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Direitos Constitucionais dos

Trabalhadores e Dignidade
da Pessoa Humana
homenagem ao Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello

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Nilton Carlos de Almeida Coutinho
Coordenador

Direitos Constitucionais dos


Trabalhadores e Dignidade
da Pessoa Humana
homenagem ao Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello

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Junho, 2015

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Projeto de Capa: FABIO GIGLIO
Impressão: DIGITAL PAGE

Versão impressa — LTr 5251.0 — ISBN 978-85-361-8425-8


Versão digital — LTr 8716.7 — ISBN 978-85-361-8436-4

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Direitos constitucionais dos trabalhadores e dignidade da pessoa


humana : homenagem ao ministro Marco Aurélio Mendes de
Farias Mello / Nilton Carlos de Almeida Coutinho, coordenador.
­— São Paulo : LTr, 2015.
Vários colaboradores.
Bibliografia

1. Direito constitucional do trabalho — Brasil 2. Direitos fun-


damentais 3. Dignidade humana 4. Mello, Marco Aurélio Mendes de
Farias I. Coutinho, Nilton Carlos de Almeida.

15-04540 CDU-342:331(81)

Índice para catálogo sistemático:


1. Brasil : Direito constitucional do trabalho 342:331(81)

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Colaboradores

Any Ávila Assunção Letícia Lima Nogueira Coelho


Benigno Cavalcante Luísa Baran de Mello Alvarenga
Carlos de Moura Mello Luiz Filipe de Araújo Ribeiro
Carolina Ellwanger Mari Ângela Pelegrini
Cláudio Henrique de Oliveira Maria Cecília Fontana Saez
Claudio Henrique Ribeiro Dias Mauro Cesar Martins de Souza
Daniel Carmelo Pagliusi Rodrigues Mirna Natália Amaral da Guia Martins
Daniel Henrique Ferreira Tolentino Natália Kalil Chad Sombra
Daniela Rodrigues Valentim Angelotti Nilton Carlos de Almeida Coutinho
Déurick Grégory Rodrigues da Mota Paulo Henrique Procópio Florêncio
Elizabet Leal da Silva Pedro Fabris de Oliveira
Érica Fernandes Teixeira Pedro Luiz Tiziotti
Érica Hatzinakis Brigido Priscila Lima Aguiar Fernandes
Fabiana Mello Mulato Rachel Lopes Queiroz Chacur
Felipe Gonçalves Fernandes Rafael de Lazari
Fernanda Augusta Hernandes Carrenho Rafael Salviano Silveira
Francisco Airton Bezerra Martins Renata Passos Pinho Martins
Gilberto Stürmer Ricardo Martins Zaupa
Guilherme Malaguti Spina Ricardo Pinha Alonso
Guilherme Roumillac de Oliveira Ricardo Rodrigues Ferreira
Gustavo Lacerda Anello Rodrigo Garcia Schwarz
Henrique Silveira Melo Rodrigo Trindade Castanheira Menicucci
José Paulo Martins Gruli Roseméri Simon Bernardi
Julia Cara Giovannetti Rosival Jaques Molina
Juliana Cristina Lopes Filippi Sandro Marcelo Paris Franzoi
Juliana de Oliveira Costa Gomes Sato Viviane Scucuglia Litholdo

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Curriculum Resumido

Marco Aurélio Mendes de Farias Mello

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil, em 12 de julho de 1946, filho do Dr. Plínio Affonso de
Farias Mello e de D. Eunice Mendes de Farias Mello, sendo neto de nacionais portugueses.
Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, em 1973. Fez o Mestrado em Direito Privado na mesma Faculdade, obtendo o certificado de
capacitação em 1982. Participou de diversos cursos de extensão e aperfeiçoamento em diversas áreas da
seara jurídica.
Advogou no foro do Estado do Rio de Janeiro, chefiou o Departamento de Assistência Jurídica e Ju-
diciária do Conselho Federal dos Representantes Comerciais e o Departamento de Assistência Jurídica e
Judiciária do Conselho Regional dos Representantes Comerciais no Estado do Rio de Janeiro, sendo também
advogado da Federação dos Agentes Autônomos do Comércio do Antigo Estado da Guanabara.
Integrou o Ministério Público junto à Justiça do Trabalho da Primeira Região, no período de 1975 a 1978.
Ingressando na Magistratura, foi nomeado para integrar, como Juiz Togado do Tribunal Regional do
Trabalho da Primeira Região, cargo que exerceu no período de 1978 a 1981.
Foi Ministro Togado do Tribunal Superior do Trabalho, no período de setembro de 1981 a junho de
1990, havendo sido Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho.
Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, tomou posse em 13 de junho de 1990.
Escolhido pelo Supremo Tribunal Federal, participou do Tribunal Superior Eleitoral como Ministro
Substituto nos períodos de 13 de agosto de 1991 a 31 de maio de 1993 e de 7 de agosto de 2003 a 28 de feve-
reiro de 2005, e Efetivo, de 1º de junho de 1993 a 5 de dezembro de 1994. Como Vice-Presidente eleito, em
sessão de 29 de novembro de 1994, atuou entre 6 de dezembro de 1994 a 31 de maio de 1995 e 1º de junho
de 1995 a 19 de maio de 1996. Exerceu o cargo de Presidente de 13 de junho de 1996 até 1º de junho de 1997,
havendo dirigido as primeiras eleições informatizadas. Novamente, em 8 de agosto de 2003, tomou posse
como membro substituto da mais alta Corte eleitoral, passando a efetivo em 1 de março de 2005. Mais uma
vez, ascendeu à Presidência do Tribunal Superior Eleitoral, atuando entre 4 de maio de 2006 e 6 de maio de
2008. Em 12 de maio de 2009, retornou ao Tribunal como Ministro substituto, tomando posse como efetivo
em 13 de maio de 2010, sendo reconduzindo para outro biênio em 14 de maio de 2012. Desde 18 de abril de
2012, ocupa a Vice-Presidência do Tribunal.

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Foi eleito Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, em sessão de 14 de abril de 1999, para o biênio
1999/2001. Escolhido por seus pares para a Presidência do Supremo Tribunal Federal, assumiu o cargo em
sessão solene realizada em 31 de maio seguinte, exercendo-o até 5 de junho de 2003.
Ocupou o cargo de Presidente da República, no período de 15 a 21 de maio de 2002. Nessa oportunidade
sancionou, em solenidade realizada no Palácio do Planalto, a Lei n. 10.461 que criou a TV Justiça, destinada
a divulgar notícias do Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Advocacia, é administrada pelo
Supremo e voltada a servir o cidadão comum, transmitindo, ao vivo, as Sessões Plenárias.
Voltou a ocupar interinamente a Presidência da República nos dias 4, 5 e, posteriormente, 25 a 27 de
julho, 20 e 21 de agosto e de 31 de agosto a 4 de setembro daquele ano.
Em 2 de agosto de 2002, o Ministro Marco Aurélio inaugurou o estúdio da TV Justiça, cuja programação
entrou no ar no dia 11 do mesmo mês, data em que se comemora a criação dos cursos jurídicos no Brasil.
Desde setembro de 1982, é Professor Universitário, tendo exercido ainda atividades didáticas como
professor de inúmeros cursos de extensão e como conferencista em seminários e encontros jurídicos, além
de haver proferido palestras aos mais diversos setores da comunidade jurídica nacional.
Participou de bancas examinadoras de concursos públicos para carreiras jurídicas.
Atualmente é Presidente do Conselho Superior do IMAE — Instituto Metropolitano de Altos Estudos e
integra outras instituições. Publicou os livros Vencedor e Vencido, pela editora Forense, e Acórdãos — Comentários
e Reflexões, contendo pronunciamentos do Supremo Tribunal Federal. Teve publicados trabalhos, pareceres,
artigos, ensaios e editoriais, em revistas especializadas e veículos de comunicação de grande circulação.
Recebeu várias distinções.
É casado com a Dra. Sandra de Santis Mendes de Farias Mello, Desembargadora do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e Territórios, e tem 4 filhos: Letícia, Renata, Cristiana e Eduardo Affonso e 2 netos: João
Pedro e Rafaela.

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Sumário

Prefácio.........................................................................................................................................................................13

Apresentação...............................................................................................................................................................17

Introdução — Direitos Fundamentais e Dignidade da Pessoa Humana............................................................19


Nilton Carlos de Almeida Coutinho

I. A Garantia de Emprego contra Dispensa Arbitrária ou sem Justa Causa.......................................................21


Francisco Airton Bezerra Martins; Renata Passos Pinho Martins

II. O Benefício do Seguro-Desemprego em Caso de Desemprego Involuntário...............................................26


Benigno Cavalcante; Carolina Ellwanger

III. FGTS: Direito Constitucional do Trabalhador como Ferramenta de Proteção em Face da Despedida
Arbitrária e Concretização do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.................................................32
Fernanda Augusta Hernandes Carrenho; Carlos de Moura Mello

IV. A Garantia Constitucional do Salário Mínimo.................................................................................................41


Claudio Henrique Ribeiro Dias; Guilherme Roumillac de Oliveira

V. A Figura do Piso Salarial Previsto no art. 7º, V, da Constituição Federal e a Lei Complementar
n. 103/00...................................................................................................................................................................51
Daniel Henrique Ferreira Tolentino

VI. A Irredutibilidade Salarial à Luz da Sistemática Constitucional...................................................................59


Daniela Rodrigues Valentim Angelotti; Sandro Marcelo Paris Franzoi

VII. O Direito Fundamental ao Salário Mínimo para os que Percebem Remuneração Variável.....................65
Roseméri Simon Bernardi; Carolina Ellwanger

VIII. O Décimo Terceiro Salário com Base na Remuneração Integral ou no Valor da Aposentadoria...........69
Felipe Gonçalves Fernandes; Priscila Lima Aguiar Fernandes

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IX. Adicional Noturno................................................................................................................................................74
Pedro Luiz Tiziotti

X. Proteção do Salário na Forma da Lei...................................................................................................................81


Rodrigo Garcia Schwarz

XI. Participação nos Lucros e Resultados: uma Verdade Possível(?)..................................................................91


Mari Ângela Pelegrini

XII. Breves Apontamentos Acerca do Salário-Família na Constituição Federal de 1988..................................98


Guilherme Malaguti Spina

XIII. Da Flexibilização da Jornada do Trabalho à Luz do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana......104


Henrique Silveira Melo

XIV. A Jornada de Seis Horas em Turnos Ininterruptos de Revezamento.......................................................109


Julia Cara Giovannetti; Déurick Grégory Rodrigues da Mota

XV. Descanso Semanal Remunerado Preferencialmente aos Domingos..........................................................114


Juliana Cristina Lopes Filippi; Ricardo Martins Zaupa

XVI. O Direito à Remuneração do Serviço Extraordinário.................................................................................121


Juliana de Oliveira Costa Gomes Sato

XVII. Direito a Férias e Dignidade da Pessoa Humana.......................................................................................127


Maria Cecília Fontana Saez; Luísa Baran de Mello Alvarenga

XVIII. Licença-Maternidade na Iniciativa Privada: Aspectos Doutrinários e Jurisprudenciais....................134


Gustavo Lacerda Anello; Pedro Fabris de Oliveira; Mauro Cesar Martins de Souza

XIX. Licença-Paternidade, nos Termos Fixados em Lei.......................................................................................141


Daniel Carmelo Pagliusi Rodrigues; Fabiana Mello Mulato

XX. Proteção do Mercado de Trabalho da Mulher, Mediante Incentivos Específicos nos Termos da Lei....148
Elizabet Leal da Silva; Gilberto Stürmer

XXI. Considerações Fático-Constitucionais sobre o Novo Aviso-Prévio Proporcional ao Tempo de


Serviço................................................................................................................................................................157
Rafael de Lazari

XXII. Redução dos Riscos Inerentes ao Trabalho, por meio de Normas de Saúde, Higiene e Segurança....165
Mirna Natalia Amaral da Guia Martins

XXIII. Adicionais de Penosidade, Insalubridade e Periculosidade....................................................................171


Cláudio Henrique de Oliveira; Pedro Luiz Tiziotti

XXIV. Aposentadoria: o Direito à Aposentadoria e o Contrato de Trabalho...................................................180


Paulo Henrique Procópio Florêncio

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XXV. Direito à Assistência Gratuita aos Filhos e Dependentes..........................................................................187
Rodrigo Trindade Castanheira Menicucci

XXVI. Reconhecimento das Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho....................................................195


Ricardo Rodrigues Ferreira

XXVII. O Papel do Trabalho e o Princípio do “Pleno Emprego” em face da Automação da Mão de Obra......200
Ricardo Pinha Alonso; Rafael Salviano Silveira

XXVIII. Acidente de Trabalho: do Seguro à Responsabilidade Civil do Empregador...................................211


Renata Passos Pinho Martins

XXIX. Prazo Prescricional para Cobrança de Créditos Resultantes das Relações de Trabalho.....................217
Letícia Lima Nogueira Coelho; Nilton Carlos de Almeida Coutinho; Rosival Jaques Molina

XXX. A Proibição de Diferença de Salários, de Exercício de Funções e de Critério de Admissão por


Motivo de Sexo, Idade, Cor ou Estado Civil Segundo a Jurisprudência dos Tribunais Superiores....221
Luiz Filipe de Araújo Ribeiro

XXXI. Proibição de Qualquer Discriminação no Tocante a Salário e Critérios de Admissão do Traba-


lhador Portador de Deficiência....................................................................................................................226
José Paulo Martins Gruli

XXXII. Da Proibição de Discriminação em Função do Tipo de Trabalho — Manual, Técnico ou Intelec-


tual..................................................................................................................................................................232
Natalia Kalil Chad Sombra

XXXIII. Limites ao Trabalho Exercido por Menores de Dezoito Anos..............................................................236


Any Ávila Assunção, Érica Fernandes Teixeira; Nilton Carlos de Almeida Coutinho

XXXIV. Trabalhador Avulso e o Princípio da Dignidade Humana...................................................................241


Nilton Carlos de Almeida Coutinho; Rachel Lopes Queiroz Chacur; Viviane Scucuglia Litholdo

XXXV. Dos Direitos Constitucionais dos Empregados Domésticos..................................................................247


Érica Hatzinakis Brigido; Nilton Carlos de Almeida Coutinho

Considerações Finais................................................................................................................................................255

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Prefácio

No sistema solar do Direito e da Justiça, o Direito do Trabalho e a Justiça Social aparecem como planeta
e satélite dos mais atrativos, por tratarem de uma das dimensões que melhor caracterizam a pessoa huma-
na, uma vez que o trabalho, junto com a família, tem ocupado sempre o lugar central em torno do qual as
pessoas organizam suas vidas.
Com efeito, não é justamente pela profissão e pelos laços familiares que as pessoas mais comumente
se apresentam e se identificam? Marco Aurélio, magistrado, filho do Plínio e da Eunice, marido da Sandra,
pai da Letícia, da Renata, da Cristiana e do Eduardo, avô do João Pedro.
Não é por menos que os dois primeiros mandamentos que Deus deu ao ser humano, ao criá-lo, estão
precisamente ligados a essas duas dimensões: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e a dominai” (Gênesis
1, 28). Interessante notar como ambas as dimensões constituem verdadeira participação no poder criador
divino, trazendo novos seres ao mundo e transformando a Natureza, ao extrair dela todas as suas poten-
cialidades, através do trabalho humano.
Se a família é o principal, o trabalho acaba sendo o âmbito que mais tempo absorve, gerando, além da
produção de bens e serviços a serem distribuídos com justiça, relações humanas a serem harmonizadas. Daí
a beleza singular do Direito e da Justiça do Trabalho, aos quais o homenageado da presente obra dedicou
seus melhores esforços desde os primórdios de sua belíssima carreira profissional.
Antes de chegar ao Supremo Tribunal Federal, o Ministro Marco Aurélio foi advogado trabalhista (1973-
1975), procurador do trabalho (1975-1978), desembargador do TRT da 1ª Região (1978-1981) e ministro do TST
(1981-1990), o que naturalmente plasmou uma sensibilidade especial para os problemas humanos e sociais.
No Tribunal Superior do Trabalho, ao qual chegou com a idade mínima exigida, de 35 anos, notabi-
lizou-se por promover superlativamente aquilo que é a essência e a finalidade existencial dessa Corte: a
uniformização jurisprudencial sobre o Direito e o Processo do Trabalho, dando o conteúdo normativo de
cada um dos dispositivos legais que compõem o ordenamento jurídico-trabalhista. Fê-lo fundamentalmente
na Comissão de Jurisprudência e Precedentes Normativos do TST, sendo talvez o ministro que mais enun-
ciados de Súmula propôs, lembrando que a súmula é o conjunto e que os enunciados são seus elementos.
Saudosos tempos, em que a missão existencial da Suprema Corte Laboral era devidamente cumprida,
pacificando as relações laborais, em contraste com os tempos que correm, desfocados pela terceirização
da função uniformizadora para os TRTs pela Lei n. 13.015/14 e pela insistência no exercício do controle de
legalidade das decisões das Turmas do TST por sua Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, ao
arrepio da Lei n. 11.496/07, que acabara com os embargos por violação de lei. Quanto precioso tempo não se
perde na SBDI-1 discutindo se as Turmas conheceram bem ou mal de recursos de revista, pela via transversa
de se admitir os embargos com base em contrariedade a súmulas de direito processual.
Mas hoje o Ministro Marco Aurélio está longe dessas querelas divergenciais, para se dedicar à exegese
do Direito do Trabalho, como também dos demais ramos da árvore jurídica, à luz da Constituição. Não é

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por menos que a obra que reúne seletos procuradores, advogados e juízes para homenageá-lo tem por objeto
o Direito Constitucional do Trabalho.
Recordo-me de quando a LTr, prestigiosa editora fundada em 1936 com o fito de divulgar a legislação,
doutrina e jurisprudência trabalhistas à luz da Doutrina Social Cristã e que ora patrocina a homenagem
editando a presente obra, ao realizar seu Congresso Brasileiro de Direito Processual do Trabalho em julho
de 1990, nas Arcadas do Largo de São Francisco, centrava na figura do Ministro Marco Aurélio o paradigma
de juslaboralista, primeiro magistrado trabalhista a ser guindado ao Pretório Excelso de nossa pátria.
Não poderia esquecer igualmente do Ciclo de Estudos de Direito do Trabalho realizado em Salvador
em novembro de 1994, no qual dividia mesa com o Ministro Marco Aurélio, quando jovem procurador do
trabalho, para discorrermos sobre o recurso extraordinário trabalhista. Que diferença entre o regime desse
recurso à época e agora, sob a sistemática da repercussão geral, introduzida pela EC n. 45/04, que, se resol-
veu parcialmente o problema do Supremo, reduzindo o número de processos que sobem à Suprema Corte,
vem travando todo o sistema judiciário nacional, pelo sobrestamento massivo de processos, aguardando o
deslinde dos temas que o STF elege para julgar.
Se, antes da EC n. 45/04, o STF demorava para julgar as centenas de milhares de processos que lhe
chegavam às portas, o fato é que, quando decidia os recursos, mandava a parte vencedora para o Céu e a
vencida para o Inferno. Pela nova sistemática, encontrou-se uma fórmula de delegar aos Tribunais de ori-
gem a tarefa de mandar todos para o Purgatório, sobrestando os milhares de processos ligados a cada tema
que o STF reconhece ter repercussão geral, sem que este consiga dar solução rápida aos feitos. Atualmente
são mais de 300 temas aguardando solução e 800.000 processos sobrestados. E não é demais recordar que o
Purgatório é um lugar de sofrimento, ainda que de esperança de um dia chegar ao Céu. Mas esse sofrimento
tem se prolongado, pela demora do STF, muitas vezes chamado a resolver questões político-jurídicas que
lhe consomem tempo e energia, como foi o caso do “Mensalão” e agora é o do “Petrolão”, deixando de lado
as causas de repercussão geral.
Mas se a questão é de celeridade, o Ministro Marco Aurélio é campeão da maratona, conjugando talento
e metodologia singulares, ao ditar seus votos e desenvolver um invejável “case management” de seu gabi-
nete. Talvez contribua para isso seu espírito esportivo, que tenho a felicidade de comprovar, em disputadas
partidas de tênis, sendo memorável aquela em que, compondo nós a velha guarda resistente, vencíamos
pela constância e animação a jovem guarda técnica e fisicamente melhor preparada, integrada por seu filho
e genro, em jogo de duplas que se estendeu pela tarde afora. Milagres acontecem...
Não é por menos que o Ministro Marco Aurélio nunca deplorou ser voto vencido, defendendo convic-
tamente suas posições, ao ponto de ouvir de meu pai, um dia, a exclamação, após sustentação oral que fez
no Supremo, com derrota de sua tese por 10x1, em caso que lhe parecia de flagrante injustiça para com o
contribuinte em matéria tributária, que o que ainda o animava a continuar advogando em avançada idade
era haver ministros como Marco Aurélio no Supremo.
Mas como todos estamos em caminho de perfeição, também vi meu pai se entristecer, ao defender o
direito à vida perante o Supremo nos casos do aborto dos anencéfalos e de pesquisa científica com células
tronco embrionárias, vendo a Corte Suprema brasileira relativizar o mais básico e fundamental dos direitos
humanos, com a anuência do homenageado de hoje. Não deixo de acreditar que um dia o Ministro Marco
Aurélio, pelo brilho de sua inteligência e pela grandeza de seu coração, que tanto admiro e estimo, possa vir
a defender incondicionalmente o direito à vida, não sendo por menos que o livro que o homenageia trata
também do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Passando do prisma do homenageado para a homenagem, esta não poderia ter sido melhor articulada,
na medida em que, coordenada pelo Dr. Nilton Carlos de Almeida Coutinho, ilustre Procurador do Estado
de São Paulo em Brasília, e elencada por procuradores do núcleo trabalhista da Procuradoria (além de ad-
vogados, juízes e outros profissionais da área), lembra as origens juslaborais do Ministro Marco Aurélio,
oferecendo ao público verdadeiro Tratado de Direito Constitucional do Trabalho, com abordagem de todos
e cada um dos direitos sociais elencados no art. 7º da Constituição Federal, com proficiência e atualidade.
Torna-se a obra, nesse diapasão, fonte de referência necessária, de futuro, para os que atuam na Justiça
do Trabalho ou buscam prevenir as demandas judiciais, conhecendo e cumprindo exemplarmente as normas

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constitucionais e legais trabalhistas. Afinal, esse é o desejo principal de qualquer magistrado, especialmente
os laboristas, vocacionados fundamentalmente à conciliação: a lide é a patologia do sistema; o que se deseja
é um organismo sadio, em que as leis e a Constituição são respeitadas, porque interpretadas sabiamente
pelos tribunais.
E nisso penso que o Ministro Marco Aurélio se destaca, pois encarna o magistrado que busca funda-
mentalmente harmonizar as relações de trabalho, encontrando o ponto de equilíbrio na distribuição dos
frutos da produção entre o capital e o trabalho. Em tempos nos quais o viés ideológico acaba contaminando
decisões judiciais e acirrando os conflitos sociais, a importância da atuação de nossa Suprema Corte, com
a experiência trabalhista do Ministro Marco Aurélio, no controle de constitucionalidade das decisões dos
tribunais do trabalho, é notável.
Recentemente, com o voto do Ministro Marco Aurélio, a Suprema Corte, apreciando o caso do PDV
(Plano de Desligamento Voluntário) promovido pelo BESC (Banco do Estado de Santa Catarina) mediante
acordo coletivo de trabalho, veio a reformar as decisões do TST, que anulavam as cláusulas do acordo, pres-
tigiando assim a negociação coletiva e a lealdade contratual, de modo a resguardar toda força normativa da
Constituição Federal em seus incisos VI, XIII, XIV e XXVI do art. 7º. A causa é emblemática, por reconhecer
a autonomia negocial coletiva empresarial e sindical, em face das limitações que lhe vem impondo a Justiça
do Trabalho, ao ampliar, além do que a Constituição Federal previu, a indisponibilidade dos direitos sociais.
Em suma, a obra, seus coordenadores e autores, bem como a editora e o homenageado integram um
todo harmônico em torno da temática do Direito Constitucional do Trabalho, que leva aos que militam
nessa seara jurídica o que há de melhor e mais atual em termos de doutrina e jurisprudência, merecendo
nossos mais calorosos elogios.
Brasília, 1º de maio de 2015

Festividade de São José, Operário


Dia Mundial do Trabalho

Ives Gandra da Silva Martins Filho


Ministro Vice-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho

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Apresentação

Esta obra tem como escopo primordial o estudo doutrinário e jurisprudencial dos direitos constitucio-
nais dos trabalhadores, dentro da teoria dos direitos fundamentais.
Segundo proclama nossa Constituição Federal, o Tribunal Superior do Trabalho — TST, com sede em
Brasília e jurisdição em todo o território nacional, é órgão de cúpula da Justiça do Trabalho, tendo como
função precípua a uniformização da jurisprudência trabalhista brasileira.
Do mesmo modo, compete ao Supremo Tribunal Federal a guarda da Constituição, cabendo-lhe uma
série de atribuições. Dentre elas, destacam-se as de processar e julgar a ação direta de inconstitucionalidade e
a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal e a reclamação para a preservação
de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões. Compete-lhe, ainda, julgar, mediante recurso
extraordinário, as causas nas quais a decisão recorrida contrariar dispositivo desta Constituição; declarar a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julgar válida lei ou ato de governo local contestado diante
desta Constituição ou julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
Tais funções decorrem, dentre outros fatores, do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicio-
nal, segundo o qual a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º,
XXXV, da CRFB).
Assim, da análise de tais dispositivos, conclui-se que o TST possui papel primordial com vistas à
uniformização da jurisprudência brasileira em relação a lesões ou ameaças de lesões a direitos trabalhistas
constitucionalmente consagrados.
Igualmente, observa-se que o STF desempenha papel fundamental na proteção dos direitos consagrados
na Constituição Federal.
Do cotejo entre as funções desempenhadas pelos Ministros do TST e do STF e os objetivos almejados
na elaboração da presente obra, chegou-se à conclusão de que seria justo dedicar-se a presente obra àqueles
que compõem tais Tribunais.
Assim, optaram os autores pela indicação do Ministro Marco Aurélio Mello, o qual atuou na Justiça
do Trabalho como Procurador do Trabalho, bem como Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região,
Corregedor-geral da Justiça do Trabalho e Ministro do Tribunal Superior do Trabalho até ter sido nomeado
para o cargo atual de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Acrescente-se, ainda, que o homenageado também exerceu a advocacia e a docência no magistério su-
perior, além de possuir uma vasta listagem de obras jurídicas, demonstrando seu interesse na disseminação
do conhecimento jurídico e na tutela dos direitos fundamentais dos indivíduos.
Tal homenagem, entretanto, abrange todos os Ministros, Desembargadores, juízes que, cotidianamente,
atuam na proteção dos direitos constitucionais dos trabalhadores.
Igualmente, dedicamos essa obra a todos os profissionais e operadores do direito que, no desempenho
de suas funções, contribuem para o aprimoramento e aperfeiçoamento da ciência jurídica e a proteção dos
direitos fundamentais em um Estado Democrático e de Direito.

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Introdução
Direitos Fundamentais e Dignidade da Pessoa Humana

Nilton Carlos de Almeida Coutinho(*)

Os direitos surgem e evoluem em razão das necessidades dos indivíduos e da sociedade. Nessa linha,
os direitos fundamentais (entendidos como direitos imprescindíveis para a manutenção da dignidade da
pessoa humana) encontram-se em contínua evolução.
Logo, com o desenvolvimento da sociedade e do indivíduo, novos direitos começam a surgir. No âmbito
do direito do trabalho, os direitos dos trabalhadores sofreram considerável avanço ao longo dos últimos
anos. Hoje, as constituições democráticas englobam em seus textos direitos fundamentais inerentes a essa
parcela da sociedade.
Assim, limitações relacionadas à duração da jornada de trabalho e sua prorrogação, além de regras
relacionadas ao exercício de atividades insalubres, etc. encontram-se atualmente previstas em diversas
Constituições.
Nessa linha, a Constituição Federal de 1988 contempla em seu texto diversos direitos fundamentais
conferidos aos trabalhadores urbanos, rurais e domésticos. Tais direitos têm a dignidade da pessoa humana
como a pedra angular sobre a qual os mesmos se alicerçam e desenvolvem.
Deste modo, não obstante o rol de direitos fundamentais constantes na Constituição Federal seja não
taxativo (eis que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa
do Brasil seja parte”, art. 5º, § 2º, da CF) é certo que a positivação de determinados direitos valoriza a sua
importância para a sociedade e para o Estado.
Assim, os próximos capítulos terão como foco o estudo dos direitos atribuídos aos trabalhadores ur-
banos e rurais, dentro da perspectiva dos direitos fundamentais, esperando contribuir para a evolução da
ciência jurídica em relação a essa temática.

(*) Doutor em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Direito pelo CESUMAR/PR. Graduado
em Direito pela Instituição Toledo de Ensino. Professor junto à UnB e IESB. Procurador do Estado de São Paulo com atuação perante os
Tribunais Superiores em Brasília.

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I. A Garantia de Emprego contra Dispensa
Arbitrária ou sem Justa Causa

Francisco Airton Bezerra Martins(*)


Renata Passos Pinho Martins(**)

1. Limites da garantia de emprego: dispensa Assim, a garantia de emprego prevista no art. 7º,
arbitrária ou sem justa causa I, da Constituição Federal, apesar de ser um direito
por si só suficiente para criar situações subjetivas
Inserida no Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, positivas, porquanto é norma de aplicabilidade direta
do Título II da Constituição Federal que trata “Dos e imediata, não é absoluta.
Direitos e Garantias Fundamentais”, a norma
constitucional insculpida no art. 7º, I, fixa o direito Com efeito, a própria Carta Fundamental res-
fundamental do trabalhador da garantia de emprego. tringiu o seu alcance ao prever que a proteção da
Eis o teor desse dispositivo constitucional: relação de emprego é contra a despedida arbitrária ou
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e sem justa causa, nos termos de lei complementar.
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua Dessa forma, caberá à lei complementar defi-
condição social: nir o sentido das expressões dispensa arbitrária e
I — relação de emprego protegida contra despedida dispensa sem justa causa, restringindo a eficácia do
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei com-
art. 7º, I, da CF.
plementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos; [...]. Nessa tarefa, deverá o legislador ordinário levar
Nos termos da clássica classificação proposta em consideração que os princípios da hermenêutica
por José Afonso da Silva, o art. 7º, I, da Constituição constitucional partem do postulado do legislador
Federal é uma norma constitucional de eficácia con- racional, pelo qual não há no ordenamento jurídico
tida e de aplicabilidade direta e imediata. Em suas lacunas, redundâncias, contradições ou termos inú-
palavras: teis. Há de ser considerado, também, que já existe na
[...] compreendido o texto especialmente em legislação ordinária a definição legal de despedida
conjugação com o § 1º, do art. 5º, aplicável aos arbitrária e de despedida sem justa causa, bem como
direitos do art. 7º, que se enquadram, também, há uma tradição no direito internacional e compa-
entre os direitos e garantias fundamentais, rado de se estabelecer essa distinção. Portanto, a lei
chegaremos à conclusão que a norma do citado complementar deverá conceder diferentes definições
inciso I é de eficácia contida.(1) às duas expressões.

(*) Procurador Federal.


(**) Procuradora de Estado de São Paulo em Brasília e coordenadora do núcleo trabalhista da unidade de Brasília.
(1) SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 293.

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Destaque-se que a lei complementar a que o contrato de trabalho por culpa do trabalhador. As
dispositivo faz expressa referência ainda não foi edi- suas principais tipificações encontram-se sedimen-
tada pelo legislador ordinário. Todavia, em virtude tadas no rol constante do art. 482 da Consolidação
do princípio da continuidade da ordem jurídica, até das Leis do Trabalho, onde se fala em improbidade,
o seu advento, utiliza-se do conceito de dispensa mau procedimento, desídia, indisciplina, insubor-
arbitrária e das hipóteses de justa causa previstos na dinação, abandono de emprego etc.(2). Ressalte-se
Consolidação das Leis Trabalhistas para a integração que a lei complementar a ser editada poderá rever
do mandamento constitucional, haja vista terem sido as tipificações que qualificam a justa causa, a fim de
recepcionados pela Constituição Federal de 1988 com torná-las mais condizentes com a realidade atual.
status de lei complementar.
De outro lado, a dispensa sem justa causa, a
Com feito, o art. 165 da CLT prevê que: contrario sensu, é toda aquela que não se funda nas
Art. 165. Os titulares da representação dos empre- hipóteses de justa causa legalmente tipificadas.
gados nas CIPAs não poderão sofrer despedida Assim, toda dispensa arbitrária é também sem
arbitrária, entendendo-se como tal a que não se justa causa, na medida em que não se funda em uma
fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico causa legalmente tipificada que autoriza a resolução
ou financeiro.
do contrato por culpa do empregado. Todavia, nem
Portanto, configura-se a dispensa arbitrária toda dispensa sem justa causa é arbitrária e também
quando o rompimento do vínculo empregatício nem toda dispensa não arbitrária é por justa causa,
ocorrer por causas que não se fundem em um motivo pois a extinção do contrato de trabalho pode fundar-
socialmente relevante, como em motivo disciplinar, -se em causas socialmente relevantes, como questões
técnico, econômico ou financeiro. de ordem técnica, econômica ou financeira. Por exem-
plo, uma despedida fundada em motivo técnico não
O motivo técnico vincula-se à inovação dos é arbitrária, mas é sem justa causa.
instrumentos de produção, necessários para manter
a viabilidade do negócio da empresa e manuten- Tratando-se de institutos distintos, as conse-
ção dos empregos, com o objetivo de obter maior quências jurídicas da dispensa sem justa causa e da
competitividade e maior qualidade. Inclui-se, neste dispensa arbitrária devem ser diferentes, haja vista
caso, alterações na estrutura, métodos, técnicas ou que nessa última hipótese sequer existe uma causa
processos de fabricação, informatização de serviços objetiva que justifique a mitigação do princípio da
ou automatização dos meios de comunicação. continuidade da relação de emprego(3).
Por sua vez, razões econômicas e financeiras
justificadoras das dispensas não arbitrárias estão 2. Proteção da relação de emprego contra a
relacionadas com ingressos e custos, ligadas ao dispensa arbitrária ou sem justa causa
equilíbrio da empresa. Seriam as decorrentes de
crises financeiras, retrações cíclicas do mercado con- A garantia de emprego, entendida como o direi-
sumidor, necessidade de reorganização empresarial, to de o trabalhador conservar sua relação de emprego
como dificuldades financeiras, baixa sensível de contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa, é
encomendas, transferência de atividades, alterações conferida “nos termos da lei complementar, que
de estruturas jurídicas etc. São justificadas apenas as preverá indenização compensatória, dentre outros
dispensas necessárias para a volta da normalidade direitos” (art. 7º, I, da CF).
da atividade empresarial.
Passados mais de vinte anos da promulgação
Por fim, estar-se-á configurado o motivo dis- da Constituição Federal, tal lei complementar ainda
ciplinar quando presente um motivo relevante, não foi editada. O legislador constituinte, quiçá pre-
previsto legalmente, que autorize a resolução do vendo a possibilidade da mora legislativa em editar

(2) A ordem justrabalhista heterônoma estatal tipifica outras infrações possíveis de cometimento pelo empregado ao longo do contrato de
trabalho, que podem ensejar a sua resolução contratual. Exemplos: arts. 158, parágrafo único, 240, parágrafo único, 433, I e III, e 508 da CLT.
(3) A doutrinária majoritária e a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho entendem que o conceito de dispensa arbitrária previsto
no art. 165 da CLT só se aplica aos dirigentes das comissões internas de prevenção de acidentes, ao argumento de que o artigo faz expressa
remissão a esse grupo de trabalhadores. Todavia, o conceito de dispensa arbitrária ali previsto pode ser aplicado analogicamente aos de-
mais casos em que se observe tal conduta empresarial, nos termos do art. 4º da Lei de Introdução do Código Civil, a fim de se conceder a
máxima efetividade ao art. 7º, I, da CF.

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tão importante lei, em face de suas repercussões nas contradição entre os dispositivos constitucionais, pois
esferas sociais e econômicas da sociedade, estabele- estabelece um mesmo efeito para vedações diversas.
ceu norma transitória sobre a matéria. Por tal razão, defendem que é vedada a dispensa ar-
bitrária, garantindo-se ao trabalhador a reintegração
Com efeito, enquanto não editada tal lei comple-
no emprego, e, nos casos de dispensa fundada em
mentar, aplica-se, aos casos de despedida arbitrária
causa socialmente relevante, aplica-se a multa do
ou sem justa causa, a norma prevista do art. 10, I, do
art. 10, I, do ADCT(5).
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
que prevê: Ocorre que, a pretexto de conceder maior
eficácia aos preceitos constitucionais, não se pode
Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar
a que se refere o art. 7º, I, da Constituição: subverter o conteúdo expresso da norma. Como
I — fica limitada a proteção nele referida ao aumento,
observa Carlos Maximiliano, “o espírito da norma
para quatro vezes, da porcentagem prevista no art. há de ser entendido de modo que o preceito atinja
6º, caput e § 1º, da Lei n. 5.107, de 13 de setembro de completamente o objetivo para o qual a mesma foi
1966; [...]. feita, porém, dentro da letra dos dispositivos”(6).
Ou seja, até que advenha a lei complementar O Poder Constituinte originário, ilimitado,
a que se refere o art. 7º, I, os efeitos decorrentes da dispôs, expressamente, que a proteção contra a dis-
dispensa arbitrária e sem justa causa são equiparados, pensa arbitrária ou sem justa causa fica limitada ao
ensejando ambos os casos a indenização tarifada de pagamento de uma indenização no importe de 40%
40% sobre o saldo dos depósitos efetuados na conta do saldo dos depósitos do FGTS até a edição da lei
vinculada do Fundo de Garantia do Tempo de Ser- complementar. Não se trata de contradição, mas de
viço. Ressalva-se, contudo, os casos excepcionais de expressa manifestação no sentido de conceder os
estabilidade decenal ainda existentes, de estabilidade mesmos efeitos para institutos jurídicos diferentes
provisórias previstos na própria constituição, na até a edição da lei complementar.
legislação infraconstitucional ou objeto de acordo
entre as próprias partes, seja individualmente ou Certamente, da forma como tratada a matéria
pelo sindicato representativo da categoria. pelo constituinte originário, a garantia de emprego
sofre séria mitigação, pois permite a denúncia vazia
Destaque-se que o regime do FGTS é um direito do contrato de trabalho ao equiparar os efeitos da
autônomo de todos os trabalhadores, assegurado no
dispensa arbitrária aos efeitos da dispensa fundada
art. 7º, III, da CF, que servirá para suprir despesas
em causas objetivas. No entanto, não é por meio de
extraordinárias para as quais o simples salário não se
revele suficiente, e não uma alternativa à estabilidade. uma interpretação tendenciosa, extrapolando os
A multa incidente sobre o saldo de seus depósitos é limites previstos na própria Lei Fundamental, que
que constitui a indenização compensatória decorren- se resolverá a questão da efetiva proteção contra
te da dispensa arbitrária ou sem justa causa. a dispensa arbitrária ou sem justa causa. O papel
de assegurar a máxima efetividade à garantia de
Portanto, o conceito de dispensa arbitrária só emprego enunciada no art. 7º, I, da CF caberá à lei
terá maior relevância para o Direito brasileiro quando
complementar.
a lei complementar a ser elaborada vier a regula-
mentar os efeitos específicos dessa modalidade de
rompimento contratual(4). 3. Indenização compensatória e outros direitos
Há corrente doutrinária no sentido de que li-
mitar a proteção contra a dispensa arbitrária ou sem A Constituição, ao fazer expressa remissão à
justa causa aos depósitos de 40% do FGTS prestigia indenização compensatória, fixou um direito míni-

(4) O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar os Mandados de Injunção MI ns. 114-SP e 278-MG, entendeu inexistir a mora do legislador
ordinário em editar a lei complementar a que o art. 7º, I, da CF faz referência, porquanto o exercício do direito contra a dispensa arbitrária
ou sem justa causa não se encontra inviabilizado, em face da norma provisória disposta no art. 10, I, do ADCT.
(5) Sobre essa corrente doutrinária, vide MAIOR, Jorge Luís Souto. Proteção contra a dispensa arbitrária e aplicação da Convenção n. 158 da
OIT. Revista de Direito do Trabalho, n. 116, out./dez. 2004; BALAN, Daniel. Interpretação constitucional da proteção contra a dispensa do empregado.
Núcleo Trabalhista Calvet. Disponível em: <http://www.calvet.pro.br/artigos/artigo­_final_interpret­_const_dispensa_ empreg_Daniel_balam.
doc,>. Acesso em: 23.1.2009. Material da 4ª aula da Disciplina Direitos Fundamentais e Tutela do Empregado, ministrada no curso de Pós-
-Graduação Lato Sensu Televirtual em Direito e Processo do Trabalho — UNIDERP/REDE LFG; SUZUKI, Fábio Hiroshi. Proteção contra a
dispensa imotivada do direito do trabalho brasileiro: uma análise da proteção contra a despedida arbitrária ou sem justa causa. Revista de
Direito do Trabalho, v. 32, n. 123, p. 7-52, jul./set. 2006.
(6) MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 125.

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mo do trabalhador. Em outros termos, o legislador amparada em uma das hipóteses anteriores, a Con-
ordinário, ao disciplinar os direitos dos trabalhadores venção prevê a nulidade do ato empresarial, com
em decorrência da rescisão do contrato de trabalho proposta ou determinação de reintegração do em-
por ato unilateral do empregador deverá fixar, no pregado; todavia, se a legislação interna não permitir
mínimo, o pagamento de uma indenização nos casos ou se as circunstâncias não aconselharem a prática
que o trabalhador seja dispensado de forma arbitrária desse ato, poderá ser determinado o pagamento de
ou sem justa causa. indenização adequada ou outra reparação que seja
apropriada (art. 10).
Todavia, por se tratar de um direito mínimo,
poderá determinar a reintegração do empregado A Convenção n. 158 também cria procedimentos
dispensado arbitrariamente, ou quiçá, a possibilidade de informação e consulta aos representantes dos tra-
de o próprio empregado optar entre a reintegração balhadores e notificação às autoridades competentes
e o pagamento de uma indenização, a qual deverá em casos de despedidas por motivos econômicos,
ser superior do que a devida nos casos de dispensa tecnológicos, estruturais ou análogos (Parte III).
sem justa causa. Dispõe que, havendo dispensa por motivos econômi-
cos, técnicos, estruturais ou análogos, o empregador
Em sentido semelhante, Antônio Álvares Sil-
deverá informar oportunamente à representação
va afirma que, dentre os outros direitos a que a lei
dos trabalhadores, manter negociação com essa
complementar preverá, insere-se a reintegração, ao representação e notificar a autoridade competente,
argumento de que essa é a única proteção efetiva cientificando-a da sua pretensão, dos motivos da
contra a dispensa arbitrária, pois o pagamento de dispensa, do número de trabalhadores atingidos e o
uma indenização não impede a dispensa(7). período durante o qual as dispensas ocorrerão.
No Brasil, a Convenção n. 158 foi aprovada e
4. Convenção n. 158 da OIT promulgada pelo Decreto n. 1.855, de 10 de abril de
1996. Porém, em 20 de novembro de 1996, a Conven-
A Organização Internacional do Trabalho ado- ção n. 158 foi denunciada. O Decreto n. 2.100, de 20 de
tou importante norma sobre o término da relação de dezembro de 1996, tornou público que ela deixaria de
trabalho por iniciativa do empregador. Trata-se da vigorar no Brasil, a partir de 20 de novembro de 1997.
Convenção n. 158, de 22 de junho de 1982.
Antes mesmo de sua denúncia, a constituciona-
A Convenção n. 158 dispõe que ao empregador lidade dos arts. 4º a 10 da Convenção n. 158 foram
não é dada a possibilidade de dispensar o empregado objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade no
senão quando houver “causa justificada relacionada STF (ADI n. 1.480-DF). Os Ministros, por 7 votos a
com a sua capacidade ou seu comportamento ou baseada 4, decidiram:
nas necessidades de funcionamento da empresa, estabele- [...] deferir parcialmente a liminar para suspen-
cimento ou serviço”. Daí, extrai-se as três formas de der todos os demais sentidos que as normas em
dispensa pelo empregador: a) por justa causa; b) causa possam ter que não aquele resultante dessa
por razões justificáveis, mas não relacionadas com o interpretação conforme a Constituição, e até final
comportamento faltoso do empregado; e c) arbitrária. julgamento da ação direta, afastar qualquer exegese
que, divorciando-se dos fundamentos jurídicos do
No primeiro caso, a Convenção permite que voto relator (Ministro Celso de Mello) e descon-
não haja qualquer indenização (art. 12.3), dando, siderando o caráter meramente programático das
todavia, ao empregado a oportunidade prévia de normas da Convenção n. 158 da OIT, venha a tê-las
defesa, salvo se isso se revelar irrazoável (art. 7º). como autoaplicáveis, desrespeitando desse modo,
No caso de dispensa por razões justificáveis, mas as regras constitucionais e infraconstitucionais que
não relacionadas ao comportamento do emprego, a especialmente disciplinam, no vigente sistema nor-
Convenção prevê uma indenização pelo término do mativo brasileiro, a despedida arbitrária ou sem justa
contrato de trabalho e/ou prestações da seguridade causa dos trabalhadores.
social, como o seguro-desemprego (art. 12.1). Já no Ocorre que, como observa o Ministro Carlos
caso de dispensa arbitrária, ou seja, dispensa não Velloso, em voto vencido, a Convenção n. 158 da

(7) Parte da doutrina defende que o legislador constituinte originário escolheu a indenização compensatória como a sanção por excelência
contra as dispensas arbitrárias ou sem justa causa. Essa corrente doutrinária afirma que a Constituição quando veda a dispensa, consagrando
a estabilidade, ainda que provisória, ela o faz expressamente, como no caso do dirigente sindical (art. 8º, III), do empregado eleito para cargo
de direção da comissão interna de prevenção de acidentes — CIPA (art. 10, II, a, do ADTC) e da empregada gestante (art. 10, II, b, do ADCT).

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OIT, por tratar de direitos e garantias fundamentais pelo empregado, não sendo necessária a edição de
do trabalhador, incorporou-se ao ordenamento jurí- lei complementar para torná-lo exequível.
dico brasileiro de forma autônoma, como um plus de
Entretanto, apesar de ser um direito por si só
garantias fundamentais, independentemente do pre-
suficiente para criar situações subjetivas positivas, a
visto no art. 7º, I, da CF, nos termos do que prescreve
garantia de emprego não é um direito absoluto, pois
o art. 5º, § 2º, da Constituição Federal, pelo qual “os
o seu alcance encontra-se limitado à proteção contra
direitos e garantias expressos nesta Constituição não
a despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos
excluem outros decorrentes do regime e dos princí-
de lei complementar, a qual caberá definir o sentido
pios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte”. de tais expressões.
Todavia, com a denúncia da Convenção, a ADI n. Ademais, enquanto não editada tal lei comple-
1.480-DF foi extinta por perda de objeto. mentar, a essas duas modalidades de extinção do
A denúncia da Convenção n. 158 é hoje objeto contrato de trabalho se aplica a norma transitória
da ADI n. 1.625-3. A principal alegação é de que o prevista no art. 10, I, do ADCT, pela qual a proteção
Presidente da República não poderia, sem a partici- da garantia de emprego contra dispensa arbitrária e
pação do Congresso Nacional, denunciá-la, haja vista sem justa causa se limita a uma indenização no im-
que se incorporou à legislação nacional por aprova- porte de 40% dos depósitos do FGTS. Sem embargo,
ção do Congresso Nacional depois da ratificação do o legislador ordinário poderá prever a reintegração
Presidente da República. Alega-se, também, que a do empregado nos casos de dispensa arbitrária,
denúncia da Convenção n. 158 teria ocorrido fora do porquanto, a indenização compensatória fixada
prazo permitido. pelo legislador constituinte originário é um direito
mínimo do trabalhador.

Conclusão
Referências bibliográficas
Dentro do atual cenário normativo, a garantia
de emprego prevista no art. 7º, I, da Constituição MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito.
Federal é uma norma constitucional de eficácia con- Rio de Janeiro: Forense, 2006.
tida e de aplicabilidade direta e imediata. Trata-se, SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
portanto, de um direito prontamente desfrutável tivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

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