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AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2340962 - DF (2023/0116310-0)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


AGRAVANTE : ASSUPERO ENSINO SUPERIOR LTDA.
OUTRO NOME : ASSOCIACAO UNIFICADA PAULISTA DE ENSINO RENOVADO
OBJETIVO - ASSUPERO
ADVOGADOS : RODRIGO DE BITTENCOURT MUDROVITSCH - DF026966
GUILHERME PUPE DA NOBREGA - DF029237
HELENA VASCONCELOS DE LARA RESENDE - DF040887
VICTOR HUGO GEBHARD DE AGUIAR - DF050240
LARISSA DE SOUSA CARDOSO - DF056406
AGRAVADO : DENOELMA CARVALHO NUNES
ADVOGADO : NAIDSON LINCOLN DO NASCIMENTO JUNIOR - DF061301

DECISÃO

Trata-se de agravo nos próprios autos (CPC/2015, art. 1.042) interposto


contra decisão que inadmitiu o recurso especial sob os seguintes fundamentos: (a)
inexistência de violação dos arts. 489, 1°, IV, e 1.022, I e II, do CPC/2015, (b) ausência
de ofensa aos artigos de lei apontados e (c) aplicação das Súmulas n. 5 e 7 do STJ.

O acórdão recorrido está assim ementado (e-STJ fl. 441):


APELAÇÃO CÍVEL. AUTONOMIA DIDÁTICO-CIENTIFICA DA INSTITUIÇÃO
DE ENSINO SUPERIOR. MATRÍCULA. GRADE FECHADA.
MENSALIDADE. COBRANÇA INTEGRAL.
É abusiva a cobrança de mensalidade referente ao valor da grade fechada,
quando comprovado que a aluna não cursou todas as disciplinas.

Os embargos de declaração de ambas as partes foram rejeitados (e-STJ fls.


549/565).

Nas razões do recurso especial (e-STJ fls. 568/582), interposto com base no
art. 105, III, "a", da CF, o recorrente apontou violação dos seguintes dispositivos:

(i) arts. 489, § 1°, IV, VI e 1.022, I e II, do CPC/2015, alegando que "o
Tribunal de origem reconheceu a necessidade de a Recorrente ressarcir à aluna os
valores referentes às quatro disciplinas não cursadas no primeiro semestre de 2020
[...] ocorre que o Tribunal de origem desconsiderou inúmeros elementos relevantes
para a solução escorreita do caso, argumentos esses trazidos, inclusive, em sede de

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quinta-feira, 29 de junho de 2023


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embargos de declaração" (e-STJ fl. 574),

(ii) arts. 53 da Lei n. 9.394/1996, 1° da Lei n. 9.870/1999 e 188, I, do


CC/2002, além de dissídio jurisprudencial, por entender que "a Recorrente agiu de
maneira escorreita e dentro de sua autonomia didático-científico e financeira ao
determinar o valor a ser cobrado a título de mensalidade, especialmente ao inserir a
cláusula 5.3 em seu contrato de prestação de serviços educacionais que limita o
desconto para alunos que possuem dispensa de disciplina em no máximo 20% [...] não
há dúvidas de que os valores adimplidos pela Recorrida no primeiro semestre de 2020,
estão em consonância com a cláusula 5.3 do contrato celebrado entre as partes, e com
os artigos 1º da Lei n. 9.394/1996 e artigo 53 da Lei n. 9.394/1996 que asseguram a
autonomia financeira da Recorrente, não havendo que se falar em restituição de
nenhuma monta" (e-STJ fls. 577/578).

Em suma, são estes os pedidos recursais (e-STJ fl. 582):


Por todo o exposto, requer o conhecimento e provimento do presente
recurso especial para:
uma vez reconhecida a violação aos artigos 1.022 e 489, §1º, inciso IV do
Código de processo Civil, seja cassado o acórdão recorrido e remetidos os
autos ao Tribunal de origem, a fim deque este enfrente, detidamente, as
questões, invocadas pela Recorrente nos embargos de declaração outrora
opostos; e
subsidiariamente, acaso não reconhecida a ilegalidade apontada no subitem
anterior, que se reconheça a violação aos artigos 53 da Lei n. 9.394/1996,
artigo 1º da Lei n. 9.870/1999 e artigo 188, I, do Código Civil, bem como o
inegável dissenso jurisprudencial reformando-se o acórdão recorrido.

Foram oferecidas contrarrazões (e-STJ fls. 604/606).

No agravo (e-STJ fls. 612/622), afirma a presença de todos os requisitos de


admissibilidade do especial.

É o relatório.

Decido.

Não há falar em ofensa aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, pois o Tribunal
de origem pronunciou-se, de forma clara e suficiente, sobre as questões suscitadas nos
autos. Não há negativa de prestação jurisdicional quando os fundamentos utilizados
tenham sido suficientes para embasar a decisão, ainda que em sentido diverso do
sustentado pela parte, como de fato ocorreu. Na mesma linha:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
APRECIAÇÃO DE TODAS AS QUESTÕES RELEVANTES DA LIDE PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. AUSÊNCIA DE AFRONTA AO ART. 489 e 1.022
DO CPC/2015. REEXAME DO CONTRATO E DO CONJUNTO FÁTICO-

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PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. DECISÃO MANTIDA.
1. Inexiste afronta aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015 quando o acórdão
recorrido pronuncia-se, de forma clara e suficiente, acerca das questões
suscitadas nos autos, manifestando-se sobre todos os argumentos que, em
tese, poderiam infirmar a conclusão adotada pelo Juízo.
2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem
interpretação de cláusula contratual ou revolvimento do contexto fático-
probatório dos autos, a teor do que dispõem as Súmulas n. 5 e 7 do STJ
3. No caso concreto, o Tribunal de origem concluiu pela inexistência de
abusividade da rescisão contratual, pagamento dos danos materiais e
ausência de danos morais. Alterar esse entendimento demandaria o
reexame das provas produzidas nos autos, o que é vedado em recurso
especial.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1.659.130/RS, de minha relatoria, QUARTA TURMA, julgado
em 30/11/2020, DJe 09/12/2020.)

O TJDFT, ao analisar as provas, entendeu que "não há comprovação de que


a apelada teria matriculado, ou mesmo oferecido, a apelante nas 6 matérias constantes
do id 30976610, visto que o documento citado trata de grade regular, não sendo esta a
opção da apelante, já que estava em regime tutelar", assentando ainda que (e-STJ fls.
442/444):
Conforme o Regimento Interno da instituição de ensino, o aluno somente
poderá ingressar no penúltimo e último semestres se não houver matéria
pendente. A apelante tinha duas matérias pendentes do 6º semestre e, por
isso, só poderia ingressar nas disciplinas do 7º (penúltimo) depois de cursar
as faltantes do 6º.
Confira-se o Regimento Interno tema:
REGIME DE DEPENDÊNCIA
IV - do antepenúltimo para o penúltimo período: o aluno só é
promovido sem nenhuma DP; caso tenha uma ou mais DPs, ele passa
à condição de ALUNO TUTELADO, ou seja, ele poderá ir para o
período seguinte, mas só cursa as DPs e as disciplinas que a UNIP
determinar;
V - do penúltimo para o último período: o aluno só é promovido sem
nenhuma DP; caso tenha uma ou mais DPs, ele passa à condição de
ALUNO TUTELADO, ou seja, ele poderá ir para o período seguinte,
mas só cursa as DPs e as disciplinas que o UNIP determinar.
Ante a pendência de disciplinas, a instituição de ensino ofertou a
participação no Regime de Progressão Tutelada, que possibilita ao aluno
cursar matérias em que foi reprovado juntamente com o fluxo normal, com o
intuito de regularizar a situação acadêmica antes dos dois últimos semestres.
Como a apelante ainda assim chegou no penúltimo semestre com matérias
pendentes, não foi possível a continuidade nos semestres finais, sem que
antes cumprisse as disciplinas pendentes.
Além das normas constantes do Regimento Interno, o contrato de id
30976628 - em que pese o instrumento não estar assinado pelas partes, elas
não negam a validade/eficácia; ao contrário, juntaram-no em respaldo às
teses que defendem - traz também cláusulas relacionadas à questão da

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pendência de disciplinas, verbis:
6.1.2 Regras aplicáveis à matrícula e sua renovação. O Aluno declara
estar ciente de que:
(i) matriculando-se num período, deverá cursar, também, todas
as disciplinas dos períodos anteriores, nas quais ainda não
obteve aprovação;
(ii) após a divulgação dos resultados, caso não tenha
conseguido o mínimo de aprovações em disciplinas
exigidas pelo Regimento Geral da UNIP para sua promoção
para o período requerido, esta matrícula, por opção do
Aluno, se submeterá ao regime de progressão tutelada, que
consiste na orientação diferenciada sobre a reestruturação
do seu percurso acadêmico, inclusive sobre a distribuição
das disciplinas em dependência, ou ainda a cursar,
atividades e estágios incompletos (“Regime de Progressão
Tutelada”); ou, não optando pelo Regime de Progressão
Tutelada, se reverterá para período anterior de mesma paridade,
devendo ele cumprir o Currículo do Curso vigente para o período
letivo em que for matriculado;
(iii) no Regime de Progressão Tutelada, deverá cumprir
integralmente o plano acadêmico estabelecido pela
coordenação do Curso, no qual é estabelecido um plano de
estudos que indica como, quando e quais disciplinas
deverão ser cursadas, assim como as condições e as
medidas a serem adotadas para a conclusão das demais
atividades curriculares ainda pendentes;
(iv) o plano de estudos do Regime de Progressão Tutelada
poderá ultrapassar, conforme o caso, o tempo mínimo de
integralização curricular do curso;
(v) no caso de reprovação de disciplina e/ou atividade relativa a
período letivo anterior, não é possível a promoção para o
penúltimo e último período letivo.
Dessarte, o Regimento Interno (id 30976626), o contrato e, ainda, o histórico
escolar (id 30976630) e o plano de estudos elaborado no início do semestre
(id 30976629) não deixam dúvidas de que a apelante esteve regularmente
matriculada em 2020/21 em apenas duas matérias, ambas da grade
curricular do 6º período.
Apesar dos argumentos da recorrente, a norma estabelecida para o caso de
pendência de disciplinas não é ilegal nem abusiva.
Assim, como não restou comprovada irregularidade quanto ao plano de
disciplinas oferecido pela apelada, não há dano moral.
Quanto ao pedido de indenização pelos danos materiais, a autora, no
primeiro semestre de 2020, cursou somente duas disciplinas (45ª6 –
Atividades Práticas Supervisionadas e 96A8 – Enfermagem Integrada),
sendo, portanto, abusiva a cobrança pelo valor da grade fechada, sem a
efetiva prestação de serviços.

A reforma do acórdão implicaria análise do conjunto fático-probatório,


principalmente das cláusulas do contrato, tendo em vista que haveria necessidade de
verificar as circunstâncias do caso concreto, para reconhecer o descumprimento do
contrato celebrado, o que encontra óbice nas Súmulas n. 5 e 7 do STJ.

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A necessidade de reexame fático-probatório dos autos impede a admissão
do recurso especial tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do permissivo
constitucional.

Nesse sentido:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
ARRENDAMENTO MERCANTIL. VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM
MÓVEL. ART. 1.022 DO CPC. AUSÊNCIA DE OMISSÕES. PREÇO VIL.
NÃO OCORRÊNCIA. EXAME, EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. NÃO
CABIMENTO. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
CONFIGURADO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Não há falar em ofensa está o art. 1.022 do CPC/2015, haja vista que a
ofensa somente ocorre quando o acórdão deixa de pronunciar-se sobre
questão jurídica ou fato relevante para o julgamento da causa.
2. Na espécie, o acórdão recorrido apreciou as questões deduzidas,
decidindo de forma clara e conforme sua convicção com base nos elementos
de prova que entendeu pertinentes. Portanto, não há falar, no caso, em
negativa de prestação jurisdicional.
3. O Tribunal estadual, avaliou os procedimento adotados no leilão
extrajudicial e conclui pela sua adequação e respeito às normas processuais
vigentes. A revisão do julgado estadual nesse ponto, demanda reexame de
provas, o que é vedado em sede de recurso especial, ante o óbice da
Súmula 7 do STJ.
4. Não se pode conhecer do recurso pela alínea c, uma vez que aplicada a
Súmula 7/STJ quanto à alínea a, resta prejudicada a divergência
jurisprudencial, pois as conclusões divergentes decorreriam das
circunstâncias específicas de cada processo e não do entendimento diverso
sobre uma mesma questão legal.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp 1483200/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 24/09/2019, DJe 30/09/2019.)

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo. Na forma do art. 85, § 11,


do CPC/2015, MAJORO os honorários advocatícios em 20% (vinte por cento) do valor
arbitrado, observando-se os limites dos §§ 2º e 3º do referido dispositivo.

Publique-se e intimem-se.

Brasília, 20 de junho de 2023.

Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA


Relator

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