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MODULO 1 • SEMANA 3
PRINCÍPIOS E ELEMENTOS DO
PROCESSO LICITATÓRIO
1. Introdução
A licitação como conhecemos atualmente é o re-
sultado de diversas transformações ocorridas no decorrer
dos séculos, de forma que não podemos apontar um
episódio específico como sendo a sua origem. O que
podemos afirmar, sem dúvida alguma, é que a ideia de
um procedimento realizado pelo Estado para selecionar
os particulares que melhor possam satisfazer o interesse
público não é nada recente. Consoante expõe Edmir Netto ocorridas no procedimento licitatório com o objetivo de
de Araújo, “desde a Antiguidade romana há notícias da conferir maior eficiência às contratações públicas, sendo
existência de regras para disciplinar a alienação de despojos que, em 1967, houve uma sistematização do tema, através
de guerra (vem daí o nome “hasta” pública) e realização do Decreto-Lei nº 200, de 25.02.67 (arts. 125 a 144), o qual
de obras públicas, e mesmo na Idade Média, quando na estabeleceu a reforma administrativa no âmbito federal,
Europa ocidental era conhecido o sistema ‘vela e pregão’, posteriormente estendida às Administrações dos Estados
no qual os construtores faziam suas propostas enquanto e Municípios, por meio da Lei nº 5.456, de 20.06.68.
ardia uma vela, adjudicando-se ao melhor preço quando Outra evolução foi o Decreto-Lei nº 2.300, de 21.11.86,
esta se apagava”. atualizado em 1987, pelos Decretos-Lei 2.348 e 2.360, ins-
No ordenamento jurídico pátrio, pode-se afirmar que tituiu, pela primeira vez, o Estatuto Jurídico das Licitações
as primeiras normas relativas à licitação foram introduzidas e Contratos Administrativos, reunindo normas gerais e
pelo Decreto nº 2.926, de 14.05.1862, o qual regulamentava especiais relacionadas à matéria.
as arrematações dos serviços a cargo do então Ministério A promulgação da Constituição Federal de 1988
da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Após o advento representou um notável progresso na institucionalização
de diversas outras leis que trataram, de forma singela, do e democratização da Administração Pública. Apesar dos
assunto, houve uma primeira tentativa de se consolidar as textos constitucionais anteriores contemplarem dispositivos
normas atinentes ao procedimento licitatório em âmbito relacionados ao acesso à função pública e ao regime do
federal, o que se fez por meio do Código de Contabilidade funcionalismo estatal, a verdadeira constitucionalização
da União, Decreto nº 4.536, de 28.01.22. da Administração Pública somente foi levada a efeito pela
Desde o antigo Código de Contabilidade da União, Carta de 1988. A partir de 1988 a licitação recebeu status
de 1922, foram muitas as transformações e evoluções de princípio constitucional, de observância obrigatória
pela Administração Pública direta e indireta de todos os que propiciará a igualdade entre aqueles que desejam
poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. contratar com a Administração Pública, sob a égide da
Assim, partindo-se da análise do texto constitucional, eficiência e moralidade, e, principalmente, que possa
especialmente do disposto no art. 37, inciso XXI, pode-se atender o interesse público.
concluir que o dever de licitar é princípio constitucional de O doutrinador Hely Lopes Meirelles define licitação
observância obrigatória, que só pode ser afastada diante de como:
casos expressamente previstos no ordenamento jurídico.
O procedimento administrativo mediante
O referido art. 37, XXI da Constituição Federal foi o qual a Administração Pública seleciona a
regulamentado pela Lei 8.666, de 21.06.93, atualmente proposta mais vantajosa para o contrato de
seu interesse. (MEIRELLES, 2011, p. 272)
em vigor, que veio a disciplinar as licitações e contratos
da Administração Pública, assim como outros assuntos Em outras palavras, Celso Antônio Bandeira de Mello
correlatos. Esta Lei estabelece normas gerais sobre licita- afirma ser a licitação:
ções e contratos administrativos pertinentes a todo tipo Um certame que as entidades governamentais
de aquisição realizada pela Administração Pública (BRA- devem promover e no qual abrem disputa
SIL, 2012), sendo a mais importante fonte de informações entre os interessados em com elas travar
determinadas relações de conteúdo
sobre o tema. patrimonial, para escolher a proposta mais
vantajosa às conveniências públicas. Estriba-
1.1. Conceito e Finalidade da Licitação se na ideia de competição, a ser travada
A licitação é o meio pelo qual o Poder Público se- isonomicamente entre os que preencham
os atributos e aptidões necessários ao bom
leciona a proposta mais vantajosa para suas aquisições/
cumprimento das obrigações que se propõem
contratações, através de um procedimento administrativo assumir. (Mello, 2011).
A finalidade da licitação se resume na contratação seleção do licitante que possa melhor satisfazer o interesse
mais vantajosa para a Administração, assegurando aos público (FERNANDES, 2011).
licitantes a igualdade de participação/contratação. (MellO, Por outro lado, muitas vezes isso não é possível,
2011) tanto em razão da escassez de recursos financeiros como
A vantajosidade caracteriza-se pela adequação e devido ao despreparo do servidor público. Não são poucas
satisfação do interesse coletivo por via da execução do as vezes em que é selecionada uma proposta que, em
contrato. Está presente quando a Administração assume o um primeiro momento, parece ser a mais interessante,
dever de realizar a prestação menos onerosa e o particular pelo baixo custo, mas que, posteriormente, gera diversos
obriga-se a realizar a melhor e mais completa prestação. prejuízos ao erário público decorrentes da baixa qualidade
(JUSTEN FILHO, 2012) do produto ou serviço oferecido.
Diante disso, quando se fala em vantajosidade, é Marçal Justen Filho (2012) adverte que não basta
comum logo se remeter à questão econômica. No en- simplesmente afirmar, através de uma expressão vazia e
tanto, a melhor proposta não está atrelada apenas ao sem significado, que será selecionada a proposta mais
valor econômico do bem ou serviço a ser adquirido, mas vantajosa para a Administração. É indispensável identificar,
também à qualidade do produto ou da prestação a ser de modo preciso e concreto, o modo de como a Admi-
realizada pelo particular. nistração reputa que o interesse público será satisfeito.
Por isso, é indispensável indicar com precisão e cla- Portanto, a Administração Pública, quando da elabo-
reza o objeto pretendido pela Administração, pois, assim, ração do edital, deve demonstrar claramente aos licitantes
a avaliação da proposta não será baseada somente no a qualidade do bem ou serviço a ser adquirido, bem como
menor custo, mas também em diversos outros aspectos a a estimativa dos preços a serem praticados, para, dessa
serem previstos no edital, para auxiliar o administrador na forma, não haver propostas que sejam vantajosas eco-
Ressalvados os casos especificados na Os princípios são importantes não por ser a origem
legislação, as obras, serviços, compras e das demais normas, mas porque todas elas serão inter-
alienações serão contratados mediante pretadas e aplicadas à luz deles. Portanto, os princípios
processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes,
permitem que o administrador solucione conflitos não
com cláusulas que estabeleçam obrigações de previstos explicitamente no corpo legislativo.
pagamento, mantidas as condições efetivadas
Todos os princípios apresentam relevante importân-
da proposta, nos termos da lei, o qual somente
cia jurídica; no entanto, somente em face do caso concreto
será possível determinar o peso próprio de cada princípio. Hely Lopes Meirelles (2011, p. 275-276) com proprie-
Sendo assim, o administrador, no decorrer do pro- dade explana que:
cesso licitatório, encontrará soluções através dos princípios, Nem se compreenderia que a Administração
porém respeitando as regras adotadas, visto que aqueles fixasse no edital a forma e o modo de
não se traduzem em solução única dos conflitos. (JUSTEN participação dos licitantes e no decorrer do
procedimento ou na realização do julgamento
FILHO, 2012) se afastasse do estabelecido, ou admitisse
documentação e propostas em desacordo
2.1. Princípio da Vinculação ao com o solicitado. O edital é lei interna da
Instrumento Convocatório licitação, e, como tal vincula aos seus termos
A Administração Pública, segundo este princípio, tanto os licitantes como a Administração que
o expediu.
deve respeitar estritamente as regras que haja previamente
estabelecido para disciplinar o certame. (MELLO, 2011) Portanto, a obrigatoriedade no cumprimento das
regras previstas no Edital de licitação não é somente uma
O artigo 41 da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 2012i) dispõe
norma voltada para a Administração, pois também vincula
que “a Administração não pode descumprir as normas e
todos os licitantes envolvidos. (TRF 5ª Região. 1ª Turma:
condições do edital, ao qual se acha estritamente vincu-
AC nº 18715/PE. Processo nº 9205233412 [BRASIL, 2012m])
lada”.
Embora seja obrigatório o respeito ao que consta no
Certo é que o edital é fundamento de validade dos
Edital de licitação, consoante acima demonstrado, não são
atos praticados no curso da licitação e se resolve pela
poucas as hipóteses em que o interesse público traz como
invalidade destes últimos.
consequência a necessidade de se admitir a realização de
Desta forma, ao descumprir normas constantes no edi- certos atos não previstos no instrumento convocatório.
tal, a Administração frustra a própria razão de ser da licitação. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que
em função de tal princípio, a Administração Pública está Através deste princípio, as propostas ofertadas pelos
vinculada aos termos que ela mesma impôs no instru- licitantes serão analisadas de acordo com o estipulado no
mento convocatório da licitação; no entanto, não se deve instrumento convocatório. Desta forma, a Administração,
exacerbá-lo ao ponto de prejudicar o interesse público. quando da elaboração do edital, deve adotar determina-
dos critérios para o julgamento; do contrário, o edital é
2.2. Princípio do Julgamento Objetivo considerado nulo. (JUSTEN FILHO, 2012)
O princípio do julgamento objetivo está expresso
A ausência de critérios pré-definidos para a seleção
nos artigos 44 e 45 da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 2012i),
da proposta mais vantajosa viola mandamentos básicos
abaixo transcritos:
da impessoalidade, da isonomia e do julgamento objeti-
Art. 44 – No julgamento das propostas, a vo, estampados no art. 37, caput, inciso XXI, da CF/88 e
comissão levará em consideração os critérios artigo 3º da Lei nº 8.666/93 [...]. (TCU: Acórdão nº 549/2006
objetivos definidos no edital ou no convite,
[BRASIL, 2012º])
os quais não devem contrariar as normas e
princípios estabelecidos por esta lei. [...] Marçal Justen Filho (2012) expõe o conceito de
Art. 45 - O julgamento das propostas será objetividade como um somatório entre imparcialidade e
objetivo, devendo a Comissão de licitação finalidade:
ou o responsável pelo convite realizá-lo em
O julgamento objetivo exclui a parcialidade propostas estão interligados, em homenagem aos prin-
(tomada de posição segundo o ponto de cípios constitucionais da isonomia, da impessoalidade e
vista de uma parte). Mas isso é insuficiente.
da moralidade.
Além da imparcialidade, o julgamento tem
de ser formulado à luz dos valores protegidos
pelo Direito (...). Não se admite que, a pretexto 2.3. Princípios Correlatos
de selecionar a melhor proposta, sejam Outros princípios que regem o processo licitatório,
amesquinhadas as garantias e os interesses
porém não explícitos na Lei nº 8.666/93, são os da supre-
dos licitantes e ignorado o disposto no ato
convocatório. macia do interesse público sobre o privado, da adjudica-
ção compulsória, da economicidade, da razoabilidade, da
Portanto, a discricionariedade do administrador
proporcionalidade, da motivação, do sigilo das propostas,
deve ser reduzida e limitada pelas normas do instrumento
da competitividade, do devido processo legal, do controle
convocatório. (MEIRELLES, 2011)
jurisdicional, da segurança jurídica, da ampla defesa, da
Julgar objetivamente uma licitação significa afastar adjudicação compulsória, e todos os demais princípios
a incidência de características subjetivas dos avaliadores administrativos, que devem ser observados antes, durante
e dos avaliados. (FERNANDES, 2009) e mesmo depois de qualquer procedimento licitatório.
Para Jorge Ulisses Jaboby Fernandes (2011), o jul-
gamento objetivo é aferível pela substituição fictícia do
julgador por outro, de tal modo que o procedimento
estará correto se, da substituição feita em tese, resultar o
mesmo julgamento.
Vislumbra-se que os princípios da vinculação ao
instrumento convocatório e do julgamento objetivo das
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para a Reforma Administrativa e dá outras providências. licitações e contratos da Administração Pública e dá outras
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