Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Conceito
2. Naturezajurúlica
1
Direito civil, v. 2, p. 279.
' Roberto de Ruggiero, /11stit11ições de direito civil, v. III, p. 62, § 48.
439
também caráter real, pois aperfeiçoam-se com a entrega do dinheiro ou de
coisa fungível, por um dos contraentes ao outro.
Supõem elas a existência de um contrato principal, do qual dependem.
Não existem por si, sendo inconcebível imaginá-las isoladamente, sem es-
tarem atreladas a uma avença, considerada principal.
O caráter real decorre do fato de se aperfeiçoar pela entrega ou trans-
ferência da coisa (dinheiro ou bem fungível) de uma parte a outra. O simples
acordo de vontades não é suficiente para caracterizar o instituto, que depen-
de, para sua eficácia, da efetiva entrega do bem à outra parte.
3. Espécies
As arras são confirmatórias ou penitenciais. Sua principal função é
confirmar o contrato, que se toma obrigatório após a sua entrega. Prova o
acordo de vontades, não mais sendo lícito a qualquer dos contratantes res-
cindi-lo unilateralmente. Quem o fizer, responderá por perdas e danos, nos
termos dos arts. 418 e 419 do Código Civil.
Preceitua o primeiro dispositivo citado:
"Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá
a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu
as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua
devolução mais o equivalente, com atualização rnonetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado".
A parte inocente pode conformar-se apenas com ficar com o sinal dado
pelo outro, ou com o equivalente, ou pode, ainda, "pedir indenização su-
plementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima".
Pode, também, "exigir a execução do contrato, com as perdas e danos,
valendo as arras como o mínim.o da indenização" (art. 419). Observa-se
que as arras representam o mínimo de indenização, e que pode ser pleitea-
da a reparação integral do prejuízo. Não havendo nenhuma estipulação em
contrário, as arras consideram-se confirmatórias.
Podem, contudo, as partes convencionar o direito de arrependimento.
Neste caso, as arras denominam-se penitenciais, porque atuam como pena
convencional, como sanção à parte que se valer dessa faculdade. Prescreve,
com efeito, o art. 420 do Código Civil:
"Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qual-
quer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória.
Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quern
as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não ha-
verá direito a indenização suplementar".
440
Acordado o arrependimento, o contrato toma-se resolúvel, responden-
do, porém, o que se arrepender, pelas perdas e danos prefixados modica-
mente pela lei: perda do sinal dado ou sua restituição em dobro. A duplica-
ção é para que o inadimplente devolva o que recebeu e perca outro tanto.
Não se exige prova de prejuízo real. Por outro lado, não se admite
a cobrança de outra verba, a título de perdas e danos, ainda que a parte
inocente tenha sofrido prejuízo superior ao valor do sinal. Proclama a
Súmula 412 do Supremo Tribunal Federal: "No compromisso de compra
e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem
o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indeni-
zação maior, a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os
encargos do processo".
O sinal constitui, pois, predeterminação das perdas e danos em favor
do contratante inocente. A jurisprudência estabeleceu algumas hipóteses em
que a devolução do sinal deve ser pura e sirnples, e não em dobro: a) ha-
vendo acordo nesse sentido; b) havendo culpa de ambos os contratantes
(inadimplência de ambos ou arrependimento recíproco); e c) se o cumpri-
mento do contrato não se efetiva em razão do fortuito ou outro motivo es-
tranho à vontade dos contratantes.
441