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* Publicado anteriormente no Observatório da Nova Lei de Licitações, em 9 de dezembro de 2021. Disponível em:
https://www.novaleilicitacao.com.br/2021/12/09/a-lei-de-licitacoes-no-14-133-2021-velhos-atores-para-uma-nova-lei-
afinal-quem-licita-e-quem-fiscaliza-os-contratos/.
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Introdução
A Lei de Licitações nº 14.133/2021 em vigor desde a data da sua publicação
(01.04.2021) traz velhas e novas diretrizes. Com sua chegada revoga imediatamente
os artigos 89 a 108 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, tema referente aos Cri-
mes e Penas, bem como o Processo e o Procedimento Judicial. Nesse compasso,
ficou preconizado que as demais legislações em vigor (Lei nº 8.666; Lei nº 10.520;
e os artigos 1º a 47-A da Lei nº 12.462 – RDC) só serão revogadas após decorridos
2 (dois) anos da publicação oficial da Lei, ou seja a partir de 01.04.2023. Mas, a Lei
nº 14.133/2021 destaca em seu texto novas e velhas regras, dentre as quais estão as
regras relativas às atribuições dos agentes de contratação (comissão de licitação
e pregoeiros); gestores e fiscais.
No tocante ao responsável pelo procedimento licitatório, a lei trouxe nova ter-
minologia, mas trouxe também uma redação bastante truncada, possibilitando
uma grande quantidade de atribuições ao agente da contratação1 que vão desde
a fase de planejamento até a fase externa (homologação), de modo que permite
que uma mesma pessoa possa realizar todos os procedimentos (fase interna e
externa) o que pode trazer algumas dificuldades e conflitos de interesses. Mas, ao
mesmo tempo, a Lei acaba trazendo uma permissão aberta que vai ao encontro
de muitas realidades institucionais pela ausência de servidores específicos para
o desempenho de tantas funções. Do mesmo modo que a Lei nº 8.666/93 o fez, a
nova Lei não se preocupou em definir de forma expressa as atribuições relacio-
nadas aos atos de gestão e fiscalização, como já é conhecido pelas regras da IN/
MPDG/SLTI nº 05/2017.
Assim, verifica-se que para se referir às atribuições dos responsáveis pelo
processo de licitação e contratação, a Lei destacou algumas figuras, estas já pre-
sentes na Lei nº 8.666/93. Assim, são essas: o agente público, o gestor e fiscal
de contratos, o agente de contratação (o pregoeiro e comissão de contratação).
Então, para melhor compreensão das atribuições desses atores, é preciso tam-
bém entender quem é o agente público. A Lei nº 14.133/2021 no artigo 6º, inciso V,
define que este é o “indivíduo que, em virtude de eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, exerce mandato,
1 Lei nº 14.133/2021. Ver: “(...) Art. LX – agente de contratação: pessoa designada pela autoridade competente, entre
servidores efetivos ou empregados públicos dos quadros permanentes da Administração Pública, para tomar
decisões, acompanhar o trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar quaisquer outras
atividades necessárias ao bom andamento do certame até a homologação” (Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm#art6xxia).
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2 Lei nº 8.429/1992. Lei de Improbidade Administrativa. Ver: “(...) Art. 2°. Para os efeitos desta Lei, consideram-se
agente público o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm).
3 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Apontamentos sobre os Agentes Públicos. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1975.
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4 Lei nº 14.133/2021. Ver: “(...) Art. 7º Caberá à autoridade máxima do órgão ou da entidade, ou a quem as normas de
organização administrativa indicarem, promover gestão por competências e designar agentes públicos para o
desempenho das funções essenciais à execução desta Lei que preencham os seguintes requisitos: (...)” (Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm#art6xxia).
5 “Decreto nº 9.991, de 28 de agosto de 2019. Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional, e regulamenta dispositivos da Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990, quanto a licenças e afastamentos para ações de desenvolvimento.”
6 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Manual de Gestão por competências passo a passo: um guia de
implementação. Coordenação: Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores do Poder Judiciário (CEAJUD)
– Brasília: CNJ, 2016.
7 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Manual de Gestão por competências passo a passo: um guia de
implementação. Coordenação: Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores do Poder Judiciário (CEAJUD)
– Brasília: CNJ, 2016, p. 16-17.
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3 O agente de contratação
Considerando a busca pela competência, pelo desenvolvimento e o desem-
penho dos agentes, a Lei traz a necessidade de que esses sejam “preferencial-
mente, servidor efetivo ou empregado público dos quadros permanentes da
Administração Pública” e “tenham atribuições relacionadas a licitações e con-
tratos ou possuam formação compatível” ou ainda, que possuam “qualificação
atestada por certificação profissional emitida por escola de governo criada e
mantida pelo poder público”. Desse modo e tendo como definido no art. 8º que
a licitação será conduzida por um “agente de contratação” tem-se que esse pode
ser responsável pela licitação sozinho ou acompanhado por comissão de contra-
tação.8 Sendo, na realização da modalidade de pregão, denominado pregoeiro.
Em que pese a Lei ter trazido a palavra “preferencialmente” servidor público
ou empregado público para a escolha do agente responsável pelo processo de
licitação, e ainda, trazendo para esse “agente público” uma responsabilidade
complexa, qual seja “tomar decisões, acompanhar o trâmite da licitação, dar
impulso ao procedimento licitatório e executar quaisquer outras atividades ne-
cessárias ao bom andamento do certame até a homologação”, esse trecho da Lei,
parece ser muito ampla e multifacetada, é possível compreender na prática, que
mesmo não sendo a solução mais adequada (tantas responsabilidades para uma
única pessoa, que pode até nem ser servidor/empregado público, muitas vezes é
a única solução possível frete a tantas realidades no Brasil.
8 Lei nº 14.133/2021. Comissão de contratação. Ver: Art. 8º, §2º: “Em licitação que envolva bens ou serviços especiais,
desde que observados os requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei, o agente de contratação poderá ser substituído
por comissão de contratação ar decisões, acompanhar o trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório
e executar formada por, no mínimo, 3 (três) membros, que responderão solidariamente por todos os atos praticados
pela comissão, ressalvado o membro que expressar posição individual divergente fundamentada e registrada
em ata lavrada na reunião em que houver sido tomada a decisão” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm#art7).
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(...)
Dar ciência ao (...) de que a fiscalização de contratos regidos pela Lei 8.666/93
é prerrogativa legal (art. 58, inciso III, e art. 67, da Lei 8.666/93, relevante e
indispensável à boa gestão dos órgãos e entidades públicas, valoriza o gasto
público e contribui para a eficiência e efetividade de ações governamentais, e
que a negligência de fiscais de contrato designados pela Administração atrai
para si a responsabilidade por eventuais danos que poderiam ser evitados,
assim não exime o gestor que designa pessoa inapta a exercer tal encargo
ou não supervisiona aquele que procede de maneira omissa ou improba.
9 nº 14.133/2021. Ver: “Art. 8º A licitação será conduzida por agente de contratação, pessoa designada pela autoridade
competente, entre servidores efetivos ou empregados públicos dos quadros permanentes da Administração Pública,
para tom quaisquer outras atividades necessárias ao bom andamento do certame até a homologação” (Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm#art7).
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Neste contexto, não se tem uma única pessoa para administrar os problemas
da execução contratual, sejam estes de ordem técnica ou administrativa; serão
vários olhos para observar. É claro que esse “Modelo” de Gestão e Fiscalização da
IN/MPDG/SLTI nº 05/2017 não é absoluto, nem poderia ser, pois a Administração
nem sempre detém pessoas para realizar tantas atividades. E que atividades são
essas? A Fiscalização Técnica que tem como objetivo de avaliar a execução do
objeto e a Fiscalização Administrativa que observa os aspectos administrativos
da execução dos serviços nos contratos com regime de dedicação exclusiva de
mão de obra.
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posterior. Porém, é importante ressaltar que modelos são parâmetros, mas não
são exaustivos, são construídos conforme a realidade do objeto. Neste sentido,
Madeline Furtado10 afirma que os modelos de execução dos contratos, gestão e
fiscalização são adaptáveis, modeláveis e até reconstruídos conforme o objeto.
Cada contrato tem seu núcleo, sua formatação, características específicas, com-
posição técnica e jurídica a ser CONSTRUÍDA, e não pode ser apenas “copiada”.
Para que se possa definir um modelo de gestão, faz-se necessário ter defi-
nido o modelo de execução e sobre este definir algumas questões, como:
1. Quais serviços necessitarão de gestor e fiscais e as principais atribuições
da fiscalização técnica e da fiscalização administrativa.
2. Segmentar as etapas de recebimento provisório e definitivo, se for o caso.
3. A metodologia dos recebimentos provisório e definitivo dos serviços, con-
forme a unidade de medida do objeto para fins de liquidação da despesa.
4. Averiguação do valor apresentado na nota fiscal (batimento da descrição)
após prévia avaliação dos serviços.
5. Definir as regras internas de autorização e prazos do processo de paga-
mento conforme cronologia prevista na Lei.
10 FURTADO, Madeline Rocha. O ETP, a gestão e a fiscalização dos contratos na Lei nº 14.133/2021. A Nova Lei de Licitações:
o que vem por aí? Fórum de Contratação e Gestão Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 20, n. 233, p. 81-104, maio 2021.
11 TCU – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Processo TC 014.815.2014-1 do Plenário, de 22/4/2015, sob a relatoria do
ministro-substituto Augusto Sherman Cavalcanti, resultando no Acórdão 916/2015-TCU/Plenário (Disponível em:
www.tcu.gov.br).
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12 TCU – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Processo TC 014.815.2014-1 do Plenário, de 22/4/2015, sob a relatoria do
ministro-substituto Augusto Sherman Cavalcanti, resultando no Acórdão 916/2015-TCU/Plenário (Disponível em:
www.tcu.gov.br).
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Conclusão
Diante de regras antigas e novas, já exaustivamente examinadas, conclui‑se
que a nova Lei de Licitações traz elementos de governança importantes re-
forçando entendimentos sedimentados, por meio de acórdãos do TCU14 que
recomendam dentre outras “manter as habilidades e competências da equipe
–, com vistas a assegurar que detenham a qualificação técnica necessária para
o exercício de suas atividades”; “aperfeiçoar o procedimento de designação de
fiscais e gestores de contratos de TI”. São diversas diretrizes estabelecidas na
Instrução Normativa nº 05/2017 que refletiram direta e indiretamente na Lei
nº 14.133/2021. Destaca-se, em especial, a introdução do tema terceirização com
disponibilização de mão de obra e sua fiscalização conforme já entendido pelo
STF – Supremo Tribunal Federal.
Em que pese o novo marco legal não tenha segmentado as atribuições entre
os principais atores: gestor, fiscal administrativo e fiscal técnico, como o fez a IN
13 Monique Rocha Furtado e James Batista Vieira afirmam: “Sob a perspectiva legal, a NLLC está alinhada aos
compromissos internacionais que o Brasil assumiu junto à Organização das Nações Unidas (por meio da Convenção
das Nações Unidas contra a Corrupção e outros tratados), a Iniciativa pelo Governo Aberto (Open Government
Partnership – OGP) e as orientações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (Organisation
for Economic Co-operation and Development – OECD) que o país pleiteia o ingresso” (Portal Nacional de Contratações
Públicas: uma nova lógica jurídica, gerencial e econômica para a Lei de Licitações e Contratos em 13 de maio de 2021.
Disponível em: http://www.novaleilicitacao.com.br/2021/05/13/portal-nacional-de-contratacoes-publicas-uma-nova-
logica-juridica-gerencial-e-economica-para-a-lei-de-licitacoes-e-contratos/. Acesso em: 18 nov. 2021).
14 TCU – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Acórdão 594/2012 – TCU – Plenário; Acórdão nº 1200/2014 – TCU – Plenário
(Disponível em: www.tcu.gov.br).
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15 TCU – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Gestão Contratual e Recebimento de Serviços. Acórdão nº 1.413/2020 – TCU
– Plenário. “Item 9.2. recomendar (...), com fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, que: (...)
9.2.3. preveja, no modelo de gestão de contrato, quando se tratar da contratação de serviços, a segregação de
atividades de recebimento de serviços de forma que:
9.2.3.1. o recebimento provisório, a cargo do fiscal que acompanha a execução do contrato, fundamente-se no que
foi observado durante o acompanhamento e fiscalização da execução do contrato, consoante previsto no art. 73,
inciso I, alínea “a”, da Lei 8.666/1993;9.2.3.2; o recebimento definitivo, a cargo de outro servidor ou comissão criada
para esse fim, fundamente-se na verificação do trabalho feito pelo fiscal e na verificação de todos os outros aspectos
do contrato que não a execução do objeto propriamente dita, consoante previsto no art. 73, inciso I, alínea “b”, da Lei
8.666/1993” (Disponível em: www.tcu.gov.br).
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