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AGRAVO DE PETIÇÃO

Da mesma forma que acontece no processo civil, nas ações trabalhistas também é
possível haver uma execução de um título executivo, na qual se objetiva o
recebimento de algum valor devido.

Nas execuções que são julgadas pela Justiça do Trabalho, existe uma modalidade de
recurso denominada agravo de petição, a qual pode ser utilizada quando houver uma
decisão no processo, desde que não seja interlocutória.

Tem o objetivo de combater decisões proferidas nos processos de execução


trabalhista.

Por ser um recurso, ele busca reexaminar o que foi decidido na execução, seja para
alcançar uma reforma da decisão, sua invalidação ou o esclarecimento de algum de
seus termos.

o agravo de petição será submetido ao duplo grau de jurisdição, ou seja, o recurso


passará por duas análises de seus requisitos: a primeira delas, realizada pelo juiz da
causa (aquele que proferiu a decisão), e a segunda delas, pelo Tribunal do Trabalho ou
uma de suas Turmas competentes.

Quando é cabível agravo de petição no processo do trabalho?


Para compreender o cabimento do agravo de petição, é importante entender a
jornada do processo trabalhista.

De regra, o processo se inicia na fase de conhecimento, no qual uma das partes


pleiteia por direitos trabalhistas. Desse processo, haverá uma sentença, a qual terá um
teor executável, envolvendo valores monetários ou obrigações de fazer ou não fazer,
caso a inicial não seja julgada improcedente. 

Essa sentença, por sua vez, poderá fundamentar um processo de execução contra a
parte que perdeu a ação trabalhista, a fim de que a parte vencedora receba os valores
a ela devidos, caso não sejam espontaneamente pagos.

E ao final da execução também haverá uma decisão, sendo que esta é combatida por
um agravo de petição, no prazo de 8 dias, conforme o art. 897, alínea ‘a’, da CLT.

Com base no procedimento executivo acima descrito, o agravo de petição é cabível


contra:

 sentença proferida em embargos à execução, arrematação ou adjudicação;


 sentença proferida em embargos de terceiro;
 sentença proferida em processo incidente à execução;
 decisão que extingue parcial ou totalmente a execução.

Requisitos necessários para aceitação do agravo de petição 


Para ser aceito, o recurso deverá seguir o disposto no art. 897, parágrafo primeiro, da
CLT, que diz:

Art. 897, § 1º – O agravo de petição só será recebido quando o agravante delimitar,


justificadamente, as matérias e os valores impugnados, permitida a execução imediata
da parte remanescente até o final, nos próprios autos ou por carta de sentença. 

Os requisitos delimitados no artigo acima serão abordados, individualmente, a seguir.

Prazo 
O prazo previsto no caput do artigo 897 da CLT, para interposição do agravo de
petição, é de 8 dias.

Embora não explique no caput, a contagem do prazo é feita em dias úteis. Tal regra
está prevista no art. 775 da CLT, o qual foi incluído com a Reforma Trabalhista:

Art. 775.  Os prazos estabelecidos neste Título serão contados em dias úteis, com
exclusão do dia do começo e inclusão do dia do vencimento.

Desta forma, não são incluídos na contagem os finais de semana (sábado e domingo) e
os feriados.

Caso uma das partes seja a Fazenda Pública, o MPT (Ministério Público do Trabalho) ou
a Defensoria Pública, o prazo para manifestações e interposição de recursos será
contado em dobro. Assim, no caso do agravo de petição, tais partes terão 16 dias úteis
para apresentá-lo.

Delimitação das matérias e dos valores


A necessidade de delimitar as matérias e valores no agravo de petição também está
sumulada no TST, sob nº 416:

Súmula 416/TST – 22/08/2005. Mandado de segurança. Execução. Recurso. Agravo de


petição. Delimitação justificada da matéria e valores. Lei 8.432/1992. CLT, art. 897, §
1º. Cabimento. Lei 1.533/1951, art. 1º. Devendo o agravo de petição delimitar
justificadamente a matéria e os valores objeto de discordância, não fere direito líquido
e certo o prosseguimento da execução quanto aos tópicos e valores não especificados
no agravo” (ex-OJ 55/TST-SDI-II – inserida em 20/09/2000).

Isso quer dizer que, ao interpor o recurso, a parte deverá delimitar quais aspectos
busca revisão e quais valores não concorda. Não pode, portanto, apenas recorrer de
forma genérica ou sem justificar o porquê de estar impugnando uma determinada
matéria ou valor.
Assim, se houver parte do valor sobre a qual não haja controvérsia, a parte poderá
requerer o levantamento do mesmo.

É o caso, por exemplo, da parte que não concorda com os valores de horas extras, mas
está de acordo com o valor referente às férias devidas, sendo que sobre este poderá
realizar o saque.

Custas para interposição do agravo de petição


De acordo com o artigo 789-A da CLT, embora haja um valor devido para a
interposição do recurso, tal custa será suportada pelo executado somente ao final do
processo. 

Ou seja, ele não precisará pagar o valor correspondente ao agravo de petição no


momento em que apresentá-lo no processo.

O mesmo entendimento está previsto na Instrução Normativa nº 20, XIII, do TST: “No
processo de execução, as custas não serão exigidas por ocasião do recurso, devendo
ser suportadas pelo executado ao final”.

Desnecessidade de depósito recursal


Diferente do que ocorre para a interposição do recurso ordinário, no agravo de petição
não há necessidade de realizar o depósito recursal.

Isso porque, como mencionado, a garantia do juízo (seja por meio de depósito recursal
ou penhora de bens) é, via de regra, oferecida na fase recursal do processo de
conhecimento, não sendo necessário repeti-la na execução trabalhista.

Entretanto, caso ainda não tenha havido a garantia do juízo, ela pode vir a ser
necessária para a interposição do agravo de petição.

Veja o entendimento do Tribunal Superior do Trabalho:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEPÓSITO RECURSAL EM SEDE DE AGRAVO DE PETIÇÃO.


INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 03/92 DO TST. Garantida integralmente a execução nos
Embargos, e não havendo majoração do valor do débito, não é exigível à parte
agravante o pagamento de novo depósito recursal. Entendimento contrário enseja
violação ao art. 5º, LV, da Constituição Federal. Agravo provido. (TST – AIRR:
4473338519985135555 447333-85.1998.5.13.5555, Relator: Maria de Assis Calsing,
Data de Julgamento: 10/03/1999, 5ª Turma,, Data de Publicação: DJ 09/04/1999.)

Qual o efeito do agravo de petição?


Para compreender quais os efeitos que o agravo de petição poderá ter, separamos
cada um deles em tópicos. 

Efeito devolutivo
Pela regra prevista no art. 899 da CLT, o agravo de petição terá efeito devolutivo. 
Art. 899. Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente
devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória
até a penhora.

Esse efeito se aplica às matérias e aos valores especificamente impugnados e


justificados no recurso, conforme previsto no art. 897, §1º, da CLT, já mencionado
acima.

Assim, tudo aquilo que for impugnado será devolvido para reanálise do juízo
competente, de acordo com as razões e argumentos apresentados. 

Se houver valor considerado incontroverso, ou seja, sobre o qual não recai dúvidas,
este não será submetido ao reexame, podendo acarretar o levantamento ou saque do
mesmo.

Efeito suspensivo
Diante do teor do art. 899 da CLT, nota-se que o efeito suspensivo não é a regra para
os recursos trabalhistas.

Entretanto, ele ainda assim poderá ser concedido nos agravos de petição, desde que
seja demonstrada a probabilidade de ocorrência de grave dano ou incerta reparação
para a parte.

É o que já decidiu o TRT da 4ª Região:

AGRAVO DE PETIÇÃO. CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO DA EXECUÇÃO. Em


consonância com o artigo 899 da CLT, os recursos terão efeito meramente devolutivo,
salvo as exceções expressamente previstas, permitida a execução provisória até a
penhora, assim a excepcionalidade do efeito suspensivo só terá lugar quando
cabalmente demonstrada a probabilidade de ocorrência de grave dano de difícil ou
incerta reparação, o que não se verifica no caso.Agravo de petição interposto pela
terceira-embargante a que se nega provimento, no item. (TRT-4 – AP:
00000346620155040016, Data de Julgamento: 19/07/2016, Seção Especializada Em
Execução)

E também:

[…] AGRAVO DE PETIÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS À EXECUÇÃO.


POSSIBILIDADE. Presentes os elementos que evidenciam o perigo da irreversibilidade
da decisão, bem como estando garantida a execução, é acolhido o pedido de
atribuição de efeito suspensivo aos embargos à execução. Aplicação do art. 919, § 1º,
do CPC. Agravo de petição a que se dá provimento. (TRT-4 – AP:
01262002020085040007, Data de Julgamento: 04/05/2020, Seção Especializada em
Execução).
Efeito translativo
O efeito translativo do agravo de petição ocorre quando o recurso será examinado de
ofício pelo órgão ad quem, sempre que houver matéria de ordem pública para análise.

Essas questões não são acobertadas pela preclusão e podem ser discutidas a qualquer
momento. Um exemplo de matéria de ordem pública é nos casos de ausência de
liquidez do título executivo.

Qual o recurso após o agravo de petição?


Após a interposição do agravo de petição e manifestação das partes, haverá uma
reformulação – ou não – da decisão proferida em sede executiva.

Independentemente do resultado favorável ou não, abre-se a possibilidade de interpor


dois recursos, após o julgamento do agravo de petição:

 os embargos de declaração, direcionado para o próprio juiz, caso haja


algum tópico ou redação da decisão a ser esclarecido;
 recurso de revista, direcionado para o Tribunal Superior do Trabalho, caso
seja necessária revisão da decisão por infração à lei trabalhista ou por
haver divergência jurisprudencial na aplicação desta lei.

O prazo para os embargos de declaração é de cinco dias, enquanto a interposição do


recurso de revista deve ser feita em oito dias.

Perguntas frequentes sobre agravo de petição

O que é o agravo de petição?


O agravo de petição é a medida processual, de natureza recursal, cabível contra as
decisões proferidas nas execuções trabalhistas.

Qual o efeito do agravo de petição?


Via de regra, o efeito do agravo de petição é devolutivo, conforme art. 899 da CLT.
Entretanto, em outras situações poderá ter efeito suspensivo ou translativo.

Qual o recurso após o agravo de petição?


Após o julgamento do agravo de petição, é possível interpor dois recursos: o recurso
de revista, direcionado para o Tribunal Superior do Trabalho, caso seja necessária
revisão da decisão por infração à lei trabalhista ou por haver divergência
jurisprudencial na aplicação desta lei; e os embargos de declaração, direcionado para o
próprio juiz, caso haja algum tópico ou redação da decisão a ser esclarecido.
É necessário recolher custas no agravo de petição?
De acordo com o artigo 789-A da CLT, embora haja um valor devido para a
interposição do recurso, tal custa será suportada pelo executado somente ao final do
processo.

Ou seja, ele não precisará pagar o valor correspondente ao agravo de petição no


momento em que apresentá-lo no processo.

É necessário garantir o juízo para interpor agravo de petição?


No agravo de petição não há necessidade de realizar o depósito recursal, diferente do
que ocorre para a interposição do recurso ordinário.

Isso porque a garantia do juízo (seja por meio de depósito recursal ou penhora de
bens) é, via de regra, oferecida na fase recursal do processo de conhecimento, não
sendo necessário repeti-la na execução trabalhista.

Entretanto, caso ainda não tenha havido a garantia do juízo, ela pode vir a ser
necessária para a interposição do agravo de petição.

Conclusão
O agravo de petição é recurso necessário para combater decisões terminativas ou
definitivas proferidas na execução trabalhista. 

Como visto, seu objetivo é discutir matérias e valores, de forma justificada, sendo que
aquilo que não for contemplado em seu bojo, será considerado incontroverso e
poderá ser levantado pela parte exequente.

Sendo assim, conhecer o funcionamento do agravo de petição é primordial para os


advogados trabalhistas, a fim de que defendam, de forma plena, o interesse de seus
clientes nas execuções.

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