Você está na página 1de 4

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

QUARTA CAMARA DE DIREITO PUBLICO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0071092-33.2023.8.19.0000


JUÍZO DE ORIGEM: MANGARATIBA VARA UNICA
AÇÃO ORIGINÁRIA: 0000997-24.2019.8.19.0030
JUIZ PROLATOR DA DECISÃO: RICHARD ROBERT FAIRCLOUGH
AGRAVANTE: ESTADO DO RIO DE JANEIRO
AGRAVADO: RAFAEL PEREIRA BENEDETTO

RELATORA: JDS DESEMBARGADORA MARIA AGLAÉ TEDESCO


VILARDO

Agravo de Instrumento. Cumprimento de


sentença. Créditos referentes à cobrança
indevida de imposto de renda incidente sobre
auxílio moradia de policial militar. Decisão que
considera como sendo o crédito de natureza
não-tributária. Irresignação do Estado do Rio
de Janeiro que deve ser acolhida. Cálculos
que devem considerar o disposto no Tema n°
810 do STF com relação aos créditos de
natureza jurídico-tributária. Decisão
reformada. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de agravo de instrumento em face da decisão de i-329


dos autos de origem, assim resumida:

"A respeito de atualização dos débitos


fazendários, é de se salientar que recentemente
foi promulgada a EC n. 113/2021, cujo art. 3º
trata justamente da metodologia a ser aplicada.
Estipula o referido dispositivo o seguinte: Art. 3º
Nas discussões e nas condenações que
envolvam a Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza e para fins
de atualização monetária, de remuneração do
capital e de compensação da mora, inclusive do
precatório, haverá a incidência, uma única vez,
até o efetivo pagamento, do índice da taxa
referencial do Sistema Especial de Liquidação e
de Custódia (Selic), acumulado mensalmente.
Logo ciente que o crédito em discussão é de
natureza não tributária, como visto em tópico
anterior, há que se observar os seguintes
critérios quando da atualização do cálculo: 1.Os
valores devidos devem ser atualizados até
novembro de 2021, utilizando-se como índice de
correção monetária o IPCA-e, e como juros
moratórios os incidentes nas aplicações da
poupança; 2.Após,os valores alcançados até
novembro de 2021 (item "a"), quais sejam o
principal corrigido e os juros, deverão ser
somados entre si a fim de encontrar o montante
total da dívida até o referido mês (11/2021);
3.Em seguida, a partir de dezembro de 2021,
sobre os valores encontrados no item "b" deverá
incidir, tão somente, a taxa SELIC (Emenda
Constitucional nº 113/2021), eis que a
mencionada taxa já engloba tanto a correção
monetária quanto os juros moratórios." O valor
que foi atualizado pela Contador Judicial é
referente ao período de fevereiro de 2014 a
fevereiro de 2016. Logo, não lançado pela
Emenda 113/2021. Diante de tal constatação,
rejeito a impugnação do Estado, ora executado,
de fls. 303 e homologo os cálculos do Contador
de fls. 292/296. Intimem-se. Preclusas as vias
impugnativas, expeça-se RPV em favor do
exequente.

A parte agravante argumenta haver equívoco quanto à


aplicação dos índices de correção monetária e juros, afirmando que
a natureza tributária da demanda exige a aplicação do entendimento
firmado no STF no sentido de observância dos mesmos índices que
a Fazenda utiliza para cobrança de seus créditos da mesma
natureza. Requer a reforma da decisão para reconhecimento do
excesso de execução. Requer efeito suspensivo.

Deferido efeito suspensivo pela decisão de i-17.

Sem Contrarrazões i-29.


É o relatório. Decido.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso deve


ser recebido.

No mérito, com razão o agravante.

A controvérsia gira em torno da natureza do crédito trazido à


execução. O Juízo afirmou que se trata de crédito não tributário, ao
que se opõe o agravante.

Trata-se, entretanto, de cumprimento de sentença que


condenou o ora agravante a restituir valores descontados à título de
imposto de renda incidente sobre auxílio moradia de policial militar.

O crédito possui, portanto, natureza tributária em sua origem.

Deste modo, devem os cálculos respeitar o que foi decidido a


respeito no âmbito do Tema n° 810 do STF (grifos da Relatora):

O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação


dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que
disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é
inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, aos
quais devem ser aplicados os mesmos juros
de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário, em respeito
ao princípio constitucional da isonomia
(CRFB, art. 5º, caput); quanto às condenações
oriundas de relação jurídica não-tributária, a
fixação dos juros moratórios segundo o índice
de remuneração da caderneta de poupança é
constitucional, permanecendo hígido, nesta
extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº
9.494/97 com a redação dada pela Lei nº
11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97,
com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na
parte em que disciplina a atualização monetária
das condenações impostas à Fazenda Pública
segundo a remuneração oficial da caderneta de
poupança, revela-se inconstitucional ao impor
restrição desproporcional ao direito de
propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que
não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia,
sendo inidônea a promover os fins a que se
destina.

Pelo exposto, na forma do art. 932, V, b, do CPC, DOU


PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO para reformar a decisão
agravada e determinar que sejam realizados os cálculos referentes
ao cumprimento de sentença considerando-se a natureza da relação
jurídico-tributária havida entre as partes.

Rio de Janeiro, na data da assinatura digital.

MARIA AGLAÉ TEDESCO VILARDO


JDS DESEMBARGADORA RELATORA

Você também pode gostar