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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/04/2021

Número: 1048398-77.2020.4.01.3400
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador: 1ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 27/08/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Expedição de CND, Agências/órgãos de regulação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
COMPANHIA USINA SAO JOAO (IMPETRANTE) MARCO ANTONIO VALENCA MEIRA (ADVOGADO)
SUPERINTENDENTE DE PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS
DA AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E
BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP (IMPETRADO)
AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO, GAS NATURAL E
BIOCOMBUSTIVEIS (IMPETRADO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO, GAS NATURAL E
BIOCOMBUSTIVEIS/ANP (TERCEIRO INTERESSADO)
UNIAO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) (TERCEIRO
INTERESSADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
31643 11/09/2020 11:49 Decisão Decisão
8908
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
1ª Vara Federal Cível da SJDF

PROCESSO: 1048398-77.2020.4.01.3400
CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)

IMPETRANTE: COMPANHIA USINA SAO JOAO


Advogado do(a) IMPETRANTE: MARCO ANTONIO VALENCA MEIRA - PE21772

IMPETRADO: SUPERINTENDENTE DE PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS DA AGÊNCIA


NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP, AGENCIA
NACIONAL DO PETROLEO, GAS NATURAL E BIOCOMBUSTIVEIS

DECISÃO

Trata-se de mandado de segurança impetrado contra ato


administrativo comissivo atribuído ao Superintendente de Produção de
Combustíveis da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis – ANP, com pedido liminar para que a autoridade
impetrada se abstenha de “exigir da impetrante a comprovação de sua
regularidade perante as fazendas federal, estadual e municipal e ao CADIN,
como condição para manutenção da sua autorização para exercício da
atividade de produção e comercialização de biocombustível, até o julgamento
definitivo do presente mandamus”.

E, em tutela definitiva, postula seja “concedida a segurança


pleiteada, determinando-se à autoridade impetrada que se abstenha de exigir
da impetrante a comprovação de sua regularidade perante as fazendas
federal, estadual e municipal, como condição para a manutenção da sua
autorização para o exercício da atividade de produção e comercialização de
biocombustível”.

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Consta da exordial que a impetrante pretende manter a autorização
já vigente, independentemente da apresentação dos documentos requeridos
pelo Ofício nº 374/2020/SPCCAT/SPC/ANP-RJ-e, de 22.06.2020, ou ainda
pelo art. 27, I, da Resolução ANP nº 734/2018, e da regularidade ou não da
impetrante junto às fazendas públicas nacional, estadual e municipal, bem
como junto ao Cadin.

Diz presentes os requisitos que autorizam o deferimento do pedido


liminar.

Procuração sob o id. 315830482.

Custas recolhidas (id. 315902864).

Após a conclusão do feito para recebimento ou não da exordial e,


em caso positivo, análise do pedido liminar, a União (Fazenda Nacional)
veio voluntariamente ao processo para requerer o seu ingresso no feito
com fulcro art. 5º, da Lei n. 9.469/1997 e com fundamentos nas razões de
fato e de direito expostas na petição de id. 319315359. Ainda, juntou
precedentes que diz afastar o direito líquido e certo alegado pela impetrante.

É o relatório suficiente.

FUNDAMENTO E DECIDO.

A concessão da liminar, em mandado de segurança, pressupõe a


presença dos dois requisitos previstos no artigo 7º da Lei n.º 12.016/2009,
quais sejam, a relevância dos fundamentos invocados (fumus boni juris) e o
perigo da demora revelado pela ineficácia da medida, caso esta seja deferida
somente por ocasião da sentença (periculum in mora).

Numa análise perfunctória, própria desta fase de cognição sumária,


não vislumbro a presença do primeiro requisito sobredito e autorizador da
medida pleiteada.

De partida, peço licença para transcrever decisão prolatada pelo i.


Relator do AI 5023428-03.2020.4.03.0000, o qual analisou a questão de
fundo com propriedade, conformando adequada análise do contexto fático e
jurídico em caso análogo, e que, por estar em consonância com o
entendimento deste juízo, os elejo como razões de decidir, e cujo teor é a

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seguir transcrito (id. 319315364):

(...)

A Lei nº 9.478/1997 prevê expressamente a regularidade fiscal como requisito da autorização


(artigo 68-A, §2º, II). A expressão “estar regular” não significa apenas a manutenção de cadastro
fiscal, mas também a inexistência de débitos vencidos com a Fazenda em geral, que habilita a
empresa a um ato de liberação pública de atividade econômica.

Embora o artigo 68-A, §3º, da Lei nº 9.478/1997 contemple somente duas hipóteses de
revogação de autorização – solicitação do interessado e prática de infração -, naturalmente a
irregularidade fiscal da unidade produtora de biocombustíveis deve ser incluída na relação,
representando próprio impedimento à outorga do ato administrativo (artigo 20, §2º, da Resolução
ANP nº 26/2012). Independentemente da nomenclatura que se adote, a autorização não pode
subsistir diante de débitos vencidos do produtor.

Na verdade, a própria outorga deveria ser cancelada, uma vez que a regularidade fiscal constitui
um novo requisito da indústria de biocombustíveis cujos efeitos estão protelados no tempo até
hoje. A ANP, através da Resolução nº 26/2012 (artigo 20, caput), prorrogou até o dia 31/08/2020
a apresentação de certidões que condiciona a primeira concessão de autorização após o novo
regime jurídico do combustível proveniente de biomassa renovável.

O que ocorreu até aquela data foi o reconhecimento da titularidade e dos direitos das unidades
produtoras existentes (artigo 19 da Resolução ANP nº 26/2012). A autorização efetiva da
produção virá à tona com a prova de regularidade fiscal, cuja ausência tecnicamente não
significará revogação do ato administrativo, mas o próprio cancelamento, pela inobservância de
requisitos iniciais protelados no tempo (artigo 20, §2º).

Assim, não se trata de renovação de autorização, mas de outorga original, em que as


condicionantes do ato de liberação pública de atividade econômica ainda estão em aberto,
conforme regulamentação da própria agência reguladora.

Não se pode dizer que já haveria uma autorização por ocasião do novo regime normativo da
indústria de biocombustíveis, a ponto de configurar direito adquirido e impedir a aplicação
retroativa de lei. Em primeiro lugar, inexiste direito adquirido a regime jurídico (STF, RE 615.340,
DJ 01/08/2018), que mudou, no caso dos combustíveis provenientes de biomassa renovável, da
livre produção à necessidade de autorização do Estado, com a superveniência da Lei nº
12.490/2011 e com o status de utilidade pública conferido à indústria dos biocombustíveis (artigo
1º, §1º, II, da Lei nº 9.847/1999).

E, em segundo lugar, o requisito da regularidade fiscal passou a alcançar as autorizações


outorgáveis depois da edição da Lei nº 12.490/2011, como ato jurídico superveniente. A única
ressalva diz respeito ao tempo dos débitos, que também deve ser posterior, sob pena de certa
retroatividade – o que, porém, não restou comprovado nos autos.

Da exposição se verifica que a Resolução nº 734/2018, ao manter a prova de regularidade fiscal


até a data de 31/08/2020, sob risco de revogação de autorização de produção de combustíveis
(artigo 27, I), seguiu literalmente o artigo 68-A da Lei nº 9.478/1997, acrescentado pela Lei nº
12.490/2011. A ANP se restringiu, no exercício de regulamentação técnica, a protelar a
comprovação do requisito, considerando as necessidades da indústria de biocombustíveis e
fixando o prazo razoável de 8 anos (artigo 20, caput, da Resolução nº 26/2012).

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E, se o período se tornou insuficiente, a ponto de colocar o risco o fornecimento de
biocombustível em determinadas regiões, como preveem os estudos técnicos juntados no
agravo, não cabe ao Poder Judiciário assumir as atribuições da agência reguladora e postergar
ainda mais a comprovação da exigência.

As agências reguladoras possuem autonomia decisória, de modo que não compete ao Poder
Judiciário analisar os atos administrativos sob o ponto de vista de política pública, conveniência
e oportunidade (artigo 3º, caput, da Lei nº 13.848/2019). A censura apenas poderia ocorrer com
base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade (artigo 4º), que restaram, entretanto, a
princípio, observados no caso, em função da protelação do requisito da comprovação de
regularidade fiscal por oito anos.

O tempo é suficiente para o saneamento dos débitos, principalmente diante da sucessão de


parcelamentos no intervalo, que possibilitam a administração do passivo fiscal sem risco de
descapitalização.

O período, inclusive, traz informações mais do que suficientes para a agência reguladora
ponderar todas variáveis da revogação das autorizações, especificamente o risco de
desabastecimento de biocombustível em determinadas regiões. Se a ANP manteve a data final
da comprovação da exigência, certamente considerou mínimo o risco, sem que possa o Poder
Judiciário suprir a posição técnica e conduzir a política pública, principalmente em sede de tutela
de urgência no início da lide.

Também não procede a alegação de que a imposição de regularidade fiscal fere a liberdade de
iniciativa e constitui instrumento de coação ao pagamento de tributo, na forma de sanção
política.

Com a importância da biomassa renovável para o suprimento de energia em geral e para o


equilíbrio do meio ambiente, mediante redução do consumo de combustíveis de origem fóssil, a
indústria dos biocombustíveis assumiu o status de utilidade pública, representando atividade a
ser autorizada pelo Estado (artigo 1º, §1º, II, da Lei nº 9.847/1999 e artigo 68-A da Lei nº
9.478/1997, acrescentados pela Lei nº 12.490/2011).

Conquanto ela continue a integrar o regime de liberdade de iniciativa e de concorrência, um ato


de liberação pública é interposto como garantia de atendimento de interesse coletivo,
materializado no abastecimento nacional de energia e no controle da matriz energética do país.

A exigência de regularidade fiscal deve ser lida nesse contexto de ato de liberação pública de
atividade econômica. Não se mostra compatível com o fundamento da soberania e a moralidade
administrativa que o devedor de tributos federais possa obter sem maiores restrições
autorização de operação, outorga para o desempenho de atividade de utilidade pública.

Não se trata de impedir o exercício de empresa ou de profissão, mas de limitar a outorga de um


ato administrativo a quem cumpre os deveres legais. Semelhantemente à licitação e contratos
administrativos, prevê-se a regularidade fiscal para o início de atos negociais entre o Estado e o
particular (artigo 68-A, §2º, II, da Lei nº 9.478/1997).

A medida não contraria as Súmulas nº 70, 323 e 547 do STF e os acórdãos proferidos em
regime de repercussão geral sobre o emprego de sanções políticas (ARE 914.045, Tema 856, e
RE 565.048, Tema 31).

Como já se explicou, a prova de quitação de tributos não é estabelecida para condicionar o


exercício de atividade econômica, como impressão de notas fiscais, desembaraço aduaneiro de
mercadoria e funcionamento de estabelecimento comercial; objetiva apenas justificar um ato de
liberação pública (autorização), compatibilizando-o com o dever de recolhimento de tributos

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ligado à soberania e a moralidade administrativa.

O fato de as empresas em recuperação judicial estarem dispensadas de certidão negativa de


débito não exerce influência. Além de a dispensa decorrer de jurisprudência de Tribunal
Superior, sem positivação em lei expressa, a ponto de justificar eventual controle de isonomia,
não se pode concluir que as unidades produtoras de biocombustíveis dependentes de
autorização de operação estejam em situação similar.

Em primeiro lugar, se estão efetivamente sob risco de insolvência, devem usar o mecanismo de
direito comercial, para eventualmente fazerem jus à dispensa de certidão. Não se pode outorgar
o benefício em contexto de plena atividade econômica, de tributação normal, sob pena de
vantagem competitiva dos devedores e de prejuízos aos contribuintes pontuais.

E, em segundo lugar, as empresas tiveram oito anos para regularizar os débitos (artigo 20, caput
, da Resolução ANP nº 26/2012), num tempo mais do que suficiente para qualquer retomada
econômica de empresário.

Na realidade, como fundamentou o Juízo de Origem, a violação do princípio da isonomia


ocorreria pela ótica dos produtores que regularizaram os débitos no período e obtiveram a
autorização de operação.

Os efeitos da pandemia da COVID-19, da mesma forma, não modificam a conclusão. Apesar da


retração da economia em geral, inclusive da indústria de biocombustíveis, o passivo em aberto
não é recente, mas se refere a um período de 8 anos. Se a irregularidade fiscal compreendesse
débitos contemporâneos à emergência sanitária, a dispensa teria cabimento e a própria ANP,
similarmente às demais agências reguladoras, cogitaria de flexibilização.

Não é o caso, porém, dos produtores de biocombustíveis que não regularizaram os débitos nos
oito anos anteriores. O passivo comportava solução por um período razoável e não pode ser
atenuado por circunstâncias tão recentes.

Ante o exposto, nos termos dos artigos 300, caput, 932, II, e 1.019, I, do CPC, indefiro o pedido
de antecipação de tutela recursal.

Não há, pois, fundamentos fáticos e jurídicos capazes de afastar a


aplicação do art. 27, I, da Resolução n.º 734/2018, da ANP.

Como visto acima, não se trata de impedir o exercício de empresa


ou de profissão, mas de limitar a outorga de um ato administrativo a quem
cumpre os deveres legais. Semelhantemente à licitação e contratos
administrativos, prevê-se a regularidade fiscal para o início de atos negociais
entre o Estado e o particular (artigo 68-A, §2º, II, da Lei nº 9.478/1997).

A medida não contraria as Súmulas nº 70, 323 e 547 do STF e


os acórdãos proferidos em regime de repercussão geral sobre o
emprego de sanções políticas (ARE 914.045, Tema 856, e RE 565.048,
Tema 31).

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Como já explicado na decisão acima transcrita, a prova de quitação
de tributos não é estabelecida para condicionar o exercício de atividade
econômica, como impressão de notas fiscais, desembaraço aduaneiro de
mercadoria e funcionamento de estabelecimento comercial; objetiva apenas
justificar um ato de liberação pública (autorização), compatibilizando-o com o
dever de recolhimento de tributos ligado à soberania e a moralidade
administrativa.

Ademais, a tese firmada pelo STF no julgamento das ADI’s nºs


173-6 e 394-1 não se aplica ao presente caso porque trataram do artigo 1º,
incisos I, III e IV, e §§ 1º, 2º e 3º da Lei nº 7.711/88.

Indo além, no julgamento das ADI’s nº. 173/DF e 394/DF o STF


declarou inconstitucionais o artigo 1º, seus incisos I, III e IV, e §§ 1º, 2º e 3º,
da Lei 7.711, de 22 de dezembro 1988, que exigiam a comprovação da
quitação de créditos tributários para a prática de diversos atos de registro
cartorário.

Por pertinente, transcrevo abaixo a ementa da referida decisão:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO AO JUDICIÁRIO.


DIREITO DE PETIÇÃO. TRIBUTÁRIO E POLÍTICA FISCAL. REGULARIDADE FISCAL.
NORMAS QUE CONDICIONAM A PRÁTICA DE ATOS DA VIDA CIVIL E EMPRESARIAL À
QUITAÇÃO DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS. CARACTERIZAÇÃO ESPECÍFICA COMO
SANÇÃO POLÍTICA.

AÇÃO CONHECIDA QUANTO À LEI FEDERAL 7.711/1988, ART. 1º, I, III E IV, PAR. 1º A 3º, E
ART. 2º.

1. Ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas contra os arts. 1º, I, II, III e IV, par. 1º a 3º e
2º da Lei 7.711/1988, que vinculam a transferência de domicílio para o exterior (art. 1º, I),
registro ou arquivamento de contrato social, alteração contratual e distrato social perante o
registro público competente, exceto quando praticado por microempresa (art. 1º, III), registro de
contrato ou outros documentos em Cartórios de Registro de Títulos e Documentos (art. 1º, IV, a
), registro em Cartório de Registro de Imóveis (art. 1º, IV, b) e operação de empréstimo e de
financiamento junto a instituição financeira, exceto quando destinada a saldar dívidas para com
as Fazendas Nacional, Estaduais ou Municipais (art. 1º, IV, c) – estas três últimas nas hipóteses
de o valor da operação ser igual ou superior a cinco mil Obrigações do Tesouro Nacional – à
quitação de créditos tributários exigíveis, que tenham por objeto tributos e penalidades
pecuniárias, bem como contribuições federais e outras imposições pecuniárias compulsórias.

2. Alegada violação do direito fundamental ao livre acesso ao Poder Judiciário (art. 5º, XXXV da
Constituição), na medida em que as normas impedem o contribuinte de ir a juízo discutir a
validade do crédito tributário. Caracterização de sanções políticas, isto é, de normas enviesadas
a constranger o contribuinte, por vias oblíquas, ao recolhimento do crédito tributário.

3. Esta Corte tem historicamente confirmado e garantido a proibição constitucional às sanções


políticas, invocando, para tanto, o direito ao exercício de atividades econômicas e profissionais

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lícitas (art. 170, par. ún., da Constituição), a violação do devido processo legal substantivo (falta
de proporcionalidade e razoabilidade de medidas gravosas que se predispõem a substituir os
mecanismos de cobrança de créditos tributários) e a violação do devido processo legal
manifestado no direito de acesso aos órgãos do Executivo ou do Judiciário tanto para controle
da validade dos créditos tributários, cuja inadimplência pretensamente justifica a nefasta
penalidade, quanto para controle do próprio ato que culmina na restrição.

É inequívoco, contudo, que a orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal não
serve de escusa ao deliberado e temerário desrespeito à legislação tributária. Não há que
se falar em sanção política se as restrições à prática de atividade econômica objetivam
combater estruturas empresariais que têm na inadimplência tributária sistemática e
consciente sua maior vantagem concorrencial. Para ser tida como inconstitucional, a
restrição ao exercício de atividade econômica deve ser desproporcional e não-razoável.

4. Os incisos I, III e IV do art. 1º violam o art. 5º, XXXV da Constituição, na medida em que
ignoram sumariamente o direito do contribuinte de rever em âmbito judicial ou administrativo a
validade de créditos tributários. Violam, também o art. 170, par. ún. da Constituição, que garante
o exercício de atividades profissionais ou econômicas lícitas.

Declaração de inconstitucionalidade do art. 1º, I, III e IV da Lei 7.711/’988. Declaração de


inconstitucionalidade, por arrastamento dos parágrafos 1º a 3º e do art. 2º do mesmo texto legal.

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. SANÇÃO POLÍTICA. PROVA DA QUITAÇÃO DE


CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS NO ÂMBITO DE PROCESSO LICITATÓRIO. REVOGAÇÃO DO
ART. 1º, II DA LEI 7.711/1988 PELA LEI 8.666/1993. EXPLICITAÇÃO DO ALCANCE DO
DISPOSITIVO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NÃO CONHECIDA QUANTO
AO PONTO.

5. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida, em relação ao art. 1º, II da Lei


7.711/1988, na medida em que revogado, por estar abrangido pelo dispositivo da Lei 8.666/1993
que trata da regularidade fiscal no âmbito de processo licitatório.

6. Explicitação da Corte, no sentido de que a regularidade fiscal aludida implica “


exigibilidade da quitação quando o tributo não seja objeto de discussão judicial” ou “
administrativa”.

Ações Diretas de Inconstitucionalidade parcialmente conhecidas e, na parte conhecida, julgadas


procedentes. (grifos nossos)

Como se vê o Supremo Tribunal Federal declarou a


inconstitucionalidade do artigo 1º e seus incisos I, III e IV, da Lei 7.711/1988,
e a inconstitucionalidade por arrastamento dos parágrafos 1º, 2º e 3º do
mesmo texto legal, por entender que tais dispositivos veiculavam sanções
políticas destinadas a constranger o contribuinte, por vias oblíquas, ao
recolhimento do crédito tributário, mostrando-se ser medida desproporcional e
não-razoável a restringir o exercício de atividade econômica e,
consequentemente, considerando-a inconstitucional.

Tendo o teor do referido julgado do STF como premissa, é de se

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indagar se as determinações legais constantes do artigo 68-A, §2º, II, da Lei
nº 9.478/1997, têm conteúdo idêntico àquelas normas julgadas
inconstitucionais pela Suprema Corte e, por essa razão também padeceriam
de vício de inconstitucionalidade, ou se delas se distinguem, de maneira a
concluirmos positivamente pela sua constitucionalidade. Em outras palavras,
vê-se que o artigo 68-A, §2º, II, da Lei nº 9.478/1997, exige a apresentação
de Certidão Negativa de Débitos – CND. Já o artigo 1º da Lei nº. 7.711, de
1988[1], julgado inconstitucional pelo STF, exigia a prova da quitação de
créditos tributários exigíveis. Teriam essas duas exigências legais o mesmo
conteúdo normativo? A resposta é negativa.

Conforme bem exposto pela Coordenação-Geral de Assuntos


Tributários da PGFN no bojo do Parecer/PGFN/CAT Nº 50/2014, o ponto de
partida do cotejo em questão são os artigos 205 e 206 da Lei nº. 5.172/1966
(Código Tributário Nacional – CTN), os quais permitem extrair o significado
das certidões que atestam a regularidade fiscal do contribuinte:

Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando
exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado,
que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e
ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido.

Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido
requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na
repartição.

Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a
existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido
efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa. (Destaques nossos)

Como visto, de acordo com o CTN, que veicula normas gerais em


matéria tributária, a Certidão Negativa de Débitos é o documento emitido pela
Administração Tributária hábil para comprovar a inexistência de débitos
pendentes de quitação perante o Fisco. E documento semelhante e portador
dos mesmos efeitos da CND, é a Certidão Positiva com Efeitos de Negativa
(CPD-EN) correspondente ao documento no qual a Administração Tributária
afirma existirem débitos pendentes de quitação, porém, para os quais já haja
sido realizada a penhora de bens em garantia na cobrança executiva judicial
ou que tenham tido sua exigibilidade suspensa de acordo com as hipóteses
legais, como é o caso daquelas descritas no artigo 151 também do CTN.

Assim, continua a Coordenação-Geral de Assuntos Tributários da

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PGFN expondo a questão com propriedade no bojo do Parecer/PGFN/CAT Nº
50/2014 afirmando que a regularidade fiscal do contribuinte pode ser
comprovada mediante apresentação da certidão: a) negativa, quando
efetivamente não tem ele débitos pendentes junto ao Fisco, ou b) positiva
com efeitos de negativa, na hipótese de haverem débitos não pagos, porém
garantidos ou com exigibilidade suspensa. Ou seja, na situação de
regularidade fiscal estão aqueles contribuintes que pagaram corretamente
todos seus tributos devidos e também aqueles que julgaram pertinente
discutir administrativa ou judicialmente a cobrança dos tributos que dele estão
sendo exigidos, utilizando-se, para tanto, dos mecanismos legais pertinentes.

A partir desse prisma já é possível afirmar que a exigência


constante do artigo 68-A, §2º, II, Lei nº 9.478/1997, ao mencionar a
necessidade de apresentação de Certidão Negativa de Débitos, está a referir-
se, na prática, à comprovação da regularidade fiscal do contribuinte, pois,
de acordo com o CTN, a apresentação de uma Certidão Positiva com Efeitos
de Negativa surtiria os mesmos efeitos que a apresentação de uma CND,
permitindo o regular cumprimento da obrigação prevista no referido artigo 47.

Em sentido oposto, a norma julgada inconstitucional pelo STF


(artigo 1º da Lei nº. 7.711, de 1988) exigia exclusivamente a comprovação
de quitação dos débitos fiscais, razão pela qual foi considerada não-
razoável e desproporcional, por não dar espaço para albergar as situações
em que, apesar de não quitado o débito, estar ele sendo discutido
administrativa ou judicialmente e com sua exigibilidade suspensa.

Esse, a rigor, é o cerne da questão que diferencia o conteúdo


material do artigo 1º da Lei nº. 7.711, de 1988, daquele constante do artigo
68-A, §2º, II, Lei nº 9.478/1997. No primeiro caso temos a exigência
exclusiva de comprovação de quitação dos débitos tributários e, no
segundo caso, a exigência de apresentação de certidão que comprove a
regularidade fiscal do contribuinte (Certidão Negativa de Débitos ou
Certidão Positiva com Efeitos de Negativa).

Certo é que a exigência de quitação de débitos tributários foi


considerada pelo Supremo Tribunal Federal como sanção política por
ofender: a) o direito ao exercício de atividades econômicas e profissionais
lícitas (artigo 170, parágrafo único, da Constituição); b) o devido processo
legal substantivo em razão da falta de proporcionalidade e razoabilidade de
medidas gravosas que se predispõem a substituir os mecanismos de
cobrança de créditos tributários; e c) o devido processo legal manifestado no
direito de acesso aos órgãos do Executivo ou do Judiciário tanto para controle

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da validade dos créditos tributários, cuja inadimplência pretensamente
justifica a nefasta penalidade, quanto para controle do próprio ato que culmina
na restrição.

Todavia, os mesmos argumentos não cabem quando falamos em


exigência de comprovação da regularidade fiscal, ou se preferir, de
apresentação de Certidão Negativa de Débitos ou Certidão Positiva com
Efeitos de Negativa (CPD-EN). Seja porque o regular exercício de atividades
econômicas e profissionais lícitas demanda observância e cumprimento das
obrigações legais e regulamentares pertinentes a cada atividade ou profissão
específica – aqui se incluindo, por óbvio, o cumprimento das obrigações
tributárias –, seja porque a exigência de comprovação de regularidade fiscal
não afasta o acesso à justiça tampouco afeta o devido processo legal, na
medida em que, como visto acima, em momento algum se elimina a
possibilidade do contribuinte discutir administrativa ou judicialmente a lisura
da cobrança de tributos. Com base nisso, vê-se que a exigência de certidões
quanto à regularidade fiscal não parece ser medida desarrazoada ou
desproporcional que represente ofensa ao devido processo legal substantivo.

Ademais, é oportuno mencionar que nossa Suprema Corte


brasileira, no segundo parágrafo do item 3 da ementa do julgado da ADI nº.
173, assim se manifestou:

“É inequívoco, contudo, que a orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal não
serve de escusa ao deliberado e temerário desrespeito à legislação tributária. Não há que
se falar em sanção política se as restrições à prática de atividade econômica objetivam
combater estruturas empresariais que têm na inadimplência tributária sistemática e consciente
sua maior vantagem concorrencial. Para ser tida como inconstitucional, a restrição ao exercício
de atividade econômica deve ser desproporcional e não-razoável.” (destacou-se)

Pelo exposto, muito bem consignou-se no Parecer/PGFN/CAT nº


50/2014 que, do ponto de vista material, o teor do artigo 47 da Lei nº. 8.212,
de 1991, em muito se difere do conteúdo do artigo 1º da Lei nº. 7.711, de
1998, razão pela qual não está o referido artigo 47 abrangido pelos efeitos da
decisão do STF na ADI nº. 173. Dessa forma, a exigência constante do artigo
68-A, §2º, II, Lei nº 9.478/1997, não se mostra inconstitucional. Essa lógica
vale perfeitamente para o dispositivo em estudo - artigo 68-A, §2º, II, Lei nº
9.478/1997.

Acrescente-se a todo o exposto acima que, do ponto de vista


processual, em atenção ao princípio da vinculação do juiz ao pedido ou

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princípio da demanda, temos que o pedido formulado pela parte determina os
limites da atuação jurisdicional, importando na razão da atuação do Estado e
também na fixação do objeto a ser decidido. Vale dizer que nos pedidos
veiculados nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº. 173 e 394 inexiste
referência a quaisquer dispositivos de outras normas que não a Lei nº. 7.711,
de 1988, sobre a qual efetivamente debruçou-se o Supremo Tribunal Federal.

Note-se, ainda, que, mesmo não constando do pedido veiculado


em Ação Direta de Inconstitucionalidade, caso o STF entendesse haver
conexão entre as normas impugnadas e outras não expressamente
consignadas no feito, quando do seu julgamento, utilizando-se da técnica de
declaração de inconstitucionalidade por arrastamento[2], a Suprema Corte
poderia expressamente declarar inconstitucionais outros dispositivos legais
além daqueles inicialmente listados como objeto da ação.

Foi o que ocorreu no próprio julgamento da ADI nº. 173, no qual o


STF utilizou-se da referida técnica de julgamento e declarou inconstitucionais
por arrastamento os parágrafos 1º, 2º e 3º do artigo 1º da mesma Lei nº.
7.711, de 1988.

Dessa forma, não há que se falar em reflexos dos efeitos do


julgamento das ADI’s nº. 173 e 394 sobre o artigo 68-A, §2º, II, Lei nº
9.478/1997, simplesmente por não terem sido tais dispositivos legais objeto
das mencionadas ações diretas de inconstitucionalidade.

Nesse prisma, não tendo sido o artigo 68-A, §2º, II, Lei nº
9.478/1997, declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal e
levando em conta a presunção de legitimidade e constitucionalidade das
normas legais regularmente editadas segundo o processo legislativo previsto
na Constituição de 1988, é de rigor que o mencionado dispositivo legal está
em plena vigência e eficácia, não havendo fundamento para, como quer a
impetrante, dispensar seu cumprimento.

Em síntese: a decisão proferida pelo STF na ADI 394, ao declarar


inconstitucionais alguns dos dispositivos da Lei nº 7.711/88, exigia a quitação
dos créditos tributários, enquanto o artigo 68-A, §2º, II, Lei nº 9.478/1997
exige apenas a prova de regularidade fiscal, posição essa inclusive já
assente nos Tribunais Regionais Federais da 3ª e 4ª Regiões, em relação às
exigências do art. 47 da Lei 8.212/91 (Lei de Custeio da Previdência Social),
cuja ratio decidendi se aplica perfeitamente e essa lógica vale perfeitamente
ao artigo 68-A, §2º, II, Lei nº 9.478/1997 (negritou-se):

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MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO E ARQUIVAMENTO DE ATOS SOCIAIS
CONSTITUTIVOS NA JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE CERTIDÕES DA RECEITA
FEDERAL, PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL, INSS E REGULARIDADE DO FGTS.
LEI Nº 8.934/94. POSSIBILIDADE DESDE QUE HAJA PREVISÃO LEGAL QUE NÃO IMPLIQUE
SANÇÃO POLÍTICA. ADI 173.

1. Cuida-se de dupla apelação em ação mandamental aviada objetivando obter provimento


jurisdicional para determinar que a autoridade Impetrada proceda ao registro de alteração
contratual, semas exigências da apresentação de certidões de regularidade fiscal.

2. A Lei nº 8.934/94, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis, prevê que
nenhum outro documento além daqueles que relaciona será exigido das empresas para fins de
registro e arquivamento de seus atos constitutivos.

3. Na regulamentação da lei, o Decreto nº 1.800/96 repete a previsão, ressalvando eventual


outra determinação legal a propósito. É nesse cenário que cabe a análise das disposições legais
contidas nas Leis 7.711/88, 8.212/91 e 8.036/90. 4. Acerca da Lei nº 7.711/88, o Supremo
Tribunal Federal já se manifestou no sentido da inconstitucionalidade dos incisos I, III e IV do art.
1º, visto que revelam indiscutível sanção política, norma de cunho enviesado a constranger o
contribuinte, por via oblíqua, ao recolhimento do crédito tributário, pois exigida a prova da
quitação de eventuais tributos, inviabilizando a discussão administrativa ou judicial.

5. Pelas mesmas razões, é de ser afastado o disposto no art. 62 do Decreto-lei nº 1.715/79


invocado no apelo fazendário, pois a hipótese também é de quitação de tributos para fins de
registro ou arquivamento de alterações contratuais no órgão competente. Não basta afirmar que
a JUCESP aplica tal dispositivo legal compatibilizando-o coma Constituição Federal para que
seja válida a imposição, cujo teor exprime a mesma intenção coercitiva já arredada pelo Pretório
Excelso na ADI 173.

6. De outro tanto, relativamente à exigência de certidões do INSS e do FGTS, o mesmo


raciocínio não se aplica, já que volvida à apresentação de certidões negativas de débito,
sem a obrigatoriedade de pagamento incondicional do débito.

7. Apelações a que se nega provimento, para manter a r. sentença, nos termos supracitados.

(AMS 00158375520134036100, JUIZ CONVOCADO ROBERTO JEUKEN, TRF3 - SEGUNDA


TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:02/02/2017 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ARQUIVAMENTO


DE ALTERAÇÃO SOCIETÁRIA NA JUNTA COMERCIAL. LEGITIMIDADE PASSIVA E
LITISCONSÓRCIO. RECONHECIMENTO ADMINISTRATIVO. CERTIDÃO DE
REGULARIDADE FISCAL PERANTE O INSS E FGTS. LEIS 8212/1991 E 8036/1990.
LEGALIDADE. EXIGÊNCIA DE CND PERANTE A RECEITA FEDERAL DO BRASIL E
PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL NÃO PREVISTA EM LEI. IMPOSSIBILIDADE.
PROVIMENTO PARCIAL DA APELAÇÃO E DA REMESSA OFICIAL.

1- Aplica-se a Lei 13.105/2015 aos processos pendentes, respeitados, naturalmente, os atos


consumados e seus efeitos no regime do CPC de 1973.

2- Tratando-se de mandado de segurança impetrado contra ato praticado pelo presidente da


Junta Comercial do Estado de São Paulo, a competência para o processamento e o julgamento
do feito é da Justiça Federal, por força do artigo 109, VIII, da Constituição Federal. Precedente:
TRF3, Órgão Especial, CC 00274929320104030000, Rel. Des. Fed. Fábio Prieto, DJF3CJ1

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Número do documento: 20091111495065200000311850189
DATA: 17/01/2011.

3- Descabe a integração do INSS e da União a lide como litisconsortes, porquanto a autoridade


impetrada age como substituta processual da pessoa jurídica de direito público interno (Fazenda
do Estado de São Paulo).

4- A concessão da segurança em caráter liminar deve ser confirmada ou revogada por meio da
análise do mérito.

5- Quanto às dívidas frente ao INSS, se aplica o quanto determina o artigo 47, I, d, da Lei n.
8.212/1991, que exige CND, no registro ou arquivamento, no órgão próprio, de ato relativo a
baixa ou redução de capital de firma individual, redução de capital social, cisão total ou parcial,
transformação ou extinção de entidade ou sociedade comercial ou civil e transferência de
controle de cotas de sociedades de responsabilidade limitada. Tratando-se de hipótese prevista
no dispositivo legal mencionado, não há como eximir a empresa da apresentação da certidão
negativa de débitos relativa ao INSS.

6- O mesmo raciocínio se aplica às dívidas atinentes ao FGTS, pois a prova de inexistência de


tais débitos está prevista no artigo 27 da Lei n. 8.036/1990.

7- O STF, no julgamento das ADINS 173 e 394, manifestou-se especificamente em relação às


normas que condicionam a prática de atos da vida civil e empresarial à quitação de créditos
tributários, caracterizando-as como sanção política. Não houve qualquer menção em relação
aos artigos 47 da Lei n. 8.212/1991 e 27 da Lei n. 8.036/1990. As Leis questionadas não
impõem ao impetrante que deixe de exercer um direito ou que pratique ato contrário aos
interesses.

8- O arquivamento de alteração contratual perante a Junta Comercial prescinde da


apresentação de certidão negativa de tributos federais e dívida ativa, ante a inexistência de
previsão legal específica. 9- Provimento parcial à apelação da Fazenda do Estado de São Paulo
e à remessa oficial, tão somente para reconhecer a exigibilidade das certidões negativas do
INSS e FGTS.

(AMS 00235707720104036100, DESEMBARGADOR FEDERAL HÉLIO NOGUEIRA, TRF3 -


PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:28/11/2016. FONTE_REPUBLICACAO)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ARQUIVAMENTO


DE ALTERAÇÃO SOCIETÁRIA NA JUNTA COMERCIAL. CERTIDÃO DE REGULARIDADE
FISCAL PERANTE O INSS E FGTS. LEIS 8212/1991 E 8036/1990. LEGALIDADE. EXIGÊNCIA
DE CND PERANTE A RECEITA FEDERAL DO BRASIL E PROCURADORIA DA FAZENDA
NACIONAL NÃO PREVISTA EM LEI. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO RETIDO NÃO
CONHECIDO. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.

1- Aplica-se a Lei 13.105/2015 aos processos pendentes, respeitados, naturalmente, os atos


consumados e seus efeitos no regime do CPC de 1973.

2- Inexistindo, nas contrarrazões da apelação, pedido expresso de apreciação pelo Tribunal do


agravo retido, não deve este ser conhecido, porquanto ausente o requisito de admissibilidade
previsto no artigo 523, 1º, do CPC/73.

3- Tratando-se de mandado de segurança impetrado contra ato praticado pelo presidente da


Junta Comercial do Estado de São Paulo, a competência para o processamento e o julgamento
do feito é da Justiça Federal, por força do artigo 109, VIII, da Constituição Federal. Precedente:

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Número do documento: 20091111495065200000311850189
TRF3, Órgão Especial, CC 00274929320104030000, Rel. Des. Fed. Fábio Prieto, DJF3CJ1
DATA: 17/01/2011.

4- Quanto às dívidas frente ao INSS, se aplica o quanto determina o artigo 47, I, d, da Lei n.
8.212/1991, que exige CND, no registro ou arquivamento, no órgão próprio, de ato relativo a
baixa ou redução de capital de firma individual, redução de capital social, cisão total ou parcial,
transformação ou extinção de entidade ou sociedade comercial ou civil e transferência de
controle de cotas de sociedades de responsabilidade limitada. Tratando-se de hipótese prevista
no dispositivo legal mencionado, não há como eximir a empresa da apresentação da certidão
negativa de débitos relativa ao INSS.

5- O mesmo raciocínio se aplica às dívidas atinentes ao FGTS, pois a prova de inexistência de


tais débitos está prevista no artigo 27 da Lei n. 8.036/1990.

6- O STF, no julgamento das ADINS 173 e 394, manifestou-se especificamente em relação às


normas que condicionam a prática de atos da vida civil e empresarial à quitação de créditos
tributários, caracterizando-as como sanção política. Não houve qualquer menção em relação
aos artigos 47 da Lei n. 8.212/1991 e 27 da Lei n. 8.036/1990. As Leis questionadas não
impõem ao impetrante que deixe de exercer um direito ou que pratique ato contrário aos
interesses.

7- O arquivamento de alteração contratual perante a Junta Comercial prescinde da


apresentação de certidão negativa de tributos federais e dívida ativa, ante a inexistência de
previsão legal específica.

8- Agravo retido do impetrado não conhecido. Apelação da impetrante a que se dá parcial


provimento.

(AMS 00139068520114036100, DESEMBARGADOR FEDERAL HÉLIO NOGUEIRA, TRF3 -


PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:29/11/2016

CONSTITUCIONAL. ART. 47, I, B, DA LEI Nº 8.212/91. CONSTITUCIONALIDADE.

1. Com efeito, a decisão proferida pelo STF na ADI 394, ao declarar inconstitucionais
alguns dos dispositivos da Lei nº 7.771/88, não se aplica ao presente caso, pois exigia
quitação dos créditos tributários, enquanto a Lei 8.212 exige apenas a regularidade fiscal.
Ademais, a exigência pelo legislador da regularidade fiscal não viola o devido processo
legal, eis que a empresa devedora da Previdência Social pode, a todo momento,
suspender a exigibilidade do crédito, ao discutir administrativa ou judicialmente, parcelar
e, se for o caso, oferecer caução. O artigo 47, b, da Lei 8.212, da mesma forma, não viola o
livre exercício da atividade econômica, pois a alienação do ativo imobilizado é operação
extraordinária da empresa e há exceção prevista no art. 257, § 8º, do Decreto 3.048/99,
para as empresas cujo objeto social é a alienação de imóveis. A norma em comento visa,
apenas, a garantir a segurança jurídica do adquirente de boa-fé, já que, na forma do artigo
185 do CTN, presume-se fraudulenta a alienação de imóvel por devedor com débito
inscrito em dívida ativa.

2. Arguição de Inconstitucionalidade rejeitada.

(TRF4, Arguição de Inconstitucionalidade n. 0001351-51.2009.404.7208/SC, Relator Otávio


Roberto Pamplona, Segunda turma, julgado em 19 dezembro de 2012)

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Ao contrário do que afirmado pela impetrante, a exigência em
questão inserta no artigo 68-A, §2º, II, Lei nº 9.478/1997, não exprime a
mesma intenção coercitiva já arredada pelo Pretório Excelso na ADI 173
. Isso porque, relativamente à exigência de certidões de regularidade fiscal
em análise, o mesmo raciocínio não se aplica, já que volvida à apresentação
de certidões negativas de débito, sem a obrigatoriedade de pagamento
incondicional do débito.

Quanto à alegação de que a exigência de certidão negativa por


resolução afrontaria o princípio da legalidade, saliento que o art. 68-A, §2º, II,
da Lei 9.478/97 também previu tal requisito – e, conforme visto acima, está
de acordo com o Direito. Eis o dispositivo:

CAPÍTULO IX-A

(Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DA INDÚSTRIA DE BIOCOMBUSTÍVEIS

Art. 68-A. Qualquer empresa ou consórcio de empresas constituídas sob as leis brasileiras com
sede e administração no País poderá obter autorização da ANP para exercer as atividades
econômicas da indústria de biocombustíveis. (Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

§ 1o As autorizações de que trata o caput destinam-se a permitir a exploração das atividades


econômicas em regime de livre iniciativa e ampla competição, nos termos da legislação
específica. (Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

§ 2o A autorização de que trata o caput deverá considerar a comprovação, pelo interessado,


quando couber, das condições previstas em lei específica, além das seguintes, conforme
regulamento: (Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

I - estar constituído sob as leis brasileiras, com sede e administração no País; (Incluído
pela Lei nº 12.490, de 2011)

II - estar regular perante as fazendas federal, estadual e municipal, bem como demonstrar
a regularidade de débitos perante a ANP; (Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

(...)

§ 3o A autorização somente poderá ser revogada por solicitação do próprio interessado ou por
ocasião do cometimento de infrações passíveis de punição com essa penalidade, conforme
previsto em lei. (Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

§ 4o A autorização será concedida pela ANP em prazo a ser estabelecido na forma do


regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.490, de 2011)

Em outro giro, é pertinente sublinhar que o art. 20 da Resolução

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ANP nº 26/2012 estabeleceu prazo de 5 anos para que a autorizatária
promovesse sua regularização. Com o advento da Resolução ANP nº 734/
2018, houve ainda prorrogação de tal prazo até 31/08/2020, totalizando lapso
de 08 anos para que a impetrante apresentasse a certidão negativa de
débitos perante as fazendas públicas.

Noutra quadra, a interpretação do §3º, acima transcrito, deverá se


dar de forma sistemática com o restante do dispositivo, sob pena de criação
de antinomia com a norma do parágrafo anterior, pois, ao fixar os requisitos
para a autorização para o exercício de atividades e econômicas na indústria
do biocombustível, a norma em debate não restringe sua aplicabilidade
apenas para as autorizações supervenientes.

Desta forma, a única interpretação que preserva a coesão do art.


68-A é a de que os requisitos são aplicáveis também àqueles que já
receberam a autorização. Quanto à redação do §3º, trata-se de previsão que
objetiva garantir o contraditório e à ampla defesa da autorizatária, que, em
caso de revogação que não foi solicitada pela própria interessada, terá direito
ao devido processo administrativo.

Outrossim, o §4º estabelece que cabe à ANP, mediante


regulamento, estabelecer o prazo de outorga da autorização. Sendo assim, a
previsão de prazo de 5 anos, com posterior prorrogação, para que as
autorizatárias se adequassem aos novos requisitos, observou a razoabilidade
e a segurança jurídica, conforme verifico nesta análise preliminar.

Ademais, não há de se falar em afronta ao princípio da legalidade


estrita, já que a regulamentação da ANP apenas segue os ditames do art. 68-
A, §2º, II, da Lei 9.478/97, com redação dada pela Lei nº 12.490/2011.

Além disso, é oportuno registrar que a Constituição da República


prevê a possibilidade de o legislador ordinário impor restrições ao
desempenho de atividade econômica em que há o interesse público, como é
o caso da produção, distribuição e revenda de combustíveis, dado o caráter
estratégico das atividades relacionadas ao petróleo para o desenvolvimento e
soberania do País (CF, 238).

A Agência Nacional de Petróleo – ANP, criada pela Lei 9.478/97,


atua como órgão regulador e fiscalizador da política de produção, distribuição
e revenda de combustíveis em território nacional, adotando as medidas
necessárias para proteger os interesses dos consumidores e do mercado
quanto à venda desses produtos, de modo que, nessa condição, possui
competência para editar as regras que se fizerem oportunas e necessárias

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para disciplinar a distribuição de combustíveis no País, podendo exigir a
observância de um mínimo de condições de funcionamento a ser satisfeito
pelas empresas do ramo.

E as Leis 9.478/97 e 9.847/99 estão em conformidade com os


preceitos constitucionais e dão o suporte legal necessário à Resolução
ANP 734/2018, inexistindo ilegalidade no ato administrativo que exige a
comprovação de regularidade da empresa perante as Fazendas federal,
estadual e municipal.

A questionada exigência de regularidade fiscal por parte das


empresas vem sendo objeto de debate desde o ano de 2012, repita-se,
quando da publicação da Resolução ANP 26/2012 (art. 7º). A fim de facilitar
o cumprimento das exigências da Resolução 26/2012, foi inclusive
concedida a prorrogação do prazo para a comprovação de regularidade
fiscal das empresas (art. 27, I, da Resolução ANP 734/2018). Por essa
razão é que se afirmou acima que o prazo de apresentação das certidões
está dotado de razoabilidade, já que foram consideradas a demanda
apresentada pelo setor sucroalcooleiro e as particularidades das empresas
(número de empregos envolvidos, variação de preços das commodities, etc).

A obrigatoriedade da comprovação da regularidade fiscal das


produtoras do álcool combustível dá condições à ANP de cumprir sua função
fiscalizadora, em nome de um melhor serviço prestado ao consumidor.

Ao mesmo tempo, a medida proporciona uma maior segurança


quanto à idoneidade econômica da empresa para atuar no mercado, tendo
em conta a atividade em apreço, considerada de utilidade pública. Nesse
diapasão, entende-se como válido o dispositivo impugnado, encontrando-se
em perfeita harmonia como poder de regulamentação e fiscalização conferido
à ANP, efetivado através do poder de polícia.

As alegações de crise econômica são irrelevantes e não justificam


o pleito da impetrante, a qual não comprovou estar em recuperação judicial,
e, ainda que estivesse nessa situação, não faria jus ao pleito, já que a
atividade econômica por ela desenvolvida é ordenada por lei e está sujeita às
restrições impostas pela autarquia ANP (CF, 238). E ainda que estivesse em
recuperação judicial, outra sorte não teria porque a Lei n.º 11.101/2005 não
contém qualquer tipo de previsão que afaste as normas específicas (Lei n.º
9.478/97 e Resolução ANP n.º 738/2018) expressamente assertivas no
sentido de que “Qualquer empresa ou consórcio de empresas constituídas
sob as leis brasileiras com sede e administração no País poderá obter

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autorização da ANP para exercer as atividades econômicas da indústria de
biocombustíveis. (...) A autorização de que trata o caput deverá considerar a
comprovação, pelo interessado, quando couber, das condições previstas em
lei específica, além das seguintes, conforme regulamento: II - estar regular
perante as fazendas federal, estadual e municipal, bem como demonstrar a
regularidade de débitos perante a ANP”.

Isentar a impetrante da obrigação de atender às normas


regularmente estabelecidas pela competente agência reguladora, detentora
do poder de fiscalização do setor, é violar o princípio da isonomia, de modo a
prestigiá-la em detrimento de outras pessoas jurídicas em idêntica situação.

No caso em comento não há plausibilidade do direito


(relevância dos fundamentos invocados). Sabe-se da urgência relativa à
pandemia COVID-19.

Ocorre que a plausibilidade do direito é requisito lógico-jurídico


antecedente à análise do risco de ineficácia da medida se concedida
somente ao final (em sentença).

De qualquer forma e acerca da noticiada pandemia como


fundamento para a impetrante continuar a não cumprir seu dever que desde
2012 vem sendo postergado, transcrevo os fundamentos que tenho adotado
em casos tais, a exemplo do que decidi no MS n. 1020940-
85.2020.4.01.3400:

De partida, registro que, embora se reconheça a gravidade da situação em que se encontra o


país e o momento delicado que estão vivendo as empresas, não vislumbro a presença do
primeiro requisito (probabilidade do direito / relevância dos fundamentos invocados / fumus boni
juris), uma vez que o juiz não pode substituir a Administração em atividade que é da
competência precípua do Poder Executivo, juntamente com o Legislativo, em respeito ao
princípio constitucional da separação dos Poderes.

De fato, conforme relatado, a parte impetrante requer a suspensão da exigibilidade do crédito


tributário de competência da União a que está obrigada a pagar. Seu fundamento é que a
pandemia do coronavírus a impossibilita de arcar com os pagamentos dos débitos tributários,
inclusive as prestações dos parcelamentos.

Como se sabe, a moratória é a possibilidade de se suspender a exigibilidade do crédito


tributário, o que não dispensa o cumprimento, pelo sujeito passivo, das obrigações tributárias
acessórias.

E o acolhimento da pretensão resultará em clara moratória a favor desse ente federativo.

Ocorre que a Constituição da República em seu art. 146, III, “b”, estabelece que as causas de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário devem ser disciplinadas por Lei Complementar,
in verbis:

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Art. 146. Cabe à lei complementar:

III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente


sobre:

(...)

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários.

Por sua vez, o Código Tributário Nacional – CTN, tido por lei complementar ratione materiae,
estabelece que a moratória é uma das hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito
tributário, senão vejamos:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

I – moratória;

No entanto, há de se observar que o próprio CTN, no artigo 97, inciso VI, também determina que
somente a lei em sentido estrito pode estabelecer as hipóteses de suspensão do crédito
tributário:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

(...)

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou


de dispensa ou redução de penalidades.

Conclui-se, assim, que a única norma para a permissão de suspensão da exigibilidade do


crédito tributário é a lei em sentido estrito – isto é, a postulação aqui requerida submete-se ao
princípio da estrita legalidade –, que, por sua vez, deve ser interpretada em consonância com a
literalidade de seu próprio texto, conforme preceitua o art. 111, inciso I, do CTN, motivo pelo
qual é vedado ao Poder Judiciário se imiscuir em matéria de competência exclusiva do
Poder Legislativo, instituindo hipótese de moratória não prevista em lei, sob pena de grave
afronta ao princípio da separação dos poderes.

E como é cediço, em situações de calamidade pública, compete, como regra, ao Poder Público
conceder, e.g., moratória – sendo a sua natureza de dilatação do prazo de pagamento do tributo
–, seja geral ou específica, tratando-se, por assim dizer, de ato exclusivo do Poder Executivo,
conforme art. 152 e seguintes do CTN, a saber:

Art. 152. A moratória somente pode ser concedida:

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I - em caráter geral:

a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo


a que se refira;

b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito


Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos
tributos de competência federal e às obrigações de direito privado;

II - em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde


que autorizada por lei nas condições do inciso anterior.

Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode circunscrever


expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da pessoa
jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de
sujeitos passivos.

Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua concessão
em caráter individual especificará, sem prejuízo de outros requisitos:

I - o prazo de duração do favor;

II - as condições da concessão do favor em caráter individual;

III - sendo caso:

a) os tributos a que se aplica;

b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que se


refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade
administrativa, para cada caso de concessão em caráter individual;

c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão


em caráter individual.

Art. 154. Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente abrange os


créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho que a
conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato
regularmente notificado ao sujeito passivo.

Parágrafo único. A moratória não aproveita aos casos de dolo, fraude ou


simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele.

Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera direito


adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não
satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de
cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido
de juros de mora:

I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do


beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele;

II - sem imposição de penalidade, nos demais casos.

Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a


concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da

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prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do inciso II deste artigo, a
revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito.

Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas


em lei específica. (Incluído pela Lcp nº 104, de 2001)

§ 1o Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário


não exclui a incidência de juros e multas. (Incluído pela Lcp nº 104, de
2001)

§ 2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei,


relativas à moratória. (Incluído pela Lcp nº 104, de 2001)

§ 3o Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos


tributários do devedor em recuperação judicial. (Incluído pela Lcp nº 118,
de 2005)

§ 4o A inexistência da lei específica a que se refere o § 3o deste artigo importa


na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor
em recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento
inferior ao concedido pela lei federal específica. (Incluído pela Lcp nº
118, de 2005)

Denota-se, portanto, que a moratória, tal qual pleiteada liminarmente, constitui ato exclusivo da
pessoa jurídica instituidora do tributo, à exceção daquela concedida pela União, quanto a
tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, quando
simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência federal e às obrigações de
direito privado. Tal instituto é conhecido, em sede doutrinária, como isenção heterônoma e
embora exista discussão quanto à sua constitucionalidade, fato é que permanece válido.

E mesmo sabendo que a moratória é medida excepcional, que somente deve ter lugar em casos
de situações naturais, econômicas ou sociais que dificultem o normal adimplemento das
obrigações tributárias[3], a concessão de tal benesse, como visto acima, é reservada à lei,
repita-se.

E não se refuta o direito à eventual suspensão da exigibilidade do crédito tributário pela via
judicial em face do princípio da inafastabilidade de apreciação pelo Poder Judiciário (art. 5º,
XXXV da CF/88), entretanto, na situação concreta não pode o magistrado, por meio de decisão
judicial, atuar como legislador positivo concedendo moratória a um ou outro contribuinte, sob
pena de flagrante medida ilegal e inconstitucional (art. 2º da CF/88) e, não bastasse, de até
inviabilizar, ou pelo menos comprometer excessivamente a adoção de medidas eficazes por
parte do Estado no combate à COVID-19.

De se ressaltar que a Constituição Federal/88 não reservou ao Poder Judiciário a tarefa de


administrar e legislar, de modo que cabe ao Poder Executivo e ao Legislativo deliberarem os
termos de eventual moratória a ser concedida aos contribuintes neste momento de pandemia.

Qualquer intervenção do Poder Judiciário nessa questão implicaria em clara violação ao


princípio da separação de poderes, insculpido no art. 2º da Constituição Federal/88, o que não
se pode tolerar.

Friso, também, que o juiz, ao analisar questões capazes de impactar demasiadamente as contas
do erário deve, na dicção da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), atuar

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com cautela, apreciando minuciosamente as consequências da decisão judicial, a saber:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com
base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Regulamento)

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da


medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa
deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e
administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
(Regulamento)

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo
proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo
impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades
do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os


obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas
públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.
(Regulamento)

(...)

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer


interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado,
impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime
de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de
direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo
aos interesses gerais. (Regulamento)

Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção
já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo
vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018) (Regulamento)

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e


especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

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Cabe ressaltar ainda que as decisões proferidas pela Suprema Corte, nos autos das Ações
Cíveis Originárias nºs 3.363[4] e 3.365, movidas, respectivamente, pelos Estados de São Paulo
e da Bahia, não se amoldam à hipótese dos autos, tendo em vista a natureza do objeto a ser
tutelado. Isso porque, em ambas as ações, a liminar foi deferida para suspender o pagamento
da dívida pública, impondo-se a comprovação de que os valores estariam sendo
empregados no combate à pandemia da COVID-19.

É oportuno ainda pedir licença para transcrever os relevantes fundamentos expostos em decisão
proferida no MS Coletivo n. 1017036-78.2020.8.26.0053 (grifou-se):

(...)

Outrossim, inaplicável à espécie a teoria do fato do príncipe.

Segundo a doutrina, a figura do factum principis é o poder de alteração


unilateral de um contrato administrativo, levado a efeito pela Administração.
Ou, além disso, medidas gerais da Administração, não relacionadas a um dado
contrato administrativo, mas que nele têm repercussão, pois provocam um
desequilíbrio econômico-financeiro em detrimento do contratado.

Observe-se que o chamado fato do príncipe tratado na doutrina clássica diz


respeito ao cumprimento de um contrato administrativo e parece que nada tem a
ver com relação tributária aqui discutida.

Ele não se confunde com a força maior e com o chamado fato da


administração, que também podem levar à rescisão contratual.

O administrativista argentino Roberto Dromi, em sua festejada obra Derecho


Administrativo (pág. 550, editora Ciudad Argentina Editorial de Ciência y
Cultura; 12ª edição, 2009) distingue claramente a força maior, o fato da
administração e o fato do príncipe como pressupostos para habilitar a rescisão
contratual.

A força maior quando impossibilita pelas suas circunstâncias e de maneira


definitiva a continuidade da execução contratual. Aí cabe indenização em casos
especiais para se evitar as perdas correspondentes.

O fato da administração é quando a administração entende impossível a


execução do contrato. E ela, administração, não tem mais interesse na
continuidade do contrato e, portanto, isso influi no equilíbrio econômico e o
contratado tem direito a uma indenização.

O fato do príncipe, também causado pela atuação da administração, há também


uma impossibilidade definitiva e permanente de executar o contrato por parte do
contratado que terá o direito de receber uma indenização integral.

O Professor da Faculdade de Direito de Paris, André de Laubadère, em sua


clássica obra "Traité Théorique et Pratique des Contrats Administratifs" (págs.
24/26; tomo III, Librairie Généraçe de Droit et de Jurisprudende, 1956), admitindo
que sua teoria comporta algumas incertezas, afirma que a expressão fato do
príncipe possui dois sentidos diferentes: lato sensu e stricto sensu.

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No sentido lato sensu designa-se o fato príncipe como toda intervenção dos
poderes públicos tendo por resultado afetado de alguma maneira as condições
jurídicas ou mesmo as condições de fato nas quais um contratante executa o seu
contrato.

No sentido stricto sensu define-se por seus efeitos jurídicos, onde dá lugar ao
contratado pela administração à indenização integral, e nesse sentido se opõe
por exemplo a teoria do fato do príncipe ao da imprevisão, pois esta obriga a
administração a tomar a seu cargo uma parte das perdas sofridas pelo
contratado, ao passo que o fato do príncipe abre ao contratado um direito de
receber a compensação integral do prejuízo que ele sofreu, sendo que desde
logo esse prejuízo tenha sido provocado pelo fato em questão.

Assim, para esses renomados administrativistas, uma coisa é ter ocorrido algo
imprevisto, e que pode realmente alterar a relação contratual.

Ocorre que, estamos diante de uma relação de caráter tributário, vinculante, e


não contratual, objeto de negociações e tratativas.

O caso não é de fato de príncipe, pois a pandemia não foi um ato provocado ou
só de interesse da administração pública, mas sim um caso de imprevisão.

E como bem sustentou a Procuradoria do Estado, as ora impetrantes FIESP e


CIESP foram colhidas de surpresa não por decisão de império do Estado de São
Paulo e do seu governo, mas por uma tragédia humanitária de proporções
universais, para a qual o direito nacional não tem alternativas.

Não se trata de prejuízo determinado ao particular provocado por ato de Estado,


mas de circunstância emergencial, como tal declarada pela Organização Mundial
da Saúde - OMS, responsável pela coordenação dos esforços internacionais para
controlar surtos de doença.

Por derradeiro, impõe-se esclarecer que os Poderes Legislativo, Executivo e


Judiciário são sensíveis aos problemas econômicos que decorrerão da pandemia
provocada pelo vírus denominado COVID-19.

Saliente-se, por oportuno, que está amplamente noticiado que o Poder Legislativo, em
conjunto com o Poder Executivo, está propondo e adotando diversas medidas de amparo
às pessoas físicas e jurídicas, sociedades empresárias, estados e municípios, de modo a
auxiliá-los financeiramente a superar os prejuízos decorrentes da calamidade pública e do
isolamento social, que implicou no fechamento de fábricas, comércios em geral, consultórios e
repartições públicas.

Com isso, não cabe ao Poder Judiciário substituir-se aos Poderes Executivo e Legislativo
para conceder moratória às impetrantes, sob pena de usurpação de competência
constitucional.

Em síntese: Em que pese compreenda a difícil situação econômica por que passam cidadãos e
empresas, no Brasil e no mundo, neste complexo momento histórico de pandemia causada pelo
coronavírus, não há previsão legal para a concessão da medida pretendida. Não cabe ao juiz
substituir-se ao legislador e fixar moratória – ou mesmo eventuais condições especiais para o
pagamento de créditos tributários – por decisão judicial. Compete às empresas, por meio de
esforços políticos próprios, defender interesses dessa natureza na esfera legislativa, e não pela

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via do Poder Judiciário. Inaplicável, ao caso, a teoria do fato do príncipe, pois relacionada aos
contratos administrativos, para corrigir desequilíbrio econômico-financeiro causado pela atuação
estatal que, embora não tenha relação direta com o contrato, produza sobre ele efeitos onerosos
(art. 65, II, d, da Lei nº 8.666/93). A aplicação da teoria à espécie, mesmo que por analogia,
configuraria inaceitável burla à reserva legal para a concessão de moratória (art. 153 do CTN).

E como bem registrado pelo i. Relator do Agravo de Instrumento 5014372-16.2020.4.04.0000:

(...)

Outrossim, não procede a pretensão da demandante de estender os efeitos da


Resolução CGSN nº 152/2020 -- que prorrogou o pagamento dos débitos
de tributos federais no Simples Nacional -- aos não optantes, sob a alegação de
violação à isonomia, uma vez que, por um lado, a própria razão de ser de um
regime simplificado de tributação decorre do fato de os contribuintes sujeitos a
ele não se encontrarem em situação de igualdade em relação aos demais; e, por
outro lado, “se as empresas integrantes do SIMPLES foram beneficiadas, o
Poder Executivo optou por um critério que revela conveniência política,
insuscetível de controle pelo Poder Judiciário (...), [sendo] possível, de acordo
com interesses econômicos e sociais, estimular e beneficiar determinados
setores da economia”. (TRF4, AG 5012017-33.2020.4.04.0000, SEGUNDA
TURMA, Relator ALEXANDRE ROSSATO DA SILVA ÁVILA, juntado aos autos
em 27/03/2020).

Além disso, não desconheço, por certo, os termos da Portaria MF nº 12/2012,


editada com base no art. 16 da Lei n.º 9.799/99, que estabelece que “compete à
Secretaria da Receita Federal dispor sobre as obrigações acessórias relativas
aos impostos e contribuições por ela administrados, estabelecendo, inclusive,
forma, prazo e condições para o seu cumprimento e o respectivo responsável.”

Não houve, ao que se apura da lei, autorização para regramento infralegal de


moratória.

Acrescento, aliás, que da própria redação da portaria, extrai-se a necessidade de


regulamentação específica, inclusive quanto à definição dos municípios a que se
referia o art. 1º do texto normativo, tal como se depreende da redação de seu art.
3º: “Art. 3º A RFB e a PGFN expedirão, nos limites de suas competências, os
atos necessários para a implementação do disposto nesta Portaria, inclusive a
definição dos municípios a que se refere o art. 1º.”

Trata-se, pois, de ato normativo que, além de obviamente não ter status de lei --
inobservando, por certo, o princípio constitucional da reserva legal, materializado
pelo art. 153 do CTN --, foi pensado para um momento histórico distinto, há cerca
de oito anos, não tendo sido encampado, em qualquer aspecto, pelos atos recém
editados, em caráter especial, acrescento, no âmbito federal.

Refiro-me, por exemplo, à Portaria nº 139, de 3 de abril de 2020, do Ministério da


Economia, que diferiu o pagamento dos valores devidos pelas empresas a título
de contribuição previdenciária patronal e PIS/COFINS de março e abril para julho
e setembro de 2020, respectivamente; bem como à Portaria ME nº 150, de 7 de
abril de 2020, que estendeu a prorrogação para a CPRB, o Funrural e o RAT;
além da Instrução Normativa nº 1.932, de 3 de abril de 2020, da Receita Federal,

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que postergou o prazo de cumprimento de obrigações acessórias relativas à
apresentação das DCTF e das Escriturações Fiscais Digitais.

Acrescento que foram editadas, ainda, no âmbito federal, pelo menos outras
duas outras normas regulamentares tratando especificamente do enfrentamento,
pelos órgãos fiscais, dos efeitos da pandemia: Portarias ME nº 103/2020 e RFB
nº 543/2020.

Não há, entretanto, até o momento, notícia de lei ou medida provisória editada no
sentido de conceder moratória em relação aos tributos não abarcados pelas
Portarias ME nº 139/2020 e nº 150/2020.

Nesse contexto, inviável o acolhimento do pedido.

[...]

Na concessão de prorrogação do pagamento dos tributos federais pelo Poder


Judiciário, não só estaria atuando como legislador positivo, um [sic] vez que a
moratória depende da lei (art. 153 do CTN), como também usurparia
competência dos outros poderes, o que evidentemente não lhe é dado.

Inaplicável a Portaria MF 12/2012, mesmo porque, no seu art. 3º, estabelece que
a “RFB e a PGFN expedirão, nos limites de suas competências, os atos
necessários para a implementação do disposto nesta Portaria, inclusive a
definição dos municípios a que se refere o art. 1º”. Essa regulamentação inexiste.

Não é inequívoca, portanto, a prova do direito alegado, não lhe outorgando


verossimilhança.

Há, ainda, o risco de periculum in mora reverso, pois o deferimento de liminares de natureza
semelhante a deduzida pela parte impetrante acarretará a ausência de recursos ao Poder
Público federal para fazer frente à pandemia da COVID-19, inclusive os recursos que hoje estão
sendo destinados para políticas voltadas à minimização dos impactos da pandemia sobre os
empregados e empregadores, e pela União aos demais entes federativos, seja por
descentralização operada pelo Ministério da Saúde, seja pelos demais instrumentos postos ao
Executivo e ao Legislativo.

Corrobora esse periculum in mora reverso o fato incontestável de que, sob o ponto de vista
econômico e financeiro, não será possível atender às previsões já estabelecidas na lei
Orçamentária Anual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias, considerando que, dentre outras
consequências, a diminuição de arrecadação de receitas, em virtude da paralisação do setor de
comércio e outros serviços, irá frustrar as bases econômicas que fundamentaram a expedição
de referidas leis. Não bastasse, a previsão de gastos públicos na esfera federal já foi
significativamente majorada e, diante da situação calamitosa do ponto de vista também das
finanças públicas, somente os Poderes Executivo e Legislativo tem competência constitucional
para avaliar quais medidas públicas adotar na situação fática excepcional vivenciada, repita-se.

Portanto, em exame sumário, verifico ausente o fundamento


relevante da impetração do presente mandamus, o que torna desnecessária a

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análise do periculum in mora.

Independentemente disso, registro, oportunamente, e em


acréscimo aos fundamentos já declinados, que, se existe o periculum in mora
, esse foi forçado/propositadamente criado pela impetrante.

E, nesse ponto, não poderia deixar de registrar o tempo decorrido


desde a data de publicação da resolução agora impugnada, e, de tal modo,
se a referida norma é de 2018, e no art. 27, I, dessa resolução já constava
que o produtor de etanol que não apresentasse “as certidões negativas de
débitos perante as fazendas federal, estadual e municipal terá até 31 de
agosto de 2020 para se regularizar, sob pena de revogação da autorização”,
a impetrante poderia ter recorrido ao Judiciário antes. Se não o fez, não
pode agora querer se utilizar de sua torpeza/inércia para alegar que há
perecimento do direito.

Ademais, desde 24 de junho de 2020 o departamento jurídico da


impetrante já tinha ciência do questionado ofício OFÍCIO Nº 374/2020/SPC-
CAT/SPC/ANP-RJ-e da ANP (id. 315902852), conforme id. 315902853 (fl.
1671 da r.u.), mas preferiu-se impetrar esse mandamus apenas em
27.08.2020, em possível criação do periculum in mora e certamente tentando
evitar o prévio contraditório.

Esse cenário, evidentemente, e, no mínimo, mitiga o periculum in


mora / perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Nesse prisma, o indeferimento do pedido liminar é medida que se


impõe.

Ante o exposto, ausente o fumus boni iuris, INDEFIRO o pedido


liminar.

Defiro o pedido de ingresso da União (Fazenda Nacional) (id.


319315359) na condição de terceiro interessado e com fundamento no
art. 5º da Lei 9.469/97[5].

Providências para a i. Secretaria:

1) Cadastre-se a União (Fazenda Nacional) na condição de


terceiro interessado, e aqui representada pela PRFN1.

2) Após, notifique-se a autoridade impetrada, via Carta


Precatória, para prestar as informações no decêndio legal, nos termos
do inciso I do artigo 7º da Lei nº 12.016/09.

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3) Dê-se ciência do feito ao órgão de representação da pessoa
jurídica interessada da ANP (PRF1), encaminhando-lhe cópia da inicial
para que, querendo, ingresse no feito (art. 7º, inciso II, da Lei nº
12.016/09).

4) Após as informações ou o transcurso do prazo para tanto


in albis, dê-se vista ao Ministério Público Federal.

Por fim, faça-se a conclusão dos autos para sentença.

Intimem-se a impetrante, a ANP e a União (Fazenda Nacional).


Notifique-se.

Brasília/DF, data de validação do Sistema.

SOLANGE SALGADO
Juíza Federal da 1ª Vara – SJ/DF

[1] Art. 1º Sem prejuízo do disposto em leis especiais, a quitação de créditos tributários
exigíveis, que tenham por objeto tributos e penalidades pecuniárias, bem como contribuições
federais e outras imposições pecuniárias compulsórias, será comprovada nas seguintes
hipóteses: (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

I - transferência de domicílio para o exterior; (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

II - habilitação e licitação promovida por órgão da administração federal direta, indireta ou


fundacional ou por entidade controlada direta ou indiretamente pela União;

III - registro ou arquivamento de contrato social, alteração contratual e distrato social perante o
registro público competente, exceto quando praticado por microempresa, conforme definida na
legislação de regência; (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

IV - quando o valor da operação for igual ou superior ao equivalente a 5.000 (cinco mil)
obrigações do Tesouro Nacional - OTNs: (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

a) registro de contrato ou outros documentos em Cartórios de Registro de Títulos e Documentos;


(Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

b) registro em Cartório de Registro de Imóveis; (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

c) operação de empréstimo e de financiamento junto a instituição financeira, exceto quando


destinada a saldar dívidas para com as Fazendas Nacional, Estaduais ou Municipais. (Vide ADIN
nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1) (Vide Medida Provisória nº 526, de 2011) (Vide Lei nº 12.453, de
2011)

§ 1º Nos casos das alíneas a e b do inciso IV, a exigência deste artigo é aplicável às partes

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intervenientes. (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

§ 2º Para os fins de que trata este artigo, a Secretaria da Receita Federal, segundo normas a
serem dispostas em Regulamento, remeterá periodicamente aos órgãos ou entidades sob a
responsabilidade das quais se realizarem os atos mencionados nos incisos III e IV relação dos
contribuintes com débitos que se tornarem definitivos na instância administrativa, procedendo às
competentes exclusões, nos casos de quitação ou garantia da dívida. (Vide ADIN nº 173-6) (Vide
ADIN nº 394-1)

§ 3º A prova de quitação prevista neste artigo será feita por meio de certidão ou outro documento
hábil, emitido pelo órgão competente. (Vide ADIN nº 173-6) (Vide ADIN nº 394-1)

[2] Nas lições de Pedro Lenza (Direito Constitucional Esquematizado. 12ª ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Saraiva, 2008, p. 171-172):

“Pela referida teoria da inconstitucionalidade por ‘arrastamento’ ou ‘atração’ ou


‘inconstitucionalidade consequente de preceitos não impugnados’, se em determinado processo
de controle concentrado de constitucionalidade for julgada inconstitucional a norma principal, em
futuro processo, outra norma dependente daquela que foi declarada inconstitucional em processo
anterior – tendo em vista a relação de instrumentalidade que entre elas existe – também estará
eivada pelo vício de inconstitucionalidade ‘consequente’, ou por ‘arrastamento’ ou ‘atração’.

(...)

Naturalmente, essa técnica da declaração de inconstitucionalidade por arrastamento pode ser


aplicada tanto em processos distintos como em um mesmo processo, situação que vem sendo
verificada com mais frequência.

Ou seja, já na própria decisão, o STF define quais normas são atingidas, e no dispositivo, por
‘arrastamento’, também reconhece a invalidade das normas que estão ‘contaminadas’.

(...)

Nesse sentido, como anotam Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, ‘com efeito, se as normas
legais guardam interconexão e mantêm, entre si, vínculo de dependência jurídica, formando-se
uma incindível unidade estrutural, não poderá o Poder Judiciário proclamar a
inconstitucionalidade de apenas algumas das disposições, mantendo as outras no ordenamento
jurídico, sob pena de redundar na desagregação do próprio sistema normativo a que se acham
incorporadas’.

Trata-se, sem dúvida, de exceção à regra de que o juiz deve ater-se aos limites da lide fixados na
exordial, especialmente em razão da correlação, conexão ou interdependência dos dispositivos
legais e do caráter político do controle de constitucionalidade realizado pelo STF.”

[3] RICARDO, A. Direito Tributário. Salvador: Juspodvim, 2018.

[4] (...)

Diante do exposto, presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, DEFIRO A
MEDIDA LIMINAR requerida, para determinar a suspensão por 180 (cento e oitenta dias) do
pagamento das parcelas relativas ao Contrato de Consolidação, Assunção e Refinanciamento da
dívida pública firmado entre o Estado autor e a União, devendo, obrigatoriamente, o ESTADO
DE SÃO PAULO COMPROVAR QUE OS VALORES RESPECTIVOS ESTÃO SENDO

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INTEGRALMENTE APLICADOS NA SECRETARIA DA SAÚDE PARA O CUSTEIO DAS
AÇÕES DE PREVENÇÃO, CONTENÇÃO, COMBATE E MITIGAÇÃO À PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS (COVID-19).

(...)

(STF - MC ACO: 3363 SP – São Paulo, Relator: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Data de
Julgamento: 22/03/2020, Data da publicação: 23/03/2020)

[5] Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias,
fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais.

Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa
ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da
demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar
documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese
em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes.

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