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DEFINANÇAS
PÚBLICAS
EDIREITO
FISCAL
Ano 9 · Número 3 · OUTONO
ARTIGOS
COMENTÁRIOS DE JURISPRUDÊNCIA
RECENSÕES
CRÓNICA DE ACTUALIDADE
ÍNDICE
ARTIGOS
Joaquim Miranda Sarmento e Inês Duarte – As alterações legislativas
e a instabilidade fiscal em sede de IVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Márcia Teixeira – Cabo Verde: do imposto de consumo ao imposto sobre
o valor acrescentado – breve reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Maria Dâmaso e António Martins – A evolução normativa e os
fatores de adesão ao regime simplificado em sede do IRC: (ii) fatores de
adesão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Paulo Caldeira, Ana Clara Borrego, José de Campos Amorim – Gestão
fiscal nas pequenas empresas e a importância da forma jurídica: a opção
entre ENI e sociedades por quotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Francisco Nicolau Domingos – A concordata tributária: um imperativo
no Direito Tributário português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
JURISPRUDÊNCIA
Manuel Faustino – IRS, Mais-Valias, Reinvestimento, União de facto.
Comentário ao Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul de 29 de
junho de 2016, processo n.º 07877/14 (relatora: Cristina Flora) . . . . . . 133
Nuno de Oliveira Garcia – Ainda a caducidade, agora a propósito de
períodos não coincidentes com o ano civil. Comentário a propósito do
Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul (Contencioso Tribu-
tário) de 9 de novembro de 2011 (Relator: Pedro Vergueiro) no processo
n.º 03637/09, e do Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo (2.ª Secção)
de 10 de outubro de 2012 (Relatora: Dulce Neto) no processo n.º 0340/12 155
Clotilde Celorico Palma – Caso Barlis – A Administração Tributária mais
papista que o Papa. Comentário ao Acórdão do TJUE de 15 de Setembro
de 2016, Processo C516/14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
Síntese de acórdãos do Tribunal Constitucional, do trimestre . . . . . . . 193
Síntese de acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo, secção do
contencioso tributário, do trimestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
6
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
RECENSÕES
Pós capitalismo de Paul Mason por Nazaré da Costa Cabral . . . . . . . . 239
Estudos do IVA III de Clotilde Celorico Palma por António Carlos dos
Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243
Publicações Recentes
Por Marta Caldas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
CRÓNICA DE ACTUALIDADE
Ponto de situação dos trabalhos na União Europeia e na OCDE –
Principais iniciativas do Trimestre por António Brigas Afonso, Clotilde
Celorico Palma e Paulo Nogueira da Costa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
1. Fiscalidade Direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
2. Imposto sobre o Valor Acrescentado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
3. Impostos especiais de consumo harmonizados, imposto sobre veículos
e união aduaneira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
EDITORIAL
EDITORIAL
Eduardo Paz Ferreira
Para que o Estado possa chamar a si o papel central que lhe tem que
caber no combate ao desemprego e no crescimento do PIB impõe-se uma
profunda alteração das regras de funcionamento da zona euro, uma vez
que, de outro modo, será sempre impossível reunir os recursos próprios
necessários.
Esta é uma ideia que crescentemente tem ganho apoio a nível europeu
mas não se vê uma liderança capaz de a impor, nem que se forme uma
aliança apta a defende-la energicamente. E, no entanto, sem essa mudança
– repito – continuará a estagnação secular das economias.
Por outro lado, não pode deixar de se olhar para o orçamento com
alguma preocupação quanto à instabilidade fiscal e à falta de estabilização
de um quadro que forneça garantias aos contribuintes, que são já objecto de
um tratamento pouco cuidadoso, em resultado da informatização tributária.
Mas muito mais grave, em matéria fiscal, é a maneira como se
continua a revelar impossível conter a evasão fiscal das grandes fortunas,
que gera um prejuízo significativo para o Estado e contribui para uma
sensação de injustiça por parte dos contribuintes cumpridores, sujeitos a
uma carga fiscal brutal.
Em 2017, o Governo terá – assim se espera – tempo para preparar
mais cuidadosamente o orçamento para o próximo ano e trabalhar a nível
europeu novas soluções. É isso que ficamos à espera.
ARTIGOS
Joaquim Miranda Sarmento
Inês Duarte
Inês Duarte
Mestre em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais
pelo ISEG/UL. Licenciada em Gestão pelo ISCAL
14
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
RESUMO
Desde a reforma fiscal de 1989, que o sistema fiscal tem estado sujeito a uma forte
instabilidade fiscal, provocada por um permanente estado de alterações e atualizações aos
impostos. Neste artigo, além de elencarmos essa instabilidade para os principais impostos
do sistema fiscal Português: IRS; IRC; IVA e RITI; IMI e IMT e EBF, procurámos analisar
as alterações legislativas e a instabilidade fiscal em sede de IVA e RITI, detalhando o
estudo no que concerne a estes dois códigos fiscais. No que diz respeito ao IVA, verifica-se,
contrariamente ao que seria esperado, que este imposto tem um nível e um volume de
alterações em linha com o IRS e o IRC. Os resultados obtidos mostram que também para
o IVA anos de eleições produzem menos alterações fiscais. Também nesta subamostra
governos de maioria tendem a alterar mais este imposto.
Palavras chave:
IVA
Alterações legislativas
Instabilidade fiscal
ABSTRACT
Since the tax reform of 1989 that the tax system has been subject to a strong fiscal
instability caused by a permanent state of changes and updates to taxes. In this article,
besides the description of this instability to the main taxes of the tax system Portuguese:
IRS; IRC; VAT and RITI; IMI and IMT and EBF, tried to analyse the legislative changes
and the fiscal instability of VAT and RITI detailing the study about these two tax codes.
Concerning the VAT, it appears, contrary to what would be expected that this has imposed
a level and volume changes in line with the IRS and IRC. The results show that also for the
election years VAT tax produce fewer changes. Also in this subsample, most governments
tend to change over this tax.
Key words:
VAT
Legal changes
Tax instability
15
Artigos
1. INTRODUÇÃO
1 A escolha de 1989 dá-se pelo facto de ser o ano de reforma fiscal com a introdu-
ção do IRS, IRC e CA. O IVA tinha sido introduzido em 1986, mas por uma questão de
comparação (e também por motivos de modelos econométricos), optou-se por considerar
como ano de início da análise 1989.
2 In casu, os impostos em análise neste artigo foram aprovados por decreto-lei, por
De uma forma geral podemos afirmar, tal como Anderson & Minarik
(2006)3 que “a principal motivação de todas as regras de política fiscal
é promover o crescimento económico estável por meio do controle da
acumulação da dívida” (pág. 6). Golinelli & Momigliano (2006)4 defendem
que as eleições têm um impacto significativo nas políticas orçamentais.
Como referido por Arvate et al. (2009) 5 em estudos realizados sobre o
governo brasileiro o défice em anos não eleitorais é bastante inferior ao
défice em anos de eleições. A diferença do défice entre anos eleitorais e não
eleitorais situa-se entre 1,3 e 1,5 p.p. do PIB. Já Peltzman (1992) 6 realizou
um estudo para os Estados Unidos entre 1950 e 1988, onde concluiu que
os eleitores beneficiam os partidos que apresentam défices mais baixos.
Perotti & Alesina (1995)7 chamam a atenção para o facto de existir uma
relação entre os governos de coligação e as fracas taxas de sucesso na
implementação de programas de austeridade. Afirmam também que os
governos mais responsáveis fiscalmente são os minoritários. Um governo
sem maioria absoluta necessita do apoio de partidos da oposição, de modo
a poder chegar a um acordo quanto às medidas a tomar. De acordo com o
estudo realizado por Arvate et al. (2004), os governos de coligação e os
governos de maioria absoluta têm menos probabilidades de sucesso caso
3 Anderson, B. & Minarik, J.J., 2006. Design Choices for Fiscal Policy Rules.
nomics, pp.327-361.
7 Perotti, R. & Alesina, A., 1995. Fiscal Expansion and Adjustments in OECD
Countries.
17
Artigos
8
Albano Santos, Teoria Fiscal, ISCSP, 2003.
9
Artigo 103.º
Sistema fiscal
1. O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
2. Os impostos são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios
fiscais e as garantias dos contribuintes.
3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos
termos da Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança
se não façam nos termos da lei.
10 Os impostos são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios
assim como os elementos da sua obrigação. Assim, temos a incidência real (o que está
sujeito), a incidência pessoal (quem está sujeito), a incidência territorial (onde está sujeito)
e a incidência temporal (quando está sujeito).
12 Cfr. Artigo 147.º, da Constituição da República Portuguesa
14 Paulo Marques, Crime de Abuso de Confiança Fiscal, Coimbra Editora, 2011,
pág. 17.
15 Ana Paula Dourado, Direito fiscal, Almedina, 2015, pág. 128
16 Nestas situações, a referência a lei (ex: artigo 103.º, n.º 3, da Constituição da
República Portuguesa) deve ser entendida como sinónimo de acto legislativo (lei parla-
mentar ou decreto-lei do governo).
17 Sérgio Vasques, Manual de Direito Fiscal, Almedina, 2014.
19
Artigos
Este gráfico apresenta o número de vezes, que através de diplomas, os Códigos fiscais
analisados neste estudo foram alterados, em cada ano, entre 1989 e 2014. Fonte: autores.
Este gráfico apresenta o número de vezes, que através de diplomas, cada Código fiscal foi
alterado entre 1989 e 2014. Fonte: autores.
Este gráfico apresenta o número de vezes, que através de diplomas, o Código do IVA foi
alterado entre 1989 e 2014. Fonte: autores.
14
12
12
10
8
8
7 7 7 7 7 7
6 6 6
6
5
Média: 5
4 4 4 4 4
4
3 3
2 2 2 2 2 2
2
1
0
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
22
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Este gráfico apresenta o número de artigos alterados aos Códigos fiscais analisados, em
cada ano, entre 1989 e 2014. Fonte: autores.
Este gráfico apresenta o total de artigos alterados por cada Código Fiscal. Fonte: autores
Este gráfico apresenta o número de artigos alterados ao Código do IVA, em cada ano,
entre 1989 e 2014. Fonte: autores.
120 117
100
80
65
60
48 50 48
40
38
32 34
31
Média: 28 26
23 23
16 17 17 17 17 17 18
20 14 13 15
10 12
5
2
0
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
24
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Esta tabela apresenta o número de alterações por Código fiscal que ocorreram em anos
de eleições, em anos de governos PSD (a diferença para o total dá o número de alterações
ocorridas em anos de governos PS), em anos de coligações e em anos de governos de
maioria. Naturalmente, o valor das várias colunas é diferente do total de alterações, dado
que anos de eleições, ou anos governo PSD ou anos de coligação ou anos de maioria são
em vários casos coincidentes. Fonte: autores.
IVA
IVA RITI + IRS IRC Património EBF Total
RITI
Ano de eleições 24 5 29 33 25 15 20 122
Governos maioria 65 16 81 73 66 52 59 331
Governos coligação 23 6 29 28 23 22 25 127
Total 102 22 124 114 102 66 86 492
25
Artigos
18 No caso do IVA e para a coluna do número de artigos alterados, sempre que havia
uma alteração numa lista utilizava-se o número 1, caso houvesse alteração nas duas listas
utilizava-se o número 2.
26
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
19 Ordinary Least Squares, ou seja, uma regressão linear múltipla pelo método dos
mínimos quadrados.
20 O teste de Breusch-Pagan informa-nos da não existência de heterocedastici-
dade dos erros visto que o p-value é superior a 0.1, o que significa que não rejeitamos
a hipótese de homocedasticidade dos erros. Com análise do teste VIF concluímos que
não existe multicolinariedade (Ou seja, não existe uma relação muito próxima entre as
variáveis independentes deste estudo, no sentido em que o aumento de uma variável não
determina, de forma correlacionada, o aumento de outra variável. Tal a ocorrer geraria um
problema de aumento da variância dos estimadores. Desta forma podemos garantir que
os nossos estimadores são “Best Linear Unbiased Estimators”, ou seja, os mais eficientes
(e dai melhores) estimadores lineares não enviesados), uma vez que o VIF de todas as
variáveis é inferior a 2. O Wald teste apresenta um p-value inferior a 0.1, ou seja, é rejei-
tada a hipótese nula da existência de heterocedasticidade.
21 A Poisson é uma distribuição de probabilidades de variável aleatória discreta que
Esta tabela apresenta os resultados do OLS usando como variável dependente o número de
alterações fiscais por ano, quer para o total da amostra (todos os impostos – teste 1), quer
para a subamostra do IVA (teste 2 a 6). Os anos com Diretivas Comunitárias consideradas
neste estudo são: 1993 (sistema transitório), 2000 (nova estratégia IVA), 2006 (Diretiva
IVA) e 2008 (Pacote IVA), conforme Vasques (pg.51)
Robust standard errors in parentheses. *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1. Fonte: autores.
Esta tabela apresenta os resultados do modelo Poisson usando como variável dependente
o número de alterações fiscais por mês entre 1989 e 2014. O teste 5 usa uma “zero inflated
poisson” (dado o elevado número de zeros na amostra, ou seja, por causa de a maioria dos
meses não ter alterações ao Código do IVA).
Nota: as 312 observações dizem respeito aos 312 períodos (meses da amostra) da Poisson.
Robust standard errors in parentheses. *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1. Fonte: autores
5. CONCLUSÕES
Referências
Anderson, B. & Minarik, J.J., 2006. Design Choices for Fiscal Policy Rules. OECD
Journal on Budgeting, 5(4), pp. 159-208..
Arvate, P., Avelino, G. & Tavares, J., 2009. Budget deficits and reelection prospects:
voters as fiscal conservatives in a new democracy. Economic Letters, (August
2015), pp. 1-20.
Dourado, Ana Paula, 2015, Direito fiscal, Almedina, 2015.
Golinelli, R. & Momigliano, S., 2006. Real-time determinants of fiscal policies in the
euro area. Journal of Policy Modeling, 28(9), pp. 943-964.
Marques, Paulo, 2011, Crime de Abuso de Confiança Fiscal, Coimbra Editora.
Peltzman, S., 1992. Voters as fiscal conservatives. The Quarterly Journal of Econo-
mics, pp. 327-361.
Perotti, R. & Alesina, A., 1995. Fiscal Expansion and Adjustments in OECD Countries
Santos, Albano, 2003, Teoria Fiscal, ISCSP.
Sarmento, Joaquim & Duarte, Ines, “A Instabilidade do sistema fiscal Português: uma
retrospetiva entre 1989 e 2014”, Revista Julgar, dezembro.
Vasques, Sérgio, 2014, Manual de Direito Fiscal, Almedina.
Vasques, Sérgio, 2015, Imposto sobre o Valor Acrescentado, Almedina
Márcia Teixeira
Márcia Teixeira
Advogada
34
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
RESUMO:
Palavras chave:
Reforma fiscal
IVA
Imposto de consumo
ABSTRACT
This article critically discusses the importance and relevance of the adoption of
the Value Added Tax (VAT) for Cape Verde: a territory that for nearly forty years applied
the Cape Verdean Consumption Tax. VAT is a relatively new tax in Cape Verde which
repealed and succeeded a tax whose term goes back to the colonial era – the Consumption
Tax. Accordingly, we analyzed the VAT system and its implementation in Cape Verde in
order to, after a comparison with the Cape Verdean Consumption Tax, question the need
to repeal the Cape Verdean Consumption Tax to finally comment about the Consumption
Tax that best suits Cape Verde’s reality.
Key words:
Tax Reform
VAT
Consumption Tax
35
Artigos
para que não se rompesse com a tradição que advinha do antigo imposto,
quer para que não se sobrecarregasse em demasia a população que fraco
poderio financeiro tem. Por outro lado, o incentivo ao desenvolvimento
e investimento em certos sectores, como por exemplo o turístico e indus-
trial, num país muito dependente do investimento e ajuda externa como
Cabo Verde, não poderia ser alheio ao IVA, tendo este contemplado isen-
ções que visam aprofundar os benefícios fiscais nessa matéria. A verdade
é que um imposto como o IVA, cuja arrecadação é bastante superior ao
do anterior imposto, desde logo pela sua natureza plurifásica, tem maior
margem para a consagração de isenções que, contudo, não devem ser
excessivas sob pena de se estreitar em demasia a base de incidência do
imposto e destiná-lo à decadência e insuficiência, tal qual o imposto de
consumo. Este é o maior desafio do actual imposto.
1 Rui Bastos, O Direito à Dedução do IVA, o Caso Particular dos Inputs de Utili-
zação Mista, Cadernos IDEFF, n.º 15, Almedina, Junho 2014, pág. 149.
2 Directiva 77/388/CEE do Conselho, de 17 de Maio de 1977.
4 Sobre esta matéria vide Xavier de Basto e Maria Odete Oliveira, “Desfazendo
realidade pode não corresponder à parte exacta dos bens e serviços adqui-
ridos que foram utilizados em operações que conferem direito à dedução,
acabando por se deduzir imposto suportado em bens ou serviços que se
destinam a actividades que não conferem direito à dedução, ou por não
se deduzir a totalidade do imposto suportado em bens e serviços que se
destinam a actividades que conferem direito à dedução. Mais seguro seria,
pois, que aos bens e serviços que se sabem destinados apenas a activi-
dades que conferem direito à dedução e aos que se sabem destinados
apenas a actividades que não conferem direito à dedução se aplicassem as
regras dos artigos 18º e 19º, deduzindo os primeiros e negando dedução
aos segundos. Mas, vejamos, não é este o procedimento que se adopta
quando se recorre ao método da afectação real? A resposta parece ser afir-
mativa! E o método da afectação real não é aplicado sempre que o sujeito
passivo previamente comunique esse facto à Administração Tributária, ou
quando esta o imponha para evitar distorções significativas na tributação
ou, ainda, quando aquele exerça actividades economicamente distintas?
A resposta a esta questão também parece afirmativa! O legislador cabo-
-verdiano considera o método da afectação real como o que consiste na
não permissão de qualquer dedução do imposto suportado nas aquisições
destinadas à realização de operações isentas sem direito à dedução e às
operações fora do campo do imposto, o que permite o exercício normal e
integral do direito à dedução do imposto suportado nos inputs destinados
à realização de operações efectivamente tributadas e às operações isentas
com direito a dedução. Os bens que indistintamente se destinam a activi-
dades que conferem direito à dedução e a actividades que não conferem
direito à dedução, esses sim serão objecto de uma percentagem calculada
de acordo com critérios objectivos. Não há, pois, a nosso ver, qualquer
violação do princípio fundamental da dedução dos impostos suportados
para a realização de actividades que conferem direito à dedução, não
procedendo, portanto, aquele argumento.
9. Outra análise que não podia deixar de ser feita, é a relativa aos
regimes especiais de tributação acolhidos pelo CIVA cabo-verdiano: o
regime de isenção e o regime simplificado de tributação. Dois regimes
que visaram adaptar o regime geral do IVA a sujeitos passivos de pequena
dimensão económica e de reduzida capacidade organizacional, e que foram
posteriormente revogados. Anteriormente à revogação destes regimes foi
46
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
não é favorável. Isto pois, se antes não entregava IVA ao Estado, optando
pelo REMPE passa a entregar imposto ao Estado. Por outro lado, temos
o regime normal de IVA. Este poderia ser vantajoso se não implicasse o
cumprimento das obrigações acessórias inerentes àquele regime. Por ser
um sujeito passivo de pequena dimensão económica, não se encontra em
condições de satisfazer as obrigações impostas pelo regime de IVA, tão
pouco as que foram impostas pelo REMPE. Ainda que se defenda que de
uma forma geral o REMPE é também mais vantajoso para estes sujeitos
passivos pois, embora passe a entregar uma percentagem do seu volume de
negócios ao Estado, essa percentagem substitui também outros impostos,
as obrigações impostas pelo REMPE são excessivas para os operadores
económicos que anteriormente estavam abrangidos pelo regime se isenção.
Vamos ainda mais longe. Apenas existe esta possibilidade de escolha entre
um e outro regime, se os sujeitos passivos anteriormente abrangidos pelo
regime se isenção, reunirem os requisitos que permitam ao Estado os
classificar como micro empresas. Não se verificando tal condição, o que
é mais provável que aconteça devido ao seu reduzido volume de negócios
e forma de organização, resta-lhes a sujeição ao regime normal de tribu-
tação. O mesmo se diga quanto os sujeitos passivos excluídos deste regime.
Por outro lado, não faz sentido que o Estado estabeleça um regime, em
princípio, mais vantajoso para os sujeitos passivos anteriormente abran-
gidos pelo regime simplificado, e consagre, simultaneamente, um regime
menos vantajoso para os sujeitos passivos com maiores dificuldades de
se adaptar ao regime do IVA. Não resulta, nem do regime do IVA nem do
REMPE, um regime especial para os sujeitos passivos que anteriormente
se regiam pelo regime de isenção e agora não se classificam como micro
empresas ou são excluídas dessa classificação.
A nosso ver, o facto de o REMPE ter entrado em vigor no mesmo
momento em que foram revogados os regimes especiais de tributação
em sede de IVA, fez com que o antigo regime de isenção fosse revogado
sem que se consagrasse novo regime adequado aos sujeitos passivos ante-
riormente abrangidos por ele. Por um lado, o volume de negócios estipu-
lado pelo regime das micro empresas é muito abrangente, acabando por
englobar empresas com dimensões económicas e estruturas organizativas
diferentes, por outro, quando o sujeito passivo não se enquadra na clas-
sificação de micro empresa, não tem um regime especial a ele adequado.
Uma empresa que tem como volume de negócios 180 000$00 (cento e
50
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
6 Vide Afonso Arnaldo e Paulo Marques, IVA com ou sem recebimento? Uma pers-
7
Outra hipótese cuja aplicação deste regime pode se mostrar necessária é o caso
de empresas em início de actividade. Os custos de investimento decorrentes da imple-
mentação e instalação da actividade acrescidos dos custos que o adiantamento do imposto
ao Estado representam, podem ser excessivos e bastante onerosos para um empresa que
acaba de iniciar a sua actividade.
53
Artigos
lhança deste, o sujeito passivo que ainda não foi reembolsado, incorpora
o imposto suportado no preço de venda dos respectivos bens ou serviços,
dando origem a uma “tributação oculta”, que por sua vez, provoca efeitos
cumulativos. Desta feita, parte do valor acrescentado é tributado mais do
que uma vez e o inconveniente que o IVA visou combater acaba por ser
introduzido no seu regime.
13. Em suma, Cabo Verde adoptou o IVA pelo mérito das suas carac-
terísticas que permitiram uma maior arrecadação de receitas, anestesia
fiscal, diminuição da fraude e evasão fiscal, alargamento da base tributária,
no momento em que se considerou apto a administrá-lo e fiscalizá-lo, e
não pela ligeireza de acompanhar Portugal nas suas alterações legisla-
tivas. Entendemos não ter sido tardia a adopção do novo imposto. Cabo
Verde adoptou o novo imposto quando se sentiu capaz de o administrar e
fiscalizar, sem prejuízo de ainda hoje se verificarem incorrecções passí-
veis de serem combatidas. O imposto de consumo mostrava-se demasiado
estreito, complexo e contemplava inúmeras isenções que esvaziavam a sua
capacidade recolectora. O IVA, um imposto mais simples e abrangente,
permitiu eliminar muitos dos benefícios fiscais consagrados pelo imposto
de consumo. Permitiu também que Cabo Verde acompanhasse os seus
parceiros económicos europeus e africanos que já se tinham antecipado
na adopção daquele imposto. A adopção de um único tipo de imposto – o
IVA – em detrimento de inúmeros impostos sobre o consumo próprios às
tradições e particularidades de cada país, facilita as trocas internacionais
tão frequentes num mundo globalizado como o que vivemos. Esta medida
permite aos investidores estrangeiros actuarem num ambiente fiscal que
não lhes é estranho, com uma língua franca que ajuda a integração de
Cabo Verde com a economia internacional.
A introdução do IVA tratou-se nitidamente de um caso de sucesso.
Os objectivos que se propôs satisfazer foram cumpridos: aumentou-se
gradualmente o rácio receita fiscal/PIB de forma a reduzir a dependência
fiscal do país da cooperação externa, aumentou-se a eficiência fiscal,
alcançou-se uma maior equidade fiscal através do alargamento da base
tributável e introduziram-se taxas menos incentivadoras à evasão fiscal e
mais consentâneas com o desenvolvimento da actividade económica em
geral e do investimento em particular. O IVA consegue cobrar muito e
com pouca resistência social, dado o grau elevado de eficácia que apre-
56
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
8
Pareceres do Tribunal de Contas de Cabo Verde sobre as Contas Gerais do
Estado (2004-2012), disponíveis em tribunalcontas.cv; Relatórios Anuais do Banco de
Cabo Verde (2004-2013), disponíveis em bcv.cv; Relatórios da Conta Geral do Estado
(2004-2012), disponíveis em minfin.gov.cv e dados do Instituto Nacional de Estatística
disponíveis em ine.cv.
Maria Dâmaso
António Martins
Maria Dâmaso
Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém
António Martins
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
58
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar as características do novo regime simplificado
de tributação, em sede de imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas, que
influenciaram o aconselhamento à respetiva adesão por parte dos contabilistas certificados.
Este novo regime simplificado teve início no exercício económico de 2014.
A recolha de dados foi efetuada com recurso a questionário. Os resultados evidenciam
que apenas 9% dos contabilistas certificados inquiridos responderam positivamente
ao aconselhamento do regime, e cerca de 23% ponderaram o seu aconselhamento a
algumas empresas. A possibilidade de redução de imposto a pagar foi considerada pelos
contabilistas certificados como o principal fundamento para recomendar a adesão ao
regime simplificado.
Palavras chave:
Regimes simplificados de tributação
Pequenas sociedades
Contabilistas certificados.
ABSTRACT
This paper intends to analyse which characteristics of the new simplified tax regime
(STR) in the context of the Corporate Income Tax (CIT), influenced the recommendation
of its adoption by the chartered accountants (CA). This new STR started in the fiscal year
of 2014.
Data collection was performed using a questionnaire. The results show that only
9% of CA responded positively to the recommendation of STR and 23% thought of
recommending to some firms. The possibility a tax burden reduction was considered by
the CA as the main reason for the STR recommendation.
Key words:
Simplified tax regime
Small companies
Chartered accountants.
59
Artigos
1. INTRODUÇÃO
cas.gov.pt/pt/dgci/divulgacao/estatisticas/estatisticas_ir/ [2016-06-05].
62
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
2
Corresponde à Ordem dos Contabilistas Certificados em Portugal.
63
Artigos
4. METODOLOGIA
3
A disponibilização do questionário no website da OCC apenas se verificou no dia
27 de outubro, respondendo ao pedido realizado em 6 de outubro de 2014.
64
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
4 Saunders et al. (2009) considera que a recolha de dados dos questionários online
6 De referir que o artigo de Alves et al. (2012) tem por base o estudo realizado por
Portela (2010).
7 O leitor interessado pode encontrar em Dâmaso (2015) uma análise empírica
4.2. Amostra
[2014-12-05].
9 Informação disponibilizada pela OCC via “pasta CC” em 2014-12-22, solicitada
em 2014-11-11.
10 Estes dados foram obtidos através da primeira questão do questionário direcionado
aos CC. Pode-se considerar uma questão de controlo, já que permite a divisão entre os CC
que, exercendo a respetiva profissão podem aconselhar o RST e os que, não exercendo a
profissão não iriam responder às questões de aconselhamento do RST.
67
Artigos
Item (%)
Antiguidade na profissão
Até 2 anos 6,3
3 a 5 anos 9,8
6 a 10 anos 18,1
11 a 15 anos 19,0
16 a 20 anos 18,7
21 ou mais anos 27,9
Total 100
Idade
Até 25 anos 1,9
26 a 30 anos 4,1
31 a 40 anos 34,3
41 a 50 anos 30,5
51 a 55 anos 8,6
56 ou mais anos 20,6
Total 100
Género
Feminino 50,2
Masculino 49,8
Total 100
Habilitações Literárias
Até ao 9º ano de escolaridade 1,6
12º ano de escolaridade 13,7
Bacharelato/Licenciatura 62,2
Pós-graduação/Mestrado/ Doutoramento 22,5
Total 100
Inquiridos (N) 315
5. RESULTADOS
Total 259
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª
Características opção opção opção opção opção opção
Simplificação do cálculo do
5 7 13 9 6 1
imposto
O IRC a pagar será inferior com
a opção pelo regime simplificado 50 11 3 1 0 0
comparativamente ao regime geral
Redução dos custos de cumprir as
4 3 8 10 11 4
obrigações tributárias
Menor probabilidade de inspeção
1 3 3 3 6 23
tributária
Diminui os requisitos
contabilísticos, caso opte
0 2 6 12 11 7
pelo regime contabilístico das
microentidades
Dispensa o pagamento especial por
16 24 7 3 3 1
conta (PEC)
Total 76 50 40 38 37 36
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª
Características
opção opção opção opção opção opção opção opção
As regras do regime
simplificado são demasiado 12 5 9 6 11 14 6 17
complexas
O IRC a pagar seria
superior se optasse pelo
regime simplificado 93 26 7 6 5 3 5 2
comparativamente ao
regime geral
Aumento dos custos de
cumprir as obrigações 4 8 7 12 10 15 16 4
tributárias
Maior complexidade
na relação com a 4 3 7 14 12 17 12 5
Administração Fiscal
Não simplificação de outras
8 13 22 13 15 6 4 1
obrigações fiscais
A(s) empresa(s) para as
quais exerce a atividade
de CC, não cumprem
65 27 15 5 3 4 7 6
os requisitos de estar
enquadrada(s) no regime
simplificado
Legislação do regime
simplificado não estava 4 10 5 9 6 4 10 24
disponível atempadamente
Não concorda com os
coeficientes aplicados
à(s) atividade(s) da(s) 16 20 17 10 9 7 8 7
empresa(s) para as quais
exerce a atividade de CC
Total 206 112 89 75 71 70 68 66
13
Dados referentes ao ano de 2013 (tabela 1).
76
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
6. CONCLUSÃO
Bibliografia
Paulo Caldeira
Mestrando em Contabilidade e Finanças pela Escola Superior
de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Portalegre
RESUMO
Palavras chave:
Empresário em nome individual
Gestão fiscal
Sociedades por quotas
ABSTRACT
Key words:
Sole trader businesses
Tax management
Limited companies
83
Artigos
1. INTRODUÇÃO
pelo facto das últimas se encontrarem elencadas no art.º 151º do CIRS. As primeiras são
identificadas pelo CAE (Código de Atividade Económica) e as segundas pelos códigos
constantes no referido artigo.
85
Artigos
2 Sobre este assunto deve ser consultada interpretação da AT: Despacho de 2015-
Tipo de viaturas IRC (Art.º 88º do CIRC) IRS (Art.º 73º do CIRS)
Viaturas ligeiras < 25.000,00 €: 10% < 20.000,00 €: 10%
de passageiros ≥ 25.000,00 e < 35.000,00 €: 27,5% ≥ 20.000,00 €: 20%
ou mistas (regra ≥ 35.000,00 €: 35%
geral)
Viaturas ligeiras < 25.000,00 €: 7,5% < 20.000,00 €: 7,5%
de passageiros ou ≥ 25.000,00 e < 35.000,00 €: 15% ≥ 20.000,00 €: 15%
mistas a GPL ou ≥ 35.000,00 €: 27,5%
GVL
Viaturas ligeiras < 25.000,00 €: 5% < 20.000,00 €: 5%
de passageiros ou ≥ 25.000,00 e < 35.000,00 €: 10% ≥ 20.000,00 €: 10%
mistas hibridas ≥ 35.000,00 €: 17,5%
plug-in
Viaturas ligeiras Não têm TA Não têm TA
de passageiros ou
mistas elétricas
Viaturas ligeiras < 25.000,00 €: 10% Não têm TA
de mercadorias ≥ 25.000,00 e < 35.000,00 €: 27,5%
abrangidos pelo ≥ 35.000,00 €: 35%
art. 7.º, n.º 1, al. b)
do CISV
5
É igualmente aplicável nas situações previstas no nº 4 do artigo.
90
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
3. CASOS PRÁTICOS
Caso fossem contabilizados, os mesmos não seriam aceites em sede de IRS, como
6
89101112
10 Embora a sociedade fique dispensada do pagamento do PEC nos dois primeiros
anos de atividade, como se trata de um benefício temporário, não vamos tê-lo em consi-
deração – art.º 106º, nº 10 do CIRC.
11 Despacho de 2015-10-07 – Processo: 750/2015.
13
Dedução específica da categoria A – artº 25º, nº 1, al. a) do CIRS.
14
Trata-se de um só sujeito passivo (viúva) sem dependentes. O mesmo se repete
nas hipóteses 2 e 3.
15 Idem.
95
Artigos
16
Este valor é meramente indicativo.
97
Artigos
17181920
IRC • Coleta: 2.000,00 x 17% = 340,00 € (taxa: art.º 87º, n.º 2 do CIRC)
(SUQ) • PEC: 75.000,00 x 1% = 750,00 è Considerar 1.000 € – valor mínimo do
PEC19 (Art.º 106º do CIRC)
• Tem uma viatura ligeira de mercadorias, tributada autonomamente a 10%20
(Art.º 88º, nº 3, al. a) do CIRC): 2.380,38 x 10% = 238,04 €
17 Agregado familiar composto por dois sujeitos passivos, sem dependentes, objeto
anos de atividade, como se trata de um benefício temporário não vamos tê-lo em consi-
deração – art.º 106º, nº 10 do CIRC.
20 Valor da viatura ≤ a 25.000,00 €.
98
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
21
Duas vezes a dedução específica da categoria A – art.º 25º, nº 1, al. a) do CIRS.
22
Continua a aplicar-se o mínimo de existência uma vez que o montante dos rendi-
mentos de capitais englobados é muito reduzido, pelo que se mantém o rendimento a ser
constituído essencialmente por rendimentos por conta de outrem (ver art.º 70º do CIRS).
99
Artigos
23
Este valor é meramente indicativo.
101
Artigos
24
Duas vezes a dedução específica da categoria H – artº 53º, nº 1 do CIRS.
25
Agregado familiar composto por dois sujeitos passivos, sem dependentes, sujei-
tos a tributação conjunta. O mesmo se repete nas hipóteses 2 e 3.
26 Idem.
28
Dedução específica da categoria H – art.º 53º, nº 1 do CIRS.
103
Artigos
Pela análise dos dados do quadro 10, deduz-se que a hipótese mais
vantajosa é a 1ª, isto é, a atividade como ENI. Contudo, não se denota
uma diferença substancial entre a hipótese 1 e 3 para podermos afirmar
que há uma verdadeira vantagem de uma em relação à outra, importa aqui
relevar algumas diferenças não fiscais, como a questão da responsabili-
dade social na tomada de decisão. Este resultado deve-se essencialmente
ao facto de não haver encargos com remunerações para integrar nos gastos
da sociedade.
Sabe-se, ainda, que Xing não tem nenhuma viatura afecta à sua
atividade.
No quadro 12 apresentamos os cálculos das três hipóteses do caso
prático nº 4 e no quadro 13 o resumo dos valores totais a suportar por Xing
em cada uma das hipóteses.
29
Caso fossem contabilizados, os mesmos não seriam aceites em sede de IRS, como
custos da atividade – Artº 33º, nº 1 do CIRS).
30 Não se aplica a divisão do rendimento coletável por 2 por se tratar de um único
32
Não faz uso do coeficiente familiar (não se aplica a divisão do rendimento cole-
tável por 2) por se tratar de um só sujeito passivo sem dependentes – art.º 69º do CIRS – o
mesmo se repete nas hipóteses 2 e 3.
33 Não faz uso do coeficiente familiar (não se aplica a multiplicação do imposto
calculado por 2) por se tratar de um só sujeito passivo sem dependentes – art.º 69º do
CIRS – o mesmo se repete nas hipóteses 2 e 3.
106
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
O que não é possível como ENI, pois a aceitação fiscal é vedada pelo art.º 33º
34
do CIRS.
107
Artigos
5. CONCLUSÕES
Referências
A concordata tributária:
um imperativo no Direito Tributário português
RESUMO
Palavras chave:
Globalização
Incerteza
Concordata tributária
Cobrança de impostos
ABSTRACT
Keywords:
Globalization
Uncertainty
Tax settlement
Tax collection.
SUMÁRIO
tish Tax Review, n.º 4, 1994, pág. 380 a 393 e Simon James/Ian Wallschutzky, Tax
Law improvement in Australia and the UK: the need for a strategy for simplification, in
Fiscal Studies, Vol. 18, n.º 4, 1997, pág. 445 a 459.
114
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
ciência e Justiça do Sistema Fiscal (Coord. por António Carlos Santos e António
Ferreira Martins), pág. 586, disponível em: http://www.min-financas.pt/inf_fiscal/
GPFRelatorioGlobal_VFinal.pdf, escreveu-se: “…levando a que, nem a Administração
Tributária, nem os contribuintes, nem mesmo os próprios operadores judiciários, saibam
quais e como as aplicar”. Ou seja, a falta de clareza das normas tributárias provoca um
efeito sui generis, de modo que nem os seus próprios destinatários conseguem apreender
de forma clara e inequívoca o seu conteúdo.
3 O que dificulta ao contribuinte a compreensão dos próprios actos que lhe são
la resolución…, ob. cit., pág. 152 e Eva Gil Cruz, Las actas con acuerdo en el…, ob.
cit., pág. 140.
10 José Casalta Nabais, Direito Fiscal, 1.ª edição, Almedina, Coimbra, 2000,
pág. 209.
117
Artigos
Massanet, La eficacia de la voluntad de las partes…, ob. cit., pág. 220 a 222.
12 Anotam assim Diogo Leite Campos/Benjamim Silva Rodrigues/Jorge Lopes
13
Fernando Serrano Antón, La terminación convencional de procedimientos…,
ob. cit., pág. 67: “…tan sólo se podría exigir que el legislador defina con suficiente preci-
sión los supuestos y el alcance de este mecanismo de solución de conflictos”.
14 Neste sentido, afirma que este crescente quadro de complexidade económico-
tração a partir de standards legislativos, circunstância que leva à atracção por conceitos
jurídicos indeterminados.
15 Nesta linha doutrinal encontra-se María Luísa González-Cuellar Serrano,
Los procedimientos tributarios: su terminación transaccional, Colex, 1997, pág. 147 a 159.
120
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
crédito tributário é reconhecida pela doutrina nacional. Nesse sentido, v. Nuno Sá Gomes,
Lições de Direito Fiscal, Volume II, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, n.º 134, Lis-
boa, 1985, pág. 124 a 126.
121
Artigos
19
Um dos objectivos que conduziu à previsão de tais institutos nas ordens jurídicas
italiana e espanhola foi precisamente a estabilização dos índices de litigância tributária
e o incremento da cobrança de dívida tributária. V. Eva Andrés Aucejo, La resolución
alternativa de conflictos tributarios en Italia, Instituto de Estudios Fiscales, Madrid,
2008, pág. 42 e 43. Embora, a nosso ver, o fundamento da consagração de tais institutos
encontrar-se-á na Justiça Fiscal e não no fim deflacionário.
122
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
conflitos tributários. Novas tendências dogmáticas, Núria Fabris, Porto Alegre, 2016,
pág. 358 a 396.
123
Artigos
21
María Luisa González-Cuéllar Serrano, Los procedimientos tributarios:…,
ob. cit., pág. 102.
124
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
25
Eva Gil Cruz, Las actas con acuerdo en el...,ob. cit., pág. 249.
26
Eva Gil Cruz, Las actas con acuerdo en el...,ob. cit., pág. 306.
126
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
27 Eva Gil Cruz, Las actas con acuerdo en el...,ob. cit., pág. 354 e Yolanda
Martínez Muñoz, Las actas con acuerdo en la nueva LGT, Marcial Pons, Madrid,
2004, pág. 197.
127
Artigos
5. CONCLUSÕES
Bibliografia
Manuel Faustino*
Sumário:
Comentário
1. Não tem sido simples nem fácil, para os sujeitos passivos de IRS,
a denominada fase de comprovação dos rendimentos auferidos, das dedu-
ções e de outros factos ou situações mencionados na respetiva declaração,
sempre que a Autoridade Tributária e Aduaneira o exija1, quando nela
está em causa, designadamente, a tão pouco discutida questão do rein-
vestimento do valor de realização. Referimo-nos, preponderantemente,
à Categoria G e ao facto que, juridicamente, desta forma foi conceptua-
lizado como pressuposto da delimitação negativa de incidência, quanto
a mais-valias imobiliárias, consagrada no n.º 5 do artigo 10.º do Código
*
Jurista e Consultor Fiscal.
1
Cfr. n.º 1 do artigo 128.º do Código do IRS.
134
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
2
Pelos seguintes diplomas: DL 206/90, de 26/6; L 10-B/96, de 23/3; L 3-B/2000, de
4/4; L 30-G/2000, de 29/12; L 109-B/2001, de 27/12; DL 211/2005, de 7/12; DL 361/2007,
de 2/11; L 64-A/2008, de 31-12; e L 82-E/2014, de 31/12.
3 Nas modalidades de não tributação total ou parcial.
4 Matéria que naturalmente tem a ver com a tributação das mais-valias e o efeito
de imobilização (lock-in effect), tema que foi magistralmente tratado por JOSÉ XAVIER
DE BASTO em Imposto de Mais-Valias e Efeito de Imobilização, in Boletim de Ciências
Económicas, Suplemento ao Boletim da Faculdade de Direito, Volume XIV, Faculdade de
Direito, Coimbra, 1971, pp. 123/157 e cuja leitura vivamente se aconselha.
5 Se por capitais próprios, se por capitais alheios e, muito menos, pelo estabeleci-
mento de uma relação causal entre o “valor” ou o “produto” da realização do bem alienado
e o pagamento do preço do valor do bem em sua substituição e com finalidade, utilidade
ou afetação equivalentes.
6 É o que dispõe o artigo 48.º do Código do IRC, na sua atual redação, subordinada
sificado como ativo não corrente detido para venda, ou em consequência de indemni-
zações por sinistros ocorridos nestes elementos, é considerada em metade do seu valor,
quando:
a) O valor de realização correspondente à totalidade dos referidos ativos seja rein-
vestido na aquisição, produção ou construção de ativos fixos tangíveis, de ativos intan-
gíveis ou, de ativos biológicos não consumíveis, no período de tributação anterior ao da
realização, no próprio período de tributação ou até ao fim do 2.º período de tributação
seguinte;
7 Em virtude da alteração introduzida pela L 1009-B/2001, de 27/12.
rogamo-nos por que ruas, senão as da amargura, se passeia, nesta solução o estruturante
princípio da imposição medida pela capacidade contributiva pessoal. E porque ruas, senão
as da arrogância e da petulância, anda a justiça na tributação.
137
Comentários de Jurisprudência
ATIVO PASSIVO
ATIVO PASSIVO
10
Desde as que beneficiam o devedor (v.g., taxa de juro mais baixa), às que podem
beneficiar a própria instituição de crédito prestamista (v. g., plafonds de crédito e de risco
de crédito).
11 Para as autoridades fiscais parece, face à sua conduta normal, que tudo o que um
contribuinte faça, sobretudo se se tratar de pessoa singular e no âmbito do IRS, tem como
139
Comentários de Jurisprudência
finalidade a fraude e a evasão fiscais, o que não é, de modo nenhum, a perspetiva consa-
grada na Lei Geral Tributária de 1999, nem é a nossa realidade. É tempo de se acabar com
esta visão misógina da postura das pessoas singulares perante o IRS.
12 Com os quais, na “outra margem do rio” e nos inúmeros processos de inspeção
tributária levados a cabo ao setor de risco “construção civil”, amiudadamente foram esses
mesmos contribuintes confrontados e “aconselhados”, mesmo quando a caducidade já
tinha passado um pano sobre o assunto, “a pagar a sisa”, não fosse o diabo tecê-las. Ou
seja, “deste lado do rio”, do lado das correções sugeridas ou impostas pelas autoridades
fiscais, o empréstimo até “contou” como valor de aquisição. Logo, se o “preço declarado”
pela via sugestionada ou imposta tivesse sido “o real”, até nem deveria, provavelmente,
ter havido problemas com o reinvestimento e todas as mais-valias apuradas teriam bene-
ficiado da delimitação negativa da incidência. Mas, para isso, já não houve procedimento
corretivo. É, como sempre, a AT a “agir como um todo”, vinculada a uma certa perspetiva
do princípio da legalidade. Ou “as malhas que o império tece”.
140
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
13
Veja-se o Acórdão do STA de 16/01/2013, Recurso n.º 1124/11, em que foi Rela-
tor o Venerando Conselheiro Lino Ribeiro,
14 Como, de resto, o próprio Comentário citado no, aliás, douto Acórdão, retirado
7. Já vai, porém longo o introito. Não eram estes os aspetos que,
no, aliás, douto Acórdão que comentamos, até porque nele não estão em
causa, queríamos obviamente focar. Nem, por estranho que pareça, a
decisão jurisprudencial que nele foi proferida. Discordando dela, pelas
razões que adiante se explicitarão, aceitamos que o coletivo do TCA Sul
se tenha pronunciado nos termos em que o fez. Apenas entendemos que,
sendo pública sobre a matéria a posição, de resto diferente, de um Órgão
Constitucional Independente – o Provedor de Justiça17 – sobre a questão
decidenda, talvez devesse ter-lhe feito menção, nem que fosse por mera
cortesia, e justificar por que razão a ela não aderia. Parece-nos que seria
um procedimento normal entre Órgãos independentes, de génese consti-
tucional. E que, não retirando qualquer legitimidade à decisão proferida,
não deixaria, porém, de contribuir para o prestigio do Tribunal, do Relator
e do Coletivo que julgou a causa.
8. O que aqui pretendemos comentar, sem podermos deixar de, por
um lado, mostrar a nossa perplexidade e, por outro, lamentar, é a posição
adotada no processo pela Representação da Fazenda Pública que interpôs
o recurso que deu origem à decisão. E fazemo-lo porque hoje é pacífica a
posição que prefigura a Fazenda Pública como “parte” no processo judicial
9. É verdade que, à data dos factos, ainda a AT não havia adotado a
posição que agora a Representação da Fazenda contrariou. Mas já a havia
adotado quando interpôs o recurso. E, não tendo ocorrido qualquer alte-
ração legislativa na norma, ou no segmento da norma, cuja interpretação
estava em causa, entre a data da verificação dos factos e a data do recurso,
entendemos que não existia qualquer obstáculo, pelo contrário impunha-
-se, que a Representação da Fazenda Pública se abstivesse de recorrer
no caso em apreço, face à posição adotada entretanto, perante a questão
que, quanto à matéria de fundo (o que ou quanto deve considerar-se rein-
vestido quando, alienado o imóvel que está afeto à habitação própria e
permanente do sujeito passivo e do seu agregado familiar, que é bem
próprio do alienante, o reinvestimento do valor de realização é efetuado
na aquisição de um imóvel pelo alienante e pela pessoa que com ele vive
em união de facto, aquisição efetuada portanto segundo o regime jurí-
dico da compropriedade) havia sido colocada à Direção de Serviços do
IRS, pelo Provedor de Justiça, através da Recomendação n.º 18/A/2012,
no Processo 5515/10 (A2).
18 Nos termos do n.º 1 do artigo 15.º do CPPT compete ao Representante da Fazenda
Pública representar a administração tributária no processo judicial tributário e nos termos
do n.º 2 recorrer e intervir em patrocínio da Fazenda Pública na posição de recorrente ou
recorrida. E, com maior expressividade, nos termos do artigo 53.º do ETAF, a Fazenda
Pública defende os seus interesses nos tribunais tributários através de representantes
seus. Ora, a defesa dos “interesses” da Fazenda Pública faz-se no quadro da vinculação
ao princípio da legalidade e da observância dos entendimentos administrativos sobre o
sentido e alcance da lei emanados pelos órgãos internos da Autoridade Tributária e Adua-
neira competentes para tal. Nesse sentido, indubitavelmente, a Representação da Fazenda
Pública não é, em abstrato, um “órgão independente”.
144
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Exm.º Senhor
Diretor Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira
R. da Prata, nº 10 – 2º
1149-027 – LISBOA
(Art.ºs 8.º e 20.º, n.º 1, alínea a), da Lei n.º 9/91, de 9 de abril[1])
I
– Enunciado –
1. A., NIF xxx xxx xxx, dirigiu-se ao Provedor de Justiça relatando
uma situação para a boa resolução da qual gostaria de contar com a boa
colaboração de V. Ex.ª.
19
Disponível em http://www.provedor-jus.pt/?action=5&idc=67&idi=15123
145
Comentários de Jurisprudência
II
– Apreciação –
22. Permita V. Ex.ª que conclua, deste modo, e salvo melhor opinião,
que nada autoriza o intérprete (administração fiscal, no caso) a estabelecer,
por recurso às normas interpretativas comuns – tanto mais que por recurso
ao direito civil, um dos ramos de direito mais longínquo do direito fiscal[10]
–, como pressuposto para exclusão integral da incidência da tributação
dos ganhos obtidos, que a propriedade do imóvel alienado houvesse de
pertencer a ambos os membros do casal, não se vendo aliás como possa,
tão-pouco, «ficcionar»[11] «um reinvestimento na aquisição da propriedade
do novo imóvel com uma percentagem correspondente a 50%.»
24. Sem prejuízo do que ficou dito, cremos ser nosso dever chamar
a atenção de V. Ex.ª para que no âmbito da apreciação que venha a ser
levada a cabo sobre este assunto, seja tida em consideração a possível
inconstitucionalidade da aplicação da norma constante do n.º 5 do artigo
10.º do Código do IRS, tal como foi efetuada pela Direção de Serviços
de IRS.
Recomendo a V. Ex.ª:
O PROVEDOR DE JUSTIÇA,
[1]
Na redação dada pelas Leis n.ºs 30/96, de 14 de agosto, e 52-A/2005, de
10 de outubro.
[2] Vide António Fernando Brás Carlos in «Impostos – Teoria Geral». Editora
nismo «1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de
dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade
pessoal e a privacidade familiar (...).
[8] Contrariando assim as normas contidas na alínea f) do nº 2 do artigo 67º
mentar», determina: «De acordo com a natureza das matérias, às relações jurídico-
-tributárias aplicam-se, sucessivamente: a) A presente lei; b) O Código de Processo
Tributário e os demais códigos e leis tributárias, incluindo a lei geral sobre infra-
ções tributárias e o Estatuto dos Benefícios Fiscais; c) O Código do Procedimento
Administrativo e demais legislação administrativa; d) O Código Civil e o Código
de Processo Civil.
[11] Até porque uma «ficção jurídica» é apenas «uma figura jurídica sem
[12]
E contra a opinião por exemplo de Casalta Nabais que considera redun-
dante o recurso à norma constante do nº 3 do artigo 5º da Lei Geral Tributária que
determina que «persistindo a dúvida sobre o sentido das normas de incidência a
aplicar, deve atender-se à substância económica dos factos tributários» (obra citada,
pág. 214 in fine).
[13] Obra citada, pág. 413.
Moreira, Volume I, Coimbra Editora – 4ª Edição, nota ao artigo 103º, pág. 1091.
Comentário
1. Introdução
1 No mesmo sentido, para as mais-valias, veja-se o artigo 43.º, n.º 1, que igualmente
se refere a «ano». Igualmente, mas agora no âmbito declarativo, vide artigo 57.º, n.º 1 para
a referência «ano anterior». Muitos outros exemplos existem.
158
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
2 É certo que o sujeito passivo fica obrigado a manter o novo período anual nos 5
períodos de tributação imediatos, mas trata-se de uma norma que visa, tão somente, dis-
ciplinar a vontade dos sujeitos passivos e trazer ao sistema alguma consistência. Assim,
um sujeito passivo pode mudar de período quantas vezes pretender, desde que o mantenha
por 5 períodos seguidos.
3 Casos desde há muito conhecidos pela AT e que mereceram, mesmo no âmbito da
Ora, tendo por base esta ordenação de normas, não se afigura correto
aceitar uma solução interpretativa segundo a qual as normas acessórias
sejam interpretadas de forma a permitirem a consumação de desvios às
normas que fixam os limites máximos do prazo de caducidade. Na verdade,
e como já acima ficou referido, as únicas exceções à regra geral dos 4 anos
do n.º 1 do artigo 45.º da LGT constam dos n.os 2, 3 e 7. Assim sendo, não
podemos concordar com o sentido da decisão do Acórdão do TCA Sul,
de 9 de novembro de 2011, no processo n.º 03637/09, na medida em que
este interpreta a letra do n.º 4 do artigo 45.º da LGT como impondo que,
em todos os casos de IRC – ie., ainda que o período seja diferente do ano
civil –, o prazo de caducidade se conta a partir do termo do ano civil em
que se verificou o fato tributário, permitindo um ilegal alargamento do
prazo de caducidade, tanto mais alargado, naturalmente, quanto mais cedo
no ano civil terminar o período fiscal.
Neste sentido, comece-se por observar também que a norma do n.º 4
do artigo 45.º da LGT reconduz-se à regra que já constava na parte final do
n.º 1 do artigo 33.º do Código de Processo Tributário (CPT) e que já antes
se encontrava definida, embora com formulação diferente, em diversos
vetustos códigos de impostos já extintos.4 Ou seja, a redação da norma
do n.º 4 do artigo 45.º da LGT é tudo menos contemporânea, tendo sido
redigida inicialmente muito antes (décadas antes!) das importantes alte-
rações de 2014 relativamente à facilitação da adoção de um período não
coincidente com o ano civil. Pode-se, pois, dizer, sem receito de equívoco,
que tal n.º 4 não está pensado (ie., não é esse o programa da norma) para
os casos em que tal coincidência não existe, na medida em que foi gizado
e consagrado num tempo em que a coincidência entre período e ano civil
era um dogma semelhante ao que ainda se verifica hoje na tributação do
rendimento das pessoas singulares. Por outras palavras, a norma do n.º 4
do artigo 45.º da LGT foi construída num ambiente em que o fato gerador
de imposto era, quase sem exceções, o termo do ano civil. Sucede que,
atualmente e como vimos acima, é possível de forma unilateral mudar-se
o período fiscal e, com isso, a data de produção do fato gerador de imposto
(entendido, se assim é possível, como a data em que o fato tributário ocorre
no IRC, com a conhecida exceção da retenção na fonte a título definitivo).
4
Tal como bem recorda Joaquim Conçalves no texto «A Caducidade Face ao Direito
Tributário» in VV. (Lisboa,1999) Problemas Fundamentais do Direito Tributário, p. 244.
161
Comentários de Jurisprudência
5 José Maria Pires coord. VV. (Coimbra, 2015) Lei Geral Tributária Anotada e
45.º da LGT, antes um prazo que pode ser alargado até um máximo de 4
anos e 11 meses… Ora, num contexto de contínuo aumento de eficiência
da AT, mal se compreende que a circunstância – cada vez mais vulgar no
contexto posterior à Reforma de 2014 – de não coincidência de período e
ano civil conduza a um aumento do prazo máximo geral da caducidade,
com o consequente acrescento de incerteza jurídica (princípio que, para-
doxalmente, visa ser tutelado precisamente pelas normas sobre caduci-
dade). Aliás, veja-se que já na longínqua autorização legislativa para a
publicação da LGT se previa a possibilidade de «encurtar [os prazos de
caducidade] de modo consentâneo com as possibilidades e o aumento
de eficiência da Administração».7 Ou seja, evidentemente, a postura do
legislador é a de que ao aumento de eficiência da AT corresponderá, na
medida do possível, a uma redução – e nunca ao aumento – dos prazos
de caducidade (com a exceção dos casos respeitantes a fatos tributários
conexos com jurisdições sujeitas a um regime fiscal mais favorável, aspeto
que decorre, de resto, mais de compromissos de política económico-fiscal
do que de necessidades técnicas).
Importa ainda atentar a um outro importante tema que revela a neces-
sidade de clarificação e interpretação a propósito do que temos vindo a
escrever, respeitante à dedução dos prejuízos fiscais, matéria para a qual é
essencial a decorrência temporal, seja ela em períodos ou em anos civis. A
este respeito note-se que o legislador não hesitou em privilegiar o conceito
de período, tanto na determinação do período denominado de ‘reporte’
(n.º 1 do artigo 52.º do Código do IRC) como nos limites à dedução
(n.os 2, 3, e 8 do artigo 52.º). Talvez por ser um assunto com relevância vital
na determinação do imposto a pagar, o legislador consagrou um regime
bastante exaustivo – o mesmo sucedendo no artigo 71.º no regime espe-
cífico aplicável aos grupos de sociedade – utilizando sempre a expressão
‘período’ e evitando as referências a ‘ano’. Ou seja, quando falamos de
prejuízos, reporte e respetiva dedução, falamos sempre de períodos e assim
deve ser pois, como vimos atrás, e brincando com as palavras, por vezes
só por coincidência haverá coincidência entre período e ano civil. Se se
atribui tanta relevância ao ‘período’, em detrimento de ‘ano’, no que toca
ao regime aplicável aos prejuízos, é admissível que os sujeitos passivos
pressuponham que a AT e os tribunais possam dar a mesma relevância em
7
Assim, artigo 2.º, § 17, da Lei 41/98, de 4 de agosto (cit.).
163
Comentários de Jurisprudência
8
Independentemente da forma como se interprete a referência, na mesma norma, a
«quatro anos», admitindo-se mesmo como defensável a posição de que, nos casos de não
coincidência do período com o ano civil, se possa entender como referindo-se a ‘quatro
períodos’ (e não a quatro períodos anuais, ou seja, a quatro intervalos de 365 dias) numa
lógica de que o regime dos prejuízos se encontra assente, precisamente, no conceito de
‘período’ e não de ‘anos’.
CASO BARLIS – A ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA MAIS PAPISTA
QUE O PAPA
1. Os factos
2. O Direito
Directiva veio reformular o texto da Sexta Directiva (trata-se de uma reformulação basi-
camente formal, atendendo ao facto de o seu texto se encontrar excessivamente denso,
dadas as sucessivas alterações que lhe foram introduzidas desde a sua aprovação). Com a
reformulação passou a ter 414 artigos (tinha 53). Note-se, todavia, que foram revogadas
várias directivas de IVA, pelo que poderemos passar a designar a “nova” Directiva, abre-
viadamente, como Directiva IVA (a Directiva base do sistema comum vigente).
169
Comentários de Jurisprudência
essencial, ao artigo 22.°, n.° 3, alínea b), sexto e sétimo travessões, da Sexta Directiva,
na sua versão resultante do seu artigo 28.°-H (6), na sua versão alterada pela Directiva
2001/115/CE.
170
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
figurar nas faturas, bem como algumas regras comuns relativas ao recurso
à faturação eletrónica e à armazenagem eletrónica das faturas, bem como
à autofaturação e à subcontratação das operações de faturação.”
No nosso Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado (CIVA), o
artigo 36.°, n.° 5, alínea b), prevê que as facturas devem conter a “denomi-
nação usual […] dos serviços prestados, com especificação dos elementos
necessários à determinação da taxa aplicável”. Só quando uma factura
satisfaz, designadamente, estes requisitos previstos no artigo 36.°, n.° 5,
alínea b), do CIVA, existe, nos termos do artigo 19.°, n.° 2, alínea a), e
n.° 6, do CIVA, o direito à dedução do IVA mencionado na factura.
Esta norma representa a transposição do disposto no artigo 178.°,
alínea a), da Directiva IVA, que determina que o destinatário de uma
prestação só pode exercer o seu direito à dedução do IVA se está na posse
de uma factura. Resulta da jurisprudência assente do TJUE que esta
exigência visa garantir a cobrança do IVA e o seu controlo pela Adminis-
tração Fiscal.7 A dedução só é concedida se com a factura a Administração
Fiscal pode, ao mesmo tempo, ter acesso a um documento que, devido às
menções obrigatórias previstas no artigo 226.° da Directiva IVA, contém
as informações necessárias para também poder garantir o correspondente
pagamento do IVA pelo emitente da factura. A factura constitui, assim,
uma espécie de seguro para o fisco, na medida em que estabelece, de certa
maneira, um nexo entre a dedução do IVA e o pagamento deste imposto8.
7
Veja-se Acórdão de 29 de Abril de 2004, Caso Terra BaubedarfHandel (Proc.
C152/02, Colect., p. I-268, n.° 37).
8 Veja-se, neste sentido, também, o Acórdão de 31 de Janeiro de 2013, Caso Stroy
trans (Proc. C642/11, Colect., p. I-54, n.ºs 31 e 32) e o Acórdão de 31 de Janeiro de 2013,
Caso LVK56 (Proc. C643/11, Colect., p. I-55, n.ºs 35 e 36).
171
Comentários de Jurisprudência
Clotilde Celorico Palma, “IVA – Algumas notas sobre os limites das exclusões do direito
à dedução”, Fisco n.ºs 115/116, Setembro de 2004.
174
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Colect., p. I-00081.
13 Veja-se, a este propósito, nomeadamente, o Acórdão de 14 de Fevereiro de 1985,
Caso Rompelman, Recueil 1985, p. 00655. Nos Casos Lennartz (Acórdão de 11 de Julho
de 1991, Proc. C-97/90, Colect, p. I-03795), Inzo (Acórdão de 29 de Fevereiro de 1996,
Proc. C-110/94, Colect., p. I-857), e Gabalfrisa (Acórdão de 21 de Março de 2000, Proc.s
apensos C-110/98 a C-147/98, Colect., p. I-1577), suscitaram-se questões análogas às do
Caso Rompelman, designadamente o âmbito de aplicação do conceito de actividade eco-
nómica e a inclusão dos actos preparatórios neste conceito, tendo o Tribunal confirmado
esta jurisprudência. Mais recentemente veja-se, nomeadamente, o Acórdão de 22 de Março
de 2011, Caso Klub Ood, Proc. C-153/11, ECLI:EU:C:2012:163.
175
Comentários de Jurisprudência
17 Veja-se, neste sentido, Acórdão de 8 de Março de 2001, Caso Bakcsi, Proc.
C415/98, Colect., p. I1831, n.° 29. A questão de saber se o sujeito passivo agiu nessa
qualidade é uma questão de facto que deve ser apreciada tendo em conta todos os dados
da situação em causa.
18 Acórdão de 8 de Março de 1988, Caso Intiem, Proc. 165/86, Colect., p. 1471,
n.º 14.
19 Veja-se, neste sentido, Caso Rompelman, já referido, n.° 22, e Acórdão de 23 de
Abril de 2009, Caso Puffer, Proc., C460/07, Colect., p. I3251, n.° 47.
176
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Colect., p. I.-7907, n.ºs 63 e 64, de 21 de Outubro de 21010, Caso Nidera, Proc. C-385/09,
Colect., p. I-0385, n.° 42, de 22 de Dezembro de 2010, Caso Dankowski, C-438/09,
Colect., p. I-14009, n.° 35, e Acórdão de 12 de Julho de 2012, Caso SEM, Proc. C-284/11,
ECLI:EU:C:2012:458, n.º 63.
21 Veja-se Acórdãos de 18 de Dezembro de 1997, Casos Molenheide e o, Proc.
dos serviços prestados, dado que também os regimes especiais sobre o lugar da pres-
tação, a taxa de imposto, as isenções, etc., dependem frequentemente do conteúdo de
uma prestação. V., também, conclusões do advogadogeral F. G. Jacobs apresentadas no
Caso Bockemühl (Acórdão de 1 de Abril de 2004, Proc. C90/02, Colect., p. I-03303,
n.° 73).
26 Cfr. Conclusões da Advogada Geral, apresentadas a 18 de Fevereiro de 2016 no
27
Idem, n.º 50.
184
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
de vários serviços jurídicos, mas não datas concretas para cada serviço
prestado. Contudo, não resulta das indicações do órgão jurisdicional de
reenvio que a prestação de serviços tivesse unicamente por conteúdo estar
à disposição durante um determinado período para prestações gerais de
consultadoria. Pelo contrário, como ressalta, deve partirse do princípio de
que deviam ser facturados serviços prestados em concreto. Como nota,
é certo que, nos termos do artigo 223.° da Directiva IVA, é admissível
passar uma factura que abrange várias prestações de serviços separadas.
Mas isto não responde à questão de saber se nesta factura recapitulativa
deve ser indicada a data de cada serviço prestado ou se basta a menção do
período durante o qual foram prestados vários serviços. Neste contexto,
sublinha que importa de novo atender à finalidade da menção. Para
controlar o pagamento do imposto em causa pelo seu emitente, é também
necessária a data da prestação de serviços. Com efeito, esta data – e não,
por exemplo, a data de emissão da factura – determina em princípio, nos
termos do artigo 63.° da Directiva IVA, quando ocorreu o facto gerador
do imposto na aceção do artigo 62.°, n.° 1, da mesma Directiva e, deste
modo, também quais as normas fiscais aplicáveis ratione temporis a esta
operação. Mas, “69. Contudo, o artigo 64.°, n.° 1, da Directiva IVA prevê
um regime especial para prestações de serviços que «deem origem a [...]
pagamentos sucessivos», o que parece ser aqui o caso. Nesta situação,
o facto gerador do imposto ocorre não na data da prestação de cada
serviço, mas no termo do período ao qual a faturação se refere. Assim,
nesta hipótese, para controlar o pagamento do imposto devido, não são
necessárias as datas de todas as prestações de serviços efetuadas, mas
apenas a menção de um período. 70. No presente caso, isto significa que
a menção «serviços jurídicos prestados desde determinada data até ao
presente» preenche as condições do artigo 226.°, n.° 7, da diretiva IVA,
ao passo que a menção «serviços jurídicos prestados até ao presente»,
que não indica a data do início do período de faturação, não preenche
essas condições.”
Nestes termos, conclui que as facturas em causa não satisfazem,
em primeiro lugar, as exigências do artigo 226.°, n.° 6, da Directiva IVA
quanto à menção da “extensão” dos serviços prestados. Em segundo lugar,
não satisfazem as exigências desta norma quanto à menção da “natureza”
dos serviços prestados na medida em que o direito português prevê uma
taxa reduzida apenas para determinados serviços jurídicos e, em terceiro
186
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
28
Ibidem, n.º 71.
187
Comentários de Jurisprudência
29
Ibidem, n.ºs 89 a 91.
188
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
30
Conclusões do TJUE no Caso Barlis, cit., n.º 26.
31
Idem, n.º 27.
32 Ibidem, n.ºs 33 e 34.
190
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
36 Veja-se, neste sentido, Acórdão de 18 de Julho de 2013, Caso EvitaK, Proc.
4. Conclusões
Conclusões do TJUE no Caso Barlis, cit., n.ºs 47 e 48. Veja-se, neste sentido,
39
sentido que ao valor fixado mediante adopção dos critérios do artigo 15.º
do CIS se deduza o valor da participação social que a fiadora detém da
sociedade executada”.
IMPOSTO AUTOMÓVEL
BENEFÍCIOS FISCAIS
Factos:
A Requerente, LDA. solicitou a constituição de Tribunal Arbitral
com vista à declaração de ilegalidade dos actos de liquidação adicional
de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), por referência aos períodos
de 2013.03, 2013.07 e 2013.11.
A Requerente é uma sociedade comercial por quotas e foi sujeita a
uma acção de inspecção desenvolvida pela Divisão Operacional do Sul
da Direcção de Serviços Antifraude Aduaneira, centrada no âmbito da
comercialização de gasóleo colorido marcado, com referência ao último
trimestre de 2013.
No âmbito dessa acção inspectiva foram detectadas facturas rela-
tivas a transmissões de gasóleo colorido e marcado sem que os abas-
tecimentos tivessem sido objecto de registo no terminal de pagamento
automático/point of sale. Os serviços de inspecção tributária detectaram
ainda que a empresa fornecedora havia solicitado a regularização desses
abastecimentos, não tendo a entidade responsável (DGADR – Coor-
denação Nacional do Gasóleo Agrícola) aceite os pedidos de regula-
rização.
Assim, foi considerado em dívida o valor resultante da diferença de
tributação aplicável ao gasóleo rodoviário normal em sede de Imposto
204
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Análise do Tribunal:
O Tribunal Arbitral identificou como questão controvertida a legali-
dade das liquidações adicionais de IVA incidentes sobre os valores de ISP
e de CSR adicionalmente liquidados, com referência a transmissões de
gasóleo colorido e marcado efectuadas em violação das regras da comer-
cialização deste produto,
Em concreto, o Tribunal Arbitral identificou como estando em
causa saber se a infracção às regras de comercialização de gasóleo colo-
rido e marcado tem como consequência a tributação das transmissões
desse produto à taxa normal de IVA e, bem assim, saber se no cômputo
da respectiva base tributável se inclui, ou não, o valor do ISP adicional-
mente liquidado ao proprietário ou responsável legal pela exploração dos
postos autorizados.
Na decisão da causa, o Tribunal Arbitral aderiu às conclusões
expressas em Decisão Arbitral de 11 de Junho de 2013, proferida no âmbito
do processo 145/2012-T,
Assim, entendeu o Tribunal Arbitral que a reacção legal à comercia-
lização irregular do gasóleo colorido e marcado existe no plano contra-
-ordenacional, à qual acresce a reacção em sede do ISP.
Contudo, para efeitos do IVA a lei não responsabiliza o proprie-
tário ou o responsável legal pela exploração dos postos autorizados pelo
205
Comentários de Jurisprudência
Factos:
O Requerente, pessoa singular, solicitou a constituição de Tribunal
Arbitral com vista à declaração de ilegalidade da liquidação do Imposto
sobre Veículos (ISV), efectuada através da alfândega.
O Requerente é um cidadão francês que transferiu, no ano de 2015,
a sua residência para Portugal. Aquando dessa transferência de residência,
trouxe consigo um veículo automóvel, adquirido em 2014, e cuja data de
primeira matricula se fixava em 30 de Outubro de 2013.
De acordo com a legislação aplicável, o Requerente, ao invés de
aplicar directamente a tabela de cálculo do imposto, solicitou que, fosse
empregue o método alternativo de avaliação, consignado no artigo 11.º
n.º 3 do Código do Imposto sobre os Veículos (CISV).
206
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Análise do Tribunal:
O Tribunal Arbitral identificou como questão controvertida a confor-
midade da legislação portuguesa relativa à tributação de veículos usados,
e em particular, o artigo 11.º n.º 3 do CISV, com o direito comunitário e
qual a relevância dos anos de uso do veículo para efeitos de cálculo do
imposto.
Após uma resenha histórica, tanto a nível legislativo, como jurispru-
dencial, o Tribunal principia por considerar que, ao abrigo da Constituição
da República Portuguesa, vigora em Portugal o princípio do primado do
direito internacional.
Não obstante, e pese embora a limitação decorrente da referida supre-
macia do direito internacional face ao direito interno, o legislador nacional
possui ainda alguma margem de conformação do imposto.
Esta questão torna-se mais latente quando, ao contrário de outros
impostos, em que há já uma harmonização ao nível da tributação, no
imposto sobre veículos matriculados noutro Estado Membro, rege, unica-
mente, o direito interno, não podendo, contudo esta legislação contrariar
os princípios em que assentam os Tratados.
O Tribunal considera ainda que, de facto, há algum afastamento da
legislação nacional face aos Tratados quando a actual tabela trata de forma
igual veículos que tenham mais de cinco anos de antiguidade, indepen-
dentemente de essa antiguidade, em concreto, ser de cinco anos e um dia
ou vinte anos.
De igual forma, é pouco sensata a desconsideração de qualquer factor
de desvalorização quando o veículo tenha menos de um ano.
Acresce que o TJUE considerou já, no acórdão n.º 200/2015 que
no que concerne aos veículos com menos de uma ano e mais de cinco,
207
Comentários de Jurisprudência
Factos:
O Requerente solicitou a constituição de Tribunal Arbitral para apre-
ciação da legalidade dos actos de liquidação de IRS, relativo ao exercício
de 2011.
208
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Análise do Tribunal:
O Tribunal Arbitral começou por pronunciar-se sobre a excepção dila-
tória referente à incompetência material do tribunal, porquanto, o pedido
de revisão não apreciou a legalidade do acto de liquidação de IRS do ano
de 2011. A este respeito, entendeu o Tribunal Arbitral que, não existem
209
Comentários de Jurisprudência
Factos:
A Requerente – “A..., S.A.” – solicitou a constituição de Tribunal
Arbitral peticionado a anulação dos actos de liquidação de Imposto sobre o
Valor Acrescentado e de Juros Compensatórios praticados com referência
a períodos de tributação dos anos de 2010, 2011 e de 2012, no montante
total de € 19.690,27.
A Requerente, no âmbito da sua actividade económica, transmitiu
bens a clientes – sociedades B..., S.A. e C, S.I. – cuja sede se localizava
em Espanha e, bem assim, para efeitos de IVA e do regime de tributação
das aquisições intracomunitárias de bens. Ora, o transporte relativo aos
bens transmitidos era efectuado pelo adquirente e o respectivo pagamento
ocorria até à data da expedição.
No âmbito dos procedimentos adoptados a Requerente solicitava à
empresa responsável pelo transporte, a entrega de cópia dos CMR, após a
recepção dos bens transmitidos, com o objectivo de fazer prova objectiva
da transmissão dos bens e do respectivo destino, contudo a Administração
tributária não veio a considerar.
Alega, assim, a Requerente ter cumprido com os deveres de dili-
gência que se impunham para assegurar a verificação dos pressupostos
de isenção do imposto, razão pela qual os actos de liquidação são ilegais
por violação do princípio da proporcionalidade dado que se impõe um
ónus probatório desrazoável.
Todavia, a Administração tributária considerou que, da análise prévia
ao sistema VIES apurou-se que a Requerente efectuou transmissões intra-
comunitárias de bens recolhidos pelas autoridades espanholas, pelo que
se constatou que nos anos de 2010 a 2011, estas empresas tiveram vários
aspectos comuns, como a morada e sócios, assim como a falta de estru-
tura física e humana, bem como para o incumprimento das respectivas
obrigações declarativas, como a emissão de facturas.
Mais, a Administração tributária verificou existirem diversas incon-
gruências nos CMR apresentados, nomeadamente por não existir evidência
211
Comentários de Jurisprudência
Análise do Tribunal:
Relativamente à questão decidenda o Tribunal arbitral apreciou a
legalidade dos actos de liquidação de imposto atendendo à verificação
dos pressupostos relativos à isenção nas transmissões.
Ora, a este respeito o Tribunal considerou que, de acordo com o
disposto no Regime do IVA nas Transmissões Intracomunitárias, a isenção
de imposto depende da verificação de pressupostos, como: i) os bens serem
vendidos por sujeito passivo singular ou colectivo que realize transmis-
sões de bens ou prestações de serviços que conferem direito a dedução
total ou parcial do imposto; ii) os bens serem expedidos ou transportados
pelo vendedor, pelo adquirente ou por um terceiro por conta destes;
iii) os bens serem fisicamente transportados do Estado-Membro da resi-
dência do vendedor para outro Estado-Membro; iv) o adquirente estar
registado para efeitos de IVA no outro Estado-Membro; v) o adquirente
ter utilizado o seu número de registo de IVA; e, vi) o adquirente esteja
abrangido por um regime de tributação das aquisições intracomunitárias
de bens.
Assim, tendo em consideração o entendimento sufragado pela Admi-
nistração tributária – não existir evidência da saída dos bens do território
nacional, com destino a outro estado-Membro – o Tribunal considerou
ser essencial analisar, primeiramente, a repartição do ónus da prova por
referência à isenção, em causa. Neste sentido, concluiu que incumbia à
Administração tributária abalar a referida presunção.
Por outro lado, considerou, também o Tribunal que, não existindo
norma especial sobre a forma de concretização da prova, a mesma pode
ser produzida através de qualquer meio em direito admitido (cfr. Acórdão
do Tribunal Central Administrativo Sul, de 7 de Junho de 2011, proferido
no Recurso n.º 4434/10).
212
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Factos:
A Requerente – A, Lda... – solicitou a constituição de Tribunal Arbi-
tral peticionando a anulação da liquidação adicional de IRC, no valor de
€ 112.375,32 e da respectiva liquidação de juros compensatórios no valor
de € 13.913,46, referentes ao exercício de 2009.
A Requerente tinha como actividade a Prestação de Serviços de
consultoria e apoio a todas as áreas financeiras, comerciais, industriais e
científicas, assim como a concepção e gestão do exercício das actividades
de construção civil e empreitadas e consultadoria de obras, comércio e
indústria de materiais de construção, comércio e indústria de decoração.
Ora a sociedade tinha capital social, no montante de € 260.000,00 repre-
213
Comentários de Jurisprudência
Análise do tribunal:
Relativamente à questão decidenda o Tribunal arbitral apreciou
a legalidade dos actos de liquidação de imposto atendendo à alegada
variação patrimonial positiva e, bem assim, ao ónus da prova.
Atenta a análise à prova produzida, o Tribunal considerou que rela-
tivamente à transferência bancária ocorrida no montante de € 400.000,00
214
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
ALEXANDRA PESSANHA
NUNO CUNHA RODRIGUES
SÍNTESE DE ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO
EUROPEIA EM MATÉRIA FISCAL DO TRIMESTRE
Factos:
O Sr. Guy Riskin e a Sra. Geneviéve Timmermans, residentes
fiscais na Bélgica, são detentores de acções numa empresa estabele-
cida na Polónia. Em 2009, a empresa distribuiu dividendos aos seus
accionistas, tendo sido aplicada uma taxa de imposto de 15% no
Estado da fonte, a Polónia. Já em 2012, a Administração fiscal belga
corrigiu a liquidação de imposto de rendimento relativa ao período de
tributação do ano de 2010, uma vez que os dividendos provenientes
da sociedade com sede na Polónia eram tributáveis na Bélgica à taxa
de 25%.
Gerou-se um litígio em torno da aplicação do artigo 23.º da Conven-
ção para evitar a Dupla Tributação celebrada entre a Bélgica e a Polónia,
que determina que o imposto pago na Polónia devia ser imputado no
imposto devido na Bélgica sob reserva da aplicação do direito belga. A
legislação fiscal belga apenas permitia a efectiva imputação do imposto
pago na Polónia no montante de imposto devido na Bélgica se os capi-
tais e os bens geradores dos dividendos em causa estivessem afectos na
Bélgica ao exercício de uma actividade profissional.
222
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Questão:
A única questão prejudicial admitida pelo TJUE, em prejuízo de uma
segunda considerada meramente hipotética, pergunta se a legislação fiscal
belga que autoriza implicitamente a dupla tributação de dividendos estran-
geiros pertencentes a uma pessoa singular residente na Bélgica, é compa-
tível com os princípios de direito da União consagrados nos Tratados, na
medida em que permite à Bélgica favorecer do modo que entender, conso-
ante as disposições do direito belga para as quais as Convenções de Dupla
Tributação remetam, os investimentos realizados num Estado terceiro
(Estados Unidos) ou num Estado-Membro da União Europeia (Polónia).
Apreciação do Tribunal:
O Tribunal estabelece como pontos prévios que i) está em causa
uma diferença de tratamento na tributação de dividendos com fonte num
Estado-Membro, a Polónia, e um Estado terceiro – e não um Estado-
-Membro – e ii) que é incontrovertido que a Convenção para evitar a
Dupla Tributação celebrada entre a Bélgica e a Polónia remete os concretos
termos da eliminação ou atenuação da dupla tributação para a legislação
belga, tendo esta por efeito a necessidade da condição acima referida
estar preenchida.
O Tribunal reitera que podem ser consideradas como medidas restri-
tivas da liberdade de circulação de capitais as medidas susceptíveis de
desencorajar não residentes a investir num Estado-Membro ou residentes
a investir num outro Estado-Membro. Neste quadro, o Tribunal concluiu
que o tratamento desfavorável em causa consubstancia, prima facie, uma
restrição à referida liberdade.
223
Comentários de Jurisprudência
Decisão:
O Tribunal de Justiça concluiu que os artigos 63.° e 65.° TFUE, lidos
em conjugação com o artigo 4.° TUE, não obrigam a que um Estado-
-Membro alargue o benefício de um tratamento mais favorável conce-
dido a um accionista residente, decorrente de uma Convenção para evitar
a Dupla Tributação, celebrada entre este Estado-Membro e um Estado
terceiro, mediante o qual o imposto retido na fonte pelo Estado terceiro é
imputado de forma incondicional no imposto devido no referido Estado-
-Membro de residência do accionista, a um accionista residente que auferia
dividendos provenientes de um Estado-Membro com o qual esse mesmo
Estado-Membro de residência celebrou uma Convenção para evitar a
224
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Factos:
Em causa estava um contrato de financiamento celebrado entre a
Sociedade portuguesa Brisal – Auto estradas do Litoral S.A. (Brisal) e
o Banco irlandês KBC Finance Ireland (KBC). Neste âmbito, a Brisal
estava vinculada à obrigação de pagamento de juros à KBC, no valor de
350.806,00 €, dos quais 59.386,00 € foram retidos na fonte e entregues à
Administração tributária portuguesa.
Tanto a Brisal como a KBC, discordaram acerca da retenção de uma
parte dos ditos juros por se aplicar, apenas e especificamente, aos casos
em que os devedores de juros são residentes em Portugal e os credores
de juros são não-residentes.
É de salientar que, nos termos do Código do IRC, as ditas institui-
ções, sem residência fiscal em Portugal, estão submetidas a uma tributação
específica de retenção na fonte a uma taxa liberatória de 20% que incide
sobre os rendimentos ilíquidos. De modo distinto, idênticas instituições
financeiras, mas residentes fiscais em Portugal, vêem os seus rendimentos
225
Comentários de Jurisprudência
de juros tributados sobre o valor líquido a uma taxa de 25% e estão isentos
do regime de retenção na fonte, o que lhes confere, ainda, uma vantagem
de fluxo de caixa.
Em consequência da oposição da Brisal e da KBC em verem uma
parte dos juros devidos, pela primeira à segunda, serem retidos na fonte,
o Supremo Tribunal Administrativo (STA) foi chamado a pronunciar-
-se sobre a questão levantada por esta tributação. Este accionou o meca-
nismo de reenvio prejudicial junto do Tribu¬nal, para que este interprete
e determine, à luz do direito da União Europeia (UE), se a legislação
fiscal nacional em causa se encontrava em violação do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia (TFUE), que consagra a liberdade de
prestação de serviços.
Apreciação do Tribunal:
O Tribunal aproveitou esta decisão para salientar que, nos termos
do TFUE e, mais especificamente, do princípio de livre prestação dos
serviços, não existe distinção entre as diferentes categorias de serviços.
Com efeito, o TFUE considera, indistintamente, todas as categorias de
prestações de serviços.
Por outro lado, também afirma que uma limitação à livre prestação de
serviços é aceite, apenas, em condições específicas, designadamente nos
casos em que tal “se justificar por razões imperiosas de interesse geral”
e desde que a dita justificação respeite o princípio da proporcionalidade.
O Tribunal considerou que o tratamento fiscal desfavorável para
as entidades não-residentes não pode ser considerado compatível com o
direito da UE, não podendo este tratamento ser justificado com base na
potencial existência de outro benefício, que seria, neste caso, a aplicação
de uma taxa de tributação menos elevada para as instituições financeiras
residentes.
No mesmo sentido, o Tribunal lembrou que, embora reconheça, na
sua jurisprudência, que a necessidade de garantir a eficácia da cobrança
do imposto constitui uma razão imperiosa de interesse geral que pode
justificar uma restrição à livre prestação de serviços, esta justificação é
válida, apenas, dentro dos limites do princípio da proporcionalidade. Ou
seja, deve ser adequada a garantir a realização do objectivo prosseguido e
não pode exceder o necessário para o alcançar. Concluiu, neste caso, que
226
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Decisão:
O Tribunal considerou que pode existir uma diferenciação na tribu-
tação entre os residentes e não-residentes, desde que tal seja justificado e
necessário. No presente caso, tal não se demostrou, e, em respeito ao prin-
cípio de livre prestação dos serviços, a legislação nacional deve conceder
aos não-residentes a possibilidade de estes deduzirem as despesas profis-
227
Comentários de Jurisprudência
Factos:
A 29 de Dezembro de 2011, a Dilly’s Wellnesshotel requereu o reem-
bolso parcial de imposto, previsto pela lei austríaca, incidente sobre o gás
natural e a energia eléctrica, relativo ao ano de 2011, com base no disposto
no Regulamento Geral de Isenção n.º 800/2008 (Reg. n.º 800/2008). O
pedido foi indeferido, em Fevereiro de 2012, com base na nova legislação
resultante da Lei de Orçamento de Estado Austríaca [BBG], segundo a
qual, a partir de Janeiro de 2011, o reembolso de tais impostos apenas seria
concedido às empresas de produção de energia, excluindo as prestações
de serviços de tal benefício.
A questão foi submetida a um tribunal austríaco, o qual levantou
dúvidas quanto à conformidade da nova legislação relativa ao reembolso
face ao teor do Reg. n.º 800/2008.
Questões:
As questões prejudiciais levantadas enfatizavam a ausência de
formalidades na adopção da medida, enunciadas no capítulo I do regu-
lamento. De facto, i) a legislação nacional não continha qualquer refe-
228
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Apreciação do Tribunal:
Destarte, o Tribunal de Justiça recorda que a obrigação de notificação
constitui um dos elementos fundamentais do sistema de controlo instituído
pelo Tratado de Funcionamento da União Europeia, no domínio dos auxí-
lios de Estado. Os Estados-Membros estão não só obrigados a notificar à
Comissão das medidas que criam/modificam um auxílio de estado, como
também não podem aplicar uma tal medida sem que a Comissão tome
uma decisão final sobre ela.
A Comissão recorda ainda que pode adoptar regulamentos para
execução das disposições europeias e fixar não só as condições de
aplicação da notificação, como também as categorias de auxílios que,
conforme determinado pelo Conselho, ficam dispensadas de tal proce-
dimento. Resulta daí que se uma medida de auxílio adoptada por um
Estado-Membro preenche as condições pertinentes previstas no Reg.
n.º 800/2008, esse Estado-Membro pode considerar-se dispensado da
obrigação de notificação.
A Comissão permite, simplificando a gestão administrativa sem
enfraquecer a sua capacidade de controlo das regras de concorrência
em matéria de auxílios de Estado, isentar certas tipologias de auxílios
(v.d. protecção do ambiente) do procedimento de notificação previsto
no Tratado de Funcionamento da União Europeia, sujeitando-as a outras
condições precisas.
Para que possa prevalecer-se da isenção prevista do Reg. n.° 800/
2008, o Estado Membro deverá: i) fazer referência ao Reg. n.° 800/2008,
229
Comentários de Jurisprudência
Decisão:
Por conseguinte, a resposta à única questão considerada pelo Tribunal
de Justiça, determinou que a falta, num regime de auxílios como o regime
em causa no processo principal, de uma referência expressa a este regu-
230
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Factos:
Até 1 de Janeiro de 2014, a Bélgica previa uma isenção em sede de
IVA sobre os serviços prestados por advogados. Com efeito, essa isenção
encontrava-se prevista numa lei interna belga e tinha por base uma dispo-
sição transitória prevista na Directiva IVA. Contudo, esta foi revogada
devido a diversos recursos submetidos ao Tribunal Constitucional belga.
Deste modo, a partir daquela data, os serviços prestados por advogados
passaram a ser tributados, na Bélgica, à taxa de 21%.
Tal mudança de paradigma legal determinou o aumento dos honorá-
rios cobrados pelos advogados, o que se revelou particularmente prejudi-
cial para os clientes privados, na qualidade de consumidores finais, uma
231
Comentários de Jurisprudência
vez que estes não têm a possibilidade de deduzir o IVA que suportam
com os honorários.
Assim, a Ordem dos Advogados Francófonos e Germanófonos, a
Ordem dos Advogados Flamengos, a Ordem dos Advogados de Arlon e
outras pessoas singulares e colectivas apresentaram, junto do Tribunal
Constitucional belga, contra o Conselho de Ministros belga, um pedido
de anulação das diversas disposições legais que puseram fim à referida
isenção de IVA nos serviços prestados por advogados.
O Tribunal Constitucional, porém, entendeu submeter diversas
questões prejudiciais ao TJUE, por entender que a apreciação da questão
implicava a interpretação prévia de disposições relativas ao Direito da
UE. As questões submetidas prendem-se com os direitos a um recurso
efectivo e à assistência por advogado, que são direitos, não só previstos
na lei fundamental belga, mas, também, consagrados em vários diplomas
internacionais (e.g. a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,
a Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais, o Pacto Internacional sobre os Direitos Cívicos
e Políticos e a Convenção de Aarhus).
Com efeito, o Tribunal Constitucional belga coloca a questão de
saber se os direitos a um recurso efectivo e à assistência por advogado
ficam preteridos – comprometendo-se, assim, a efectividade do direito de
acesso à justiça – pelo facto de pessoas singulares, por não serem sujeitos
passivos de IVA, terem de suportar tal custo, acrescido aos honorários
pagos a advogados, o que aparentemente, implicará um aumento global
dos honorários e dos custos de representação por um advogado.
Por outro lado, questiona-se, ainda, se não poderão os Estados
Membros, à luz da legislação da UE, isentar de IVA tais serviços, por
serem considerados “serviços de interesse geral”, como, por exemplo,
os serviços públicos postais, serviços médicos ou serviços relacionados
com ensino, cultura e desporto, os quais poderão estar isentos de IVA, ao
abrigo do disposto na Directiva IVA.
Outro aspecto, não menos importante, que é trazido à colação pelo
Tribunal Constitucional belga, prende-se com o facto de a tributação, em
sede de IVA, dos serviços prestados por advogados também incidir sobre
os serviços prestados ao abrigo de regimes internos de apoio judiciário.
Efectivamente, os comuns sistemas de apoio judiciário servem o propó-
sito de garantir o acesso ao direito e à justiça por cidadãos sem recursos
232
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Decisão:
Tendo em conta a factualidade descrita e a interpretação efectuada,
o TJUE entendeu que, à luz das disposições legais da UE, os direitos a
um recurso efectivo e à assistência por advogado não são postos em causa
pelo facto de os serviços prestados por advogados estarem sujeitos a IVA.
Factos:
A legislação italiana, aplicável ao IVA e, mais especificamente, ao
direito à dedução do IVA suportado no exercício da actividade económica
pelo sujeito passivo, prevê que este direito apenas pode ser exercido, em
primeiro plano, nos dois anos seguintes ao ano em que foram realizadas
as operações que conferem esse direito e, em segundo plano, caso sejam
cumpridas certas obrigações formais, impostas pela respectiva legislação.
233
Comentários de Jurisprudência
Apreciação do Tribunal:
No que respeita à primeira questão, o TJUE começou por reco-
nhecer que o direito à dedução sem limites temporais poderá implicar uma
violação do princípio da segurança, na medida em que a situação fiscal
do sujeito passivo poderia, dessa forma, ser posta em causa ad aeternum,
o que não se pode, em abstracto, admitir. Assim, o TJUE delimita desde
logo a questão a saber se a imposição de um prazo como o que está em
234
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
Decisão:
O TJUE entendeu que, à luz das disposições legais da UE, os Estados-
-Membros podem (i) impor um limite temporal para exercício do direito
de dedução do IVA suportado no âmbito do exercício da sua actividade e
(ii) recusar o exercício do direito à dedução quando o sujeito passivo não
cumprir obrigações fiscais essenciais, nomeadamente quando tal incum-
primento conduza a uma situação de fraude fiscal.
Objectiva, 2016
1 Sobreposto, contudo, na opinião do Autor, ao quarto ciclo longo que teve o seu
2
Também conhecida como ‘economia de partilha’.
242
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal
MARTA CALDAS
CRÓNICA
DE ACTUALIDADE
PONTO DE SITUAÇÃO DOS TRABALHOS NA UNIÃO EUROPEIA
E NA OCDE – PRINCIPAIS INICIATIVAS DO TRIMESTRE
I – UNIÃO EUROPEIA
II – OCDE
C U P Ã O D E A S S I N AT U R A
NOME
MORADA
TELEFONE N o CONTRIBUINTE
PROFISSÃO
DATA – –
ASSINATURA
Na rede Multibanco poderá definir: A Data de expiração da autorização | O montante máximo de débito autorizado
Por débito na nossa/minha conta abaixo indicada queiram proceder ao pagamento das importâncias
que lhes forem apresentadas pela empresa EDIÇÕES ALMEDINA SA
IBAN/NIB: PT 50
CONTRIBUINTE FISCAL
DATA – –
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INICIA A TERMINA A
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(1)
REGULARIDADE: MENSAL, TRIMESTRAL, SEMESTRAL, ANUAL
PROCEDIMENTOS INFORMAÇÕES
· Preencher completamente e assinar Autorização de Débito, Através do Sistema Multibanco, relativamente a esta autorização
de acordo com a ficha de assinatura de Banco. No caso de ser de Débito em Conta, poderá, entre outras, efectuar as seguintes
empresa carimbar ADC com carimbo da empresa. operações:
· Remeter a ADC para: · Visualizar a Autorização Débito em Conta concedida;
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3000-167 Coimbra, ou via email para sdd@almedina.net. · Cancelar esta Autorização Débito em Conta;
· Qualquer alteração que pretenda efectuar a esta autorização basta-
rá contactar as EDIÇÕES ALMEDINA SA por qualquer forma escrita Em cumprimento do aviso 10/2005 do Banco de Portugal, infor-
· Também poderá fazer alterações através do Sistema Multiban- ma-se que é dever do devedor, conferir, através de procedimentos
co, conforme se apresenta seguidamente, ou no sistema de home electrónicos, nomeadamente no multibanco, os elementos que
banking, caso tenha essa opção. Também neste caso agradece- compõem as autorizações de débito em conta concedidas.
mos informação escrita sobre as alterações efectuadas.
· Esta autorização destina-se a permitir o pagamento de bens/ser-
viços adquiridos à nossa empresa e só poderá ser utilizada para
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· Dos pagamentos que vierem a ser efectuados por esta forma PARA ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS
serão emitidos os recibos correspondentes. Telefone: 239 851 903 Fax: 239 851 901 Email: sdd@almedina.net