Você está na página 1de 20

06/07/2022 10:44 Agente de contratação  

|  Blog da Zênite

Buscar

Seções Autores Vídeos Áudios O conteúdo mais relevante sobre licitações e contratos do Brasil

Agente de contratação
NOVA LEI DE LICITAÇÕES
Publicado em 22 de setembro de 2021
por José Anacleto Abduch Santos

COMPARTILHAR

Publicidade

A Lei nº 14.133/21 criou a figura do agente de contratação. Agente de contratação, nos


termos do disposto no art. 6º, LX da nova lei de licitações, é a “pessoa designada pela
autoridade competente, entre servidores efetivos ou empregados públicos dos quadros
permanentes da Administração Pública, para tomar decisões, acompanhar o trâmite da
licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar quaisquer outras atividades
necessárias ao bom andamento do certame até a homologação”.

Trata-se de uma significativa inovação no que diz respeito ao processamento e execução


das atividades instrumentais e decisórias no processo da licitação.

Enquanto que, no plano da Lei nº 8666/93, as licitações são conduzidas e decididas por
uma comissão de licitações, órgão decisório de natureza pluripessoal, as licitações
realizadas com fundamento na Lei nº 14.133/21, em muitos casos, serão conduzidas por
um agente de contratação – órgão decisório de natureza unipessoal – com o auxílio de
uma equipe de apoio.

Trata-se de inovação legislativa impactante no processo da contratação pública, que pode


gerar dúvidas em relação a diversos aspectos jurídicos, tais como:

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 1/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Você também pode gostar 1. Somente servidores efetivos ou empregados


públicos dos quadros permanentes podem ser
NOVA LEI DE LICITAÇÕES designados agente de contratação?
Cartão corporativo:
A regra geral é que somente servidores
forma preferencial de
efetivos podem ser designados para atuar
pagamento de
como agente de contratação. É o que se retira
contratações diretas por
do disposto no art. 6º, LX da Lei nº 14.133/21.
valor
Contudo, a norma contida no art. 7º
NOVA LEI DE LICITAÇÕES estabelece que serão designados para o
Aplica-se a nova Lei nº desempenho das funções essenciais no
14.133/2021 para processo da contratação agentes públicos que
concessões e permissões sejam, preferencialmente, servidores efetivos

de uso de bens públicos? ou empregados públicos.

Qual será o Há uma preferência legal para que a


procedimento a ser designação para exercer a função de agente de
observado? contratação recaia sobre servidores efetivos.
A norma deve ser interpretada à luz dos
princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.

Assim, caso o órgão ou entidade disponha de recursos humanos suficientes, a designação


deve recair sobre servidores efetivos.

Contudo, é de se supor que certos órgãos ou entidades públicas não disponham de


servidores efetivos aptos a exercer a função de agente de contratação.

Neste caso, de modo justificado, a designação pode recair em servidores titulares de


cargo de provimento em comissão. Esta designação, entretanto, não pode recair em
empregados de empresa prestadora de serviços com dedicação exclusiva de mão de obra
(terceirizados).

2. Deve haver designação formal para a função de agente de contratação?

A Lei nº 14.133/21 prevê, expressamente, que a autoridade máxima do órgão ou entidade


designará formalmente agentes públicos para o desempenho das funções essenciais à
execução da licitação e gestão do contrato.

Esta designação se dará pelo instrumento legal ou normativamente previsto, de acordo


com a regulamentação específica de cada órgão ou entidade. Pode se dar por atos como
portarias, resoluções, ou atos equivalentes.

A designação formal tem dupla função: (a) demarcar a competência do agente designado
– competência é o conjunto de atribuições determinado para o agente público, na forma
da Lei. Esta delimitação da competência estabelece o conjunto de deveres e de poderes
enfeixado pelo servidor; e (b) individualizar as condutas para fins de apuração de
responsabilidade – as atribuições previstas formalmente para o agente de contratação
constituem o núcleo essencial para aferir eventual conduta dolosa ou culposa, ou mesmo
de omissão própria, para fins de responsabilização.

A eventual falta de designação formal para atuar como agente de contratação não vicia
de nulidade o processo licitatório, mas pode ensejar responsabilidade pessoal da
autoridade responsável pela contratação. Também não está isento de responsabilização o
agente de contratação que, mesmo sem designação formal, comete irregularidades no
exercício da função, como já deliberou o Tribunal de Contas da União:

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 2/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

A ausência de designação formal não obsta a responsabilização do agente que tenha


praticado atos concernentes à função de fiscal de contrato, como o atesto de notas fiscais
(Acórdão 12489/2019-TCU-Segunda Câmara).

3. O que significa a promoção de gestão por competências para fins de designar o agente de
contratação?

A Lei determina que a escolha de servidor para titularizar a função de agente de


contratação deve ocorrer pelo sistema de gestão por competências. Esta determinação
implica que a escolha não pode ser aleatória, fortuita ou arbitrária.

Gestão por competências, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça, é a “gestão da


capacitação orientada para o desenvolvimento do conjunto de conhecimentos,
habilidades e atitudes necessárias ao desempenho das funções dos servidores, visando
ao alcance dos objetivos da instituição”.[1]

Ainda de acordo com o Conselho Nacional de Justiça, a adoção da gestão por


competências:

…como modelo de capacitação pode gerar inúmeros benefícios para o setor público.
Para os servidores, por exemplo, promove a melhoria dos programas de capacitação,
de seleção interna, de alocação de pessoas, de movimentação e de avaliação. Pode
contribuir, também, para a adequação das atividades exercidas pelo servidor às suas
competências e para o aumento da motivação intrínseca, promovendo resultados
organizacionais mais efetivos. Para o Poder Judiciário, de forma geral, a
implementação da gestão por competências afeta diretamente a eficácia, eficiência e
efetividade dos serviços prestados pelos órgãos que estão sob sua égide. Uma vez
identificadas as competências necessárias à organização, o órgão poderá utilizá-las
no processo seletivo externo (concurso público) e desenvolvê-las de forma mais
apropriada aos objetivos estratégicos. Ao final do processo, pode-se gerar melhorias
na qualidade e na celeridade de seus serviços e, consequentemente, adequação e uso
mais eficiente dos recursos utilizados pela organização.[2]

A gestão por competências envolve avaliação de conhecimentos, habilidades e atitudes


dos agentes públicos. Confira-se o contido na apostila “Gestão por Competências”
editada pela Escola Nacional de Administração Pública:

De acordo com Durand (2000), conhecimento corresponde a uma série de


informações assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, que lhe permitem “entender o
mundo”. Refere-se ao saber que a pessoa acumulou ao longo da vida. Davenport e
Prusak (1998) e Davis e Botkin (1994) explicam que o conhecimento deriva da
informação, que, por sua vez, deriva de conjuntos de dados. Segundo esses autores,
dados são séries de fatos ou eventos isolados; informações são dados que, percebidos
pelo indivíduo, têm significado e relevância; e conhecimentos são conjuntos de
informações reconhecidas e integradas pelo indivíduo dentro de um esquema pré-
existente, causando impacto sobre seu julgamento ou comportamento. Essa
dimensão, para Bloom et al. (1979) e Gagné et al. (1988), representa algo
relacionado à lembrança de ideias ou fenômenos, alguma coisa armazenada na
memória da pessoa.

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 3/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

A habilidade, por sua vez, está relacionada ao saber como fazer algo (Gagné et al.,
1988) ou à capacidade de fazer uso produtivo do conhecimento, ou seja, de
instaurar conhecimentos e utilizá-los em uma ação (Durand, 2000). Segundo Bloom
et al. (1979), uma definição operacional comum sobre habilidade é a de que o
indivíduo pode buscar em suas experiências anteriores conhecimentos, sejam eles de
fatos ou princípios, e técnicas apropriadas, para examinar e solucionar um problema
qualquer. As habilidades podem ser classificadas como intelectuais, quando
abrangerem essencialmente processos mentais de organização e reorganização de
informações – por exemplo, em uma conversação ou na realização de uma operação
matemática – e como motoras ou manipulativas, quando exigirem
fundamentalmente uma coordenação neuromuscular, como na realização de um
desenho ou na escrita a lápis, por exemplo (Bloom et al., 1979; Gagné et al., 1988).

Ao abordar as duas primeiras dimensões da competência (conhecimentos e


habilidades), Durand (2000) utiliza a estrutura de análise do conhecimento sugerida
por Sanchez (1997), explicando que habilidade refere-se ao saber como fazer algo
dentro de um determinado processo (know-how), enquanto conhecimento diz
respeito ao saber o que e por que fazer (know-what e know-why), ou seja, à
compreensão do princípio teórico que rege esse processo e seu propósito. Finalmente,
a atitude, terceira dimensão da competência, refere-se a aspectos sociais e afetivos
relacionados ao trabalho (Durand, 2000). Gagné et al. (1988) comentam que
atitudes são estados complexos do ser humano que afetam o seu comportamento em
relação a pessoas, coisas e eventos, determinando a escolha de um curso de ação
pessoal. Segundo esses autores, as pessoas têm preferências por alguns tipos de
atividades e mostram interesse por certos eventos mais que por outros. O efeito da
atitude é justamente ampliar a reação positiva ou negativa de uma pessoa, ou seja,
sua predisposição, em relação à adoção de uma ação específica. Essa última
dimensão está relacionada a um sentimento, uma emoção ou um grau de aceitação
ou rejeição da pessoa em relação aos outros, a objetos ou a situações. Portanto, por
analogia, atitude refere-se ao querer fazer.

(https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2522/1/Gcomp%20-
%20ApostilaCE.pdf)

Assim, nos termos da Lei, constitui um dever jurídico da autoridade competente,


promover a gestão por competências quando da escolha dos agentes de contratação. O
descumprimento deste dever jurídico pode ensejar erro grosseiro de que trata a Lei nº
13.655/18 e a responsabilização pessoal do gestor.

4. Além de, preferencialmente serem servidores efetivos, quais requisitos devem ser
preenchidos para a designação de agente de contratação?

Além de ser, preferencialmente servidor efetivo, o agente público deverá, para ser
designado agente de contratação:

(a) ter atribuições relacionadas a licitações e contratos: este requisito envolve a


experiência profissional, adquirida ao longo do tempo em atividades no processo da
contratação pública. Deverá, nesta medida, ser considerado o histórico funcional do
servidor, para aproveitamento dos conhecimentos empíricos adquiridos no exercício das
funções, ou

(b) possuir formação compatível com as atividades: ao agente de contratação compete


“tomar decisões, acompanhar o trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento
licitatório e executar quaisquer outras atividades necessárias ao bom andamento do

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 4/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

certame até a homologação”. A formação do servidor deverá ser compatível com estas
atividades, ou;

(c) ser detentor de qualificação atestada por certificação profissional emitida por escola
de governo criada e mantida pelo poder público. Para tanto o servidor deverá atender a
cursos de formação específica, prestada por escola de governo ou por organização
acreditada por escola de governo.

5. Relações de parentesco ou certas relações jurídicas com licitantes habituais podem


constituir impedimento para ser designado como agente de contratação?

A lei prevê que não podem ser designados como agente de contratação os servidores que
sejam cônjuge ou companheiro de licitantes ou contratados habituais da Administração,
ou que tenham com eles vínculo de parentesco, colateral ou por afinidade, até o terceiro
grau, ou de natureza técnica, comercial, econômica, financeira, trabalhista e civil.

Por primeiro, parece evidente que está em consideração para tanto, o licitante ou
contratado habitual da Administração à qual está vinculado o agente público que será
designado para atuar como agente de contratação. Não há qualquer óbice a uma
designação para atuar como agente de contratação em licitações nas quais participem
licitantes ou contratados que sejam habituais em outros órgãos ou entidades públicas, e
não o sejam perante a Administração promotora do certame.

Não é, de fato, uma vedação à designação para assumir a função de agente de


contratação, mas uma situação de impedimento para participar de uma ou algumas
determinadas e específicas licitações ou contratações das quais seja partícipe o licitante
habitual com o qual existam as relações jurídicas apontadas na lei.

A Lei não indica o conceito de licitante ou contratado habitual. Nem a frequência de


participação em licitações para ser considerado um licitante habitual.

Assim, por cautela, se deve interpretar a norma como uma vedação do agente de
contratação para conduzir certames licitatórios ou participar de processo de contratação
direta dos quais sejam partícipes as pessoas com quem tenha relações de parentesco ou
aquelas relações jurídicas previstas na lei.

Não pode atuar como agente de contratação, nos termos da Lei, o servidor que tenha
vínculo de parentesco até o terceiro grau com licitante ou contratado habitual no órgão
ou entidade.

São parentes em linha reta, até o terceiro grau, os pais, os avós e bisavós, bem como os
filhos, netos ou bisnetos. Em termos de relação de parentesco colateral, os irmãos, tios e
sobrinhos. Os parentes por afinidade são os parentes do cônjuge.

O servidor público, para ser designado agente de contratação, também não pode manter
relações jurídicas de natureza técnica, comercial, econômica, financeira, trabalhista e civil
com licitantes ou contratados habituais.

Em concreto, a aferição das relações de parentesco ou jurídicas será bastante difícil e


complexa.  De qualquer sorte, é preciso avaliar, a cada processo de contratação, a
potencialidade de participação dos denominados licitantes habituais para orientar a
designação do agente de contratação. Caso se verifique tal incompatibilidade no curso do
processo da contratação pública, o agente de contratação que esteja incurso nas
situações de impedimento deve ser substituído.

6. A designação do agente de contratação deve atender a segregação de funções?

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 5/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Segregação de funções é um princípio vinculado ao controle da Administração Pública.


Implica a separação de certas funções administrativas, evitando que sejam exercidas por
um mesmo servidor público, como as funções de autorização, aprovação, execução,
controle e contabilização, por exemplo. No plano das contratações públicas é
fundamental, assim, que as atividades de execução e de fiscalização, por exemplo, sejam
exercidas por pessoas diferentes, de modo que possa haver o controle subsequente, por
pessoa diferente daquela que exerceu a atividade antecedente.

Nos termos da Lei nº 14.133/21, é “vedada a designação do mesmo agente público para
atuação simultânea em funções mais suscetíveis a riscos, de modo a reduzir a
possibilidade de ocultação de erros e de ocorrência de fraudes na respectiva
contratação” (art. 7º, § 1º).

Nesta medida, o agente de contratações não pode exercer outras atividades no processo
da contratação que exijam, para preservar o controle, esta separação ou segregação.

Confira-se a posição do Tribunal de Contas da União acerca de atividades que não podem
ser acumuladas pelo servidor que conduz a licitação:

A participação de servidor na fase interna do pregão eletrônico (como integrante da


equipe de planejamento) e na condução da licitação (como pregoeiro ou membro da
equipe de apoio) viola os princípios da moralidade e da segregação de funções. (Acórdão
1278/2020-TCU-Primeira Câmara)

É vedado o exercício, por uma mesma pessoa, das atribuições de pregoeiro e de fiscal do
contrato celebrado, por atentar contra o princípio da segregação das funções. (Acórdão
1375/2015-TCU-Plenário)

Não viola, contudo, a segregação de funções, a colaboração do agente de contratação


com o planejamento da licitação, ofertando informações relevantes que possam ampliar a
eficiência do processo licitatório.

7. O agente de contratação pode também ser designado, simultaneamente, como pregoeiro


ou membro de comissão de contratação?

Tem mesma natureza jurídica as atribuições de agente de contratação, pregoeiro ou


membro de comissão de contratação. São todas atribuições marcadas pela competência
para a condução e para a decisão de certames licitatórios.

Desta feita, não viola a segregação a acumulação de funções de pregoeiro, agente de


contratação ou membro de comissão de contratação.

O fundamental, apenas, é que o servidor detenha a capacidade técnica específica para


atuar em cada modalidade específica de licitação, nos termos do contido no art. 7º da Lei
nº 14.133/21.

8. Todas as licitações realizadas com base na Lei nº 14.133/21 deverão ser conduzidas por
agente de contratação?

 O art. 8 da Lei estabelece que “a licitação será conduzida por agente de contratação…”.
Esta disposição normativa implica que, como regra, as licitações deverão ser conduzidas
por agente de contratação, e não por uma comissão de contratação.

Sistemática bem diferente daquela prevista na Lei nº 8666/93, que estabelece que as
licitações serão conduzidas por uma comissão de licitações.

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 6/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

9. Quais modalidades de licitação serão conduzidas pelo agente de contratação?

A nova lei de licitações prevê cinco modalidades de licitação: pregão, concorrência,


concurso, leilão e diálogo competitivo.

O pregão é modalidade de licitação obrigatória para aquisição de bens e serviços comuns,


cujo critério de julgamento poderá ser o de menor preço ou o de maior desconto (art. 6º,
XLI).

Concurso é modalidade de licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou


artístico, cujo critério de julgamento será o de melhor técnica ou conteúdo artístico, e
para concessão de prêmio ou remuneração ao vencedor (art. 6º, XXXIX).

Diálogo competitivo é modalidade de licitação para contratação de obras, serviços e


compras em que a Administração Pública realiza diálogos com licitantes previamente
selecionados mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma ou mais
alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar
proposta final após o encerramento dos diálogos (art. 6º, XLII).

Leilão é modalidade de licitação para alienação de bens imóveis ou de bens móveis


inservíveis ou legalmente apreendidos a quem oferecer o maior lance (art. 6º, XL).

Concorrência é modalidade de licitação para contratação de bens e serviços especiais e


de obras e serviços comuns e especiais de engenharia, cujo critério de julgamento poderá
ser: a) menor preço; b) melhor técnica ou conteúdo artístico; c) técnica e preço; d) maior
retorno econômico; e) maior desconto (art. 6º, XXXVIII).

Perceba-se, das definições legais, que as licitações rotineiras da Administração Pública


serão veiculadas por pregão ou por concorrência, uma vez que o leilão, o concurso ou o
diálogo competitivo são modalidades destinadas a específicos e não usuais objetos
contratuais.

A licitação veiculada na modalidade de pregão será conduzida por pregoeiro.

O agente de contratação será responsável por conduzir: a) licitações veiculadas por


leilão, quando for designado para tal; b) licitações veiculadas por concurso – porque
adotará o critério de julgamento de melhor técnica ou conteúdo artístico, será auxiliado
por banca julgadora técnica (art. 37); c) licitações veiculadas por concorrência.

10. O agente de contratação pode ser substituído por uma comissão de contratação?

 Comissão de contratação é o “conjunto de agentes públicos indicados pela


Administração, em caráter permanente ou especial, com a função de receber, examinar e
julgar documentos relativos às licitações e aos procedimentos auxiliares (art. 6º, L).

Como visto, há uma regra geral que determina que as licitações serão conduzidas pelo
agente de contratação. Mas há situações em que o agente de contratação pode ser
substituído por uma comissão de contratação.

Tal se dará no caso de licitação que envolva obras, bens ou serviços especiais. Nesta
hipótese, desde que observados os requisitos estabelecidos no art. 7º da Lei, o agente de
contratação poderá ser substituído por comissão de contratação formada por, no mínimo,
3 (três) membros.

Bens e serviços especiais são aqueles que, por sua alta heterogeneidade ou
complexidade, não podem ser descritos objetivamente no instrumento convocatório por
meio de especificações usuais de mercado (art. 6º, XIV).

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 7/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Obras especiais são aquelas que não são objetivamente padronizáveis em termos de
desempenho e qualidade, mas que implicam intervenção no meio ambiente por meio de
um conjunto harmônico de ações que, agregadas, formam um todo que inova o espaço
físico da natureza ou acarreta alteração substancial das características originais de bem
imóvel.

A licitação destinada à contratação de obras, bens ou serviços especiais poderá ser


conduzida por uma comissão de contratação, em substituição do agente de contratação.
Trata-se de uma decisão no âmbito da competência discricionária da Administração
Pública, mediante avaliação de conveniência e oportunidade a ser efetivada em face da
complexidade técnica do processo licitatório.

11. Quais as atribuições do agente de contratação no processo licitatório?

O agente de contratação, no processo da contratação, é responsável por acompanhar o


trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar quaisquer outras
atividades necessárias ao bom andamento do certame até a homologação.

As atribuições do agente de contratação, nesta medida, são legalmente fixadas e dizem


respeito fase externa do processo, vale dizer, aquela que inicia com a publicação do aviso
de licitação e se conclui com a homologação do certame.

Inobstante, não há vedação legal para que o agente de contratações colabore para a
formação do processo na fase de planejamento. Tal não implica admitir que este agente
detém deveres jurídicos na fase preparatória, mas que pode contribuir com informações
relevantes para aprimorar o certame licitatório.

Sob o prisma objetivo, caberá ao agente de contratação: I – conduzir a sessão pública; II –


receber, examinar e decidir as impugnações e os pedidos de esclarecimentos ao edital e
aos anexos, além de poder requisitar subsídios formais aos responsáveis pela elaboração
desses documentos; III – verificar a conformidade da proposta em relação aos requisitos
estabelecidos no edital; IV – coordenar a sessão pública e o envio de lances; V – verificar
e julgar as condições de habilitação; VI – sanear erros ou falhas que não alterem a
substância das propostas, dos documentos de habilitação e sua validade jurídica; VII –
receber, examinar e decidir os recursos e encaminhá-los à autoridade competente
quando mantiver sua decisão; VIII – indicar o vencedor do certame; IX –  conduzir os
trabalhos da equipe de apoio; e X – encaminhar o processo devidamente instruído à
autoridade competente e propor a adjudicação e homologação.

12. O agente de contratação deve assinar o instrumento convocatório?

O instrumento convocatório é um ato administrativo normativo, que deve ser assinado


pela autoridade responsável pela contratação, ou pelo órgão ou entidade pública.

Este ato normativo não admite delegação, nos termos do disposto no art. 13 da Lei nº
9784/99:

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:

I – a edição de atos de caráter normativo;

Afirmar que o agente de contratação não deve assinar o instrumento convocatório não
significa dizer que não pode elaborar o documento, ou participar de sua elaboração.

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 8/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

13. O servidor designado para ser agente de contratações também pode ser designado para
ser pregoeiro?

O pregoeiro é responsável pela condução de licitações veiculadas pela modalidade de


pregão. De modo genérico, a lei especifica, no art. 7º, os requisitos, vedações e
impedimentos para ser designado para as funções essenciais ao processo licitatório e de
contratação pública.

Não há vedação legal para que o mesmo servidor público seja designado para atuar como
agente de contratação e como pregoeiro.

Tais atribuições serão exercidas em processos licitatórios distintos, logo, a atuação em um


processo não terá nenhuma relação ou repercussão jurídica em outro. Assim, não há que
se cogitar de violação da segregação de funções.

O fundamental é que o servidor que seja designado para cumular atribuições de agente
de contratação e de pregoeiro detenha a necessária capacidade técnica.

O acúmulo pode levar a uma carga excessiva de atribuições, o que pode ensejar violação
do princípio da eficiência, aspecto que deve ser levado em conta pela autoridade
responsável pela designação.

Registre-se que o Tribunal de Contas da União já imputou responsabilidade a gestor que


designou para atuar em processo de contratação pública um servidor que não tinha
tempo – diante das inúmeras atribuições que acumulava -, e não contava com recursos
materiais suficientes:

Diante da gravidade das irregularidades acima citadas, entendo que suas contas
devem ser julgadas irregulares. Aduzo ter ficado patente que o responsável atuou
com imprudência e negligência, existindo um nexo de causalidade entre a sua
conduta e o dano sofrido pelo erário. Afinal, ele participou da aprovação de projetos
inadequados, cuja execução foi cometida a uma entidade contratada com dispensa
de licitação indevida, tendo sido esse último ato ratificado pelo responsável.
Posteriormente, designou como executor técnico um servidor que não dispunha de
tempo suficiente para bem desempenhar suas funções e não disponibilizou os
recursos materiais e humanos necessários ao exercício eficaz das atribuições
cometidas a esse servidor. Ressalto que o executor técnico desempenhava um papel
de vital importância para o sucesso do PEQ, pois respondia pela fiscalização das
atividades de treinamento. Assim sendo, se ele tivesse executado adequadamente
suas atribuições, os pagamentos indevidos poderiam ter sido evitados ou, na pior das
hipóteses, minimizados (Acórdão nº 468/2007),

14. O agente de contratação tem especial dever de realizar diligências e propiciar


oportunidade de corrigir vícios sanáveis no processo da licitação?

A Lei nº 14.133/21 tem preceitos legais determinando que a Administração Pública,


quando possível, realize o saneamento de vícios em propostas e em documentação de
habilitação nas licitações.

Determina que somente serão desclassificadas propostas que contenham vícios


insanáveis (art. 59). Tal implica que os vícios sanáveis devem ser relevados e conferida a
oportunidade para a correção por parte dos licitantes.

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 9/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Por seu turno, o art. 147 fixa que “constatada irregularidade no procedimento licitatório
ou na execução contratual, caso não seja possível o saneamento, a decisão sobre a
suspensão da execução ou sobre a declaração de nulidade do contrato somente será
adotada na hipótese em que se revelar medida de interesse público”.

Por fim, atente-se para o disposto no art. 169, § 3º, I: “os integrantes das linhas de defesa a
que se referem os incisos I, II e III do caput deste artigo observarão o seguinte:

I – quando constatarem simples impropriedade formal, adotarão medidas para o seu


saneamento e para a mitigação de riscos de sua nova ocorrência, preferencialmente com
o aperfeiçoamento dos controles preventivos e com a capacitação dos agentes públicos
responsáveis”.

Há, a toda vista, o dever jurídico de somente desclassificar propostas ou inabilitar


licitantes, em razão de vícios insanáveis. Desta feita, compete ao agente de contratação,
quando se deparar com um vício de proposta ou de documentação de habilitação a) aferir
se o vício é sanável ou insanável; b) caso seja sanável, promover os atos necessários,
inclusive realizando diligências ou vistorias, para o aproveitamento das propostas ou
documentos de habilitação.

A autorização expressa para o saneamento de vícios está prevista na norma contida no


art. 64, § 1º, que preceitua que “na análise dos documentos de habilitação, a comissão de
licitação poderá sanar erros ou falhas que não alterem a substância dos documentos e
sua validade jurídica, mediante despacho fundamentado registrado e acessível a todos,
atribuindo-lhes eficácia para fins de habilitação e classificação” – embora a lei faça, por
equívoco do legislador, referência a uma “comissão de licitação” se deduz, por
interpretação sistemática, que está a referir a comissão de contratação e ao agente de
contratação.

Há uma lógica que atende a proporcionalidade, a razoabilidade, a competitividade e a


eficiência nesta diretriz legal que aponta para o saneamento de vícios: o aproveitamento
de propostas e de licitantes no processo enseja a potencialidade de obter propostas mais
vantajosas para o atendimento do interesse público.

Nesta medida, é dedutível da lei a existência de uma fase obrigatória de saneamento


quando da análise das propostas comerciais, e uma outra fase de saneamento quando da
análise dos documentos de habilitação.

15. O agente de contratação pode admitir a juntada de documentos novos no processo da


licitação?

Como antes dito, há um dever jurídico de saneamento de vícios para o aproveitamento de


propostas e correção de documentos de habilitação.

Para possibilitar o cumprimento pleno deste dever jurídico, a nova lei de licitações
autoriza, em certos casos, inclusive a juntada de documentos novos – vale dizer,
documentos que deixaram de ser juntados pelos licitantes no tempo oportuno, de acordo
com as regras do instrumento convocatório:

Art. 64. Após a entrega dos documentos para habilitação, não será permitida a
substituição ou a apresentação de novos documentos, salvo em sede de diligência,
para:

I – complementação de informações acerca dos documentos já apresentados pelos


licitantes e desde que necessária para apurar fatos existentes à época da abertura do
certame;
https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 10/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

II – atualização de documentos cuja validade tenha expirado após a data de


recebimento das propostas.

Perceba-se que a Lei autoriza a juntada de novos documentos para atualizar aqueles que,
já juntados, perderam a validade no curso do processo licitatório. Mas também autoriza a
juntada de novos documentos relacionados a fatos já existentes à época da abertura da
licitação. Por exemplo: caso uma empresa tenha deixado de juntar oportunamente um
atestado de capacidade técnica, que apontava um acervo que já existia quando da
abertura da licitação, poderá apresentar o documento em sede de diligência provocada
pelo agente de contratação.

O Tribunal de Contas da União já deliberou que podem ser juntados documentos novos,
que, por equívoco do licitante, não foram apresentados no tempo oportuno, de acordo
com a regra do instrumento convocatório:

A vedação à inclusão de novo documento, prevista no art. 43, § 3º, da Lei


8.666/1993 e no art. 64 da Lei 14.133/2021 (nova Lei de Licitações) , não alcança
documento ausente, comprobatório de condição atendida pelo licitante quando
apresentou sua proposta, que não foi juntado com os demais comprovantes de
habilitação e da proposta, por equívoco ou falha, o qual deverá ser solicitado e
avaliado pelo pregoeiro (Acórdão 1211/2021-TCU-Plenário).

16. O agente de contratação deve deter conhecimentos, habilidades e aptidões para a


negociação?

O art. 61 da Lei nº 14.133/21 prevê que “definido o resultado do julgamento, a


Administração poderá negociar condições mais vantajosas com o primeiro colocado”.

À semelhança do que ocorre com o pregão, fundado na Lei nº 10.520/02, é autorizada a


negociação com o licitante classificado em primeiro lugar no certame. Esta negociação
objetiva (i) a redução do preço que tenha ficado acima do valor do orçamento estimativo,
(ii) tentar obter preço ainda mais vantajoso, ou ainda, (iii) obter alguma vantagem
adicional para a Administração, como por exemplo, em relação a prazo de execução ou
qualidade do objeto ofertado.

A negociação será conduzida pelo agente de contratação ou pela comissão de


contratação.

É bastante importante que existam normas internas para orientar esta negociação e
definir os limites e possibilidades de atuação dos agentes públicos encarregados dela.

Qualquer negociação será tanto mais proveitosa e frutífera, quanto mais capacitados e
preparados forem os negociadores. Há técnicas específicas para a instauração e para a
condução de processos de negociação, que devem ser conhecidas pelos agentes de
contratação.

A plena capacitação dos agentes de contratação para a negociação é um dever jurídico da


autoridade responsável pelo processo licitatório.

17. O agente de contratação pode integrar ou presidir comissão de contratação?


https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 11/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Não há vedação legal para que o agente de contratação seja também designado para
presidir ou integrar uma comissão de contratação. Sob o prisma da eficiência, é mesmo
recomendável que a experiência acumulada pelo agente de contratação seja aproveitada
com atribuições no plano da competência da comissão de contratação.

As atribuições do agente de contratação e da comissão de contratação são


fundamentalmente idênticas, apenas se dão em processos licitatórios de natureza
diversa. É apenas a complexidade inerente ao objeto – licitação de obras, bens ou
serviços especiais – que autoriza a condução do certame por comissão de contratação, e
não a diversidade estrutural de atribuições.

Não há que se cogitar, portanto, de violação de segregação de funções ou de violação de


qualquer norma ou princípio jurídico quando o agente de contratação integra ou preside
comissão de contratação.

18. O agente de contratação pode conduzir o processo para apuração de responsabilidade por
infração cometida na licitação, ou integrar a comissão processante?

A Lei nº 14.133/21 prevê que a aplicação de sanção de multa pelo cometimento de


infração no processo licitatório ou no curso da execução do contrato se dará após ser
facultada a defesa pelo interessado no prazo de 15 dias úteis (art. 157). Para a apuração
de responsabilidade por cometimento de infração que possa ensejar a aplicação de multa,
não é preciso instaurar processo administrativo conduzido por comissão processante.

Já para a  apuração de responsabilidade por infração que possa ensejar as sanções de


impedimento de licitar e contratar ou de declaração de inidoneidade é necessária a
instauração de processo de responsabilização, a ser conduzido por comissão composta de
2 (dois) ou mais servidores estáveis, que avaliará fatos e circunstâncias conhecidos e
intimará o licitante ou o contratado para, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da
data de intimação, apresentar defesa escrita e especificar as provas que pretenda
produzir (art. 158).

O agente de contratação não pode ser designado para atuar nestes processos destinados
à apuração de responsabilidade.

Primeiro porque pode haver violação da segregação de funções.

O princípio da segregação de funções, como dito, é princípio de controle. A apuração de


responsabilidade por infração no processo licitatório pode incluir a avaliação da conduta
dos agentes públicos que conduziram o certame. Ou seja, os servidores encarregados de
apuração de responsabilidade no processo licitatório podem avaliar, inclusive, a atuação
dos agentes de contratação ou de membros de comissão de contratação.

Portanto, ao menos em tese, a atuação do agente de contratação na condução de


processo de apuração de responsabilidade ou integrando comissão processante pode
violar a segregação de funções.

Em segundo lugar, porque pode restar violado o princípio do juiz natural.

O princípio do juiz natural tem natureza constitucional – art. 5º, incisos XXXVII e LIII da
Constituição[3]. É fundamental para a plena realização do devido processo legal. Implica
que o órgão julgador – unipessoal ou colegiado – deverá deter competência para decidir,
e atuar com imparcialidade.

A imparcialidade é elemento indispensável para a validade dos atos decisórios no plano


da apuração da responsabilidade. Neste viés, tem-se que o agente de contratação, em
razão de sua competência, tem potencial contato direto e imediato com infrações
produzidas no processo da licitação. Ou pode, também em razão de suas atribuições

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 12/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

funcionais, ter avaliações ou percepções pré-concebidas, ou maculadas por preconceitos


decorrentes da história de sua atuação administrativa. Estas concepções ou percepções
pré-concebidas, ou mesmo certos preconceitos, podem influir no julgamento do processo
de apuração de responsabilidade, violando a imparcialidade.

Desta feita, o agente de contratação não pode conduzir processo ou integrar comissão
processante para apuração de responsabilidade por infração cometida no certame
licitatório.

19. O agente de contratação tem atribuições de controle interno? O que significa dizer que o
agente de contratação integra a primeira linha de defesa contra riscos de erros, ilegalidades
ou atos desonestos?

Controle é “a atribuição de vigilância, orientação e correção de certo órgão ou agente


público sobre a atuação de outro, ou de sua própria atuação, visando confirma-la ou
desfaze-la conforme seja ou não legal, conveniente, oportuna e eficiente”[4].

O agente de contratação detém também atribuições de controle interno. É o que se pode


inferir do disposto no art. 169 da Lei nº 14.133/21:

Art. 169. As contratações públicas deverão submeter-se a práticas contínuas e


permanentes de gestão de riscos e de controle preventivo, inclusive mediante adoção
de recursos de tecnologia da informação, e, além de estar subordinadas ao controle
social, sujeitar-se-ão às seguintes linhas de defesa:

I – primeira linha de defesa, integrada por servidores e empregados públicos, agentes


de licitação e autoridades que atuam na estrutura de governança do órgão ou
entidade;

§ 3º Os integrantes das linhas de defesa a que se referem os incisos I, II e III do caput


deste artigo observarão o seguinte:

I – quando constatarem simples impropriedade formal, adotarão medidas para o seu


saneamento e para a mitigação de riscos de sua nova ocorrência, preferencialmente
com o aperfeiçoamento dos controles preventivos e com a capacitação dos agentes
públicos responsáveis;

II – quando constatarem irregularidade que configure dano à Administração, sem


prejuízo das medidas previstas no inciso I deste § 3º, adotarão as providências
necessárias para a apuração das infrações administrativas, observadas a segregação
de funções e a necessidade de individualização das condutas, bem como remeterão
ao Ministério Público competente cópias dos documentos cabíveis para a apuração
dos ilícitos de sua competência.

O agente de contratação integra, na forma da Lei, a primeira linha de defesa.

O modelo das três linhas de defesa é ferramenta de gestão que foi adotada pelo “The
Institute of Internal Auditors” na Declaração de Posicionamento “As o “As Três Linhas de
Defesa no Gerenciamento Eficaz de Riscos e Controles”, publicada em 2013[5]. Sobre o
modelo confira-se:

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 13/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

As organizações são empreendimentos humanos, operando em um mundo cada vez


mais incerto, complexo, interconectado e volátil. Geralmente, elas têm vários
stakeholders com interesses diversos, mutáveis e, às vezes, concorrentes. Os
stakeholders confiam a supervisão organizacional a um corpo administrativo, que,
por sua vez, delega recursos e autoridade à gestão para tomar as ações apropriadas,
incluindo o gerenciamento de riscos. Por esses e outros motivos, as organizações
precisam de estruturas e processos eficazes para permitir o atingimento dos
objetivos, ao mesmo tempo em que apoiam uma forte governança e gerenciamento
de riscos. Como o corpo administrativo recebe relatórios da gestão sobre atividades,
resultados e previsões, o corpo administrativo e a gestão confiam na auditoria
interna para prestar avaliação objetiva e independente e aconselhar sobre todos os
assuntos, além de promover e facilitar a inovação e a melhoria. O corpo
administrativo é responsável, em última instância, pela governança, que é alcançada
por meio das ações e comportamentos do corpo administrativo, bem como da gestão
e da auditoria interna. O Modelo de Três Linhas ajuda as organizações a identificar
estruturas e processos que melhor auxiliam no atingimento dos objetivos e facilitam
uma forte governança e gerenciamento de riscos. O modelo é aplicável a todas as
organizações e é otimizado por:

Adotar uma abordagem baseada em princípios e adaptar o modelo para atender


aos objetivos e circunstâncias organizacionais.

Focar na contribuição que o gerenciamento de riscos oferece para atingir


objetivos e criar valor, bem como questões de “defesa” e proteção de valor.

Compreender claramente os papéis e responsabilidades representados no modelo


e os

relacionamentos entre eles.

Implantar medidas para garantir que as atividades e os objetivos estejam


alinhados com os interesses priorizados dos stakeholders.[6]

O Tribunal de Contas da União, no manual denominado “Gestão de Riscos – Avaliação da


Maturidade” aponta, de modo didático, as características do modelo:

A abordagem das Três Linhas de Defesa, embora não seja um modelo de gestão de
riscos, é uma forma simples e eficaz para melhorar a comunicação e a
conscientização sobre os papéis e as responsabilidades essenciais de gerenciamento
de riscos e controles, aplicável a qualquer organização – não importando o seu
tamanho ou a sua complexidade – ainda que não exista uma estrutura ou sistema
formal de gestão de riscos. Por essa abordagem, há três linhas de defesa, ou grupos
de responsáveis envolvidos com o gerenciamento de riscos, como explanado a seguir:
 Funções que gerenciam e têm propriedade de riscos: a gestão operacional e os
procedimentos diários de controles constituem a primeira linha de defesa no
gerenciamento de riscos. A gestão operacional serve naturalmente como a primeira
linha de defesa, porque os controles são desenvolvidos como sistemas e processos
sob sua orientação e responsabilidade. É nesse nível que se identificam, avaliam e
controlam riscos, guiando o desenvolvimento e a implementação de políticas e
procedimentos internos e garantindo que as atividades estejam de acordo com as
metas e objetivos.  Funções que supervisionam riscos: a segunda linha defesa é
constituída por funções estabelecidas para garantir que a primeira linha funcione

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 14/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

como pretendido no tocante ao gerenciamento de riscos e controles. As funções


específicas variam muito entre organizações e setores, mas são, por natureza,
funções de gestão. Seu papel é coordenar as atividades de gestão de riscos,
monitorar riscos específicos (funções de compliance ou de conformidade), ajudar a
desenvolver controles e ou monitorar riscos e controles da primeira linha de defesa;
 Funções que fornecem avaliações independentes: a auditoria interna constitui a
terceira linha de defesa no gerenciamento de riscos, fornecendo avaliações
(asseguração) independentes e objetivas sobre os processos de gerenciamento de
riscos, controle e governança aos órgãos de governança e à alta administração,
abrangendo uma grande variedade de objetivos (incluindo eficiência e eficácia das
operações; salvaguarda de ativos; confiabilidade e a integridade dos processos de
reporte; conformidade com leis e regulamentos) e elementos da estrutura de
gerenciamento de riscos e controle interno em todos os níveis da estrutura
organizacional da entidade.[7]

Esta qualidade de integrante da primeira linha de defesa do modelo legalmente instituído


confere, inegavelmente, atribuições de controle para o agente de contratação, que
deverá:

I – adotar medidas de saneamento de impropriedades formais identificadas no processo


da contratação, bem como contribuir para a adoção de medidas administrativas
destinadas à prevenção e mitigação de riscos de repetição da ocorrência;

II – contribuir para o aperfeiçoamento dos mecanismos administrativos de controles


preventivos;

II – quando constatar irregularidade que configure dano à Administração deverá


comunicar a ocorrência para a autoridade competente, que adotará as providências
necessárias para a apuração das infrações administrativas, observadas a segregação de
funções e a necessidade de individualização das condutas, bem como remeterá ao
Ministério Público competente cópias dos documentos cabíveis para a apuração dos
ilícitos de sua competência.

Estas atribuições de controle integram o núcleo de um dever jurídico por parte do agente
de contratação, que se descumprido, poderá ensejar a responsabilização por omissão
própria.

20. O agente de contratação pode responder por infrações legais cometidas no exercício das
atribuições?

 Responsabilidade “revela o dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de


contrato, seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a
prestação convencionada ou para suportar as sanções legais que lhe são impostas”.[8] É
uma capacidade jurídica, pois, para assumir as consequências da própria conduta.

No processo da contratação pública, desde a etapa do planejamento até o recebimento


definitivo do objeto contratado, há inúmeras condutas e atos administrativos que são
praticados e produzidos por agentes públicos. Estes atos ou condutas, comissivos ou
omissivos, podem ser reputados ilegais, ilegítimos ou antieconômicos por órgão ou
agente de controle interno ou externo. A ilegalidade, a ilegitimidade ou a
antieconomicidade do ato ou da conduta pode ensejar a responsabilidade daquele que
lhe deu causa.

No exercício de suas atribuições o agente de contratação pode cometer infrações, e,


portanto, ser responsabilizado. Acerca desta responsabilidade, a Lei nº 13.655/18, que

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 15/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

produziu modificações no Decreto-Lei nº 4.657/42, trouxe novidade para o cenário


jurídico preceituando no art. 28 que: “o agente público responderá pessoalmente por
suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro”.

Em que pese disposição desnecessária, a Lei nº 14.133/21 dispõe, no art. 5º, que na sua
aplicação serão observadas as disposições do referido Decreto-Lei nº 4.657/42.

Erro grosseiro para os fins do disposto na Lei nº 13.655/18 é aquela conduta, comissiva
ou omissiva, equivocada, incorreta, praticada sob falsa ou incorreta premissa, e
qualificada pelo elevado grau de negligência, imprudência ou imperícia.

Não basta, para caracterizar o erro grosseiro, por conseguinte, que a conduta tenha sido
realizada com negligência, com imprudência ou com imperícia, típicos elementos da culpa
em sentido estrito. Quer parecer então, que, a partir da edição da Lei em questão, a
conduta que pode ensejar responsabilização pessoal do agente público é apenas aquela
de maior gravidade, que supere a simples falta de diligência, de pequena imprudência ou
de imperícia que não seja grave.

Com efeito, embora a Lei faça referência a “erro”, o erro grosseiro de que trata, à toda
vista, é uma espécie de culpa qualificada pela intensidade da gravidade da conduta, que
engloba condutas negligentes, imperitas ou imprudentes de elevada gravidade, como
esclarece o Decreto nº 9.830/18, ao regulamentar a Lei nº 13.655/18:

Art. 12.  O agente público somente poderá ser responsabilizado por suas decisões ou
opiniões técnicas se agir ou se omitir com dolo, direto ou eventual, ou cometer erro
grosseiro, no desempenho de suas funções.

§ 1º Considera-se erro grosseiro aquele manifesto, evidente e inescusável praticado


com culpa grave, caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de
negligência, imprudência ou imperícia.

A conduta descuidada, equivocada, incorreta, apressada, desidiosa, ineficiente, se não for


dolosa, somente ensejará responsabilidade pessoal se for grave de modo a caracterizar o
erro grosseiro.

Acompanhe também novidades sobre contratações públicas no instagram:


@joseanacleto.abduch.

[1] https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2012/01/6df487e745d2ed907c5ea433b6ebee96.pdf

[2] op. cit. pg. 15

[3] XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII – ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente.

[4] GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo, 13ª ed., São Paulo: Editora Saraiva,
2008, p. 967.

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 16/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

[5] https://global.theiia.org/translations/PublicDocuments/3LOD-IIA-Exposure-
Document-Portuguese.pdf

[6] https://iiabrasil.org.br/korbilload/upl/editorHTML/uploadDireto/20200758glob-th-
editorHTML-00000013-20072020131817.pdf

[7]file:///C:/Users/User/Downloads/Gestao%20de%20Riscos%20-
%20Avaliacao%20da%20Maturidade.pdf

[8] DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. São Paulo: Forense, 28ª ed. 2010, p. 1214.

TÓPICOS

AGENTE DE CONTRATAÇÃO AGENTES DE CONTRATAÇÃO CARGO EM COMISSÃO COMPETÊNCIA DESIGNAÇÃO


LEI Nº 14.133/21 SERVIDOR EFETIVO

COMPARTILHAR AVALIE ESTE CONTEÚDO 1 AVALIAÇÃO / MÉDIA 5,0

Seja o primeiro a comentar

Utilize sua conta no Facebook ou Google para comentar

Assine nossa newsletter e junte-se aos nossos mais de 100 mil leitores

Nome * Email *

Ao informar seus dados, você concorda com nossa política de privacidade

Assinar

Você também pode gostar

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 17/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Publicidade

ÁUDIOS LICITAÇÃO

14.133/21: destaques do
registro de preços
Publicado em 24 de junho de 2022
por Equipe Técnica da Zênite

A lei 14.133/21 tem, entre outras, duas normas bem importantes sobre registro de preços. Ligue o som e
confira no Podcast Zênite!

DOUTRINA TERCEIRIZAÇÃO NOVA LEI DE LICITAÇÕES

A Terceirização: Cartão
convergência taxa de corporativo
de administração,forma
oportunidadeslucro e a preferencia
da nova Lei de análise de de
Licitações exequibilidade pagamento
para o setor da proposta de
de contrataçõe
saneamento diretas por
Publicado em 05 de julho de 2022
por Equipe Técnica da Zênite

básico valor
Questão apresentada à equipe de consultores Zênite:
“Nas licitações para contratação de prestação de serviço
de mão de obra há grande concorrência e há empresas
que apresentam preços bastante reduzidos,...

Publicado em 05 de julho de 2022 Publicado em 04 de julho de 2022

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 18/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite
por Thaís Marçal e Caio Lopes de Macedo por José Anacleto Abduch Santos

1. Introdução A aprovação do novo Marco Legal do A Lei nº 14.133/2021 prevê, no artigo 75,
Saneamento Básico (Lei nº 14.026/2020) elenca uma que “as contratações de que tratam os inc
abertura de uma janela de oportunidades para que o e II do caput deste artigo serão
país avance nesse setor, cuja... preferencialmente pagas por meio...

NOVA LEI DE LICITAÇÕES NOVA LEI DE LICITAÇÕES PLANEJAMENTO

Aplica-se a Como ficou Ao prever no


nova Lei nº a edital a
14.133/2021 publicidadesubcontratação,
para do edital já está inserida
concessões e na nova Lei aquela
permissões de obrigatória de
de uso de Licitações? ME/EPP (art.
bens 48, II, da LC nº
públicos? 123/2006)?
Publicado em 28 de junho de 2022
por Equipe Técnica da Zênite

Qual será o
DIRETO AO PONTO Concluímos que, de
acordo com a Lei nº 14.133/2021, a
divulgação do inteiro teor do ato

procedimento
Publicado em 23 de junho de 2022
convocatório e de seus anexos deverá
por Equipe Técnica da Zênite
acontecer, obrigatoriamente no Portal

a ser
Nacional... DIRETO AO PONTO (...) a subcontratação geral não se
confunde com a subcontratação obrigatória de
microempresas e empresas de pequeno porte. Ambas

observado? possuem finalidades e requisitos distintos, o que possibilita

Publicado em 30 de junho de 2022


por Equipe Técnica da Zênite

DIRETO AO PONTO (...) concluímos que a Lei nº


14.133/2021 aplica-se aos casos de concessões e
permissões de uso de bens públicos. E, seguindo a
opção literal da nova Lei,...

Colunas & Autores

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 19/20
06/07/2022 10:44 Agente de contratação  |  Blog da Zênite

Solange Afonso de Suzana Rossetti Alessandra Correa Anadricea V. Vieira de


Lima Santos Almeida

Conheça todos os autores

A Zênite Produtos e serviços Capacitação

Site da Zênite Zênite Fácil Próximos eventos


Contato Zênite Fácil – Estatais Zênite in Company

Termos de uso Orientação por Escrito Diferenciais

Cotação Zênite

Av. Sete de Setembro, 4698 — Batel — Curitiba/PR — CEP 80240-000 Telefone (41) 2109-8666 Whatsapp (41) 99643-4141

© 2000-2022 Zênite. Todos os direitos reservados. Receba por RSS

https://zenite.blog.br/agente-de-contratacao/ 20/20

Você também pode gostar