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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

27/04/2021

Número: 1003381-31.2020.4.01.3816
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador: Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Teófilo Otoni-MG
Última distribuição : 06/08/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Energia Elétrica, Agências/órgãos de regulação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DASA- DESTILARIA DE ALCOOL SERRA DOS AIMORES RODOLFO SANTOS SILVESTRE (ADVOGADO)
S/A (IMPETRANTE) RICARDO BARROS BRUM (ADVOGADO)
LEONARDO NUNES MARQUES (ADVOGADO)
SUPERINTENDENTE DE PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS
DA AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E
BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP (IMPETRADO)
AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO, GAS NATURAL E
BIOCOMBUSTIVEIS (TERCEIRO INTERESSADO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
30019 11/08/2020 20:31 Decisão Decisão
9378
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Subseção Judiciária de Teófilo Otoni-MG
Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Teófilo Otoni-MG

PROCESSO: 1003381-31.2020.4.01.3816
CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)
IMPETRANTE: DASA- DESTILARIA DE ALCOOL SERRA DOS AIMORES S/A
Advogados do(a) IMPETRANTE: RODOLFO SANTOS SILVESTRE - ES11810, RICARDO BARROS BRUM -
ES8793, LEONARDO NUNES MARQUES - ES9579

IMPETRADO: SUPERINTENDENTE DE PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS DA AGÊNCIA NACIONAL DE


PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP

DECISÃO

Trata-se de embargos de declaração opostos por DASA – DESTILARIA DE ALCOOL SERRA DOS AIMORES
S/A sob a alegação de que a decisão de ID 297528960 foi omissa, pois deixou de apreciar a competência deste
Juízo à luz do entendimento do STJ que dispõe que o mandado de segurança pode ser ajuizado no domicílio
do autor.

Conheço dos embargos, visto que tempestivamente opostos.

Com razão a embargante. A decisão embargada declarou de competência para o Juízo da sede funcional da
autoridade coatora sem se atentar para o recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça que afirma a
possibilidade de que o mandamus seja impetrado no domicílio do autor (CC 169.239/DF, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2020, DJe 05/08/2020).

Diante do exposto, acolho os embargos de declaração para sanar a omissão e revogar a decisão embargada.

Passo à apreciação do pedido de tutela de urgência.

Trata-se de mandado de segurança impetrado por DASA DESTILARIA DE ALCOOL SERRA DOS AIMORES
S/A em face do SUPERINTENDENTE DE PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS DA AGÊNCIA NACIONAL DE
PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP, requerendo, em sede de tutela antecipada, seja

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determinado à autoridade coatora que se abstenha de exigir da impetrante a comprovação da regularidade
perante as fazendas federal, estadual, municipal e ao CADIN como condição para a manutenção da sua
autorização para o exercício da atividade de produção e comercialização de biocombustível.

Afirma, para tanto, que atua no ramo sucroalcooleiro há 37 anos, ou seja, desde 1983 e que, em junho/2018, a
ANP passou a exigir, através da Resolução nº 734/2018, que o exercício de atividades econômicas da indústria
de biocombustíveis fique condicionado a apresentação de regularidade fiscal.

Conforme a nova sistemática do CPC (art. 303), a antecipação dos efeitos da tutela de urgência, em caráter
antecedente, é cabível quando o juiz, convencendo-se da plausibilidade do direito, vislumbre, também, o
fundado perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo. Esses elementos devem aflorar dos próprios
autos, e são essenciais para gerar a certeza de que o provimento invocado está juridicamente resguardado e
não cause dano irreparável àquele contra quem se pede.

No caso em tela, vislumbra-se a existência dos pressupostos legais.

Quanto à probabilidade do direito, verifica-se que a Lei nº 9.478 dispõe sobre a política energética nacional, as
atividades relativas ao monopólio do petróleo e elenca inúmeros requisitos para se obter autorização da ANP
para exercer atividades da indústria de biocombustíveis, veja-se:

Art. 68-A. Qualquer empresa ou consórcio de empresas constituídas sob as leis


brasileiras com sede e administração no País poderá obter autorização da ANP para
exercer as atividades econômicas da indústria de biocombustíveis.

(omissis)

§ 2o A autorização de que trata o caput deverá considerar a comprovação, pelo


interessado, quando couber, das condições previstas em lei específica, além das
seguintes, conforme regulamento:

(omissis)

II - estar regular perante as fazendas federal, estadual e municipal, bem como


demonstrar a regularidade de débitos perante a ANP;

Tal norma, no entanto, não traz nenhuma limitação em relação às empresas que já possuem autorização para
a exploração da atividade. No mesmo sentido, o §3º do mesmo artigo prevê que “a autorização somente
poderá ser revogada por solicitação do próprio interessado ou por ocasião do cometimento de infrações
passíveis de punição com essa penalidade, conforme previsto em lei.”

Assim, vê-se claramente que a mens legis foi, de fato, direcionar a exigência de regularidade fiscal somente à
obtenção de novas autorizações. Afinal, dispôs expressamente duas únicas hipóteses de revogação da
autorização, sendo que dentre elas não está a irregularidade fiscal.

Percebe-se, portanto, que a Resolução ANP nº 734/2018, em seu art. 27, extrapolou o poder regulamentar ao
estender a todos os produtores de etanol a regularidade perante o Cadin e perante as fazendas federal,
estadual e municipal.

Amparando, ainda, a plausibilidade do direito da autora, consta do ID 297531378 autorização da ANP para a
exploração da atividade sucroalcooleiro com início em 29/8/2018. Ou seja, data posterior à publicação da Lei
12.490 que alterou a Lei 9.478 passando a exigir a regularidade fiscal para obtenção de novas autorizações,
bem como também posterior à Resolução ANP nº 734 que estendeu a exigência a todos os produtores.

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No que tange ao perigo de dano, ressai dos autos que a exigência do cumprimento do art. 27 da Resolução
em questão inviabilizaria a atividade precípua da autora.

Ante o exposto, presentes os requisitos legais, DEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA para determinar que a ré
se abstenha de exigir da impetrante a comprovação da regularidade perante as fazendas federal, estadual,
municipal e ao CADIN como condição para a manutenção da sua autorização para o exercício da atividade de
produção e comercialização de biocombustível.

Notifique-se a autoridade dita coatora para, no prazo de 10 dias, prestar as informações que se fizerem
necessárias.

Dê-se ciência à ANP, nos termos do inciso II, do art. 7º, da Lei 12.016/2009. Havendo manifestação de
interesse da pessoa jurídica, retifique-se a autuação para incluí-la no polo passivo.

Após, vista ao MPF.

P. R. I.

ASSINADO DIGITALMENTE

Juiz Federal

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