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José Meireles de Sousa
Gestão
Técnicas e estratégias
no contexto brasileiro
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Gestão : técnicas e estratégias no contexto brasileiro
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Roberto Venosa
Presidente
Idort
Apresentação
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301
1
A situação da
economia global
PARA REFLETIR...
A globalização da economia provoca desemprego
e maior domínio de mercados pelas grandes
corporações, mas também abre oportunidades
para os mais atentos.
Em nosso dia-a-dia empresarial, sabemos que essas situações nem sempre são
possíveis de serem conciliadas. Quantas vezes temos informações sobre determinada
mudança que não são utilizadas no processo decisório da empresa? O que tem como
conseqüência maus resultados empresariais e desmotivação pessoal. Quantas vezes
temos de tomar decisões com base em informações cruas, que não foram trabalhadas,
ou mesmo sem informação, o que resulta em fracassos empresariais (os êxitos são bem
mais raros)?
Como conciliar então essas duas situações – capacidade de obtenção de informa
ção rápida e capacidade de transformar rapidamente a informação em decisão – em
uma empresa inserida em um ambiente em mudança constante?
1
As figuras e tabelas são de autoria do autor, exceto se citada outra fonte.
4 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
2) criar na empresa uma cultura que lhe permita considerar a informação como parte
integrante da cultura da organização, portanto, difundindo informação com a fi
nalidade de lhe agregar valor, o que possibilita tomadas de decisão baseadas em
informação compartilhada pela empresa e com maior valor agregado.
Pensemos em uma grande cidade, como São Paulo, sem padarias, nem mercadinhos,
nem feiras de rua, somente com supermercados. É um cenário difícil de imaginar.
Não nos esqueçamos de que as grandes, cada vez mais, dependem das pequenas,
assim como as pequenas dependem das grandes para sua sobrevivência. Estamos falan
do, naturalmente, de regras de boa conduta, úteis a ambas as partes. Estamos falando,
fundamentalmente, de colaboração e relacionamento. Esta será a chave do sucesso.
suas parceiras, como é o exemplo da telefonia, que, ao interagir com muitos outros
sistemas, adquire mais valor enquanto sistema de comunicação e gera valor às outras
empresas que com ele colaboram.
Cria-se assim uma economia baseada no relacionamento – economia em rede.
Esse novo ponto de vista determina que o relacionamento, e mesmo a colaboração em
presarial, constitui as grandes alavancas do progresso econômico. É a fartura, não a
escassez, que rege a economia em rede.
A fartura:
"" impulsiona maior valor;
"" abre sistemas fechados;
"" gera grande quantidade de oportunidades;
"" pode ser aproveitada por todos, independentemente de sua dimensão.
5) as empresas deverão estar preparadas para modificar não só seu desenho organiza
cional, mas também sua cultura, de modo que possam assimilar em um bloco todo
o processo de mudança contínua.
1. As mudanças ambientais, sendo imprevisíveis, tendem a provocar o caos, sobretudo no nível empre-
sarial. Se a empresa não acompanhar essas mudanças, qual será a chance de ela se manter ativa
no mercado?
2. O deficiente controle empresarial provoca incapacidade de gerenciar a maior parte das medidas eco-
nômicas de forma eficaz?
2
As micro
e pequenas empresas
PARA REFLETIR...
Se o tamanho fosse a única vantagem, a Suíça e
a Noruega, e muitos outros pequenos países, não
estariam no topo da lista no que diz respeito ao
nível de vida dos seus habitantes.
situações de mercado muito difíceis e sofrendo todo tipo de agressões, desde o desprezo
da classe política até o estabelecimento de condições impossíveis de cumprir, torna-se
difícil de ser atingido. O crescimento, o desenvolvimento, a estabilidade, as causas do
êxito ou do fracasso empresarial das empresas de pequeno e médio portes serão alguns
dos temas tratados ao longo deste livro.
No Brasil, existem diferentes classificações – conforme a instituição responsável.
A classificação oficial das MPEs (Estatuto das Micro e Pequenas Empresas)1 de acordo
com a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, Capítulo 11, art. 3o, con
sidera microempresa ou empresa de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade
simples e o empresário devidamente inscrito no Registro de Empresas Mercantis ou
no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que sua receita anual
obedeça aos critérios do Quadro 2.1.
1
Sobre o estatuto de MPEs, consultar o site: <www.saraivauni.com.br>.
Capítulo 2 As micro e pequenas empresas 11
Porte Funcionários
No setor de comércio e serviços, até nove funcionários.
Microempresa
Na indústria, até 19 funcionários.
No setor de comércio e serviços, de dez a 49 funcionários.
Empresa de pequeno porte
Na indústria, de 20 a 99 funcionários.
No setor de comércio e serviços, de 50 a 99 funcionários.
Empresa de médio porte
Na indústria, de cem a 499 funcionários.
No setor de comércio e serviços, mais de 99 funcionários.
Empresa de grande porte
Na indústria mais de 499 funcionários.
Fonte: Sebrae (classificação utilizada pela área de Pesquisas do Sebrae). Disponível em: <www.sebrae.com.br/customizado/estudos-
e-pesquisas>. Acesso em: 19 out. 2008.
2
Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa 2008. Disponível em: <www.dieese.org.br>.
12 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Microempresa: Empresa com menos de dez trabalhadores cujo volume de negócio e balanço total anual não excede 2 milhões
de euros (aproximadamente 5 milhões de reais).
Pequenas empresas: Empresa que emprega menos de 50 pessoas cujo volume de negócios anual ou balanço anual não exceda
10 milhões de euros (aproximadamente 25 milhões de reais).
Média empresa: Empresa que emprega até 250 pessoas cujo volume de negócios anual não exceda 50 milhões de euros
(aproximadamente R$ 125 milhões) ou o balanço anual não exceda 43 milhões de euros (aproximadamente R$ 107,5 milhões).
*Dados de 2006.
Fonte: Boletim estatístico das micro e pequenas empresas – Observatório Sebrae, 1o semestre 2005.
circunstâncias, as empresas nascem com uma valência forte bem determinada, reflexo
do funcionário que, em princípio, domina com alguma sabedoria uma função da empre
sa. Nesse caso, a empresa nasce por vontade da pessoa – o empreendedor – que procura
atingir alguma meta, assumindo risco.
Outra possibilidade acontece quando é criada a necessidade de se tornar empre
sário como forma de sobrevivência, situação esta que é cada vez mais habitual em
economias em crise. Efetivamente, as grandes empresas têm cada vez mais a tendência
de se tornar mais enxutas, por meio da redução de pessoal e da racionalização de seus
serviços. E a política de spinoff, 3 por meio da disseminação das grandes empresas, com
a criação de empresas menores, por vezes especializadas, mas, na maioria dos casos,
com o único objetivo de redução de pessoal, vem sendo apoiada pelos poderes públicos,
como forma de reduzir o desemprego, e pelas empresas, como forma de diminuir seus
custos fixos.
A criação de pequenas empresas também é possível quando surge alguém com
poder – financeiro ou tecnológico – que decide aproveitar alguma oportunidade em
determinado nicho de mercado.
Mas a criação de uma MPE também pode ocorrer como reflexo da “granulome
trização” das grandes empresas, com o objetivo de uma proximidade maior e de um
contato com determinados mercados – sendo esta uma realidade que acontece cada
vez com mais freqüência, e é resultado da necessidade de sobrevivência das grandes
empresas em um mundo em evolução cada vez mais rápida.
O fato é que as MPEs representam a força de emprego e estendem-se às mais va
riadas atividades econômicas.
O mundo dificilmente poderia viver sem a realidade da MPE, e o emprego dificil
mente poderia atingir níveis satisfatórios com um pequeno número de MPEs.
Então, vale a pena estudar as MPEs, com maior profundidade, e procurar deduzir
quais as estruturas que permitirão mantê-las sólidas e estáveis em situações de crise
econômica ou de crescimento das economias.
2.4 O empreendedor
Empreendedor é aquele que empreende, aquele que “pratica” os negócios de forma per
sistente, lutando por objetivos, assumindo riscos, procurando diferenciação, quer da sua
empresa quer das suas idéias, para obter reconhecimento do mercado.
3
Empresas spinoff são aquelas normalmente de pequeno porte geradas a partir de grandes organizações, em que seus promotores
utilizam os conhecimentos adquiridos nas grandes empresas ou organizações e que poderão, ainda, trabalhar como fornecedores das
empresas de que são originários.
Capítulo 2 As micro e pequenas empresas 15
4
Joseph Schumpeter (1883–1950). Um dos principais economistas do século XX, é considerado um dos precursores da teoria do
desenvolvimento capitalista, oferecendo importante contribuição, particularmente no estudo dos ciclos econômicos. Enfatizou a
natureza evolucionária do sistema capitalista, afirmando que, em uma situação de monopólio, as empresas enfatizarão menos a
competição de preços, aumentando a competição em termos de inovações tecnológicas e de organização. Outro grande legado
de Schumpeter diz respeito à noção de destruição criativa, que é, de certa forma, um complemento da ênfase atribuída por ele ao
empreendedor.
5
Peter Ferdinand Drucker (1909–2005). Filósofo e administrador austríaco, sendo considerado o pai da administração moderna. É o
mais renomado dos pensadores de administração.
16 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Assim, podemos dizer que o empreendedor é aquele que, tendo uma idéia, apro
veita de forma consistente uma oportunidade que se lhe apresenta. A caracterização de
um empreendedor bem-sucedido terá como base as noções de coerência, consistência e
aproveitamento em tempo adequado das oportunidades do mercado.
Atrativa, para ser motivadora, durável, para ser prolongada em outra conjuntura,
diferente da atual, consistente, para proporcionar um desenvolvimento equilibrado
em todos os setores do empreendimento e, por fim, a proposta de valor a ela associada
deve ser diferenciada e entendida como tal pelos consumidores.
As idéias aparecem sempre que existe caos, mudanças, falhas ou atrasos na chega
da de informações ou outro tipo de vácuo no mercado, portanto elas são, na realidade,
conjunturais, embora possuam algumas características que podem ser generalizadas ou
estendidas a outros mercados, outros setores ou a diferentes conjunturas.
Cabe então perguntar: “como é que se determina se uma idéia é ou não duradoura
e consistente ou simplesmente é mais uma oportunidade a aproveitar?”.
Uma idéia deverá ser testada com base nas seguintes perguntas:
"" Onde estamos agora? Quem já executa produtos ou serviços similares ao que tenho
intenção de empreender?
"" Se não produzir esse produto ou esse serviço, o que ocorrerá dentro de seis meses,
um ano ou cinco anos? Esta será uma situação aceitável?
"" Se não for aceitável, será este o produto ou o serviço que devo lançar? Quais são os
riscos e as compensações que daí resultarão?
Capítulo 2 As micro e pequenas empresas 17
Por melhor que seja uma idéia, e por melhor aptidão e capacidade que tenha quem
a realizará, somente se houver no mercado necessidades de consumidores não satis
feitas ou se conseguirmos satisfazer melhor que a concorrência às necessidades de
determinados consumidores, de forma durável e consistente, conseguiremos transfor
mar nossa idéia em realidade e produzir uma empresa estável.
A forma de conseguir transformar a idéia em uma empresa, aproveitando as opor
tunidades que vislumbramos, deverá considerar o equilíbrio, a observação e o bom
senso, como analisado a seguir:
"" o equilíbrio, pois uma idéia que resulta de uma oportunidade só pode transformar-
se em um bom negócio se todas as valências que compõem o negócio crescerem de
forma equilibrada. Não adianta ser um excelente vendedor se os meus produtos não
satisfizerem o mercado. De nada serve ter um produto altamente inovador se
não tiver os meios financeiros para lançá-lo;
"" a observação, pois uma oportunidade que origina um negócio é algo não estável,
que muda constantemente, tal como o mercado no seu todo. O acompanhar dessas
mudanças, principalmente no período de implantação, torna-se tarefa indispensável
para a solidificação do negócio futuro;
"" o bom senso, pois uma coisa é querer, outra coisa é poder. O empresário deve
entender que a sua capacidade é limitada e não ultrapassar esse limite, com o risco
de a empresa quebrar. Certo é que, conforme dizia o piloto de Fórmula 1 Mário An
dretti: “Se você controla seu carro, então você poderá correr ainda mais”, também é
18 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
certo que, se você correr tanto que não consiga dominar seu carro, então o acidente
será inevitável.
Cabe agora analisar as etapas que o futuro empresário deve percorrer para cons
tituir a sua empresa:
1a o homem;
2a a idéia;
3a a envolvente externa;
4a o mercado e a política comercial;
5a a contabilidade e as finanças;
6a a formalização da empresa.
Na realidade, esses potenciais empresários têm, muitas vezes, a falta de visão sistê
mica da sua empresa, e, em muitas ocasiões, falta-lhes a capacidade de administração.
Também é normal que esse tipo de empresário não defina objetivos para sua em
presa e não esteja apto a assumir riscos, correndo, assim, o grande risco de o seu empre
endimento se tornar um fracasso.
Capítulo 2 As micro e pequenas empresas 19
Existe ainda outro tipo de dificuldade que é sentida por aqueles que, embora
tenham conseguido ultrapassar ou contornar as outras limitações, se deparam com os
problemas da falta de capital, de acesso ao financiamento ou de crédito a taxas dema
siadamente elevadas – são as dificuldades financeiras.
A) O futuro empresário deverá realizar uma predefinição do projeto indicando: o que se quer fazer exatamente (quais os produtos
ou quais os serviços), a quem se destinam, em que zona geográfica.
B) Deverá reunir em uma lista as questões para as quais gostaria de encontrar resposta e os locais (fontes) prováveis de
obtenção das informações.
C) É muito importante ouvir o setor em que o futuro empresário pensa vir a exercer a sua atividade. Para tal, este deverá ler toda
a informação que surge em revistas técnicas da especialidade, visitar feiras e exposições e conhecer a concorrência.
D) Essa fase consiste na reunião de todos os dados quantificados (e outros de interesse para o projeto) disponíveis tanto em
estatísticas quanto em bases de dados, estudos setoriais e publicações periódicas.
E) Outra informação relevante poderá ser obtida por meio da consulta de peritos no setor de atividade em causa, de serviços
especializados na criação de empresas, bem como fornecedores, bancos etc.
F) Essa fase consiste na realização de um inquérito informal, direto ou indireto, sobre os concorrentes, questionando, por
exemplo, os fornecedores e os clientes destes.
G) Esse processo terminará com um estudo dos potenciais clientes, recorrendo-se, se necessário, à utilização de um questionário.
Como exemplo dos elementos que a organização não pode dominar, mas que
atuam em sua proximidade e com grande importância para a empresa, podemos citar
os futuros clientes, os fornecedores e, ainda, as empresas concorrentes, cujo número,
cuja agressividade e o comportamento saem, por completo, da esfera de controle do
potencial empresário.
Ao se tratar de fatores não-atuantes no mercado de forma direta, mas que têm
grande influência no seu funcionamento, aos quais chamaremos fatores macroambien
tais, devem as empresas entender que eles serão determinantes no seu processo de
estabilização ou em seu desenvolvimento.
Reunindo todas as informações disponíveis sobre a envolvente externa, o futuro
empresário estará em condições de avaliar a viabilidade de seu projeto e tomará cons
ciência dos inúmeros fatores que podem condicionar o sucesso desse projeto.
Fatores macroambientais
Dentro do contexto global devem desagregar-se alguns vetores que representam no pre
sente as fontes das alterações do ambiente no que diz respeito à sua dimensão macro. O
estudo de forma sistemática desses fatores conduz a conclusões relevantes, influencia
doras do bom funcionamento da nossa empresa. Uma das metodologias para efetivação
desse estudo – Pestelco – passa pelo estudo dos seguintes fatores:
1) Político;
2) Econômico;
3) Social;
4) Tecnológico;
5) Ecológico;
6) Legal;
7) Comunicações.
Um exemplo de análise Pestelco (Quadro 2.7) sugere uma análise temporal passa
da e uma projeção futura baseadas nas variáveis descritas.
"" o orçamento de tesouraria previsional (no mínimo para os primeiros meses de ati
vidade da empresa), que registra o saldo financeiro inicial, todos os pagamentos a
efetuar e todos os recebimentos previstos.
Onde?
"" Que critério seguirei para escolher a localização da empresa?
"" Na minha escolha, pensei em fornecedores, RH, clientes, logística, apoio adminis
trativo...?
Como?
"" Autônomo?
"" Sociedade por cotas?
"" Sociedade Anônima?
"" Cooperativa?
1. Ser empreendedor é saber passar pelas situações adversas com habilidade e procurar ganhar o máximo
em situações de crescimento.
2. O caixa dois é elemento essencial na estabilidade empresarial, mesmo que a empresa tenha uma es-
trutura de custos devidamente implantada.
3
A missão e a criação
de uma cultura
empresarial
PARA REFLETIR...
Todos os anos nascem muitas empresas,
todos os anos crescem muitas empresas, todos
os anos quebram muitas empresas.
2) O restaurante do hotel Exel (5 estrelas) demora muito tempo para entregar a nota e,
além disso, demora para me dar o troco.
Uma empresa que assente suas decisões nesse sistema terá uma estrutura bem pira
midal, com um processo decisório lento, eventualmente inadequado às constantes mudan
ças empresariais. As reuniões serão muitas, os objetivos serão alterados inúmeras vezes, o
atrito e os conflitos entre os elementos da organização tenderão a ser permanentes.
Já, segundo Igor Ansoff (1980), em uma empresa, poderão existir decisões em três
níveis:
"" operacionais;
"" estratégicos;
"" administrativos.
São decisões de grande impacto em toda a organização, e que devem ser tomadas
raras vezes, pois influenciam toda a organização. Então, a noção de estratégia empresa
rial tem a ver com a estabilidade do negócio da empresa e com a definição do próprio
negócio. Não é freqüente que as empresas modifiquem o seu negócio ou a sua área de
atuação. Podem mudar métodos de trabalho, sistemas de produção ou tomarem outro tipo
de decisão que não afete sua definição, porém uma decisão estratégica pode ter implica
ção com fatores importantes na manutenção e no reforço da cultura da própria empresa.
O negócio das empresas – a sua missão – deverá ser definido pelas quatro dimen
sões anteriores, que chamaremos quadrado estratégico (Sá, 1997), pois ele servirá de
base para todas as estratégias empresariais. Requer-se, assim, reduzir a uma frase curta
e simples – declaração da missão empresarial –, captar não só a essência do posicio
namento da empresa no mercado, pela definição do seu negócio, e também sintetizar
sua estratégia.
O quadrado estratégico é o resultado de uma evolução que começou em Levitt
(1960),1 que chamou a atenção para a missão “incluir na sua definição a necessidade a
ser atendida”.
A história é contada e atribuída a Peter Drucker, quando visitou uma empresa
que fabricava garrafas de vidro e era esperado por todo o conselho de administração.
Entrou na sala e questionou: – Então, meus senhores, qual é o vosso negócio? Fez-se
silêncio na sala, e os conselheiros interrogaram-se sobre o que fazia uma pessoa tão
célebre em uma fábrica, sem ter indagado qual o produto final de sua fabricação. O pre
sidente do Conselho, então, dirigiu-se e respondeu: “Doutor Drucker, o nosso negócio é
fazer garrafas de vidro”. Drucker calmamente respondeu: “Não concordo, vocês estão
no negócio de embalagem”. Com isso, Drucker queria dizer que a fábrica satisfazia a
uma necessidade e não fabricava um produto, pois a necessidade poderia ser satisfeita
de outras formas por meio de embalagens de plástico, alumínio ou outras. Ou seja, o
negócio da empresa é a necessidade que ela satisfaz e não o produto que ela utiliza para
satisfazer a essa necessidade.
Ansoff (1967) referiu-se à necessidade de indicação do produto e da tecnologia
na declaração da missão, para, desse modo, conseguir uma precisão maior de qual é
o negócio da empresa. A Yamaha tem como missão proporcionar o lazer às pessoas,
fabricando desde motos e motores de popa até órgãos e raquetes de tênis, ou seja, pro
dutos que proporcionam lazer. Assim, fica bastante claro que a Yamaha tem o objetivo
1
Levitt, T. publicou um artigo de grande impacto designado “Marketing Myopia”, na Harvard Business Review, jul./aug. 1960.
Capítulo 3 A missão e a criação de uma cultura empresarial 35
de proporcionar lazer, mas que cada uma das suas divisões tem na sua declaração da
missão o tipo de produto que fabrica para satisfazer à essa necessidade, o lazer.
Hanan (1974) decidiu incluir a dimensão cliente na declaração do negócio, pois
conseguiria a empresa, desse modo, focar melhor no seu consumidor. Se o mercado
for segmentado, consumidores diferentes reagirão de forma diferenciada aos estímulos
que lhes forem transmitidos, quando o produto ou o serviço lhes for apresentado. A
determinação do tipo de cliente na definição do negócio reflete precisamente o foco do
mercado em que a empresa está atuando.
Por fim, Peter Drucker (1964) inclui a área geográfica na definição do negócio.
Uma mudança nessa dimensão (Sá, 1997) resulta em mudanças de concorrentes, carac
terísticas do produto, oportunidades que se apresentam à empresa. Esta será eventual
mente a dimensão mais relevante ao estudarmos o desenvolvimento das empresas e seu
comportamento estratégico. Efetivamente, uma empresa em seu processo de desenvol
vimento, na maioria das vezes, utiliza a expansão territorial como caminho. É o caso
da exportação, caminho que tantas empresas, sobretudo as de médio ou de pequeno
porte, são incentivadas a prosseguir. A não-percepção de que esse caminho poderá
alterar a missão da empresa e, conseqüentemente, a sua cultura representa um risco à
estabilidade da empresa.
"" critérios para definir estratégia – os critérios básicos para definir a estratégia são a
atratividade do segmento (margem de lucro, dimensão do segmento, taxa de cres
cimento etc.) e a vantagem competitiva que a empresa tem nesse segmento, que
depende do peso dos seus pontos fortes diante dos fatores críticos de sucesso 2 e das
sinergias3 que possa aproveitar em suas atividades;
"" unidade de análise da estratégia – uma estratégia deve ser analisada junto à deman
da, determinando o segmento de mercado em que a empresa pretende exercer suas
atividades, e tem implicações na “forma de fazer” (tática da empresa) e do lado
da oferta, determinando o grupo estratégico em que a empresa está inserida, com
implicações em termos da concorrência e determinada pela matriz de segmenta-
ção estratégica;
"" qual a tática se deve seguir – tem a ver com a forma de a empresa executar as ati
vidades; como fazer a publicidade, como escolher os canais de distribuição, como
organizar a contabilidade gerencial etc.;
"" definição do segmento que deve ser feito de modo preciso – produto, área geográfi
ca, necessidade e cliente – e coincide com o conceito de missão estudado.
Todo gestor tem de administrar duas empresas – a presente e a futura (Sá, 2002).
A presente, por meio de seus departamentos funcionais; já a futura é gerida por meio do
planejamento. O gestor deverá assegurar a eficácia por intermédio da implementação
da estratégia presente, zelando para que os produtos e os serviços tenham as carac
terísticas exigidas pelos segmentos-alvo e que as necessidades sejam satisfeitas; que
a penetração das áreas geográficas esteja de acordo com o planejado e que o foco do
marketing se direcione aos clientes-alvo e, de outro lado, assegure a eficiência por meio
de múltiplas ações que o ocupam no seu dia-a-dia. Uma empresa de sucesso é aquela
que é, ao mesmo tempo, eficaz e eficiente.
Da mesma forma, existem dois tipos de estratégia – a presente, que determina as
áreas geográficas de atuação, quais os setores de atividade a que a empresa se dedica e
em que segmentos ela está faturando; e a futura, que estabelece o que a empresa deseja
alcançar. A forma de visualizar a empresa e as possibilidades do seu desenvolvimento
(onde buscará as estratégias futuras) poderão ser analisadas por meio da construção
de uma matriz (matriz de segmentação estratégica) em que estejam inseridas todas as
possíveis estratégias do setor de atividade em que a empresa atua (Quadro 3.1).
2
Fator crítico de sucesso – todos os aspectos que não podem falhar para que sejam atingidos os objetivos.
3
Sinergia é o efeito cumulativo e coordenado de várias forças para atingir a realização de uma tarefa.
Capítulo 3 A missão e a criação de uma cultura empresarial 37
A visão deve: ser conhecida e aceita por todos os membros da empresa; ser breve,
fácil de recordar, desafiadora e valiosa; apelar, quer ao coração quer à mente de todos os
membros; definir uma direção clara e proporcionar um rumo; focar naquilo em que se
quer chegar e não naquilo que se é atualmente; inspirar todos para que mobilizem todas
as suas energias e ser realista e coerente para criar uma imagem reconhecida do futuro.
Por meio da visão é possível determinar a tendência de crescimento para a empre
sa, pois ela traduz aquilo que o empresário quer que a sua empresa seja no futuro. Dessa
forma, sobretudo nas pequenas e nas médias empresas, a determinação do setor de
atividade na construção de uma matriz de segmentação estratégica deve estar alinhada
com a visão do empresário.
Por exemplo, se o empresário ambiciona ser a marca de referência para calças no
Brasil, o setor de atividade em que está inserido é o setor de calças (femininas, mascu
linas, esporte, social e jeans); já aquele que tem como visão ser referência no Brasil em
vestuário masculino, a matriz do Quadro 3.1 está adaptada à sua visão.
A visão expressa qual é a empresa desejada (empresa futura) e para quê, isto é,
quais são os resultados tangíveis a obter, quanto aos benefícios, à participação, à di
mensão etc. A visão marca o rumo do plano estratégico (plano para escolher a estraté
gia futura).
Na maioria das empresas existe frases de boa aceitação, mas que, na realidade, não
definem a empresa nem orientam a sua estratégia – são os chamados guias filosóficos.
Alguns exemplos de guias filosóficos:
"" IBM – A melhor empresa de serviços do mundo;
"" Pepsi – O nosso negócio é marketing;
"" Revlon – Vendemos esperanças;
"" Walt Disney – Fazer as pessoas felizes;
"" Carrier – Proporcionamos conforto e qualidade no lar.
40 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Os guias filosóficos são instrumentos criadores de imagem (Sá, 1997), como a pu
blicidade, as relações públicas e de criação de certa cultura empresarial, como o sistema
de incentivos em vigor na empresa, a decoração e o ambiente da empresa, o manual de
procedimentos etc. Então, será após a definição da estratégia (área geográfica, cliente,
produto/tecnologia e necessidade), e após a definição da missão, que se poderá decidir
qual a imagem que queremos transmitir e que cultura queremos criar.
Os instrumentos de criação de cultura em uma empresa podem ser visualizados na
Figura 3.3, e pode-se deduzir que a cultura será criada pela conjugação de um entendi
mento da empresa, tanto interno quanto externo. Isto é, os funcionários devem ter uma
imagem precisa do que é a sua empresa, principalmente no que diz respeito à sua razão
de ser, e o público externo deve assimilar uma imagem daquilo que a empresa pretende
transparecer. Da constância desses fatores se conseguirá estabelecer uma forte cultura
empresarial, traduzida em uma corporate identity e em uma imagem que apresenta a
nossa “empresa” como “aquela empresa”.
Alguns fatores podem ser importantes na manutenção e no reforço da cultura;
entre eles, citemos (Câmara et al., 1997):
"" métodos de recrutamento – a organização tende a recrutar pessoas que têm um con
junto de valores comuns e, no essencial, compatíveis com a organização. Os candi
datos podem avaliar seu interesse em aderir a determinada organização, pois, caso a
cultura não lhes agrade, eles poderão excluir-se do processo. Isso será muito valioso
em situação de oferta de emprego. Muitas empresas têm a preocupação de inves-
tir em regiões onde existe abundância de mão-de-obra, deixando para segundo plano
Todos os sistemas descritos têm a ver com o fortalecimento da empresa, quer in
terna quer externamente, e ambicionam o aumento de sua rentabilidade e estabilidade,
ou seja, do seu desenvolvimento sustentável e equilibrado.
O COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
Os funcionários usam padrões de comportamento que são consistentes com a missão
Princípios operativos
da empresa. Esses comportamentos traduzem os valores expressos pelos fundadores
em um conjunto de REGRAS DE ATUAÇÃO concretas e orientadas para o negócio.
RESULTADOS
Impacto no sucesso A empresa implanta-se e tem sucesso e este perdura
ao longo de anos.
CULTURA
Consolidação dos valores
Consolida-se uma cultura empresarial que reflita a visão e estratégia
e comportamentos
e as experiências acumuladas na sua implementação.
"" a dimensão penetração de mercado – vender mais aos mesmos clientes – não se
traduz em uma alteração da matriz, mas, sim, em um aumento de faturamento e
uma produção baseados no mesmo status quo. É eventualmente a variação mais
estável e com menor risco de perturbar a estabilidade empresarial. No entanto, ela
representa também o processo de desenvolvimento mais difícil e o mais técnico;
Ou seja, sempre (ou quase sempre) que se mantém inalterado o mercado, a missão
da MPE permanece inalterada. Vejamos agora o que ocorre quando a empresa decide
alterar o seu mercado:
1. Em que condições uma empresa poderá executar um novo projeto de desenvolvimento que possa pre-
judicar alguma das dimensões que definem a missão empresarial?
2. Por que não introduzir na declaração de missão frases que qualifiquem a empresa no mercado? (Por
exemplo, a empresa X é a melhor do seu setor.)
4
A organização da
empresa no novo
ambiente econômico
PARA REFLETIR...
A rapidez do processo de tomada de decisão
é vital à sobrevivência empresarial.
níveis hierárquicos mais próximos do mercado, e ter uma cultura que lhes possibilite a
tomada rápida de decisões.
Falar em organização de uma micro ou pequena empresa poderá parecer perda de
tempo. Será que vale para alguma coisa estabelecer um organograma, se a empresa é
e será comandada sempre pelo mesmo e só pelo mesmo proprietário? Não nos parece
ser esta a visão mais correta do problema. De início, o proprietário pode mudar, e a
empresa pode passar a ser integrada em outra, depois o proprietário poderá mudar
de estilo de administração e não querer mais o poder na sua totalidade e, por fim, e
o mais previsível, será que a empresa crescerá, se tornará pequena, depois média
e um dia grande.
Analisando em primeiro lugar as condicionantes do processo de organização de
uma empresa, chegamos à conclusão de que um processo organizacional depende da
vontade do proprietário, da estrutura do setor em que a empresa está inserida, da evo
lução tecnológica aplicada à empresa e da cultura vivida nesta.
Organização da empresa é a ordenação e o agrupamento de atividades e recur
sos que visam alcançar os objetivos e resultados estabelecidos (Rebouças de Oliveira,
2002). No estudo de uma organização, além do estudo do sistema que é a empresa,
deverão ainda ser analisados os diversos subsistemas que a compõem e que são os sub
sistemas de responsabilidade, de autoridade e de comunicação.
Na primeira parte do livro determinamos a importância da rapidez na tomada das
decisões, da rapidez da obtenção de informação e da rapidez com que as mudanças de
atitude dos consumidores são efetuadas para provocar mudanças na empresa. Assim,
qualquer organização deve estruturar-se para poder cumprir as normas básicas de rapi
dez, proximidade do mercado e foco no consumidor.
Uma estrutura organizacional deve permitir que as decisões possam ser tomadas de
forma rápida e deve contribuir para que as informações em que se baseiam essas decisões
possam ser compartilhadas e ter o seu valor aumentado como resultado dessa partilha.
Em uma empresa, é aconselhável o desenho de uma estrutura organizacional que
responda à situação presente, mas que tenha elasticidade para poder adaptar-se à visão
do proprietário no futuro.
Várias são as possibilidades de se desenhar uma estrutura organizacional (Re
bouças de Oliveira, 2002). Desde estruturas departamentalizadas funcionalmente, pas
sando por outras departamentalizadas por áreas geográficas, ou por clientes, até as
estruturas matriciais. Não existem estruturas ideais, o que existe são estruturas que
possibilitam a tomada de decisões de forma mais ou menos rápida ou que conduzem a
maior ou menor quantidade de níveis hierárquicos.
O desenho de um organograma que adapta a estrutura da empresa ao mercado
e possibilita a implantação de um sistema de informações fluido e hierarquizado
torna-se fundamental.
Capítulo 4 A organização da empresa no novo ambiente econômico 49
4.1 Departamentalização
Departamentalizar uma empresa é dividi-la em áreas de atuação – divisões –, segundo
determinados critérios. Várias são as metodologias empregadas na departamentalização.
50 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
"" a possibilidade de maior rapidez nas informações com relação às mudanças no mer
cado, devido à concentração e à proximidade com os vários tipos de clientes.
O controle estará relacionado, entre outras coisas, com o poder atual de cada de
partamento e a forma como o poder futuro será atribuído a cada um dos departamentos,
Capítulo 4 A organização da empresa no novo ambiente econômico 55
ou seja, se tivermos departamentos dos quais a empresa tenha muita dependência para
exercer suas atividades, o desenvolvimento ficará condicionado a essa fonte de poder.
No caso de empresas focadas em demasia na tecnologia, um desenvolvimento será de
pendente do desenvolvimento do departamento de tecnologia.
Se a empresa for inovadora, então o seu desenvolvimento ficará muito dependente
da sua capacidade de pesquisa e desenvolvimento, mas, normalmente, a sua estrutura
estará mais adaptada às evoluções do mercado, e a sua organização será departamenta
lizada por projetos, o que requer muito mais envolvimento de todos e uma filosofia de
trabalho em equipe.
Em empresas de pequeno porte, é comum observarem-se estruturas do tipo pira
midal. Contudo, essas estruturas só existem sob o aspecto administrativo, funcionando
de forma matricial do ponto de vista operacional, isto é, uma estrutura voltada para os
resultados e para a inovação, ao contrário das estruturas do tipo funcional, mais adap
tadas à rotina. Seria assim normal pensar que uma empresa deveria ter uma estrutura
matricial para se adaptar melhor à inovação – fator crítico de sucesso de muitas empre
sas de pequeno porte, e ao mesmo tempo estar voltada para resultados; no entanto, em
diversas vezes, a cultura empresarial existente não o permite, pois esse tipo de estrutura
pressupõe maior delegação de autoridade e descentralização, requerendo, assim, uma
cultura adaptável.
PARA REFLETIR...
Produzir para vender, ou produzir
em função do consumidor?
1
Tome-se o exemplo de uma oficina autorizada que presta serviço a uma marca chamada Asa, fabricante de liquidificadores. O serviço só
é realizado quando o consumidor intervier, acionando a garantia. A qualidade do serviço é determinada pelos consumidores que busca-
ram essa oficina. Assim, haverá diferentes percepções de diferentes consumidores sobre o produto – liquidificador da marca Asa.
Capítulo 5 Administração de produção 59
se tornará difícil produzir produtos em série que satisfaçam da mesma forma todos os
consumidores.
Deverá então a empresa procurar conjuntos de Segmentar mercados consiste
consumidores que respondam da forma mais homo em reconhecer que um mercado
gênea possível em função do produto ampliado que é composto por vários grupos
homogêneos de consumidores, com
lhes é ofertado para, desse modo, poder analisar qual a características diferentes uns dos
forma e o meio em que as necessidades desses grupos outros, para que se possam adaptar
políticas de mercado em consonância
de consumidores serão mais bem satisfeitas. Essa téc
com cada um deles.
nica designa-se por segmentação de mercados e será
detalhada no Capítulo 6.
Uma segmentação de mercado ressalta, de um lado, a evidência de que os merca
dos não são uniformes, mas, sim, compostos por consumidores que reagem de forma
diferente às mesmas ofertas e, do outro, permite aos fabricantes adaptarem, da melhor
maneira, seus produtos aos diferentes segmentos do mercado.
Da análise das Figuras 5.2, 5.3 e 5.4, apresentadas a seguir, concluímos que o
ambiente é muito mais ativo no caso dos serviços, influenciando com muito mais inten
sidade a sua produção.
Por outro lado, poderemos concluir que, com a agregação aos produtos de serviços
cada vez mais sofisticados – instalação de produtos, garantia, assistência domiciliar,
ajuda técnica, entrega em domicílio – e a conseqüente integração (produto/serviço), os
60 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Não fará mais sentido para as empresas atuais pensarem que os seus produtos são
os melhores do mercado. Elas devem pensar que seus produtos são os que o consumi
dor considera os melhores do mercado. O foco da produção deve ser o mercado, e não
a empresa.
Um critério de qualificação empresarial que não atentar para esse fato poderá
prejudicar o desenvolvimento e a estabilidade da organização, como é o caso de em
presas que competem por critérios de excelência, que não atendem às preferências dos
consumidores; essas empresas poderão, para satisfazer esses critérios, desfocalizar a
sua principal razão de ser – o consumidor.
A produção passará, então, a ter de considerar aspectos exteriores à própria em
presa, como as reações dos consumidores aos produtos e ainda a forma como os produ
tos são encaminhados até o consumo, quer se trate de mercado final ou de fornecimento
a outros produtores. São ressaltados, assim, dois aspectos fundamentais que devem ser
considerados pela administração da produção – o comportamento do consumidor e a
logística. Pela atualidade e importância do tema, analisaremos o just-in-time de forma
mais pormenorizada.
62 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
5.3 Just-in-time
O just-in-time – JIT, na realidade, significa produzir bens ou serviços exatamente no mo
mento em que são precisos, e não mais para constituir estoques. O impulso do JIT deve-
se, em grande parte, ao fato de a manutenção de estoque representar um grande custo
para a empresa, seja pelo processo de manutenção que envolve a sua guarda e seu contro
le ou pelo processo de depreciação que ele sofre ao longo do tempo, ou, ainda, pelo custo
financeiro que representa a manutenção desse estoque. Assim, aparece a alternativa JIT
para atender à demanda no momento exato em que ela acontece e sem desperdícios.
Do ponto de vista da produção, parece ser uma abordagem interessante, pois torna
a produção mais eficaz, utilizando o mínimo de recursos de quem produz e recebe JIT.
Já do ponto de vista de quem fornece poderá ser uma alternativa onerosa, porque con
diciona os aspectos produtivos e requer logística especializada, muitas vezes cara e que
não agrega mais valor ao produto.
2
Biomimetismo é a redução do uso dissipador de material, a eliminação da própria idéia de desperdício.
64 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
3
Lead time, tempo entre uma ação e uma reação – ou período de tempo entre a encomenda e a entrega.
66 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
esse aumento de custo. Logo, o balanço entre o benefício do JIT e o aumento de custos
da respectiva operacionalização deverá ser analisado.
Aumento de custos de compra. Os descontos normalmente são associados à quan
tidade. Teoricamente, JIT proporciona quantidades menores e, logo, maiores preços
de venda. Também no nível da função compra, maior número de transações implica
maiores custos operacionais, portanto, aqui também deverá ser feita uma análise de
custo/benefício.
Pequenas empresas da fileira de produção poderão sofrer. O JIT é criticado como
um sistema que leva as grandes empresas a depositar seus estoques nas pequenas em
presas. Na realidade, ao longo da fileira de produção, os estoques percorrem um pipe
line, em que deverão ter plataformas de armazenagem. As grandes empresas, com seu
poder dentro do sistema, impõem, em geral, critérios de entrega que obrigam os de
menor influência a gerenciar essas plataformas de armazenagem.
Problemas ambientais, dado que em sentido amplo maior nível de entregas origi
na maiores congestionamentos e maior poluição. Um acidente em uma estrada poderá
congestionar um sistema de entregas.
A Harley-Davidson Motor Company, Inc. é grande seguidora da teoria do JIT de obter as partes na linha de montagem,
especialmente para movimentações nos Estados Unidos. Mas o fenomenal fabricante de motos ainda não conseguiu fazer que o
JIT funcione no caso de fornecedores internacionais. Algumas das partes da Harley-Davidson chegam à linha de montagem quatro
horas após terem começado a ser produzidas. Ainda assim, para os materiais que chegam da Ásia, da Europa e da Austrália, a
empresa espera ter de duas a três semanas de estoque na fábrica. “Quando se trata de movimentações internacionais, os produtos
estão fora do controle da empresa durante longos períodos”, é o que diz Dave Alamshah, diretor de transportes e diretor-geral em
Milwaukee, Wisconsin, Estados Unidos. A empresa fez alguns movimentos importantes em direção a um verdadeiro ambiente de
JIT. Mas com um custo de produção no mínimo de US$ 56 mil a hora, ele não pode se dar ao luxo de arriscar, a fim de obter a peça
exata de um fornecedor que está distante 10 mil milhas.
A fragilidade dos fornecimentos internacionais foi enfatizada em 1997, quando os problemas surgiram da fusão entre a Union
Pacific e a Southern Pacific Railroads, nos Estados Unidos, o que originou um amontoado de contêineres nos portos do país que
levou quase um ano para ser regularizado. Alguns fornecedores estrangeiros tentaram minimizar a sua exposição produzindo
pelo menos uma parte para seus próprios mercados. Mas isso aumentou os overheads e fez os fornecedores ficarem vulneráveis
a baixos custos de produção que se abasteciam unicamente no exterior. Contudo, como Robert Novack, professor associado de
Logística na Universidade da Pensilvânia, aponta: “Uma vez que você comece a aumentar as distâncias, a complexidade torna o
JIT de difícil cumprimento.
Fonte: Adaptado de Bowman (1998).
Capítulo 5 Administração de produção 67
O peso dos serviços no chamado “produto ampliado”, ou seja, produtos com serviços agregados, tende
a aumentar, sobretudo pela inovação trazida pelas empresas que, estando mais próximas do mercado, con-
seguem captar mais rapidamente mudanças de atitude nos seus consumidores-alvo, adaptando a oferta à
essa demanda específica.
1. Quais são as razões que levam as empresas a segmentar mercados antes de tomar decisões sobre
produtos ou serviços a produzir?
2. Analise em pormenor as diferenças entre a produção de serviços e a de produtos, e explique a razão
pela qual elas devem ser tratadas de forma diferenciada.
6
A gestão
comercial
PARA REFLETIR...
Para que irei entrar em um novo mercado se
todos os consumidores desse mercado já têm as
suas necessidades satisfeitas, com os produtos
atualmente disponíveis? Não serei mais um, e
ainda por cima novato?
1
Metas são os níveis de desempenho a serem atingidos
pela empresa ou pelas pessoas.
2
Objetivos são os alvos intermediários que visam à con-
secução das finalidades da empresa, compostos por
seguintes elementos: atributo, escala de medida, norma
e horizonte temporal. Exemplo: atributo – rentabilidade;
escala de medida – rentabilidade dos capitais próprios;
norma – superior a 15%; horizonte temporal – 5 anos. 69
70 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
quantidade certa, no tempo devido, para trazer de volta à empresa todas as informações
sobre o mercado. A atitude da empresa diante do mercado, nos seus primeiros passos,
determinará sua consolidação e o conseqüente desenvolvimento no sentido das me-
tas concebidas.
Tratando-se de empresas de pequeno ou médio porte, podemos mesmo afirmar
que, em uma fase inicial, o grande propósito dessas empresas é o alcance de determi
nada meta que está em consonância com a visão3 inicial dos seus fundadores, para em
uma segunda fase, procurar sua rentabilidade e sua estabilidade, não necessariamente
nessa ordem.
Para atingir seus objetivos, tendo por base a observação do mercado-alvo da em
presa, torna-se imperativa a escolha de um conjunto produto/mercado mais adaptado.
Uma vez que os mercados são constituídos por indivíduos e entidades heterogêneas,
com características e atributos diferenciados e tipos de necessidades diferentes, quando
compram determinado produto, nem sempre procuram os mesmos benefícios.
Deve-se, portanto, analisar as diferentes categorias de clientes – os segmentos de
mercado –, sejam eles pessoas, empresas ou organismos, e agrupá-los segundo suas
características fundamentais, sobretudo idade, sexo, atividade, categoria sócio-profis
sional, hábitos, nível de rendimento, entre outras, para o caso do segmento de merca
do constituído por pessoas; e setor de atividade, número de funcionários, localização,
estatuto jurídico, entre outras, para o caso do segmento de mercado constituído por
empresas ou organismos.
Em qualquer dos casos, uma tarefa de grande importância é de reunir os potenciais
clientes da empresa em grupos homogêneos, classificando-os em diferentes catego
rias de produtos ou de serviços que a empresa esteja (ou possa estar) em condições de
produzir ou de atender no setor de serviços. Essa operação é designada por segmenta
ção de mercados. A tentação de estar em todos os segmentos ao mesmo tempo leva à
perda do foco, ao desperdício de energias e à conseqüente diminuição do desempenho
da empresa.
Ao escolher os segmentos de atuação nos mercados em que irão atuar, as empresas
devem estar atentas aos seguintes fatores:
"" conhecimento que o empresário deve ter das diferentes categorias de clientes;
"" peso da concorrência no setor, sobretudo do número, da dimensão e da agres
sividade;
"" coerência entre o empresário e o projeto (gostos, necessidades, capacidade pessoal);
3
Visão é o estado que a organização pretende atingir no futuro. Deverá direcionar os rumos da empresa.
Capítulo 6 A gestão comercial 71
4
Mindspace é o espaço mental reservado à lembrança de um produto, serviço ou marca.
72 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Ou seja, o produtor envia seus produtos aos seus clientes que ficam à disposição
de consumidores (segmentados) que satisfazem às suas necessidades ao adquirir esses
produtos. O cliente passa, assim, a ser um meio para o produtor comunicar-se com seus
consumidores, e não mais o último elemento da cadeia de comercialização. Essa nova
filosofia mercadológica reformula a estratégia comercial dos produtores.
determinada empresa que já está implantada nesse segmento”. Estamos nos referindo a
determinada empresa e não a todas as empresas, pois normalmente uma MPE não tem
capacidade de abrir várias frentes de batalha, por isso é preferível estudar os consu
midores que procuram o seu fornecimento por meio de dado produto de determinada
empresa e atendê-los de forma diferenciada.
A segmentação de mercado proporciona às empresas vários benefícios, podendo-
se dizer que ela constitui atividade fundamental para que as empresas atinjam o foco
e aumentem seu poder sinergético. Veja a seguir algumas vantagens de se executar um
processo de segmentação:
"" sobressair às oportunidades de negócios existentes – quando um mercado é seg
mentado, aparece uma variedade de oportunidades de negócio decorrentes da forma
como até então os concorrentes estão satisfazendo às necessidades dos consumido
res sempre que a empresa esteja disposta em adaptar a sua oferta às necessidades
específicas de determinado grupo de consumidores;
"" contribui para o estabelecimento de prioridades – por meio de um processo de
segmentação, conseguiremos pôr em relevo muitos grupos não atendidos ou mesmo
atendidos de forma deficiente, podendo a empresa escolher entre eles qual vai aten
der. Normalmente, as opções têm a ver com critérios de acessibilidade do segmento,
facilidade de acesso ao segmento e compatibilidade com os produtos ou os serviços
que a empresa comercializa;
"" facilita a análise da concorrência – uma segmentação conduz à melhor identifica
ção da concorrência. Uma segmentação por região geográfica também permitirá
melhor identificação das empresas concorrentes;
"" facilita o ajustamento da oferta a demandas específicas – com uma segmentação
conseguiremos adaptar melhor nossos produtos ou serviços às necessidades dos
consumidores e, assim, aumentar nossa eficiência.
5
A expressão “grupo homogêneo” tem uma conotação de grupos com características de compra parecidas.
74 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
6.3 A concorrência
Outra preocupação das empresas ao entrarem em novos mercados será a de identificar
qual a sua concorrência e, entre ela, qual é o melhor concorrente para vencer, visto que
uma empresa de pequeno porte não terá, em princípio, capacidade para superar a todos
ao mesmo tempo.
Observe a Figura 6.1, que representa a situação atual (repartição de cotas pelas
empresas atuantes de determinado mercado). Se uma empresa pretender atuar nesse
mercado, poderá ser levada a pensar que seu principal concorrente será a empresa líder
nesse mercado, ou seja, a empresa B. No entanto, pode ser que as características da
nossa organização não se adaptem à luta pela posse do mercado da empresa B. Isto é,
deveremos determinar em primeiro lugar quais são os aspectos em que as empresas
atuantes no mercado não estão satisfazendo os consumidores. Analisando as nossas
capacidades, podemos escolher qual a concorrência que vamos vencer para conquistar
mos a nossa cota nesse mercado. Tudo isso deverá ser feito atentando para a imagem
(posicionamento) que queremos manter na mente de nossos consumidores-alvo.
6
Stakeholder é uma expressão que representa a todos os que de alguma maneira usufruem da empresa – colaboradores, clientes,
fornecedores, credores, acionistas etc.
78 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
mas o vendedor é parte fundamental no negócio. O fator crítico do sucesso dessa estra
tégia é o nível de atendimento, motivo pelo qual se necessita de forte investimento em
propaganda e treinamento de vendedores.
Um exemplo dessa estratégia é a venda de automóveis ou de eletrodomésticos.
As empresas de pequeno porte, produtoras de bens de consumo, em geral, terão de
utilizar estratégias do tipo push para venderem os seus produtos, visto que seu poder de
atração de consumidores é limitado. No entanto, é possível imaginar outro tipo de situa
ção. É o caso de uma empresa que resolve, por meio de venda em lugar selecionado,
expor seus produtos. Nesse caso, o poder de atração é o ponto-de-venda.
No caso de empresas de serviços de pequeno ou médio porte, a situação é seme
lhante, uma vez que as MPEs devem vender aos seus serviços de forma pró-ativa ou
atrair o público pela localização de seus escritórios.
Falar em função comercial da empresa é detalhar também, além da estratégia, a
forma como ela poderá ser concretizada, isto é, como os elementos que dão origem
à formulação da estratégia – os clássicos 4Ps: produto, preço, praça (distribuição) e pro
moção (comunicação) – podem ser trabalhados, concretizando as ações que formulam
a estratégia.
6.6 O produto
Ao se criar uma empresa, é por meio do produto ou do serviço ofertado que as necessi
dades básicas do consumidor serão satisfeitas. Se existirem outras formas de satisfação
desse tipo de necessidade do mercado, torna-se necessário entender o que o consumidor
valoriza, para que se possa agregar valor.
Consumidores de dois segmentos diferentes terão formas diferentes de satisfazer
a determinada necessidade. Então a segmentação é essencial para início do trabalho.
Após essa fase, deve-se questionar se a empresa está em condições materiais e culturais
que permitam satisfazer à necessidade do consumidor-alvo.
A qualidade oferecida – maneira que o produtor propõe ao consumidor para sa
tisfazer a sua necessidade – deve ser maior que a qualidade percebida pelo consumidor
– a maneira como o consumidor vê a sua necessidade ser satisfeita. Desse modo, um
produto terá “qualidade” para o consumidor, assim, um consumidor identificará
um produto, diferenciando-o do produto da concorrência.
Analisando o produto com base no esquema de Kotler – Figura 6.3 –, observa-se
que muito além do produto núcleo, ou produto básico, existe uma série de outros fa
tores a serem levados em conta na satisfação das necessidades dos consumidores que
80 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Dos três níveis de produto a que Kotler se refere, ele ressalta que o produtor deverá
sempre transformar seu produto em tangível, por meio de alguma ou de todas as caracte
rísticas enunciadas – embalagem, marca, nível de qualidade, características ou estilo.
Como exemplo, observemos a empresa “Revlon”, que afirma “vender esperança”
e na sua fábrica produzir cosméticos, ou seja, o que a “Revlon” vende são os benefícios
e não somente as características dos seus produtos.
De outro lado, a agregação de serviços adicionais ao produto gera novos bene
fícios para o consumidor, que aumenta seu valor e transforma o produto tangível no
chamado produto ampliado. Nessa fase do processo, as empresas devem entrar brigan
do por uma posição de mercado – estar mais próximas e conhecer, em geral, melhor
os mercados. Dessa forma, poderão entender melhor qual é o tipo de serviço adicional
que o consumidor pretende para aumentar sua satisfação. Aqui, o processo de colabora
ção empresarial – grande empresa, pequena empresa – traduz-se normalmente em um
ganho para ambas.
Capítulo 6 A gestão comercial 81
Estas são algumas das formas que o consumidor poderá ver nossa empresa e fixar
uma imagem com relação a ela, posicionando-a. A importância do posicionamento em
presarial pode ser concluída por meio dos seguintes pontos:
"" a imagem de uma empresa poderá consolidar a sua diferenciação;
"" um posicionamento bem-definido é imprescindível para uma boa estratégia.
"" um posicionamento mantido constantemente pressupõe uma empresa bem estrutu
rada, logo, com uma boa imagem de mercado.
6.7 O preço
A maneira mais simples de se lidar com o preço em uma estratégia comercial será a
de garantir um preço para os nossos produtos mais baixo que os da concorrência. No
entanto, esta poderá não ser a forma mais eficaz.
84 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
As empresas utilizam o preço para atrair o consumidor, para posicionar seus pro
dutos, sem esquecer seu papel na origem das receitas para a organização.
O preço não deverá ser determinado isoladamente dos outros elementos do market
ing mix (produto, distribuição e comunicação). Na realidade, o preço, mais moderna
mente em conjugação com a distribuição, é o elemento mais importante para o correto
posicionamento dos nossos produtos. Observe o reflexo para o consumidor de dois
produtos iguais (um resultante de contrafação) com preços diferentes. O consumidor
associa ao mais caro a noção de qualidade, o que terá utilidade aumentada devido à
segurança transmitida na operação de aquisição. O mais barato será objeto de maior
reflexão e, eventualmente, haverá insegurança na sua aquisição.
Deduziremos, assim, que a determinação do preço de venda de um produto é con
dicionada por vários fatores, dos quais os mais importantes são:
"" demanda;
"" concorrência;
"" custo do produto.
A importância do estabelecimento de uma política de preços é sentida com maior intensidade nas seguintes situações:
a) Quando a empresa vai estabelecer o preço pela primeira vez.
b) Quando a concorrência nos ameaça com preços agressivos.
c) Quando a demanda está muito relacionada com os preços praticados.
d) Quando os objetivos da empresa estão ligados exclusivamente ao retorno relativo às vendas.
7
Política de desnatamento – aproveitamento máximo do mercado cobrando preço mais alto pois os benefícios do nosso produto são
momentaneamente superiores aos dos produtos substitutos.
Capítulo 6 A gestão comercial 87
As respostas a essas perguntas nos conduz parcialmente a uma das noções bási
cas de toda a política comercial da empresa – a noção de posicionamento –, ou seja, a
forma como quero colocar meu produto na mente dos consumidores a fim de ganhar
mindspace. Também essa decisão – sobretudo quando se trata de fixar o primeiro preço
para um produto – torna-se uma decisão fundamental em toda a estratégia comercial e
financeira da empresa.
8
Utilidade é a satisfação induzida pelo consumo de um produto. Por exemplo: quem tem sede bebe um ou mais copos de água até matar
a sede. Se continuar, o prazer de beber desaparece.
88 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
custos, em uma possível reversibilidade dessa decisão. Dessa forma, deverão ser exa
minados:
"" concorrentes;
"" intermediários;
"" acionistas e trabalhadores da empresa;
"" fornecedores;
"" diretor comercial (prefere estratégias de preços baixos – vender mais);
"" diretor financeiro (prefere estratégias de preços altos – mais receitas).
6.7.2.6 Elasticidade-preço
Elasticidade-preço significa estimar o que ocorre na procura de um produto sempre que
o seu preço é alterado, e é dada pela fórmula:
Porcentagem de mudança na quantidade procurada
Elasticidade-preço =
Porcentagem de mudança no preço
A determinação do preço de custo varia de acordo com a forma como os custos fixos são
alocados ao produto. Nessa análise, é conveniente ter a noção de ponto de equilíbrio,9
isto é, o montante de vendas necessário para que os custos igualem as receitas. Esse
valor também é conhecido pelo Ponto Crítico das Vendas e será desenvolvido no pró
ximo capítulo.
a) Efeito escala
Outra análise a se levar em conta tem a ver com as noções de efeitos escala e de curva
de experiência do produto.
Efeitos escala referem-se ao pressuposto de que empresas de grande porte
têm potencial para operar com custos mais baixos que os das suas concorrentes de
menor dimensão.
Embora as economias de escala existam potencialmente em todos os elementos
que compõem os custos de uma empresa, seja no curto ou no longo prazo, o fato é que
ser de grande dimensão, por si só, não assegura benefícios no efeito escala. São as es
tratégias bem-definidas e as ações bem planejadas que aproveitam as oportunidades,
especialmente no que se refere aos custos operacionais.
Por exemplo, ao pretender expandir-se, será preferível fazê-lo por meio de uma
cadeia de hipermercados atuante em zonas metropolitanas do que desenvolver novos
clientes em cidades menores, para que possa tirar vantagem das economias potenciais
resultantes da compra, da distribuição e da comunicação.
b) Curva de experiência
O efeito de experiência traduz-se na redução de custos, que é medida e prevista pela re
gularidade da produção unitária cumulativa. Ou seja, cada vez que o volume cumulativo
dos produtos fabricados dobra, os custos totais, inclusive os administrativos, das vendas,
do marketing, da distribuição, entre outros, mais os custos de fabricação caem de acordo
com uma porcentagem determinada. A constatação desse fenômeno foi observada e
estudada pelos técnicos da Boston Consulting Group nos anos 1960.
9
Para noção do ponto de equilíbrio, ver Capítulo 9.
Capítulo 6 A gestão comercial 91
6.8 A distribuição
Distribuir produtos é colocá-los à disposição do consumidor final ou do comprador in
dustrial na quantidade pedida, no momento em que ele necessita e no lugar onde possa
ser adquirido.
92 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
marginal decresce com o aumento repetitivo do consumo, uma vez que a inovação, a
alteração ou a criação de alguma dependência ao sistema é importante para o sucesso
em longo prazo da operação comercial.
A escolha do “comandante” do canal deverá ser completada com uma clara defi
nição de quais serão as suas responsabilidades, visto que a correta distribuição dessas
responsabilidades resultará em maior eficácia da função de distribuição, responsável
em grande parte pela diminuição da probabilidade de conflito e pelo conseqüente au
mento da qualidade do fluxo dos produtos ao longo do canal.
As funções exercidas pelos intermediários são essenciais ao processo de comer
cialização. Na maior parte dos casos essa função econômica é levada a cabo pelo co
merciante que compra ou tem em depósito os produtos para posterior venda. Quando o
produtor vende diretamente seus produtos aos consumidores, ele atua como comercian
te, substituindo-se, assim, o intermediário.
No entanto, a distribuição comercial não é protagonizada exclusivamente pelos
comerciantes. Outras instituições colaboram na função distribuição, sobretudo os
transportadores, os transitórios, as companhias seguradoras e os agentes comerciais,
entre outros.
Os grandes responsáveis pelo funcionamento do canal de distribuição são, sem
sombra de dúvidas, os atacadistas e os varejistas. São eles “as grandes estações” de
tratamento dos produtos, antes de chegarem aos consumidores, e são eles que garantem
o fluxo contínuo nos canais de distribuição.
O atacadista é o intermediário que vende aos varejistas, a outros atacadistas ou
fabricantes, mas não ao consumidor ou usuário final. Como é definida por Cruz Vidal
(1971, p. 35), “a função atacadista corresponde à atividade que tem por fim a compra
de mercadorias em grandes quantidades e de forma regular e contínua, assegurando
sua armazenagem de modo a promover o abastecimento normal dos clientes profissio
nais, sejam eles comerciantes, industriais ou simples artesãos, e ainda de determinados
organismos ou serviços do governo”. A existência de estoque é o elemento-chave des-
sa definição.
Os varejistas formam o último elo dos canais de distribuição. São os varejistas
que contatam diretamente os consumidores. Sem integrarem, na maior parte dos casos,
os quadros dos produtores ou atacadistas, têm influência primordial nas ações de mar
keting do fabricante ou do atacadista, influindo nos resultados das vendas. Essa função
Capítulo 6 A gestão comercial 95
varejista é definida como “a atividade que tem por fim a aquisição de produtos diver
sificados para colocá-los à disposição imediata do consumidor, nas quantidades e nas
condições que possam satisfazer melhor às suas necessidades e aos seus desejos, bem
como no local e no momento para ele mais conveniente” (Cruz Vidal, 1971, p. 35).
Ao se definir variedade como a gama de produtos colocados à disposição do
consumidor no ponto-de-venda, deduzimos, então, que variedade é o elemento-chave
da função varejista.
Os atacadistas e os varejistas têm em comum o fato de atuarem como agentes de
venda, para seus fornecedores, e de agentes de compra, para seus clientes. Dessa ma
neira, esses intermediários têm papel preponderante na criação das utilidades de tempo,
lugar e posse.
As principais atividades que caracterizam os atacadistas são:
1) Compra de mercadorias do produtor ou de outros atacadistas.
2) Agrupamento e normalização de produtos.
3) Transporte de mercadorias.
4) Armazenagem e conservação dos produtos.
5) Promoção e venda dos produtos.
6) Entrega ao varejista ou a outro atacadista.
7) Crédito a clientes.
8) Assumem riscos.
9) Assessoria ao varejista nas seguintes áreas:
• características dos produtos;
• novos produtos;
• produtos pedidos;
• gestão de pedidos e de estoques;
• gestão comercial;
• gestão administrativa.
"" sortimento;
"" localização dos pontos-de-venda;
"" serviços a oferecer aos clientes.
Os varejistas, pelo fato de estarem em contato mais estreito com o mercado, repre
sentam para a empresa produtora uma excelente fonte de informação sobre os produtos
ou sobre o comportamento de compra dos consumidores.
Do exposto, ressalta-se a importância da gestão em assinalar qual é a melhor opção
de distribuição, isto é, qual é a opção que permite à empresa atingir seus consumidores-
alvo de forma mais focalizada, pois assim obterá maior giro, com aumento da satisfação
dos seus consumidores, e o aumento do desempenho empresarial.
Com o aparecimento dos canais de e-business, principalmente os canais B2C –
business-to-consumer – surgiram novas oportunidades para os pequenos varejistas,
que normalmente atuam em uma forma de comércio de proximidade. Com efeito, o
e-commerce, visto como canal alternativo aos sistemas tradicionais de distribuição,
torna-se dispendioso quando se trata de escoar produtos alimentícios, já que as grandes
organizações repassam para o consumidor os custos adicionais de seu funcionamento.
As empresas varejistas que se associam em sistema centralizado de compras pode
rão se beneficiar da fraqueza do grande varejo, pois se a sua central de compras se trans
formar em um canal alternativo de e-commerce, que repassa os pedidos aos varejistas
Capítulo 6 A gestão comercial 97
localizados na região dos consumidores a serem atendidos, poderão eles próprios assegu
rar, com muito menos custos, a entrega de produtos, principalmente os de menor margem
e com melhor qualidade, pelo conhecimento da proximidade que têm do mercado.
• incompatibilidade de objetivos;
• direitos e deveres mal-esclarecidos;
• intermediários muito dependentes do produtor;
• diferentes visões sobre o ambiente.
De maneira geral, todos os conflitos têm origem no mau uso do poder (ver Bases de
poder, em 6.9.4.1 – na página 107), sobretudo no poder de coação (quanto maior o
poder de coação, maior é o conflito), sendo os conflitos inversamente proporcionais
ao poder de recompensa.
3) as ações que se pode tomar para resolver os conflitos são:
• reorientação de objetivos, isto é, sempre que existir sobre o canal uma ameaça de
conflito, os gestores devem procurar reorientar objetivos em conjunto;
• troca de pessoal entre membros do canal;
• co-adaptação, quer dizer, um esforço de organização para ganhar a confiança
dos membros do canal e, ao mesmo tempo, adaptá-los aos objetivos previstos.
6.9 A comunicação
Em mercados muito grandes, que crescem cada vez mais, nos quais as empresas atuam,
torna-se muito difícil comprar um produto que satisfaça a determinada necessidade que
se desconhece, ainda mais quando existem inúmeros produtos similares que podem
satisfazer a essa necessidade.
A comunicação visa informar os consumidores sobre o produto, argumentando e
fazendo mudar a sua atitude favoravelmente em relação ao produto comunicado. Essa
função poderá ser feita de forma pessoal ou impessoal e tem como finalidade estimular
a demanda.
Os grandes meios de comunicação em termos empresariais são:
"" propaganda;
"" promoção de vendas;
"" relações públicas;
"" vendas pessoais.
6.9.1 A propaganda
Os principais aspectos que caracterizam a propaganda são:
"" instrumento de comunicação que tem a finalidade de informar, persuadir e recordar;
"" forma de comunicar caracterizada por ser unilateral, impessoal e massiva;
"" quem controla a mensagem é o emissor, que é a própria empresa;
"" a inserção do anúncio é paga pela empresa;
"" é uma forma dirigida a um público específico – consumidores segmentados.
6.9.3.2 Patrocínio
Outra modalidade é o patrocínio, que consiste no financiamento e no apoio a iniciativas
sociais, culturais ou desportivas, com o fim de criar uma imagem favorável na mente
dos consumidores. O patrocínio pode apresentar várias formas – concerto musical,
exposição cultural, atividade desportiva ou mesmo determinada ação filantrópica, ou
uma manifestação em defesa do ambiente, que envolve, muitas vezes, figuras facilmen
te referenciáveis. Pode-se organizar tudo em prol de uma correta atividade de relações
públicas, que poderá ter um impacto positivo na imagem da empresa.
10
Corporate identity é aqui interpretada como a identificação do trabalhador com sua empresa – o “vestir a camisa da empresa” em
que se trabalha.
106 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
de comunicar, mas também como informador atento, buscando e canalizando toda in
formação do mercado para a empresa.
A função de canalizar informação para a empresa é hoje, em muitas ocasiões, mais
importante que a função de venda, pois ela servirá de suporte à tomada de decisões que
afetam a empresa, em tempo adequado. Sendo assim, o vendedor tem um papel fun
damental em toda a empresa e deve, por isso, receber treinamento indispensável com
atualização constante.
De outro lado, a atuação da força de vendas de uma empresa é primordial para
a criação da imagem da marca (do produto e da empresa) junto ao mercado, o que
contribui decisivamente para a fidelização do cliente. Não compete à força de vendas
apenas vender, mas também, fundamentalmente, realizar uma função de ligação entre
a empresa e os clientes, transmitindo-lhes informações sobre a empresa e vice-versa,
ou seja, dando à empresa o feedback do seu contato com o mercado e colaborando com
os clientes na solução dos seus problemas.
O vendedor de empresas modernas deverá ser principalmente um consultor e co
nhecer não somente o negócio, os produtos da sua empresa e seus concorrentes, mas
também o funcionamento e os produtos finais da sua empresa cliente. As empresas
deverão ser muito mais colaborativas e menos segregadas, o vendedor deverá ser um
parceiro, e não um adversário.
Um vendedor de produtos para uma indústria de determinado setor deverá conhe
cer não só seu produto e seu funcionamento, mas também as condicionantes de arma
zenamento e transporte para, por meio da venda, colaborar com o cliente na resolução
dos seus problemas. Da mesma forma, um vendedor de uma indústria de bens de grande
consumo deverá conhecer profundamente as técnicas de gerenciamento de espaços e o
processo de gerenciamento por categoria de produtos.
Essa falta de tempo ou, eventualmente, a falta de informações tem, muitas vezes, de ser
substituída in loco pela empatia dos nossos vendedores.
O pessoal de vendas é demasiado caro para a empresa para não ser cuidadosa
mente selecionado. Uma boa seleção, às vezes com a ajuda de empresas especializadas,
pode ser a chave para o sucesso na escolha do pessoal mais qualificado. Nunca é demais
realçar a importância que tem para a empresa o fato de seus representantes serem pes
soas qualificadas, com profissionalismo e que a representa condignamente, zelando
pelo seu prestígio e imagem.
O estudo dessas etapas por parte do agente interventor (vendedor) deverá ser cui
dadoso, e deve se recorrer sempre que for necessário às técnicas de venda apropriadas.
Para tal, deverão ser analisados os vários aspectos relacionados à visita, entre eles,
o conhecimento:
"" do produto ou do serviço a apresentar;
"" da empresa e do grupo a que está associada;
"" de produtos que ela fabrica, além dos que estão em pauta, assim como o conheci
mento de produtos fabricados pelas demais empresas do grupo;
"" da empresa compradora e dos produtos que vende;
"" do grupo de empresas em que a empresa compradora está integrada;
"" do interlocutor (comprador) nos aspectos pessoais, profissionais, suas característi
cas, seu padrão de comunicação inter-relacional (se submisso, se dominante...);
"" da cultura empresarial do comprador;
"" da hierarquia e da posição hierárquica do interlocutor.
Capítulo 6 A gestão comercial 109
Com base nessa análise, o vendedor saberá preparar a relação de poder e quais são
os aspectos relevantes que serão discutidos na inter-relação. A questão do poder deverá
ser analisada minuciosamente, de modo a encontrar-se um equilíbrio para toda a con
versação que se mantiver, podendo, dessa maneira, conseguir conduzir a conversação,
e não ser conduzido por ela.
A interação propriamente dita é composta por várias etapas, e aqui está em jogo,
na realidade, toda a capacidade do interlocutor. Essas etapas são as seguintes:
"" abordagem;
"" apresentação da venda;
"" forma de lidar com as objeções;
"" fechamento da venda.
Todos esses instrumentos têm diferentes graus de segurança para a operação co
mercial, no entanto, todos eles devem representar um roteiro de como a operação co
mercial evoluirá após o fechamento da venda, daí a sua importância enquanto elemento
de controle da operação.
Nunca existem duas vendas iguais, dois clientes são sempre diferentes. Tomar a
venda como um processo sistemático tem, assim, grandes desvantagens, sobretudo na
busca da informação a que a venda moderna deve conduzir.
1. Podemos encontrar produtos semelhantes, com preços semelhantes, com propaganda semelhante e
em pontos-de-venda com características semelhantes. Então, o que nos leva a comprar certo produto
por determinado preço em dado local?
2. A função dos grandes hipermercados é somente alugar espaço para que os produtores coloquem seus
produtos e facilitar para que os consumidores tenham acesso a eles?
7
A administração
de vendas
PARA REFLETIR...
Vender ou comprar produtos e serviços?
Os primeiros têm como função influenciar os médicos a prescrever aos seus pa
cientes os medicamentos dos laboratórios que estes representam, enquanto os represen
tantes das editoras tentam influenciar os professores a aconselhar aos alunos os livros
da editora que representam.
Podemos resumir os diferentes tipos de venda no Quadro 7.1, apresentado a
seguir.
A escolha de um sistema de vendas adequado às necessidades da empresa depen
derá de vários fatores, sobretudo:
"" da posição que a empresa ocupa no canal de distribuição, isto é, se a empresa é fa
bricante, atacadista ou varejista;
"" do sistema de distribuição, isto é, sempre que um fabricante tiver como clientes
atacadistas e varejistas, precisará de vendedores para esses dois setores (atacado e
varejo). Se um fabricante utilizar um sistema de resposta direta (por exemplo, Avon
ou Natura), precisará ter uma grande equipe de vendedores;
"" do tipo de produto, ou seja, quanto mais complexo for o produto, menos freqüente
será o seu consumo. Normalmente, em transações de alta implicação, há maior ne
cessidade de utilização de vendedores mais bem preparados e especializados, co
mumente, funcionários da empresa. Se o produto for de baixo custo e a compra,
freqüente ou de baixa implicação, a necessidade da venda pessoal poderá ser redu
zida, e o produto poderá eventualmente ser vendido em self-service;
118 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Sistemas indiretos
"" das formas de venda tradicionalmente utilizadas no setor que, por vezes, existem em
setores da economia com sistemas de vendas já utilizados há muito tempo. Sendo
assim, torna-se difícil inovar tais sistemas.
Outras tarefas atribuídas à força de vendas são tão ou mais importantes que a
ação da venda e podem influenciar a decisão na escolha da equipe de vendas. Algumas
dessas tarefas são:
"" prospecção – grande parte do tempo do vendedor é gasta com a prospecção de
novos clientes;
"" comunicação – a rede de vendas gasta parte do tempo na divulgação de novos pro
dutos;
"" serviço – os serviços, sobretudo o de pós-venda e o de consultoria, são trabalhos do
vendedor;
"" informação – a obtenção de informações, principalmente sobre a concorrência e os
respectivos produtos, deve constar nos relatórios de vendas.
Todas essas tarefas juntamente aos objetivos definidos devem servir de linha
mestra na definição e no projeto da rede de vendas.
A seleção dos apelos a utilizar durante a interação depende em grande parte das
necessidades dos clientes e da maneira pela qual nossos produtos podem satisfazê-las.
Capítulo 7 A administração de vendas 123
"" custos fixos, que implica maiores custos para volumes de vendas baixos e menores
custos para volumes altos.
nem sempre é fácil e deve atender não só aos valores monetários recebidos pelo pessoal,
mas também a outros aspectos, especialmente relativos à distância e ao tempo passado
fora da sua residência.
As redes podem estar estruturadas das seguintes formas:
"" por áreas geográficas;
"" por produtos;
"" por clientes;
"" de formas mistas ou combinações das anteriores.
A empresa aproveita uma viagem do vendedor para vender toda a sua gama de
produtos. Deve-se procurar delimitar territórios de venda similares quanto à carga de
trabalho, à extensão, às distâncias a percorrer, à política de comunicação da empresa,
ao número de clientes e aos clientes potenciais.
Ao atender a esses critérios, o que nem sempre é tarefa fácil, conseguindo ter
ritórios ou áreas homogêneas, as compensações dos vendedores serão semelhantes e
diminuirá conflitos desagradáveis entre o pessoal de vendas.
1
“Interrogações”, uma das designações possíveis para produtos situados no quadrante superior direito na matriz BCG.
Capítulo 7 A administração de vendas 127
Os valores indicados refletem custos médios no setor, mas são meramente indica
tivos, podendo, no entanto, observar-se que o primeiro determinante desses custos será
o tamanho da força de vendas.
Tipo de conta Volume mensal Número de contas Visitas planejadas Total de visitas
A 2.000 100 24/ano 2.400
B 600 300 12/ano 3.600
C 50 600 6/ano 3.600
Total 9.600
130 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
De todas as visitas, as que se apresentam mais incertas são aquelas feitas aos clientes
potenciais, pois ao não conseguir qualificar esses clientes, perde-se tempo e dinheiro.
Se um cliente é potencial, quanto mais visitas forem feitas, maior será a possibi
lidade de torná-lo um cliente qualificado. Mas, assim, deixamos de visitar outros só
para qualificar um potencial cliente. Perguntamos: quantas visitas devem ser feitas a
um cliente potencial antes de abandoná-lo e dedicarmo-nos a outros clientes? Portanto,
se considerarmos:
p(n) = probabilidade de se qualificar um cliente potencial após n visitas;
VAN = valor atual obtido de um cliente real – lucro;
c = custo médio de uma visita;
n = número de visitas efetuadas a um cliente;
Zi = benefício esperado por se qualificar um cliente potencial ao cabo de n visitas.
Teremos:
Zi = p(n) × VAN – nc
No caso das comissões, são proporcionais ao volume de vendas, por isso represen
ta um custo variável. No entanto, os bônus ou prêmios são estabelecidos para que sejam
atingidas determinadas metas. Esses incentivos são custos fixos que têm influência
nos custos fixos da empresa, sendo, por exemplo, atribuídos aos vendedores que con
seguirem atingir determinado valor de vendas ou que abrirem determinado número de
novas contas.
Custos financeiros
Custos resultantes do crédito a clientes
Ao examinarem os apelos oferecidos com base no crédito, os gestores de vendas devem
analisar os seguintes aspectos (Quadro 7.6):
"" estimativa das vendas que poderiam ser feitas, considerando-se políticas de crédito
alternativas;
"" os custos do crédito (normalmente a soma do custo dos empréstimos em curto prazo
mais o custo de gestão do crédito);
"" a taxa anual de rotação de contas a receber;
"" a contribuição marginal variável CMV = preço de venda – custos variáveis
(custos variáveis são proporcionais ao volume de vendas).
EXEMPLO
Contribuição marginal variável (CMV)
A Canned Foods produz e comercializa refeições prontas congeladas. A empresa lançará uma campanha de cupoing durante o
próximo mês, com a finalidade de atrair consumidores para suas novas variedades – comida mexicana.
A empresa planeja distribuir 100 mil cupons (válidos para qualquer variedade da nova linha de comida mexicana) por direct
mail a um custo de R$ 50 mil.
Atualmente, a Canned Foods vende sua linha de pratos mexicanos congelados aos varejistas por um preço médio de R$ 30 por
caixa de seis unidades.
Os custos variáveis da empresa são de R$ 12 por caixa. A contribuição marginal variável por caixa é de:
CMV por caixa = Preço de venda por caixa – Custo variável por caixa
= R$ 30 – R$ 12
= R$ 18
De acordo com os termos do lançamento da campanha de cupoing, a Canned Foods reembolsará os varejistas pelo abatimento
feito aos consumidores em R$ 1 por embalagem, ou seja, R$ 6 por caixa mais R$ 0,15 por cupom resgatado (R$ 0,90 por caixa).
Então, o CMV por caixa baseado na venda com cupom será:
CMV por caixa = R$ 18 – R$ 6 – R$ 0,9
= R$ 11,10 por caixa
Com base em experiência anterior, a Canned Foods prevê que 6% dos cupons serão resgatados na venda de refeições
congeladas. Ainda de acordo com dados anteriores, a empresa prevê que 20% dos cupons resgatados estarão relacionados
a vendas efetuadas a clientes habituais de outros produtos e também que, devido ao limitado espaço nos seus freezers, os
consumidores habituais não armazenam quantidades maiores devido à campanha em curso. Assim, poderemos estimar o resultado
no impacto do volume de vendas da campanha:
Para se concluir sobre o impacto no lucro, devemos considerar também outros aspectos do problema, que são o fato de
termos conseguido novos clientes por intermédio da campanha e ainda os lucros futuros ao cativar esses novos clientes. Também
devemos examinar se a campanha conduzirá à canibalização nas vendas de outros produtos ou se criará desejo nos clientes pela
nova linha, com manutenção do nível de vendas dos produtos existentes.
Capítulo 7 A administração de vendas 135
R$ 400.000 × 0, 20 = R$ 80.000
em que:
Rotação de estoques =
Vendas anuais/valor médio de estoque mantido pela empresa
Custos de transporte
Os programas de vendas e distribuição podem afetar os custos de transporte, especial
mente quando:
"" a força de vendas oferece entregas mais rápidas.
"" são oferecidas entregas mais freqüentes, muitas vezes com os meios de transporte
(caminhão ou trem) parcialmente carregados.
Às vezes, a ajuda para que um novo cliente implemente na sua empresa um siste
ma de just-in-time é um requisito para que a venda seja consumada.
Pelo fato de o aumento dos custos de transporte ser em grande parte ocasionado
por um aumento de vendas, é natural que deva ser atribuído aos programas de vendas
e distribuição, no entanto, os custos com transporte são parte importante na estrutura
de custos dos produtos vendidos, porém, não poderão ser repassados aos clientes, sob o
risco de o preço de transação subir muito.
Descontos
Os vendedores podem utilizar descontos de caixa ou de quantidade, que têm como re
sultado uma redução na contribuição variável marginal.
Como se viu, definimos contribuição marginal variável como a diferença entre o
preço de venda (faturamento) e os custos totais variáveis, em que os custos totais variá
veis são os custos que variam conforme o volume de vendas,2 como as comissões, os
custos de embalagem etc. Os descontos de caixa e os de quantidade também podem ser
considerados custos variáveis e, como tal, têm influência na determinação da contri
buição variável marginal.
Descontos de caixa
Os descontos de caixa têm a finalidade de acelerar os recebimentos. Embora tenham um
efeito de encorajar a rapidez de recebimento, são superiores aos custos financeiros.
Por exemplo, uma empresa que oferece um desconto de 2% aos clientes que pagam
em dez dias da fatura, em vez dos 30 dias “sem desconto”, está, na realidade, pagando
2% para obter o seu dinheiro 20 dias mais cedo. Se calcularmos em função da taxa
2
Neste capítulo, não faremos diferença entre custo e despesa, tal como será definido no Capítulo 9.
Capítulo 7 A administração de vendas 137
Descontos de quantidade
Por meio de descontos de quantidade, o vendedor poderá contribuir para a obtenção do
melhor desempenho da função vendas. Para atingir aquela finalidade, deverá o vende
dor atentar aos seguintes aspectos:
"" uma possível mudança de alguns encargos e custos para o cliente;
"" reduzir os contatos de venda e os custos de processamento de pedidos;
"" economizar nos custos de expedição e aumentar o volume por encomenda;
"" melhorar a produção, devido às maiores encomendas conseguidas.
Por exemplo:
Uma empresa compra 1.200 peças por ano em encomendas mensais de cem unidades.
Se admitirmos que os custos com a visita de vendas e os custos administrativos resul
tantes são de R$ 50, os custos de manutenção de estoque são de 20%, os custos unitá
rios variáveis de produção são de R$ 10 e o preço de venda unitário é de R$ 15.
Suponha que o comprador encomendará a cada dois meses, e não mensalmente Se
o preço baixar para R$ 14,50, significa que somente seis encomendas de 200 unidades
seriam processadas anualmente. Do ponto de vista do vendedor, poder-se-á comparar
as duas situações na tabela a seguir:
Custos variáveis R$ 10 R$ 10
Custo da encomenda R$ 50 R$ 50
Número de encomendas 12 6
Rappel e “atenções”
Rappel
O rappel é um desconto cumulativo de quantidade baseado nas compras efetuadas em
determinado período, normalmente um ano.
Nas negociações atuais, os rappels são utilizados como apelos à compra. Com
esse tipo de desconto, o cliente não procurará com tanta vontade outros fornecedores e
isso contribuirá para maior fidelização do cliente.
"" verificação dos níveis de venda e de cota de mercado para saber se foram alcançados
com a produção instalada;
"" revisão do programa de vendas para desenvolver um orçamento mais realista, se for
necessário;
Capítulo 7 A administração de vendas 139
"" fixação de metas, se for o caso, para os objetivos determinados, e cotas de venda
por vendedores, por territórios ou por contas, para cativar recursos humanos e
financeiros de maneira consistente, com a atribuição de objetivos, cotas e o poten
cial do território em questão.
Para poder utilizar com clareza essas informações, será necessário identificar se
os desempenhos são devidos a ações dos vendedores ou se, pelo contrário, resultam de
ações não-controláveis das forças do mercado. Assim, a sua avaliação deverá distinguir
entre as medidas orientadas pelos resultados e as medidas orientadas pelos esforços dos
vendedores/distribuidores.
140 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
1. Volume de vendas
2. Cota de vendas
dos diferentes vendedores que atuam em diferentes territórios. Contudo, cada território
poderá ser avaliado em função do cumprimento dos objetivos previamente estabelecidos
e em termos de rentabilidade.
Muitas vezes, os gestores utilizam essas medidas não só para determinar os bônus
que são atribuídos aos vendedores, mas também para identificar quais são os territó
rios com baixo desempenho. Nessa análise, devemos levar em conta se os objetivos
determinados para o território em causa foram atingidos unicamente pela concessão de
apelos em preços que eventualmente resultem em um rebaixamento da rentabilidade
das vendas.
Rentabilidade de vendas
As medidas de rentabilidade podem assumir várias formas nos diferentes territórios. A
fórmula mais comum para se concretizar essas medidas é a que relaciona a contribui
ção para o território em porcentagem das vendas totais e a taxa de rotação dos ativos
– ROAM (returm on assets managed), rentabilidade dos ativos geridos –, que será
desenvolvida no Capítulo 9.
Comparando a rentabilidade nos diferentes territórios de venda e relacionando
com os objetivos prefixados, os gestores poderão analisar o desempenho das vendas
nos diferentes territórios. Por exemplo:
"" um valor percentual baixo da contribuição variável marginal indicará que, nas
vendas, estão sendo utilizados apelos ao preço em excesso;
"" uma relação baixa entre vendas e estoques médios indicará que os apelos logísticos
estão sendo usados em excesso;
"" em um território em que o objetivo da empresa for o “desenvolvimento de contas”
(qualificação de novos clientes) e o acompanhamento mostrar que esse objetivo não
está sendo alcançado de acordo com as previsões da empresa, poderá mesmo assim
acontecer de a relação entre novas contas e os valores pagos como remuneração dos
vendedores estarem desproporcionalmente altos. Se assim for, poderemos concluir
que a força de vendas está de fato tendo sucesso na obtenção de novas contas, sem,
contudo, aproveitar todas as oportunidades do mercado, e provavelmente devere
mos aumentar o efetivo da força de vendas naquele território.
Análise de vendas
A análise de vendas cobre vários procedimentos, como o exame do desempenho das
vendas, as oportunidades de venda nos vários territórios, para diversos clientes e canais
de distribuição. Essa análise servirá aos responsáveis de vendas para que possam res
ponder a certas perguntas como as que são apresentadas a seguir:
"" Como as vendas estão distribuídas em cada segmento?
"" Em que segmento de vendas foram excedidas ou não foram atingidas as expec-
tativas?
"" Qual é a eficácia da atribuição de recursos a cada segmento de vendas?
"" Que produtos estão sendo vendidos em cada segmento?
"" custos diretos, fixos, que não ocorreriam se determinado segmento de vendas não
fosse trabalhado (por exemplo, se um vendedor vendesse somente a dado segmento e
os salários e as despesas de locomoção fossem somente atribuídos a esse segmento);
"" custos indiretos que possam ser atribuídos a vários segmentos de uma maneira
não arbitrária. Operacionalmente, as firmas só atribuirão esses custos indiretos
quando seu nível for influenciado por apelos ou por esforço de vendas do segmen-
to considerado.
A análise da tabela acima revela diferenças significativas nas rentabilidades relativas dos diferentes sistemas:
►► a porcentagem da contribuição marginal variável, no caso de vendas por resposta direta, é de 60%, em confronto com
os canais de resposta indireta, cuja porcentagem é de 42%, o que reflete a eliminação das margens dos intermediários
naqueles sistemas;
►► expedição, custo dos vendedores e de encomenda em função da porcentagem de vendas, que são maiores no caso das lojas
de qualidade do que nos departamentos dos magazines. A principal razão para esse motivo está no volume de compras, que é
menor e com maior freqüência de entregas nas lojas de qualidade;
continua
144 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
continuação
Com base nessa análise, a Gentil estabeleceu as seguintes ações com vistas a melhorar a rentabilidade:
►► a Gentil estabelecerá um volume mínimo para as notas de encomenda ou estipulará que, para pequenas encomendas, o trans-
porte será por conta dos compradores;
►► a Gentil requererá pagamentos em dinheiro nas pequenas encomendas para reduzir os custos de crédito;
►► a Gentil reduzirá a freqüência das visitas de venda aos pequenos clientes para diminuir o número de vendedores, melhorando
assim o desempenho das vendas;
►► pelo fato de a contribuição marginal variável ser idêntica nos dois canais indiretos, é sugerido que não se ofereça descontos
de quantidade. A Gentil poderá aumentar os preços de venda e oferecer descontos de quantidade para os clientes com grande
volume de compras;
►► a Gentil poderá contratar vendedores externos (representantes ou agentes comerciais) para vender para as lojas de qualidade;
►► a Gentil poderá separar o segmento de vendas em subsegmentos baseados no volume de vendas.
1. Em que condições deve a empresa pagar comissão ou alternativamente salário fixo aos seus ven
dedores?
2. Deverá a remuneração dos vendedores estar relacionada ao volume de vendas ou poderá estar relacio-
nada a outros aspectos de administração de vendas? Quais?
8
A gestão
de compras
PARA REFLETIR...
No comprar é que está o ganho.
1
Para aprofundamento sobre modelos de comportamento de compras organizacionais, consultar BAILY (1999, p. 440).
Capítulo 8 A gestão de compras 149
"" preço – revisões de preço para baixo ou para cima poderão ser consideradas; com
pras repetidas poderão ter preços e condições de entrega negociados;
"" inovações e canibalização2 de produtos – muitas empresas fazem reposições cegas
de estoque, sem atenderem a possíveis inovações de produtos. Quando isso aconte
ce, a rotatividade dos produtos “antigos” diminui.
Uma compra complexa poderá conduzir a uma pesquisa sobre fornecedores que
possam tornar-se parceiros de longo prazo ou fornecedores preferenciais, quando a em
presa realiza contratos de longo prazo com determinado fornecedor para ajudá-la a
controlar riscos; nesses casos, o fornecedor é responsável pelo gerenciamento e pela
execução das atividades, e o contrato entre ambos deverá prever incentivos para asse
gurar objetivos comuns.
Com base no consumo, as compras de mercadorias e serviços podem ser divididas
em duas categorias (Quadro 8.1):
"" compra direta, relacionada diretamente com a operação da empresa;
"" compra indireta, sempre que se tratarem de aprovisionamentos não diretamente re
lacionados à produção.
2
O termo canibalização é utilizado em gestão para designar a redução nas vendas de determinado produto ou serviço provocada
pela comercialização, pela mesma empresa, de outro bem ou serviço. A canibalização é tanto maior quanto maior for o grau de
substituição entre o novo produto ou serviço e o produto ou serviço já existente. Disponível em: <http://www.notapositiva.com/
dicionario_gestao/canibalizacao.htm>. Acesso em: 28 jul. 2008.
150 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
3
Custo de oportunidade está relacionado a determinada escolha. Se uma empresa, por exemplo, optar por certo fornecedor que não
entrega matérias-primas no prazo previsto, ela poderá ter um custo correspondente a uma parada na sua produção por falta de
insumos.
Capítulo 8 A gestão de compras 151
em que:
D = demanda ou quantidade anual de uso;
P = custo do pedido;
c = custo unitário;
s = custo de estocagem (em porcentagem do valor do estoque médio).
4
Ponto de pedido é a altura em que se deverá efetuar a compra de determinado insumo ou produto (Figura 8.4).
Capítulo 8 A gestão de compras 153
Não considerar outros fatores além do preço pode ocasionar de um preço que
seria considerado bom de repente passar a ser não atraente. As empresas de pequeno
porte que trabalham com produtos ou matérias-primas importadas devem estar parti
cularmente atentas a esses fatores. Custos imprevisíveis podem ocorrer – por exemplo,
Capítulo 8 A gestão de compras 155
Matriz de compras
Produto Principal método de compra Métodos alternativos de compra
Animais Requisição
Comprar é uma das principais funções da empresa, pois exige dos compradores
constante acompanhamento de todos os processos, desde a negociação, o cumprimento
do prazo de entrega, a recepção dos produtos e ainda a confirmação de que os produtos
ou serviços comprados atendem às necessidades dos clientes internos da empresa por
parte do departamento de compras. Além do desenvolvimento dessas competências, o
comprador se sujeita a grande pressão por parte de vendedores, que se vêem, muitas
vezes, confrontados com problemas éticos. A elaboração de um código de ética (Quadro
8.3) pela empresa permitirá estabelecer normas de conduta e contribuir para um melhor
desempenho do comprador.
continua
158 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
continuação
►► Na negociação, não utilize comparações de características de produtos concorrentes sem prévia autorização.
►► Faça o esforço possível para negociar acordos mutuamente justos acima de qualquer controvérsia.
►► Compareça pontualmente e com cortesia às reuniões marcadas.
►► Coopere com as associações comerciais, industriais, profissionais, o governo e as associações privadas no desenvolvimento de
novos métodos de negociação.
►► Aceite opiniões e coopere com os outros funcionários da empresa, promovendo um espírito de unidade que proporcione cresci-
mento de todos.
PARA REFLETIR...
O lucro pela quantidade ou o lucro
pela qualidade? Quanto mais vender,
melhor, ou quanto melhor vender, melhor?
"" como criação e criadoras de um meio material; a área externa à organização na qual
se encontram as oportunidades e os resultados, mas que também é a origem das
ameaças ao êxito e a sobrevivência da empresa.
É assim, por meio do controle, que as empresas logram sua integração na socieda
de e investem no seu desenvolvimento. O controle torna-se uma metodologia impres
cindível do gerenciamento atual de qualquer tipo de empreendimento. Esse controle
deve ser executado em todos os níveis da empresa, porém sempre de forma sistêmica,
considerando-se a organização como um todo.
A forma mais visível desse controle é a análise sistemática da saúde financeira da
empresa e dos seus departamentos. Assim, é por meio de um sistema de informações
que a empresa conseguirá entender toda a situação interna e externa, e os documentos
financeiros possibilitarão esse entendimento de forma mais clara, refletindo a cada mo
mento a perspectiva de lucro ou prejuízo. A administração financeira é o departamento
empresarial responsável pela obtenção e análise dessas informações e pela produção de
relatórios descritivos da situação financeira da empresa.
"" informam os administradores sobre a real situação da empresa e permitem agir com
dados concretos e não por impulso ou por suposição;
"" poderão ser úteis para a obtenção de financiamentos.
Noção
Ativos = Exigível + Patrimônio líquido
Noções
Capital de giro líquido é a diferença entre o ativo circulante e o exigível circulante; isso significa que o dinheiro
que se tornará disponível nos próximos 12 meses superará o que deverá ser pago no mesmo período.
Liquidez refere-se à facilidade de um ativo ser transformado em dinheiro – ativos circulantes são
normalmente líquidos, ativos permanentes são geralmente sem liquidez.
Capítulo 9 Administração financeira 163
Quadro 9.1
TransGlobal Ltda.
Balanço em 31 de dezembro de 2000 e 2001 (em milhões de reais)
Ativos Passivos
2000 2001 2000 2001
Ativo circulante Exigível circulante
Caixa R$ 188 R$ 135 Contas a pagar R$ 201 R$ 256
Contas a receber 398 750 Títulos a pagar 266 210
Estoques 630 615 Total R$ 467 R$ 466
Total R$ 1.216 R$ 1.500
Ativo permanente Exigível a longo prazo R$ 550 R$ 700
Patrimônio líquido
Instalações e Capital mais reservas 550 600
equipamentos R$ 1.885 R$ 2.050 Lucros retidos 1.534 1.784
(líquido) Total R$ 2.084 R$ 2.384
Total de exigível
Mais patrimônio
Total do ativo R$ 3.101 R$ 3.550 R$ 3.101 R$ 3.550
líquido
164 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
TransGlobal Ltda.
Demonstração de resultados em 2001 (em milhões de reais)
Receita líquida de venda 1.329
Custo dos produtos vendidos 530
Depreciação 65
Lucro antes de juros e impostos 734
Juros pagos 60
Lucro tributável 674
Imposto de renda 186
Lucro líquido 488
Acréscimo de lucros retidos 250
Dividendos 238
Noção
Uma das razões pelas qual o lucro contábil difere do fluxo de caixa é que a demonstração de resultados
contém itens não monetários como as depreciações, por exemplo.
É esse sistema que nos ajudará a administrar o dia-a-dia da empresa, por meio
de planilhas que irão refletir esses movimentos (exemplo Quadro 9.4), e cujo controle
poderá ser diário ou mensal.
O fluxo de caixa serve, assim, para o empresário poder controlar o dia-a-dia do
seu negócio. O pequeno empresário deverá ainda conferir os valores do seu fluxo de
caixa com os valores calculados anteriormente em uma previsão.
A projeção de um fluxo de caixa deficitário alerta o empresário para uma cobran
ça mais agressiva, para uma necessidade de pagamento diferido no tempo ou mesmo
para a necessidade de um financiamento. Um fluxo de caixa que apresenta um saldo
positivo em determinado momento poderá levar o empresário a negociar melhor um
produto, por antecipação de entrega ou pagamento, ou a procurar outra forma de ren
tabilidade, por exemplo, por meio de uma aplicação financeira temporária. Nesses
casos, devem ser feitas correções na projeção para que um superávit em determinado
momento não se transforme em um déficit posteriormente.
166 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
"" desvantagens:
• o aumento de crédito, se não for acompanhado de aumento de vendas, poderá
provocar diminuição da rentabilidade de vendas;
• variação das condições de crédito representa para a empresa uma oportunidade
de vender mais barato e se ganhar com o giro, mas pode ocasionar um possível
desposicionamento do produto;
• o custo de oportunidade de não vender deve ser inferior à vantagem (custo) ofe
recida de vender em condições diferenciadas.
Quando a empresa recorre a capital externo, deverá estar organizada para apre
sentar os elementos que confirmam suas necessidades e expressam a viabilidade e a
forma de pagar o empréstimo requerido. Assim, uma das formas será por meio de proje-
ções de fluxo de caixa integradas em um plano de negócios, que deverá ser coerente
com a realidade da empresa e com a evolução do mercado. Os montantes a serem pe
didos deverão, nesse caso, ser os estritamente necessários, pois os juros de dinheiro
parado oneram as nossas despesas desnecessariamente.
de custos e podem ser tratados de várias formas, contrariamente aos sintéticos, em que
existe um tratamento padronizado e, na maioria dos casos, de forma obrigatória.
A maneira mais simples de tratamento do problema é por meio da divisão de cus
tos em dois tipos, fixos e variáveis, e das despesas,2 também fixas e variáveis, alocan
1
do posteriormente todos os custos e as despesas aos produtos, por meio de forma direta,
no caso dos custos variáveis, e de critérios de rateio, para os custos fixos.
1
Custo é o gasto relativo ao bem ou serviço utilizado na produção de outros bens e serviços.
2
Despesa refere-se ao bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a obtenção de receitas.
3
Custos variáveis: quanto maiores forem as unidades ou as atividades consumidas, maior será o seu valor.
4
Custos fixos representam determinado valor, independentemente da variação de volume da atividade, em um período (por exem-
plo: aluguel).
5
Custos diretos são aqueles que podem ser apropriados diretamente aos produtos.
6
Custos indiretos não oferecem condição de medida objetiva, e qualquer tentativa de alocação tem de ser feita de maneira estimada
e, muitas vezes, arbitrária.
172 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Analisando o Quadro 9.5, a alocação de custos indiretos aos dois produtos será
diferente se utilizarmos o critério horas-máquina ou o critério mão-de-obra direta:
7
ABC (activity-based costing, ou custeio baseado em atividades) procura apropriar os custos indiretos às atividades que conduzem à
produção de bens e serviços.
Capítulo 9 Administração financeira 173
seus produtos. Deveremos adotar um sistema que possa acompanhar de perto todas as
mudanças e refleti-las na tomada de decisão. A aplicação do método de custeio baseado
em atividades torna-se onerosa, além de nem todas as empresas estarem preparadas
para sua implementação.
Alternativamente, uma das metodologias mais utilizadas no mundo é a dos centros
de custos – RKW (Reichskuratorium für Wirtschaftlichtkeit) –, que consiste no rateio
não só dos custos de produção, mas também de todas as despesas da empresa, inclusive
as financeiras, aos produtos (Martins, 1998, p. 236). Parece-nos ser esta a metodologia
de maior sucesso para empresas de pequeno porte. Assim, podem as empresas utilizar
uma “divisão da empresa” com o estabelecimento de diferentes centros de custos, alo
cando todas as despesas e todos os custos a esses centros de custos, mediante critérios
estabelecidos de acordo com a realidade de cada empresa.
Considerando que:
CT = Custo total;
FPE = Faturamento no ponto de equilíbrio;
CVPE = Custos variáveis no ponto de equilíbrio;
CF = Custos fixos.
FPE = CT,
ou seja,
FPE = CF + CVPE,
ou seja,
N = CF
P – CVu
em que:
N = Quantidade do ponto de equilíbrio (número de unidades vendidas para se obter o
ponto de equilíbrio);
CVu = Custo variável unitário do produto.
"" Giro do ativo permanente – Mede a eficiência da empresa no uso de seus ativos
permanentes para gerar vendas.
Vendas
Giro ativo permanente =
Ativo permanente
Capítulo 9 Administração financeira 177
"" Giro do ativo total – Mede a eficiência da empresa no uso de seus ativos para gerar
vendas.
Vendas
Giro ativo total =
Ativo totais
9.7.3 Endividamento
O endividamento mede o montante de recursos externos usados para gerenciar
a empresa.
"" Índice exigível a longo prazo – patrimônio líquido – é usado para medir o grau
de alavancagem da empresa, pois representa a relação entre os ativos investidos de
terceiros e os ativos aportados pelos proprietários do negócio.
Exigível a longo prazo
Exigível a longo prazo =
Patrimônio líquido
Quanto mais alto, melhor.
ou = Lucro bruto/vendas
"" Taxa de retorno sobre o ativo total (ROA – Return on total assets) – mede a eficiên
cia global da administração na geração de lucros em função dos ativos disponíveis.
Lucro líquido após o imposto de renda
Taxa de retorno sobre o ativo total =
Ativo total
"" Taxa de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE – return on equity)
Quanto mais alta for, melhor para os proprietários.
Lucro líquido após o imposto de renda
Taxa de retorno sobre o patrimônio líquido =
Patrimônio líquido
ou seja,
"" ROE – Rentabilidade do Patrimônio Líquido (Return on common equity), também
chamado RCP – Rentabilidade dos Capitais Próprios. Como regra, uma empresa
deverá apresentar um índice entre lucros e situação líquida superior à taxa de rendi
mento das obrigações do Tesouro para poder dizer que é realmente rentável.
180 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
destinados a clientes dessa região. Se essa região tiver autonomia para gerenciar a po
lítica de crédito a ser aplicada aos seus clientes e possuir o próprio armazém, o geren
ciamento dos ativos poderá ser facilmente aplicável. Uma análise de vendas e de custos
identificará os resultados obtidos e os custos com a obtenção desses resultados.
Tomemos o exemplo do departamento de vendas de uma empresa que quer es
tabelecer uma análise comparativa entre as várias regiões de vendas em que atua –
Quadro 9.6.
Definição
Margem de contribuição (MCm) é a diferença entre o preço de venda e a soma das despesas e dos custos variáveis.
Designa-se por marginal porque, a cada unidade a mais de venda, a contribuição para o lucro cresce na mesma proporção
do que a margem de contribuição em função das vendas, sempre que se mantiver os custos fixos invariáveis.
182 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
No exemplo anterior, verificamos que venderemos mais na região D, mas que essa
venda somente contribui para a formação do lucro com 3%. Embora sua contribuição
marginal seja similar à região A, isto é, o departamento de vendas da região D gera
vendas com custos fixos muito elevados, ao passo que a região C contribui dez vezes
mais para o lucro, ou seja, os R$ 50 mil de vendas pela região C tem uma rentabilidade
maior, e assim se deduz que os processos utilizados são mais eficientes.
Logo, propomos uma análise do departamento de vendas da empresa, separando-o
dos departamentos restantes – financeiro, produção, pesquisa e desenvolvimento etc. –
e comparando as diferentes regiões do departamento de vendas, o que nos permite ana
lisar maior ou menor desempenho desse departamento sem interferência dos demais,
mas mantendo uma visão global da empresa.
Para atingir esse objetivo, poderemos utilizar a medida de rentabilidade de ativos
gerenciados – ROAM – Return on Assets Managed –, que definiremos da seguinte
maneira:
ou seja:
CV = custos variáveis;
CF vendas = custos fixos diretos aplicáveis ao departamento de vendas em análise;
CT – Contribuição total = definida como “a diferença entre o volume de vendas e a
soma dos custos variáveis e dos custos fixos diretos aplicáveis ao departamento de
vendas”.
9.9 Impostos
Os impostos representam uma das maiores saídas de caixa da empresa. No Brasil, as
empresas estão sujeitas a um conjunto complexo de impostos e contribuições com algu
mas particularidades, dependendo, muitas vezes, da dimensão da empresa e do tipo de
arrecadação por ela escolhido. Existem impostos federais, estaduais e municipais que
as empresas devem recolher, sendo mais relevantes os citados a seguir.
Capítulo 9 Administração financeira 183
"" Alíquota adicional vigente: incide 0,38% sobre as operações de crédito, independen
temente do prazo, para pessoas físicas ou jurídicas;
9.9.6 O ICMS
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS é o im
posto estadual de maior importância nas empresas e também o que causa maior buro
cracia, tendo ainda alíquotas diferentes em diferentes Estados, pois é da competência
dos Estados e do Distrito Federal instituir e cobrar o ICMS, podendo cada um legislar
de forma diferente.
O ICMS é devido (ocorre fato gerador) sempre que houver qualquer movimenta
ção de bens, independentemente da relação comercial que exista, e desde que o agente
possa ser considerado contribuinte do imposto. Ele também é devido nas operações de
importação. Sistematizando:
"" saída de mercadoria em venda para consumidor final;
"" saída de mercadoria para outro estabelecimento (filial) do contribuinte;
"" importação de mercadoria para o ativo imobilizado do contribuinte;
"" mercadoria existente em estoque no momento do encerramento das atividades.
9.9.7 O ISS
No que tange ao Imposto Municipal – ISS (Imposto Sobre Serviço), as alíquotas e os re
colhimentos deverão obedecer às normas estabelecidas de acordo com o município em
que se deseja montar a empresa. Esse item abrange a maior parte dos serviços, inclusive
os de transporte municipal.
Constitui fato gerador do Imposto Sobre Serviços a prestação de serviços previs
tos em lei complementar por pessoas física ou jurídica de direito privado, com estabele
cimento fixo, ou sem ele, desde que tal atividade não configure, por si só, fato gerador
de imposto de competência da União ou dos Estados. Assim, o tributo abrange também
quem presta serviços como itinerante ou em domicílio de outrem. A lei complementar
especifica os serviços tributáveis pelo imposto municipal. Para que haja incidência do
ISS, devem, então, ser verificados os seguintes pressupostos:
"" prestação de um serviço remunerado;
"" o serviço prestado deverá estar especificado em lei própria como sujeito ao mencio
nado imposto;
"" o serviço, objeto de tributação, não configurará fato gerador de imposto da compe
tência da União e dos Estados.
Capítulo 9 Administração financeira 187
1. O ponto de equilíbrio fornece uma indicação do volume de vendas que a empresa deverá efetuar
em determinado período, sendo esse volume independente da relação entre custos fixos e variá-
veis existentes?
2. A rentabilidade empresarial poderá ser determinada independentemente das vendas da empresa? Em
que condições e com que restrições?
10
Recursos humanos
– a parte vital
PARA REFLETIR...
Máquinas não foram inventadas
para substituir pessoas, mas para
lhes facilitar o trabalho...
Por meio das atividades empresariais que foram focadas, entendeu-se que o centro
da atividade empresarial é formado de pessoas. Na realidade, gerir empresas é gerir
pessoas – gerir as suas atitudes para com o trabalho, suas pretensões com os processos
ou suas expectativas na utilização de certas ferramentas.
natural de seu processo evolutivo. Isto é, para que não fiquem dependentes da admissão
de pessoal para evoluir, mas, sim, que façam o funcionário sentir-se seguro, confortá
vel, e que ele possa ter uma carreira planejada à sua frente.
Assim, este é o grande desafio das MPEs, pois, sendo o embrião de uma empresa
em crescimento, é normal que seu processo de admissão seja cuidadoso e orientado
dentro de uma perspectiva de desenvolvimento empresarial. As opções que se colocam
ao empresário são admitir pessoal:
"" com atitude para que possa ser integrado à cultura empresarial, e formá-lo dentro
da organização;
"" já formado, mas com grande dificuldade de adaptação.
Claro que uma terceira opção, a de admitir pessoal com atitude e já especializado,
seria a melhor, no entanto, a mais difícil.
10.2 As tendências
Todas as filosofias e os processos gerenciais de que falamos levam a empresa (grupo
de pessoas) a manter o foco nos consumidores (grupo de pessoas), por meio das estra
tégias e das ferramentas. Promovendo relacionamentos entre os dois grupos (empresa e
mercado) e entre cada grupo isoladamente, conseguirão, em um processo de desenvol
vimento, uma harmonia que contribuirá, assim, para um desenvolvimento equilibrado
e sustentável.
Como pontos mais influentes do processo de relacionamentos, visando à estabili
zação e ao crescimento empresarial, consideremos os seguintes:
"" colaboração;
"" observação;
"" bom senso.
1. A importância dos recursos humanos na empresa tem evoluído ao longo dos tempos. Exemplifique qual
a evolução que você observou no posicionamento do departamento de RH e nas suas funções durante
os últimos anos.
2. As empresas, em épocas de recessão, para reduzir custos, procuram racionalizar seus serviços, tendo
normalmente como resultado a demissão de funcionários. Será esta a única forma de resolver o pro-
blema de custos em uma empresa?
11
Processo
estratégico
PARA REFLETIR...
O melhor cliente é o que me paga à vista ou
aquele que melhor aprecia os meus produtos?
1
Intimidade com o cliente também pode ser denominada customer intimacy.
Capítulo 11 Processo estratégico 203
e clientes, com a vantagem de não perdermos identidade nem a noção do todo, que é a
nossa pequena empresa.
Além da vantagem estrutural citada anteriormente, ocorrem ainda outras van
tagens que chamaremos operacionais, que decorrem do processo organizacional das
MPEs. Em relação a estas, a estrutura é mais enxuta e as reações a eventuais modifica
ções mercadológicas poderão ser mais rápidas e facilmente transformadas em decisões,
dependendo somente da cultura empresarial vivida.
No entanto, nem tudo são vantagens quando se é um pequeno empresário. A prin
cipal desvantagem é o que chamaremos visibilidade. Os pequenos têm muito mais difi
culdade de ser enxergados que os grandes. Para que consigam ser vistos, os pequenos
deverão concentrar-se mais do que se dispersarem, conhecer mais do que serem conheci
dos, isto é, deverão trabalhar com foco de muito maior intensidade no consumidor.
Os pequenos não têm as mesmas capacidades que os grandes, o que é refletido
quando se trata de contratar especialistas, de conseguir empréstimos ou mesmo quando
se trata de estabelecer condições junto a fornecedores. Daí a necessidade de colabora
ção e união por intermédio de redes – cooperativas, centrais de compras ou simples
mente redes de relacionamento entre diferentes empresas.
Para estabelecer redes, precisamos entender que as diferentes empresas deverão ter
algo em comum ou eventualmente ser complementares nos produtos ou nos serviços. A
franquia (ou franchising) como possibilidade de desenvolvimento empresarial torna-se,
assim, um sistema desejável. Contudo, devemos observar algumas regras básicas2 em sua
aplicabilidade. As joint ventures, ou mesmo o simples relacionamento com empresas de
grande porte, poderão ser alternativas, mas requerem muito cuidado em sua aplicação
prática, sobretudo em função de possíveis conflitos culturais entre empresas.
Às vezes também existe uma barreira nas micro e pequenas empresas em relação
à associação com algumas das formas anteriormente citadas, que resulta na possibili
dade de perda de identidade das empresas de pequeno porte que estiverem integradas
nessa associação. Esta é uma situação real, mas que poderá ser ultrapassada mediante
determinadas estratégias.3
2
Ver Capítulo 14.
3
Ver neste capítulo o Item 11.4.
204 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Basta observar a reação de qualquer agente financeiro quando lhe respondemos que
nossa empresa tem 5 mil trabalhadores ou que fatura 1 bilhão por ano. Esta é a lógica
dos nossos dias. No entanto, melhor futuro se aproxima, o futuro em que ser um pe
queno empresário é considerado ter poder. Se as bactérias fossem do tamanho de gatos,
seguramente a investigação biológica já estaria mais avançada. É necessário conscien
tizar o empresário de uma MPE que a sua dimensão é uma forma de exercer seu poder.
Se não o fosse, por que a granulometrização da ABB?4 Por que as descentralizações são
observadas em grandes empresas? A resposta é, simplesmente, porque as grandes em
presas querem ter mais poder pela dimensão do seu tamanho, pois assim poderão estar
mais próximas do mercado, assimilar mais rapidamente as mudanças e agir também
com maior velocidade.
Analisemos agora quais são os elementos que poderão dar ao pequeno o poder do
grande. E qual é a postura desejável para os pequenos que querem se afirmar entre os
grandes. Para isso, analisaremos o que se passa no comércio mundial para deduzirmos
quais são as melhores posturas diante da nova situação de globalização.
4
ABB – Asea Brown Boveri, empresa de 250 mil trabalhadores dos anos 1980 que se transformou em cerca de 5 mil empresas de,
aproximadamente, 50 trabalhadores nos anos 1990.
Capítulo 11 Processo estratégico 205
Neste capítulo, a noção de segurança deverá ser entendida no seu sentido mais
lato, abrangendo não só a credibilidade da empresa, mas a segurança material e física
dos produtos, procurando correlacionar esse fator com a velocidade de desenvolvimen
to para obter credibilidade e também com o maior desenvolvimento empresarial daí de
corrente aliado ao aumento de estabilidade empresarial que a segurança proporciona.
As diversas facetas que poderemos considerar quando falamos em segurança vão
desde a segurança dos produtos em si até a segurança resultante da satisfação do cliente.
Ou seja, a segurança da própria empresa enquanto reflexo da lealdade da clientela; uma
empresa não pode subsistir no mercado porque fez uma venda isolada, a empresa deve
ter continuidade na comercialização de seus produtos, logo deverá ter clientes leais e
satisfeitos com a aquisição dos produtos que comercializa.
Assim, um estudo desse tipo terá como preocupação fundamental realçar a impor
tância da segurança na criação de um clima de bem-estar e de satisfação em todas as
transações comerciais, contribuindo decisivamente para a fidelização de um cliente a
uma marca ou a uma empresa, e poderá ser executado mediante as seguintes vertentes:
"" análise das envolventes ambientais e sua influência no processo comercial;
"" análise das estratégias diante da hostilidade ambiental;
"" estudo do processo comercial de uma ótica empresarial, tendo como ponto de refe
rência o aumento da segurança do trade-off do sistema.
Mas quais são os requisitos a que uma empresa deverá atender para reagir rapida
mente às mudanças ambientais?
A resposta tem a ver com a prática de uma postura empresarial proativa em de
trimento das práticas reativas, isto é, tem a ver com o estabelecimento de uma estra
tégia que permita influenciar nos fatores ambientais como resultado de uma previsão
oportunamente feita. Uma previsão devidamente fundamentada terá no planejamento a
mesma função que o motorista tem ao escolher uma via em um nó rodoviário.
A proatividade da empresa, por seu turno, poderá posicionar no melhor pavimen
to a rota da empresa, antevendo quais são as possíveis opções e exercendo, de algum
modo, influência para sua aplicação.
Resulta do que foi exposto a importância que a função observação tem na ativi
dade de planejamento da empresa. Com uma correta observação, podemos acentuar as
tendências e prever as evoluções do ambiente. Para definir um planejamento estratégi
co empresarial, os responsáveis empresariais deverão obter respostas para as seguin-
tes perguntas:
"" Onde estamos?
"" Aonde queremos ir?
"" Qual é o caminho para chegar lá?
No próximo capítulo, analisaremos com mais detalhes a forma como essas per
guntas afetam o desenvolvimento normal de uma empresa.
5
Uma empresa pode ter necessidades que sejam satisfeitas com os nossos produtos, tornando-se um cliente potencial.
Capítulo 11 Processo estratégico 211
A resposta é que não existe nenhum método infalível. Podem os teóricos argu
mentar com a independência de algumas sociedades cuja missão é fornecer esse tipo
de informação. Mesmo assim, e pela experiência por nós acumulada, muitas vezes essa
informação não está atualizada ou não é completamente segura. Atualmente, empresas
como a Serasa, Dun & Bradstreet e muitas outras já nos permitem avaliar com alguma
garantia as informações que nos fornecem.
Resta-nos, assim, uma de duas hipóteses: ou tomamos como boa a apreciação do
nosso informante no que diz respeito à capacidade do lead se transformar em cliente
potencial ou pedimos ao lead garantias para que isso aconteça. Essa última opção normal
mente conduz à perda de um possível cliente potencial, e nossa empresa fica sem saber se
perdeu um cliente ou se evitou um custo por meio de uma qualificação incorreta.
A comunicação interpessoal
A comunicação interpessoal é, sem dúvida, a ação que pode transmitir maior credi
bilidade a uma operação comercial, mas, ao não ser executada corretamente, poderá
provocar uma sensação de insegurança e, por conseqüência, servir para abortar toda
uma operação de venda.
6
No Brasil, as operações de comércio internacional poderão ser seguradas, entre outras, pela Seguradora Brasileira de Crédito à
Exportação – SBCE.
214 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
O estudo dessas etapas por parte do agente interventor (vendedor) deverá ser cui
dadoso, e deve-se recorrer sempre que necessário às técnicas de venda apropriadas. A
questão do poder deverá ser analisada minuciosamente para que se consiga encontrar
um equilíbrio entre as partes durante toda a conversação.
A interação propriamente dita é constituída por de vários passos, sendo aqui
observada toda a capacidade do vendedor:
i) abordagem;
ii) apresentação da venda;
iii) lidando com as objeções;
iv) fechamento da venda.
equipe de vendas, o vendedor vê-se confrontado com novos produtos, novos meios,
novas técnicas, enfim, uma cultura empresarial diferente daquela que estava habitua
do – não há duas empresas iguais. Sendo assim, torna-se necessário formar e adaptar
o novo elemento de modo a não ser um “corpo estranho” na engrenagem empresarial,
mas, outrossim, comportar-se como uma parte de um todo.
Essa formação dispendiosa, mas imprescindível, deve obrigatoriamente, ser comple
mentada e atualizada periodicamente. A ação contínua de formação, além dos aspectos
focados e do efeito motivador que proporciona, tem muito a ver com a criação de um forte
espírito empresarial em todos os elementos envolvidos nas atividades comerciais.
Ao proporcionar essa formação, a empresa con O cliente gosta da sensação de
tribuirá, também, para a fixação do vendedor a ela segurança transmitida pelo fato de
própria, ganhando com isso em várias frentes, sobre trabalhar com o mesmo vendedor
ano após ano.
tudo na redução de custos de formação devido à menor
Harvard Business Review,
rotatividade de pessoal admitido e principalmente ao set./out. 1994
aumento de credibilidade provocado pela fixação do
vendedor à clientela.
Todos esses instrumentos têm diferentes graus de segurança para a operação co-
mercial, no entanto, todos eles devem representar um roteiro de como a operação
comercial evoluirá após o fechamento da venda, daí a sua importância enquanto ele
mento de controle da operação.
216 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Qualquer contrato ou similar deverá ser executado com o cuidado devido à opera
ção em causa, visto ser esse elemento o redutor de eventuais conflitos e a testemunha
para eventuais disputas. Os elementos que constituem o corpo de um contrato, que
adiante serão analisados, devem ser comuns a todos os tipos de contratos ou afins an
teriormente referidos.
De todas as formas de contrato, o verbal é o menos usual e também aquele em que
a segurança de sua execução apresenta-se mais problemática, já que o cumprimento do
contrato é de difícil fiscalização por elementos exteriores aos contratantes, portanto
com mais limitações.
Esse tipo de contrato também não é normal em operações internacionais, sendo
que os mais usuais os contratos formais ou as faturas proforma com confirmação pos
terior. Dependendo do volume e do tipo de negócio, para transações de maior volume,
não se deve prescindir dos contratos formais.
11.4.3.6 Pós-venda
Fundamental em todo sistema de confiança é o serviço prestado ao cliente após a
venda, normalmente designado pós-venda. Um serviço confiável de pós-venda supõe
a garantia dos produtos oferecidos e um atendimento qualificado, às observações dos
clientes. Essa função, atendimento pós-venda, muitas vezes designada por serviço de
atendimento ao consumidor (SAC), tem nos dias de hoje a maior importância e, ao ser
exercida com elevado grau de treinamento, poderá contribuir para uma imagem melhor
e, conseqüentemente, será de mais-valia em todo sistema de confiança que se pre-
tenda montar.
com base na inovação, permite-lhes contrariar a pressão a que estão sujeitas e aumentar
sua competitividade.
Qualquer modelo de desenvolvimento sustentável deverá basear-se em um cor
reto equilíbrio entre os recursos humanos e sua qualificação, os recursos financeiros
e sua utilização, os recursos energéticos e sua eficiência, os recursos ambientais e sua
utilização, mas, sobretudo, deverá ser focado na produtividade da empresa, no espírito
empreendedor dos seus executivos, na inovação e no aumento generalizado do conhe
cimento em toda a empresa.
Na perspectiva de criação de sinergias entre as competências de RH, tecnologias,
financeiras e de gestão, a inovação é cada vez mais um fator determinante na melhoria
da competitividade das empresas.
Peter Druker (1998a) aponta as seguintes fontes da inovação empresarial:
"" o inesperado (seja êxito ou fracasso) é sempre sintoma de algo novo;
"" as incongruências entre o que você desejava (e planejou) e o que a realidade lhe
ofereceu;
"" as falhas operacionais que se revelam; a necessidade é a mãe da inovação;
"" perceber (antes dos outros) as mudanças na estrutura do mercado ou do seu setor
que apanham todo o staff desprevenido, sobretudo quando, subitamente, os de fora
ou os recém-chegados começam a “colocar as mangas de fora”;
"" estar atento às mudanças demográficas; elas acontecem silenciosamente, sem aviso
prévio e, quando percebemos, elas já são radicais;
"" perceber as mudanças de atitude, de visão do mundo, de percepção das pessoas
simples;
"" explorar os novos conhecimentos criados por outros.
Mas a inovação não se esgota na parte visível, que são os produtos. Ela é menos
visível, mas eventualmente potencializadora de maior riqueza, quando aplicada aos
processos de produção ou de comercialização. Hoje sabemos que se a “empresa não
for líder em mudanças” não terá as ferramentas para a inovação. Inovação consegue-se
com busca sistemática, e é impossível predizê-las, Drucker (1998a).
11.6 O benchmarking
As empresas têm tentado o seu aperfeiçoamento de forma sistemática. Muitas têm
utilizado o estudo individual de processos e de mercados, outras, por meio do estudo
de casos, que não é mais que uma análise dos sucessos e insucessos de determina
da ação empresarial e da reflexão por todos os interessados, seja na ação ou nas
Capítulo 11 Processo estratégico 219
7
Executivo na área de qualidade em processos logísticos da Xerox.
220 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
humanos, tecnológicos e de gestão. Uma das metodologias a ser utilizada poderá ser por
meio do apoio oficial à inovação tecnológica, pela criação de centros tecnológicos que
apóiem, avaliem e comparem os estados de desempenho das empresas em relação aos
níveis superiores de desempenho global.
Outro processo implantado na União Européia criou uma rede européia de bench
marking (Relatório Geral das Comunidades Européias, 1988),8 na qual se utiliza indi
cadores genéricos, financeiros e de modelo de excelência que abordam áreas como a
gestão e a produção. Esses dados são interpretados e comparados, daí são apresentados
planos de ação de melhoria. Além disso, foi aprovado um programa de trabalho de
médio prazo para a realização de um debate contínuo sobre a competitividade (Boletim
União Européia, 1997).
8
O Projeto BenchmarkIndex criou uma rede européia de benchmarking com a criação de centros específicos nos nove estados partici-
pantes, envolvendo mais de mil empresas européias.
Capítulo 11 Processo estratégico 223
No entanto, a maioria dos intermediários não aspira ter o poder do canal, mas
tão-somente manter suas posições por meio de seletividade da distribuição, redução
da concorrência, redução de alguns serviços e desenvolvimento e melhoramento de
produtos e procedimentos.
No caso dos varejistas, a sua atuação no controle do canal de comercialização será
exercida nas seguintes circunstâncias:
"" pela sua posição junto dos consumidores, conhecendo-os;
"" os grandes multilevel retailers (MLM), que têm acesso direto a grandes mercados;
"" pela sua dimensão, os MLM têm acesso a várias fontes de fornecimento, fazendo
que os produtores tenham maior dependência.
224 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Muitos varejistas esquecem duas funções de controle que podem exercer com efei
tos eficientes, que são:
"" desenvolvimento de produto;
"" desenvolvimento da demanda.
Também as formas como o controle pode ser exercido podem ser sintetizadas:
"" promoção de vendas (o mais barato ou o melhor serviço);
"" notoriedade – marca – branding;
"" propaganda;
"" propaganda no local de venda.
questão de saber quem e como deve controlar o mercado dependerá do próprio mercado
e também da forma como cada empresa deve se posicionar nesse mesmo mercado.
Nem todas as empresas têm obrigatoriamente de controlar seu sistema de distri
buição, às vezes nem sequer têm possibilidade de fazê-lo. O que todas as empresas têm
é o dever de saber quem controla o canal que utilizam para comercializar seus produtos
e qual a sua posição dentro do sistema que escolheram para fazer seus produtos chega
rem aos seus consumidores.
EXEMPLO
A Leite Fresco
A empresa Leite Fresco tem como negócio a industrialização e venda de iogurtes e utiliza a metodologia tradicional de fabricação
e embalagem para o Estado de São Paulo. Foi criada com o objetivo de vender seus produtos à uma rede específica de supermercados.
Ela foi constituída porque Celso, vendedor de uma marca de iogurtes, conhecia bem Daniel, comprador e proprietário dessa rede
de supermercados, e ficou combinado entre os dois que toda a produção da Leite Fresco seria comprada por ele. Celso conhecia
Cléber, que já tinha trabalhado no setor de produção de outra grande indústria de laticínios e, com algum dinheiro próprio e outro
capital conseguido por meio de um empréstimo bancário em longo prazo, constituíram a empresa. Compraram equipamento para
a fabricação de iogurtes e fizeram um produto bem diferenciado, pela sua embalagem (tradicional de vidro) e pelos seus sabores
(tradicionais). Celso vendia e Cléber era encarregado de produzir.
Passados os três primeiros meses de funcionamento, a aceitação do produto foi tal que Daniel solicitou a Celso uma duplicação
nas entregas. Este conversou com Cléber, recorreram ao banco e pegaram um empréstimo para aquisição de equipamento mais
moderno. Montado o equipamento, verificaram que tinham possibilidade de quadruplicar a produção e, para isso, deveriam arrumar
mais clientes e vendedores, além de comprar mais um caminhão frigorífico para fazer entregas em outras localidades.
Mais outro empréstimo foi requerido para conseguir escoar mais produto, aproveitando a produção do equipamento que tinham
comprado. Mas esse novo investimento conduziu a uma situação que levou os novos vendedores – pagos por comissão – a começar
a requerer mais e mais produção, pois as vendas eram boas e eles necessitavam de maior quantidade de produto para vender. Então,
todo o processo se repetiria uma vez mais... Será que alguma vez Celso e Cléber parariam para pensar e reorganizar a Leite Fresco?
Quando chegaria esse momento? E se, entretanto, o mercado estabilizasse ou regredisse devido à entrada de novos concorrentes?
Como fariam para lançar novos produtos no mercado?
estabilidade, mais difícil se torna para uma empresa projetar o seu crescimento de
forma sustentável e harmoniosa.
Sustentável, pois ela deverá se desenvolver em um meio que a aceita e que se
desenvolva com a ela. O desenvolvimento empresarial deverá contribuir para o de
senvolvimento de todo o sistema em que a empresa está envolvida, contrariamente às
empresas que buscam no sistema um meio para seu desenvolvimento. Esse desenvol
vimento deverá, portanto, ser consistente, porque envolve a todos e não simplesmente
alguns, e coerente com a empresa e com o meio ambiente.
Harmoniosa, pois a empresa deve se desenvolver de forma equilibrada, procuran
do a mesma taxa de crescimento para todos os seus departamentos, de modo a evitar
descontrole, que provocará situações de conflito interno.
Figura 11.6, que mostra que o planejamento deve ser executado tendo em vista que a
empresa atinja um objetivo quantitativo X. A empresa começa por executar um plano
em determinado momento que lhe permita, em tese, atingir esse objetivo. Esse pla-
no foi executado com o maior rigor, prevendo o cenário considerado mais realista para
a situação futura. O ambiente muda de forma não previsível, arrastando a empresa do
seu rumo inicial – situação vivida 1. Quando a empresa se dá conta, já está no ponto
não previsto A, já que deve mudar o rumo para, por meio de ações corretivas, atingir
a sua rota prevista. Uma empresa que viva a situação 2 tem de fazer menos esforço e
gastar menos energia para voltar ao seu rumo. É assim que aparecem as reuniões de
departamento, que eram realizadas todos os meses e depois passaram a ser realizadas
todas as semanas e, agora, todos os dias, ao começo do dia, com a finalidade de que
todos observem juntos quão afastados estão da rota inicial e decidam como voltar a ela.
O que acontece é que sua decisão é, na maioria dos casos, enviesada, pois é necessário
outra e mais outra reunião e sempre mais reuniões para se retomar a rota, e quando
não conseguem mais retornar, então outra reunião em um nível superior é realizada,
e os objetivos são modificados, sendo comunicado tal fato aos interessados dos níveis
inferiores por meio de mais uma reunião. A empresa perde, porque se afasta de seus
objetivos e porque consome energias para voltar à sua rota inicialmente prevista.
Será inevitável todo esse processo? Serão necessárias tantas reuniões? Será que
as pessoas não têm competência para decidir com mais certeza? Ou será que o sistema
pode ser alterado?
230 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
• financeiro;
• comercial;
• desenvolvimento de produtos;
• produção.
2o Análise da concorrência, e de todos os fatores ambientais que afetam diretamente a
nossa atividade. Nessa fase, é conveniente assumir qual a força motriz da nossa em
presa, isto é, aquilo em que realmente somos fortes, aquilo que poderá nos dar motivos
para alcançar os nossos objetivos. Essa análise também é executada por um processo
sistemático muitas vezes denominado análise Pestelco, pois abrange os fatores:
• políticos;
• econômicos;
• sociais;
• tecnológicos;
• ecológicos;
• legais;
• comunicações.
Essa fase completa-se com a determinação dos pontos fortes e fracos da nossa
empresa e das concorrentes, assim como a análise das oportunidades e ameaças do
mercado em que atuamos ou pensamos em vir a atuar. Essa análise é conhecida pela
designação de análise SWOT.
Uma vez determinado o diagrama SWOT, em que estão expressos os pontos mais
relevantes da nossa análise, o estrategista deverá procurar, apoiando-se na força motriz
da sua empresa, explorar e atacar os pontos fracos da concorrência, potencializando
os seus pontos fortes de modo a explorar as oportunidades de mercado e evitando as
ameaças previsíveis. Tudo isso deve ser feito por meio de ações concretas que consti
tuem o que se chama estratégia, sempre tentando aproveitar sinergias não exploradas
da empresa.
A tarefa anteriormente descrita só terá significado após uma correta determinação
de objetivos – sem objetivos não há sucesso.
Os objetivos empresariais deverão obedecer a determinadas características,
a saber:
"" ser precisos;
"" ser mensuráveis;
"" ser atingíveis;
"" ser motivadores;
"" referirem-se a um tempo e um lugar.
Capítulo 11 Processo estratégico 235
ou, de outro lado, não aceitam determinado tipo de cliente porque não têm segurança
na transação por ele proposta.
Cabe assim fazer uma análise dos mecanismos que existem no mercado e nos
permitem assegurar que determinada operação ocorra com riscos devidamente calcula
dos, tendo sido analisados no capítulo anterior algumas das metodologias a aplicar para
assegurar as operações comerciais.
12) fazer as pessoas sentirem orgulho de seu trabalho. A supervisão deverá mudar seu
ponto de vista de responsabilidade de números para qualidade;
13) introduzir um vigoroso programa de educação continuada e de automelhoria;
14) colocar todos para trabalhar em prol da transformação. A mudança é tarefa
de todos.
A administração obviamente tem um novo papel. Esse novo papel tem a ver com
a mudança. O administrador não pode aprender a gerenciar por si só, mas com base na
sua experiência anterior e em todas as mudanças que melhorem a qualidade, a produ
tividade e a posição competitiva da sua empresa. É por meio do entendimento e do uso
cotidiano dos 14 pontos descritos que Deming visa provocar mudanças sustentáveis na
empresa. A qualidade e a produtividade do processo aumentam à medida que a impre
visibilidade desse processo diminui.
A Administração da Qualidade Total – TQM – é uma filosofia, uma forma de
pensar e gerenciar a empresa, que se foca nas necessidades dos consumidores, respon
sabilizando a organização como um todo pela qualidade e pelo aumento de produtivida
de, principalmente por meio da redução de custos e da eliminação de falhas, tudo isso
executado de forma contínua.
1. Como poderá a segurança interferir no bom escoamento das mercadorias, desde o produtor até o
consumidor final?
2. Como interfere o Total Quality Management na formalização da certificação de qualidade em determi-
nada empresa?
12
A responsabilidade
social e as empresas
PARA REFLETIR...
Ação de responsabilidade social e
responsabilidade social da empresa são
desejáveis em qualquer organização?
1
Na abordagem empresarial no contexto da Teoria Geral de Sistemas, ecossistema é o todo, o conjunto formado pelo sistema empresa
e ambiente onde ela está inserida.
Capítulo 12 A responsabilidade social e as empresas 241
poderá ser utilizada como alavanca da sua imagem e como elemento de diferenciação
em qualquer processo estratégico.
Esses temas são sintetizados por Grayson e Hodges (2002) que designaram como
Temas emergentes de gestão as seguintes áreas:
"" ecologia e meio ambiente;
"" saúde e bem-estar;
"" diversidade e direitos humanos;
"" comunidades.
2
Arthur Pigout propôs, nos anos 1920, corrigir os efeitos externos (externalidades) que o processo de uma empresa tem sobre os
indivíduos ou outras empresas, por intermédio de instrumentos econômicos como impostos, taxas ou subvenções, designadas gene-
ricamente como taxas pigouvetianas.
3
Um bioma pode ser definido como um conjunto de comunidades vegetais e animais, determinadas por fatores climáticos, que ocupam
grandes extensões geográficas (Programa Educar).
244 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
12.2.4 Comunidades
A integração empresa/comunidade, além de ser condição fundamental de suporte à
responsabilidade social, representa para a empresa um fator positivo na criação de sua
imagem, na criação da cultura e, ainda, é um aliado poderoso em situação de disputa.
A empresa é comunidade e é parte integrante dessa comunidade. A assimilação
da cultura vivida, que influencia diretamente a cultura empresarial e não simplesmente
mantém o conformismo com determinada cultura local, poderá fazer a diferença e pro
porcionar estabilidade e equilíbrio no desenvolvimento empresarial.
4
Sobre comércio justo no Brasil, consultar o site: <http://www.sebrae.com.br/momento/o-que-o-sebrae-pode-fazer-por-mim/gestao/
comercio-justo>.
246 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
5
Ifat (International Fair Trade Association), FLO (Fair Trade Labeling Organizations International), News! (Network of European
Worldshops) e EFTA (European Fair Trade Association).
Capítulo 12 A responsabilidade social e as empresas 247
1. Uma ação de responsabilidade social torna a empresa que a pratica uma Empresa Socialmente Respon-
sável?
2. É possível assegurar o desenvolvimento sustentável empresarial com empresas sem responsabilidade
social? Fundamente sua resposta.
6
Maior aprofundamento do tema pode ser estudado no livro SILVEIRA, Alexandre Di Miceli. Governança corporativa: desempenho e
valor da empresa no Brasil. São Paulo: Saint Paul, 2005.
7
Lei Sarbanes-Oxley. Guia para melhorar a governança corporativa através de eficazes controles internos. Disponível em: <http://
www.deloitte.com>. Acesso em: 14 ago. 2008.
13
Gestão do
conhecimento
PARA REFLETIR...
Cada vez mais as empresas são pessoas, pessoas
e mais pessoas. Cada vez menos as empresas são
imóveis, maquinários e outros equipamentos.
O conjunto de pessoas e sistemas que fazem o capital intelectual ser uma or
ganização, aumentar de forma significativa mediante a gestão de suas capacidades
na resolução de problemas de forma eficiente (no mais curto espaço de tempo),
com o objetivo de gerar vantagens competitivas sustentáveis ao longo do tempo.
1
Fornecedores e clientes são usados no sentido lato – fornecedores de insumos, recursos humanos, capital, clientes, externos e
internos e sociedade civil.
Capítulo 13 Gestão do conhecimento 251
São ativos identificáveis de natureza não monetária e sem aspecto físico, desti
nados a ser utilizados na fabricação ou no fornecimento de bens ou serviços. As dife
renças entre os ativos, que podem ser visualizadas no Quadro 13.1, conduzem a uma
modificação, cada vez maior, pela valorização dos ativos intangíveis na percepção do
valor da organização.
Na realidade, o importante é entender que hoje o capital não tangível de uma orga
nização é considerado mais importante que o tangível, quando se fala de estabilização
254 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
ou crescimento, e que esse capital é fruto do desenvolvimento das pessoas que trabalham
na organização e do relacionamento dessas pessoas com o mercado, também este forma
do por pessoas e por sua capacidade de inovação.
Na nova economia, a inovação é geradora de riqueza, pois:
"" substitui as matérias-primas por conhecimento, troca massa e esforço por conheci
mento;
"" acumula o conhecimento em uma forma exponencial, porque cada inovação cria
uma oportunidade de produzir muitas outras;
"" em geral, não é necessário grande capital, pois é muito barato criar e aplicar a maio
ria das inovações digitais.
Fatos
►► Fenômenos.
Dados
►► Convertem-se em símbolos que se processam e se transformam.
Informação
►► Dados organizados, dotados de relevância e finalidade.
Conhecimento
►► Informação interiorizada, comparada, relacionada aos conhecimentos anteriores e avaliada.
INFORMAÇÃO + EXPERIÊNCIA + INTERPRETRAÇÃO = CONHECIMENTO
Inteligência
►► Relaciona o conhecimento ao processo de tomada de decisões.
►► É o conhecimento aplicado ao futuro.
2
Sobre o modelo de Nonaka e Takeuchi, também designdo por modelo Seci (socialização externalização, combinação e internaciona-
lização), consultar NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
256 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
De outro lado, nas MPEs, alguns aspectos poderão facilitar a aplicação da gestão
do conhecimento:
"" maior facilidade de interação entre seus membros, resultado de maior aproximação
entre todos;
"" maior envolvimento de todos com todos em empresas com forte identida-
de corporativa;
258 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Gestão do conhecimento em MPEs não é ilusão, mas, sim, prática corrente da ad
ministração, devendo ter reflexos positivos em alguns indicadores, dos quais citaremos,
entre outros:
"" aumento dos níveis de satisfação dos consumidores;
"" aumento da participação no mercado;
"" redução de custos por produto;
"" retenção de funcionários;
"" redução de tempos de resposta.
de conhecimento. Elementos são os ativos intangíveis dentro de cada bloco e que cada
empresa deverá designar em função da estratégia seguida. Indicadores representam
a forma como os elementos são medidos, que também deverá ser personalizada para
cada empresa.
Também estão referenciadas no modelo algumas dimensões, como presente/
futuro, que refletem a medição atual dos ativos intangíveis e a possibilidade de revelar
um futuro previsível em função do seu capital intelectual e dos esforços que são reali
zados em um desenvolvimento da organização. Interno/externo – essa dimensão tem a
ver com o sistema aberto que é a empresa, por isso existem fatores internos (criativida
de, pessoas, sistemas de informação gerencial...) e fatores externos (imagem de marca,
aliança...). Explícito ou tácito – em que são considerados não só aqueles conhecimentos
claros e fáceis de ser transmitidos (explícitos) como ainda os mais subjetivos e difíceis
de compartilhar, sendo no processo do fluxo entre esses dois tipos que se produz e ala
vanca a inovação e o desenvolvimento da empresa.
Presente Futuro
Satisfação de pessoal Melhoria das competências
Tipologia do pessoal Capacidade de inovação das pessoas e das equipes
Competências das pessoas
Liderança
Trabalho em equipe
Estabilidade
Presente Futuro
Cultura organizacional Processos de inovação
Filosofia do negócio
Processos de reflexão estratégica
Propriedade intelectual
Tecnologia de processos
Tecnologia de produtos
Processos de apoio
Processos de captação de conhecimentos
Mecanismos de transmissão e comunicação
Tecnologia da informação
Fonte: Euroforum (1998, p. 44).
262 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Presente Futuro
Base de clientes relevantes Capacidade de melhoria/reformulação da base de clientes
Lealdade de clientes
Intensidade na relação com os clientes
Satisfação dos clientes
Processos de serviço e apoio ao cliente
Proximidade do mercado
Reputação/nome da empresa
Alianças estratégicas
Relacionamento com fornecedores
Relacionamento com outros agentes
O modelo integra indicadores financeiros (do passado) com os não financeiros (do
futuro) em um esquema que permite entender as interdependências entre os seus ele
mentos, assim como a coerência com a estratégia e a visão da empresa (Figura 13.9).
Capítulo 13 Gestão do conhecimento 263
PARA REFLETIR...
Será a exportação o aproveitamento de uma
oportunidade ou deverei internacionalizar a minha
empresa para, assim, assimilar o novo mercado
em nossa estratégia?
14.1 Mercados
globalizados e
o protecionismo
Falar de mercados globalizados tornou-
se discurso banal, mas nem sempre bem
entendido pelos atores que trabalham
no mercado e que dele dependem. Efe
tivamente, o fenômeno da globalização
tem levado a uma progressiva integra
ção e a uma liberalização no acesso aos
diferentes mercados.
Teoricamente, a afirmação é
verdadeira, pois os avanços dos es
paços comuns, seja o europeu com a
União Européia ou o americano com a
futura Alca (Área de Livre Comércio
das Américas), concretizam essa afir
mação. De outro lado, não é menos 265
266 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
verdade que os diferentes países têm procurado utilizar mecanismos nem sempre muito
claros para a opinião pública para conter esse avanço por meio do estabelecimento dos
mais diversificados tipos de barreiras – denominados barreiras não-tarifárias – cuja fi
nalidade é implantar o protecionismo para algumas de suas indústrias ou alguns setores
de atividade.
É precisamente esse tipo de protecionismo, nem sempre bem entendido pelos se
tores econômicos, que deverá ser questionado a respeito de sua eficácia. Protecionis
mo, na maioria dos casos designado política de substituição de importações, tem para
muitos o significado de “política comercial destinada a impedir o acesso ao mercado de
produtos estrangeiros”. Ora, esta não é a noção de protecionismo que mais interessa ao
mundo empresarial, principalmente para as empresas de pequeno porte, que, por não
ter o poder dos grandes, ficam, muitas vezes, à mercê das políticas dos governos de seus
países como sustentáculo de sua existência.
Política de substituição de importações, na sua forma contemporânea, quer dizer
“estabelecer as condições para que as empresas possam competir de igual para igual
com as congêneres estrangeiras”.
Em comércio internacional, o mundo está, de alguma maneira, subjugado aos interesses dos mais fortes, e se existe
lugar em que é mais aplicável algum slogan, esse é o mercado, e o slogan, “uma coisa é querer, outra é poder”.
Se assim for, a maioria das grandes empresas terá mais capacidade do que as me
nores – elas Podem, e por mais que as menores Queiram, não conseguem atingir os
seus objetivos. Nesse sentido, as políticas atuais de substituição de importações devem
ser dirigidas para a modernização das empresas, porque o seu enfraquecimento, devido
ao sucateamento dos seus equipamentos, poderá ser crítico no desenvolvimento de
qualquer país, pois poderão Querer entrar na competição global, mas não ter o Poder
para essa finalidade.
1
ego-drive é definido como a necessidade interna de persuadir, de forma constante, de modo a tornar-se gratificante para a pessoa.
268 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Proativos Reativos
Lucro Pressões competitivas
Produto único Excesso de produção
Vantagem tecnológica Vendas no mercado em queda
Informação exclusiva Excesso de capacidade instalada
Benefícios fiscais Mercado interno saturado
Economias de escala Proximidade de clientes e mercado
As empresas de maior sucesso nos mercados externos são, em geral, aquelas que
sofreram fatores de motivação proativa, isto é, de dentro para fora, e têm, a princípio,
uma orientação estratégica e de marketing bem definida. Contrariamente às outras, elas
procuraram as suas primeiras encomendas nos mercados externos, não esperando uma
encomenda ocasional para se internacionalizarem.
Capítulo 14 O processo de internacionalização das empresas 269
Para que uma empresa mude a orientação estratégica e introduza o fator de interna
cionalização, é necessário que alguém faça algo ou alguma coisa aconteça na empresa.
Esse novo elemento, alavanca de todo o processo que denominaremos agente de
mudança, pode pertencer à própria empresa ou ser exterior a ela.
No Quadro 14.2 sintetizam-se os principais agentes que provocam mudanças de
estratégia empresarial.
Fatores internos
Nova idéia da gestão
Novos gestores
Acontecimento interno relevante
Fatores externos
Demanda
Outras firmas
Distribuidores
Bancos
Câmaras de comércio
Agentes e traders
Atividades governamentais
mercado, além de sua grande dimensão, é de grande crescimento, são raras as empresas
constituídas exclusivamente com objetivo de atuar em mercados externos.
As empresas de pequeno porte atuam em alguns setores como a indústria de
móveis, nos quais geralmente as empresas desse tipo têm redes comerciais externos e
produzem trabalho “artesanal” ou são empresas que dependem de um só cliente – no
setor calçadista, nas indústrias de vestuário ou em outros casos específicos. Com a libe
ralização progressiva dos mercados e o fim de uma era protecionista, seremos levados
a pensar que a noção de internacionalização, para a maioria dessas empresas que atuam
em mercados muito focados, tende a enfraquecer.
O tecido empresarial brasileiro é constituído preferencialmente por empresas de
pequeno e médio portes (mais de 99%) e, de acordo com o relatório do consórcio
de pesquisa acadêmica, GEM (Global Entrepreneurship Monitor, 2007) 2 são raras
entre essas empresas – menos de 2% – as que são formadas com o objetivo exclusivo
de exportação.
A matriz exportadora brasileira apresentada na Figura 14.1 mostra grande per
centual de produtos básicos (32,1%) e semimanufaturados (13,6%) que normalmente
são exportados por grandes empresas multinacionais, e isso não favorece a inserção de
pequenos produtores nos circuitos de internacionalização.
2
GEM – Global Entrepreneurship Monitor, 2007. Disponível em: <www.gemconsortium.org>. Acesso em: 18 out. 2008.
Capítulo 14 O processo de internacionalização das empresas 271
Dentro desse cenário, não é normal encontrar empresas que tenham sido consti
tuídas com o propósito de atuação nos mercados internacionais; mais comuns serão as
empresas que adotam, em determinado período do seu ciclo de existência, a estratégia
de internacionalização por meio da exportação de produtos.
Como vimos anteriormente, são as motivações reativas que, em geral, conduzem
a uma internacionalização. Não existe, normalmente, uma estratégia definida, o acaso
determina o rumo a seguir.
A escolha do primeiro mercado externo, geralmente, obedece a critérios de afi
nidade ou de oportunidade, e muito raramente há estudos feitos sobre o mercado em
causa. O primeiro contato com o mercado eleito tem um caráter experimental, e não
segue nenhuma estratégia predeterminada. Se esse primeiro contato der resultado,
prosseguir-se-á o desenvolvimento do mercado, agora com estratégias mais definidas.
São raras as exceções à regra, isto é, empresas que estudam o mercado convenien
temente antes de tomarem a primeira decisão.
A incerteza assumida pelo empresário nessas condições, que, muitas vezes, é em
purrado pelo governo, raramente traz benefícios para as empresas e, às vezes, resulta
em fracasso.
Então, o que fazer?
A resposta a essa pergunta nem sempre é fácil. Teoricamente, devemos trans
formar a incerteza em um risco que, uma vez quantificado, permitirá tomar a melhor
decisão. Voltaremos a falar sobre esse tema mais à frente.
O que foi exposto anteriormente e que é válido para a maioria das empresas bra
sileiras não serve de regra quando se trata de empresas nas quais existe estratégia e
objetivos bem determinados, ou seja, aquelas com orientação de “marketing”. De ma
neira geral, podemos dizer que a maioria das grandes empresas e algumas MPEs já se
272 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
conduzem sob esses princípios, que é a única forma de atingirem estabilidade e desen
volvimento sustentável.
Analisemos, então, quais são as decisões principais que um gestor deve tomar ao
pretender internacionalizar sua empresa. Segundo Philip Kotler, as grandes etapas no
processo de internacionalização pressupõem as tomadas de posição esquematizadas
na Figura 14.2.
Muitas empresas são coagidas, por diversos fatores, a se internacionalizar. Aliás,
já estudamos alguns deles quando falamos nos agentes de mudança, isto é, os gatilhos
que imprimem uma nova orientação estratégica para a empresa, nesse caso, almejando
mercados externos.
Um processo de escolha de mercados de exportação deve, em primeiro lugar, de
cidir qual é o peso relativo que o novo mercado de exportação terá na estrutura da
nossa empresa. Qual será o objetivo de produção e vendas para esse mercado? A seguir,
deverão ser avaliadas as possibilidades de a empresa trabalhar em vários mercados si
multaneamente, para depois se escolher alguns mercados que serão analisados em mais
detalhes como mercado potencial de exportação para os nossos produtos. Teremos,
então, as seguintes etapas:
"" porcentagem da produção destinada ao mercado externo;
"" número de mercados a trabalhar simultaneamente;
"" saber qual é o tipo de país que se deve equacionar.
No processo de seleção dos países, deve-se levar em conta a atratividade dos res
pectivos mercados, que é influenciada, entre outros, pelos seguintes fatores:
"" produto;
"" população;
"" localização e acessibilidade;
"" rendimento per capita.
muitas outras têm preferências particulares. Podemos resumir nos seguintes os passos
mais comumente utilizados pela empresa que pretende internacionalizar-se:
1o empresa sem atividades regulares de exportação;
2o exportação por meio de agentes ou representantes;
3o estabelecimento de representação no país importador;
4o estabelecimento de atividade produtiva no país de destino.
Na maioria dos casos, as empresas não estão prontas para efetuar esforços de
venda em mercados exteriores porque não estão financeiramente preparadas ou, às
vezes, porque não têm pessoal especializado para esse fim. Vender em um mercado ex
terior deve ser encarado como um ato diferente daquele que se executa quando se vende
no mercado interno, e as exigências têm características diferentes. Muitas empresas não
estão preparadas para aceitar essa diferença e refugiam-se na parábola do lobo e das
uvas – “como as uvas estão altas, os lobos dizem não gostar delas”.
Analisando o caso brasileiro à luz do que já foi exposto, podemos concluir que o
grande problema apresentado às empresas brasileiras no caminho para a internacionali
zação tem muito a ver com aspectos de cultura empresarial que se refletem na tipologia
das empresas que compõem o nosso tecido empresarial.
O que se expõe em seguida reflete a maioria das nossas empresas. No entanto, ao
existir uma nova dinâmica de mudança baseada na conscientização cada vez maior dos
empresários em não perder o comboio da “aldeia global”, estamos observando um pro
cesso de transição no sentido de adaptação e modernização das nossas empresas, com
introdução progressiva de técnicas e tecnologias de vanguarda. Mesmo assim, convém
observar como é caracterizada a empresa típica no Brasil.
A empresa tipicamente brasileira é de dimensão pequena ou média, a maioria das
decisões está centralizada em um único elemento e é realizada pessoalmente, muitas
vezes sem que sejam ouvidos outros degraus da hierarquia empresarial.
Assim sendo, muitas das decisões sobre internacionalização são feitas sem recur
so a estudos prévios nem qualquer análise de dados, e são resultado de acasos, visitas
a feiras, conversas informais, desafios da concorrência próxima ou, em muitos casos,
da influência de política governamental, e não têm a consistência necessária nem a
duração exigida e, em vez de se tornarem um instrumento de desenvolvimento, trans
formam-se em decisões desastrosas.
A concorrência provocada pela abertura de mercados e pela criação da OMC (Or
ganização Mundial do Comércio) deve ser encarada e, em nossa opinião, só será venci
da com profissionalismo nas decisões em todos os níveis hierárquicos empresariais. Por
isso, devemos ser partidários da formação de departamentos de exportação profissio
nalizados dentro das empresas e integrados por técnicos com formação adequada. Essa
orgânica já existente em empresas de maior porte deverá ser aplicada às MPEs cuja
estratégia seja importar, exportar ou investir em algum mercado externo.
Pelo Quadro 14.5, pode-se verificar que as microempresas decresceram a sua par
ticipação no comércio internacional, enquanto as pequenas praticamente estabilizaram.
3
Tradings ou comerciais exportadoras são empresas que compram produtos de fabricantes, os revendem nos mercados internacionais
e controlam sua comercialização.
4
MDIC/Secex – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – Secretaria de Comércio Exterior.
282 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Em grande parte, essa situação foi ocasionada devido ao aumento significativo de mi
croempresas (criação de microempresas) em 2006, assim como pelo desenvolvimento
de microempresas exportadoras que mudaram de categoria.
De qualquer forma, a participação das MPEs no comércio internacional ainda é
muito pequena em relação ao tamanho e ao volume do comércio exterior brasileiro,
e um crescimento dessa participação será decisivo para a estabilidade da economia,
sobretudo em um país em que as grandes empresas são, em sua maioria, formada por
grupos econômicos com matriz no exterior.
14.5.3.6 Licenciamento
Na estratégia de licenciamento, a empresa de pequeno ou médio porte poderá optar por
várias modalidades, das quais citaremos as seguintes:
1) venda de direito de uso da marca;
2) venda de patentes ou know-how de sua criação;
3) fabricação de produtos no país importador com sua supervisão;
4) franquia.
284 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Na venda de direito de uso da sua marca, a empresa deverá ser bem conhecida ou
ter uma vantagem diferenciadora importante para atuar dessa forma. Temos o exemplo
de muitas universidades de pequeno ou médio porte que aproveitam sua “experiência”
e o seu poder de marca para se associarem ou cederem direitos de marca a outras ins
tituições.
Na venda de patentes ou de know-how, é comum assistirmos à transação de licen
ças de software que são vendidas e comercializadas no mundo inteiro e são produzidas
por empresas de pequeno ou médio porte.
No caso da fabricação de produtos, muitas vezes, são utilizadas, em um primeiro
momento, estratégias que envolvem fornecimento de matérias-primas e utilização do
trabalho local. Estes são casos comuns encontrados na indústria de vestuário, e são
normalmente processos executados em regime de drawback.5
A franquia, quando aplicada em políticas de internacionalização empresarial, con
siste em uma estratégia de distribuição que assenta na colaboração entre duas empre
sas: uma, o franqueador, que concebeu um produto ou um serviço e tem o know-how de
exploração desse serviço, e que cede por intermédio de um contrato; outra, o franque
ado, que, por meios humanos e financeiros disponíveis, procede à comercialização e à
manutenção da imagem da marca imposta pelo primeiro.
Esse sistema tem as seguintes características:
"" proprietário de uma franquia (franqueado) é co-proprietário da marca registrada do
master franchising;
"" franqueador controla o franqueado por meio do pagamento de royalties, também
contratualmente, garantindo que toda a mercadologia do negócio se mantenha uni
forme;
"" franqueador deverá proporcionar ao franqueado treinamento, atualização e divul
gação da marca.
5
Drawback é o sistema especial de importação temporária com suspensão do pagamento de imposto de importação e demais impostos
relacionados, com o pressuposto de que a matéria-prima ou os produtos importados serão reenviados para o exterior.
Capítulo 14 O processo de internacionalização das empresas 285
uma estratégia que não diminui a capacidade empresarial nem a perda de identidade,
tornando o processo de adaptação das empresas aos mercados mais fácil.
1. Como as MPEs poderão escolher os mercados que desejam exportar seus produtos? O objetivo de uma
MPE que deseja internacionalizar-se deverá ser a exportação para determinado mercado?
2. Quais podem ser as vantagens de um sistema de franquia na estratégia de internacionalização de
uma empresa?
15
A Internet e
as empresas
PARA REFLETIR...
Nos anos 1970 não existiam microcomputadores,
e os cálculos empresariais eram feitos, muitas
vezes, em máquinas mecânicas. Nos anos 1980
não se falava em Internet, e a forma usual de
comunicação era o telex, tendo depois chegado
o telefax. No começo dos anos 1990 surgiu a
Internet, e as empresas puderam se comunicar
com mais eficiência e mais rapidamente. E os
homens e as mulheres, que compõem essas
empresas e que são o nosso mercado, estarão
eles acompanhando essa evolução?
1
Mind space é o espaço reservado na mente do consumidor para determinado produto ou para uma empresa.
Capítulo 15 A Internet e as empresas 291
Essa relação às formas de negócio, se não for exaustiva, deve relacionar aquelas
que mais se adaptem às empresas de pequeno ou médio porte e explorar a vantagem de
ser pequeno em uma situação de maior dimensão, situação essa que será analisada no
próximo item.
1. O que levaria você a utilizar uma loja virtual em vez de se deslocar a uma loja física?
2. Imagine um setor de atividade em que todo o comércio se realiza de forma virtual. Qual seria o proces-
so utilizado para diferenciar a empresa que atua nesse setor?
15.6 Glossário
Agregações Forma de negócio que permite concentrar intenções de compra ou de
venda, que aumenta o poder de negociar e proporciona melhorias nas condições co
merciais, que as empresas não teriam isoladamente no mercado.
2
O modelo Bricks & Mortar de varejo refere-se a uma loja física em que vendedores atendem clientes por oposição ao comércio
eletrônico dos sites.
296 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
Application Service Provider Empresa que fornece aplicações de software para “alu
guel” pela Internet.
Banner São anúncios publicitários na Internet. As formas mais usuais de apresentação
são retangulares ou quadradas, com animação dinâmica. Normalmente, essa forma
de publicidade também requer pagamento, mas, em alguns casos, ocorrem trocas de
banners entre sites.
Benchmarking Análise e comparação de dados relativos a produtos, serviços, proces
sos ou setores, de forma a identificar as melhores práticas de negócio.
Browser Software que permite a um usuário navegar na Internet ou ver e interagir
com o portal de determinada empresa. Processa textos, gráficos e, em alguns casos,
vídeos e som. Também permite efetuar download de arquivos, quando necessário.
Exemplos: Internet Explorer, Netscape Navigator, entre outros.
Business-to-Business (B2B) Relações comerciais entre empresas por meio da Internet.
No B2B são estabelecidas relações interempresariais suportadas pela tecnologia Web,
por meio de e-markets, relações one-to-one, buy-sites ou, ainda, sell-sites. O B2B ativa
a melhoria do desempenho dos negócios entre as empresas por meio de novas tecnolo
gias ao longo da cadeia de valor da indústria, do começo ao fim de cada negócio.
Business-to-Consumer (B2C) Venda de produtos e serviços a todos os tipos de con
sumidores. O B2C permite estabelecer uma ligação entre a empresa e o consumidor
final do produto ou serviço (por exemplo, lojas on-line). Genericamente, as suas
principais e potenciais vantagens consistem na “desintermediação” de processos e
na oportunidade de desenvolvimento de uma gestão personalizada da relação com o
cliente por intermédio do e-CRM.
Business-to-Employee (B2E) Os portais B2E proporcionam uma importante ferra
menta para a gestão da cultura interna da empresa, a agilização de processos admi
nistrativos de gestão de pessoal e o incremento da qualidade de vida e motivação dos
colaboradores. Os portais B2E têm sido um modelo com crescente desenvolvimento
e aceitação por grandes organizações, constituindo-se em um meio de comunicação
intra-organização, bem como em uma janela para o exterior.
Business-to-Government (B2G) O Business-to-Government permite a automatiza
ção da interação governo-empresas por meio da Internet, abrangendo e agilizando
processos da administração pública e autarquias locais na resposta às solicitações
das empresas. Esses modelos apresentam também evoluções no sentido do relaciona
mento com o cidadão (G2C) e até mesmo entre entidades governamentais (G2G).
BuySite Constitui uma solução de e-procurement desenvolvida pela Commerce One
para automatizar o processo interno de uma empresa na aquisição de materiais e/ou
serviços. O objetivo é simplificar o processo de requisição e de confirmação da re
cepção de um produto pelo cliente, permitindo, também, a criação de fluxos internos
de aprovação automática. A aplicação BuySite organiza a informação de materiais
Capítulo 15 A Internet e as empresas 297
e serviços nos catálogos estruturados que estão ao alcance dos compradores e dos
fornecedores. Essa aplicação pode estar disponível na Internet, em Marketplace ou
pode ser implementada na própria empresa.
Catálogos eletrônicos Os catálogos eletrônicos são arquivos constituídos por infor
mação sobre os produtos e serviços que determinado fornecedor deseja ter presente
em seu catálogo. Essa informação engloba preços, prazos de entrega, imagens, entre
outros itens. Esses catálogos podem ainda ser caracterizados por grupos de interesse,
por exemplo, por setores de atividade, comunidades, entre outros.
Certificados digitais Os certificados digitais são arquivos de dados usados para esta
belecer a identidade de pessoas e de recursos eletrônicos na Internet. Os certificados
possibilitam uma comunicação on-line segura e são usados freqüentemente para pro
teger transações on-line.
Ciclo de aprovação (Workflow) Representa a aprovação, por parte de um superior
responsável, da requisição de compra efetuada. Nem todas as empresas possuem
ciclo de aprovação. Os níveis de autorização ou de aprovação podem ser estabeleci
dos por montantes, quantidades, entre outros.
Contact Centre Núcleo que centraliza o contato com o cliente por telefone, e-mail,
correio, entre outros, responsável por garantir que toda a informação seja registrada
em um repositório único de informação. É freqüente atribuir-se a responsabilidade
ao Contact Centre na realização de mailings ou telemarketing, como suporte a cam
panhas específicas.
Customer Relationship Management (CRM) Uma combinação integrada de fer
ramentas de software, processos e pessoas que permitem a uma empresa gerir todo
contato com clientes e potenciais clientes, garantindo a obtenção de vantagens por
meio da personalização de serviços e marketing dirigido.
E-business Realização de negócios por meio eletrônico pela Internet.
E-commerce Comércio eletrônico.
E-mail (Correio eletrônico) Mensagens que contêm textos e arquivos, enviadas de uma
pessoa a outra(s) pela Internet.
E-markets horizontais Os e-markets horizontais procuram satisfazer às necessidades
comuns à maioria das empresas, independentemente do seu setor, e são caracteriza
dos, sobretudo, por possuir em seus catálogos artigos indiretos (MROs – Material,
Repair and Operations/Economato/…) ou serviços de interesse para a generalidade
das empresas, independentemente dos setores de atividade em que atuem.
E-markets verticais Um e-market vertical reúne um conjunto de empresas de um setor
específico, em que é promovida a criação de uma comunidade de valor acrescen
tado (VACs), baseada no comércio entre empresas do setor. Os e-markets verticais
procuram satisfazer às necessidades específicas da indústria ou do setor a que se
298 Gestão Técnicas e estratégias no contexto brasileiro
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