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Sexta-feira, 27 de Março de 2020 I SÉRIE —

­ Número 60

BOLETIM DA REPÚBLICA
   PUBLICAÇÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

IMPRENSA NACIONAL DE MOÇAMBIQUE, E. P. 1. Política Florestal


1.1. Contextualização
AVISO a) Segundo os dados do inventário florestal nacional
A matéria a publicar no «Boletim da República» deve realizado em 2017, o País conta com cerca de
ser remetida em cópia devidamente autenticada, uma 32 milhões de hectares de florestas naturais, que
por cada assunto, donde conste, além das indicações cobrem 40% do território nacional. O miombo
necessárias para esse efeito, o averbamento seguinte, é a formação florestal dominante, com cerca de
assinado e autenticado: Para publicação no «Boletim 21 milhões de hectares, representando 62% da
da República». área florestal. O crescimento do miombo é lento,
estimado em 0.5 a 1 m3/ha/ano. A exploração
florestal é selectiva e abrange 20% das 119 espécies
florestais identificadas e as restantes 80% são
secundarizadas, com pouca procura no mercado.
SUMÁRIO b) Mais de dez mil espécies de flora e fauna habitam
em diferentes ecossistemas terrestres, marinhos,
Conselho de Ministros: costeiros e aquáticos, incluindo as extensas áreas de
Resolução n.º 23/2020: florestas naturais existentes no País. O número de
Aprova a Política Florestal e Estratégia da sua Implementação. espécies de plantas soma cerca de 5.743, das quais
250 são endémicas. A fauna terrestre totaliza 4.271
espécies, entre insectos, aves, mamíferos e anfíbios.
A biodiversidade está ameaçada devido a pressão
humana, que se manifesta através da fragmentação
CONSELHO DE MINISTROS e degradação dos habitats, tanto terrestres como
marinhos, e a consequente diminuição drástica da
fauna bravia, especialmente dos grandes mamíferos
Resolução n.º 23/2020 e de espécies florestais com alto valor comercial.
de 27 de Março c) Cerca de 80% da população obtém, das florestas,
a energia doméstica na forma de lenha
Tornando-se necessário impulsionar o sector de florestas por e carvão vegetal, alimentos, medicamentos,
forma assegurar que o património florestal existente no território materiais de construção, matéria-prima para a
nacional contribua para o desenvolvimento socioeconómico do indústria madeireira e criam condições para o
desenvolvimento da agricultura, cultura e turismo.
País sem comprometer a integridade de ecossistemas florestais, da As florestas protegem a fauna bravia, os solos,
sustentabilidade dos recursos e dos benefícios das actuais e futuras fontes de água, bacias hidrográficas, paisagens
gerações, ao abrigo do disposto na alínea f) do n.º 1 do artigo 203 e são fundamentais na fixação do dióxido de
da Constituição da República, o Conselho de Ministros determina: carbono, mitigação e adaptação às mudanças
climáticas. São ainda um importante reservatório
Artigo 1. É aprovada a Política Florestal e Estratégia da sua de biodiversidade, para a presente e futuras
Implementação, em anexo, que constitui parte integrante da gerações de moçambicanos.
presente Resolução. d) Cerca de 17,2 milhões de hectares, constituem
um potencial de madeira comercial em pé de
Art. 2. É revogada a Resolução n.º 8/97, de 1 de Abril, do aproximadamente 800 milhões de metros cúbicos,
Conselho de Ministros. que permitem a exploração sustentável, Corte
Art. 3. A presente Resolução entra em vigor na data da sua Anual Admissível de cerca de 446 mil metros
publicação. cúbicos para as espécies preciosas e de primeira
classe.
Aprovada pelo Conselho de Ministros, aos 10 de Março e) A exploração florestal concentra-se principalmente
de 2020. em dois grandes produtos: combustíveis lenhosos
(93%), somente para o mercado interno e madeira
Publique-se. em toros (7%) para consumo interno e exportação.
O Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário. A extracção e comercialização de combustíveis
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lenhosos, assim como de outros produtos florestais ilegal da madeira. Actualmente o País conta com
não madeireiros, constitui fonte de renda de muitas cerca de 680 fiscais florestais com dificuldades de
famílias, no campo e na cidade, e envolve cerca de comunicação, deslocação, autuação, coordenação
5% da população moçambicana. A informalidade e complementaridade de acções com as demais
domina esta área, as estatísticas são escassas e autoridades do sistema judiciário e de protecção
imprecisas, e o potencial de desenvolvimento é dos recursos naturais.
ainda desconhecido e sub-aproveitado. k) As florestas contribuem anualmente com cerca de
f) Em 2017, foram arrecadados cerca de 900 milhões de 2% do PIB. Este valor não contabiliza os bens e
meticais derivados do licenciamento e infracções serviços proporcionados pela floresta, uma vez que
e cerca de 5 biliões de meticais provenientes das não são incluídos nas contas nacionais, tais como
taxas de exportação de madeira. Contudo, é exíguo a contribuição da floresta na energia doméstica,
o investimento no desenvolvimento do sector serviços ambientais proporcionados a sociedade e
florestal. renda gerada pelas comunidades locais a partir dos
g) O País possui cerca de 70 mil hectares de plantações negócios informais, envolvendo produtos florestais
de espécies exóticas de rápido crescimento madeireiros e não madeireiros.
(pinheiros e eucaliptos), concentrados na Região l) Os produtos florestais não madeireiros tais como
Centro e Norte. A maior parte destas plantações mel, frutos silvestres, corantes naturais, plantas
foi estabelecida a partir do ano 2000, algumas das medicinais usadas na indústria alimentar,
quais estão já na fase de exploração e contribuem farmacêutica, higiene, beleza e bem-estar possuem
para o abastecimento do mercado interno em lenha, um interesse e procura crescente a nível interno e
postes de transmissão, estacas, madeira e materiais externo. A escassez de dados e de conhecimento
de construção. O desenvolvimento de plantações sobre as cadeias de valor têm favorecido o fraco
florestais no País é ainda condicionado pelo acesso aproveitamento do potencial destas cadeias de valor
e posse de terra, conflitos com comunidades locais, e exclusão na agenda e planos de desenvolvimento
abate ilegal de árvores, queimadas descontroladas, do sector florestal.
falta de incentivos, uma fraca rede de infra- m) As comunidades locais são as principais guardiãs,
-estruturas e um quadro legal e institucional conhecedoras e dependentes dos recursos
inadequado. florestais para a sua sobrevivência e bem-estar. O
h) No período de 2003 e 2013, o País perdeu cerca de envolvimento das comunidades locais na gestão
267 mil hectares por ano, correspondentes a uma dos recursos florestais é um desafio de longo prazo
taxa média anual de 0,79%. As principais causas do que pressupõe o desenvolvimento de programas
desmatamento estão relacionadas com a expansão de extensão florestal, incluindo a atribuição de
da agricultura, exploração de lenha e carvão, incentivos e benefícios às comunidades locais pela
queimadas descontroladas, construção de infra- gestão e uso sustentável dos recursos florestais.
-estruturas económicas e sociais e urbanização. n) A investigação e extensão florestal à escala e dimensão
As maiores taxas de desmatamento registaram-se adequada não existe no País. Regista-se um défice
no litoral e nos corredores de desenvolvimento da de conhecimento e informação sobre produtos
região Centro e Norte. florestais madeireiros e não madeireiros, a dinâmica
i) A conservação e uso sustentável das florestas das diferentes formações florestais do País,
continuam um grande desafio para os características e propriedades físico-mecânicas de
moçambicanos. O crescimento populacional madeiras de espécies nativas secundarizadas, assim
e a rápida urbanização, o desmatamento para como o estabelecimento e desenvolvimento de
a produção de alimentos, produção de lenha plantações florestais. A gestão florestal sustentável
e carvão, queimadas descontroladas, corte deve ser baseada no conhecimento científico
ilegal e exploração desenfreada da madeira em e nas boas práticas costumeiras e uso racional
toros e a mineração ameaçam a conservação e das florestas desenvolvidas pelas comunidades
perpetuação das florestas no País. Existem no locais. A investigação e formação florestal são
País 15 reservas florestais, contudo, a maior parte fundamentais para a inovação e modernização do
delas foram invadidas pelas comunidades locais sector.
e madeireiros. Subsistem desafios na governação o) Os mecanismos de coordenação, colaboração,
e administração, na elaboração e implementação complementaridade, articulação e consulta devem
de planos de maneio e no conhecimento do ser melhorados e institucionalizados, dado o carácter
valor actual de conservação. A agricultura de multi-abrangente das florestas. É neste contexto,
subsistência, extracção de lenha e carvão, abate que é imperiosa a transformação do sector florestal
ilegal da madeira e exploração mineira constituem e do seu quadro institucional, político-legal,
principais ameaças das áreas de conservação. O visando a perpetuação do património florestal, de
fraco conhecimento sobre os principais serviços modo que contribua para o desenvolvimento de
ambientais e consequentemente a sua valorização Moçambique e para alcançar os objectivos globais
dificulta a atribuição de benefícios derivados pela de desenvolvimento sustentável.
sua conservação. p) A presente política florestal está alinhada com uma
j) A fraca capacidade de fiscalização florestal, ausência diversidade de políticas e estratégias nas áreas de
de rastreamento e de sistemas de denúncia e Terras e Ordenamento Territorial, Agricultura e
de incentivos aos diferentes intervenientes na Silvicultura, Conservação da diversidade biológica,
fiscalização facilita a exploração e o comércio Energia, Mar e Águas Interiores, Indústria e
Comércio, Economia e Finanças, Turismo,
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Cultura, medicina tradicional, Administração indústria florestal moderna, competitiva, sustentável,


Estatal e Função Pública, Justiça e Assuntos para suprir a crescente demanda interna e externa de
Constitucionais, Acção Social, Género, ensino e produtos florestais;
investigação florestal, dada a multidisciplinaridade c) Localização geoestratégica do País e próximidade dos
da gestão florestal e a contribuição das florestas mercados emergentes asiáticos;
no desenvolvimento socioeconómico e segurança d) O crescente reconhecimento da importância das florestas
alimentar, bem como na mitigação das mudanças na mitigação das mudanças climáticas e na construção
climáticas. O País é também signatário de diversos do desenvolvimento sustentável com baixas emissões
protocolos, tratados e convenções regionais e potencializa a valorização dos serviços ambientais;
internacionais na área do clima, biodiversidade, e) As florestas e seus múltiplos serviços e produtos
zonas húmidas, bacias hidrográficas, combate à criam oportunidade para a contribuição no aumento
desertificação, partilha de benefícios derivados do produto interno bruto (PIB), diversificação da
da utilização de recursos genéticos, comércio
economia nacional e desenvolvimento de outros
transfronteiriço e ainda os princípios voluntários
sectores.
de gestão sustentável das florestas e governação
responsável da propriedade florestal, terras e 1.3 Âmbito
pescas. A presente Política aplica-se a todo o património florestal
1.2 Desafios e oportunidades do sector florestal existente no território nacional e a todas as pessoas singulares
Constituem principais desafios do sector florestal: e colectivas, públicas, privadas, comunitárias e organizações
da sociedade civil que intervêm directa ou indirectamente
a) Assegurar a gestão sustentável e transparente dos recursos na protecção, conservação, gestão, exploração e utilização
naturais e do ambiente, através do planeamento sustentável dos produtos e serviços ambientais dos recursos
e ordenamento territorial, restauração, maneio, florestais.
conservação e fomento, monitoria, fiscalização e
responsabilização na elaboração e implementação 1.4 Objectivo geral
dos planos; O objectivo geral da presente Política é garantir a perpetuação
b) Priorizar a inventariação e mapeamento florestais a escala e aumento do património florestal nacional actualmente existente
de 1:250.000, cartografia de base a escala de 1:50.000 e geração de benefícios derivados de bens e serviços ambientais
e 1:25.000; através do reflorestamento, restauração, uso sustentável e
c) Implementar políticas e programas que proporcionam agregação de valor dos produtos florestais, incentivando a gestão
produtos alternativos para reduzir a demanda pelos inclusiva e participativa, em especial dos grupos vulneráveis,
produtos florestais, actualmente extraídos na floresta, para o benefício económico, social e ambiental das actuais e
derivado do crescimento demográfico (2.8%), em futuras gerações.
especial a crescente taxa de urbanização (3,7%);
d) Desenvolver a indústria de transformação de produtos 1.5 Objectivos específicos
florestais madeireiros e não madeireiros para agregar No domínio ambiental: assegurar a protecção, conservação,
valor, contribuir para a geração de emprego, aumento criação, valorização, restauração e o uso sustentável do
de receitas e da renda nacional; património florestal. Neste domínio prioriza-se a manutenção
e) Maximizar a utilização do potencial nacional para o dos ecossistemas florestais, espécies ameaçadas ou em perigo
estabelecimento de plantações florestais industriais e de extinção, preservação e valorização dos seus serviços através
de conservação; do pagamento de serviços ambientais, mitigação das mudanças
f) Fortalecer o quadro institucional e legal, pois a climáticas, manutenção dos serviços de água, estabilização de
administração florestal carece de recursos humanos solos e outros.
e tecnológicos para a gestão florestal moderna, No domínio sócio-cultural: promover um ambiente favorável
articulada e baseada em tecnologias de informação e e conducente à participação activa de todos cidadãos e
comunicação (TICs); principalmente a nível provincial intervenientes no maneio sustentável das florestas, em especial
e distrital; das comunidades locais, partilha justa e equitativa de benefícios,
g) Fortalecer o conhecimento e inovação nas florestas, valorizando e respeitando o conhecimento tradicional das florestas
devido ao fraco conhecimento da gestão e maneio sagradas, assim como as relações sócio-culturais.
florestal com base em metodologias e tecnologias No domínio económico: aumentar a contribuição das florestas
adequadas constitui um desafio transversal para o no desenvolvimento económico nacional e local, promovendo a
desenvolvimento das cadeias de valor e melhoria das exploração comercial competitiva com maior agregação de valor
condições de vida dos Moçambicanos; industrial a nível doméstico e, contribuindo para o bem-estar das
h) Mitigação e adaptação às mudanças climáticas, uma comunidades na redução da pobreza e aumento da segurança
vez que Moçambique tem sido afectado ciclicamente alimentar.
por eventos ambientais extremos como seca, cheias No domínio institucional e legal: fortalecer e melhorar o
e ciclones. quadro legal e institucional para a gestão inclusiva, transparente e
As principais oportunidades do sector florestal são: coordenada e sustentável das florestas, contribuir para o combate
à corrupção, crimes ambientais nacionais e transnacionais e
a) A existência de património florestal cobrindo cerca de observância da aplicação da lei e redução de práticas ilegais no
40% do território nacional constituído por diferentes sector florestal.
tipos de florestas, ecossistemas e espécies de flora e
fauna de inestimável valor ecológico, económico e 1.6 Visão
cultural; Aumentar a contribuição das florestas no quadro dos objectivos
b) Existência de vastas áreas com potencial para o e da agenda de desenvolvimento socio-económico e cultural do
estabelecimento de plantações florestais, base para uma País, através do reinvestimento para a modernização e gestão
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sustentável, integrada e participativa envolvendo as comunidades produtos e serviços ambientais e, em caso de dúvida,
locais, homens e mulheres, o sector privado, a sociedade civil, optar-se-á pela conservação e manutenção dos
entidades públicas e autoridades locais do Estado na protecção ecossistemas;
e conservação da biodiversidade. i) Transformação e comercialização de produtos acabados:
1.7 Missão o acesso e utilização sustentável dos recursos florestais
é, prioritariamente, assegurado para o abastecimento
A missão da presente política é promover a produção, gestão à indústria de transformação em produtos acabados,
e utilização sustentável do património florestal, conservação competitivos e destinados ao mercado nacional e à
da biodiversidade, planificação, produção, gestão, controlo da exportação, preservando os valores de biodiversidade
utilização sustentável e ambiental, assegurando a agregação de e o funcionamento normal dos ecossistemas;
valor dos seus produtos, para a melhoria qualitativa do bem-estar j) Direito de preferência: as pessoas singulares moçambicanas,
das comunidades e satisfação das necessidades das gerações
as comunidades locais ou seus membros, em igualdade
actuais e futuras.
de circunstâncias e classificação, têm direito de
1.8 Princípios preferência na atribuição de direitos de acesso e
A Política Florestal adopta os seguintes princípios: utilização das unidades de maneio florestal;
k) Prioridade da segurança alimentar e nutricional: a
a) Propriedade do Estado: as florestas nativas existentes em
actividade florestal deve contribuir para a segurança
todo o território nacional são propriedade do Estado,
alimentar e nutricional;
competindo exclusivamente a este, definir os termos
l) Combate à corrupção: no processo de licenciamento
e condições de acesso, utilização, comercialização,
e atribuição das autorizações relativas ao acesso,
maneio, reprodução e protecção, visando o alcance dos
exploração, gestão, comercialização e utilização dos
objectivos de desenvolvimento sustentável;
recursos florestais, o Governo deve criar procedimentos
b) Domínio público do Estado: as florestas nativas ou
legais e administrativos que previnam e detectem actos
plantadas existentes nas zonas de protecção constituem
de corrupção;
património florestal de domínio público do Estado;
m) Responsabilidade objectiva: todas as pessoas singulares
c) Domínio público das áreas de exploração florestal:
e colectivas e as comunidades locais são responsáveis
as áreas zoneadas e definidas nos instrumentos de
pelo custo de reposição da qualidade do ambiente
ordenamento do território, como de maior potencial
danificado ou pelos custos da mitigação dos danos
florestal, constituem áreas de domínio público do
por si causados;
Estado destinadas à exploração sustentável dos
n) Poluidor e pagador: o Estado responsabiliza as pessoas
recursos florestais e serviços ambientais, não podendo
singulares, colectivas e as comunidades locais pelo
por isso serem sujeitas a atribuição de direitos de uso e custo da reposição florestal danificada ou pelos custos
aproveitamento da terra, sem prejuízo dos adquiridos para a prevenção ou eliminação da poluição por si
pelas comunidades locais; causada, no exercício de qualquer actividade em áreas
d) Conservação e utilização sustentável: o acesso, utilização, florestais ou arredores;
transformação e comercialização dos produtos e o) Desenvolvimento e coordenação institucional: o
serviços florestais, deve ter em conta as actuais e Estado deve desenvolver um quadro institucional
futuras necessidades de desenvolvimento nacional, autónomo, adequado com pessoal motivado, equipado
visando a perpetuação da diversidade biológica, e capacitado, capaz de assegurar a implementação
ecológica e florestal existente; do quadro regulador florestal em coordenação com
e) Boa governação e transparência: a tomada de decisões os diferentes sectores de actividade, privilegiando
relativas ao acesso, exploração, comercialização os princípios da descentralização e desconcentração
dos produtos florestais, receitas, reinvestimento e administrativa;
canalização de benefícios, deve primar pela boa p) Cooperação e colaboração internacional: na protecção,
governação e transparência; controlo e fiscalização do património florestal devem
f) Igualdade, inclusão, acesso à informação e participação ser desenvolvidas estratégias que incluam a celebração
pública: todo o cidadão, sem distinção do lugar de e implementação de memorandos, acordos e tratados
nascimento, sexo, género, raça, religião ou filiação internacionais de colaboração e assistência entre
partidária, tem o direito de acesso à informação e de Estados;
participar na gestão, exploração e conservação do q) Gradualismo: a implementação da política florestal
património florestal e o dever de participar na sua considera uma abordagem incremental e flexível,
permitindo o ajustamento e harmonização legal e
protecção e fiscalização;
institucional e a criação de capacidades técnicas e
g) Envolvimento das comunidades locais: na adopção de
financeiras para a execução das acções estratégicas
instrumentos legais e operacionais, deve ser assegurado definidas.
o envolvimento efectivo das comunidades locais,
fortalecendo as suas capacidades e empoderamento 1.9 Vectores
nos processos de tomada de decisão sobre a gestão dos Constituem vectores da política florestal:
recursos florestais, em especial os grupos vulneráveis a) Sustentabilidade: a preservação do património florestal
e dos que deles dependem para a segurança alimentar; no País e a promoção do equilíbrio entre a produção
h) Precaução, prevenção e mitigação: no processo de de riqueza, o bem-estar social e a preservação do
regulação florestal e na implementação da legislação, capital natural serão através do uso sustentável dos
devem ser privilegiados os fundamentos científicos e recursos sem comprometer a manutenção, conservação
técnicos para a tomada de decisão sobre a protecção, e melhoria dos sistemas ecológicos para a presente e
utilização, transformação e comercialização dos futuras gerações;
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b) Abordagem holística: consiste no reconhecimento Floresta nativa


da interdependência entre a conservação, gestão A floresta nativa é de especial importância pelos bens e serviços
e comercialização dos recursos florestais com o que proporciona à sociedade. A sua utilização sustentável é
quotidiano das populações e administração territorial fundamental para garantir os benefícios da presente e futuras
integrada, onde as múltiplas funções da floresta gerações.
contribuem para o desenvolvimento sustentável. A curto prazo: o Governo deve assegurar a exploração
1.10 Pilares da Política Florestal adequada dos recursos florestais em regimes sustentáveis,
atribuir incentivos fiscais, promover as boas práticas e padrões
Os pilares da política florestal constituem os principais eixos de
nacionais internacionalmente aceitáveis. O Governo deve
desenvolvimento e implementação gradual em prazos de curta (0 a
estabelecer um roteiro de mudança de uma atitude extractivista
6 anos), média (6 a 12 anos) e longa duração (acima de 12 anos);
para uma gestão integral e sustentável de unidades de maneio
Pilar 1: Governação florestal florestal acordadas entre os vários intervenientes. Deve ainda
promover o crescimento económico baseado nos ecossistemas
O quadro legal, institucional e governação florestal constitui o
pilar da Política florestal que assume o compromisso do Governo e seus serviços, incentivando a agregação de valor dos produtos
sobre o estabelecimento de um quadro político-legal participativo, florestais madeireiros e não madeireiros, o uso de espécies
inclusivo e harmonizado a ser implementado por uma instituição menos conhecidas e exploradas, a oferta de produtos acabados
própria, capacitada em meios humanos, materiais e tecnológicos e competitivos nos mercados nacionais e internacionais, criação
no contexto da descentralização, desconcentração, e simplificação de postos de emprego bem como a transferência de tecnologias,
de procedimentos. formação e capacitação técnica de todos os actores sectoriais.
Neste pilar, prevê-se a mudança de paradigma com reformas A exploração florestal é realizada sobre as espécies em
legais e institucionais que deverão criar bases sólidas a nível condição ecológica saudável, devendo o Governo desenvolver
central e local de um novo modelo de gestão participativa e mecanismos legais que permitam a suspensão imediata de
inclusiva do sector das florestas em Moçambique tendo como espécies sobre-exploradas.
principal beneficiário as comunidades locais. A médio prazo: o Governo deve regular a produção,
A curto prazo: o Governo irá actualizar o quadro legal existente processamento, comercialização, exportação de produtos
tendo em conta a visão, missão, objectivos e os princípios florestais e o reinvestimento das receitas no sector florestal,
estabelecidos na presente Política, incluindo a revisão da Lei adoptando medidas que priorizem a exportação de produtos
n.º 10/99, de 07 de Julho (Lei de Florestas e Fauna Bravia) e florestais manufaturados com maior valor agregado.
legislação complementar ou relacionada, harmonizada com os A longo prazo: o Governo deve promover acções para
quadros político-legais sobre a terra, ordenamento territorial, maximizar a rentabilidade das cadeias de valor de madeira de
conservação, segurança ambiental, órgãos locais do Estado, modo que os produtores obtenham maior rendimentos financeiros
ambiente e outros, bem como o desenvolvimento do sistema de e a criação de uma indústria florestal rentável, competitiva
informação florestal e utilização duma plataforma digital capaz no mercado nacional e internacional e comprometida com a
de melhorar a gestão da situação técnico jurídica dos operadores sustentabilidade do recurso florestal.
e outros usuários da floresta no quadro da boa governação do
património florestal do País, rastreamento de produtos florestais e Plantações florestais
aplicativos e tecnologias digitais para a melhoria da fiscalização, Moçambique tem grandes potencialidades de áreas com
comunicação e gestão do sector. condições agroclimáticas adequadas para o estabelecimento e
A médio prazo: o Governo deve desenvolver um quadro desenvolvimento de plantações florestais, aliada à localização
institucional adequado, capaz de assegurar a coordenação das estratégica e proximidade do País em relação aos mercados
actividades de protecção, gestão e fiscalização do património mundiais emergentes e dependência do País na importação destes
florestal em todo o território nacional, com representação
produtos e dos sistemas agroflorestais para a segurança alimentar
a nível distrital, provincial e central, institucionalizando e
autonomizando os serviços de fiscalização florestal capacitados das populações rurais, produção de produtos madeireiros e não
em meios humanos, materiais e tecnológicos para assegurar a madeireiros para auto consumo e renda, conservação do ambiente
prevenção, detenção, repreensão e penalização de infrações e e da biodiversidade a nível local.
crimes florestais, visando o combate à exploração ilegal, em todo O desenvolvimento e estabelecimento de plantações deve,
o território nacional. quanto possível evitar comprometer a biodiversidade em especial
A longo prazo: prevê-se a melhoria da governação florestal, as áreas-chaves e de alto valor de biodiversidade e os outros
nomeadamente a transparência na tomada de decisões e de gestão ecossistemas sensíveis.
de fundos, a participação e responsabilização de todos os actores, A curto prazo: o Governo deve criar um ambiente favorável
o respeito pela legalidade, o aumento da previsibilidade jurídica e atractivo para o estabelecimento de plantações florestais
e melhoria de ambiente para o investimento privado, alocação e disseminação de sistemas agroflorestais nomeadamente a
justa e equitativa de benefícios do sector florestal.
adequação do quadro legal e institucional, o zoneamento do
Pilar 2: Desenvolvimento Económico território e definição das áreas de desenvolvimento de plantações
Este pilar reconhece que o património florestal constitui uma florestais, facilitar o acesso e posse de terra pelos investidores
das principais fontes de contribuição para a economia nacional nacionais e estrangeiros. Deve, ainda, promover a pesquisa
no quadro da estratégia nacional de desenvolvimento do País, e formação técnico profissional para produção de produtos
que preconiza a diversificação da economia como base para florestais, madeireiros e não madeireiros, tanto para o consumo
um crescimento económico estável e para a gestão abrangente
interno como para mercado internacional, especialmente a
e sustentável do património florestal. São aqui englobadas
as principais cadeias de valor do sector florestal: (i) madeira produção de postes e estacas tratados, materiais de construção,
proveniente da floresta nativa; (ii) madeira proveniente de produção da energia de biomassa lenhosa, parquet, folheados,
plantações; (iii) energia da biomassa lenhosa e (iv) produtos contraplacados, painéis de partículas, mobiliário, papel e outros
florestais não madeireiros; produtos.
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A médio prazo: neste pilar deve ser harmonizado o quadro Produtos Florestais não Madeireiros
legal que afecta este sector e desenvolvidas plantações para Os produtos florestais não madeireiros, incluindo a fauna
mitigação dos impactos da degradação ambiental através da bravia são de especial importância para as comunidades locais,
fixação de dunas e estabilização das bacias hidrográficas, proporcionam materiais de construção, alimentos, medicamentos,
recuperação de áreas degradadas, ecossistemas frágeis e de outras utensílios domésticos, renda, património cultural e espiritual que
áreas sujeitas a erosão ou cuja integridade dos serviços ambientais devem ser reconhecidos, valorizados e preservados.
esteja ameaçada, desenvolvendo acções estratégicas que venham A curto prazo: é importante aumentar do conhecimento
contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa dos produtos florestais não madeireiros e valorização da sua
e contribuir para minimizar os efeitos do aquecimento global do contribuição à economia local e do País.
planeta e para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A médio prazo: é fundamental o uso e maneio integral da
A longo prazo: o Estado deve assegurar a contribuição do floresta, incentivando as boas práticas e sua integração nos
sector florestal na economia nacional através da criação de uma inventários e planos de maneio das florestas e das unidades de
indústria florestal de produtos madeireiros e não madeireiros, maneio florestal, visando aumentar a resiliência às mudanças
manufacturados com base em plantações florestais para redução climáticas, uso sustentável, agregação de valor e geração de
da dependência de produtos florestais importados, geração de rendimento, com base em produtos florestais não madeireiros.
postos de emprego, surgimento de oportunidades de parcerias com A longo prazo: desenvolvimento de cadeias de valor dos
produtos florestais não madeireiros (PFNM) baseadas na
as comunidades locais e os pequenos produtores, diversificação
utilização sustentável e produtos competitivos no mercado
de fontes de renda e exportações de produtos manufaturados de
nacional e internacional. A integração dos produtos florestais
maior valor agregado.
não madeireiros na agenda de desenvolvimento do País e do
Energia de Biomassa Lenhosa sector florestal, contribuindo para a visão holística do património
A importância da floresta no abastecimento de energia florestal.
doméstica à população moçambicana e na previsão de que esta Pilar 3: Serviços Ambientais e Conservação Florestal
dependência se mantenha num futuro próximo, com impactos O reconhecimento de todos os intervenientes sobre o papel
nefastos no desmatamento e degradação ambiental, sobretudo das florestas na protecção e conservação da biodiversidade,
em zonas de exploração de combustíveis lenhosos para o em especial das espécies endémicas e em perigo de extinção
crescente consumo urbano desperta a necessidade de reforço da das eco-regiões florestais, constitui uma prioridade global
coordenação multissectorial para o desenvolvimento de políticas para sobrevivência dos seres vivos. A vulnerabilidade do
energéticas e acções estratégicas para capitalizar outras fontes de País aos fenómenos climáticos e da importância das florestas
combustíveis com menor impacto ambiental, bem como regular para a mitigação das mudanças climáticas e outros problemas
a cadeia de valor de produção, comercialização e utilização relacionados, afectando as infra-estruturas, os cultivos e as vidas
sustentável de lenha e carvão vegetal para o abastecimento humanas, constituem o fundamento da política florestal através
doméstico e industrial em combustível. deste pilar. A valorização da contribuição das florestas nos
A curto prazo: o Governo deve estabelecer unidades de serviços ambientais é fundamental para a sobrevivência e bem-
maneio florestal e regular a exploração dos recursos florestais estar da humanidade, alcance dos objectivos de desenvolvimento
provenientes da floresta nativa para a produção sustentável sustentável e demais metas estabelecidas em acordos e convenções
de combustíveis lenhosos com vista ao abastecimento dos internacionais de que Moçambique é signatário.
centros urbanos, promovendo o surgimento de organizações, A curto prazo: o Governo prioriza a planificação do uso
associações, cooperativas e fóruns de representação dos da terra, e a integração de sistemas de cadastro e informação
produtores de combustíveis lenhosos, e aumentando a eficiência geográfica considerando, entre outros, o papel das florestas para o
desenvolvimento integrado do território, a preservação do capital
de transformação. A nível do consumidor, o Governo deve adoptar
genético e a diversidade florestal e faunística, estabelecendo
medidas para a redução do consumo de combustíveis lenhosos e
regimes de protecção florestal, promovendo a restauração de
de gastos familiares através da eficiência dos fogões utilizados e
áreas degradadas para aumentar a cobertura florestal do País e
substituição por outras fontes de combustível. assegurar o fornecimento de serviços ambientais.
A médio prazo: o Governo deve adoptar medidas para que A médio prazo: o Governo deverá adoptar um quadro legal
a produção de combustíveis lenhosos para abastecimento do favorável ao estabelecimento e gestão de áreas de protecção
consumo urbano seja feita através das associações e cooperativas e conservação florestal de domínio particular e regime de
de produtores de carvão e lenha organizados, registados e compensação por benefícios ambientais e contrabalanços para
prioritariamente a partir das plantações comerciais com espécies restauração e fomento florestal.
nativas e/ou exóticas de rápido crescimento em áreas peri-urbanas A longo prazo: o Governo vai desenvolver medidas para
e de florestas degradadas ou de uso múltiplo. O Governo deve incentivar a valorização das florestas e os pagamentos por serviços
promover a utilização de resíduos agro-industriais e fontes ambientais por forma a assegurar a sua contribuição no PIB e nos
alternativas de energia tais como solar, eólica, gás e electricidade. modelos de desenvolvimento sustentável.
A longo prazo: impõe-se ao Governo adoção de uma política
energética integrada, visando promover a consciência ambiental Pilar 4: Participação Efectiva das Comunidades Locais
dos consumidores urbanos para a aquisição de combustíveis O Governo deve criar mecanismos políticos e legais que
lenhosos em conformidade com o quadro legal e com base no assegurem a participação activa das comunidades na tomada
uso e maneio florestal sustentável. Por outro lado, incentivar o de decisão sobre o maneio florestal, partilha de benefícios,
consumo de fontes alternativas de energia, o aproveitamento de cumprimento das suas obrigações e exercício dos direitos. A
resíduos pelas agro-indústrias, bem como a adopção de taxas participação das comunidades locais na gestão dos recursos
reguladoras, subsídios às demais energias para redução da florestais, constitui o reconhecimento de todos os intervenientes
dependência de combustíveis lenhosos nos centros urbanos e do papel das comunidades locais como guardiãs e beneficiárias
coordenação multissectorial na política energética. dos recursos florestais.
27 DE MARÇO DE 2020 315

A curto prazo: o Governo e parceiros devem reforçar 2.1.1 Adequação do quadro institucional sobre a gestão
a capacidade das organizações comunitárias de base como e administração do património florestal
promotoras e parceiras activas do maneio florestal sustentável, Para o alcance deste objectivo estratégico são realizadas as
na fiscalização dos recursos florestais, combate à sua exploração seguintes acções:
ilegal, desmatamento, adopção de boas práticas e boas normas a) Criar uma entidade específica e autónoma para assegurar
costumeiras de gestão sustentável da floresta bem como a a gestão, regulação e administração do património
implementação de empreendimentos comunitários, promovendo florestal a nível nacional;
parcerias atractivas entre estas e outros actores. b) Realizar o enquadramento institucional das actividades
O Governo deve assegurar a criação e desenvolvimento ligadas ao desenvolvimento de plantações florestais
de áreas destinadas à protecção e conservação comunitária, num único órgão central com mandato para dinamizar
reflorestamento e exploração florestal de produtos madeireiros e o desenvolvimento das plantações florestais;
não madeireiros pelas comunidades locais, como um mecanismo c) Reforçar os mecanismos de planificação, coordenação
de delegação de poderes de gestão e responsabilização das intra e inter-sectorial e de implementação do quadro
comunidades. legal em colaboração com todos os intervenientes;
A médio prazo: são desenvolvidos e operacionalizados d) Criar o Fórum Nacional de Florestas, multissectorial,
modelos atractivos de parcerias nas unidades de maneio florestal como órgão de consulta do Governo em matéria de
que promovam a geração de benefícios através da viabilização florestas, incluindo a monitoria do quadro legal com
de negócios individuais ou colectivos com base nos produtos estatutos, atribuições e fundos próprios, que integra o
sector público e privado, organizações da sociedade
florestais madeireiros e não madeireiros, serviços ambientais
civil, instituições de ensino e investigação, parceiros
e partilha equitativa e transparente destes benefícios pelas
de cooperação, representantes das comunidades locais
comunidades. e os mídias.
A longo prazo: as comunidades em colaboração com o sector
privado são actores activos na promoção do desenvolvimento 2.1.2 Desenvolvimento do quadro legal inclusivo,
rural a nível local através da geração de rendimentos e gestão adequado e harmonizado com as demais legislações sectoriais
efectiva, activa, participativa e transparente dos bens e serviços O alcance deste objectivo estratégico é assegurado, de entre
ambientais providos pelas florestas. outras, pela realização das seguintes acções:
Pilar 5: Promoção da Formação e Investigação Florestal a) Promover a aprovação de uma Lei Florestal e dos
respectivos regulamentos, elaborados de forma
A formação e investigação florestal resulta do reconhecimento inclusiva e participativa, integrando todas as
da importância do ensino e investigação florestal para a produção matérias de natureza ordinária relativas à protecção,
de capacidades, informação e conhecimento científico e conservação, utilização, comercialização e fiscalização
tecnológico fundamental para responder aos desafios económicos, do património florestal harmonizada com os demais
ambientais e sociais do sector florestal. Reconhece-se as quadros legais a ele relacionados e convenções,
habilidades e competências dos diferentes intervenientes na tratados e acordos internacionais ratificados;
conservação, gestão e utilização sustentável do património b) Divulgar o quadro legal entre todos os actores em especial
florestal, biodiversidade e adaptação às mudanças climáticas. junto das comunidades locais.
A curto prazo: o Governo e seus parceiros devem desenvolver 2.1.3 Fiscalização florestal
um programa nacional de investigação florestal coordenado
Este objectivo estratégico é assegurado através do
e multi-abrangente (florestas, biodiversidade, meio ambiente,
desenvolvimento e implementação duma Estratégia Nacional de
mudanças climáticas) e coordenação multissectorial para o
Fiscalização Florestal, contendo acções de prevenção, detecção
alinhamento curricular do ensino técnico profissional florestal e repressão das actividades ilegais, envolvendo as comunidades
aos diferentes níveis, elaboração de um programa de extensão e locais, incluindo as seguintes acções:
capacitação florestal.
a) Reorganizar e descentralizar os serviços de fiscalização,
A medio prazo: é fundamental o desenho e estabelecimento de apetrechando com meios humanos, materiais e
mecanismos de financiamento e mobilização de fundos quer para tecnológicos adequados para o exercício da fiscalização,
a implementação do programa de investigação florestal, quer para em todo território nacional e rastreamento em toda
o programa de capacitação técnica, treinamentos e extensão, bem cadeia de produção florestal;
como a expansão do ensino técnico profissional, apetrechamento b) Desenvolver e implementar uma estratégica de
de instalações laboratoriais e facilitação do acesso à capacitação fiscalização participativa e inclusiva, com enfoque
através de bolsas de estudos, estágios e intercâmbios. de género, envolvendo intervenientes sectoriais,
A longo prazo: necessidade de valorização do conhecimento em particular as comunidades locais, com acções
prático-científico sobre as florestas e biodiversidade, da inovação no domínio da prevenção, detecção e repressão das
e modernização para a melhoria da gestão do sector florestal. actividades ilegais;
c) Assegurar a implementação efetiva do Estatuto do Fiscal
Pretende-se ainda alcançar um ensino e capacitação profissional e
Florestal, garantindo os incentivos, a participação dos
vocacional de qualidade para garantir assistência técnica adequada intervenientes sectoriais, da sociedade em geral e das
às comunidades, operadores florestais e demais intervenientes comunidades na fiscalização florestal;
para responder aos desafios do sector. d) Criar e facilitar o funcionamento do órgão de coordenação
2. Estratégia de Implementação interinstitucional na fiscalização florestal, a nível
central, provincial e distrital;
2.1 Pilar da Governação Florestal e) Estabelecer e implementar incentivos reais para estimular
A implementação é assegurada através dos seguintes objectivos a denúncia pública e particular dos infractores a
estratégicos: legislação florestal;
316 I SÉRIE — NÚMERO 60

f) Asssegurar a comparticipação das comunidades locais à agregação do valor, criação de emprego e


do valor resultante das multas pela transgressão à desenvolvimento económico sustentável;
legislação florestal; b) Identificar modelos de gestão florestal assentes em boas
g) Assegurar mecanismos transparentes de cumprimento práticas de utilização e maneio florestal que sejam
efectivo das medidas punitivas aplicadas aos funcionais e replicáveis, tendo em conta o mosaico
infractores; cultural e biofísico local;
h) Desenvolver e implementar campanhas de fiscalização, c) Assegurar que a gestão e utilização dos recursos florestais
envolvendo o sector privado, as associações de seja feita com base no conhecimento científico e
operadores florestais, as organizações da sociedade técnico existente e, informação actual sobre a realidade
civil e as comunidades locais; social, económica e ecológica;
i) Fiscalizar e penalizar, com o apoio das comunidades d) Estabelecer incentivos atrativos para o investimento
locais, todos aqueles que produzirem lenha e carvão no sector florestal, que salvaguarde interesses das
sem as devidas autorizações; comunidades locais;
j) Estabelecer mecanismos de coordenação entre os e) Promover a gestão e utilização florestal sustentável;
diferentes intervenientes no processo de fiscalização f) Promover a assistência técnica especializada e utilização
dos recursos naturais. de mão-de-obra qualificada em todas as actividades
florestais.
2.1.4 Promoção da boa governação florestal
Com vista a assegurar o alcance deste objectivo estratégico 2.2.2 Apoio à indústria florestal e transformação local
serão realizadas as seguintes acções: de produtos florestais em produtos acabados
a) Promover a realização de inventários florestais A materialização deste objectivo estratégico pressupõe a
estratégicos e monitoramento global e a criação de realização das seguintes acções:
capacidades a nível provincial para a sua realização; a) Estabelecer um pacote de incentivos e ambiente
b) Garantir a realização de inventários de biodiversidade, favoráveis ao investimento na indústria florestal de
visando o conhecimento e valorização florestal a todos transformação dos produtos florestais madeireiros e
os níveis; não madeireiros em produtos acabados;
c) Modernizar e promover o uso de tecnologia, inteligência b) Desenvolver políticas que promovam a exportação de
artificial e transformação digital, para melhorar a produtos florestais acabados;
eficiência e eficácia das instituições responsáveis pela c) Promover o acesso ao financiamento para a indústria
florestal;
gestão e administração do património florestal;
d) Promover o estabelecimento de parques industriais de
d) Incluir todos os actores e intervenientes no processo
processamento secundário e o aumento da eficiência
de gestão dos recursos naturais, através da na transformação e melhoria dos padrões de qualidade
institucionalização de um mecanismo de comunicação, e competitividade dos produtos florestais nacionais.
promoção e divulgação de imagem e participação
2.2.3 Contribuição fiscal do património florestal e inves-
funcional e eficiente;
timento público
e) Simplificar e divulgar a todos os níveis, os procedimentos
relativos ao acesso, uso e exploração de recursos Para a materialização do presente objectivo estratégico
florestais para fins comerciais; são realizadas as seguintes acções:
f) Fiscalizar e supervisionar todos os órgãos e serviços a) Prever critérios de definição e actualização de taxas
administrativos ligados à gestão e administração do de ocupação da área, acesso, exploração, utilização,
património florestal, através do controlo hierárquico, transporte e comercialização de produtos florestais
inspeções, auditorias, prestação de contas e informações em função do potencial, valor económico, ecológico
públicas, entre outras; e social dos produtos florestais;
g) Instituir mecanismos de reclamações, denúncia e b) Estabelecer e operacionalizar mecanismos de colecta
resolução de conflitos de âmbito florestal; e canalização de taxas, eficaz, fiável, moderno,
h) Responsabilizar as autoridades locais pelas actividades de transparente e auditáveis;
exploração ou utilização ilegal verificadas na sua área; c) Incentivar a indústria florestal a investir em toda a cadeia,
i) Estabelecer mecanismos de aproximação e o envolvimento agregando valor à madeira e obtendo maior proporção
de rendimentos;
do cidadão na supervisão e fiscalização dos actos
d) Consignar parte do valor das taxas para investimento
praticados pelas entidades públicas de gestão do
público no sector, benefício das comunidades
património florestal;
locais tendo em conta o seu esforço e resultado na
j) Estabelecer o fundo de fomento florestal.
conservação, fiscalização e gestão do património
2.2. Pilar do Desenvolvimento Económico florestal;
A materialização deste pilar será feita através dos seguintes e) Estabelecer mecanismos que assegurem a transparência
objectivos estratégicos: na planificação e tomada de decisões sobre a gestão e
aplicação de fundos provenientes das taxas florestais.
Floresta nativa 2.2.4 Promoção do acesso ao mercado
2.2.1 Uso sustentável do Património Florestal e adopção Na promoção do acesso aos mercados, como objectivo
de boas práticas. estratégico, é assegurado pelas seguintes acções:
Este objectivo estratégico será alcançado através do a) Promover estudos de mercados, feiras de produtos
desenvolvimento das acções de uso sustentável dos recursos florestais, entrepostos de venda de produtos florestais
florestais sem comprometer a biodiversidade, nomeadamente: e acordos de cooperação e colaboração, visando o
a) Promover a produção florestal comercial sustentável conhecimento e acesso aos mercados internacionais
de espécies florestais nativas e exóticas orientada de produtos florestais;
27 DE MARÇO DE 2020 317

b) Regular o comércio de produtos florestais, priorizando as áreas com potencial para o estabelecimento de
a exportação de produtos florestais transformados plantações florestais;
e acabados e restringir a exportação de produtos b) Participar na elaboração dos Planos Estratégicos de
florestais não manufacturados; Desenvolvimento Distrital (PEDD) tendo em conta
c) Promover a participação de pequenos produtores nos as potencialidades locais no desenvolvimento de
fóruns de consulta, decisão e de promoção de negócios plantações e da indústria florestal, visando assegurar
florestais; e viabilizar as redes elétricas, viária, férreas e outras
d) Promover o associativismo de pequenas e médias infra-estruturas públicas e privadas, necessárias para
empresas de produtos florestais madeireiros e não- esta actividade;
madeireiros ao longo das cadeias de valor; c) Simplificar procedimentos de acesso a terra para o
e) Melhorar a classificação dos toros e demais produtos estabelecimento de plantações florestais e facilitar o
florestais; diálogo e negociação, resolução de litígios e conflictos
f) Promover o conhecimento e a valorização de espécies entre investidores e as comunidades locais;
florestais secundarizadas, de modo a contribuir para a d) Consignar uma percentagem do valor das taxas de
redução da pressão sobre as espécies mais procuradas a exploração florestal para o reflorestamento e instituir
níveis nacional e internacional, bem como a protecção mecanismos de utilização.
de espécies em risco de extinção; 2.2.7 Incentivos ao desenvolvimento da indústria florestal
g) Promover a implementação de princípios, critérios e com base em plantações florestais
padrões de certificação nacional internacionalmente
Este objectivo estratégico será assegurado através da
aceitáveis;
concretização das seguintes acções:
h) Estimular o consumo de produtos florestais acabados
pelo Estado. a) Criar um sistema de incentivos para o investimento na
indústria florestal com base em plantações florestais,
Plantações florestais visando a produção de madeira, postes, carvão vegetal
O desenvolvimento das plantações florestais e aumento da sua e de outros produtos florestais não madeireiros;
contribuição para o desenvolvimento económico será assegurada b) Incentivar a participação das comunidades locais
considerando os seguintes objetivos estratégicos: incluindo das mulheres, no estabelecimento de viveiros
florestais e desenvolvimento de plantações florestais.
2.2.5 Criação de um ambiente favorável ao investimento
no desenvolvimento de plantações Energia da biomassa
Este objectivo estratégico será assegurado através da efetivação A utilização da energia da biomassa e sua contribuição para
das seguintes acções: o desenvolvimento económico será assegurada, considerando os
a) Desenvolver um quadro legal e institucional adequado seguintes objetivos estratégicos:
e coordenado, visando assegurar a promoção de 2.2.8 Adequar o quadro legal sobre a exploração florestal
investimentos na área de plantações florestais; para fins energéticos
b) Desenvolver estratégias adequadas para o envolvimento
Concorre para a materialização deste objectivo estratégico as
das comunidades em pequenas e médias empresas,
seguintes acções:
incluindo a capacitação das comunidades para o
desenvolvimento de plantações florestais e gestão nos a) Harmonizar o quadro legal, tendo em conta as políticas
respectivos benefícios; e estratégia da biomassa vigentes;
c) Estabelecer estratégia de registo e monitoria do b) Criar mecanismos fiáveis de fixação e actualização
estabelecimento de plantações florestais; de preços de comercialização dos combustíveis
d) Promover a participação das empresas, associações ou alternativos e que assegurem concorrência e vantagens
cooperativas reflorestadoras nos processos de tomada em relação à energia da biomassa lenhosa;
de decisões; c) Instituir unidades de maneio florestal para fins de
e) Criar incentivos financeiros para estabelecimento de produção de combustíveis lenhosos geridos por
plantações florestais e indústrias associadas; associações, cooperativas ou em acordos de parceria;
f) Definir a responsabilidade pelas infra-estruturas sócio- d) Instituir um regime de licenciamento, registo, exploração
económicas a serem desenvolvidas pelo investidor no sustentável, restauração, enriquecimento florestal e
âmbito dos compromissos assumidos nas consultas maneio de rebentos dando-se preferência à produção
comunitárias; de combustíveis lenhosos provenientes das plantações
g) Criar incentivos fiscais para a certificação florestal e o florestais para fins comerciais, industriais e energéticos,
desenvolvimento de padrões nacionais; sempre que esta acção não signifique e contribua para
h) Estimular parcerias entre as entidades da área de florestas, a devastação da floresta natural existente;
instituições de ensino, Forças Armadas de Defesa de e) Rever a cadeia de valor do carvão vegetal e seus
Moçambique (FADM) para realizar actividades de intervenientes e incentivar a geração de maiores
reflorestamento e restauração mediante canalização rendimentos aos produtores;
das sobretaxas de reflorestamento. f) Formalizar os mercados de venda de combustíveis
lenhosos e instituir postos comerciais e feiras
2.2.6 Assegurar o acesso à terra no estabelecimento e
comunitárias de comercialização de combustíveis
desenvolvimento de plantações florestais
lenhosos em moldes que ofereçam maior rentabilidade
Este objectivo estratégico é assegurado através da materialização às comunidades locais;
das seguintes acções: g) Incentivar a criação de associações ou cooperativas
a) Elaborar e aprovar os instrumentos de ordenamento do de produtores de lenha e carvão e promover a sua
território com vista a zonear e consignar legalmente participação em fóruns de debate no sector;
318 I SÉRIE — NÚMERO 60

h) Demarcar áreas comunitárias para a exploração, produção Produtos florestais não madeireiros
de carvão e lenha, promovendo a rotação e pousio A utilização e valorização dos produtos florestais não
adequado; madeireiros, incluindo a fauna bravia e da sua contribuição para
i) Promover a produção de briquetes de carvão a partir de o desenvolvimento económico será assegurada, considerando os
materiais alternativos aos recursos madeireiros (papel, seguintes objetivos estratégicos:
restos de agricultura, restos de cocos, etc.) e criar novas
oportunidades de negócio; 2.2.11 Aumentar o conhecimento dos Produtos Florestais
j) Promover incentivos para estimular a utilização dos não Madeireiros (PFNM), valorização e seu uso sustentável
briquetes de carvão pelos consumidores. a) Criar uma base de dados dos principais produtos
florestais não madeireiros, sistema de inventariação,
2.2.9 Abastecimento de combustíveis lenhosos com base
mapeamento, e monitoria para melhoria do
em plantações florestais
conhecimento, dos processos de transformação e
Com este objectivo estratégico, o Governo pretende reduzir a valorização dos produtos tradicionais;
pressão sobre o recurso florestal natural para o abastecimento em b) Adequar o quadro legal para a valorização e uso
energia de biomassa, o que será assegurado através da realização sustentável dos PFNM e sua integração na agenda de
das seguintes acções: desenvolvimento do País;
a) Incentivar o estabelecimento de plantações florestais c) Inventariação, cadastro e ordenamento territorial,
comerciais privadas e sistemas agroflorestais, considerando os principais PFNM, incluindo a fauna
comunitários e familiares de média e larga escala para bravia;
fins energéticos; d) Promover boas práticas de maneio, colheita, uso e
b) Incentivar a produção de mudas como oportunidade processamento dos PFNM e fauna bravia.
de negócio e uso de espécies nativas e/ou exóticas 2.2.12 Aumentar a contribuição do sector florestal no
de rápido crescimento para parcelas de produção de desenvolvimento local e promover negócios baseados em
energia; produtos florestais não madeireiros
c) Criar redes de produtores familiares com parcelas
Este objectivo estratégico será materializado através das
plantadas para abastecimento de combustível lenhoso
seguintes acções:
à indústria de produção de carvão;
d) Fomentar redes de colecta, beneficiamento, a) Facilitar e criar modelos de pequenas empresas familiares
armazenamento e distribuição de sementes de espécies e comunitárias em parcerias com o sector privado para
florestais; a conservação, plantio, exploração, transformação e
e) Promover e incentivar o uso de combustíveis lenhosos comercialização de produtos florestais não madeireiros;
provenientes de plantações florestais e/ou resíduos b) Definir mecanismos legais para o acesso e utilização
pelas indústrias consumidoras destes combustíveis; sustentável dos recursos florestais pelas comunidades
f) Estabelecer medidas restritivas para o consumo industrial locais, incluindo incentivos para o desenvolvimento
de combustíveis lenhosos a partir da floresta nativa. de pequenas indústrias e cadeias de valor de produtos
florestais não madeireiros;
2.2.10 Adopção de política florestal e energética integrada c) Promover o acesso a microcréditos e sistemas financeiros
favorável ao uso de combustíveis lenhosos certificados adequados à realidade local e em especial, favorecendo
Este objectivo é assegurado através das seguintes acções: o acesso às mulheres e grupos vulneráveis para
a) Promover a coordenação e colaboração multissectorial potenciar as cadeias de valor de produtos florestais
entre os sectores de florestas, do ambiente, de não madeireiros;
energia da biomassa, energia e de outras fontes de d) Apoiar a domesticação e replantio de espécies com valor
combustíveis, visando alcançar a disseminação de local e comercial (medicinal, alimentar, entre outros);
energias novas e renováveis, a diversificação da matriz e) Desenvolver novos produtos, mercados e assegurar a
energética, o aumento da eficiência e o abastecimento sua certificação;
energético com base na exploração sustentável dos f) Promover o artesanato com base em produtos florestais
recursos naturais; não madeireiros.
b) Criação de incentivos, subsídios e compensações 2.3 Pilar da conservação florestal e serviços ambientais
derivadas de outras fontes de energia para apoio ao Este pilar está assente nos seguintes objectivos estratégicos:
sector florestal;
c) Introduzir mecanismos que permitam a certificação 2.3.1 Integração das florestas no ordenamento territorial e
nacional dos combustíveis lenhosos; estabelecimento de regimes de protecção florestal
d) Pesquisar, desenvolver e promover a utilização de Para este objectivo estratégico são desenvolvidas as seguintes
outras fontes de combustíveis lenhosos alternativos à acções:
biomassa lenhosa; a) Classificar e zonear as áreas de recursos florestais em
e) Promover e massificar a utilização industrial e doméstica função das suas categorias funcionais e integrar estas
dos sistemas de energias renováveis (energia eólica, áreas no Plano Nacional de Ordenamento do Território;
solar) e outras fontes de energia; b) Garantir que as áreas florestais de maior potencial
f) Promover a produção de energia da biomassa com base produtivo sejam delineadas em unidades de maneio
em desperdícios (ramadas, serradura, costaneiras) e de florestal e mantidas como áreas florestais permanentes
aproveitamento de subprodutos da queima de carvão; sob gestão sustentável e integradas no plano nacional
g) Introduzir o selo de origem/proveniência dos combustíveis de ordenamento do território;
lenhosos, padronizar os sacos de carvão e facilitar a c) Estabelecer uma área mínima de conservação e protecção
alocação de mudas para o reflorestamento. dentro das unidades de maneio florestal;
27 DE MARÇO DE 2020 319

d) Demarcar, cartografar e lançar no tombo nacional de 2.3.2 Criação de um quadro legal florestal favorável à
terras e respectivos instrumentos de ordenamento protecção do património florestal e mitigação de mudanças
territorial, as reservas florestais e as árvores declaradas climáticas
de interesse público e científico em colaboração e Para este objectivo estratégico serão feitas, prioritariamente,
envolvimento das lideranças locais e comunidades no as seguintes acções:
processo de demarcação e tomada de decisões;
a) Desenvolver um quadro legal favorável e atrativo para
e) Definição clara dos valores de conservação e sua
investimento e co-gestão das reservas florestais e
divulgação a todos níveis, com particular enfoque ao
outras áreas de proteção e conservação de componentes
nível das comunidades locais;
ambientais;
f) Identificar e promover as alternativas de vida para
b) Assegurar a observância das recomendações constantes
as comunidades que vivem em redor das áreas de
do quadro político-legal e de convenções e tratados
conservação;
internacionais relativas à proteção, conservação e uso
g) Promover o maneio comunitário para uso racional e
sustentável dos recursos florestais;
sustentável dos recursos florestais faunístico existentes
c) Fortalecer Autoridade nacional e local para o CITES,
em áreas de conservação;
promover a vigilância, pesquisa e assegurar a tomada
h) Institucionalizar a gestão e administração das reservas
de decisões sobre a protecção de espécies florestais
florestais e das áreas declaradas de interesse público
ameaçadas ou em perigo de extinção;
e científico, de acordo com as respectivas categorias
d) Melhorar um quadro legal que encoraje e garanta a
de protecção, considerando:
produção florestal para a multiplicação e conservação
Reservas florestais totais destinadas a conservação do germoplasma, visando a mitigação da acção dos
integral do ecossistema florestal, abrangendo as efeitos climáticos, integrar efeitos estéticos, melhorar
florestas situadas nas reservas naturais integradas, a qualidade de vida e preservar o conhecimento;
monumentos culturais e mangais; e) Desenvolver e garantir a implementação de um quadro
Proteção de dunas, encostas abruptas, terrenos
legal que assegure o respeito das florestas protegidas,
fortemente afectados pela erosão, bacias
as árvores e outros sítios de uso e de valor histórico,
hidrográficas, álveos de cursos de água de carácter
torrencial, povoamentos vegetais de considerável cultural ou estético;
valor económico, paisagístico e turístico, ou f) Estabelecer mecanismos de fiscalização que assegurem
quaisquer outras formações vegetais que possam a penalização por incumprimento dos instrumentos
interessar a defesa militar, a defesa sanitária e a de ordenamento territorial ou de conservação da
conservação dos recursos hídricos; biodiversidade.
Reservas florestais parciais destinadas a conciliar as 2.3.3 Redução do desmatamento e aumento da
boas práticas de maneio e exploração florestal contribuição das florestas na mitigação dos efeitos das
sustentáveis com outras medidas de conservação mudanças climáticas e de redução de emissões de carbono
e proteção dos ecossistemas e do habitat,
abrangendo as áreas de uso sustentável de âmbito Este objectivo estratégico considera as implicações e os efeitos
provincial, distrital e municipal; das mudanças climáticas na gestão do património florestal e que
Áreas protegidas destinadas a proteção de árvores o aumento da procura de madeira, representa uma oportunidade
singulares protegidas declaradas de interesse e um desafio para o Estado na gestão do património florestal, o
público localizadas em áreas tituladas a que requere o desenvolvimento das seguintes acções:
particulares ou de domínio público do Estado, a) Desenvolver acções de conservação dentro e fora das
por motivos científicos, histórico-culturais, áreas de crescimento natural da biodiversidade com
paisagísticos ou outros; vista a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas;
Reservas florestais de domínio particular destinadas b) Manter a integridade dos serviços ambientais, dos
à proteção de iniciativa dos particulares ou ecossistemas florestais, produtividade e potencial
comunidades locais para a proteção de florestas envolvimento das florestas;
localizadas em áreas tituladas por pessoas c) Realizar um exercício participativo e inclusivo de
singulares, colectivas ou comunitárias, visando
avaliação das oportunidades de restauração de
o desenvolvimento exclusivo de actividades de
paisagens florestais, assegurar a sua priorização e
conservação florestal e de serviços ambientais
e beneficiar de incentivos ou pagamentos implementar a sua restauração;
ambientais nos termos previstos na legislação d) Incentivar o estabelecimento de sistemas agro-florestais e
aplicável. Integram ainda nesta categoria as fomentar a agricultura de conservação e uso de adubos
florestas situadas nas áreas de conservação orgânicos com o objectivo de melhorar a produtividade
comunitária, nos santuários, nas fazendas do e reduzir a área de expansão;
bravio e nos parques ecológicos municipais. e) Fomentar o maneio de fogo, sistemas agro-florestais,
i) Facilitar o estabelecimento de parcerias de gestão público- agricultura de conservação e uso de adubos orgânicos
privada, associativo e comunitário na gestão das zonas com o objectivo de melhorar a produtividade e reduzir
de protecção e conservação florestal; a área de expansão agrícola e emissões;
j) Aprovar pacotes de incentivos para as pessoas f) Criar regulamentos com medidas coercivas
singulares, colectivas ou comunitárias interessadas sobre queimadas descontroladas e sistema de
no desenvolvimento da proteção florestal; responsabilização e incentivos às lideranças pela
k) Assegurar a recolha, cultivo e conservação de espécies ocorrência ou não de queimadas descontroladas;
representativas dos ecossistemas florestais, ameaçadas g) Desenvolver modelos de conservação de água e de
ou em perigo de extinção, fora das suas áreas de proteção das bacias hidrográficas, observando a
crescimento natural. legislação e acordos internacionais;
320 I SÉRIE — NÚMERO 60

h) Promover o estabelecimento de plantações florestais c) Apoiar a formação de jovens e membros da comunidade


destinadas à conservação dos solos e reabilitação de na área de florestas facilitando bolsas de estudo,
florestas naturais. criando bases para uma comunidade local futura
2.3.4 Valorização dos serviços ambientais providos pelas informada e activa na gestão sustentável dos recursos
florestas naturais;
d) Promover o mapeamento, inventariação, demarcação
Este objectivo estratégico será assegurado pela realização das
e registo das unidades de maneio florestal, com o
seguintes acções:
envolvimento das comunidades e, assegurar o acesso
a) Desenvolver planos participativos de controlo e da informação pelos membros da comunidade;
prevenção e combate de queimadas descontroladas, e) Promover a criação de base de dados e registos das
desmatamento e degradação florestal e ambiental; organizações comunitárias e partilha desta informação
b) Inventariar e avaliar a capacidade das florestas de com as comunidades;
fornecimento de serviços ambientais e desenvolver f) Apoiar as parcerias entre as organizações da sociedade
estratégias, instrumentos legais e procedimentos para civil, as organizações de base comunitária incluindo
pagamento pelos esforços e resultados adicionais de acções de treinamento e capacitação;
conservação e protecção das florestas e seus serviços g) Desenvolver mecanismos inclusivos, transparentes,
ambientais; e contratos-tipo entre investidores e comunidades
c) Integrar o sequestro de carbono, água e biodiversidade que reflitam os consensos alcançados na consulta,
para realçar o valor dos serviços ambientais e auscultação ou negociação com as comunidades locais;
viabilidade dos pagamentos por serviços ambientais; h) Assegurar a tradução para a respectiva língua local
d) Assegurar o maneio sustentável das florestas, tendo em dos contratos e acordos celebrados no âmbito de
conta a fauna bravia, protegendo os corredores de estabelecimento de parcerias;
fauna e as zonas de nidificação, combatendo de forma i) Promover o envolvimento e participação activa das
efectiva a caça furtiva e o comércio ilegal de produtos comunidades locais, reforçando a articulação entre
florestais e faunísticos; o Governo e as comunidades na assinatura dos
e) Desenvolver um programa de redução do uso de acordos de maneio florestal com operadores florestais,
agrotóxicos, visando a protecção dos agentes incentivando as concessões comunitárias e criação de
polinizadores e do seu habitat; parcerias, dando especial atenção às questões sobre a
f) Promover a fiscalização das áreas de conservação florestal capacitação em matérias de fiscalização comunitária,
e a cooperação e participação de todos actores nesta empreendedorismo, equidade do género, gestão de
actividade; conflitos, gestão sustentável dos recursos naturais,
g) Promover a sensibilização das comunidades locais protecção de áreas frágeis e florestas sagradas,
sobre temas ambientais e de conservação florestal, mudanças climáticas e outras matérias transversais;
em especial aquelas que residem dentro e ao redor de j) Colocar em prática mecanismos de empoderamento
áreas de conservação e de alto valor de conservação. das comunidades e participação activa na tomada
2.3.5 Promoção de restauração para fins, protecção de de decisão sobre a gestão dos recursos florestais
ecossistemas frágeis e mitigação de mudanças climáticas e responsabilizando as comunidades pelo não
cumprimento dos seus compromissos e acordos;
Este objectivo estratégico é assegurado através da efetivação k) Apoiar actividades de geração de rendimento e de
das acções seguintes: diversificação de produtos florestais e de rendimento
a) Promoção de restauração de ecossistemas e uso de a nível das comunidades;
sistemas agro-florestais através do envolvimento l) Criar mecanismos de registo local e controlo da extracção
comunitário e parcerias público-privadas, visando de produtos florestais.
adaptação local às mudanças climáticas; 2.4.2 Promoção de parcerias e canalização de benefícios
b) Promover as plantações e maneio para fixação e para as comunidades locais envolvidas na gestão florestal
estabilização de dunas, mangais e áreas em perigo sustentável
de erosão;
Este objectivo estratégico é materializado através da
c) Criar incentivos para as comunidades envolverem-se na
implementação das seguintes acções:
restauração de ecosistemas frágeis e reflorestamento
para adaptação e mitigação às mudanças climáticas. a) Rever, simplificar, definir e divulgar mecanismos
legais e administrativos de alocação de taxas de
2.4 Pilar da participação comunitária exploração florestal e demais benefícios e sua
Este pilar está assente nos seguintes objectivos estratégicos: canalização transparente às comunidades locais pelos
2.4.1 Promoção do envolvimento das comunidades locais esforços e resultados na conservação, exploração e
na gestão florestal comercialização de produtos florestais;
b) Identificar e divulgar modelos de parcerias adequados às
Este objectivo estratégico é assegurado através da efetivação cadeias de valor no contexto local;
das seguintes acções: c) Institucionalizar procedimentos que orientem o processo
a) Instituir mecanismos simplificados de representação de negociação e formalização de parcerias entre
da comunidade local, procedimentos de sua comunidades e o sector privado para capitalização das
constituição e legitimação, mandato, sustentabilidade oportunidades de negócio;
e funcionamento dos seus órgãos; d) Diversificar os mecanismos de canalização de benefícios
b) Criar mecanismos e incentivar a operacionalização de e das compensações por serviços ambientais, em zonas
empreendimentos florestais comunitários para geração de captação de água de bacias hidrográficas, áreas com
de rendimentos baseados no uso sustentável do recurso risco de erosão e ecossistemas frágeis, privilegiando
através de parcerias entre comunidades, investidores as comunidades guardiãs destes ecossistemas no
e o Estado; pagamento dos serviços ambientais.
27 DE MARÇO DE 2020 321

2.4.3 Aumentar a contribuição do sector florestal no e impactos em processos lentos e na dinâmica florestal, que
desenvolvimento local e promover negócios baseados em permitirão acumular informação, conhecimento e melhorar a
produtos florestais não madeireiros tomada de decisões informadas pelas actuais e futuras gerações.
Este objectivo estratégico é materializado através das seguintes Este objectivo é concretizado através das seguintes acções:
acções: a) Adequar laboratórios e centros de referência nacionais
a) Facilitar e criar modelos de pequenas empresas familiares para acreditação em temas específicos (solos, biomassa,
e comunitárias em parcerias com o sector privado para sementes, etnobotânica, sistemas de informação
a conservação, plantio, exploração, transformação e geográfica, biotecnologia, análise e propriedades da
comercialização de produtos florestais não madeireiros; madeira, entre outros) de modo a melhorar a qualidade
b) Definir mecanismos legais para o acesso e utilização e credibilidade da investigação;
sustentável dos recursos florestais pelas comunidades
b) Estabelecer parcelas permanentes representativas para
locais, incluindo incentivos para o desenvolvimento
de pequenas indústrias e cadeias de valor de produtos observação e monitoria das formações florestais para
florestais não madeireiros; estudo da estrutura, composição e dinâmica a longo
c) Promover o acesso a microcréditos e sistemas financeiros prazo;
adequados à realidade local e em especial, favorecendo c) Estabelecer sistemas de monitoramento do desmatamento
o acesso às mulheres e grupos vulneráveis para e degradação ambiental por satélite e outras tecnologias
potenciar as cadeias de valor de produtos florestais recomendadas;
não madeireiros; d) Assegurar a acesso e divulgação dos resultados da
d) Criar uma base de dados dos principais produtos florestais investigação florestal.
não madeireiros, sistema de inventariação, mapeamento
e monitoria para melhoria do conhecimento e 2.5.3 Desenvolvimento e melhoria de um plano de
valorização destes produtos; formação e capacitação na área florestal
e) Apoiar a domesticação e replantio de espécies com valor Este objectivo visa promover a formação florestal de nível
local e comercial (medicinal, alimentar, entre outros). técnico profissional e superior nos diferentes domínios da ciência
2.5 Pilar da formação e investigação florestal florestal e meio ambiente para melhorar a assistência técnica aos
Este pilar está assente nos seguintes objectivos estratégicos: utentes do património florestal através das seguintes acções:
2.5.1 Desenvolvimento de programa nacional de a) Elaborar o plano de formação, priorizando a indústria
investigação florestal multi-abrangente e mecanismos de de produtos florestais madeireiros e não madeireiros
financiamento e a adequada implementação das componentes do
Em colaboração com as instituições de investigação, de ensino programa nacional de florestas;
superior e técnico profissional, e instituições nas áreas de floresta b) Adequar o ensino geral e técnico-profissional aos desafios
e meio ambiente, são desenvolvidas as seguintes acções: do sector;
a) Elaborar um programa nacional e prioridades de c) Promover a expansão do ensino técnico florestal a todos
investigação florestal; níveis, em especial o ensino vocacional e profissional
b) Estabelecer mecanismos e prioridades de financiamento dos níveis elementar, básico e médio;
do programa nacional de investigação; d) Elaborar e implementar o programa de extensão florestal,
c) Adequar o quadro institucional da investigação florestal incluindo mecanismos do seu financiamento;
com capacidade técnica, humana e administrativa
e) Desenvolver um programa de treinamento, actualização
necessária para assegurar a implementação do
Programa Nacional de Florestas; tecnológica e capacitação dos intervenientes no
d) Facilitar e fomentar parcerias entre instituições de pesquisa processo de fiscalização florestal e ambiental na
nacionais e estrangeiras sobre o desenvolvimento de prevenção, detecção e repressão de actividades
projetos de investigação através de intercâmbio nos florestais ilegais;
diferentes domínios; f) Desenvolver programas para a prevenção e combate
e) Promover a investigação florestal aplicada, orientada à às queimadas descontroladas através da educação
geração de informações relevantes para a conservação ambiental e promoção de técnicas agrícolas adequadas;
da biodiversidade, valorização económica de cada g) Capacitar autoridades locais e as comunidades em boas
espécie, gestão e o maneio florestal sustentável, práticas de conservação, regeneração, maneio florestal,
melhoria da qualidade dos produtos transformados e
gestão de benefícios comunitários e mecanismos de
da eficiência da produção, mitigação e adaptação às
mudanças climáticas; crédito local, visando garantir a sustentabilidade;
f) Promover o desenvolvimento de investigação participativa, h) Empoderar e capacitar os órgãos representativos das
visando a valorização do conhecimento tradicional da comunidades locais em matérias de gestão dos recursos
flora e fauna, dos produtos florestais não madeireiros, naturais;
ciclos de reprodução e domesticação com vista à i) Criar programas de capacitação técnica e profissional
protecção do património e criação de oportunidades sobre o estabelecimento, maneio, protecção e
de geração de rendimento local. exploração sustentável de plantações florestais nos
2.5.2 Reforço e melhoria de capacidades de investigação domínios vocacional, básico, médio e superior;
e legado geracional j) Promover a capacidade de análise de mercados de
Este objectivo considera a necessidade de investigação de longo produtos florestais para a criação de oportunidades de
prazo para o estudo, documentação e monitoria de actividades negócios a nível nacional e internacional.
322 I SÉRIE — NÚMERO 60

2.5.4 Sensibilização e capacitação dos intervenientes nas b) Assegurar a realização dos inventários florestais a
diferentes etapas das cadeias de valor e temas transversais nível nacional;
relacionados c) Reconhecer a importância da biodiversidade e
Este objectivo considera a importância da educação ambiental dos recursos florestais para o País e promover
e da geração de conhecimento e capacidades, participação e zoneamento e integração deste património em
empoderamento das mulheres e grupos vulneráveis através das outros instrumentos de planificação;
seguintes acções: d) Criar um quadro institucional adequado para
a implementação e fiscalização da política e
a) Promover a divulgação do sector e programas educativos legislação florestal;
de forma regular sobre as florestas e seu valor; e) Definir mecanismos de coordenação e harmonização
b) Promover a sensibilização ambiental, preservação do multissectorial vertical e horizontal entre os
meio ambiente, gestão florestal, divulgação do quadro diferentes níveis e sectores, incluindo a articulação
legal nas comunidades, escolas, centros religiosos e entre os diferentes intervenientes, público, privados
inclusão destes temas no sistema de ensino; e associativos, necessários para o alcance dos
c) Desenvolver campanhas de sensibilização e educação objectivos definidos;
ambiental nas comunidades e instituições de ensino f) Definir o papel e nível de intervenção dos órgãos
primário e secundário para a redução de actividades locais do Estado, incluindo os conselhos e
humanas que contribuem para o desmatamento, a comités comunitários nos domínios de proteção,
agricultura itinerante e queimadas descontroladas; conservação, gestão, licenciamento e fiscalização
d) Promover a troca de experiências, viagens de estudo e do património florestal;
redes de apoio aos produtores florestais e comunidades g) Desenvolver os mecanismos e procedimentos de
locais; estabelecimento, criação, registo e funcionamento
e) Promover assistência técnica, extensão florestal, dos órgãos representativos das comunidades locais,
formação de extensionistas em matérias florestais e por forma a reduzir ambiguidades e conferir maior
acompanhamento das comunidades locais na gestão segurança jurídica aos demais intervenientes;
sustentável dos recursos florestais e no uso e aplicação h) Fixar critérios e taxas de acesso e exploração dos
de benefícios; recursos florestais sustentáveis e competitivos no
f) Desenvolver, em línguas locais, manuais para a preparação mercado nacional e internacional, tendo em conta
social das comunidades; os valores dos produtos substitutos e a necessidade
g) Desenvolver um manual de interpretação e aplicação da de promoção ou restrição do seu uso;
legislação florestal prático e passível de implementação i) Promover o desenvolvimento de recursos humanos,
aos níveis comunitários e demais órgãos locais do mobilização de recursos financeiros suplementares,
Estado; e dos mecanismos de colaboração e cooperação com
h) Capacitar e sensibilizar as comunidades e Governo local os governos e entidades nacionais e estrangeiras
sobre a legislação florestal; especializadas;
i) Produzir material de Informação, Educação e Comunicação j) Promover o desenvolvimento de programas e
adequados sobre as melhores práticas de conservação, projectos comunitários sustentáveis de negócios
maneio e exploração florestal pelas comunidades; florestais ou a ele relacionados;
j) Desenvolver e disseminar conhecimentos e tecnologias k) Promover e desenvolver parcerias público-privada e
para aumentar a eficiência na produção de combustíveis comunitária para a gestão das reservas florestais
lenhosos (fornos melhorados) e consumo de lenha e com benefícios repartidos entre estes e o Estado;
carvão vegetal (fogões melhorados) e desenvolver l) Aprovar e implementar, em colaboração com os
manuais de capacitação com linguagem apropriada e demais actores, o Programa Nacional de Florestas;
acessível aos produtores e usuários; m) Celebrar acordos e ou tratados internacionais
k) Promover treinamento de pessoal especializado nas várias e regionais, visando reforçar mecanismos de
áreas das indústrias florestais com vista a melhorar a cooperação nos domínios de controlo e fiscalização
qualidade dos produtos e eficiência da produção; sobre a exploração e trafego ilegal de produtos
l) Capacitar os actores na colheita e tratamento de sementes, florestais;
produção de mudas e estabelecimento de plantações, n) Criar um pacote de incentivos para estimular práticas
maneio de plantações e tratamentos silviculturais, e de maneio florestal sustentável e industrialização
exploração florestal. do sector florestal;
o) Promover a sensibilização e educação ambiental,
3. Papel dos Diferentes Actores em parceria com as escolas, a sociedade civil e o
Na implementação da presente política são considerados sector privado.
principais actores, o Governo, as comunidades locais, o 3.2 Às comunidades locais compete:
sector privado, associações, cooperativas, organizações não- a) Participar nos processos de gestão e administração
governamentais, os parceiros de cooperação e as instituições do património florestal;
de ensino e investigação a serem mapeados em função dos seus b) Intervir na criação, atribuição, licenciamento, gestão
direitos e responsabilidades. e fiscalização das áreas de conservação e de
3.1 Ao Governo compete: exploração florestal;
a) Assegurar a elaboração, aprovação e implementação c) Realizar a protecção, conservação, gestão do
dos instrumentos político-legais e administrativos património florestal nas áreas da sua jurisdição;
necessários para a materialização dos princípios e d) Assegurar a constituição e registo dos seus legítimos
objectivos definidos na presente política; representantes e conferir mandatos claros e
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vinculativos, visando garantir segurança jurídica planificação, protecção, conservação e maneio


entre estes e outras entidades públicas e privadas; sustentável da floresta e no usufruto dos benefícios
e) Contribuir para a educação ambiental dos membros provenientes da exploração florestal;
das comunidades locais. h) Mobilizar, sensibilizar e educar os cidadãos, com vista
3.3 Ao sector privado compete: a sua adesão aos programas e acções de protecção,
conservação e gestão sustentável das florestas;
a) Desenvolver acções de protecção e conservação do i) Defender os direitos dos cidadãos e das comunidades
património florestal;
locais no que respeita ao acesso, uso, protecção,
b) Participar, colaborar e realizar estudos e planos
conservação e maneio dos recursos florestais e dos
legalmente exigidos para a conservação acesso e
resultados económicos provenientes da exploração
exploração dos recursos florestais;
c) Criar, produzir e promover produtos florestais acabados de recursos;
tendo em conta a necessidade de agregação de valor j) Apoiar as comunidades locais na mediação de
e exportação de produtos a preços competitivos no conflitos no âmbito da gestão e utilização de
mercado local e internacional; recursos naturais;
d) Desenvolver plantações florestais para diversos fins k) Articular parcerias e redes para a geração de
nos termos definidos no quadro político legal sobre conhecimento, integrando os saberes tradicionais
a matéria; com os científicos-académicos;
e) Beneficiar de incentivos no estabelecimento de plantações l) Colaborar na monitoria sobre a implementação de
e de indústrias de transformação local; políticas, estratégias e legislação florestal.
f) Contribuir para o alívio a pobreza rural, através da
3.5 Aos parceiros de cooperação compete:
criação de postos de emprego, especialmente para as
comunidades locais; Realizar acções estreitamente alinhadas com os objectivos
g) Contribuir para materialização das políticas do Governo do País, do Governo e que reflictam as necessidades das
sobre a equidade do género e dos jovens, através da comunidades, nomeadamente:
valorização da mulher e capacitação dos jovens em a) Apoiar o Governo na gestão e administração do
actividades florestais ou afins; património florestal, tendo em conta os objectivos
h) Desenvolver, aplicar e adequar tecnologias modernas e constantes da presente política florestal;
metodologias de maneio, exploração e transformação b) Mobilizar recursos financeiros, materiais e tecnológicos
de produtos florestais que assegurem competitividade para a implementação do Programa Nacional de
dos produtos resultantes; Florestas aprovado e outras iniciativas públicas e
i) Desenvolver competências técnicas para o fornecimento de privadas;
serviços ligados ao maneio, conservação, exploração, c) Promover e facilitar a cooperação técnico-administrativa
e transformação dos produtos florestais; nos diversos domínios do sector florestal, entre as
j) Promover a educação ambiental das comunidades locais; entidades públicas nacionais e internacionais;
k) Obter, sempre que necessário, a certificação florestal. 3.6 As instituições de ensino e investigação devem:
3.4 Às organizações da sociedade civil compete: a) Promover e realizar actividades de investigação
a) Participar, na elaboração e implementação do quadro sobre a conservação, plantio, exploração, maneio
político e legal sobre gestão e administração do sustentável e utilização do património florestal,
património florestal; visando assegurar a contribuição dos recursos florestais
b) Colaborar e participar no desenvolvimento de no desenvolvimento do País;
medidas que assegurem a sustentabilidade da b) Promover a produção investigativa sobre sistemas de
gestão, exploração e uso do património florestal; produção que aliem a produção florestal à segurança
c) Apoiar na disseminação e promoção de tecnologias alimentar e nutricional, especialmente os sistemas
que contribuam para a sustentabilidade dos agro-florestais sintrópicos;
recursos florestais e alcance dos objectivos da c) Desenvolver sistemas de monitoramento e análise
presente política, especialmente o maneio florestal de cobertura florestal por meio de tecnologicas de
sustentável e os sistemas agro-florestais; sensoriamento remoto;
d) Realizar a sensibilização e divulgação do quadro d) Colaborar com as entidades públicas que superintendem
político e legal sobre o património florestal, a gestão e administração do património florestal na
em colaboração com as entidades públicas, as realização de estudos e pesquisas aplicadas;
autoridades administrativas e as comunidades e) Propor a celebração de acordos de colaboração e
locais; coordenação com as entidades públicas de tutela,
e) Participar e apoiar na formalização, criação e registo visando a implementação da política e do quadro
legal-florestal;
dos comités e outras formas de organização
f) Promover a elaboração e disseminação de publicações e
comunitária;
estudos relativos ao património florestal;
f) Colaborar e articular com as entidades que
g) Participar no processo da criação duma instituição
superintendem a gestão e administração dos vocacionada a formação técnico profissional de acordo
recursos florestais, as autoridades locais do Estado, com as necessidades do sector e mercado florestal;
visando harmonizar as metodologias e definição h) Desenvolver programas curriculares que integrem
das prioridades de intervenção; matérias relativas à proteção, conservação, plantio,
g) Fazer advocacia sobre a protecção dos direitos das maneio e exploração sustentável do património
mulheres, idosos e demais grupos vulneráveis, florestal e sobre os direitos e deveres dos diferentes
assegurando a sua participação efectiva na intervenientes;
324 I SÉRIE — NÚMERO 60

i) Desenvolver capacidades institucionais e técnico conservação, utilização, exploração, transformação,


profissional para a prestação de serviços nos domínios comercialização, importação e exportação dos
de elaboração de estudos, inventários, zoneamentos, produtos florestais;
planos de maneio e de outros instrumentos de gestão d) Identificação, classificação e criação legal das concessões
do património florestal; florestais como áreas de domínio público florestal a
j) Desenvolver, aprovar e divulgar as prioridades nas áreas serem concessionadas por via de concurso público,
de investigação e pesquisa; nos termos e condições, considerando as limitações
k) Desenvolver programas de extensão florestal.
do sector privado nacional a serem definidos pelo
4. Acções de Seguimento quadro legal;
O Governo deverá assegurar a implementação das seguintes e) Criação de uma entidade adequada, capacitada e equipada
acções prioritárias: para assegurar a coordenação e implementação do
a) Revisão da Lei n.º 10/99, de 7 de Julho, e respectivo quadro político e legal de florestas;
Regulamento através da elaboração participativa da f) Revisão do sistema de atribuição de benefícios às
proposta de Lei de Florestas e sua regulamentação; comunidades locais e de responsabilidade social
b) Angariação de financiamento para implementação do corporativa.
Programa Nacional de Florestas;
c) Regulamentação da Lei Florestal, através de um código 5. Mecanismos de Implementação, Monitoria e Avaliação
Florestal compreensivo e integrante único, contendo A operacionalização da política florestal é materializada através
todas as matérias e procedimentos sobre a protecção, do Programa Nacional de Florestas.

Preço — 80,00 MT

IMPRENSA NACIONAL DE MOÇAMBIQUE, E.P.

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