, a base de cálculo do imposto
nas hipóteses do artigo 2º é:
I - quanto às saídas de mercadorias aludidas nos incisos I, VIII e IX o valor da operação.
286 Para uma leitura mais aprofundada do tema, a despeito das diferenças fundamentais entre a
legislação estadual ora analisada e a lei federal 10865/2004, cabe fazer referência a: MONTEIRO
NETO, Clóvis. Legalidade tributária e delegação legislativa: Reflexões sobre o caso do PIS/COFINS
sobre receitas financeiras. Disponível em: <https://jota.info/colunas/contraditorio/legalidade-
tributaria-e-delegacao-legislativa-12062017>. Acesso em: 30 dez. 2018.
204
Tributação da Economia Digital
287 Artigo 1º - Fica acrescentado o artigo 51-A ao Regulamento do Imposto de Circulação de Mercadorias
e de Prestação de Serviços, aprovado pelo Decreto nº 33.118, de 14 de março de 1991: “Artigo 51-A
- Em operação realizada com programa para computador (“software”), personalizando ou não, o
imposto será calculado sobre uma base de cálculo que corresponderá ao dobro do valor de mercado
do seu suporte informático.”.
288 Para uma análise da LC 87/1996: NAVARRO, Carlos Eduardo de Arruda; SILVEIRA, João Vitor
Kanufre Xavier da. Quemdeve se preocupar com o Convênio nº 106/2017? Revista Fórum de Direito
na Economia Digital – RFDED, Belo Horizonte, ano 2, n. 02, p. 44-45, jan./jun. 2018.
205
Tributação da Economia Digital
289 Para uma análise acerca da diferença entre a interpretação conforme a Constituição e a declaração
de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO,
Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009, p. 1300-1307
290 Embora a inicial não indique qual dos incisos do art. 5°, lei 6763/1975 seria inconstitucional, do seu
inteiro teor, parece que o pedido se refere ao art. 5°, § 1°, 1.
291 Art. 5º, lei 6763/1975. O Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS
– tem como fato gerador as operações relativas à circulação de mercadorias e às prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior.
§ 1º – O imposto incide sobre:
1) a operação relativa à circulação de mercadoria, inclusive o fornecimento de alimentação e bebida
em bar, restaurante ou estabelecimento similar.
292 Art. 43, Decreto 43.080/2002. Ressalvado o disposto no artigo seguinte e em outras hipóteses
previstas neste Regulamento e no Anexo IV, a base de cálculo do imposto é:
(...)
XV - na saída ou no fornecimento de programa para computador:
a) exclusivo para uso do encomendante, o valor do suporte físico ou informático, de qualquer natureza;
b) destinado à comercialização, duas vezes o valor de mercado do suporte informático.
293 Art. 1º, Decreto 46.877/2015. Fica revogado o inciso XV do art. 43 do Regulamento do ICMS,
aprovado pelo Decreto nº 43.080, de 13 de dezembro de 2002.
206
Tributação da Economia Digital
O Decreto 46.877/2015, por sua vez, revogou o art. 43, XV, do Decreto
43.080/2002, que estabelecia a base de cálculo para operações com software.
A parte requerente aduz que “a revogação do inciso XV do art. 43 do Decreto
nº 43.080/02, poderia permitir interpretar que o Estado de Minas Gerais não
mais tributará as operações com software”.
Contudo, após reportar-se à Consulta de Contribuinte n° 29/2016294, infor-
ma que “a base de cálculo das referidas operações, até então correspondente tão
somente ao suporte físico do software, nos termos do Decreto n° 43.080/02 do
Estado de Minas Gerais, passou a ser o valor total da operação”. Ou seja, a parte
requerente, assim como ocorreu com a legislação paulista, questiona o fato de a
base de cálculo do ICMS com programas de computador deixar de considerar o
valor do suporte físico para passar a considerar o valor total da operação.
Cabe ponderar que, assim como ocorreu na ação direta de São Paulo,
apenas parte da cadeia de decretos foi reputada como inconstitucional na ADI
5659/MG. Com efeito, da análise da sucessão de decretos editados com fun-
damento na mesma lei estadual de ICMS, puderam ser identificados ao menos
dois decretos (Decreto 38.104/1996295 e Decreto 32.535/1991296, que aprovaram
os anteriores regulamentos de ICMS), que continham a previsão de que o su-
porte informático consistia na base de cálculo do ICMS no caso de operações
com programas de computador.
294
Disponível em: <http://www6.fazenda.mg.gov.br/sifweb/MontaPaginaPesquisa?pesqBanco=
ok&login=false&caminho=/usr/sef/sifweb/www/empresas/legislacao_tributaria/consultas_
contribuintes/cc029_2016.htm&searchWord=software&tipoPesquisa=todasPalavras#ancora>
Acesso em: 30 dez. 2018.
295 Art. 44, Decreto 38.104/1996. Ressalvadas outras hipóteses previstas neste Regulamento e nos
Anexos IV e XI, a base de cálculo do imposto é:
(...)
XV - na saída ou fornecimento de programa para computador:
a - exclusivo para uso do encomendante, o valor do suporte físico ou informático, de qualquer natureza;
b - destinado a comercialização, duas vezes o valor de mercado do suporte informático.
296 Art. 60, Decreto 32.535/1991. Ressalvadas outras hipóteses previstas neste Regulamento, a base de
cálculo do imposto é:
(...)
§ 7º - Na saída ou fornecimento de programa para computador, personalizado ou não, a base de
cálculo corresponderá somente ao valor suporte físico ou informático, de qualquer natureza.
207
Tributação da Economia Digital
208
Tributação da Economia Digital
209
Tributação da Economia Digital
300 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. Vol. II – Valores
e Princípios Constitucionais Tributários. Rio de Janeiro: Renovar, 2014, p. 412-414.
301 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 174.
302 A fim de exemplificar o quanto se afirma, cabe fazer referência a: GODOI, Marciano Seabra de.
O quê e o porquê da tipicidade tributária. In: RIBEIRO, Ricardo Lodi; ROCHA, Sérgio André.
(Coord.). Legalidade e Tipicidade no Direito Tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 72-99.
303 RE 343.446/SC, rel. Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, Julgamento 20/03/2003, DJ
04/04/2003.
304 ROSENBLATT, Paulo. Competência Regulamentar no Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: MP
Editora, 2009.
210
Tributação da Economia Digital
305 CASTRO, Carlos Roberto de Siqueira. O Congresso e as delegações legislativas. Forense: Rio de
Janeiro, 1986. p. 81-82.
306 CYRINO, André. Delegações Legislativas, Regulamentos e Administração Pública. Belo Horizonte:
Fórum, 2018, p. 33, 144, 190-191.
307 A Constituição de 1988, em seu texto originário, admitiu que o Poder Executivo altere as alíquotas
dos impostos de importação, exportação, IPI e IOF (art. 153, § 1°, CRFB/1988).
308 As mitigações ao princípio da legalidade decorrentes de emenda são verificadas nas hipóteses de
ICMS monofásico sobre combustíveis (art. 155, § 2°, IV, CRFB/1988) e CIDE sobre combustíveis
(art. 177, § 4°, I, b CRFB/1988).
211
Tributação da Economia Digital
309 ADI 4697/DF, rel. Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, Julgamento 06/10/2016, DJe 30/03/2017.
310 Art. 6°, lei 12.514/2011. As anuidades cobradas pelo conselho serão no valor de:
I. para profissionais de nível superior: até R$ 500,00 (quinhentos reais);
II. para profissionais de nível técnico: até R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais); e
III. para pessoas jurídicas, conforme o capital social, os seguintes valores máximos:
a) até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais): R$ 500,00 (quinhentos reais);
b) acima de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e até R$ 200.000,00 (duzentos mil reais): R$ 1.000,00
(mil reais);
c) acima de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e até R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais): R$
1.500,00 (mil e quinhentos reais);
d) acima de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) e até R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais): R$
2.000,00 (dois mil reais);
e) acima de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e até R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais): R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais);
f) acima de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) e até R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais): R$
3.000,00 (três mil reais);
g) acima de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais): R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
§ 1o Os valores das anuidades serão reajustados de acordo com a variação integral do Índice Nacional
de Preços ao Consumidor INPC, calculado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística IBGE, ou pelo índice oficial que venha a substituí-lo.
§ 2o O valor exato da anuidade, o desconto para profissionais recém-inscritos, os critérios
de isenção para profissionais, as regras de recuperação de créditos, as regras de parcelamento,
garantido o mínimo de 5 (cinco) vezes, e a concessão de descontos para pagamento antecipado ou à
vista, serão estabelecidos pelos respectivos conselhos federais. [Grifos nossos]
212
Tributação da Economia Digital
311 RE 838.284/SC, rel. Min. DIAS TOFFOL, Tribunal Pleno, Julgamento 19/10/2016, DJe 22/09/2017
312 Art. 2º, lei 6.994/1982. Cabe às entidades referidas no art. 1º desta Lei a fixação dos valores das taxas
correspondentes aos seus serviços relativos e atos indispensáveis ao exercício da profissão, restritas
aos abaixo discriminados e observados os seguintes limites máximos:
(...)
Parágrafo único - O disposto neste artigo não se aplica às taxas referentes à Anotação de
Responsabilidade Técnica - ART, criada pela lei nº 6.496, de 7 de dezembro de 1977, as quais poderão
ser fixadas observado o limite máximo de 5 MVR. [Grifos nossos]
313 Art 2º, lei 6496/1977. A ART define para os efeitos legais os responsáveis técnicos pelo
empreendimento de engenharia, arquitetura e agronomia.
[...]
§ 2º. O CONFEA fixará os critérios e os valores das taxas da ART ad referendum do Ministro do Trabalho.
213
Tributação da Economia Digital
314 RE 704.292/PR, rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, Julgamento 19/10/2016, DJe 03/08/2017.
315 Art. 2o, lei 11.000/2.004. Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados
a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem
como as multas e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão
receitas próprias de cada Conselho.
§ 1o Quando da fixação das contribuições anuais, os Conselhos deverão levar em consideração as
profissões regulamentadas de níveis superior, técnico e auxiliar.
316 Para uma análise crítica dos referidos precedentes, destacando que, nos julgamentos em Plenário,
diversos Ministros alteraram o entendimento que vinham adotando em decisões monocráticas,
sem explicitar as razões para tanto, cabe fazer referência a: LANNES, Daniel. Legalidade Tributária.
Quartier Latin: São Paulo, 2018, p. 219-225.
317 ADI 5277, rel. Min. DIAS TOFFOLI; ADI 5748, rel. Min. ROSA WEBER e RE 1.043.313/RS (tema
939), rel. Min. Dias Toffoli.
318 Sergio André Rocha admite a delegação legislativa em matéria tributária, arrolando quatro
requisitos para tanto. O primeiro deles é a possibilidade jurídica de delegação, ou seja, a mesma
214
Tributação da Economia Digital
deve ser permitida ou não deve haver vedação implícita ou explícita. O segundo requisito é o de
que a lei deve estabelecer os limites em que será legítima a atuação do delegatário. Em terceiro
lugar, remarca que o poder delegante permanece com a competência legislativa plena para legislar
e, em quarto lugar, assevera que a legitimidade da delegação pressupõe mecanismos de controle
da atividade delegada. ROCHA, Sergio André. A Deslegalização no Direito Tributário Brasileiro
Contemporâneo. In: BORJA, Célio; RIBEIRO, Ricardo Lodi (Orgs.). Temas de Direito Público –
Estudos em homenagem ao professor Flávio Bauer Novelli – Volume 1 – Constituição e Cidadania.
Rio de Janeiro: Multifoco, 2015, p. 518-520.
319 COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 58.
320 Reporta-se, aqui, ao quanto descrito no item 3, sobre a evolução legislativa nos dois Estados.
215
Tributação da Economia Digital
Conclusão
Diante de todo o exposto, verifica-se que, embora a forma mais usual de
se estudar a economia digital seja abordá-la sob a ótica da competência tribu-
tária, pretendeu-se, com o presente, verificar de que forma o Poder Executivo
pode contribuir com o aprimoramento do tratamento jurídico-tributário da
economia digital e, mais especificamente, no que se refere aos contornos do
princípio da legalidade na tributação do software.
Com efeito, num cenário de crescimento de tecnologias, disruptivas ou não,
o papel do Poder Executivo precisa ser revisitado. Como se expôs, deverá a Ad-
ministração exercer o seu poder regulatório, disciplinando o regime aplicável a
novas materialidades, como se mostra premente no caso de criptomoedas. De
outro lado, mesmo em hipóteses já reguladas, como o software, a Administração
Tributária exerce função normativa, o que desafia a identificação, diante de cada
caso concreto, acerca da observância dos limites do poder regulamentar.
Portanto, entende-se que a análise da matéria contida nas ADIs 5576/SP e
5659/MG, sob o viés da legalidade, consiste num ponto de partida nesse processo
de delimitação das funções do administrador público na economia digital. Se-
gundo se entende, a legalidade mostra-se como uma possível frente de atuação,
mas, certamente, deverá haver outras, como o fomento e o estímulo à inovação.
Nesse contexto, parece inegável que novos mecanismos de combate
à guerra fiscal – agora entre entes federativos – precisam ser pensados. Em
acréscimo, os diálogos institucionais entre Executivo e Legislativo, e também
entre o Executivo e a sociedade civil podem ser aprimorados. Do contrário,
para além da perda de arrecadação e do desincentivo à economia, o Poder
Executivo corre o risco de se tornar progressivamente um coadjuvante na de-
limitação dos rumos tributários da economia digital.
321 Para um estudo do devido processo regulamentar: CYRINO, Op. cit., p. 238-247.
216
Tributação da Economia Digital
Referências bibliográficas
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
217
Tributação da Economia Digital
218
Tributação da Economia Digital
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
219
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220
Revigorando o Imposto sobre
Propriedade Imóvel: Propostas
Legislativas e Novas Tecnologias
1. Introdução
A participação política dos municípios na República brasileira cresceu
de forma considerável desde a promulgação da Constituição de 1988. Entre as
provas dessa afirmação, encontra-se a de um projeto de lei no Congresso Na-
cional para aumentar seu número em mais 400.323 Embora existam posições
negativas324 e positivas325 ao reconhecimento do status de integrantes da Fede-
ração, o fato é que a Carta Magna lhes confere categoricamente esta posição,
na letra do Art. 18, caput.326
Entretanto, se no âmbito político não há problemas para o aumento de
seu número, em aspectos financeiros a situação é bastante preocupante ao
considerarmos a atual conjuntura.
Dos atuais 5.570 municípios do Brasil, cerca de um terço não consegue arre-
cadar o suficiente para pagar as próprias despesas de pessoal, o que inclui o salário
221
Tributação da Economia Digital
327 JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO. “Um terço dos municípios do País não gera receita nem para
pagar salário do prefeito”, publicado em 26.08.2018. Disponível em: <https://economia.estadao.com.
br/noticias/geral,um-terco-dos-municipios-do-pais-nao-gera-receita-nem-para-pagar-salario-do-
prefeito,70002473456>. Acesso em: 05/09/2018.
328 CF/88, Art, 18, § 4º: A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-
ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de
consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.”
329 MARINS, Daniel Vieira. O esforço fiscal dos municípios e as transferências intergovernamentais.
-1.ed.-Rio de Janeiro: Gramma, 2016.
222
Tributação da Economia Digital
330 GAMA, Gustavo Da. “Reforma Tributária e Federalismo Fiscal”. Disponível em <uerj.academia.
edu>. Acesso em 05/09/2018.
223
Tributação da Economia Digital
331 The Economist. Levying the land. 29/06/2013. Disponível em: <https://www.economist.com/
finance-and-economics/2013/06/29/levying-the-land>. Acesso em 17/09/2018.
332 Ibid.
224
Tributação da Economia Digital
333 Ibid.
334 Ibid.
335 Shanske, Darien. Revitalizing Local Political Economy Through Modernizing the Property Tax.
School of Law, University of California, Davis, 2014.
225
Tributação da Economia Digital
336 The Economist. “The Time may be right for land-value taxes”. Disponível em: <https://www.economist
.com/briefing/2018/08/09/the-time-may-be-right-for-land-value-taxes>. Acesso em: 20 set.2018.
226
Tributação da Economia Digital
337 Norregaard, John. Taxing Immovable Property -Revenue Potencial and Implementation Challenges.
IMF Working Paper. Maio, 2013.
227
Tributação da Economia Digital
228
Tributação da Economia Digital
338 Oliveira, Fabricio Augusto de. “A evolução da estrutura tributária e do fisco brasileiro”: 1889-1999.
IPEA, Brasília, jan. 2010.
229
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230
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4.1 O E-Processo
Entre as novas medidas de inovação no tratamento do procedimento da
relação administrativa tributária entre o município do Rio de Janeiro e o con-
tribuinte de IPTU, encontra-se a implementação do Processo Administrativo
Tributário Digital, mais conhecido como “e-processo”. Suas bases legais são
o Decreto Rio nº 44799, de 24/07/2018 e Resolução SMF nº 3.002, de 15 de
agosto do mesmo ano.
Apesar de não ser uma novidade no Brasil, tendo em vista que a Recei-
ta Federal já possui uma ferramenta digital semelhante, o e-CAC - Centro
Virtual de Atendimento ao Contribuinte -, desde dezembro de 2005, tal pro-
cedimento ainda é uma realidade bem distante da maioria esmagadora de
municípios. Entre outras prefeituras que possuem esse sistema, podemos citar
a de Niterói, no Rio de Janeiro, e a de Joinville, em Santa Catarina.
O objetivo do projeto é desenvolver um plano de gestão documental e
a implantação de solução de gestão de conteúdos corporativos (ECM) com o
sistema de gerenciamento dos processos de negócios (BPMS), para a automa-
tização dos procedimentos do IPTU.
A expectativa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro é que a ado-
ção do BPMS promoverá o controle eletrônico ágil, preciso e abrangente da
tramitação e do armazenamento corrente, intermediário e permanente dos
documentos e processos.
O resultado é que a Fazenda municipal espera alinhar seu curso estra-
tégico de expandir e otimizar os processos de atendimento, reduzindo conti-
nuamente a distância entre o cidadão e o poder público, inicialmente na área
235
Tributação da Economia Digital
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Tributação da Economia Digital
Conclusão
O imposto sobre a propriedade imóvel é um tributo fundamental não
só para a repartição justa dos gastos públicos, como também um grande fi-
nanciador para obras de infraestruturas locais, colaborando para uma maior
qualidade de vida de seus cidadãos. Os mais eficientes, modernos e, potencial-
mente, mais democráticos meios de financiamento ainda consistem na tribu-
tação e nos empréstimos públicos.342
O desenvolvimento de seu potencial fiscalizatório, por parte dos municí-
pios, colabora para o aperfeiçoamento do sistema tributário brasileiro como um
todo, reforçando as relações federativas entre os demais entes, diminuindo a
interdependência financeira entre os mesmos e reforçando o projeto político de
democracia, baseado na repartição de receitas e administração da Constituição.
O desenvolvimento do IPTU permitirá um gradativo deslocamento da
base tributada sobre o consumo para uma base tributada sobre o patrimônio,
342 Cf. TANZI, Vito. Termites of the State: Why Complexity Leads to Inequality. Cambridge University
Press. 2018.
238
Tributação da Economia Digital
o que pode aliviar a carga fiscal entre os mais pobres, além de trazer mais jus-
tiça fiscal ao sistema tributário brasileiro, conforme adverte Gama.
As alterações na Lei de Responsabilidade Fiscal, a aplicação de novas
tecnologias, o treinamento e o investimento na Administração Pública para o
desenvolvimento pleno da capacidade arrecadatória do imposto sobre a pro-
priedade de bens imóveis sem dúvida são importantes para o suporte financei-
ro dos municípios. Entretanto, em nossa opinião, isso ainda não é suficiente.
Desde a fundação da República, o Brasil não desenvolveu um real projeto
político de nação, que se reflete até hoje no campo fiscal. A Constituição de
1988 foi uma nova oportunidade para isso, mas que falhou. A enorme depen-
dência de boa parte dos municípios às transferências de Estados e da União
demonstram que ainda falta muito trabalho a realizar.343
Repartir competências fiscais em uma Constituição foi fruto do espírito
democrático que a inspirou, contudo, o sistema tributário brasileiro não se
aperfeiçoou. Somos de opinião que as propostas das alterações legislativas e
a introdução de novas técnicas são importantes, mas conseguirão resolver?
Sem a consciência de governantes para o uso bem realizado de gastos pú-
blicos e sua respectiva responsabilização penal e civil, qualquer incremento ar-
recadatório será em pouco tempo acompanhado de déficit financeiro e atraso.
A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um primeiro passo na tentativa de
conter o grau de endividamento, mas a sua finalidade precisa também ser
aperfeiçoada. Tendo em vista que a causa de sua promulgação ainda existe e
só apresenta aumento, o nível de endividamento dos entes subnacionais.
Além disso, há muito é sabida da eficiência e estabilidade do IPTU, a
saliência do tributo. Contudo, tais características do imposto são oriundas,
em grande parte, de sua tributação sobre uma realidade, espelhada em um
contribuinte bem definido e um imóvel bem definido. Dessa forma, quanto
maior a desordem urbana ou, em outros termos, quanto maior a ausência de
planejamento urbano nas cidades, menor será a eficiência do imposto.
343 Cf. TORRES, Ricardo Lobo. “O Brasil tem vivido, desde a proclamação da CF/88, o drama de sua
reforma, na busca da tributação moderna e coerente. Os economistas e os juristas ainda estão à
procura de novos modelos tributários, adaptados à realidade da informática e da globalização, mas
afinados com a cidadania fiscal”. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário, vol.
I – Constituição financeira, sistema tributário e estado fiscal. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 383.
239
Tributação da Economia Digital
Bibliografia
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO. “Um terço dos municípios do País não gera
receita nem para pagar salário do prefeito”, publicado em 26.08.2018. Disponível
em:<https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,um-terco-dos-municipios-
-do-pais-nao-gera-receita-nem-para-pagar-salario-do-prefeito,70002473456>.
Acesso em: 05/09/2018.
240
Tributação da Economia Digital
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 20ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2002.
TANZI, Vito. Termites of the state: why complexity leads to inequality. New
York, NY: Cambridge University Press, 2018.
241
Ação 1 do Projeto BEPS e as
Diretrizes Gerais da OCDE
344 Professor de Direito Financeiro e Tributário da UERJ. Livre-Docente em Direito Tributário pela USP.
345 Mestre em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento pela UERJ. Advogada.
346 COATES, Ken; HOLROYD, Carin. Japan and the Internet Revolution. Houndmills: Palgrave
Macmillan, 2003.
347 Internet World Stats. Disponível em: <http://www.internetworldstats.com/stats.htm> Acesso em:
12 out. 2016.
348 ALMEIDA, Daniel Freire. A tributação do comércio eletrônico nos Estados Unidos da América e na
União Européia. São Paulo: Almedina, 2015.
349 Conforme apontado no comunicado publicado em 21 de setembro de 2017 pela Comissão Europeia,
aproximadamente um terço do crescimento da produção industrial na Europa já é devido à utilização
de tecnologias digitais. Entre 2008 e 2016, as receitas das 5 maiores empresas de varejo e-commerce
cresceram 32% por ano. Durante este mesmo período o crescimento do setor varejista europeu
foi em média 1%. Comunicado disponível em:< http://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-17-
3341_en.htm> Acesso em: 08 jan. 2018.
243
Tributação da Economia Digital
350 LI, Jinyan. Protecting the Tax Base in the Digital Economy. New York: United Nations Department
of Economic and Social Affairs, 2014. p. 5. Disponível em:<http://www.un.org/esa/ffd/tax/2014TBP/
Paper9_Li.pdf.>. Acesso em: 23 jan. 2018.
351 Comunicado preparado pela Comissão Europeia para o Parlamento Europeu (em inglês: “A Fair
and Efficient Tax System in the European Union for the Digital Single Market”). Disponível em:
<https://ec.europa.eu/taxation_customs/sites/taxation/files/communication_taxation_digital_
single_market_en.pdf>. Acesso em: 08 jan. 2018.
352 OCDE. Addressing the Tax Challenges of the Digital Economy, Action 1 - 2015 Final Report. 2015. p.11.
353 Mission d’expertise sur la fiscalité de l’économie numérique, Rapport au Ministre de l’économie
et des finances, au Ministre du redressement productif, au Ministre délégué chargé du budget et à
la Ministre déléguée chargée des petites et moyennes entreprises, de l’innovation et de l’économie
numérique, (COLLIN; COLLIN, 2013, p.100). Disponível em: < http://economie.gouv.fr/rapport-
sur-la-fiscalite-du-secteur-numerique >. Acesso em:
244
Tributação da Economia Digital
354 Ver: ROCHA, Sergio André. Política Fiscal Internacional Brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2017. p. 2-4.
355 Note-se que em trabalhos pretéritos a OCDE já analisou a problemática da economia digital. A
primeira iniciativa da OCDE dedicada integralmente à tributação na economia digital deu-se em
1997, quando realizou-se uma Conferência Internacional procurando identificar os principais
problemas políticos e potenciais soluções em relação à tributação do comércio eletrônico.
245
Tributação da Economia Digital
Já em 1998 realizou-se em Otawa o primeiro evento ministerial, “A Bordless World: Realising the
Potential of Global Electronic Commerce”, em que os países membros da OCDE se reuniram para
discutir os elementos do comércio eletrônico mundial. Na ocasião, já se havia esboçado um Plano
de Ação da OCDE para o Comércio Eletrônico. Apresentou-se um relatório, cujo objetivo foi
estabelecer os princípios tributários que deveriam se aplicar ao comércio eletrônico e apresentar
as propostas desenhadas. O Anexo A da Ação 1 do Projeto BEPS contempla um quadro com os
princípios de Otawa e suas definições. Após o marco da Conferência de Otawa, alguns outros
trabalhos foram desenvolvidos culminando no surgimento do Projeto BEPS.
356 Na Europa, o desafio na tributação indireta refere-se essencialmente à repartição de receitas
tributárias entre os Estados (utilizando-se o critério da tributação no destino), e não necessariamente
à qualificação dos fatos econômicos característicos da economia digital.
357 Os seguintes princípios foram tratados na Conferência de Ottawa como aplicáveis ao comércio
eletrônico (i) neutralidade; (ii) eficiência; (iii) segurança e simplicidade; (iv) eficácia e justiça; e (v)
flexibilidade. (OCDE, 1998b, p.3).
246
Tributação da Economia Digital
358 SaaS são aplicações disponibilizadas aos usuários através da nuvem sem uma prévia licença de uso,
sem necessidade de download para as máquinas dos usuários e acessíveis em tempo real, desde que
com conexão à internet. A título de exemplo, estão os programas como Dropbox, Googledrive,
Photoshop, Microsoft Office 365.
247
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cadas por moedas reais ou usadas para comprar bens e serviços reais, através de
trocas que podem ser operadas pelos criadores do jogo ou por terceiros.
Outras moedas virtuais foram desenvolvidas principalmente para permi-
tir a compra de bens e serviços reais. O exemplo mais proeminente deste tipo
são as várias “criptocorrências”, incluindo os bitcoins, que dependem da cripto-
grafia e da verificação peer-to-peer para garantir e verificar as transações.
À medida que as moedas virtuais adquirem cada vez mais valor econô-
mico real, elas levantam questões políticas substanciais. Algumas delas deri-
vam da natureza anônima das transações. No caso de bitcoins, por exemplo,
as transações podem ser feitas em uma base inteiramente anônima, uma vez
que nenhuma informação de identificação pessoal é necessária para adquirir
ou transacionar em bitcoins.
248
Tributação da Economia Digital
(iv) Impressão em 3D
Os avanços na impressão 3D têm o potencial de permitir a fabricação mais
próxima do cliente, com interação direta com os consumidores e impactando o
design do produto. Segundo a OCDE, no setor de saúde, a impressão 3D de pro-
dutos de saúde personalizados, como fones de ouvido, já é fortemente utilizada.
Como consequência deste fenômeno, os consumidores poderão ser ca-
pazes de montar os próprios produtos usando impressoras 3D, aumentando
ainda mais a possibilidade de estabelecer negócios em um local que está fisi-
camente distante do cliente final.
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Publicidade online
A publicidade online utiliza a internet como um meio para direcionar
e enviar mensagens aos clientes, oferecendo uma série de vantagens sobre a
publicidade tradicional.
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361 A tributação indireta vem ganhando exponencialmente mais espaço diante da necessidade
de aumento de receita dos Estados, já tendo sido implementada em mais de 150 países (LANG;
LEJEUNE, 2015).
Michal Lang e Ine Lejeune salientam, inclusive, que a crescente importância da tributação indireta
combinada com o contínuo desenvolvimento da economia digital vêm contribuindo para a
dificuldade das autoridades fiscais ao redor do mundo em aplicar antigas regras diante dos novos
desafios da economia digital.
362 O termo refere-se a uma série de componentes de igual importância, incluindo comunicação entre
máquinas, computação em nuvem, análise de grandes dados e sensores; cuja combinação leva ao
desenvolvimento na área de machine learning e controle remoto.
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363 Até o presente momento, mais de 50 jurisdições, incluindo a esmagadora maioria da OCDE e
Os países do G20, adotaram regras para o tratamento do IVA de fornecimento B2C de serviços
e intangíveis por fornecedores estrangeiros, em conformidade com as Diretrizes Internacionais
de IVA / GST da OCDE. Estas jurisdições incluem os 28 Estados-Membros da UE, Albânia,
Andorra, Argentina, Austrália, Bahamas, Bielorrússia, China, Colômbia, Gana, Islândia, Índia,
Japão, Quénia, Coreia, México, Nova Zelândia, Noruega, Rússia, Arábia Saudita e Sérvia. , África
do Sul, Suíça, Tanzânia e Turquia. Entre aqueles que ainda não implementaram as regras, muitas
jurisdições estão considerando uma reforma à luz dos princípios das Diretrizes. Este é notavelmente
o caso da Costa Rica, Indonésia, Israel, Malásia, Cingapura, Tailândia, Filipinas, Tunísia e vários
países do Conselho de Cooperação do Golfo.
As experiências compartilhadas por várias jurisdições indicam que os elementos essenciais para
a implementação bem-sucedida de um mecanismo de coleta de IVA incluem: consulta com a
comunidade empresarial na fase de projeto; estratégia de comunicação adequada para divulgar sua
implementação e explicar os principais aspectos de conformidade; e a disponibilidade de orientação
clara para os contribuintes.
364 ROCHA, Sergio André. Política Fiscal Internacional Brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. 221-226.
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fonte. A OCDE espera, no entanto, que o impacto dessas medidas seja limita-
do por vários fatores, tais como as obrigações existentes no tratado tributário.
Na concepção da OCDE, essas medidas podem funcionar como prote-
ção adicional contra o BEPS. Sua aplicação pode ser eficaz para tributar as
vendas online de empresas situadas em uma jurisdição de baixa tributação,
sem qualquer tratado de dupla tributação. Embora nenhuma receita adicional
tenha sido relatada pelos países em relação a essas medidas, foi relatado que
em Israel algumas fiscalizações em curso estão sendo realizadas com base nas
diferentes interpretações descritas nas diretrizes administrativas.
As medidas sugeridas pela OCDE vão inevitavelmente impactar as tradi-
cionais regras de tributação internacional atualmente vigentes, na medida que
há uma ênfase significativa na tributação na fonte, privilegiando-se o princí-
pio do destino. Há algumas razões, entretanto, que demonstram o possível
insucesso das soluções sugeridas pela OCDE. Dentre elas, a dificuldade de
adequação dos tratados internacionais vigentes ao conceito de presença digi-
tal significativa para fins de configuração de um estabelecimento permanente
virtual inevitavelmente se associará a um alto custo de compliance para aten-
dimento das soluções sugeridas. Isso porque a instituição de eventual novo tri-
buto necessariamente estará associada a um significativo custo de compliance
para as pessoas jurídicas contribuintes do imposto, diante da necessidade de
adaptação de sistemas e obrigações acessórias capazes de prover informações
ao Fisco. A complexidade na implementação das medidas sugeridas enfra-
quece sua eficácia, além de ser mais um instrumento de insegurança jurídica.
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Localização do site: a empresa estrangeira emprega um site com recursos localizados direcionados
ao mercado israelense (por exemplo, idioma hebraico, descontos e marketing locais, moeda local e
opções de pagamento);
Modelo de negócios internacional: a empresa gera receita significativa que está intimamente
relacionada ao volume de atividades online realizadas por usuários localizados em Israel.
A redação da Circular indica que os critérios de “presença digital” listados podem ser aplicados
separadamente ou cumulativamente, sem exigência de limite de receita com base nas vendas locais.
369 “151. In order to tap tax on income accruing to foreign e-commerce companies from India, it is proposed
that a person making payment to a nonresident, who does not have a permanent establishment,
exceeding in aggregate `1 lakh in a year, as consideration for online advertisement, will withhold tax at
6% of gross amount paid, as Equalization levy. The levy will only apply to B2B transactions.”
Budget 2016–2017, Speech of Arun Jaitley, Minister of Finance
https://www.indiabudget.gov.in/ub2016-17/bs/bs.pdf
Acesso em 06 de maio de 2018.
370 Outros países também instituíram tributos alcançando as atividades de publicidade, tais como:
França (tax
on online and physical distribution of audio-visual content), Itália (levy on digital transactions),
Hungria (advertisement tax).
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Tax Challenges of the Digital
Economy in Brazil
1. Introduction
There are several tax challenges for the digital economy in Brazil. Al-
though the taxation of the digital economy in Brazil poses challenges that are
372 Professor Adjunto de Direito Financeiro da UERJ. Doutor e Mestre em Direito Público pela UERJ.
Procurador do Município do Rio de Janeiro. Advogado.
373 Pós-Graduado Latu Sensu em Direito Fiscal pela PUC/RJ, Mestre em Direito Constitucional pela
UFF/RJ e Doutorando em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento na UERJ. Advogado.
271
Tributação da Economia Digital
very specific due to the particular features of Brazil’s tax system, it somewhat
reflects the tax challenges raised by the digital economy worldwide.
Taxing the digital economy in Brazil raises three main questions. The
first is whether digital goods can be taxed and, if so, who is entitled to charge
the taxes on digital transactions – Federal or State Local level. Another ques-
tion concerns the criterion to be used in defining whether the tax will be paid
in the seller’s jurisdiction (origin) or the consumer’s jurisdiction (destination).
The first question as to whether digital goods should be taxed is a rele-
vant one because the Brazilian Constitution assigns governments at federal,
state and municipal levels the authority to tax based on concepts of the indus-
trial society that take into account tangible assets.
The Brazilian Constitution has adopted an inflexible system of distribu-
tion of taxing power. The Federal government charges taxes on industrialized
products (IPI), whereas the State governments charge taxes on the circulation
of goods, provision of interstate and inter-municipal transportation and com-
munications services (ICMS). City governments charge taxes on the provision
of services (ISS). The municipal tax is generally charged by the city in which
the taxpayer provides the service. However, in exceptional cases, ISS must be
charged by the city where the service is performed.
The criterion adopted in Brazil is not the same as the one used in most
countries, where consumption tax is based on the notion of value added tax,
regardless of how such value is created: whether through the sale of goods or
the provision of services.
The fine line between what is sale of goods and what is provision of service
has already been at the center of the debate between City and State governments,
374
even prior to the spread of the digital economy. In today’s scenario, with the
raise of the digital economy worldwide, this debate is bound to be fiercer.
Brazilian fiscal federalism also has not been enough to guarantee states and
cities their own necessary resources for the functions and responsibilities that
have been assigned to them. The federal government concentrates the substantial
374 Feitosa, Maurine Morgan Pimentel. O conflito de competência entre o ISS e o ICMS-Comunicação
no rastreamento de veículos. In: Campos, Carlos Alexandre de Azevedo; Ibrahim, Fábio Zambitte;
Oliveira, Gustavo da Gama Vital. (org) Estudos de federalismo e guerra fiscal. Rio de Janeiro:
Gramma, 2017, v. 1, p. 175-216.
272
Tributação da Economia Digital
amount of tax resources and has concentrated its tax collection on contributions
whose revenues are not shared with states and cities.375 States and municipalities
become financially dependent on transfers from the central government.376
This scenario poses a real imbalance between tax revenues and respon-
sibilities assigned by the Constitution and generates many conflicts between
subnational entities. This results in harmful tax competition, also known as
“tax war” in Brazil.377 The taxation of the digital economy in Brazil must be
understood with respect to this reality.
375 Alves, Raquel de Andrade Vieira. Federalismo fiscal brasileiro e as contribuições. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2017.
376 Oliveira, Gustavo da Gama Vital. Reforma tributária e federalismo fiscal. In: Paula, Daniel Giotti; Ribeiro,
Ricardo Lodi (org.). (Org.). Direito tributário inclusivo. 1ed.Rio de Janeiro: multifoco, 2016, p. 123-139.
377 Pencak, Nina. Sobre a (in)constitucionalidade dos benefícios fiscais de ICMS concedidos sem
convênio. In: Campos, Carlos Alexandre de Azevedo; Ibrahim, Fábio Zambitte; Oliveira, Gustavo
da Gama Vital. (org) Estudos de federalismo e guerra fiscal, v. 1, Rio de Janeiro: Gramma, 2017.
378 RE 176626.
379 MC ADI 1945.
273
Tributação da Economia Digital
380 Supplementary Law 116/03, item 1.05 – “software licensing or assignment of use rights”
381 Article 146, III.
382 For more information about the issue, Oliveira, Gustavo da Gama Vital de. Federalismo
fiscal, jurisdição constitucional e conflitos de competência em matéria tributária: o papel da lei
complementar. In: Temas de federalismo fiscal brasileiro. Rio de Janeiro: Gramma, 2016, p. 95-119.
383 Macedo, Alberto. ISS versus ICMS-Mercadoria: Licenciamento de Software e a Impossibilidade
do Avanço do Conceito Constitucional de Mercadoria Como Bem Imaterial. In: Macedo, Alberto;
AGUIRREZÁBAL, Rafael; Pinto, Sérgio Luiz de Moraes; Araújo, Wilson José de (Coord.). Gestão
Tributária Municipal e Tributos Municipais. Vol.6. São Paulo: Ed. Quartier Latin, 2017, p.57-99.
384 CONFAZ is a committee which coordinates tax regulation regarding state tax ICMS.
385 Agreement n. 181/2015.
274
Tributação da Economia Digital
A fiscal war between State and City governments concerning the taxation of
software has been recently declared in the major Brazilian state, São Paulo. Both
the São Paulo State government and the São Paulo City government have already
voiced their intention to tax software transactions. The state of São Paulo enacted
Decree no. 63099/2017 and the Normative Decision CAT 04/2017 expressing that
ICMS can be levied in transactions involving any type of software, including sof-
tware that is not distributed on a physical store.
Almost at the same time, the Municipality of São Paulo published Normati-
ve Opinion SF 01/2017, which established that under Supplementary Law 116/13,
transactions involving software are subject to the municipal tax on the provision
of services (ISS). The decision also explains that the ISS must be collected if the
software is standardized (“off the shelf”) or the software was adapted to the spe-
cific needs of the consumer. It also ruled that the ISS must be charged even when
the software is installed from an external server (“Software as a Service – SaaS”).
The scenario became even more complex in 2016, after Supplementary
Law 157/16, which added several technological services to the list that allo-
wed the Municipality to charge municipal tax. These new services includes
storage of data, texts, images, videos, applications, websites, apps (including
cloud services) and the provision of video, audio, text content and image via
internet through streaming.386
This would make software companies subject to double taxation, which is
banned by the Brazilian Constitution. Under Brazil’s tax system, the same taxable
event cannot be subject to both the municipal service tax and the state sales tax.
This scenario presents two important problems. On the one hand, com-
panies engaged in the software market have the fiscal costs of their products
increased and this represents unnecessary expense that could be avoided
should there be clarity on the subject. On the other hand, the final price of
software is pushed up by taxes, and this can harm thousands of consumers
throughout the country.
To give an idea of the impact of software sales in Brazil, the “2017 Brazi-
lian Software and Service Market” study carried out by the Brazilian Associa-
tion of Software Companies in partnership with International Data Corpora-
386 For more details, Piscitelli, T..; Canen, D. . Taxation of Cloud Computing in Brazil: Legal and
Judicial Uncertainties. BULLETIN FOR INTERNATIONAL TAXATION, v. 72, p. 72-79, 2018.
275
Tributação da Economia Digital
tion shows that the Brazilian IT market which includes software, hardware,
services and exports – reached 39.6 billion dollars in 2016, accounting for
2.1% of Brazil’s GDP and 1.9% of the world’s IT investment.
The controversy over which tax is to be levied – state or municipal tax
– on transactions involving software is only expected to be solved after the
Brazilian Supreme Court (STF) issues a ruling on the subject. This may take a
while, which will add to the already existing legal uncertainty.
276
Tributação da Economia Digital
4. Origin x destination
The second problem that taxing the digital economy raises in Brazil concerns
the criterion to be used when defining whether the tax will be collected in the ju-
risdiction of the seller (origin) or in the jurisdiction of the consumer (destination).
An intense debate on this subject has already taken place with respect to
the sale of merchandise through the internet. In this case, there was no doubt:
the tax levied on the transaction was clearly the state sales tax. But the problem
was that the Brazilian Constitution used to provide that the State tax was to be
collected in the State of origin, regardless of the final destination of the goods.
Because companies that sell online are mostly located in Brazil’s major
economic centers (especially São Paulo and Rio de Janeiro), the other states
started claiming that the rule was unfair because tax revenues were concen-
trated in the richest states.
In reaction to this scenario, 19 States approved in 2011 the Protocol
CONFAZ 21,388 assuring for the state of destination an ICMS share, resul-
ting in potential double taxation for e-commerce sellers, because the State of
origin continued to tax the transaction as the Federal Constitution provides.
277
Tributação da Economia Digital
278
Tributação da Economia Digital
279
Tributação da Economia Digital
retailers for violating the law. South Dakota argued that the Quill decision did
not make sense in the digital era, and the major practical problem it had iden-
tified – that it would be burdensome for out-of-state retailers to collect taxes
for thousands of local jurisdictions – had been solved by modern software.
But the internet merchants argued that a ruling against them would impo-
se burdens on small online merchants.394 They said that a national solution
should come from Congress rather than the Supreme Court.
Four justices dissented from the decision. Justice Roberts mentioned that
any alteration of the rules in e-commerce, including the physical-presence
rule, should be undertaken by Congress. He also mentioned concerns about
the costs that the new decision of the Court will impose on small business.395
394 The Supreme Court, in the opinion wrote by Justice Kennedy, mentioned the issue: “But the
administrative costs of compliance, especially in the modern economy with its Internet technology,
are largely unrelated to whether a company happens to have a physical presence in a State. For
example, a business with one salesperson in each State must collect sales taxes in every jurisdiction
in which goods are delivered; but a business with 500 salespersons in one central location and a
website accessible in every State need not collect sales taxes on otherwise identical nationwide sales.
In other words, under Quill, a small company with diverse physical presence might be equally
or more burdened by compliance costs than a large remote seller. The physical presence rule is a
poor proxy for the compliance costs faced by companies that do business in multiple States. Other
aspects of the Court’s doctrine can better and more accurately address any potential burdens on
interstate commerce, whether or not Quill’s physical presence rule is satisfied.”
395 “The burden will fall disproportionately on small businesses. One vitalizing effect of the Internet
has beenconnecting small, even “micro” businesses to potential buyers across the Nation. People
starting a businessselling their embroidered pillowcases or carved decoys can offer their wares
throughout the country—but probably not if they have to figure out the tax due on every sale.”
280
Tributação da Economia Digital
396 For more details, see Bal, Aleksandra & Gutiérrez, Carlos, “Taxation of the Digital Economy”,
Madalina Cotrut (ed.), International Tax Structures in the BEPS Era: An Analysis of Anti-Abuse
Measures (Amsterdam: IBFD, 2015) pp. 249-280.
397 On this topic, about the relations between Action 1 and Brazil, see Rocha, Sérgio André. Brazil´s
International Tax Policy. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017, p. 212 : “This Action is definitely of
interest to Brazil. More and more companies of the digital economy are doing business in the
country without paying taxes there. This issue is capturing the attention of tax authorities, who
have manifested the intention of creating specific rules to deal with this issue in the future.”
398 OECD (2015), Addressing the Tax Challenges of the Digital Economy, Action 1 - 2015 Final
Report, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris, https://
doi.org/10.1787/9789264241046-en: “(i) imports of low value parcels from online sales which are
treated as VAT-exempt in many jurisdictions, and (ii) the strong growth in the trade of services and
intangibles, particularly sales to private consumers, on which often no or an inappropriately low
amount of VAT is levied due to the complexity of enforcing VAT-payment on such supplies”.
399 OECD (2017), International VAT/GST Guidelines, OECD Publishing, Paris, https://doi.
org/10.1787/9789264271401-en. 3.129. “(...) these Guidelines recommend the implementation of a
reverse charge mechanism to minimise the administrative burden and complexity for non-resident
suppliers, where this is consistent with the overall design of the national VAT system. 3.132. (…)
Where traditional registration and compliance procedures are complex, their application for non-
resident suppliers of business-to-consumer services and intangibles would risk creating barriers
that may lead to non-compliance or to certain suppliers declining to serve customers in jurisdictions
that impose such burdens.”
400 OECD (2018), Tax Challenges Arising from Digitalisation – Interim Report 2018: Inclusive
Framework on BEPS, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris,
https://doi.org/10.1787/9789264293083-en. “293. (...)Therefore, the 2015 BEPS Action 1 Report
recommends that the foreign supplier be allowed to register for VAT in the market jurisdiction
under a simplified registration and compliance regime.”
281
Tributação da Economia Digital
that digital business must be taxed where businesses have significant interac-
tion with users through digital channels, even if a company does not have a
physical presence there.401
It is also very important, when it comes to evaluating tax challenges of
the digital economy, to look for the contribution of constitutional law. In this
way, in 2016, The Venice Commission adopted the document “Rule of law
checklist” to identify common features of the rule of law. When it comes to
legality, the Venice Commission stressed that is important to consider the di-
fficulty in implementing the law before adopting it.402
Conclusion
Although the taxation of the digital economy in Brazil poses challenges that
are very specific due to the particular features of Brazil’s tax system, it somewhat
reflects the tax challenges raised by the digital economy worldwide. After all, ori-
gin, destination, fairness, safety, practicability, and simplification of taxation are
universal topics that have always affected taxation. The spread of the digital eco-
nomy only puts the conflicts involving such concepts in the spotlight.
401 European Commission – 2018 – Council Directive laying down rules relating to the corporate
taxation of a significant digital presence. Brussels, 21.3.2018. COM (2018) 147 final. https://ec.europa.
eu/info/law/better-regulation/initiatives/com-2018-147_en “Article 1 Subject matter - This Directive
lays down rules extending the concept of a permanent establishment, as it applies for the purposes of
corporate tax in each Member State, so as to include a significant digital presence through which a
business is wholly or partly carried on. This Directive also establishes certain principles for attributing
profits to or in respect of a significant digital presence for corporate tax purposes.”
402 European Commission for democracy through law (Venice Commission). Rule of law checklist. March
2016: “54. Obstacles to the effective implementation of the law can occur not only due to the illegal or
negligent action of authorities, but also because the quality of legislation makes it difficult to implement.
Therefore, assessing whether the law is implementable in practice before adopting it, as well as checking
a posteriori whether it may be and is effectively applied is very important. This means that ex ante and ex
post legislative evaluation has to be performed when addressing the issue of the Rule of Law.”
282
Tributação da Economia Digital
References
Bal, Aleksandra & Gutiérrez, Carlos, “Taxation of the Digital Economy”, Ma-
dalina Cotrut (ed.), International Tax Structures in the BEPS Era: An Analysis
of Anti-Abuse Measures (Amsterdam: IBFD, 2015) pp. 249-280.
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Rothfield, Charles. Quill: Confusing the Commerce Clause, 3 ST. TAX NO-
TES 111, 115 & n.47 (1992).
284
Tributação das Plataformas
Digitais de “Hospedagem”
Resumo:
Nos últimos anos, assistiu-se ao expressivo desenvolvimento da eco-
nomia compartilhada impulsionada pela digitalização da economia. Neste
contexto, o compartilhamento de imóveis via plataformas digitais represen-
ta alternativa ao setor de hospedagem tradicional, chamando a atenção para
a tributação da atividade. O presente artigo busca tratar do enquadramento
tributário da atividade no ordenamento pátrio, se configura serviço, sua qua-
lificação e a tributação pelo ISS.
PALAVRAS-CHAVE: Tributação. Plataforma digital. Hospedagem.
Abstract
In recent years, we have witnessed the expressive development of the
sharing economy driven by the digitalization of the economy. In this context,
the sharing of real estate through digital platforms represents an alternative
to the traditional accommodation sector, drawing attention to the taxation
of the activity. The present article seeks to deal with the tax framework of the
activity in the country’s legal order, if it configures service, its qualification
and taxation by the ISS.
KEYWORDS: Taxation. Digital Platform. Accommodation.
403 Mestre em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ). Pós-graduado em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ). Professor
convidado da Pós-Graduação IBMEC. Procurador do Município do Rio de Janeiro. Advogado.
285
Tributação da Economia Digital
Sumário
1. Introdução. 2. Serviço de hospedagem. 3. Serviço de intermediação. 4.
Conclusão. Referências bibliográficas.
1. Introdução
Nos últimos anos, sobretudo em razão do contexto de expressiva digita-
lização da economia,404 assistiu-se ao desenvolvimento da economia compar-
tilhada, que tem como ideia central o compartilhamento de ativos ou recursos
excedentes, afetando mercados então consolidados, retirando os tradicionais
agentes da “zona de conforto” e favorecendo os consumidores/usuários ao dis-
ponibilizar alternativas. Assim:
A economia colaborativa surge em um contexto econômico-social di-
nâmico e, conduzida pelo progresso tecnológico, encontra-se em notá-
vel expansão. A proposta é voltada ao ideal do compartilhamento de
bens e serviços em contrapartida ao hiperconsumismo e manifesta-se
das mais variadas formas, via de regra, por meio das plataformas digi-
tais peer-to-peer [...] É um fenômeno criador de mercados que permite
a troca de bens e o surgimento de novos serviços, resultando em altos
níveis de atividade econômica, incentivando o empreendedorismo e a
utilização plena da capacidade de bens e serviços, além disso, é estru-
turada de forma descentralizada e não hierarquizada e monopolizada.
O padrão peer-to-peer permite uma relação mais pessoal entre o forne-
cedor do bem ou serviço e o consumidor.405
404 Sobre um panorama dos desafios da tributação da economia digital, ver: OLIVEIRA, Gustavo da
Gama Vital; PINTO, Felipe Kertesz Renault. Tax Challenges of the digital economy in Brazil. In:
Revista de Direito Internacional Econômico e Tributário, v. 13, no 1, p. 449-466, jan. /jun. 2018.
405 PAYÃO, Jordana Vianna; VITA, Jonathan Barros. Desafios regulatórios do Caso Airbnb: a
intervenção do Estado no modelo econômico colaborativo. In: Revista Justiça do Direito, v. 32, n. 1,
p. 203-230, jan./abr. 2018. p. 209.
286
Tributação da Economia Digital
dar uma reposta conclusiva, mas sim trazer pontos que possam contribuir
para o estudo da tributação da atividade.
Sobre como se desenvolve a atividade, cumpre transcrever explicação de
Leonardo Aguirra de Andrade:
De maneira geral, as empresas detentoras de plataforma virtual asso-
ciada ao serviço de hospedagem disponibilizam uma plataforma online
para que os proprietários de imóveis anunciem sua locação e, por outro
lado, os indivíduos interessados (turistas-locatários) possam obter in-
formações sobre tais imóveis, seus respectivos bairros, relatos pessoais
(“reviews” ou depoimentos) de turistas-locatários que anteriormente
tenham realizado a sua locação.406
406 ANDRADE, Leonardo Aguirra de. Tributação de negócios desenvolvidos por meio de aplicativos
associados aos serviços de hospedagem no Brasil. In: MONTEIRO, Alexandre; FARIA, Renato;
MAITTO, Ricardo. (Coord.). Tributação da economia digital: desafios no Brasil, experiência
internacional e novas perspectivas. p. 742-459. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 745.
407 ANDRADE, Leonardo Aguirra de. Tributação de negócios desenvolvidos por meio de aplicativos
associados aos serviços de hospedagem no Brasil. In: MONTEIRO, Alexandre; FARIA, Renato;
MAITTO, Ricardo. (Coord.). Tributação da economia digital: desafios no Brasil, experiência
internacional e novas perspectivas. p. 742-459. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 745.
408 Existem outros, como “Housetrip” e “Homeaway”.
287
Tributação da Economia Digital
Visto que é uma atividade que movimenta recursos vultosos, com gran-
de fôlego econômico, natural que se pense na tributação;410 não é peculiari-
dade nacional, eis que a tributação da atividade já é realidade ou é estudada
em Estados estrangeiros.411 Há notícia, inclusive, de que a Airbnb concluiu
acordos com fiscos estrangeiros para tratar do recolhimento de tributos, por
exemplo, com unidades político-administrativas da França, dos Estados Uni-
dos412 e de Portugal,413 caminho de consensualidade que também poderia ser
estudado no Brasil, embora demande mudanças significativas na forma de
compreensão da tributação no ordenamento pátrio, alteração de paradigma,
o que não seria algo a ser dirimido no curto prazo. Acresce-se que a própria
409 PAYÃO, Jordana Vianna; VITA, Jonathan Barros. Desafios regulatórios do Caso Airbnb: a
intervenção do Estado no modelo econômico colaborativo. In: Revista Justiça do Direito, v. 32, n. 1,
p. 203-230, jan./abr. 2018. p. 214.
410 GONZALES, J. S. Spanish Finance Ministry to introduce digital tax for firms like Airbnb
and Uber. El País. 8 de out. de 2018. Disponível em: <https://elpais.com/elpais/2018/10/05/
inenglish/1538741424_819871.html>. Acesso em: 16 out. 2018.
411 RONCOLATO, Murilo. O que diz a primeira regulação brasileira para apps como Airbnb. Nexo Jornal.
24 de jan. de 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/01/24/O-que-diz-a-
primeira-regula%C3%A7%C3%A3o-brasileira-para-apps-como-Airbnb>. Acesso em: 16 out. 2018.
412 SOMERVILLE, Heather. Airbnb assina novos acordos para cobrança de impostos nos EUA e
na França. Reuters Brasil. 12 de abril de 2017. Disponível em: <https://br.reuters.com/article/
internetNews/idBRKBN17E1HK-OBRIN. > Acesso em: 16 out. 2018.
413 LUSA. Airbnb cobrou em Lisboa quase 6 milhões de euros em taxa turística desde Abril de 2016.
Jornal de Negócios. 14 de abril de 2018. Disponível em: <https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/
turismo---lazer/detalhe/airbnb-cobrou-em-lisboa-quase-6-milhoes-de-euros--em-taxa-turistica-
desde-abril-de-2016>. Acesso em: 31 dez. 2018.
288
Tributação da Economia Digital
414 AIRBNB. O que é imposto de ocupação? Eu preciso cobrá-lo ou pagá-lo? Disponível em: < https://
www.airbnb.com.br/help/article/654/what-is-occupancy-tax--do-i-need-to-collect-or-pay-
it?ibbe=1> Acesso em: 16 out. 2018.
415 Cumpre mencionar que o Airbnb firmou um acordo com o Município de Porto Seguro se
comprometendo com o pagamento de valor por diária (R$ 2,60 por noite) a um fundo municipal
destinado ao turismo. AQUINO, Carol. Porto Seguro: Airbnb passa a cobrar ‘taxa de sustentabilidade’
de usuários. Correio 24 horas.20 de abril de 2018. Disponível em: < https://www.correio24horas.
com.br/noticia/nid/porto-seguro-airbnb-passa-a-cobrar-taxa-de-sustentabilidade-de-usuarios/.>
Acesso em: 29 dez. 2018.
416 RONCOLATO, Murilo. O que diz a primeira regulação brasileira para apps como Airbnb. Nexo Jornal.
24 de jan. de 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/01/24/O-que-diz-a-
primeira-regula%C3%A7%C3%A3o-brasileira-para-apps-como-Airbnb>. Acesso em: 16 out. 2018.
417 PAYÃO, Jordana Vianna; VITA, Jonathan Barros. Desafios regulatórios do Caso Airbnb: a
intervenção do Estado no modelo econômico colaborativo. In: Revista Justiça do Direito, v. 32, n. 1,
p. 203-230, jan./abr. 2018. p. 215.
418 ROZA. Airbnb se posiciona a respeito do novo marco legal da economia colaborativa e tributação
de app de hospedagem. Eu Anfitrião. 2 de abril de 2018. Disponível em: <https://euanfitriao.
com/2018/04/02/airbnb-se-posiciona-a-respeito-do-novo-marco-legal-da-economia-colaborativa-
e-tributacao-de-app-de-hospedagem/#.W8Xjvi_Orm0>. Acesso em: 16 out. 2018.
289
Tributação da Economia Digital
2. Serviço de hospedagem
Uma primeira via no campo da incidência do ISS seria vislumbrar a ativi-
dade como um todo (pessoa oferecendo o imóvel com o auxílio da plataforma
digital), ou seja, que haveria o serviço de hospedagem ou congênere, cuja tribu-
tação já é permitida pela lista anexa da Lei Complementar nº 116 de 2003 e, ade-
mais autorizada por uma interpretação extensiva. Nesse sentido, o Município
de Caldas Novas ao editar sua lei municipal (Lei Complementar no 99/2017).419
Na Lei Complementar nº 116 de 2003, há a previsão de ISS relativo aos
serviços de hospedagem, turismo, viagens e congêneres (item 9 e subitem 9.01
da lista anexa), confira-se:
9 – Serviços relativos a hospedagem, turismo, viagens e congêneres.
9.01 – Hospedagem de qualquer natureza em hotéis, apart-service con-
dominiais, flat, apart-hotéis, hotéis residência, residence-service, suite
service, hotelaria marítima, motéis, pensões e congêneres; ocupação
por temporada com fornecimento de serviço (o valor da alimentação
e gorjeta, quando incluído no preço da diária, fica sujeito ao Imposto
Sobre Serviços).
419
Disponível em: <https://www.caldasnovas.go.gov.br/wp-content/uploads/2018/08/Lei-
Complementar-099-2017.pdf.> Acesso em: 16 out. 2018.
290
Tributação da Economia Digital
420 BAPTISTA, Marcelo Caron. ISS: do texto à norma. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 326.
421 RE 651703, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-086 DIVULG 25-04-2017 PUBLIC 26-04-2017.
291
Tributação da Economia Digital
gem, conforme pontos distintivos trazidos pela doutrina entre a locação de bem
imóvel e a hospedagem. Neste sentido, Marcelo Caron Baptista leciona que:
A relação entre o estabelecimento e o hóspede não se direciona a uma pres-
tação de dar (locação de espaço) mas à prestação de serviço, que envol-
ve uma série de atos humanos, tais como a higienização e arrumação
do quarto, o carregamento de bagagem, o fornecimento de refeições
e bebidas, serviços de lavanderia, portaria, recepção, manobrista, etc.
Igualmente, envolve acesso a outras facilidades e bens, tais como pis-
cina, biblioteca, equipamento de televisão, aquecimento etc. A essência
da prestação está no fazer, que se exterioriza em uma série de utilidades
voltadas ao bem-estar temporário do hóspede.422 (grifos nossos)
422 BAPTISTA, Marcelo Caron. ISS: do texto à norma. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 326.
423 PATROCÍNIO, José Antônio. ISS: teoria, prática e jurisprudência: lei complementar 116/2003
anotada e comentada. 4 ed. Ver. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 310.
292
Tributação da Economia Digital
424 PISCITELLI, Thatiane. Tributação da Economia compartilhada: caso das plataformas digitais de
transporte e hospedagem sob a perspectiva do ISS. In: PISCITELLI, Thatiane (Coord.). Tributação
da economia digital. p. 416-429. São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2018. p. 429.
293
Tributação da Economia Digital
não tendo amparo na Lei Complementar nº 116 de 2003 nem no art. 156, inci-
so III da Constituição Federal de 1988.
Não obstante, vale ressaltar que o Município de Caldas Novas/GO tratou
a atividade como serviço de hospedagem.425 Mais ainda, como versou o serviço
como hospedagem, também previu que os imóveis estão sujeitos à “Taxa Anu-
al de Funcionamento” (“Lei Complementar Municipal” no 99/2017, art. 9o).
Assim, cumpre trazer algumas considerações sobre instituição de taxa para
situações como a que se apresenta.
Fiscalizar as unidades de acomodações, em especial nos casos em que a
cessão é parcial do espaço total do imóvel (ex. locação de um dos cômodos de
uma casa) poderia caminhar para intervenção excessiva do Estado na proprie-
dade privada e na livre iniciativa, dificilmente passando pelos testes do prin-
cípio constitucional da proporcionalidade. Não parece que o melhor caminho
seja a fiscalização das acomodações em si, com exigência de obediências às
regulamentações locais, vistorias, diligências e expedição de licenças.426
O excedente de acomodação que gera o oferecimento via plataformas
digitais não parece ser compatível com uma licença para “estabelecimento
prestador de serviço”, com a consequente expedição de alvará. A intervenção
na propriedade privada aparentaria ser excessiva, lesando de forma grave e
desproporcional a livre iniciativa no aproveitamento do excedente.
Nesta toada, alude-se também ao Município de Ubatuba/SP, que aprovou
lei (Lei Municipal n. 4.050/2017) restringindo o compartilhamento de imó-
veis.427 Inicialmente, a lei qualifica equivocadamente a atividade como “Bed
and Breakfest”. Prosseguindo, dentre outras exigências, para que se possa ofe-
recer imóvel para compartilhamento, estabelece que: seja constituída empresa
com esta finalidade, tenha licença de funcionamento e cadastro no Ministério
do Turismo na modalidade “Cama e Café”, tenha seguro de responsabilida-
de civil para os hóspedes e sejam entregues relatórios mensais de atividades.
425
Disponível em: <https://www.caldasnovas.go.gov.br/wp-content/uploads/2018/08/Lei-
Complementar-099-2017.pdf.> Acesso em: 16 out. 2018.
426 Todavia, o Município de Caldas Novas estabeleceu este regime, exigindo inclusive licença (art. 5o
da “Lei Complementar Municipal’ no 99/2017: Disponível em: <https://www.caldasnovas.go.gov.br/
wp-content/uploads/2018/08/Lei-Complementar-099-2017.pdf.> Acesso em: 16 out. 2018.
427 Para conferir a íntegra da lei, ver o site da Câmara Municipal de Ubatuba. Disponível em: <http://
camaraubatuba.sp.gov.br/documentos/leis/2017/l_4050_2017.pdf>. Acesso em 31 dez. 2018.
294
Tributação da Economia Digital
Além disso, exige que as plataformas digitais que busquem intermediar aco-
modações tenham cadastro junto ao Município.
Em que pese as preocupações e os desafios que surgem com as tecnologias
disruptivas, como a que se estuda, iniciativas que busquem desqualificar as ino-
vações e tentem enquadra-las em modelos que são inadequados não parece ser
o caminho. Mais ainda, a impressão que se passa é que a regulamentação tra-
zida veio justamente para conter o modelo de economia de compartilhamento,
valendo-se de modelos tradicionais com o objetivo de inviabilizar a atividade.
Isso representa atraso econômico e cultural, tal como tentar levantar um “muro
contra o futuro”.428 A regulamentação implica grave restrição ao direito de pro-
priedade dos proprietários de imóveis que busquem oferecer seus imóveis à lo-
cação, praticamente inviabilizando o aproveitamento por compartilhamento de
excedentes de acomodações, afetando, inclusive, a livre iniciativa no âmbito da
ordem econômica ao restringir intensamente este modelo de economia de com-
partilhamento. Não parece passar pelos testes de proporcionalidade.
Cumpre aludir que, no final do ano de 2018, cerca de 1 (um) ano após
a aprovação da referida lei, foi encaminhado projeto de lei (Projeto de Lei n.
131/2018)429 recuando no tratamento da matéria, inclusive com previsão de
revogação expressa da lei anterior. O projeto de lei busca alcançar os meios de
hospedagem em que haja o fornecimento de acomodações com o fornecimen-
to de serviços, o que implica não atingir, em regra, os imóveis compartilhados
por meio de plataformas digitais. De toda forma, o tratamento da matéria é
mais enxuto, prevendo a necessidade de cadastro municipal, mas com regula-
mentação muito mais contida do que a anterior, sem exigência de constituição
de empresa, licença e seguro de responsabilidade civil. O projeto de lei foi
aprovado, o que implica revogação da infeliz e inadequada lei anterior.430
428 Sobre a iniciativa, ver: CARLOS, Regis. Ubatuba taxa proprietários que alugam casas para temporada.
O Estado de São Paulo. 14 de jan. de 2018. Disponível em: <https://sao-paulo.estadao.com.br/
noticias/geral,ubatuba-taxa-proprietarios-que-alugam-casas-para-temporada,70002150408>.
Acesso em: 31 dez. 2018.
429 Para conferir a íntegra da lei, ver o site da Câmara Municipal de Ubatuba. Disponível em: < http://
camaraubatuba.sp.gov.br/documentos/projeto_lei/2018/pl_131_2018.pdf>. Acesso em 31 dez. 2018.
430 BUONO, Marcel. Ubatuba (SP) recua em regulação sobre aluguéis de temporada. Panrotas. 19 dez.
2018. Disponível: <https://www.panrotas.com.br/hotelaria/mercado/2018/12/ubatuba-sp-recua-
em-regulacao-sobre-alugueis-de-temporada_161150.html>. Acesso em 31 dez. 2018.
295
Tributação da Economia Digital
3. Serviço de intermediação
Outra via seria pensar que a atividade exercida por estas plataformas seja
de intermediação. Neste sentido, Tathiane Piscitelli:
Os dois negócios jurídicos brevemente descritos [compartilhamento de
serviços de transporte e compartilhamento de imóveis a partir de plata-
formas digitais] revelam o mesmo tipo de relação jurídica: de um lado,
pessoas físicas ou jurídicas possuem um bem ou uma utilidade que de-
sejam disponibilizar ao maior número de pessoas possíveis, mediante
o pagamento de determinada quantia. De outro, usuários que preten-
dem consumir ou ter acesso exatamente a esses bens ou utilidade. A
plataforma digital une esses interesses convergentes e, por isso, cobra
um percentual sobre a operação. Trata-se, claramente, de uma inter-
mediação comercial.431
431 PISCITELLI, Thatiane. Tributação da Economia compartilhada: caso das plataformas digitais de
transporte e hospedagem sob a perspectiva do ISS. In: PISCITELLI, Thatiane (Coord.). Tributação
da economia digital. p. 416-429. São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2018. p. 418.
296
Tributação da Economia Digital
432 MIRAGEM, Bruno; MARQUES, Claudia Lima. Economia do compartilhamento deve respeitar
os direitos do consumidor. Conjur. 23 de dez. de 2015. Disponível em: <https://www.conjur.com.
br/2015-dez-23/garantias-consumo-economia-compartilhamento-respeitar-direitos-consumidor>
Acesso em 16 out. 2018.
433 MIRAGEM, Bruno; MARQUES, Claudia Lima. Economia do compartilhamento deve respeitar
os direitos do consumidor. Conjur. 23 de dez. de 2015. Disponível em: <https://www.conjur.com.
br/2015-dez-23/garantias-consumo-economia-compartilhamento-respeitar-direitos-consumidor>
Acesso em 16 out. 2018.
297
Tributação da Economia Digital
298
Tributação da Economia Digital
436 Caso o imóvel seja locado com serviços acoplados típicos de hospedagem, poderia haveria a
configuração de intermediação prevista no subitem 9.02 da lista anexa.
437 Tathiane Piscitelli também sustenta o enquadramento como serviço de intermediação, indicando o
item 10, subitem 10.02 da lista anexa de serviços: PISCITELLI, Thatiane. Tributação da Economia
compartilhada: caso das plataformas digitais de transporte e hospedagem sob a perspectiva do
ISS. In: PISCITELLI, Thatiane (Coord.). Tributação da economia digital. p. 416-429. São Paulo:
Thompson Reuters Brasil, 2018. p. 421.
438 Para Tathiane Piscitelli: o enquadramento da atividade como agenciamento ou intermediação
em específico não possui relevância no âmbito tributário, eis que o ISS será devido com base na
lista anexa de serviços à Lei Complementar. PISCITELLI, Thatiane. Tributação da Economia
compartilhada: caso das plataformas digitais de transporte e hospedagem sob a perspectiva do
ISS. In: PISCITELLI, Thatiane (Coord.). Tributação da economia digital. p. 416-429. São Paulo:
Thompson Reuters Brasil, 2018. p. 419.
299
Tributação da Economia Digital
439 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1975. p. 50.
440 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1975. p. 390.
441 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1975. p. 776.
442 Nesse sentido: QUEIROZ, Luís Cesar Souza de. A importância da Constituição para a identificação
das espécies tributárias e produção das respectivas normas. In: FUX, Luiz; QUEIROZ, Luís Cesar
Souza de; ABRAHAM, Marcus (Org.). Tributação e justiça fiscal. Rio de Janeiro: LMJ Mundo
Jurídico, 2014. p. 75.
300
Tributação da Economia Digital
443 VELLOSO, Andrei Pitten. A imunidade tributária do livro digital: fundamentos e alcance. Revista
de Estudos Tributários, Porto Alegre, n. 83, jan-fev. 2012, p. 30.
444 ÁVILA, Humberto. Argumentação jurídica e a imunidade do livro eletrônico. Revista de Direito
Tributário, São Paulo, no 79, 2001. p. 181; RIBEIRO, Ricardo Lodi. Estudos sobre Direito Tributário:
tributos circulatórios. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018, v. 3, p. 197.
445 STF, RE 330817, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 08/03/2017,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-195 DIVULG 30-08-2017
PUBLIC 31-08-2017).
301
Tributação da Economia Digital
446 O STF possui reiterados julgados sobre o tema, cita-se alguns que ilustram bem o posicionamento
consolidado de longa data: RE 75952, Relator(a): Min. THOMPSON FLORES, Segunda Turma,
julgado em 29/10/1973, DJ 02-01-1974; RE 361829, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda
Turma, julgado em 13/12/2005.
447 Por todos, ver, sob o regime de recursos repetitivos, sobre o Decreto-lei 406 de 1968: REsp 1111234/
PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/09/2009, DJe 08/10/2009.
448 O STF reconheceu a repercussão geral sobre a discussão acerca da taxatividade da lista de serviços
(RE 784.439/DF), sendo que a tendência é reiterar este entendimento.
449 ANDRADE, Leonardo Aguirra de. Tributação de negócios desenvolvidos por meio de aplicativos
associados aos serviços de hospedagem no Brasil. In: MONTEIRO, Alexandre; FARIA, Renato;
MAITTO, Ricardo. (Coord.). Tributação da economia digital: desafios no Brasil, experiência
internacional e novas perspectivas. p. 742-459. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 748-749.
302
Tributação da Economia Digital
cura a acomodação, não havendo impedimento para que o ISS seja cobrado nas
duas pontas, se a remuneração estiver cindida entre os tomadores do serviço.
Outro aspecto importante é o argumento de livre concorrência, que deve
ser analisado com cautela.
É comum, ao estudar o tema se deparar com o argumento de que o setor
hoteleiro sofre o impacto do surgimento e da expansão das plataformas digitais
de “hospedagem” e que a tributação serviria como forma de equalizar o ônus
tributário incidente, evitando fator de desnivelamento na atuação no setor.450
De fato, é relevante a preocupação com a “igualdade na aplicação da lei
tributária”, com a proteção à livre concorrência. Todavia, isso deve ser anali-
sando com cautela. A base de cálculo não pode ser o total pago pela acomoda-
ção ou o total das diárias, ainda que assim o seja para o setor hoteleiro.451 Se
o serviço objeto de tributação é a intermediação, a remuneração recebida por
este serviço configura o seu preço, base de cálculo do ISS, não podendo ser
desconsiderada por invocação à igualdade concorrencial com o setor hotelei-
ro, eis que as atividades são distintas. Então, a livre concorrência não pode ser
invocada para “igualar” o ônus tributário (ISS).
Acrescente-se que, mesmo que não se trate de nova lei, mas sim de nova
leitura dos subitens 10.05 ou 10.02, é relevante levar em consideração a se-
gurança jurídica temporal (ou princípio da não surpresa), ao se pensar em
aplicar esta interpretação ao passado.
Por fim, ponto relevante que precisa ser bem avaliado é a questão do
Município competente (aspecto espacial e sujeito ativo). Embora alvo de fre-
quentes e inúmeras controvérsias, a regra é que o Município competente é
o do estabelecimento do prestador de serviço, ou seja, aquele local onde o
contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente
450 Sobre a pressão do setor hoteleiro, ver: SANTOS, Raiza O. Airbnb responde emenda que tributa
plataformas online de hospedagem em Fortaleza (CE). Revista Hotéis. 17 de nov. de 2017. Disponível
em: <http://www.revistahoteis.com.br/airbnb-responde-emenda-que-tributa-plataformas-online-
de-hospedagem-em-fortaleza-ce/ .> Acesso em: 16 out. 2018; CARLOS, Regis. Ubatuba taxa
proprietários que alugam casas para temporada. O Estado de São Paulo. 14 de jan. de 2018. Disponível
em: <https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,ubatuba-taxa-proprietarios-que-alugam-casas-
para-temporada,70002150408>. Acesso em: 31 dez. 2018.
451 Há ADI proposta pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis que questiona a incidência de
ISS sobre total da diária paga a hotéis, buscando a não incidência sobre a parcela que seria referente
à locação da acomodação (STF, ADI 5.764, Rel. Min. Marco Aurélio).
303
Tributação da Economia Digital
4. Conclusão
A economia colaborativa e as inovações disruptivas desafiam a atuação
estatal e não possuem resposta imediata e simples.453 Em consonância com
o que foi apresentado, a atividade desenvolvida pelas plataformas digitais é
de prestação de serviço de intermediação de locação bens imóveis, atraindo
a incidência do ISS com base nos subitens10.05 ou 10.02 da lista anexa à Lei
Complementar no 116/2003.
Referências Bibliográficas
452 Para fins de aprofundamento, ver: ANDRADE, Leonardo Aguirra de. Tributação de negócios
desenvolvidos por meio de aplicativos associados aos serviços de hospedagem no Brasil. In:
MONTEIRO, Alexandre; FARIA, Renato; MAITTO, Ricardo. (Coord.). Tributação da economia
digital: desafios no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. p. 742-459. São Paulo:
Saraiva, 2018. Em especial, p. 749-754.
453 O Airbnb não disponibiliza apenas acomodações, mas também “experiências”, conectando
os interessados com os anfitriões das mais variados tipos de atividade, “retrato no fim de tarde
amazônico”, “degustação de vinhos em Curitiba”, etc., o que pode gerar eventual adequação ao
subitem 9.02 da lista anexa de serviços “9.02 – Agenciamento, organização, promoção, intermediação
e execução de programas de turismo, passeios, viagens, excursões, hospedagens e congêneres”.
304
Tributação da Economia Digital
BAPTISTA, Marcelo Caron. ISS: do texto à norma. São Paulo: Quartier Latin,
2005, p. 326.
CARLOS, Regis. Ubatuba taxa proprietários que alugam casas para tem-
porada. O Estado de São Paulo. 14 de jan. de 2018. Disponível em: <https://
sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,ubatuba-taxa-proprietarios-que-alu-
gam-casas-para-temporada,70002150408>. Acesso em: 31 dez. 2018.
GONZALES, J. S. Spanish Finance Ministry to introduce digital tax for firms like
Airbnb and Uber. El País. 8 de out. de 2018. Disponível em: <https://elpais.com/
elpais/2018/10/05/inenglish/1538741424_819871.html>. Acesso em: 16 out. 2018.
305
Tributação da Economia Digital
bnb-cobrou-em-lisboa-quase-6-milhoes-de-euros--em-taxa-turistica-desde-
-abril-de-2016>. Acesso em: 31 dez. 2018.
306
Tributação da Economia Digital
RONCOLATO, Murilo. O que diz a primeira regulação brasileira para apps como
Airbnb. Nexo Jornal. 24 de jan. de 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.
com.br/expresso/2018/01/24/O-que-diz-a-primeira-regula%C3%A7%C3%A3o-
-brasileira-para-apps-como-Airbnb>. Acesso em: 16 out. 2018.
307
Tributação, mídias sociais e big data:
qual o valor da informação?
Tatiana Junger454
Danielle Nascimento Nogueira de Souza455
1. Introdução
De acordo com dados recentes publicados pela UIT – União Internacio-
nal das Telecomunicações, bem assim pela inglesa BBC, o planeta tem cerca
de 3,2 bilhões de pessoas conectadas à rede de internet, dos quais a parcela de
brasileiros representa 49,5% da população nacional456.
Por meio dessa conexão, os indivíduos insertam nesse mundo digital
uma quantidade de dados imensurável, que revelam padrões e tendências de
naturezas muito diversas. O presente artigo, direcionando os olhos para as re-
309
Tributação da Economia Digital
457 “O outro não é o inimigo, o estrangeiro, mas um elemento naturalmente constitutivo do próprio
ser. A atividade de auto-criação do ser é constantemente comunhão e adesão. Ser “com os outros” é
uma extensão natural do “ser em si”. A dialéctica interioridade-exterioridade é imprescindível para
o próprio ser “em si”, porque só se existe com os outros; sem os outros, ou extingue-se ou é-se um
bárbaro”. CAMPOS, Diogo Leite de. O sistema tributário no Estado Fiscal dos cidadãos. Coimbra:
Almedina, 2006, p. 51.
458 KERSTING, Wolfgang. Verteidigung des Liberalismus. Hamburg: Murmann Verlag, 2009, p. 22.
310
Tributação da Economia Digital
459 NABAIS, José Casalta. A liberdade de gestão fiscal das empresas. In: DA SILVA MARTINS, Ives
Gandra et. al (coord.). Direito financeiro e tributário comparado: estudos em homenagem a Eusébio
González García (in memoriam). São Paulo: Saraiva, 2014, p. 432.
460 FUCHS, Christian. Mídias sociais e a esfera pública. In: Revista Contracampo, v. 34, n. 3, ed.
Dez/2015 – mar/2016. Niterói: Contracampo, pp. 5-80, 2015, p. 8.
461 Portanto, as mídias sociais são um retrato perfeito da liquefação de limites identificada por Zygmunt
Bauman, ao caracterizar a segunda modernidade.
311
Tributação da Economia Digital
e trabalho) 462. Isso é muito mais do que uma transformação da mídia ou dos
meios de comunicação. É uma transformação da cultura e da própria sociedade.
Essa convergência visualizada entre o pessoal e o público nas mídias so-
ciais as sedimentou como uma fonte rica para a análise do que é denominado
como “big data”463. Assim o sendo, a cultura do consumo e da propaganda tem
migrado com intensidade de outros âmbitos para o mundo da internet, pela dis-
ponibilidade que ali há de informação a respeito das tendências mercadológicas.
Da mesma forma que anunciantes e comerciantes têm se interessado cada
vez mais pelas mídias sociais como plataforma principal de divulgação e nego-
ciação, essas plataformas – tais como o Google e o Facebook464 – têm também
pouco a pouco aperfeiçoado seus softwares de coleta, processamento, armaze-
namento e interpretação das informações adquiridas dos seus usuários, afinan-
do a precisão e o detalhamento dos dados compilados. Assim, transformam tais
resultados analíticos em commodities – um dos commodities mais valiosos na
economia digital – a fim de com isso alcançar lucratividade465.
Nesse contexto, o valor agregado aos bens e serviços não depende necessa-
riamente de uma cadeia de produção, mas do compartilhamento sequencial de
informações, cujo retorno financeiro é calculado em grande parte por meio de
algoritmos que determinam a relevância de um produto ou serviço de acordo
com o perfil do usuário. Diante disso, nada mais correto do que dizer que a
produção de big data é uma das grandes formas pelas quais a mídia social cria
462 FUCHS, Christian. Mídias sociais e a esfera pública. Op. cit., p. 36.
463 “Big data” é um elevado volume de dados, estruturados ou não estruturados, passível de coleta,
armazenamento e interpretação com a implementação de softwares de afinado desempenho. FUCHS,
Christian. Social media: a critical introduction. 2ª ed., London: Sage Publications, 2017, p. 52.
464 Destaque-se o termo “GAFA”, especialmente popularizado na França, acrônimo de Google, Apple,
Facebook e Amazon, empresas estadunidenses que lideram a transição digital. Este foi seguido do
“NATU”, que abarca a Netflix, o Airbnb, a Tesla e a Uber, as mais novas empresas globais baseadas
em informações. O geógrafo Fábio Tozi, acadêmico vinculado à UFMG, utilizou a expressão
“uberização da economia”, importando-a da produção acadêmica francesa, para elucidar o novo
papel da informação como fator produtivo na economia atual. TOZI, Fábio. A estratégia da Uber
no Brasil: a informação como fator produtivo e o território como recurso da empresa. In: POLIDO,
Fabrício Betini Pasquot; DOS ANJOS, Lucas Costa; BRANDÃO, Luíza Couto (orgs.). Tecnologias e
conectividade: direito e políticas na governança das redes. Belo Horizonte: Instituto de Referência
em Internet e Sociedade, 2018, pp. 103/104.
465 FUCHS, Christian. Social media: a critical introduction. Op. cit., pp. 53/54.
312
Tributação da Economia Digital
466 Vale observar que a tecnologia é um fator de produção, mas sozinha não cria valor algum – não é
apenas o software hábil ao processamento de informações que cria o valor do big data, convergindo
conjuntamente a outros fatores de produção. De toda feita, certo é que somente os seres humanos,
em comunicação intersubjetiva, são hábeis à produção de valor econômico. Nas palavras de
Christian Fuchs, “se só existissem máquinas e nenhum ser humano, nenhum bem poderia ser
produzido, distribuído e consumido. Um processo produtivo inteiramente automatizado sem
supervisão humana falharia assim que as máquinas quebrassem e não pudessem obter conserto.
Diferentemente dos seres humanos, as máquinas não têm moral, criatividade e são também
incapazes de antecipar o estado futuro da sociedade e, por isso, capazes apenas de ações limitadas”.
Tradução livre nossa. “If there were only machines and no human beings, no goods could be produced,
distributed and consumed. Fully automated production without human beings woukd break down
as soon as machines stalled and could not be repaired. Unlike human beings, machines have no
morals, no criativity and are unable to anticipate the future state of society, and are thus capable of
limited action”. FUCHS, Christian. The online advertising tax: a digital policy innovation. London:
University of Westminster Press, 2018, p. 9.
467 CORRAL GUERRERO, Luis. La capacidad económica de contribuir. Madrid: Cuadernos de Estudios
Fiscales, nº 14, pp. 27/43, 2004, p. 28.
468 Muito embora as expressões “capacidade econômica” e “capacidade contributiva” sejam
corriqueiramente utilizadas com fungibilidade, de acordo com a distinção de Carrera Raya, a primeira
designa a disponibilidade de riqueza, isto é, de meios econômicos no plano fático, enquanto a última
se refere à capacidade econômica eleita pelo legislador como fato gerador do tributo. CARRERA
RAYA, Francisco José. Manual de derecho financeiro – vol. 01. Madrid: Tecnos, 1993, p. 92 apud
RIBEIRO, Ricardo Lodi. A capacidade contributiva como manifestação da justiça fiscal no Estado
Social e Democrático de Direito. In: RIBEIRO, Ricardo Lodi. Estudos de direito tributário – volume
02: tributação e direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Multifoco, pp. 43/104, 2015, p. 62.
313
Tributação da Economia Digital
469 BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. 19ª ed. revista e atualizada por Hugo
de Brito Machado Segundo, Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 339.
470 Afinal, são as três possíveis formas de manifestação de riqueza: i) o rendimento como manifestação
dinâmica aquisitiva de riqueza (dynamische Stromgröße); ii) o patrimônio como manifestação
estática de riqueza (statische Bestandsgröße); e iii) o consumo como manifestação dinâmica
consumativa de riqueza (dynamische Stromgröße). LANG, Joachim; TIPKE, Klaus. Steuerrecht. 21.
Auflage, Köln: O. Schmidt, 2005, p. 74.
314
Tributação da Economia Digital
471 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Revista de Direito
Tributário Atual – vol. 20, São Paulo: Dialética, 2006, p. 171.
472 FORBES. The world’s most valuable brands. Disponível em: <https://www.forbes.com/powerful-
brands/list/#tab:rank>. Acesso em: 20/09/2018.
315
Tributação da Economia Digital
473 OCDE. Plano de ação para o combate à erosão da base tributária e à transferência de lucros. OECD
Publishing, 2014. Disponível em: https://read.oecd-ilibrary.org/taxation/plano-de-acao-para-
o-combate-a-erosao-da-base-tributaria-e-a-transferencia-de-lucros_9789264207790-pt#page1.
Acesso em 20/09/2018.
474 OCDE. Brief on the tax challenges arising from digitalisation: interim report 2018. OECD Publishing,
2018. Disponível em: <https://www.oecd.org/tax/beps/brief-on-the-tax-challenges-arising-from-
digitalisation-interim-report-2018.pdf> Acesso em: 26/09/2018.
475 Em março de 2018, foi sugerida como alteração a ser empreendida no longo prazo a tributação dos
lucros de empresas que sejam consideradas “de presença digital relevante” do Estado-membro, a
saber, quando excedam o limite de 7 milhões de euros em receitas anuais naquele Estado; quando
possuam mais de 100 mil usuários por ano fiscal naquele Estado; ou, ainda, quando firmem mais
de 3 mil contratos empresariais para serviços digitais por ano fiscal naquele Estado. Há, também,
proposta a curto prazo, que seria vigente até a implantação de uma reforma global que atenue a
possibilidade de dupla tributação, para o estabelecimento de imposto provisório, incidente sobre
as receitas oriundas de atividades virtuais nas quais os usuários contribuam diretamente para a
316
Tributação da Economia Digital
criação de valor, a exemplo do que ocorre com a cessão de espaço publicitário online, atividades
digitais de interação entre usuários que facilitem a venda de bens e serviços entre eles, a venda de
dados dos usuários, gerados a partir de informações prestadas pelos mesmos, ainda que de forma
gratuita. Nesse caso, as receitas tributárias seriam arrecadadas pelos Estados-membros nos quais
os usuários estiverem localizados e só se aplicariam a empresas com receita anual equivalente a 750
milhões de euros a nível mundial e a 50 milhões de euros a nível da União Europeia, a fim de garantir
que as empresas de pequeno porte continuem em expansão. Segundo as estimativas da Comissão
Europeia, caso seja aplicada uma alíquota de 3%, a arrecadação seria na faixa de 5 milhões de euros
por ano para os Estados-membros. EUROPEAN COMISSION. Questions and answers on a fair and
efficient tax system in the EU for the digital single market. Press release database, 2018. Disponível
em: <http://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-18-2141_en.htm>. Acesso em 26/09/2018.
476 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 174.
477 Marco Aurélio Greco assim o ilustra mencionando o valor da Microsoft, que é elevadíssimo, mas
decorre fundamentalmente do seu capital intelectual e humano. GRECO, Marco Aurélio. Sobre o
futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 174.
317
Tributação da Economia Digital
478 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 175.
479 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 175.
318
Tributação da Economia Digital
480 “[...] é possível imaginar a existência de uma tributação indireta sobre intangíveis, se levarmos em
conta as operações e as negociações que o tenham por objeto”. GRECO, Marco Aurélio. Sobre o
futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 175.
481 FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O conflito de competência entre o ICMS e o ISS: um estudo
de casos na Era da Internet. Belo Horizonte: Fórum, 2018, p. 221.
482 FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O conflito de competência entre o ICMS e o ISS: um estudo
de casos na Era da Internet. Belo Horizonte: Fórum, 2018, pp. 246/247.
319
Tributação da Economia Digital
483 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Mídias digitais, publicidade e imunidade tributária. Revista Fórum de
Direito Tributário – RFDT, Belo Horizonte, ano 13, nº 74, pp. 3-5, mar/abril 2015. Disponível em:
<http://www.bidforum.com.br/PDI0006.aspx?pdiCntd=232440>. Acesso em: 27/09/2018.
484 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 177.
485 ÁVILA, Humberto. Parecer. Veiculação de material publicitário em páginas da internet. Exame da
competência para instituição do imposto sobre serviços de comunicação. Ausência de prestação de
serviço de comunicação. Revista Dialética de Direito Tributário, nº 173, 2010, p. 162.
320
Tributação da Economia Digital
486 FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O conflito de competência entre o ICMS e o ISS: um estudo
de casos na Era da Internet. Op. cit., p. 247.
487 “Com efeito, como os serviços de comunicação são também serviços em sentido lato, o fato de um
determinado serviço estar arrolado na lista anexa ao DL nº 406/1968 e à LC nº 116/2003 não parece
suficiente, por si só, para afastar a incidência do ICMS-Comunicação, eis que, consoante as lições
de Onofre Alves Batista Júnior e Alberto Guimarães Andrade, o ISS não pode incidir sobre serviços
de comunicação. Dessa forma, em verdade, impõe-se que as leis complementares de ISS sejam lidas
de forma conjugada com a LC nº 87/1996”. FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O conflito de
competência entre o ICMS e o ISS: um estudo de casos na Era da Internet. Op. cit., p. 157.
321
Tributação da Economia Digital
cada pela mídia social e impulsionada não por estratégias de marketing tradi-
cionais, como mensagens e imagens publicitárias enaltecedoras, mas por uma
estratégia tecnológica escorada na exploração de um banco de informações488.
Dessa maneira, pensa-se que os serviços prestados pelas mídias sociais às
empresas anunciantes naquelas plataformas são tributáveis no cenário tribu-
tário brasileiro, com a incidência do ISS. Por causa da propulsão proporciona-
da pela utilização do big data no direcionamento de anúncios, a competência
municipal parece já se evidenciar a partir a interpretação extensiva do item
10.08. Nada obstante, desde a inclusão do item 17.25, com a LC nº 157/2016, a
controvérsia foi substancialmente superada, porquanto inclusa na lista do ISS
a “inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicida-
de, em qualquer meio [...]”489.
488 Tão evidente é que os itens 10.08 e 17.06 da lista anexa à LC nº 116/2003 abarcam o serviço de
propagação prestado pelas mídias sociais, que a maior controvérsia a respeito do referido conflito
de competência data do período anterior à LC nº 157/2016. FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O
conflito de competência entre o ICMS e o ISS: um estudo de casos na Era da Internet. Op. cit., p. 221.
489 FEITOSA, Maurine Morgan Pimentel. O conflito de competência entre o ICMS e o ISS: um estudo
de casos na Era da Internet. Op. cit., pp. 247/248.
490 Não foi uma política popular. Em outubro de 1998, o Congresso Americano baixou o Ato de Isenção
de Impostos na Internet, buscando caracterizar o mundo digital como zona não tributável. Todavia,
322
Tributação da Economia Digital
de maneira consistente e progressiva, foram sendo expressadas preocupações com respeito aos efeitos
negativos que a isenção geral poderia causar à economia tangível. Assim, formou-se praticamente um
consenso a respeito da necessidade de tributação dos fatos econômicos pertencentes ao mundo digital,
ainda que não na modalidade impositiva sobre o patrimônio, representado pelo processamento e
armazenamento de dados. PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura. Aspectos polêmicos da tributação na
internet na era da sociedade digital. Revista da AGU – vol. 05, nº 10, 2006, pp. 3/4.
491 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 176.
492 Neste campo estão as discussões sobre o arbitramento da base de cálculo. GRECO, Marco Aurélio.
Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 176.
493 NEUMARK, Fritz. Grundsätze gerechter und ökonomisch rationaler Steuerpolitik. Tübingen: Mohr
Siebeck, 1970, p. 369.
494 Caso a dúvida se estenda para a materialização do fato econômico, então não se trata de presunção
jurídica, mas de ficção jurídica.
495 O número de usuários foi um dos critérios adotado pela União Europeia para identificar empresas
com “presença digital relevante”, o que demonstra que o usuário é um fator de produção, apto a
agregar valor à atividade econômica realizada pela mídia social. EUROPEAN COMISSION.
Questions and answers on a fair and efficient tax system in the EU for the digital single market. Op. cit.
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496 Por exemplo, o YouTube processa todas as visualizações dos vídeos postados na sua plataforma,
independentemente do consumidor do vídeo ostentar ou não a qualidade de usuário.
497 MACHADO, Diego Carvalho. Tutela jurídica da privacidade, anonimização de dados e anonimato
na internet. In: POLIDO, Fabrício Betini Pasquot; DOS ANJOS, Lucas Costa; BRANDÃO, Luíza
Couto (orgs.). Tecnologias e conectividade: direito e políticas na governança das redes. Belo
Horizonte: Instituto de Referência em Internet e Sociedade, 2018, p. 279.
498 Vale ressaltar que esta Lei só entrará em vigor em fevereiro de 2020, após decorridos 18 (dezoito)
meses de sua publicação oficial, conforme o seu art. 65.
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4. Conclusão
No capítulo mais recente da história mercantil, a internet impulsiona
vendas e serviços, pelo marketing digital que proporciona. O mercado con-
sumidor, ao acessar as mídias sociais, se deparam com anúncios dos mais di-
versos produtos, desde mercadorias e serviços tangíveis, aos bens intangíveis
naturais ao meio online.
Marco Aurélio Greco é da opinião de que melhor satisfaria à nova rea-
lidade econômica a criação de novas incidências tributárias499, perfeitamente
desenhadas desde o seu princípio para onerarem os bens intangíveis perten-
centes a este mundo novo, inclusive o big data.
Nada obstante, pelas notas alinhavadas, adere-se ao entendimento de que
a hipótese de incidência do ISS já se encaixa com adequação ao fenômeno eco-
nômico expressado pelo contrato celebrado entre a mídia social e a empresa
anunciante, razão pela qual seria desnecessária a inovação legislativa para fins
exclusivos da tributação desta materialidade econômica em específico, qual
seja, a prestação do serviço de difusão e propagação de material midiático.
Relativamente à imposição tributária sobre o big data como insumo da
atividade econômica das mídias sociais, isto é, sobre o patrimônio, muito em-
bora a ordem tributária brasileira não contenha imposto hábil a esta oneração,
em teoria é uma imposição possível, porque o patrimônio é uma das formas de
manifestação de riqueza e, por isso, denotadora de capacidade contributiva.
Cumpre sopesar, no entanto, a juridicidade de uma imposição tal qual,
ante os princípios da ordem econômica. Uma primeira observação é que não
constitui dupla-tributação alguma a tributação do big data enquanto insu-
mo da atividade (tributação do patrimônio) seguida da tributação do ser-
viço prestado pela mídia social às empresas interessadas em anunciar seus
negócios naquela plataforma. Isso porque não é a mesma riqueza atingida: a
primeira imposição atinge uma riqueza produzida a partir de uma cadeia de
compartilhamentos de informações; a segunda atinge uma riqueza produzida
pela exploração da utilidade do big data. Importa notar que, com a produção
de riqueza na prestação do serviço de publicidade, não há transformação do
insumo – porquanto bem intangível, o seu uso não o leva ao esgotamento.
499 GRECO, Marco Aurélio. Sobre o futuro da tributação: a figura dos intangíveis. Op. cit., p. 178.
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500 Foi uma inovação, na medida em que representou a introdução um novo método de produção.
SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. Tradução de Maria Sílvia Possas. São Paulo: Abril
Cultural, 1982, p. 48.
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Tributação da Economia Digital
eleito critério impreciso para a presumi-la, parece ser o mais adequado o atin-
gimento tributário da prestação de serviços catalisada pela sua funcionalidade
informacional. Dessa maneira, o referido fator de produção não deixaria de
ser objeto de tributação, recebendo tratamento igualitário frente aos outros
fatores de produção já existentes antes do advento da economia digital, mas
não haveria óbice contundente à sua livre exploração no sentido da consecu-
ção do objetivado desenvolvimento nacional.
Referências
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atualizada por Hugo de Brito Machado Segundo, Rio de Janeiro: Forense, 2015.
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Coimbra: Almedina, 2006.
CARRERA RAYA, Francisco José. Manual de derecho financeiro – vol. 01. Ma-
drid: Tecnos, 1993 apud RIBEIRO, Ricardo Lodi. A capacidade contributiva
como manifestação da justiça fiscal no Estado Social e Democrático de Direito.
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ção e direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Multifoco, pp. 43/104, 2015, p. 62.
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don: University of Westminster Press, 2018.
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VA MARTINS, Ives Gandra et. al (coord.). Direito financeiro e tributário
comparado: estudos em homenagem a Eusébio González García (in memo-
riam). São Paulo: Saraiva, 2014.
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2018. OECD Publishing, 2018. Disponível em: <https://www.oecd.org/tax/
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