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SENTENÇA

Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei nº 9.099/95, passo a


decidir.
Trata-se de ação indenizatória proposta por ADRIANA CONCEICAO DA
HORA em face de COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA
aduzindo em suma, que em 20/05/2015 faltou energia elétrica por volta das 12h, apesar
das inúmeras ligações para que a energia fosse restabelecida, os serviços somente foram
normalizados em 24/05/2015 às 8:30h, ficando sem o fornecimento de energia por mais
de quatro dias.

1. Das Preliminares
1.1
1.1

DA CONEXÃO E LITISPENDÊNCIA

Alega a promovida a existência de conexão entre as ações autuadas sob


os números: : 0001766-46.2017.8.05.0271; 0001767-31.2017.8.05.0271; 0001768-
16.2017.8.05.0271; 0001769- 98.2017.8.05.0271; 0001765-61.2017.8.05.0271 . Contudo,
não se mostra necessária tal medida, vez que todas as ações mencionadas tramitam
perante o mesmo juízo, não havendo que se falar em prejudicialidade ante a inexistência
de risco de provimentos jurisdicionais contraditórios. Ademais, as ações em apreço
possuem causas de pedir distintas.

Do mesmo modo, não há que se falar em litispendência da ação. Os


autos declinados, apesar de possuírem mesmas partes e pedidos, diferentes são suas
causas de pedir próximas (fundamento fático). Uma vez que a parte ajuizou ações
idênticas contra o mesmo Réu, visando indenização por danos morais, mas concernentes
a fatos ocorridos em datas diversas, inexiste a alegada litispendência e o uso da máquina
judiciária de modo temerário, ainda que pudesse ter ingressado com uma única ação. Na
hipótese é possível a verificação que as supostas interrupções de energia elétrica se
deram em datas distintas, impedindo, portanto, o reconhecimento da tríplice identidade
necessária à caracterização da litispendência.
1.1DA INÉPCIA DA INICIAL E FALTA DE INTERESSE DE AGIR

Não se revela inepta a petição inicial, tampouco ausente o interesse de


agir, já que os documentos colacionados aos autos mostram-se suficientes para o
deslinde da matéria. Insuficiência probatória não se confunde com inépcia da exordial, vez
que as partes possuem até o momento da audiência instrutória ou momento equivalente
para produção de provas, além de ainda ser possível a inversão do ônus probatório.

1.1 Da preliminar de inadequação do rito por complexidade da causa

Aduz, ainda, a ré a impossibilidade de tramitação da presente ação pelo rito


da Lei nº 9099/95 tendo em vista suposta complexidade da causa caracterizada pela
necessidade de perícia.

Nego procedência à preliminar.

A Lei 9.099/95 estabeleceu, em seu art. 3º, dois parâmetros – valor e


matéria – para que uma ação possa ser considerada de menor complexidade e,
consequentemente, sujeita à competência do Juizado Especial Cível. Há, portanto,
apenas dois critérios para fixação dessa competência: valor e matéria, inexistindo
dispositivo na Lei 9.099/95 que permita inferir que a complexidade da causa – e, por
conseguinte, a competência do Juizado Especial Cível – esteja relacionada à necessidade
ou não de perícia.

Ao contrário, o art. 35 da Lei 9.099/95 regula a hipótese de prova técnica,


tudo a corroborar o fato de que no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis é possível a
realização de perícia, seguindo-se, naturalmente, formalidades simplificadas que sejam
compatíveis com as causas de menor complexidade.

Nestes termos é a consolidada jurisprudência do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL.

COMPLEXIDADE DA CAUSA. NECESSIDADE DE


PERÍCIA. CONDENAÇÃO SUPERIOR A 40 SALÁRIOS
MÍNIMOS. CONTROLE DE COMPETÊNCIA. TRIBUNAIS
DE JUSTIÇA DOS ESTADOS. POSSIBILIDADE.
MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO TRANSITADA
EM JULGADO. CABIMENTO. 1. Na Lei 9.099/95 não há
dispositivo que permita inferir que a complexidade da
causa – e, por conseguinte, a competência do Juizado
Especial Cível – esteja relacionada à necessidade ou não
de realização de perícia. 2. A autonomia dos Juizados
Especiais não prevalece em relação às decisões acerca
de sua própria competência para conhecer das causas
que lhe são submetidas, ficando esse controle submetido
aos Tribunais de Justiça, via mandado de segurança.
Inaplicabilidade da Súmula 376/STJ. 3. O art. 3º da Lei
9.099/95 adota dois critérios distintos – quantitativo (valor
econômico da pretensão) e qualitativo (matéria envolvida)
– para definir o que são “causas cíveis de menor
complexidade”. Exige-se a presença de apenas um
desses requisitos e não a sua cumulação, salvo na
hipótese do art. 3º, IV, da Lei 9.099/95. Assim, em regra, o
limite de 40 salários mínimos não se aplica quando a
competência dos Juizados Especiais Cíveis é fixada com
base na matéria. 4. Admite-se a impetração de mandado
de segurança frente aos Tribunais de Justiça dos Estados
para o exercício do controle da competência dos Juizados
Especiais, ainda que a decisão a ser anulada já tenha
transitado em julgado. 5. Recurso ordinário não provido.
(RMS 30.170/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe
13/10/2010)

Ademais, é cediço que a finalidade da prova é o convencimento do juiz,


sendo este o seu direto e principal destinatário. Na profícua lição de Vicente Greco Filho,
"no processo, a prova não tem um fim em si mesma ou um fim moral e filosófico; sua
finalidade é prática, qual seja: convencer o juiz".

Sob esse enfoque, o juiz tem inclusive o poder-dever de julgar a lide antecipadamente,
desprezando a produção de provas, ao constatar que o acervo documental é suficiente
para nortear e instruir seu entendimento, sendo certo que o seu livre convencimento é a
bússola norteadora da necessidade ou não de produção de quaisquer provas que
entender pertinentes ao julgamento da lide. O art. 355, inciso I, do CPC permite ao
magistrado desprezar a produção de provas quando constatar que a questão é
unicamente de direito ou que os documentos acostados aos autos são suficientes para
nortear seu convencimento.

Superadas as preliminares, passo a analisar o mérito.

2.DO MÉRITO

Verifica-se, inegavelmente, que existe uma relação de consumo e, por


isso, resta patente a incidência do Código de Defesa do Consumidor visto que o(a)
requerente se utilizou de serviço prestado pela requerida como destinatário(a) final. Por
seu turno, o artigo 3º, parágrafo segundo, afirma que fornecedor é toda pessoa que presta
serviço mediante remuneração.

Cuidando-se de consumidor(a) que sucumbe à vulnerabilidade técnica,


jurídica, econômica e social, temos como razoável a presunção de que figura como
verossímil a sua alegação, sobretudo em razão de competir à fornecedora a prova de
efetiva regularidade do serviço.

Milita a favor do(a) consumidor(a) a presunção de veracidade. Porquanto,


declaro invertido o ônus da prova, em função da hipossuficiência do(a) Consumidor(a) na
presente relação, do aparato técnico que possui a Ré e pela verossimilhança contida no
termo de apresentação de queixa, isto nos termos do art. 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor, vez que o consumidor não teria como provar a origem do defeito pelo fato do
serviço.

Considerando a inversão do ônus da prova, a contestante não conseguiu,


na peça apresentada, elidir os fatos alegados pelo(a) Autor(a) na inicial no tocante à má
prestação do serviço entre os dias 20/02/2015 a 24/02/2015. As telas acostadas ao
evento 10.1, também, em nada, corroboram essa tese, mostrando-se imprestáveis à
resolução do feito, visto que não demonstram ter havido ou não a interrupção de energia
questionada.

Invertido o ônus da prova, não basta somente a Ré dizer que não houve o
nexo de causalidade entre a suspensão de energia e os danos apontados pelo(a)
acionante. Para afastar a pretensão autoral, caberia à Promovida, tendo em vista o seu
aparato técnico, comprovar, de forma inequívoca, que houve efetivo fornecimento de
energia elétrica, sem interrupção, no período impugnado, mas quedou-se inerte.

Ademais, a testemunha ouvida nos autos de nº 0002584-


66.2015.8.05.0271, em audiência de instrução, afirmou ter havido a suspensão do serviço
na localidade de Barra de Serinhaém em fevereiro de 2015, ficando toda a comunidade
sem energia.

Deve-se atentar que, no campo da responsabilidade, encontra-se o


fornecedor de serviços sob o crivo do risco objetivo, de maneira que não cabe a
discussão em torno do elemento subjetivo para aferição da imputação do ilícito. A
responsabilidade objetiva é de rigor, só podendo ser afastada por culpa exclusiva do
usuário do serviço ou de terceiro, o que não restou provado nos autos.

Ocorre que esta alegação da parte autora, acerca da interrupção do


serviço de energia elétrica no ano de 2015, já se repetiu em dois processos, todos em
trâmite neste Juízo, em curto espaço de tempo. No Processo nº 0001765-
61.2017.8.05.0271 , alegou fato ocorrido em janeiro de 2015; e no Processo nº 0001766-
46.2017.8.05.0271 , fato ocorrido em março de 2014.

Muito embora refiram-se a fatos distintos, necessário pontuar que se trata


do mesmo contrato atingido em datas muito próximas. A distinção é somente quanto à
data das interrupções. E, neste contexto, passo a considerar a unicidade da base fática,
pautando entendimento de que o abalo moral do mesmo contexto e em datas tão
próximas não pode ser considerado de forma fatiada.

No caso em tela, repita-se que os fatos são diferentes, mas do mesmo


contexto, envolvendo as mesmas partes.

Cumpre enfatizar que, no Processo nº 0001766-46.2017.8.05.0271, foi


proferida condenação à indenização por danos morais.

Assim, por considerar que a base fática do alegado dano moral é a


mesma já veiculada em outros processos, onde já foi proferida condenação pelo alegado
dano moral, tenho por improcedente a pretensão deduzida nestes autos.

Quanto às despesas com o advogado contratado, no valor de R$2.000,00


(dois mil reais), a pretensão não pode ser acolhida. Em se tratando de juizado especial,
não se pode impor tais despesas à demandada.

Face ao exposto, extingo o feito COM APRECIAÇÃO DO MÉRITO (art.


487, I do NCPC) e JULGO IMPROCEDENTE o(s) pedido(s) da parte autora.

Incabíveis custas e honorários advocatícios (art. 55 da Lei 9099/95).

Após o trânsito em julgado, ao arquivo com a devida baixa na distribuição.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Valença, 12 de julho de 2017.

Valéria Anselmo dos Santos

Juíza Leiga

HOMOLOGAÇÃO

Obedecidas as formalidades legais aplicáveis ao caso, estando


fundamentada de acordo com entendimento deste Magistrado, decidindo bem as
questões postas em julgamento, HOMOLOGO a minuta de sentença elaborada pelo Juiz
Leigo, em todos os seus termos, a fim de que produza os jurídicos e legais efeitos.

Valença/BA, 12 de julho de 2017.

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