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RECURSO ESPECIAL Nº 1977122 - SP (2021/0391539-2)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RECORRIDO : ECM
ADVOGADO : GUSTAVO MATSUNO DA CÂMARA - SP279563
RECORRIDO : M DA S
ADVOGADOS : DANIELA DE LIMA AMORIM - SP357916
MURILO AGUTOLI PEREIRA - SP347056

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO


ESTADO DE SÃO PAULO, com fundamento no art. 105, inciso III, alínea a, da
Constituição Federal, contra acórdão prolatado pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO (Embargos de Declaração na Apelação Criminal n.
2001191-51.2020.8.26.0000/50000).

A controvérsia tratada nos autos foi devidamente relatada no parecer


ministerial:
1. Trata-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO, com fulcro no artigo 105, inciso III, alínea “a” da
Constituição Federal, contra o v. acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, que rejeitou a denúncia oferecida em face dos ora
recorridos.
2. O recorrente sustenta, em síntese, “negativa de vigência ao disposto no
artigo 41, inciso IV, da Lei no 8.625/93, nos artigos 6º e 7º, ambos da Lei no
8.038/90, no artigo 89 da Lei no 8.666/93, no artigo 1º, inciso I, do Decreto-lei
no 201/67, no artigo 299, parágrafo único, c.c. artigo 304, ambos do Código
Penal, no artigo 29, “caput”, do mesmo Código, bem como no artigo 370, § 4º
, e artigos 41 e 395, incisos I, II e III, todos do Código de Processo Penal” (e-
STJ Fl. 2447), ao argumento de nulidade processual na não intimação
pessoal do MP para que tivesse a oportunidade de fazer sustentação oral e
de indevida rejeição da denúncia.
3. Requer o conhecimento e provimento do recurso “recebendo-se a
denúncia e determinando-se o prosseguimento do feito” (e-STJ Fl. 2476).
4. Em contrarrazões, a defesa pugnou pela inadmissão ou pelo
desprovimento do recurso.
5. Decisão de admissibilidade à e-STJ Fl. 2552.
6. É o relatório.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022


Documento eletrônico VDA31414759 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Assinado em: 15/02/2022 19:00:10
Publicação no DJe/STJ nº 3336 de 17/02/2022. Código de Controle do Documento: c71c17f2-ff8f-4e25-ab48-f8c741c26ab7
O Mistério Público Federal manifestou-se pelo provimento do recurso.

É o relatório.

Decido.

O recurso não comporta conhecimento.

Sobre a pretensão aduzida, o Tribunal de origem entendeu que (e-STJ fl.


2.435):
Os autos foram distribuídos aos 8 de janeiro de 2020 (fl. 1236) e o Ministério
Público, à fl. 1238, no dia 14 de janeiro, protocolizou petição apenas
requerendo juntada de mídia em cartório, não manifestando oposição ao
julgamento virtual.
O julgamento foi realizado somente quatro meses após, em 12 de maio de
2020.
Portanto, não tendo havido oposição expressa do Ministério Público para o
julgamento virtual do feito que, ressalte-se, ocorreu no início da pandemia
causada pelo coronavírus, não há que se falar em nulidade.

Do confronto do acórdão recorrido com as razões do especial, verifica-se


que, em nenhum momento, o Parquet impugnou os fundamentos autônomos relativos
ao fato de que, embora intimado nos termos do art. 1º, caput, da Resolução
n. 772/2017, do Órgão Especial do TJSP, não fez oposição expressa ao julgamento
virtual. Assim, ao limitar-se a alegar a necessidade de intimação pessoal, deixando de
rebater o fundamento autônomo específico relativo à ausência de oposição expressa
ao julgamento virtual, embora ciente da distribuição do feito, vislumbra-se, na hipótese
dos autos, a incidência da Súmula n. 283/STF, aplicada por analogia, in verbis: "É
inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles".
Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL.
CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA. ART. 2.º, § 1.º, DA LEI
N. 12.850/2013. CONTRARIEDADE A ARTIGO DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. ANÁLISE. DESCABIMENTO. ATIPICIDADE DA CONDUTA.
AFERIÇÃO. INVIABILIDADE. ENUNCIADO N. 7 DO STJ. SUJEITO ATIVO E
NATUREZA DO CRIME. FUNDAMENTOS NÃO IMPUGNADOS. SÚMULA
N. 283/STF. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
[...]
3. Quanto à impossibilidade de o Acusado ser considerado sujeito ativo da
conduta, bem assim no tocante à natureza do delito, não houve a
impugnação específica aos fundamentos do acórdão objurgado. Aplicação
do Enunciado n. 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.
4. Agravo regimental desprovido (AgRg no AREsp 1.603.565/MS, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe
01/03/2021).

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022


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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME
TRIBUTÁRIO. ABSOLVIÇÃO DOS RÉUS. PEDIDO DE ANULAÇÃO DA
SENTENÇA DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. TESE DE VIOLAÇÃO DO ART.
10 DO CPC, ANTE A FALTA DE OITIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO APÓS
A RESPOSTA À ACUSAÇÃO. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
VIOLAÇÃO DO ART. 619 DO CPP NÃO VERIFICADA.
[...]
3. O aresto recorrido se assenta em mais de um fundamento, não
impugnado pela parte. O Ministério Público não alegou, nas razões de seu
apelo, que a falta de abertura de vista dos autos depois da resposta à
acusação lhe causou prejuízo, por ofensa ao contraditório. Assim, não havia
como o Tribunal a quo reconhecer a nulidade sem a demonstração de
prejuízo, pois nem sequer podia aferir se a defesa articulou, ou não, fatos
novos, então desconhecidos pelo órgão. O recurso especial não abrange
esta motivação, o que enseja a aplicação da Súmula n. 283 do STF. O vício
não pode ser corrigido em agravo regimental.
4. Agravo regimental não provido (AgRg no AREsp 1.387.706/BA, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
27/10/2020, DJe 12/11/2020).

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 15 de fevereiro de 2022.

Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


Relator

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022


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