Você está na página 1de 38

Procedimentos Auxiliares na

Nova Lei de Licitações

Logística e Compras Públicas


Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Diego dos Santos (Conteudista, 2023).

Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO

Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1 – Os procedimentos auxiliares das licitações e contratações
no âmbito da Lei nº 14.133/2021
Introdução................................................................................................................. 5

Unidade 1 – Credenciamento.................................................................................. 7
1.1 O que é o Credenciamento?................................................................................. 7
1.2 Hipóteses de Utilização............................................................................................... 8
1.3 Regras .......................................................................................................................... 9

Unidade 2 – Pré-Qualificação................................................................................. 11
2.1 Conceito de Pré-Qualificação .................................................................................. 11
2.2 O que pré-qualificar?................................................................................................. 13
2.3 Principais Regras e Prazos........................................................................................ 14

Unidade 3 – Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI)....................... 16


3.1 O que é o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI)?........................... 16
3.2 Observações relevantes à realização do PMI......................................................... 18

Unidade 4 – Sistema de Registro de Preços (SRP)............................................... 20


4.1 Conceitos existentes no Sistema de Registro de Preços (SRP)............................ 20
4.2 Possibilidades/Hipóteses de Utilização.................................................................. 22
4.3 Principais diferenças entre licitação SRP e não SRP.............................................. 27

Unidade 5 – Registro Cadastral............................................................................. 30


5.1 Conceito de Registro Cadastral................................................................................ 30
5.2 Componentes do Registro Cadastral...................................................................... 31
5.3 O registro cadastral no Governo Federal: SICAF................................................... 32

Referências ............................................................................................................. 36

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3


Olá!
Desejamos boas-vindas ao curso Procedimentos Auxiliares na Nova Lei de
Licitações.
O curso foi elaborado com foco na Lei Nº 14.133/2021, é o novo marco das licitações
no Brasil. Com ela surgem muitas inovações. Dentre as novidades: os procedimentos
auxiliares. Tais procedimentos, alguns já brevemente mencionados em legislação
anterior e outros fruto de construção doutrinária e/ou jurisprudencial, foram
unificados no novo comando legal. Os procedimentos auxiliares constituem-se
de cinco ferramentas operacionais acessórias (credenciamento, pré-qualificação,
procedimento de manifestação de interesse, sistema de registro de preços e registro
cadastral), que fornecem ao gestor público a possibilidade de preencher eventuais
lacunas administrativas, o que induz ao aprimoramento da atividade de licitar. .
O objetivo deste curso é conhecer a finalidade e a aplicação dos procedimentos
auxiliares previstos no art. 78 da Lei 14.133/2021, na realização das compras públicas.

Antes de alcançar o objetivo geral, habilidades anteriores precisam ser adquiridas


gradativamente. Por esse motivo, os objetivos específicos descritos abaixo também
devem ser atingidos ao longo do curso!

Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de:

• Compreender a finalidade e aplicação do procedimento auxiliar


denominado credenciamento previsto de modo pormenorizado no art
79 da Lei Nº 14.133/2021;

• Compreender a finalidade e aplicação do procedimento auxiliar


denominado pré-qualificação, previsto de modo pormenorizado no art.
80 da Lei Nº 14.133/2021;

• Compreender a finalidade e aplicação do procedimento auxiliar


denominado procedimento de manifestação de interesse (PMI), previsto
de modo pormenorizado no art. 81 da Lei Nº 14.133/2021;

• Compreender a finalidade e aplicação do procedimento auxiliar


denominado sistema de registro de preços (SRP), previsto de modo
pormenorizado nos arts. 82,83,84,85 e 86 da Lei Nº 14.133/2021;

• Compreender a finalidade e aplicação do procedimento auxiliar


denominado registro cadastral, previsto de modo pormenorizado nos
arts. 87 e 88 da Lei Nº 14.133/2021.

Desejamos um excelente estudo!

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 4


Módulo

1
Os procedimentos auxiliares das
licitações e contratações no âmbito
da Lei nº 14.133/2021

Introdução

A Lei nº 14.133/2021 é o novo marco regulatório das licitações no Brasil. Com ela,
surgiram muitas inovações, dentre as quais estão os procedimentos auxiliares.
Esses procedimentos estão previstos no art. 78 da nova Lei e objetivam assegurar
a correta instrução de práticas já há muito adotadas pela Administração, mas que
careciam de delineamento expresso.

Os procedimentos auxiliares podem, ainda, ser compreendidos como uma


série de técnicas operacionais acessórias, postas à disposição do gestor público,
complementares às modalidades licitatórias, conforme se depreende do art. 28, §1º,
da Lei nº 14.133/2021. Complementares, pois, constituem-se de categoria supletiva
de procedimentos sem vínculo automático a uma modalidade licitatória específica.

Congregam, no pensamento de Marçal Justen Filho (2021), múltiplos fazeres


administrativos autônomos que, por não possuírem relação direta com uma licitação
específica, podem ter seus resultados aproveitados em um número indeterminado
de contratações, favorecendo a padronização, a economicidade e a racionalização da
atividade administrativa. Contribuem, portanto, para assegurar a correta resposta
a ser dada pela Administração frente às inúmeras necessidades de aquisições/
contratações demandadas pelo poder público.

Os procedimentos auxiliares decorrem, primariamente, do dever


constitucional de licitar. A figura abaixo representa a cadeia hierárquica da licitação
no ordenamento jurídico brasileiro:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5


Mídia 1- Cadeia Hierárquica da Licitação no Ordenamento Jurídico Brasileiro

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 6


Unidade 1 – Credenciamento

Ao finalizar esta unidade, espera-se que você seja capaz de compreender melhor
a finalidade e a aplicação do procedimento auxiliar denominado credenciamento,
previsto de modo pormenorizado no art. 79 da Lei nº 14.133/2021.

1.1 O que é o Credenciamento?

Credenciamento é um procedimento auxiliar previsto no art. 79 da Lei nº


14.133/2021. De acordo com o art. 6º, XLIII, da Lei nº 14.133/2021, esse instrumento
auxiliar caracteriza-se como o “processo administrativo de chamamento público
em que a Administração Pública convoca interessados em prestar serviços ou
fornecer bens para que, preenchidos os requisitos necessários, se credenciem
no órgão ou na entidade para executar o objeto quando convocados”.

A Instrução Normativa nº 05, de 26 de maio de 2017, aplicável à contratação de


serviços sob o regime de execução indireta, cuja aplicação no âmbito da Nova Lei
de Licitações foi autorizada pela Instrução Normativa SEGES/ME nº 98, de 26 de
dezembro de 2022, define o “credenciamento” em seu Anexo I, IV. Dali se extrai
que credenciamento é “ato administrativo de chamamento público destinado
à pré-qualificação de todos os interessados que preencham os requisitos
previamente determinados no ato convocatório, visando futura contratação,
pelo preço definido pela Administração”.

A jurisprudência do Tribunal de Contas da União, por seu turno, considera o


credenciamento como “[...] hipótese de inviabilidade de competição” (ACORDÃO
3567/2014 – PLENÁRIO), a ser adotado [...] “quando a Administração tem por
objetivo dispor da maior rede possível de prestadores de serviços. Nessa situação,
a inviabilidade de competição não decorre da ausência de possibilidade de
competição, mas sim da ausência de interesse da Administração em restringir
o número de contratados” (ACORDÃO 3567/2014 – PLENÁRIO).

Para o professor Marçal Justen Filho (2008), dá-se o credenciamento quando a


Administração reconhece a ausência de relação de excludência de contratação de um
número indeterminado de particulares para atendimento de certas necessidades,
onde serão estabelecidas as condições, os requisitos e os limites não apenas
para as futuras contratações como também para que os particulares obtenham o
credenciamento – ato formal por meio do qual o particular é reconhecido como em

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7


condições de ser contratado. O Credenciamento envolve uma espécie de banco
de prestadores de serviços ou fornecedores e deve estar permanentemente
aberto a futuros interessados, ainda que seja possível estabelecer certos limites
temporais para contratações concretas. Por fim, complementa-se com Joel de
Menezes Niebhur (2003), que afirma ser o credenciamento espécie de registro
onde se lança todos os interessados em prestar certos tipos de serviços, conforme
regras de habilitação e remuneração preestabelecidas pelo poder público. Todos os
credenciados celebram, sob as mesmas condições, contrato administrativo, haja
vista que, pela natureza do serviço, não há relação de exclusão, isto é, o serviço a ser
contratado não precisa ser prestado com exclusividade por um ou por outro, mas é
prestado por todos.

Você não deve confundir o procedimento auxiliar do


Credenciamento com o processo de contratação em si. Esse
desdobrar-se-á daquele, porém em procedimento e ritos próprios,
conforme estabelece o art. 74, IV, da Lei nº 14.133/2021.

Quer conhecer mais sobre o conceito de credenciamento e sua


aplicação? Acesse o texto do professor Rafael Sérgio de Oliveira:
https://drive.google.com/file/d/16HQZZCLajftYiWqXYcEtfhJoVOy
4I6fE/view?usp=sharing

Leia, também, o artigo de opinião Credenciamento na nova Lei de


Licitações, dos professores Bernardo Strobel Guimarães, Jordão
Violin e Pedro Henrique Braz de Vita.

1.2 Hipóteses de Utilização


Agora que você já conhece o conceito de credenciamento, é importante verificar em
quais situações fáticas sua utilização poderá ser adotada. Nos termos do art. 79 da
Lei nº 14.133/2021, o instituto é cabível em três hipóteses:

+ I - Contratações paralelas e não excludentes: caso em que é viável e vantajosa


para a Administração a realização de contratações simultâneas em
condições padronizadas.
Por exemplo: contratação de profissionais de saúde; contratação de leiloeiros
oficiais; compra de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar,
das comunidades tradicionais indígenas e das comunidades quilombolas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 8


+ II - Contratações cuja seleção ficará a critério de terceiros: caso em que a
seleção do contratado está a cargo do beneficiário direto da prestação.
Por exemplo: determinado órgão público disponibiliza uma gama de
laboratórios de análises clínicas. Com base nessa informação, o cidadão
define, por razões de oportunidade e conveniência, o que lhe parecer mais
adequado. Semelhante exemplo pode ser aplicado às empresas de vistoria/
inspeção veicular.

+ III - Em mercados fluidos: caso em que a flutuação constante do valor da


prestação e das condições de contratação inviabiliza a seleção de agente
por meio de processo de licitação.
Por exemplo: aquisição de passagens aéreas; postos de combustível.

Verifica-se, portanto, no âmbito da nova legislação, uma significativa ampliação das


possibilidades do uso do credenciamento. Embora as hipóteses de contratação
“paralela e não excludente” e “com seleção a critério de terceiros” já fossem
comumente identificadas em credenciamentos de serviços, a hipótese justificadora
de sua adoção para “mercados fluidos” é uma agradável novidade, ainda pouco
experimentada antes da nova Lei (NÓBREGA, TORRES, 2020).

1.3 Regras

É importante mencionar que o Credenciamento será objeto de regulamentação,


conforme determina o parágrafo único do art. 79 da Lei nº 14.133/2021. Portanto,
fique sempre atento(a) às normas infralegais. O legislador, porém, já preestabeleceu
regras para a utilização deste procedimento auxiliar. São seis regras básicas:

+ I – A Administração deve divulgar e manter à disposição do público, em sítio


eletrônico oficial, edital de chamamento de interessados a se credenciar,
de modo a permitir o cadastramento permanente de novos interessados.

+ II – Quando o Credenciamento for do tipo “contratação paralela e não


excludente”, e o objeto não permitir a contratação imediata e simultânea
de todos os credenciados, deverão ser adotados critérios objetivos de
distribuição da demanda, a exemplo de sorteio ou rodízio.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 9


+ III – O edital de chamamento de interessados deverá prever condições
padronizadas de contratação e, nas hipóteses de credenciamento dos tipos
“contratação paralela e não excludente”, e “contratação com seleção a
critério de terceiros”, deverá definir o valor da contratação.

+ IV – Na hipótese de Credenciamento do tipo “contratação em mercados


fluidos”, a Administração deverá registrar as cotações de mercado vigentes
no momento da contratação, ou seja, sem prévia definição de preços.

+ V – Não é permitido o cometimento a terceiros do objeto contratado sem


autorização expressa da Administração.

+ VI – Admite-se a denúncia por qualquer das partes nos prazos fixados no


edital.

Para melhor compreensão das regras acima abordadas, acesse o link a seguir e
conheça processos de Credenciamento realizados pelo Ministério da Economia/
Fazenda. Assim, você conseguirá observar modelos de Edital e visualizar a aplicação
prática das questões acima abordadas.

https://www.gov.br/economia/pt-br/acesso-a-informacao/licitacoes-e-contratos/
licitacoes/credenciamentos

Como visto, os contornos definidos ao Credenciamento pela Nova Lei de Licitações


(com adoção mais ampliada) avançam, e muito, em relação à anterior legislação,
permitindo que este procedimento auxiliar amplie sua utilidade no âmbito das
contratações públicas. [...] Se antes a adoção do Credenciamento estava adstrita à
contratação de todos os prestadores aptos e interessados em realizar determinados
serviços, quando o interesse público fosse mais bem atendido com a contratação
do maior número possível de prestadores simultâneos, segundo o texto da Nova Lei
de Licitações, ele também pode ser adotado não apenas para a ulterior contratação
de serviços, mas também para o fornecimento de bens. Trata-se, portanto, de
regulamentação arrojada e desprendida de velhos dogmas (NÓBREGA, TORRES,
2020).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 10


Unidade 2 – Pré-Qualificação

Ao finalizar esta unidade, espera-se que você seja capaz de


compreender melhor a finalidade e a aplicação do procedimento
auxiliar denominado Pré-Qualificação, previsto de modo
pormenorizado no art. 80 da Lei nº 14.133/2021.

2.1 Conceito de Pré-Qualificação

A Pré-qualificação é um procedimento auxiliar previsto no art. 80 da Lei nº


14.133/2021. Nos termos do art. 6º, XLIV, da Lei nº 14.133/2021, esse instrumento
auxiliar caracteriza-se como o “procedimento seletivo prévio à licitação, convocado
por meio de edital, destinado à análise das condições de habilitação, total ou parcial,
dos interessados ou do objeto”. Convém destacar que não se trata de uma ideia
exatamente nova. O Decreto-Lei nº 2.300/1986, antecessor da Lei nº 8.666/1993, já
tratava do tema em seu art. 80, parágrafo único. Dali, extraía-se que “Entende-se
por pré-qualificação a habilitação dos interessados em procedimento anterior e
distinto da licitação. Neste caso, somente os pré-qualificados serão convidados
a apresentar propostas”. Cumpre salientar que, diferentemente do Decreto-Lei
nº 2.300/1986, a Lei nº 14.133/2021 não limitou a participação em processo
licitatório posterior ao procedimento de Pré-Qualificação exclusivamente aos
que participaram da Pré-Qualificação. Restringiu-se a delegar ao Administrador
Público a possibilidade dele decidir, em ato discricionário, a respeito (art. 80, §10).

Cabe anotar que há significativa contribuição doutrinária a tratar do tema. Nesse


sentido, vale assinalar a compreensão de Pré-Qualificação delineada por Hely Lopes
Meirelles (1997), cuja noção é de que se trata de evento apto a verificar previamente
as condições das firmas, consórcios ou profissionais que desejam participar de
determinadas e futuras concorrências de um mesmo empreendimento. Não
deve ser confundida com a habilitação preliminar nas concorrências (algo como
a atualização do registro cadastral), porque isto se faz antes de cada licitação,
e a Pré-Qualificação se realiza para um sem-número de concorrências. Não se
confunde também com a classificação das propostas, pois nela os interessados não
apresentam proposta de preço, mas tão somente documentação apta a comprovar
a existência de condições técnicas, econômicas e jurídicas pedidas pelo edital de
Pré-Qualificação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 11


Toshio Mukai (1990) afirma que a Pré-Qualificação, como a própria denominação
indica, não faz parte do torneio licitatório. É procedimento prévio à licitação, que
seleciona universo de empresas, após ampla divulgação, para participarem de
determinado certame licitatório. Na mesma linha, Freire (2022) assevera que é ato
administrativo que tem por objetivo selecionar pessoas e objetos que atendam a
certos requisitos claramente fixados no edital que convoca os interessados a se pré-
qualificarem ou a pré-qualificar determinados objetos.

Em adição, importante mencionar Marçal Justen Filho (2021). Afirma o autor que
o ato de Pré-Qualificação reside na edição do ato administrativo de mesmo nome,
cujo resultado concreto poderá ser formalizado, por exemplo, por meio da emissão
de um “certificado”. Esse ato terá um duplo efeito: declaratório e constitutivo.

Será “declaratório” na medida em que declara que certo licitante


preenche os requisitos de habilitação exigidos no edital ou
que o objeto apresentado possui as características mínimas de
qualidade ali exigidas (JUSTEN FILHO, M., 2021).

Será “constitutivo”, pois atribuirá ao pré-qualificado o direito


subjetivo de não lhe ser novamente exigida a documentação dos
requisitos de habilitação já comprovados ou de lhe ser novamente
avaliadas as características do objeto pré-qualificado (JUSTEN
FILHO, M., 2021).

Importante registrar que a doutrina e a jurisprudência acerca do procedimento


auxiliar de Pré-Qualificação, nos termos do art. 80 da Lei nº 14.133/2021, ainda é
incipiente. No âmbito das legislações anteriores, havia no meio jurídico e acadêmico
divergência a respeito de se a realização de pré-qualificação substituiria a etapa
de habilitação propriamente dita. Duas eram as discussões predominantes: a) a
Pré-Qualificação substitui a etapa de verificação das condições de habilitação de
posterior licitação, pois estas condições já foram atestadas; b) a Pré-Qualificação
não substitui a etapa de habilitação, pois a interpretação literal do radical/
prefixo “pré” resulta que deve haver uma etapa subsequente, ainda que somente
para referendar as análises já realizadas por ocasião da pré-qualificação. A este
respeito, leia o inteiro teor do Acórdão 1891/2006 do Plenário do TCU.

Observação: Na nova lei, esta etapa está prevista no capítulo VI,


entre os art. 62 e 70.

Portanto, fique sempre atento(a) às regulamentações (art. 78, §1º) e aos


debates doutrinários e jurisprudenciais que surgirem à luz da nova lei.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 12


2.2 O que pré-qualificar?

Conforme o art. 80 da Lei nº 14.133/2021, a Pré-Qualificação é o procedimento


técnico-administrativo para selecionar previamente:

1 – Licitantes que reúnam condições de habilitação para participar de futura licitação


ou de licitação vinculada a programas de obras ou de serviços objetivamente
definidos.

Lembre-se: quando aberta a licitantes, poderão ser dispensados


os documentos que já constarem do registro cadastral.

2 – Bens que atendam às exigências técnicas ou de qualidade estabelecidas pela


Administração.

Lembre-se: quando aberta a bens, poderá ser exigida a comprovação


de qualidade. Para tanto, excepcionalmente e justificadamente,
desde que previsto no edital de pré-qualificação, a Administração
poderá, já no curso deste procedimento auxiliar, exigir amostra
ou prova de conceito do bem (art. 41, II).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 13


2.3 Principais Regras e Prazos

O procedimento técnico-administrativo de Pré-Qualificação, conforme previsto na


Nova Lei de Licitações, deve observar uma série de regras, ritos e prazos. Entre eles:

• Publicização do procedimento de Pré-Qualificação, por intermédio de


edital publicado no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP),
(art. 174, §2º, III), onde constarão:
I - as informações mínimas necessárias para definição do objeto;
II - a modalidade, a forma da futura licitação e os critérios de julgamento.
• Apresentação dos documentos exigidos perante órgão ou comissão
indicada pela Administração, que deverá examiná-los no prazo máximo
de 10 (dez) dias úteis e determinar correção ou reapresentação de
documentos, quando for o caso, com vistas à ampliação da competição.
• Inclusão dos bens e dos serviços pré-qualificados no catálogo de bens
e serviços da Administração.
• A Pré-Qualificação poderá ser realizada de forma seccionada em grupos
ou segmentos, segundo as especialidades dos fornecedores.
• A Pré-Qualificação poderá ser parcial ou total, com alguns ou todos
os requisitos técnicos ou de habilitação necessários à contratação,
assegurada, em qualquer hipótese, a igualdade de condições entre os
concorrentes.
• Procedimento de Pré-Qualificação permanentemente aberto para a
inscrição de interessados.
• Prazo de validade:
I - de 1 (um) ano, no máximo, e poderá ser atualizada a qualquer tempo;
II - não superior ao prazo de validade dos documentos apresentados
pelos interessados.
• Divulgação obrigatória, sempre mantida à disposição do público, dos
licitantes e dos bens pré-qualificados.

ATENÇÃO: Em que pese a Lei nº 14.133/2021 já definir uma série de regras


e ritos, é importante mencionar que o procedimento de Pré-Qualificação
deve ser objeto de regulamentação, conforme determina o §1º do art. 78
da referida Lei. Portanto, fique sempre atento(a) às inovações infralegais.

Vamos conhecer mais sobre as características e definições iniciais da Pré-


Qualificação. Assista ao vídeo do professor e consultor Thiago Marrara. É rápido e
didático. https://www.youtube.com/watch?v=bcwf1B98Agg

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 14


Após percorrer esta unidade, você deve ter notado que a Pré-Qualificação pode
constituir ferramenta apta a afastar possíveis “licitantes aventureiros” e/ou inidôneos,
bem como produtos desprovidos de mínima qualidade. Por outro lado, acabará por
restringir, em alguma medida, o caráter competitivo do(s) vindouro(s) certame(s).
Evidentemente isto não é ilegal, pois como descreve Freire (2022):

[...] é próprio da licitação restringir o universo


de licitantes; ela faz isso ao fixar requisitos de
habilitação, ao prever condições para a aceitabilidade
dos objetos, ao impor certas obrigações contratuais
que nem todos os potenciais interessados conseguem
cumprir [...] em suma, cada requisito, obrigação
ou condição prevista num edital é um elemento
restritivo. É por isso que a Constituição requer que as
exigências sejam as indispensáveis ao cumprimento
da obrigação (art. 37, XXI). Uma vez respeitada essa
previsão constitucional (o que só pode ser avaliado
em concreto), a licitação restrita a pré-qualificados
não me parece problemática sob o ponto de vista
constitucional. Está dentro da competência legislativa
admitir esse tipo de possibilidade.

Todavia, sob pena de conluio/direcionamento indevido durante o processo de Pré-


Qualificação, a inserção desta etapa previamente a futura(s) licitação(s) deve ser
sempre avaliada com acurado critério. Jamais esqueça de observar os princípios
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, do
interesse público, da probidade administrativa, da igualdade, do planejamento, da
transparência, da eficácia, da motivação, da vinculação ao edital, do julgamento
objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da
proporcionalidade, da celeridade, etc.

Para se aprofundar no tema da Pré-Qualificação, acesse o artigo


dos professores José Antônio Remedio e Davi Pereira Remedio
Lei 14.133/2021: a pré-qualificação como procedimento auxiliar
das licitações e contratações administrativas.

Chegamos ao final do conteúdo referente à Pré-Qualificação. Agora você conhece as


principais características desse procedimento auxiliar.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 15


Unidade 3 – Procedimento de Manifestação de
Interesse (PMI)

Ao finalizar esta unidade, espera-se que você seja capaz de


compreender melhor a finalidade e aplicação do procedimento
auxiliar denominado Procedimento de Manifestação de Interesse
(PMI), previsto de modo pormenorizado no art. 81 da Lei Nº
14.133/2021.

3.1 O que é o Procedimento de Manifestação de


Interesse (PMI)?

O Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) é um procedimento auxiliar


previsto no art. 78, III, e, de modo pormenorizado, no art. 81 da Lei nº 14.133/2021.
Trata da faculdade conferida pelo legislador à Administração para que ela
solicite, por intermédio de edital de chamamento público, à iniciativa privada a
propositura e a realização de estudos, investigações, levantamentos e projetos de
soluções inovadoras que contribuam com questões de relevância pública, na forma
de regulamento. No âmbito da Administração Pública Federal, esse procedimento
auxiliar às licitações e contratações é atualmente regulado pelo Decreto nº 8.428, de
02 de abril de 2015.

Nos termos desse decreto regulamentador, a finalidade do PMI é subsidiar


a Administração Pública na estruturação de desestatização de empresa e de
contratos de parcerias público-privadas, a exemplo de concessões, permissões
de serviço público, arrendamentos, concessões de direito real e outros negócios
público-privados que, em função de seu caráter estratégico e de sua complexidade,
especificidade, volume de investimentos, longo prazo, riscos ou incertezas envolvidos,
adotem estrutura jurídica semelhante.

Segundo Moreno (2016), o PMI, também chamado manifestação de interesse privado


(MIP), solicitação de manifestação de interesse (SMI), propostas não solicitadas (PNS)
e, mais recentemente, procedimento de autorização dos estudos (PAE), presta-se a
colher contribuições dos administrados, antes da fase de contratação, para a
elaboração de contratos de Parceria Público-Privadas(PPP), com fulcro nos preceitos
e princípios constitucionais da participação, do direito à petição, bem como na Lei
de PPP (Lei nº 11.079/2004), na Lei de Processo Administrativo (Lei nº 9.784/1999) e
nos arts. 21 da Lei nº 8.987/1995 e 31 da Lei nº 9.074/1995.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 16


Schiefler (2013), por seu turno, define o PMI como um procedimento administrativo
consultivo, submetido ao regime de direito público, com ênfase nos princípios e
valores constitucionais. É o meio pelo qual a Administração Pública organiza em
edital a oportunidade para que particulares, por sua conta e risco, elaborem
estudos e modelagens com vistas à estruturação da delegação de utilidades
públicas, geralmente por via de concessão comum ou de Parceria Público-Privada.
É requerimento para que sejam apresentados ao poder público estudos e projetos
específicos, conforme diretrizes predefinidas, que sejam úteis à futura licitação e
ao respectivo contrato, sem que seja garantido o ressarcimento pelos respectivos
dispêndios, a adoção do material elaborado ou o lançamento da licitação pública,
tampouco qualquer vantagem formal do participante sobre outros particulares. Trata-
se de instituto de direito administrativo cujo propósito é auxiliar na estruturação de
modelagens de concessões e de parcerias público-privadas. O PMI permite, ainda,
na compreensão de Schiefler (2013), a aproximação dialogal entre a Administração
Pública e particulares em etapa prévia aos processos de concessão, ou seja,
objetiva, por intermédio da participação e do diálogo, reduzir as assimetrias
informacionais entre a Administração Pública e os particulares.

Em resumo, o PMI é uma ferramenta administrativa destinada a divulgar o interesse


da Administração em colher informações adicionais para a consolidação de ideias em
torno de algum projeto que se deseja implantar. É uma sondagem prévia ao mercado,
com o objetivo de ajustar os interesses públicos aos interesses privados (LIMA, 2014).

Para conhecer mais sobre as características e definições iniciais


do Procedimento de Manifestação de Interesse, assista ao vídeo
do advogado e economista Jaques Reolon: https://www.youtube.
com/watch?v=5WiFRYxg1qY.

A esta altura, você pode estar pensando: mas se o


Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) é
processo dialogal para da iniciativa privada receber
subsídios à consolidação de uma ideia com o objetivo de
diminuir a assimetria informacional entre a Administração
Pública e particulares, por que utilizá-lo? Por que não
utilizar o Diálogo Competitivo?

Bem...inicialmente, é preciso ter em mente que o Diálogo


Competitivo é uma modalidade licitatória, isto é, trata-se de uma
disputa. Existirão, portanto, concorrentes, propostas de preço,
vencedores e vencidos. O PMI, por outro lado, é procedimento
auxiliar e prévio à eventual futura licitação. Não há que falar

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 17


nesta etapa de disputa, vencedores e vencidos em sentido estrito.
Em outras palavras, PMI e o Diálogo Competitivo são institutos
distintos, que ocorrem em momentos distintos e com finalidades
e procedimentos distintos.

Para saber mais sobre as diferenças entre o PMI e o Diálogo


Competitivo, leia o artigo Uma análise comparativa entre o
Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) e o Diálogo
Competitivo, de Cláudia Castello Branco Lima.

3.2 Observações relevantes à realização do PMI

Quando da instauração do procedimento auxiliar denominado PMI, deve-se ter


em mente que a realização, pela iniciativa privada, de estudos, investigações,
levantamentos e projetos em decorrência do procedimento de manifestação de
interesse previsto no caput do art. 81 da Lei nº 14.133/2021:

+ Não atribuirá ao realizador dos estudos, investigações, levantamentos e


projetos direito de preferência em eventual e futuro processo licitatório.

+ Não obrigará o poder público a realizar licitação.

+ Não implicará, por si só, direito a ressarcimento de valores envolvidos na


elaboração de estudos, investigações, levantamentos e projetos etc.

+ Não haverá, sob qualquer hipótese, a cobrança de valores do poder público,


sendo a realizadora de estudos, investigações, levantamentos e projetos
remunerada somente pelo vencedor de eventual e ulterior licitação, que de
seus estudos se servir.

+ Não poderá ser inferior a 20 (vinte) dias o prazo para apresentação de


requerimento de autorização para apresentação de projetos, levantamentos,
investigações ou estudos, contados da data de publicação do edital de
chamamento (Decreto nº 8.428/2015, art. 4º, §3º).

LEMBRE-SE:

Para aceitação dos produtos e serviços de que trata o caput do art.


81 da Lei nº 14.133/2021, a Administração deverá elaborar parecer
fundamentado com a demonstração de que o produto ou serviço
entregue/proposto é adequado e suficiente à compreensão do

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 18


objeto, bem como de que as premissas adotadas são compatíveis
com as reais necessidades do órgão e, ainda, que a metodologia
proposta é a que propicia maior economia e vantagem entre as
demais possíveis.

O procedimento de manifestação de interesse poderá ser


restrito a startups, assim considerados os microempreendedores
individuais, as microempresas e as empresas de pequeno
porte, de natureza emergente e com grande potencial, que se
dediquem à pesquisa, ao desenvolvimento e à implementação de
novos produtos ou serviços baseados em soluções tecnológicas
inovadoras que possam causar alto impacto, exigida, na seleção
definitiva da inovação, validação prévia fundamentada em
métricas objetivas, de modo a demonstrar o atendimento das
necessidades da Administração.

Para outras observações relevantes acerca do PMI, assista mais


uma significativa contribuição do professor Jaques Reolon:
https://www.youtube.com/watch?v=negdSSyt7o8.

ATENÇÃO: O PMI deve ser amplamente divulgado. É que, ressalvado


o disposto no art. 81, § 4º, da Lei nº 14.133/2021, se apenas um seleto
grupo participa do PMI, pode haver direcionamento indevido
para pleno atendimento dos interesses destes particulares. Tal
situação, se ocorrer, pode, sob a perspectiva do interesse público,
resultar na não adoção da melhor solução disponível no mercado.

Para obter mais informações sobre o Procedimento de


Manifestação de Interesse, leia os estudos de Gustavo Henrique
Carvalho Schiefler AQUI, e de Maís Moreno AQUI.

Chegamos ao final do conteúdo referente ao Procedimento de Manifestação de


Interesse (PMI). Agora você conhece um pouco mais sobre as características desse
procedimento auxiliar.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19


Unidade 4 – Sistema de Registro de Preços (SRP)

Ao finalizar esta unidade, espera-se que você seja capaz de


compreender melhor a finalidade e a aplicação do procedimento
auxiliar denominado Sistema de Registro de Preços (SRP),
previsto de modo pormenorizado nos arts. 82, 83, 84, 85 e 86 da
Lei nº 14.133/2021.

4.1 Conceitos existentes no Sistema de Registro de


Preços (SRP)

O procedimento auxiliar denominado “Sistema de Registro de Preços (SRP)”, que


deve ser adotado sempre que pertinente (art. 40, II), compreende, nos termos do
art. 6º, XLV, da Lei nº 14.133/2021, o “conjunto de procedimentos para realização,
mediante contratação direta ou licitação nas modalidades pregão ou concorrência,
de registro formal de preços relativos à prestação de serviços, a obras e a aquisição
e locação de bens para contratações futuras”.

Consiste, na visão do Tribunal de Contas da União (TCU), do conjunto de


procedimentos adotados pela Administração para registro formal de preços
relativos à execução de serviços e fornecimento de bens. É um cadastro de produtos
e fornecedores, selecionados mediante prévio processo de licitação, para eventual
e futura contratação de bens e serviços por parte da Administração. Difere-se do
sistema convencional, na medida em que nele a licitação destina-se a selecionar
fornecedor e proposta para contratação específica, efetivada pela Administração
ao final do procedimento. SRP, por outro lado, a licitação direciona-se a selecionar
fornecedor e proposta para contratações não específicas, que poderão ser realizadas,
por repetidas vezes, durante certo período. Permite-se, assim, a redução de custos
operacionais e otimização dos processos de contratação de bens e serviços pela
Administração (TCU, 2010).

O SEBRAE, por seu turno, vai em sentido semelhante. Sobre o SRP, assevera
tratar-se de um sistema de compras já consolidado no setor público, sobretudo
na Administração Federal, cujo objetivo é produzir um registro formal de preços
de produtos, ou de prestação de serviços, para contratações futuras. Tem como
característica não ser semelhante a nenhum outro, funcionando como um grande
cadastro de produtos e fornecedores, selecionados mediante licitação (SEBRAE,
2017).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 20


Enquanto conjunto de procedimentos, o SRP congrega inúmeras noções e
concepções. As principais delas são as seguintes:

+ I - Ata de registro de preços: documento vinculativo e obrigacional, com


característica de compromisso para futura contratação, no qual são
registrados o objeto, os preços, os fornecedores, os órgãos participantes e
as condições a serem praticadas, conforme as disposições contidas no edital
da licitação, no aviso ou instrumento de contratação direta e nas propostas
apresentadas. Apesar do nome, não deve ser confundida com a ata da
sessão pública do certame.

+ II – Adesão (tardia) à ata de registro de preços “carona”: solução


administrativa por meio da qual um órgão ou entidade da Administração
Pública que não participou do procedimento público de intenção de registro
de preços pode utilizar-se do registro de preços do órgão gerenciador da ata
na condição de órgão ou entidade não participante, observado o disposto
no art. 86, §2º, da Lei nº 14.133/2021.

+ III – Órgão ou entidade gerenciadora: órgão ou entidade da Administração


Pública responsável pela condução do conjunto de procedimentos para
registro de preços e pelo gerenciamento da ata de registro de preços dele
decorrente.

+ IV – Órgão ou entidade participante: órgão ou entidade da Administração


Pública que participa dos procedimentos iniciais da contratação para
registro de preços e integra a ata de registro de preços.

+ V – Órgão ou entidade não participante: órgão ou entidade da Administração


Pública que não participa dos procedimentos iniciais da licitação para
registro de preços e não integra a ata de registro de preços.

+ VI – Intenção de registro de preços (IRP): procedimento administrativo, da


fase preparatória do processo licitatório, operacionalizado por intermédio
de módulo de sistema estruturante governamental específico, que deve ser
utilizado pelos órgãos, para fins de registro de preços e realização de
procedimento público de aviso de intenção de registrar preços para, nos
termos de regulamento, possibilitar, pelo prazo mínimo de 8 (oito) dias
úteis, a participação de outros órgãos ou entidades na respectiva ata. Serve,
ainda, para determinar a estimativa total de quantidades da contratação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21


+ VII – SRP Digital: ferramenta informatizada, integrante do Compras.gov.br,
disponibilizada pela Secretaria de Gestão e Inovação do Ministério da
Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, para o registro formal de preços
relativos à prestação de serviços, obras e aquisição e locação de bens para
contratações futuras, consoante a definição do art. 6º, XLV, da Lei nº
14.133/2021.

+ VIII – Cadastro de reserva: registro formal, incluído na ata de registro de


preços, na forma de anexo, contendo as informações relativas aos licitantes
ou fornecedores que aceitarem cotar os bens, obras ou serviços com preços
iguais aos do adjudicatário, na ordem de classificação da etapa competitiva
da licitação. Pode ser considerado uma ação de contingência para mitigar
situações de provável desabastecimento ou descontinuidade de serviço
público, no caso de impossibilidade de atendimento das demandas da
Administração pelo signatário da ata.

Vê-se, portanto, que o SRP é um procedimento auxiliar repleto de nuances, mas que
serve de excelente ferramenta para a Administração Pública, proporcionando maior
agilidade, eficiência e controle nas aquisições e contratações de bens e serviços
(SEBRAE, 2017).

4.2 Possibilidades/Hipóteses de Utilização

O Sistema de Registro de Preços (SRP), enquanto procedimento auxiliar complexo


e repleto de nuances, possui uma gama enorme de possibilidades de utilização,
previstas tanto na Lei nº 14.133/2021 quanto em regulamento. A Lei nº 14.133/2021
não delineou de forma taxativa a aplicação do SRP. Ampliou, portanto, as hipóteses
de utilização do instrumento em relação às antigas normas.

O novel texto legal limitou-se a esclarecer que o planejamento das compras deverá
considerar a expectativa anual de consumo e observar o processamento por meio
do SRP sempre que pertinente (art. 40, II). Como diferente não podia ser, o art. 3º do
Decreto nº 11.462, de 31 de março de 2023, seguiu a toada e definiu as hipóteses
de emprego do SRP de forma igualmente aberta. Restringiu-se a repetir a Lei,
mencionando a adoção do SRP, em especial:

+ I – Quando, pelas características do bem ou serviço, houver necessidade de


contratações permanentes ou frequentes.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22


+ II – Quando for conveniente a aquisição de bens com previsão de entregas
parceladas ou contratação de serviços remunerados por unidade de medida,
como quantidade de horas de serviço, postos de trabalho ou em regime de
tarefa.

+ III – Quando for conveniente para atendimento a mais de um órgão ou a


mais de uma entidade, inclusive nas compras centralizadas.

+ IV – Quando for atender a execução descentralizada de programa ou projeto


federal, por meio de compra nacional ou da adesão de que trata o §2º do
art. 32 do Decreto nº 11.462, de 31 de março de 2023.

+ V – Quando, pela natureza do objeto, não for possível definir previamente o


quantitativo a ser demandado pela Administração.
Ou seja, o SRP poderá ser usado sempre que considerado viável para a contratação
de bens e serviços, inclusive obras e serviços de engenharia. O gestor público,
entretanto, para utilização do SRP, deve observar as seguintes condições:

I – realização prévia de ampla pesquisa de mercado;

II – seleção de acordo com os procedimentos previstos em regulamento;

III – desenvolvimento obrigatório de rotina de controle;

IV – atualização periódica dos preços registrados;

V – definição do período de validade do registro de preços.

E mais, quando adotado o SRP, o edital de licitação para registro de preços observará
as regras da Lei nº 14.133/2021, e disporá, obrigatoriamente, sobre:

I – as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a quantidade


máxima de cada item que poderá ser adquirida;

II – a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, no caso de


serviços, de unidades de medida;

III – a possibilidade de prever preços diferentes:

a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais diferentes;

b) em razão da forma e do local de acondicionamento;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 23


c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do lote;

d) por outros motivos justificados no processo;

IV – a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em quantitativo


inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se nos limites dela;

V – o critério de julgamento da licitação, que será o de menor preço ou o de


maior desconto sobre tabela de preços praticada no mercado;

VI – as condições para alteração de preços registrados;

VII – o registro de mais de um fornecedor ou prestador de serviço, desde


que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante vencedor,
assegurada a preferência de contratação de acordo com a ordem de
classificação;

VIII – a vedação à participação do órgão ou entidade em mais de uma ata


de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de validade daquela de
que já tiver participado, salvo na ocorrência de ata que tenha registrado
quantitativo inferior ao máximo previsto no edital;

IX – as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços e suas


consequências.

Em adição, importante mencionar que a utilização do SRP para a execução de obras


e serviços de engenharia é uma possibilidade prevista na Lei nº 14.133/2021 (art.
85), desde que atendidos os seguintes requisitos:

I – existência de projeto padronizado, sem complexidade técnica e


operacional;

II – necessidade permanente ou frequente de obra ou serviço a ser


contratado.

Todavia, quando falamos sobre as hipóteses de utilização do


procedimento auxiliar denominado Sistema de Registro de Preços,
talvez o que mais se sobressaía seja a possibilidade de adesão à
ata de registro de preços por órgãos que não participaram dos
procedimentos iniciais do certame, as famosas “caronas”. Sobre
isso, a Lei nº 14.133/2021, estabeleceu no art. 86, §§ 2º a 8º, algumas
regras e outras tantas exceções. Entre elas:

a) As aquisições ou as contratações adicionais por órgãos


ou entidades não participantes do registro de preços, não
poderão exceder, por órgão ou entidade, a 50% (cinquenta
por cento) dos quantitativos dos itens do instrumento
convocatório registrados na ata de registro de preços

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 24


para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes
(art. 86, §4º).

b) O quantitativo decorrente das adesões à ata de registro


de preços por órgãos ou entidades não participantes do
registro de preços não poderá exceder, na totalidade,
ao dobro do quantitativo de cada item registrado na ata
de registro de preços para o órgão gerenciador e órgãos
participantes, independentemente do número de órgãos
não participantes que aderirem (art. 86, §5º).

+ Exemplificando:
O órgão gerenciador “A” assinou ata de registro de preços para aquisição de
1.000 canetas esferográficas. Logo, o limite máximo de adesões que o órgão
“A” pode conceder são 2.000 canetas esferográficas, ou seja, o dobro.

Os órgãos não participantes “B”, “C”, “D” e “E”... por seu turno, poderão,
justificadamente, desde que autorizados pelo órgão gerenciador, aceito
pelo fornecedor e mediante comprovação de compatibilidade de preços
com os valores de mercado, adquirir até 50% do quantitativo registrado, ou
seja, no máximo 500 canetas esferográficas cada. Caso o órgão “F” também
manifeste interesse em adquirir canetas, não mais haverá saldo disponível,
eis que o dobro do quantitativo inicialmente registrado foi atingido. O órgão
gerenciador “A” deverá negar o pedido de “F”.

Por outro lado, caso os órgãos não participantes “B”, “C”, “D” e “E” tenham
solicitado quantitativo inferior a 50%, o sobressalente poderá ser concedido
para outros órgãos não participantes, desde que observado o limite individual
de cada órgão, ou seja, 50%, e o limite geral, ou seja, o dobro.

+ Resumindo:
Total registrado em Ata: 1.000 canetas esferográficas.

Total disponível para adesões por órgãos não participantes: 2.000 canetas
esferográficas.

Adesões concedidas: 500 unidades para “B” + 500 unidades para “C” + 500
unidades para “D” + 500 unidades para “E” = 2.000. Limite de adesões atingido.

Adesões concedidas: 100 unidades para “B” + 400 unidades para “C” + 200
unidades para “D” + 450 unidades para “E” = 1.150. Restam, ainda, 850
unidades disponíveis para adesão até que se atinja o limite geral de adesões
possíveis, ou seja, 2.000 canetas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25


+ EXCEÇÕES:
A adesão à ata de registro de preços de órgão ou entidade gerenciadora
do Poder Executivo Federal por órgãos e entidades da Administração Pública
estadual, distrital e municipal poderá ser exigida para fins de transferências
voluntárias, não ficando sujeita ao limite acima mencionado se destinada
à execução descentralizada de programa ou projeto federal e comprovada a
compatibilidade dos preços registrados (art. 86, § 6º).

Para aquisição emergencial de medicamentos e material de consumo


médico-hospitalar por órgãos e entidades da Administração Pública
federal, estadual, distrital e municipal, a adesão à ata de registro de preços
gerenciada pelo Ministério da Saúde não estará sujeita aos limites acima
mencionados (art. 86, §7º).

Por fim, vale mencionar uma importante definição da Nova Lei de Licitações
e Contratos, qual seja, a impossibilidade de “pegar carona para baixo”. É o que
se depreende da leitura sistêmica do §3° c/c o §8º, ambos do art. 86 da Lei nº
14.133/2021, que mencionam o seguinte:

Art. 86

[…]

§ 3º A faculdade conferida pelo § 2º deste artigo estará limitada a órgãos e


entidades da Administração Pública federal, estadual, distrital e municipal que,
na condição de não participantes, desejarem aderir à ata de registro de preços
de órgão ou entidade gerenciadora federal, estadual ou distrital.

[…]

§ 8º Será vedada aos órgãos e entidades da Administração Pública federal a


adesão à ata de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual,
distrital ou municipal.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 26


Ilustrativamente funciona assim:

Mídia 7- Tabela

Para mais informações sobre a (im)possibilidade de adesões entre


municípios, leia interessante artigo de Rogério Correa AQUI.

Para aprofundar-se na temática do SRP, assista ao vídeo Minuto


ENAP com o professor e procurador-federal da Advocacia-Geral da
União (AGU) Daniel Barral, em que ele reforça a possibilidade de
utilização do SRP para a contratação de serviços contínuos. É rápido
e didático: https://www.youtube.com/watch?v=mhrrcm4U5mg

4.3 Principais diferenças entre licitação SRP e não


SRP

As compras e contratações podem ser processadas de duas maneiras:

Com a utilização do sistema de registro de preços.

Sem a utilização do sistema de registro de preços.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27


Quando processadas pelo Sistema de Registro de Preços, costumam ser chamadas
“Licitações SRP”; quando processadas sem a utilização de registro de preços,
denominam-se compras/contratações “tradicionais”. Dependendo do modelo
de processamento adotado, existirão diferenças procedimentais na condução e
formalização do certame.

Algumas das diferenças entre os procedimentos licitatórios processados sob o SRP


e os processados fora dele são as seguintes:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 28


Para se aprofundar ainda mais na temática do SRP, assista ao
terceiro episódio da série produzida pela ENAP sobre a Nova Lei
de Licitações. https://www.youtube.com/watch?v=Gf2IzXfPgdk

Pronto. Chegamos ao final do conteúdo sobre o Sistema de Registro de Preços (SRP).


Agora você conhece um pouco mais deste procedimento auxiliar.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29


Unidade 5 – Registro Cadastral

Ao finalizar esta unidade, espera-se que você seja capaz de


compreender melhor a finalidade e a aplicação do procedimento
auxiliar denominado Registro Cadastral, previsto de modo
pormenorizado nos arts. 87 e 88 da Lei nº 14.133/2021.

5.1 Conceito de Registro Cadastral

O Registro Cadastral é um procedimento auxiliar previsto nos art. 87 e 88 da Lei nº


14.133/2021. Em termos práticos, versa sobre um sistema informatizado de utilização
obrigatória pelos órgãos e entidades da Administração. Reúne as informações
jurídicas, fiscais, econômico-financeiras, qualificações técnicas, etc. de fornecedores
interessados em negociar/comercializar com a Administração Pública. Trata-se,
pois, de importante instrumento de aferição das condições de habilitação quando
da realização de procedimentos licitatórios e contratações diretas, em linha com os
princípios da eficiência, julgamento objetivo, celeridade e economia processual.

Consiste, nos termos do Decreto nº 52.205, de 27 de setembro de 2007, do estado


de São Paulo, de um cadastro disponível a todos os interessados em licitar e
contratar com órgãos da administração direta, autarquias, fundações instituídas ou
mantidas pelo poder público; sistema eletrônico de informações, por meio do qual
serão inscritos e mantidos os registros dos interessados em participar de licitações
e contratar com qualquer órgão da Administração direta e indireta.

A noção de Registro Cadastral não é, portanto, exatamente uma novidade. Até


porque já estava previsto no art. 34 da Lei nº 8.666/1993 e antes disso no art. 27 do
Decreto-Lei nº 2.300/1986. Conhecido por muitos a partir do Governo Federal que
lhe chama SICAF, é também parte do cotidiano em Estados e Municípios. O estado
de São Paulo, por exemplo, o chama CAUFESP; a Bahia, CAF, e o estado do Rio de
Janeiro adota, desde 2019, o SICAF do Governo Federal. A Nova Lei de Licitações e
Contratos vai na direção da iniciativa do estado do Rio de Janeiro, qual seja: a da
lógica da otimização, por meio da unificação e compartilhamento de um mesmo
registro cadastral de licitantes, hospedado em plataforma centralizada específica
(o Portal Nacional de Contratações Púbicas – PNCP), a ser utilizado por todas as
esferas e instâncias da Administração Pública, conforme o art. 87, caput, e o art.
174, §3º, I, da Lei nº 14.133/2021.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 30


Para se aprofundar ainda mais na temática do Registro
cadastral, assista ao segundo episódio da série produzida pela
ENAP sobre a Nova Lei de Licitações. https://www.youtube.
com/watch?v=HHf0dClr9rI&list=PLCDO8oMmhbxsnjUzFA0TCVio
H9eqvRwkD&index=2.

5.2 Componentes do Registro Cadastral

O art. 88 da Lei nº 14.133/2021 diz que, “ao requerer, a qualquer tempo, inscrição
no cadastro ou a sua atualização, o interessado fornecerá os elementos necessários
exigidos para habilitação previstos nesta Lei”. Assim, forçoso reconhecer que o
Registro Cadastral é composto dos mesmos documentos previstos no Capítulo VI
da Lei nº 14.133/2021. Logo, a inscrição no Registro Cadastral compreende:

+ I – Habilitação jurídica (art. 66)

+ II – Habilitação técnica (art. 67)

+ III – Habilitação fiscal, social e trabalhista (art. 68)

+ IV – Habilitação econômico-financeira (art. 69)

Veja, como o art. 87, § 2º, veda a exigência, pelo órgão ou entidade licitante,
de registro cadastral complementar para acesso a edital e anexos e o art. 87,
§3º, permite a realização de licitação restrita a fornecedores cadastrados, este
procedimento auxiliar é medida de estímulo e de simplificação extremamente
relevante, pois fomenta a ampla participação de fornecedores que antes podiam se
sentir desencorajados a comercializar com órgãos públicos, tamanha a burocracia
e a complexidade em se atender a um sem números de cadastros e de exigências,
muitas das vezes desarrazoadas em relação ao custo/benefício.

Explore um pouco mais das novidades previstas na Lei nº


14.133/2021 acerca do “Registro Cadastral”. O texto de Rafael

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31


Carvalho de Fassio e de Marcos Nóbrega traz uma interessante
leitura sobre as inovações deste procedimento auxiliar. Aguce a
sua curiosidade e leia o artigo Procedimentos Auxiliares na Nova
Lei de Licitações: O Rating de Fornecedores no Registro Cadastral
e o Procedimento de Manifestação de Interesse.

PARA LEMBRAR: No caso da modalidade licitatória “leilão” não


será exigido Registro Cadastral prévio (art. 31, §4º).

5.3 O registro cadastral no Governo Federal: SICAF

O SICAF (Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores) é o registro cadastral


no âmbito do Governo Federal. Sobre o SICAF, a Instrução Normativa nº 03, de 26
do abril de 2018, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que regula o
procedimento, assim dispõe:

[...] O Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – Sicaf constitui o


registro cadastral do Poder Executivo Federal [...] O Sicaf conterá os registros da
habilitação jurídica, da regularidade fiscal e da qualificação econômico-financeira,
bem como das sanções aplicadas pela Administração Pública, conforme previsto
na legislação e nesta Instrução Normativa, em especial as que acarretem a
proibição de participação em licitações e celebração de contratos com o Poder
Público. Parágrafo único. Excetuam-se das exigências para habilitação
prévia no Sicaf as relativas à qualificação técnica da interessada, as
quais somente serão demandadas quando a situação o exigir. (grifou-se).

A tendência é o aproveitamento do SICAF como o registro cadastral único. É o que


se depreende do episódio dois da série Nova Lei de Licitações: um ano para a
construção do futuro, produzida pela ENAP e que assistimos há pouco.

Evidentemente, serão necessários ajustes para atender a nova realidade, consoante


às determinações da Lei nº 14.133/2021, especialmente a unificação (art. 87, caput),
a inclusão de consultas ao CEIS e ao CNEP (art. 91, §4º), a inclusão dos atestados
de cumprimento das obrigações (atestados de capacidade técnica) com menção

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 32


ao desempenho dos fornecedores na execução contratual (art. 88, §3º e §4º) e
a inclusão de um índice (rating) com atribuição de notas (art. 37, III), de modo a
possibilitar a implementação de medidas de incentivo aos licitantes que possuírem
ótimo desempenho anotado em seu registro cadastral (art.88, §4º).

Por ora, tudo segue como está, ou seja, os órgãos de todos os entes podem utilizar
os sistemas de registro cadastrais atualmente disponíveis para cadastramento de
fornecedores para efeito de participação nas licitações e contratações públicas,
incluindo, mas não se limitando ao Sistema de Cadastramento Unificado de
Fornecedores do Governo Federal (SICAF). É que, embora o art. 87 da Lei nº
14.133/2021 tenha estabelecido a unificação do registro cadastral, a Nova Lei de
Licitações foi omissa ao estabelecer a unificação do poder regulamentar do art.
87. Na prática, isso inviabiliza a construção de um registro cadastral unificado, pois
todos os entes podem baixar, nos termos da Lei, regulamentos próprios.

Nesse sentido, o Tribunal de Contas da União reconheceu, em sede de Acórdão


nº 2.852/2021-Plenário (TC 039.727/2021-1), que o desenvolvimento do Sistema de
Registro Cadastral Unificado de que trata a NLLCA pressuporia o estabelecimento
de competência regulamentar uniforme sobre a matéria. Dada a constatação, houve
a proposição no Congresso Nacional do Projeto de Lei nº 249/2022 para alterar a
regra do art. 87 da Lei nº 14.133/2021, definindo-se a titularidade da regulamentação
da matéria para o Poder Executivo federal. Assim sendo, somente após a eventual
aprovação e sanção do Projeto de Lei nº 249/2022, será viável o estabelecimento de
uma regulamentação uniforme sobre o tema e, posteriormente, o desenvolvimento
tecnológico de um sistema unificado, nos termos do disposto na novel legislação
(COMUNICADO nº 1/2023).

Saiba Mais: Para acompanhar o andamento do Projeto de Lei nº


249/2022, CLIQUE AQUI.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33


No que se refere ao atual SICAF, é acessível a partir de https://www3.comprasnet.
gov.br/sicaf-web/index.jsf. Na sequência, será necessário possuir uma chave de
acesso junto ao portal gov.br (https://www.gov.br/pt-br), que é a página de serviços
ao cidadão do governo brasileiro.

Página inicial do SICAF

Cumprida a etapa de acesso, o sistema é bastante intuitivo e compreende o cadastro,


que se dá por intermédio da inclusão de dados pessoais dos sócios, dados jurídicos,
regularidade fiscal, qualificação técnica, qualificação econômico-financeira, uplodas/
downloads de documentos, etc. Contempla, também, a possibilidade de consultas
diversas sobre os logs de acesso e de alteração de dados no sistema, as condições
de habilitação, a validade do registro, as sanções administrativas sofridas, eventuais
impedimentos de licitar. O passo a passo, epender dependendo de sua qualificação
(fornecedor ou governo) pode ser detalhadamente conferido nos manuais abaixo:

Manual Normativo

Manual Operacional Fornecedor

Tutorial Fornecedor

Tutorial Governo (para uso de servidores)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 34


Para outras consultas e o saneamento de dúvidas, acesse o link a seguir: https://
www.gov.br/compras/pt-br/sistemas/conheca-o-compras/sicaf-digital.

Em síntese, o Registro Cadastral é um procedimento auxiliar que se materializa a partir


de um banco de dados que congrega as informações cadastrais, jurídicas, fiscais,
entre outras, a respeito das pessoas físicas ou jurídicas que com a Administração
Pública pretendem transacionar. Afigura-se, em verdade, em ferramenta de gestão
apta a conferir celeridade, otimização e racionalização do trabalho administrativo,
eis que deve reunir, nos termos do art. 88 da Lei nº 14.133/2021, as informações
necessárias exigidas para habilitação de licitantes interessados em negociar com a
Administração Pública.

Chegamos ao final do conteúdo sobre o procedimento auxiliar denominado Registro


Cadastral. Agora você conhece um pouco mais sobre o assunto.

Conclusão
Pois bem caro(a) participante, cumprimos o objetivo geral, com a demonstração, um
a um, dos cinco procedimentos auxiliares previstos no art. 78 da Nova Lei de Licitações
e Contratos, o que nos direciona à conclusão do curso sobre os “Procedimentos
Auxiliares na Nova Lei de Licitações”. Importante ressaltar que a utilização plena da
Lei nº 14.133/2021, ainda é bastante recente. Desse modo, você deve estar sempre
atento e atualizado frente às discussões doutrinárias e à jurisprudência que envolve
a matéria, sobretudo às oriundas do Tribunal de Contas da União (TCU), por força
do que dispõe o art. 71 da Constituição Federal, o art. 169 da Lei nº 14.133/2021 e a
Súmula nº 222 do TCU.

Note, o grande desafio das contratações públicas agora é romper com ideários
arcaicos. A nova legislação exige aplicação à luz de práticas condizentes com o
século XXI, sem, entretanto, perder de vista que o fim é sempre a contratação mais
vantajosa, o bem comum e o interesse público. Os procedimentos auxiliares, que
agora você conhece um pouco mais a fundo, estão aí para ajudar nessa árdua tarefa.

Para consultar a jurisprudência do Tribunal de Contas da União e


manter-se sempre atualizado, CLIQUE AQUI.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35


Referências

BRASIL. Comitê Gestor da Rede Nacional de Contratações Públicas. Comunicado


nº 01/2023. Disponível em: https://www.gov.br/pncp/pt-br/acesso-a-informacao/
comunicados/comunicado-no-1-2023-portal-nacional-de-contratacoes-publicas-
pncp. Acesso em: 03 mar. 2023.

BRASIL. Decreto nº 11.462, de 31 de março de 2023. Regulamenta os art. 82 a


art. 86 da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021, para dispor sobre o sistema de
registro de preços para a contratação de bens e serviços, inclusive obras e serviços
de engenharia, no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e
fundacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 mar. 2023. Seção 1 – Extra C,
pág. 3.

BRASIL. Decreto nº 8.428, de 02 de abril de 2015. Dispõe sobre o Procedimento


de Manifestação de Interesse a ser observado na apresentação de projetos,
levantamentos, investigações ou estudos, por pessoa física ou jurídica de direito
privado, a serem utilizados pela administração pública. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 06 abr. 2015. Seção 1.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.300, de 21 de novembro de 1986. Dispõe sobre licitações


e contratos da Administração Federal e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 25 nov. 1986. Seção 1.

BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos


Administrativos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º abr. 2021. Edição 61 -F. Seção
1 - Extra.

BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 jun. 1993,
republicado em 06 jul.1994. Seção 1.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Instrução


Normativa Nº 5, de 26 de maio de 2017. Dispõe sobre as regras e diretrizes do
procedimento de contratação de serviços sob o regime de execução indireta no
âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional. Brasília,
DF: Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 26 maio 2017. Disponível
em: https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-
normativas/instrucao-normativa-no-5-de-26-de-maio-de-2017-atualizada. Acesso
em: 15 jan.2023.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instrução Normativa


Nº 03, de 26 do abril de 2018. Estabelece regras de funcionamento do Sistema de

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 36


Cadastramento Unificado de Fornecedores – Sicaf, no âmbito do Poder Executivo
Federal. Disponível em: https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/
legislacao/instrucoes-normativas/instrucao-normativa-no-3-de-26-de-abril-
de-2018. Acesso em: 30 jan. 2023.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão 3567/2014 - PLENÁRIO. Representações.


Pedidos de cautelar. Procedimento para credenciamento de sociedades de
advogados. Conhecimento. Concessão de medida cautelar inaudita altera pars.
Brasília, DF: Tribunal de Contas da União [2014]. Disponível em: https://pesquisa.
apps.tcu.gov.br/#/documento/acordao-completo/*/NUMACORDAO%253A3567
%2520ANOACORDAO%253A2014%2520COLEGIADO%253A%2522Plen%25C3%
25A1rio%2522/DTRELEVANCIA%2520desc%252C%2520NUMACORDAOINT%252
0desc/0/%2520. Acesso em: 15 jan. 2023.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Licitações e contratos: orientações e


jurisprudência do TCU / Tribunal de Contas da União. 4. ed. rev., atual. e ampl. – Brasília:
TCU, Secretaria-Geral da Presidência: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração
e Publicações, 2010. p. 910. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/
file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24D6E86A4014D72AC81CA540A&inline=1.
Acesso em: 28 jan. 2023.

FREIRE, André Luiz. Pré-qualificação nas licitações públicas. Enciclopédia jurídica


da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz
Freire (coords.). Tomo: Direito Administrativo e Constitucional. Vidal Serrano Nunes
Jr., Maurício Zockun, Carolina Zancaner Zockun, André Luiz Freire (coord. de tomo).
2. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/523/edicao-2/pre-qualificacao-nas-
licitacoes-publicas. Acesso em: 21 jan. 2023.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos.


12ª ed. São Paulo: Dialética, 2008.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos


Administrativos. São Paulo: Thomson Reuters, 2021.

LIMA, Cláudia Castello Branco. Úma análise comparativa entre o Procedimento


de Manifestação de Interesse (PMI) e o diálogo competitivo. São Paulo:
FGV, 2014. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/
handle/10438/12901/Trabalho%20individual.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso
em: 22 jan. 2023.

MEIRELLES, Hely Lopes. Aspectos Jurídicos da Licitação. 4ª ed. São Paulo: Saraiva,
1997.

MORENO, Maís. A participação do administrado no processo de elaboração dos


contratos de PPP. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Pós-

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37


Graduação em Direito, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2016. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2134/tde-08082016-
161204/publico/160531DisseratacaoMestradoMaisMoreno.pdf. Acesso em: 23 jan.
2023.

NIEBUHR, Joel de Menezes. Dispensa e Inexigibilidade de Licitação Pública. São


Paulo: Dialética, 2003.

NÓBREGA, Marcos; TORRES, Ronny Charles L. de. A nova lei de licitações,


credenciamento e e-marketplace: o turning point da inovação nas compras públicas.
2020. Disponível em: https://ronnycharles.com.br/wp-content/uploads/2021/01/
A-nova-lei-de-licitacoes-credenciamento-e-e-marketplace-o-turning-point-da-
inovacao-nas-compras-publicas.pdf. Acesso em: 14 jan.2023.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 52.205, de 27 de setembro de 2007. Institui o


Cadastro Unificado de Fornecedores do Estado de São Paulo - CAUFESP, aprova
o regulamento que o regerá, e dá providências correlatas. Disponível em: http://
dobuscadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublicacao=20070928&Ca
derno=DOE-I&NumeroPagina=1. Acesso em: 30 jan. 2023.

SCHIEFLER, Gustavo Henrique Carvalho. Procedimento de Manifestação de


Interesse (PMI): solicitação e apresentação de estudos e projetos para a estruturação
de concessões comuns e parcerias público-privadas. 2013. 500 f. Dissertação
(Mestrado em Direito) - Programa de Pós-Graduação em Direito, Centro de Ciências
Jurídicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. Disponível
em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/107525/318832.
pdf?sequence=1. Acesso em: 23 jan. 2023.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Sistema de


Registro de Preços – SRP. Brasília: Sebrae, 2017. Disponível em: https://www.gov.
br/compras/pt-br/fornecedor/midia/sistema-de-registro-de-preos-srp.pdf. Acesso
em: 25 jan. 2023.

TOSHIO, Mukai. Estatutos jurídicos de licitações e contratos administrativos: de


acordo com a Constituição de 1988. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1990.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 38

Você também pode gostar