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REPERCUSSÕES GERAIS E JURISPRUDÊNCIA STF/STJ

RE 594.481: é inconstitucional a concessão de férias de 60 dias aos procuradores da Fazenda Nacional.


Segundo Barroso, a concessão de férias por esse período desfalcaria o contingente de pessoal da PGFN ou poderia
levar o erário a um prejuízo milionário caso os beneficiários optassem pela conversão das férias em dinheiro.
Decidido: "Os Procuradores da Fazenda Nacional não possuem direito a férias de 60 dias, nos termos da legislação
infraconstitucional e constitucional vigentes."
RE 654.833: é imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental. Decisão: O Tribunal, por
maioria, apreciando o tema 999 da repercussão geral, extinguiu o processo, com julgamento de mérito, em relação ao
Espólio de Orleir Messias Cameli e a Marmud Cameli ltda, com base no art. 487, III, b, do Código de Processo Civil
de 2015, ficando prejudicado o recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Gilmar
Mendes, Marco Aurélio e Dias Toffoli (Presidente), que davam provimento ao recurso. O Ministro Roberto Barroso
acompanhou o Relator com ressalvas. Foi fixada a seguinte tese: "É imprescritível a pretensão de reparação civil de
dano ambiental", nos termos do voto do Relator. Falou, pela assistente Associação Ashaninka do Rio Amônia -
APIWTXA, o Dr. Antonio Rodrigo Machado de Sousa. Não participou deste julgamento, por motivo de licença
médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019).
ADIn 1.764; 1.765, 1.766, 1.768, 1.794: constitucional a lei n. 9.601/98, que flexibiliza as relações de trabalho
ao disciplinar o contrato por prazo determinado.
RE 576.920: se discutia a natureza do controle externo exercido pelos Tribunais de Contas Estaduais em
relação a atos administrativos dos municípios. O recurso (tema 47 de repercussão geral) foi interposto contra decisão
do TJ/RS, para o qual a decisão do Tribunal de Contas Estadual que examinou atos administrativos do município de
Amaral Ferrador não tem caráter mandamental, apenas opinativo. Tese da repercussão geral: "A competência técnica
do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se subordina à revisão pelo Poder
Legislativo respectivo.”
RE 636.886: se discutia a prescrição nas ações de ressarcimento ao erário com base em decisão de Tribunal de
Contas. O tema tem repercussão geral reconhecida e resultou na suspensão nacional determinada pelo relator do
processo, ministro Alexandre de Moraes. No caso concreto, uma ex-presidente de associação cultural de Alagoas
deixou de prestar contas de recursos recebidos do ministério da Cultura para fins de aplicação em um projeto. O TCU,
no julgamento de tomadas de conta especial, condenou-a a restituir aos cofres públicos os valores recebidos, mas a
obrigação não foi cumprida, o que levou a União a ajuizar ação de execução. A decisão do STF mantém a extinção do
processo determinada pela 1ª instância pelo reconhecimento da prescrição, com a fixação da seguinte tese: "É
prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas."
ADIns 5.480 e 5.512: declararam inconstitucional a lei estadual 7.182/15, do Rio de Janeiro, que institui taxa
sobre atividades de produção e exploração de petróleo e gás em território fluminense, inclusive em alto mar.
ADIn 5.250: julgada improcedente e cujo objeto questionava a lei estadual 10.309/14, do Espírito Santo, que
autoriza e regulamenta a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em estádios e arenas esportivas no Estado.
ADIn 5.099: declarou a inconstitucionalidade da LC 159/13, do Paraná, que permitia o repasse de 30% dos
depósitos judiciais não tributários do TJ/PR para o Executivo estadual. A norma previa a utilização dos valores nas
áreas de saúde, educação, segurança pública, infraestrutura viária, mobilidade urbana e para pagamento de requisições
judiciais de pequeno valor.
ADIns 6.068 e 6.124: ADIns 6.068 e 6.124.
ADIn 6.025: Por maioria de votos, o plenário julgou improcedente a ADIn 6.025, em que a PGR questionava a
isenção de IR apenas para aposentados acometidos por doenças graves (artigo 6º, inciso XIV, da lei 7.713/88, com a
redação da lei 11.052/04). Prevaleceu o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, que afirmou a impossibilidade
de o Judiciário atuar como legislador e a inexistência de razões para a declaração de inconstitucionalidade da norma.
Ficou vencido o ministro Fachin.

REsp 1.823.834: A 3ª turma do STJ entendeu que o contrato de empréstimo mediante consignação em folha de
pagamento que não contenha a assinatura de duas testemunhas não é título executivo extrajudicial apto a embasar a
execução. Na 1ª instância, o juiz julgou extinto o processo sem resolução de mérito, por considerar que os documentos
apresentados pela credora não tinham o atributo da executoriedade, uma vez que não traziam a assinatura das
testemunhas – pressuposto de validade exigido no artigo 585, II, do CPC/73. O TRF da 1ª região negou provimento à
apelação da CEF, sob o fundamento de falta de certeza e liquidez no contrato – exigências do artigo 586 do CPC/73, o
qual determina que "a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e
exigível". No acórdão, o Tribunal anotou ainda que a mera denominação de cédula de crédito bancário, nos moldes do
artigo 28 da lei 10.931/04 – como ocorreu no pacto firmado entre a CEF e o cliente – não confere eficácia executiva
ao título. O empréstimo consignado, segundo o TRF da 1ª região, possui características peculiares que o diferenciam
dos demais títulos de crédito fixos constituídos a partir de valores e encargos preestabelecidos, visto que há na relação
a presença de um empregador que é responsável pelo desconto dos recursos na folha de pagamento e pelo repasse à
instituição credora. Em seu voto, a relatora do recurso no STJ, ministra Nancy Andrighi, lembrou que o documento
particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas é título executivo extrajudicial. Porém, no caso em análise, a
sentença reconheceu expressamente a ausência do requisito das testemunhas nos documentos apresentados pela
instituição financeira para embasar a execução. "A ausência da assinatura das testemunhas no contrato de empréstimo
sob consignação em folha de pagamento – expressamente reconhecida em sentença – é argumento hábil a afastar as
razões da recorrente quanto à existência de título executivo extrajudicial."

STF, ADPF 457: Por decisão unânime, o STF julgou inconstitucional lei municipal de Novo Gama/GO que
proibia debate sobre identidade de gênero nas escolas. A decisão ocorreu em julgamento no plenário virtual da Corte,
em ação de relatoria do ministro Alexandre de Moraes. A ação é da PGR, contestando a lei 1.516/15, que proíbe "a
divulgação de material com referência a ideologia de gênero nas escolas municipais de Novo Gama" e outras
disposições acerca do tema. De acordo com a PGR, ao instituir a proibição de uso de material didático com referência
a diversidade sexual, a referida lei municipal invadiu competência da União.
Fundamentos da inconstitucionalidade: formal [ausência de competência -> matéria afeta à União. Os
Municípios não têm competência legislativa para a edição de normas que tratem de currículos, conteúdos
programáticos, metodologia de ensino ou modo de exercício da atividade docente. A eventual necessidade de
suplementação da legislação federal, com vistas à regulamentação de interesse local (art. 30, I e II, CF), jamais
justificaria a edição de proibição à conteúdo pedagógico, não correspondente às diretrizes fixadas na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional; material [violação à igualdade, à diversidade de gênero; discriminação e preconceito.
É na escola que eventualmente alguns jovens são identificados, pela primeira vez, como afeminados ou
masculinizados, em que o padrão cultural naturalizado é caracterizado como o comportamento normal, em que a
conduta dele divergente é rotulada como comportamento anormal e na qual se naturaliza o estigma. Nesse sentido, o
mero silêncio da escola na matéria, a não identificação do preconceito, a omissão em combater a ridicularização das
identidades de gênero ou em ensinar o respeito à diversidade é replicadora da discriminação e contribui para a
consolidação da violência às crianças homo e trans.

STJ, REsp 1.433.650: Após renuncia à herança de curatelada, irmãos não possuem legitimidade para propor
ação questionando a venda de imóvel. Assim entendeu a 4ª turma do STJ ao negar provimento ao recurso de dois
irmãos que pretendiam anular a venda de um imóvel rural pertencente a uma irmã deles – interditada por decisão
judicial. A venda foi realizada a outra irmã, que era a curadora da proprietária e depois transferiu o bem a terceiros.
Causa de pedir: Os irmãos ajuizaram ação de nulidade do negócio jurídico, afirmando que a falecida era pessoa
absolutamente incapaz e que não houve autorização judicial para a compra e venda. Segundo disseram, a falecida
tinha apenas seus irmãos como herdeiros, e os dois só tiveram conhecimento da alienação do imóvel quando da
abertura da sucessão – momento em que foram informados de que não havia bens a inventariar. A venda do imóvel a
terceiros foi feita após a morte da curatelada. Em 1º grau, foi declarada a nulidade dos negócios e das escrituras. No
entanto, o TJ/GO deu provimento à apelação dos terceiros compradores do imóvel, por entender que os irmãos não
tinham legitimidade para pedir a anulação, já que haviam renunciado em cartório à herança deixada pela falecida e,
nesse caso, estariam pleiteando direito alheio em nome próprio. Em recurso ao STJ, os irmãos alegaram que a
renúncia à herança foi específica e que em momento algum renunciaram ao direito sobre o imóvel discutido.
Argumentaram que houve simulação na alienação do bem.
Ratio decidendi: O relator do recurso no STJ, ministro Luis Felipe Salomão, explicou que o direito civil confere
a todo herdeiro o poder de aceitar ou repudiar a herança. O ministro ressaltou que o repúdio à herança é tido como
negócio jurídico unilateral, voluntário, gratuito, incondicional, indivisível, irrevogável e que retroage ao momento da
morte do autor da herança. "Ao contrário da informalidade do ato de aceitação da herança, a renúncia, como exceção à
regra, exige forma expressa, cuja solenidade deve constar de instrumento público ou por termos nos autos, ocorrendo a
sucessão como se o renunciante nunca tivesse existido, acrescendo-se sua porção hereditária à dos outros herdeiros da
mesma classe." No caso em tela, o ministro observou que a renúncia dos recorrentes se deu nos termos da legislação:
ocorreu após a abertura da sucessão e antes que os herdeiros aceitassem a herança, com observação da forma por
escritura pública, e foi feita por agentes capazes. ara Salomão, não há interesse dos recorrentes na decretação de
nulidade da venda do imóvel. O ministro ressaltou que não deve prevalecer a alegação de que a renúncia teria sido
específica, não alcançando o imóvel reclamado na ação.

STJ, RESp 1.747.636: A 1ª turma do STJ manteve acórdão do TJ/PR que considerou ilegal o critério de
pontuação estabelecido em edital de credenciamento de banco para contratação de escritórios de advocacia. Com a
decisão, o colegiado garantiu a um dos escritórios habilitados – que havia sido preterido em razão do sistema de
pontos – o direito de prestar serviços jurídicos ao banco.
Caso: Na ação que deu origem ao recurso, a sociedade de advogados alegou ter preenchido os requisitos
exigidos em edital de credenciamento da instituição financeira e, mesmo assim, não foi contratada. Segundo alegou, o
regulamento impunha a contratação de todos os escritórios habilitados. Em 1ª instância, o juiz reconheceu o direito da
sociedade. A sentença foi mantida pelo TJ/PR, o qual entendeu que, nos termos da lei 15.608/07, por meio do
credenciamento é formado um cadastro geral de todos os interessados, e a prestação de serviços nesse sistema é feita
por todos os que preencham os requisitos do ato de convocação, de modo que não há a seleção de apenas um
prestador. Assim, para o Tribunal paranaense, o edital do banco desvirtuou o conceito legal de credenciamento ao
impor, pelo critério de pontuação, a concorrência entre as sociedades de advogados. No recurso especial dirigido ao
STJ, o banco afirmou que o critério de pontuação extraordinária tinha o objetivo de atender ao interesse do ente
contratante e da coletividade, na medida em que buscou contratar os escritórios que demonstrassem melhor estrutura
de atendimento, experiência na área de atuação e presença de profissionais capacitados – tudo em benefício da
administração pública.
No STJ: o Relator, o ministro Gurgel de Faria destacou que o sistema de credenciamento, como forma de
inexigibilidade de licitação, torna inviável a competição entre os credenciados, que não disputam preços – tendo em
vista que, depois de selecionados, a administração pública se compromete a contratar todos os que atendam aos
requisitos de pré-qualificação. "Sendo o credenciamento modalidade de licitação inexigível em que há inviabilidade
de competição, ao mesmo tempo em que se admite a possibilidade de contratação de todos os interessados em oferecer
o mesmo tipo de serviço à administração pública, os critérios de pontuação exigidos no edital impugnado na presente
ação para desclassificar a contratação da empresa recorrida, já habilitada, mostram-se contrários ao entendimento
doutrinário e jurisprudencial."

STJ, REsp 1.685.092: Não configura ofensa à coisa julgada a correção de erro material no resultado do
julgamento após o trânsito em julgado da decisão. Assim decidiu a 3ª turma do STJ ao considerar que as correções não
alteraram as razões ou os critérios do julgamento e tampouco afetaram a substância do julgado.
Caso: trata-se de ação com pedido de indenização de danos materiais e morais decorrentes de acidente de
trânsito. Em 1º grau, o réu foi condenado a indenizar os danos materiais e a cirurgia plástica corretiva, além de pagar
indenizações por danos morais e estéticos, sendo autorizado o abatimento dos valores recebidos pela vítima do Seguro
DPVAT. Além disso, analisando a denunciação da lide, a sentença mandou a seguradora ressarcir o réu de todos os
valores da condenação. O TJ/RS entendeu que, ao somar o pagamento de cirurgia plástica corretiva com o
ressarcimento de danos estéticos, a sentença duplicou a condenação, "pois a realização de cirurgia corretiva, em tese,
afastaria o dano estético". Mesmo tendo reformado parcialmente a sentença, o acórdão foi publicado com a
informação de que as apelações do réu e da seguradora haviam sido desprovidas. Após o trânsito em julgado,
atendendo a uma petição do réu, o TJ/RS corrigiu a proclamação do julgamento, fazendo constar que, na verdade, o
recurso do réu foi provido em parte e o da seguradora foi desprovido.
No STJ: A relatora no STJ, ministra Nancy Andrighi, observou que a correção feita pelo TJ/RS apenas alterou o
resultado proclamado para adequá-lo às razões de decidir e ao dispositivo do acórdão. "Embora relacionado ao
conteúdo decisório, mas sem com ele se confundir, configura-se o erro material quando o resultado proclamado do
julgamento se encontra clara e completamente dissociado de toda a motivação e do dispositivo, revelando nítida
incoerência interna no acórdão, o que, em última análise, compromete o fim último da atividade jurisdicional, que é a
entrega da decisão congruente e justa para permitir a pacificação das pessoas e a eliminação dos conflitos." Ao negar
provimento ao recurso especial, a ministra frisou que as correções efetivadas pelo TJ/RS estão dentro dos poderes
conferidos ao julgador pelo artigo 463, I, do CPC de 1973, "na medida em que não alteraram as razões ou os critérios
do julgamento, tampouco afetaram a substância do julgado, aumentando ou diminuindo seus efeitos".

STF, RE 647.885: É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização profissional do


exercício laboral de seus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em
matéria tributária. Na sessão virtual encerrada na última sexta-feira, 25, o plenário deu provimento ao recurso
extraordinário, com declaração de inconstitucionalidade dos arts. 34, XXIII, e 37, §2º, da lei 8.906/94.
Caso: o RE discutia a constitucionalidade de dispositivos do Estatuto da Advocacia que tratam da suspensão do
exercício da advocacia, sobretudo aquela decorrente do art. 34, XXIII (deixar de pagar as contribuições, multas e
preços de serviços devidos à OAB, depois de regularmente notificado a fazê-lo).
O recurso foi interposto contra acórdão do TRF da 4ª região no qual se decidiu, por maioria de votos, afastar a
inconstitucionalidade dos parágrafos 1º e 2º do artigo 37 da lei 8.906/94. O acórdão impugnado consignou ser cabível
a sanção disciplinar de suspensão do exercício profissional de advogado por inadimplemento junto à OAB. O
Conselho Federal da OAB atua como amicus curiae e pugnou pelo desprovimento do RE. Em 2014, o plenário virtual
do STF reconheceu a repercussão geral da controvérsia. Em manifestação, a PGR apresentou parecer pela procedência
do recurso, defendendo ser “evidente” a ofensa ao exercício profissional.

STJ, RMS 61.880-MT: A readmissão na carreira da Magistratura não encontra amparo na Lei Orgânica da
Magistratura Nacional nem na Constituição Federal de 1988.
Não há óbice para que o Tribunal de Justiça, ainda que no exercício da função administrativa, lance mão da
orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal para fundamentar sua decisão de negar o pedido de
readmissão da interessada. Ao fazer isso, a Administração deu cumprimento à Constituição Federal, à Lei Orgânica da
Magistratura Nacional, bem como à orientação normativa expedida pelo Conselho Nacional de Justiça.
CONSULTA SOBRE A APLICABILIDADE DO INSTITUTO DA REVERSÃO PREVISTO NA LEI Nº
8.112/90 AOS MAGISTRADOS (CNJ - CONS - Consulta - 0004482-93.2015.2.00.0000 - Rel. Aloysio Corrêa da
Veiga - 33ª Sessão - j. 20/04/2018):
1. O instituto da reversão, previsto na Lei nº 8.112/90, pode ser aplicado aos servidores em duas hipóteses: i)
quando não mais subsistirem os requisitos que ensejaram a aposentadoria por invalidez; ii) no caso de aposentadoria
voluntária, quando presentes o interesse da Administração e o preenchimento dos requisitos legais.
2. A chamada “reversão de ofício” - retorno do magistrado às atividades por não mais subsistirem os motivos
que ensejaram a aposentadoria por invalidez - é aplicável à Carreira da Magistratura não em razão da Lei nº 8.112/90,
mas em razão de previsão expressa do texto constitucional.
3. O artigo 93 da Constituição da República estabelece o rol de questões reservadas à lei complementar,
incluindo o provimento inicial e derivado na carreira da Magistratura, não fazendo qualquer menção ao
instituto da reversão. Desse modo, somente lei complementar federal, de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal, poderia disciplinar a matéria.
4. Tampouco a Lei Orgânica da Magistratura Nacional trata do instituto da reversão facultativa como
forma de provimento na Carreira da Magistratura. A ausência de previsão legal deve ser interpretada como
silêncio eloquente, e não como lacuna.
5. Desse modo, ante a ausência de autorização expressa na Constituição da República e na LOMAN, resulta
afastada a possibilidade de aplicação subsidiária aos magistrados do instituto da reversão facultativa, previsto na Lei
nº 8.112/90.
6. Consulta conhecida e respondida nos termos da fundamentação.

STJ, HC 354973: a aplicação da circunstância atenuante de confissão, prevista no art. 65, III, d, do Código
Penal, é impossível em sede de procedimento relativo a ato infracional submetido ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, uma vez que a medida socioeducativa não tem natureza de pena.

STF, HC 176473/RR, Plenário: Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão
condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja
mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
Fundamentos: a prescrição é o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do
próprio Estado. As hipóteses do art. 117 do Código Penal representam hipóteses nas quais o Estado agiu, ou seja,
situações nas quais não ficou inerte. Se o Tribunal prolata acórdão confirmando a condenação, isso significa que o
Tribunal agiu/decidiu o caso. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a
prescrição para o cumprimento do devido processo legal. Assim, a interrupção da prescrição ocorre pela simples
condenação em segundo grau, seja confirmando integralmente a sentença, seja reduzindo ou aumentando a pena
anteriormente imposta.

STJ, REsp 1.736.803: Em uma decisão paradigmática, capitaneada pelo voto do relator, ministro Ricaro
Cueva, a 3ª turma do STJ negou a aplicação do direito ao esquecimento à mulher condenada pelo assassinato de
Daniella Perez, filha da escritora Gloria Perez, ocorrido em 1992.
Caso: Paula Thomaz foi condenada, junto com o ator Guilherme de Pádua, com quem era casada à época, pelo
assassinato de Daniella, que tinha 22 anos e foi morta com 18 punhaladas. Paula, o atual marido e filhos ajuizaram
ação pela publicação, na revista IstoÉ, em outubro de 2012, de uma reportagem com informações acerca do rumoroso
crime. A autora alegou que a referida reportagem apresentou imagem atual, sem o seu consentimento, bem como
expôs, de maneira sensacionalista, sua vida contemporânea e a de seus familiares, ocasionando danos à esfera íntima
dos autores. Em 1º grau, a ação foi julgada parcialmente procedente, condenando a ré a retirar a referida matéria do
site na internet, e a pagar à primeira autora a quantia de R$ 30 mil por danos morais, e aos demais autores, cada um, o
valor de R$ 20 mil. A decisão de mérito foi mantida pelo TJ/RJ. No recurso, os autores buscaram majorar as
indenizações e condenar a editora a não mais publicar reportagens a respeito do crime.
Fundamentos: o relator, ministro Ricardo Cueva, de início citou dois julgados paradigmáticos, ambos do
ministro Luis Felipe Salomão: o caso da Chacina da Candelária e o caso Aída Curi. O caso de Paula Thomaz, destacou
S. Exa., se diferencia dos casos paradigmáticos julgados pela 4ª turma a respeito do direito ao esquecimento, pois a
parte interessada foi efetivamente condenada pelo crime correlato, enquanto, nos outros, tratou-se ou de acusado
posteriormente absolvido ou de pleito oriundo da família da vítima. Ao tratar da vedação à estigmatização e à pena
perpétua, Cueva concluiu não restar dúvida de que a reportagem da IstoÉ não apresenta conteúdo informativo ou de
interesse histórico acerca do crime, situação que, caso observada, seria acobertada pela razoabilidade e pelos limites
do direito à informação. “De fato, a notícia, ao contrário, destina-se exclusivamente a explorar a vida contemporânea
dos autores, dificultando, assim, a superação de episódio traumático.” Cueva destacou que o Tribunal de origem fixou
o entendimento de que a reportagem se limitou a descrever hábitos rotineiros da autora do crime, de seu esposo e de
seus filhos, “utilizando o delito como subterfúgio para expor o cotidiano da família, inclusive crianças e
adolescentes”. Apesar disso, prosseguiu S. Exa., é inviável o acolhimento da tese do direito ao esquecimento. “Isso
porque, muito embora cabível reconhecer e reparar as violações constatadas no presente caso, é inadmissível a
fixação, ao veículo de comunicação, de antemão, de um dever geral de abstenção de publicar futuras reportagens
relacionadas com o ato criminoso.”
Além de mencionar julgados do STF e do STJ reiterando a importância de proteção ao direito à informação,
ministro Cueva ressaltou ser indiscutível a relevância nacional atribuída ao assassinato de Daniella Perez -
reconhecida, inclusive, pela própria turma quando da análise de recurso interposto pela mãe da vítima, que tratou de
reportagem da TV Record com exposição da vida prizada da atriz e seus familiares. Tamanha foi a relevância do caso,
lembrou Cueva, que em virtude da mobilização popular iniciada por Gloria Perez à época do crime, homicídio
qualificado foi reconhecido como crime hediondo, conforme previsto no artigo 1º, inciso I, da lei 8.072/90. “Desse
modo, sob pena de apagamento de trecho significativo não só da história de crimes famosos que compõem a memória
coletiva, mas também de ocultação de fato marcante para a evolução legislativa mencionada, não há razões para
acolher o pedido concernente à obrigação de não fazer.” No detalhado voto, S. Exa. destacou ainda que a análise
concreta da historicidade de crimes famosos deve perpassar a aferição do genuíno interesse público presente em cada
caso. “Tal dimensão apenas pode ser constatada nas situações em que os fatos recordados marcaram a memória
coletiva e, por isso, sobrevivem à passagem do tempo, transcendendo interesses individuais e momentâneos. Assim,
sob pena de imposição de indevida censura prévia e por existir evidente interesse social no cultivo à memória do
mencionado fato notório, não é possível restringir de antemão a veiculação de quaisquer notícias e matérias
investigativas sobre o tema, notadamente aquelas voltadas à preservação da dimensão histórica e social referente ao
caso em debate.” Dessa forma, Cueva negou o pleito pela abstenção de publicar novas reportagens informativas a
respeito do crime. O valor do dano moral fixado nas instâncias de origem também foi mantido, por aplicação da
súmula 7.

STJ, REsp 1.720.656: A 3ª turma do STJ negou provimento a recurso de varejista que versava sobre a
estipulação, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, de juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a
12% ao ano, de acordo com as taxas médias de mercado. A decisão foi proferida em sessão por videoconferência nesta
terça-feira 28. Trata-se no caso de consumidor que comprou uma câmera fotográfica na loja em prestações, com a
incidência de juros remuneratórios superiores a 1% ao mês. Em 1º grau o juízo extirpou do contrato a cobrança de
juros capitalizados e limitou a taxa de juros remuneratórios a 1% ao mês e, consequentemente, a 12% ao ano. O
TJ/MG manteve a sentença.
Fundamentos: A ministra Nancy Andrighi, relatora, entendeu que a orientação adotada pelo Tribunal de
origem, de submeter os juros remuneratórios ao limite legal, não merece reforma. Conforme Nancy, a cobrança de
juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo CC/02 é excepcional e deve ser interpretada
restritivamente. “A Lei 6.463/77 não é capaz de ensejar cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites de 1%
ao mês ou 12% ao ano nos contratos de compra e venda de mercadorias à prestação, eis que a possibilidade de
pactuação pelas taxas médias de mercado é limitada às instituições financeiras, submetidas ao controle e fiscalização
do CMN.” No caso, prosseguiu S. Exa., a compra e venda a crédito, mediante o pagamento em prestações, firmada
entre as partes, é regida pelas disposições do CC, não sendo disciplinado pelas normas do CMN e do BC, haja vista a
recorrente não ser uma instituição financeira. “Dessa forma, por não ser instituição financeira, a recorrente não se
encontra submetida ao controle, fiscalização e às políticas de concessão de crédito definidas pelo referido órgão
superior do Sistema Financeiro Nacional e não pode firmar contratos bancários, como o de financiamento, contratando
juros pelas taxas médias de mercado.”

STJ, REsp 1.864.345: O ministro Benedito Gonçalves, do STJ, entendeu possível a fixação de honorários por
equidade em causa de alto valor contra a Fazenda do Estado de SP. Assim, negou recurso especial de empresa que
questionava honorários de sucumbência fixados em demanda cujo valor superava os R$ 21 milhões.
CASO: O recurso teve origem em ação anulatória ajuizada pela empresa, na qual requereu o cancelamento de
crédito tributário lavrado pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. O pedido foi julgado procedente, mas o
TJ/SP deu parcial provimento à apelação da Fazenda para determinar a redução dos honorários definidos em primeira
instância e fixá-los por equidade. Para o TJ, como o valor da causa atingiu mais de R$ 21 milhões, a fixação da verba
honorária em 10% importaria em enriquecimento sem causa dos advogados da empresa. Por isso, o Tribunal aplicou
de forma conjugada o disposto nos parágrafos 2º, 3º e 8º do artigo 85 do CPC/15, arbitrando os honorários, por
apreciação equitativa, em R$ 100 mil. Segundo a Corte, se há previsão de arbitramento por equidade nos casos de
proveito econômico irrisório, “entende-se ser possível, nas ações de valor de condenação elevado, a apreciação
equitativa, observando-se os critérios do art. 85, § 2.º, do atual CPC, em respeito aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, bem como para obstar o enriquecimento sem causa do advogado".
FUNDAMENTOS: No recurso dirigido ao STJ, a empresa alegou que o critério de fixação dos honorários
utilizado pelo TJ/SP não encontra fundamento no artigo 85, parágrafo 8º, do CPC, o qual prevê hipóteses específicas
para a apreciação equitativa da verba advocatícia – casos de proveito econômico inestimável ou irrisório, ou, ainda,
quando o valor da causa for muito baixo –, sendo que nenhuma delas se aplica ao caso em análise. Mas, em decisão
monocrática, o ministro Benedito Gonçalves entendeu que o acórdão recorrido está em consonância com o
entendimento do STJ. Ele lembrou que a 1ª turma do STJ já decidiu no sentido de que o novo regramento sobre
fixação de honorários a partir da apreciação equitativa, tal como estipulado no parágrafo 8º do artigo 85 do CPC, "não
é absoluto e exaustivo, sendo passível de aplicação em causas em que o proveito econômico não é inestimável ou
irrisório, ou, ainda, em que o valor da causa não é muito baixo". Do contrário, segundo o ministro, "estar-se-ia diante
de um excessivo apego à literalidade da lei".
JURISPRUDÊNCIA: Importante observar que há jurisprudência no STJ, em decisões de órgãos colegiados, no
sentido da impossibilidade da fixação de honorários por equidade em casos não previstos no CPC/15. No Ag.Int.
AREsp 1.232.624, os ministros da 2ª turma entenderam que o STJ só intervém no arbitramento da verba honorária em
situações excepcionais, e que "nas causas em que a Fazenda Pública for parte, primeiramente devem ser aplicados os
parágrafos 3º e 4º com seus respectivos incisos e, subsidiariamente o §8º, apenas quando o proveito econômico for
irrisório, ou o valor da causa muito baixo". Já no RESp 1.731.617, os ministros da 4ª turma decidiram que,
"ressalvadas as exceções previstas nos §§ 3º e 8º do art. 85 do CPC/15, na vigência da nova legislação processual o
valor da verba honorária sucumbencial não pode ser arbitrado por apreciação equitativa".

STF, HC 130.620: O Supremo Tribunal Federal admitiu nesta quinta-feira (30/4) Habeas Corpus contra atos
individuais de seus membros, formando novo precedente. De acordo com o relator, ministro Marco Aurélio, o HC é
cabível contra decisão formalizada por integrante do Supremo, considerando que a súmula 606 "alcança ato de
Colegiado, e não individual".
Caso: O HC em análise, procedente de Roraima, foi impetrado contra decisão monocrática da ministra Cármen
Lúcia, que havia negado um agravo regimental. O paciente alega que está submetido a constrangimento ilegal pela
não apreciação do recurso interposto, havendo risco à liberdade, considerada a certificação do trânsito em julgado da
decisão condenatória. Em seu voto, Marco Aurélio admitiu o HC, rejeitando as preliminares invocadas pela
Procuradoria Geral da República. O pedido, contudo, foi negado, pois o ministro vislumbrou "ausência de ilegalidade
a ser reparada". De todo modo, a simples admissão do HC criou novo entendimento na Corte.

STJ, REsp 1.568.691: É possível o creditamento de PIS e Cofins sobre o valor pago na etapa anterior a título
de ICMS-ST, com base no princípio da não-cumulatividade, pois tal valor é tido como custo de aquisição da
mercadoria para revenda.
A decisão reforça um entendimento recente do colegiado e que vai em posição oposta à da 2ª Turma, que
também julga matéria de Direito Público. Por conta disso, a 1ª Seção já admitiu embargos de divergência no caso. Ou
seja, a discussão em breve voltará ao colegiado, que reúne os dez ministros das duas turmas. O caso diz respeito a uma
empresa varejista que, ao adquirir bens, qualificou a operação como custo de aquisição e entendeu devido o desconto
de crédito das contribuições incidentes sobre o montante relativo ao ICMS-Substituição Tributária recolhido pelo
fornecedor na etapa anterior.
No entendimento da relatora, ministra Regina Helena Costa, o direito ao creditamento independe da apuração
de tributação na etapa anterior. Se esse custo está embutido no valor da compra do produto — destacado na nota fiscal
— e não é recuperável, pois não pode ser destacado na revenda, deve gerar crédito. "A questão se resume ao seguinte:
essa parcela integra o custo de aquisição? E é recuperável? Pelo sistema de não-cumulatividade, esses são os
cômputos a serem comparados. Se houver uma variação entre eles, evidente que tem que fazer o ajuste”, resumiu o
ministro Napoleão Nunes Maia, que acompanhou a relatora, assim como o ministro Benedito Gonçalves.
Abriu divergência o ministro Gurgel de Faria. Para que o custo de aquisição venha a ser abatido, afirma, é
preciso legislação que expressamente o permita. E na interpretação que faz, não existe lei autorizando tal crédito. Em
teoria, o ministro Sérgio Kukina acompanharia a divergência. Como a matéria já fora decidida pela turma antes, optou
por ressalvar o entendimento e seguir a maioria.

STF, RE 827.538 [em repercussão geral]: É inconstitucional lei estadual que impõe a concessionária de
geração de energia elétrica o investimento em proteção ambiental. Tal conduta configura intervenção indevida do
estado em matéria que compete à União.
Prevaleceu a divergência do ministro Luiz Fux, que apontou que ao inserir exigência decorrente do contrato de
exploração dos recursos naturais que não foi estabelecida inicialmente pelo ente competente, "o Estado membro
incrementa o custo do contrato administrativo". De acordo com o ministro, isso configura interferência na relação
contratual previamente firmada.
Fux sugeriu a seguinte tese: "A norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a
promoção de investimentos, com recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à
preservação de mananciais hídricos é inconstitucional por configurar intervenção indevida do Estado no contrato de
concessão da exploração do aproveitamento energético dos cursos de água, atividade de competência da União,
conforme art. 21, XII, 'b', da Constituição Federal".
OBS.: placar apertado -> Em plenário virtual, o ministro negou o recurso, por entender que há competência
concorrente no caso. Ele sugeriu a tese: "Surge constitucional, considerada a competência concorrente, norma estadual
em que prevista obrigação, por parte de concessionária de energia elétrica, de promover investimentos com recursos
de parcela da receita operacional auferida, voltados à proteção e à preservação ambiental de bacia hidrográfica em que
ocorrer a exploração." Seguiram o relator os ministros Luiz Edson Fachin, Celso de Mello e Rosa Weber.

STJ, REsp 1.795.962: A instauração de ação penal por posse de droga para consumo próprio, crime descrito no
artigo 28 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) é causa de revogação facultativa — e não obrigatória — da suspensão
condicional de outro processo. Com esse entendimento, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça cassou acórdão do
Tribunal de Justiça de São Paulo que concluiu que, em tal situação, a suspensão do processo deveria ser revogada
obrigatoriamente. Com a decisão, a 5ª Turma encaminhou o processo para que o juiz de primeira instância analise se é
o caso de revogar a suspensão condicional do processo ou de declarar a extinção da punibilidade, caso tenham sido
cumpridas todas as obrigações impostas ao acusado.
Após o TJ-SP ter concluído pela revogação obrigatória do benefício, o acusado entrou com recurso especial, no
qual apontou as peculiaridades do crime de posse de drogas para consumo próprio, lembrando que o artigo 28 da Lei
11.343/2006, inclusive, tem sua constitucionalidade questionada perante o Supremo Tribunal Federal. O recorrente
defendeu que o delito de posse de drogas deve ter o mesmo efeito para a suspensão do processo que a contravenção
penal, com a aplicação ao seu caso da regra do parágrafo 4º do artigo 89 da Lei 9.099/1995, pois as consequências da
conduta descrita no artigo 28 da Lei de Drogas são até mais amenas do que as de uma contravenção.
O ministro Ribeiro Dantas, relator do recurso, observou que, como registrado pelo acórdão do TJ-SP, a posse de
drogas para consumo próprio não foi descriminalizada, mas apenas despenalizada. Em tese, a prática dessa conduta
geraria os mesmos efeitos secundários que qualquer outro crime, como a reincidência e a revogação obrigatória da
suspensão do processo. Entretanto, de acordo com o ministro, a 6ª Turma definiu em 2018 que a condenação por posse
de drogas para consumo próprio não deve constituir causa de reincidência. Ribeiro Dantas afirmou que o
entendimento pela não caracterização da reincidência se baseia na comparação entre o crime do artigo 28 e a
contravenção penal: como a contravenção não gera reincidência, "revela-se desproporcional considerar, para fins de
reincidência, o prévio apenamento por posse de droga para consumo próprio". Segundo o ministro, igualmente se
mostra desproporcional que a mera existência de ação penal por posse de drogas para consumo próprio torne
obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo, enquanto a ação por contravenção dá margem à
revogação facultativa. Afinal, explicou o relator, embora a posse de drogas ainda seja crime, ela é punida com
advertência, prestação de serviços e comparecimento a cursos educativos, enquanto a prática de contravenção leva à
prisão simples em regime aberto ou semiaberto.

STJ, HC 521.435: Por decisão unânime, a 4ª turma do STJ concedeu ordem de HC contra decisão que
determinou acolhimento institucional de criança. O caso tratou de uma típica "adoção à brasileira", com a entrega
irregular da recém-nascida à mãe afetiva e sua companheira. Há notícia nos autos de pagamentos feitos à mãe
biológica ainda na gestação. No voto, a relatora Isabel Gallotti considerou que o acolhimento institucional, no caso,
não atende ao princípio do melhor interesse do menor, mas destacou não concordar com precedentes segundo os quais
o abrigamento é o último caso – S. Exa. ponderou que furar a fila da adoção quebra todo o sistema. Em complemento,
ministro Salomão propôs à turma, guiado pelos fundamentos do voto da ministra, a fixação de requisitos objetivos
para tais casos: se a família biológica apresenta condições de ficar com o infante, o tempo de permanência da criança
com o adotante e a ausência de indícios de maus-tratos ou dano à criança. "O Ministério Público tem que buscar a
responsabilidade criminal, não pode enfraquecer a fila da adoção. Mas entre colocar na balança o interesse da criança
e a questão da fila, aí pesa o interesse da criança."

STJ, REsp 1.860.649: A 3ª turma do STJ proveu recurso de transexual contra acórdão do TJ/SP, garantindo a
alteração de prenome, bem como do gênero no registro civil, independentemente da realização de cirurgia de
transgenização.
O TJ/SP deferiu a inclusão do prenome feminino, mas manteve o prenome masculino como nome do meio; e
negou o pedido de alteração de gênero considerando que não ocorreu, no caso, a cirurgia de transgenização,
considerada “imprescindível”.
Segundo o relator do recurso no STJ, ministro Paulo de Tarso Sanseverino, a Lei de Registros Públicos “não
contém norma que autorize a modificação do sexo civil, contendo apenas autorização para se modificar o prenome,
nos casos de substituição por ‘apelidos públicos notórios’, ou no caso de exposição ao ridículo”. Todavia, de acordo
com ele, a Terceira Turma firmou entendimento de que o transexual transgenitalizado tem direito de alterar não só o
prenome, como também o sexo civil no seu registro, entendimento que foi estabelecido em julgamento de recurso
especial relatado pela ministra Nancy Andrighi em outubro de 2009.

STJ, REsp 1.358.513: A 4ª turma do STJ julgou nesta terça-feira, 12, questão relevante acerca da
responsabilidade solidária entre distribuidora de gás e fornecedora por atropelamento que vitimou uma criança. O
acidente ocorreu no interior do Rio Grande do Sul. O veículo conduzido pelo preposto da fornecedora de gás
atropelou a vítima que andava de bicicleta, enquanto dava marcha-ré. O TJ/RS compreendeu caracterizada a culpa
exclusiva do motorista do caminhão.
Fundamentos: Salomão assentou que, no contexto consumerista, o campo de incidência da responsabilidade
civil ampliou-se, pois passou a alcançar não apenas o fornecedor diretamente ligado ao evento danoso, mas toda a
cadeia de produção envolvida na atividade de risco por ora prestada. “Fornecedor é "gênero", do qual são "espécies"
todos os partícipes da cadeia produtiva. Nesse rumo, tratando-se de dano causado pelo defeito do serviço, respondem
solidariamente todos os participantes da sua produção.” Portanto, conforme o relator, estando comprovada a culpa do
empregado pelo ato ilícito, como ocorre no caso, responderá solidariamente o empregador – no caso, a fornecedora de
gás – pela recomposição dos danos à vítima do ilícito.
Ao tratar da responsabilidade da distribuidora do gás, Salomão concluiu pela incidência da teoria da aparência,
pois o consumidor identifica o serviço prestado pelo próprio produto. “Melhor dizendo, não interessa ao consumidor
se a empresa A ou B é que exerce a atividade consistente na efetiva entrega do botijão de gás em sua residência,
importando, todavia, sobremaneira, o fato de o GLP ser "produzido" pela ULTRAGÁS. Essa marca é que, aos olhos
do consumidor, confere identidade ao produto e ao mesmo tempo ao serviço a ele diretamente ligado.” Assim,
prosseguiu o ministro, ocorre a responsabilidade solidária de ambos, distribuidor e fornecedor, pela má prestação do
serviço.
O recurso da distribuidora de gás foi provido apenas no ponto em que pedida a limitação da pensão, fixada em
2/3 do salário mínimo, ao período compreendido entre os 14 anos e 25 anos da vítima.

STF, RE 666.156: O plenário do STF decidiu que é constitucional a aplicação de alíquotas diferenciadas de
IPTU para imóveis edificados, não edificados, residenciais e não residenciais em período anterior à EC 29/00. Por
maioria, os ministros fixaram a seguinte tese: "São constitucionais as leis municipais anteriores à Emenda
Constitucional n° 29/2000, que instituíram alíquotas diferenciadas de IPTU para imóveis edificados e não
edificados, residenciais e não residenciais."
Caso concreto: A autora do recurso é uma empresa fluminense que recorreu ao Supremo contra acórdão do
TJ/RJ. Conforme decisão do Tribunal fluminense, a aplicação de alíquotas diferenciadas de IPTU para imóveis é um
instituto distinto da progressividade tributária, fundamentada no princípio da capacidade contributiva. Segundo a
empresa, a lei municipal 691/84, com a redação dada pela lei municipal 2.955/99, não pode ser aplicada porque
estabeleceu progressividade de alíquotas do IPTU anteriormente à edição da EC 29/00.
O ministro Luís Roberto Barroso, relator, observou que a jurisprudência de ambas as turmas do STF, em
julgamentos de leis municipais anteriores à edição da EC 29/00, já era no sentido da constitucionalidade da previsão
de alíquotas distintas do IPTU em razão da destinação (residencial ou comercial) e da circunstância de ser o imóvel
edificado ou não. Barroso registrou que há, inclusive, ao menos um acórdão, da 1ª turma, em que se analisou a própria
legislação impugnada, considerando-a constitucional por unanimidade, ao fixar que a diversidade de alíquotas de
IPTU no caso de imóvel residencial, não-residencial, edificado ou não-edificado, não viola a Constituição Federal.
Assim, votou no sentido de negar provimento ao recurso.

Acordo de leniência homologado e ação de improbidade administrativa ajuizada por colegitimados não
signatários do termo [MP ou pessoa jurídica interessada]: A 3ª turma do TRF da 4ª região concluiu julgamento de
recursos de apelação que discutem os efeitos da homologação de acordos de leniência sobre as ações por ato de
improbidade administrativa e os co-legitimados não signatários do termo. A turma uniformizou entendimento de que o
acordo de leniência surte efeitos da transação e deu provimento ao recurso de apelação interposto poir uma empresa de
engenharia para determinar a extinção das ações com resolução de mérito, conforme artigo 487, III, "b" do Código de
Processo Civil.
Segundo entendimento que tem se firmado no Tribunal, os acordos de leniência devem ser interpretados como
uma hipótese de presunção de ressarcimento integral, portanto, são oponíveis aos demais co-legitimados na ação por
ato de improbidade administrativa, ainda que não signatários. A turma reconhece ainda que a permanência do litígio
entre os co-legitimados e as empresas lenientes viola a segurança jurídica e a confiança legítima depositada na
Administração Pública, afastando futuros potenciais interessados em colaborar para a elucidação de fatos de interesse
da sociedade.

STJ, seguro obrigatório habitacional, vícios intrínsecos à construção do imóvel pertencente ao SFH,
exclusão de cobertura, boa-fé objetiva [justa expectativa] e função social dos contratos [REsp 1.804.965]: Para a
ministra Nancy, a interpretação fundada na boa-fé objetiva contextualizada pela função socioeconômica que
desempenha o contrato leva a concluir que a restrição de cobertura no tocante aos riscos indicados deve ser
compreendida como a exclusão da seguradora de atos praticados pelo próprio segurado ou uso natural. “Ao contrário
do entendimento do TJ/SP, não é compatível com a garantia de segurança esperada supor que prejuízos que se
verifiquem por vícios de construção sejam excluídos de cobertura securitária. (...) De fato, por qualquer ângulo,
conclui-se à luz dos parâmetros da boa-fé objetiva e da função social do contrato que os vícios estruturais da
construção estão acobertados pelo seguro habitacional, cujos efeitos devem se estender no tempo mesmo após a
extinção do contrato, ainda que se revele após a extinção, pois o vício é oculto.”
O acórdão recorrido, do TJ/SP, assentou que os referidos danos, provenientes de causas internas, porquanto
intrínsecos à coisa segurada (e, pois, qualificados como de responsabilidade do construtor), estão expressamente
excluídos da cobertura securitária.
https://migalhas.com.br/quentes/327195/stj-julga-na-proxima-semana-caso-sobre-seguro-do-sfh-por-vicios-na-
construcao?U=D30911F83FD9&utm_source=informativo&utm_medium=1060&utm_campaign=1060

STJ, REsp 1.651.292: em se tratando de regime de comunhão parcial de bens, a colaboração e o esforço, houve
a comunicabilidade dos valores recebidos como fruto de trabalho, e como a aposentadoria deve ser presumida. A
recorrente buscou o recebimento de valores decorrentes de ação previdenciária do ex-marido. O precatório foi pago ao
requerido em 2012, quatro anos após o divórcio, mas era referente a crédito retroativo a 1999. Conforme a relatora, se
a aposentadoria do requerido tivesse sido deferida administrativamente pelo INSS em 1999, estaria na constância do
casamento e haveria a comunicação dos valores por ele recebidos a este título até o momento do divórcio. Sendo
assim, prosseguiu S. Exa., "o recebimento posterior deste benefício, referente a contribuições ocorridas ao tempo do
vínculo conjugal, deve ser objeto de comunicação e, consequentemente, de sobrepartilha", no período compreendido
entre o indeferimento pelo INSS até a data do divórcio. A decisão do colegiado em julgar procedente o pedido da ex-
esposa foi unânime.

RG 576.920: O argumento acolhido pelo Tribunal de origem questiona a extensão a maneira pela qual se realiza
o controle externo nos casos em que o órgão administrativo sujeito ao controle da Corte de Contas não integra a
mesma pessoa política. Noutras palavras, em virtude do princípio federativo, os Tribunais de Contas não teriam
competência para implementar a condição resolutiva – ou a conversão da executoriedade precária em definitiva – nos
atos sujeitos a registro. No entender do Tribunal a quo a referência à natureza auxiliar dos Tribunais de Contas não
autorizaria os órgãos estaduais a desconstituírem os atos dos entes municipais. Com a devida vênia, a interpretação
desse dispositivo não pode implicar o afastamento da competência do Tribunal de Contas. Há duas razões para isso.
Os tribunais de contas não são, a rigor, meros auxiliares no controle externo da Administração Pública. A Constituição
Federal lhes atribui competência para fiscalizar atos do próprio poder legislativo.
Ademais, o exercício do poder de controle por parte dos tribunais estaduais em relação ao municípios encontra
fundamento no próprio texto constitucional, o que parece desautorizar uma interpretação hipertrofiada no federalismo.
Noutras palavras, o comando expresso no art. 75 da CRFB não poderia admitir que o intérprete suprimisse dos
Tribunais de Contas uma competência que lhes foi constitucionalmente garantida, especialmente se implicar a
relativização do controle a que devem se submeter os entes municipais.
TJRS
70044405074

Desde logo, convém assentar que a vinculação administrativa do Tribunal de Contas ao respectivo órgão
legislativo não significa, no Brasil, a submissão daquele a este. Em primeiro lugar, aquela Corte não pertence à
estrutura do Poder Legislativo, sendo dotada, inclusive, de autonomia administrativa e orçamentária. Ademais, assim
como ocorre em outros países, no Brasil, no que tange ao controle externo, as competências autônomas do órgão
técnico auxiliar ultrapassam, em muito, as do próprio órgão Legislativo ao qual aquele está administrativamente
vinculado. Por fim, também cabe mencionar que as Cortes de Contas são os órgãos competentes para a avaliação das
contas das próprias Casas Legislativas. Assim, nos termos da jurisprudência desta Corte, é forçoso concluir que
Câmara Municipal não detém competência para rever o ato do Tribunal de Contas do Estado que nega o registro de
admissão de pessoal.
Admitir-se, a contrario sensu, que os municípios, por meio de suas câmaras municipais, possam simplesmente
rejeitar a decisão do Tribunal de Contas acaberia por subordinar a competência técnica das cortes de contas ao poder
legislativo que é também por elas fiscalizado.
Tese: A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal,
não se subordina à revisão pelo Poder Legislativo respectivo.

STF, RE 598.468: “As imunidades previstas pelos arts. 149, §2°, I e 153, § 3°, III, da CF são aplicáveis às
empresas optantes pelo Simples Nacional.”
Caso: Uma empresa de madeira, optante pelo Simples, alegou que tanto a receita decorrente de exportações
quanto as operações com produtos industrializados destinados ao exterior estão abarcadas pela imunidade
constitucional. O TRF-4 entendeu ser exigível a cobrança de INSS, Cofins, PIS, CSLL e IPI e assentou a inviabilidade
de se conjugar dois benefícios fiscais incompatíveis – a imunidade e o recolhimento de tributos pelo Simples –
criando-se um sistema híbrido. Além disso, ressaltou que no regime unificado de recolhimento, não seria possível
individualizar a parcela referente a cada tributo.
Fundamento do voto vencedor [Fux]: “Em relação a parte das receitas alcançadas pela imunidade, não há
competência que justifique a incidência tributária, não tendo o caráter opcional do regime o condão de atribuir ao
legislador ordinário uma competência que fora excluída pelo constituinte. Aliás, essa ideia compreende um grande
equívoco, pois o próprio legislador ordinário que permite a opção permitiria que o contribuinte ao fazê-la lhe
atribuísse uma competência antes inexistente.” — Remete àquela corrente doutrinária segundo a qual as imunidades
tributárias seriam “ausência de competência”, uma “não competência”. Fux ressaltou, ainda, que as imunidades
relativas às exportações devem ser interpretadas no sentido de desonerar apenas a operação de exportação e não o
exportador [em outras palavras, são imunidades objetivas, e não subjetivas], razão pela qual, independentemente de
estar o contribuinte inserido ou não no regime do Simples Nacional, elas não se aplicam à CSLL e às contribuições
previdenciárias incidentes sobre a folha de salários.

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