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Direito das Obrigações

​Duarte Canau
1.Direito das Obrigações: Parte Geral
1.1 Definição de Obrigação

O artigo 397º do CC apresenta uma definição do que é uma obrigação, sendo que
estaríamos a observar uma linguagem semelhante se observarmos uma definição
dada por:

Menezes Leitão ​- “não se pode considerar um direito incidente sobre os bens do


devedor, sendo antes um vínculo pessoal entre 2 sujeitos através do qual 1 deles
pode exigir que o outro se comporte de determinada maneira em seu benefício”.

1.2. Características das Obrigações:

Patrimonialidade​- susceptibilidade de a obrigação puder ser avaliável em


dinheiro. No entanto fica ressalvado pelo artigo 398º.2 a possibilidade de
constituir obrigações sem caráter patrimonial.

Antunes Varela​- pretende excluir do âmbito da obrigação 2 tipos de prestação: os


simples caprichos e manias; situações tuteladas por outras ordens normativas,
como a religião;
Menezes Cordeiro​- não há obstáculos a que se constituam obrigações relativas a
meros caprichos ou manias, se corresponderem a situações oriundas de outros
complexos normativos é que não será admissível a constituição de obrigações com
esse objeto;

Mediação devida​- o credor não pode exercer direta e imediatamente o seu direito,
necessitando da colaboração do devedor para obter a satisfação do seu interesse (
só através da conduta do devedor o credor consegue obter a satisfação do seu
interesse).

Relatividade: esta característica é susceptível de ser entendida em dois sentidos


diferentes:
- prisma estrutural​: o direito de crédito estrutura-se com base numa relação
entre credor e devedor;
- prisma de eficácia​: o direito de crédito é apenas eficaz contra o devedor

1
Autonomia: não poderiam ser considerados como obrigações aquelas situações
que embora estruturalmente obrigacionais viessem a ser reguladas por outros
ramos do direito( como a obrigação de pagar impostos);

1.3 Distinção entre Direitos de Crédito e Reais

O critério utilizado para distinguir direitos reais e direitos de crédito é o ​critério


do objeto​:
- Direitos Reais:​ são direitos sobre as coisas;
- Direitos de Crédito: direitos a prestações ( ou seja a uma conduta do
devedor);
Outra distinção pronta é a de que:
- Direitos de Crédito: caracterizam-se por necessitar da mediação ou
colaboração do devedor para ser exercido. O credor necessita assim da
colaboração do devedor para satisfazer o seu interesse;
- Direitos Reais: o credor não necessita da colaboração de ninguém para
exercer o seu direito, já que o seu direito incide direta e imediatamente
sobre uma coisa;
1.4. Objeto da Obrigação: A Prestação

Prestação- ​resulta do artigo 397º que a prestação é a conduta que o devedor se


obriga a desenvolver em benefício do credor. A realização da prestação pelo
devedor considera-se como cumprimento, importando a extinção da obrigação
(762º.1). A prestação pode consistir numa ação como numa omissão (398º.1).

Requisitos da Prestação:

-Possibilidade Física e Legal: para que a impossibilidade da prestação produza


a nulidade do negócio jurídico, é necessário que ela constitua uma impossibilidade
originária (401º.1).

Se a prestação se vier a tornar supervenientemente impossível após a constituição


do negócio, este não é nulo. A obrigação é que se vai extinguir (790º).

2
Pelo artigo 401º.2, podemos rever casos em que a prestação é originariamente
impossível mas a validade do negócio não é afetada ( casos em que o negócio é
celebrado para a hipótese de a prestação se tornar possível, ou em que o negócio
está sujeito a condição suspensiva). É assim admissível a celebração de negócios
para a eventualidade de a prestação se tornar possível.

As prestações são em princípio fungíveis pelo que o seu cumprimento pode ser
efetuado por qualquer pessoa (767º.1). Se só o devedor estiver impossibilitado de
prestar deve fazer-se substituir no cumprimento da obrigação.

- Licitude: ​o objeto negocial não pode ser contrário a qualquer disposição


que tenha caráter injuntivo ( 280º.1 e 294º) . A ilicitude pode ser de
resultado ou de meios: negócio vise objetivamente um resultado ilícito ou
proponha a alcançar um resultado lícito, através de meios cuja utilização é
proibida por lei;
- Determinabilidade: a prestação tem que ser determinável (280º), no
entanto indeterminável não se deve confundir com indeterminado, pois em
caso de indeterminação aplicar-se-á o artigo 400º.

- Não contrariedade à ordem pública e aos bons costumes (280º.2): pela


posição do Menezes Cordeiro dever-se-ão abranger as preferências dos bons
costumes, as regras de conduta e as de exercício de certas profissões;

1.5. Modalidades de Prestações:


-Fungível / Não Fungível: fungível é aquela que pode ser realizada por outrem
que não o devedor (767º.1), é infungível quando só o devedor pode realizar a
prestação, não sendo permitida a sua realização por terceiro, sendo que a
substituição do devedor prejudicará o credor ou só possa mesmo ser realizada pelo
devedor.
- Instantâneas/ Duradouras: as instantâneas são aquelas cuja execução ocorre
num único momento, já as duradouras são aquelas cuja execução se prolonga no
tempo, em virtude de terem por conteúdo ou um comportamento prolongado no
tempo ou uma repetição sucessiva de prestações isoladas por um perído do tempo.

3
A realização global das duradouras dependem sempre do decurso de um período
temporal, durante o qual a prestação deve ser continuada ou repetida , podendo
dividir-se entre prestações: continuadas ( não sofrem qualquer interrupção, como
no fornecimento de eletricidade) e periódicas ( sucessivamente repetidas em
períodos de tempo, como o pagamento de juros);

-Resultado / Meios: ​nas prestações de resultado, o devedor vincular-se-ia


efetivamente a obter um resultado determinado, respondendo por
incumprimento se esse resultado não fosse obtido. Nas prestações de meios, o
devedor não estaria obrigado à obtenção do resultado mas apenas a atuar com a
diligência necessária para que esse resultado seja obtido.

-Divisível/ Indivisível: ​há divisibilidade sempre que a prestação possa ser


fraccionada, sem prejuízo para o credor.

- Determinadas/ Indeterminadas: ​resulta dos artigos 280º/400º, que a prestação


enquanto objeto da obrigação, não necessita de se encontrar determinada no
momento da conclusão do negócio, bastando que seja determinável.

As primeiras são aquelas em que a prestação se encontra completamente


determinada no momento da constituição da obrigação. As segundas são aquelas
em que a determinação da prestação ainda não se encontra realizada.

1.6. Modalidades das Obrigações:


Obrigações Naturais
Prevista no artigo 402º. O que as caracteriza é a não exigibilidade judicial da
prestação, resumindo-se a sua tutela jurídica à possibilidade de o credor conservar
a prestação espontaneamente realizada.
Não podem ser convencionadas livremente pelas partes no exercício da sua
autonomia privada. Só poderão admitir-se obrigações com base em deveres de
ordem moral ou social que correspondam a um dever de justiça

ex: Uma dívida prescrita. Alguém que recebe uma quantia de dinheiro de outra
pessoa, devia ter devolvido o dinheiro mas não devolve. O devedor devia ter

4
observado o dever de justiça subjacente e devolver o que lhe foi prontamente
emprestado;

As obrigações naturais não se podem extinguir por prescrição, uma vez que as
consequências desta correspondem precisamente em transformar uma obrigação
civil em natural;
Existe uma discussão doutrinária sobre a natureza jurídica das obrigações naturais:

- Relações de Facto:
Guilherme Moreira​: são como a posse em matéria de direitos reais, relações de
facto que derivam de certos efeitos jurídicos, e designadamente o de que sendo
voluntariamente cumpridas não se pode pedir a restituição do que haja pago,
produzindo efeitos correspondentes aos que resultam das obrigações;

Jaime Gouveia​: A obrigação natural será pois o próprio dever moral, cuja prática
realizada pelo devedor, a lei em certos casos, atribui efeitos jurídicos;

- Dever Oriundo de Outras Ordens Normativas:


Antunes Varela: as obrigações naturais são deveres oriundos de outras ordens
normativas ( ética imperativa), apenas relevantes para o direito se forem deveres de
justiça

- Obrigações Jurídicas ( cuja lei não permite executar):


Menezes Cordeiro : ​pelo artigo 404º a disciplina geral das obrigações civis aplica-se
às naturais: logo estas são jurídicas, ainda que de vínculo mais frágil;
- Dever de Justiça
Menezes Leitão: A obrigação natural não constitui uma verdadeira obrigação
jurídica, na medida em que nela não existe um vínculo jurídico por virtude do
qual uma pessoa fique adstrita para com outra à realização da prestação (397º). A
existência de um dever dever moral e social corresponde a um dever de justiça, não
basta para se considerar subsistente na obrigação natural um vínculo jurídico, ao
negar-lhe a faculdade de exigir judicialmente ocumprimento;

Sem a faculdade de exigir o cumprimento, o direito de crédito não tem conteúdo


podendo nunca considerar-se como um valor no ativo patrimonial do credor;

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Obrigações Genéricas:
Aquelas em que o objeto da prestação se encontra determinado apenas quanto ao
género ou seja a prestação encontra-se determinada apenas por referência a uma
certa quantidade, mas não está ainda concretamente determinada1 ( artigo 539º).

exemplo:​ Obrigação de entrega de 20 garrafas de vinho

A obrigação genérica implica naturalmente que tenha que ocorrer um processo de


individualização de espécies do mesmo dentro do género. É a chamada escolha (
nos termos do artigo 400º), que pode caber a ambas as partes. A regra é a de que a
escolha cabe ao devedor ( nos termos do artigo 539º).2

Mas terá o devedor absolutamente livre de escolha ?

Poderá por exemplo, escolher o vinho de pior qualidade aquando da entrega?


-O ​professor Menezes Cordeiro responde a esta questão dizendo que o devedor
deverá ser obrigado a entregar uma coisa de qualidade média, invocando o regime
da integração dos negócios jurídicos , segundo a boa fé (239º), como referência.

-O ​professor Menezes Leitão acrescenta que, a partir do artigo 400º , resulta de


que a prestação deve ser realizada segundo juízos de equidade, implica que esta
deve ser adequada à satisfação do interesse do credor.

Qual é o momento em que tem lugar a transferência de propriedade, sobre as coisas


que vão servir para o cumprimento da obrigação ( importância para efeitos de
risco)?

Na obrigação genérica a transferência da propriedade não pode ocorrer no


momento da celebração do contrato (408º.1).
A transmissão da propriedade ocorre no momento da concentração da obrigação,
quando a obrigação passa de genérica a específica, não se exigindo que essa
concentração seja conhecida de ambas as partes.

1
​Pelo contrário a obrigação é específica quando o género e o espécime das prestações se encontrarem determinados;
2
​As exceções, sobre quando a escolha podem caber a um terceiro encontram-se no artigo 539º

6
A lei portuguesa consagra a “ Teoria da Entrega” (540º), que refere que enquanto
a prestação for possível com coisas do género estipulado não fica o devedor
exonerado pelo facto de terem perecido aquelas com que se dispunha a cumprir,
consagrando a irrelevância da escolha para efeitos da concentração da obrigação
genérica.

Se o devedor continua a ter que entregar coisas do mesmo género, significando


que a obrigação genérica ainda não se concentrou, ocorrendo a​penas com o
cumprimento.

É esse o momento da transferência da propriedade da propriedade sobre as cosias


objeto da obrigação genérica (408º.2), a transmissão da propriedade sobre coisas
genéricas exige a sua concentração que normalmente apenas ocorre mediante a
entrega pelo devedor ( artigo 540º).
As exceções a esta regra encontram-se no artigo 541º.
Concluímos que no nosso direito, a concentração da obrigação genérica, quando a
(escolha que compete ao devedor) apenas se dá no momento do cumprimento,
podendo até lá o devedor revogar escolhas que anteriormente tenha realizado;

Quando a escolha compete ao credor ou a terceiro, a nossa lei adopta a teoria da


escolha do artigo (542º), que uma vez realizada passa a ser irrevogável. A escolha
por parte do credor ou pelo terceiro concentra imediatamente a obrigação, desde
que declarada respetivamente ao devedor ou a ambas as partes.

Obrigações Alternativas:

Consistem também em modalidades de prestações indeterminadas, que se


caracterizam por existirem duas ou mais prestações de natureza diferente, em que
o devedor se exonera com a mera realização de uma delas, que por escolha, vier a
ser designada ( 543º). Só constituem obrigações alternativas aquelas que
pressupõem uma escolha entre prestações.

exemplo: Se o devedor se obriga a entregar ao credor o barco X ou automóvel Y


cumpre a obrigação se entregar qualquer um destes objetos ( apenas uma é
concretizável através da escolha).

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Na falta de determinação em contrário, a escolha pertence ao devedor (
543º.2)podendo também competir a terceiro ( 549º) .
A escolha tem que se verificar entre uma ou outra das prestações, não sendo
permitido, que aquele a quem incumbe a escolha decida realizá-la entre parte de
uma prestação ou parte de outra ( 544º).
Não é permitida ao devedor a posterior revogação da escolha efetuada, uma vez
que após a realização da escolha, só é exonerado efetuando a prestação escolhida. A
escolha é igualmente irrevogável quando compete ao credor ou a terceiro
(549º+542º).
Se alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido a lei prevê a
devolução desta faculdade à outra ( 542º.2+548º+549º) .
As obrigações alternativas têm um regime especial em sede de impossibilidade da
prestação, quando esta se verifica antes de a escolha ter ocorrido. Devemos
distinguir entre várias modalidades de ​impossibilidade​:

→ Casual​( não é imputável a nenhuma das partes- 545º)

exemplo: ​Se o devedor se comprometeu a entregar ao credor o carro X ou barco Y e


este último naufraga em virtude de um temporal, é o devedor que tem que
suportar esse prejuízo, devendo entregar ao credor o carro X.

Imputável a uma das partes:


→ ​Imputável ao Devedor​( previsto no artigo 546º, ele deve efetuar uma das
prestações possíveis ou indemnização pelos danos de não ter realizada a prestação
que se tornou impossível);

→Imputável ao Credor (​ aplica-se à situação o disposto no artigo 547º)


Se a escolha pertencer:
Ao credor: considera-se a obrigação por cumprida, sendo que o mesmo ao
impossibilitar culposamente uma das prestações, deve ser equipara à situação de
ele a escolher ;
Ao devedor: a obrigação considera-se por cumprida a menos que o devedor prefira
realizar outra prestação e ser indemnizado pelos danos que haja sofrido;

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Impossibilidade de ser imputável a uma das partes e a escolha caber a terceiro:

Antunes Varela - se a impossibilidade é imputável ao devedor ( 546º), a escolha


incumbe a terceiro. Será o terceiro a escolher entre realizar uma das prestações
possíveis ou pedir uma indemnização pelos danos.
O terceiro não poderia, optar pela resolução do contrato. quando a
impossibilidade for imputável ao credor (547º), caberá igualmente ao terceiro
escolher considerar cumprida a obrigação ou determinará ao devedor que realize a
prestação possível e peça indenização pelos danos resultantes de não ter sido
realizada a prestação que se tornou impossível;

Menezes Cordeiro​- quando a obrigação se torna impossível, o terceiro perde a


faculdade de realizar a escolha, uma vez que ele só pode escolher entre 2 prestações
possíveis e não entre uma prestação e uma indeminização. Se a escolha pertencer a
terceiro e a impossibilidade for imputável ao devedor deve passar a ser o credor a
escolher a prestação possível, a indeminização ou a resolução do contrato (546º).
Se for imputável ao credor, deverá passar a ser o devedor a escolher entre
considerar cumprida a obrigação ou realizar a prestação (547º);

Menezes Leitão​- Quando as partes deferem a escolha a terceiro, fazem-nos


exclusivamente para efeitos de determinação da prestação ( 400º) e não para
exercer os direitos que lhes competem quando a outra parte culposamente
impossibilita a realização da prestação;

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ESQUEMA:

Obrigações Pecuniárias:

Têm dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o valor que as respetivas
espécies monetárias possuam. Isto são requisitos cumulativos, como por exemplo:
Se se entregarem notas para integrar uma coleção, isto não será uma obrigação
pecuniária;

Modalidades:
- Quantidade​( artigo 550º, tem por objeto uma quantidade de moeda com
curso legal no país);
Dois princípios reguladores:
□ ​Curso Legal ( o cumprimento das obrigações pecuniárias deve ser realizada
apenas com espécies monetárias a que o Estado reconheça função liberatória
genérica. Tem sempre por objeto uma quantia de unidades monetárias, devendo o
cumprimento ser realizado com espécies, ou seja moedas/notas);

□ ​Nominalismo Monetário ​( proporcionar ao credor o valor correspondente às


espécies monetárias entregues, que possa ser utilizado como meio geral de troca);

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por exemplo: ​Tendo em conta o fenómeno inflação / deflação, o artigo 550º, prevê
que o cumpriemnto das obrigações pecuniárias se faz pelo valor nominal da moeda
no momento do cumprimento;

- Moeda específica ​( situações em que a obrigação pecuniária é


convencionalmente limitada a espécies metálicas ou ao valor delas - artigo
552º);

- Moeda Estrangeira ( aquelas em que a prestação é estipulada em relação a


espécies monetárias que têm curso legal apenas no estrangeiro- artigo 558º);

Obrigações de Juros:

Correspondem à remuneração da cedência ou diferimento da entrega de coisas


fungíveis por um certo lapso de tempo. Os juros representam assim uma prestação
devida como compensação ou indemnização pela privação temporária de uma
quantidade de coisas fungíveis denominada de capital e pelo risco de reembolso
desta;

1.7.Indeterminação e pluralidade das partes na relação obrigacional:

Indeterminação do credor:

No artigo 511º é referido que o credor não pode ficar determinado no momento
em que a obrigação é constituída.. A indeterminação temporária do credor pode
resultar de se aguardar a verificação de um determinado facto futuro e incerto;

exemplo​: Alguém oferecer 100 euros a quem encontrar objeto X

Pluralidade de partes na relação obrigacional

Outro critério de classificação das obrigações reside número de sujeitos que


participa na relação obrigacional . A obrigação pode abranger várias pessoas com
outras várias. Se abranger mais do que 2 sujeitos, tendo assim uma pluralidade de
devedores, fala-se em obrigação plural.

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Obrigações conjuntas ou parciárias:
Cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao credor ou credores a sua
parte na prestação e cada um dos credores só pode exigir do devedor ou devedores
a parte que lhe cabe.
exemplo: A, B e C obrigam-se a entregar a D a quantia de 900 euros, D apenas
poderá exigir de A que lhe entregue 300 euros, ou seja a sua parte da dívida.

Obrigações solidárias:
Nelas qualquer um dos devedores está obrigado perante o credor a realizar a
prestação integral ( artigo 512º).

Características:
- Identidade da prestação em relação a todos os sujeitos da obrigação;
- Extensão integral do dever de prestar ou do direito à prestação em relação
respetivamente a todos os devedores;
- A solidariedade dos devedores só existe quando resulte da lei ou da vontade
das partes ( 513º)3;

▢​Solidariedade Passiva (a realização da prestação integral por um dos devedores


libera todos os outros devedores em relação ao credor-512º):

- Relações externas: em relação ao credor a solidariedade caracteriza-se por


uma maior eficácia do seu direito que se pode exercer integralmente contra
qualquer um dos devedores ( 512º.1+ 519º.1)4;
- Relações Internas​: entre os devedores caracteriza-se pelo facto de o devedor
que satisfazer a prestação acima da parte que lhe competir adquirir um
direito de regresso sobre os outros devedores pela parte que lhes compete
(524º);

▢ Solidariedade Ativa ( a realização da prestação integral por um dos credores


libera o credor no confronto com todos os credores-512º/ Embora o credor que
recebeu mais do que lhe compete esteja obrigado a satisfazer aos outros a parte que

3
​Se nada tiver sido estipulado pelas partes nem resultar da própria lei, a regra não é assim da solidariedade mas da
conjução)
4
​Não podendo o benefício da divisão ser invocado depois ( 518º)

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lhes compete obrigado a satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito
comum- 533º ):

- Relações Externas ​: em relação aos credores, apenas um deles pode exigir por
si só a prestação integral, liberando-se o devedor perante todos com a
realização da prestação a qualquer um dos credores ( 512º.1). O devedor
pode, escolher o credor solidário a quem realiza a prestação, enquanto não
tiver sido judicialmente citado por um credor cujo crédito se encontre
vencido ( 528º.1);
- Relações Internas: ​caracteriza-se pelo facto de o credor cujo direito foi
satisfeito além da parte que lhe competia na relação ter a obrigação de
satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito comum;

Obrigações Plurais Indivisíveis:


As obrigações conjuntas pressupõe a divisibilidade da prestação, já que se a
prestação for indivisível não seria impossível exigir apenas uma parte dos
devedores, sem prejuízo para o interesse do credor ( artigo 535º);

exemplo​: Se A, B e C se comprometeram a entregar um automóvel a D, o credor


não poderá exigir apenas de um deles a realização de uma parte da prestação, uma
vez que essa situação implicaria a destruição do automóvel;

Características:
- A lei refere que se se verificar a extinção da obrigação em relação a algum ou
alguns dos devedores, o credor não fica inibido de exigir a prestação dos
restantes obrigados, contanto que lhes entregue o valor da parte que cabia
ao devedor ou devedores exonerados (536º);
- Quanto à impossibilidade da prestação por facto imputável a algum ou
alguns dos devedores, a lei dispõe que outros ficam exonerados ( 537º);
exemplo: A destrói culposamente o automóvel , só ele deverá ser sujeito à
indemnização perante impossibilidade culposa (809º.1)
Se a obrigação for indivisível com pluralidade de credores a lei refere que qualquer
um deles tem o direito de exigir a indemnização por inteiro. 5

5
Menezes Cordeiro- regime significa que a criação judicial do devedor por um dos credores transforma a obrigação
conjunta em solidária;

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2. Fontes das Obrigações:
A obrigação constitui um efeito jurídico, que tem sempre na sua origem um facto
que o desencadeia, denominadas por fontes de obrigações;
As obrigações podem resultar de diversos fenómenos jurídicos, sendo denominado
fonte da obrigação o facto jurídico de onde emerge a relação obrigacional. A
enumeração das fontes seguir-se-á.

2.1 Contrato
Os negócios jurídicos são distinguidos entre :
- Unilaterais​ ( possuem apenas uma parte);
- Contratos​ ( possuem duas ou mais partes);

O professor ​Antunes Varela define contrato como um a​cordo vinculativo, assente


sobre 2 ou mais declarações de vontade contrapostas , mas perfeitamente
harmonizados entre si, que visam estabelecer uma regulamentação unitária de
interesses.

Por ​parte deve-se entender não uma pessoa mas antes um interesse, o que poderia
implicar que duas ou mais pessoas constituírem uma única parte, quando tivessem
interesses comuns, daí a exigência precisamente da estipulação contratual.

Menezes Cordeiro faz uma distinção entre negócios unilaterais e contratos ,


baseado num critério dos e​ feitos que venham a ser desencadeados:

→ Baseado nos efeitos que venham a ser desencadeados: nos negócio unilaterais
os efeitos não diferenciam as pessoas que eventualmente neles tenham intervindo,
pois neles há apenas uma pessoa, uma declaração um interesse”.

→Contratos: ​os efeitos diferenciam duas ou mais pessoas, isto é: fazem, surgir a
cargo de cada interveniente, regras próprias que devam ser cumpridas e possam ser
violadas independentemente uma das outras;

O professor ​Menezes Leitão apresenta uma distinção baseada na necessidade de


apenas uma ou mais declarações negociais , sendo que por exemplo as doações

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seriam um contrato pois exigem duas ou mais declarações negociais para a sua
efetivação ( 940º).Não são os efeitos do negócio que permitem distinguir os
contratos dos negócios unilaterais, mas antes o seu modo de formação.

2.2 Modalidade de Contratos


2.2.1 Forma
Não Formais -​regra geral há uma desnecessidade de qualquer forma especial para
a celebração do contrato, admitindo-se que as declarações das partes podem ser
exteriorizadas de qualquer meio.

Formais- são excepcionais todas as disposições que exigem sob pena de nulidade, a
adopção de uma forma especial para a declaração negocial;

2.2.2 Modo de Formação


Reais ​Quod Constitutionem​- aqueles cuja celebração se exige a tradição ou
entrega da coisa de que são objeto.

Consensuais- a​queles em essa entrega é dispensada a entrega.

Tem vindo a ser discutido na doutrina se a exigência de tradição da coisa para a


constituição de certos contratos não poderia ao abrigo da autonomia privada ser
dispensada. o professor Menezes leitão diz que só se pode colocar relativamente às
situações em que a referência à tradição aparece apenas na descrição do tipo legal,
já que sempre que a lei exige imperativamente a tradição para a constituição do
contrato, é claro que as partes não as podem dispensar.
A exigência de tradição tem uma clara função útil de não permitir que a execução
do contrato ocorra numa fase posterior à da declaração negocial, exigindo que a
execução do contrato se manifeste precisamente nessa declaração negocial.

2.2.3 Efeitos
- Obrigacionais e Reais:
→ Obrigacionais ( criação de direitos de crédito e obrigações, sendo a sua eficácia
sobre a esfera jurídica das partes imediata);
→ Reais ​( pode suceder que a sua eficácia não seja imediata, o que sucede sempre
que não estejam preenchidos, no momento da celebração do contrato, os

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requisitos necessários para que o contrato dê origem a uma situação jurídica de
natureza real);

Regra geral a transmissão de direitos ocorre por mero efeito do contrato ( 408º.1).
A transmissão da propriedade no momento da celebração do contrato apenas
ocorre relativamente a coisas que já possuam os requisitos necessários para sobre
elas ser constituído um direito real.

Ex: Em relação às coisas futuras a transferência da propriedade é diferida para um


momento posterior ao da celebração do contrato ( 408º.2).

- Cláusula de Reserva e Propriedade:


Ocorrendo a transferência da propriedade da celebração do contrato no momento
desta celebração, a transmissão dos bens é facilitada em prejuízo dos interesses do
alienante. Daí resultou uma cláusula de de reserva de propriedade ( 409º),
convenção pela qual o alienante reservar para si a propriedade da cosia, ate ao
umpriemnto total ou aprcial das obrigações da outra parte, ou até à verificação de
qualquer outro evento. A cláusula de reserva da propriedade pode ser celebrada
em relação a quaisquer bens ( mas a lei dispõe que, no caso de bens imóveis ou
sujeitos a registo só a cláusula constante do registo é oponível a terceiros ( 409.2)

A cláusula implica que por acordo entre vendedor e comprador, a transmissão da


propriedade fique diferida para o momento do pagamento integral do preço. A
função é a de defender o vendedor das eventuais consequEncias do
incumpriemento do comprador.
A posição jurídica do comprador relativamente à coisa a partir do momento em
que é celebrada a cláusula de reserva de propriedade, sendo sustentado por alguns
a “ condição suspensiva”6.

2.2.4 Sinalagmáticos ou não sinalagmáticos


Esta denominação surge de o facto de as obrigações forem recíprocas para ambas
as partes ou não, ficando assim ambas simultaneamente na posição de credores e
devedor.

6
Galvão Telles, Antunes Varela e Almeida Costa;

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➥O professor ​Menezes Cordeiro diz que num contrato há adstrição a cargo de
ambas as partes , mesmo nos não sinalagmáticos ( ou nos gratuitos), os contratos
produzem os seus efeitos perante as duas partes, as quais devem respeitá-los.

Em certas circunstâncias apenas uma das partes fica vinculada ( a outra irá dispor
do direito potestativo de desencadear para ambas as partes efeitos contratuais),
isto sucede na promessa unilateral ( 411º)em que uma das partes fica vinculada a
ter de celebrar o contrato definitivo, enquanto a outra pode decidir se quer ou não
uma promessa. è claramente diferente da sinalagmaticidade: um contrato não
sinalagmático fixa um regime relevante entre as partes, sem inserir, uma delas na
posição potestativa de tudo desencadear, podendo depender da mera vontade uma
das partes.

➥O professor ​Menezes Leitão ​diz porém que esta classificação não se justificará ,
ao dizer que se só uma das partes tem uma obrigação ou dizer que uma parte está
vinculada é a mesma coisa ( no exemplo do contrato-promessa unilateral
parece-nos clara a inexistência de sinalagma , pois só uma das partes tem a
obrigação de celebrar o contrato definitivo).

Os contratos sinalagmáticos opõe-se assim aos não sinalagmáticos, que podem ser
unilaterais, em que apenas uma das partes assume uma obrigação ou bilaterais
imperfeitos em que uma das partes assume uma obrigação, mas a outra apenas
realiza uma prestação em circunstâncias eventuais.
Reconduz-se à existência de obrigações recíprocas para ambas as partes do
contrato ou apenas a uma delas.

Exemplo: Compra e venda onde se pode vislumbrar a existência de obrigações


para ambas as partes: a obrigação de entrega da coisa para o vendedor e a
obrigação de pagamento do preço para o comprador.

Sinalagmáticos Funcionais: nexo entre as duas obrigações tem a consequência de


uma interdependência entre as duas prestações que se deve manter durante toda a
vida do contrato, estabelecendo-se por isso que uma prestação não deve ser
executada sem a outra.

17
Aspetos do regime:
- Excepção de não cumprimento do contrato ( cada uma das partes pode
recusar a sua prestação enquanto a outra não efetuar a que lhe cabe- 428º);
- Resolução por incumprimento ( o contraente fiel pode resolver o contrato
se a outra parte incumprir a sua obrigação -801º.2);
- Caducidade do contrato sinalagmático por impossibilidade (
impossibilitação de uma das prestações e determina a restituição da outra -
795º1);

2.2.5 Contratos Onerosos e Gratuitos


→Oneroso​: implica atribuições patrimoniais para ambas as partes
exemplo:​ Compra e Venda

→Gratuito: ​implica atribuições patrimoniais para apenas uma delas ;


exemplo:​ Doação

Existe no entanto a possibilidade um contrato ser simultaneamente oneroso e


gratuito, neste caso o contrato a favor de terceiro em que o promitente que realiza
a prestação de terceiro não recebe de qualquer contrapartida deste, ams pode vir a
recebê-la do promissário;

Dentro dos contratos Onerosos encontramos:


Contrato Comutativo - quando as ambas as atribuições patrimoniais se
apresentam como certas;
Contrato Aleatório​- quando pelo menos uma das atribuições patrimoniais se
apresenta como incerta que quando à sua existência, quer quanto ao seu conteúdo
( ex: contratos de jogo e aposta)

2.2.6. Nominados e Inominados


Contrato Nominado- quando a lei reconhece como categoria jurídica através de
um ​nomen iuris.
Contrato Inominado- ​quando a lei não o designa através de um nomen iuris, não
o reconhecendo, assim nas suas categorias contratuais.

2.2.7 Típicos e Atípicos

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Contrato Típico-​quando o seu regime se encontra previsto na lei.
Contrato Atípico-​quando o seu regime não se encontra previsto na lei.

2.2.8 Contratos Mistos


Contrato Misto - aquele que reúne em si regras de dois contratos total /
parcialmente típicos, assumindo-se como um contrato atípico por não
corresponder integralmente a nenhum tipo integral regulado por lei ( resulta da
adopção de regras de dois ou mais contratos típicos).

Categorias:
- Múltiplos: ​partes estipulam que uma delas deve realizar prestações
correspondente a dois contatos típicos distintos, enquanto a outra realiza
uma única contraprestação comum.
➥​exemplo: Se alguém vender um automóvel a outrem e simultaneamente
comprometer a conduzi-lo.

- Duplo: contratos em que uma parte se encontra obrigada a uma prestação


típica de tipo contratual, enquanto que a contraparte se encontra obrigada
a uma contraprestação típica oriunda de outro tipo contratual.
➥​exemplo: ​Alguém arrenda uma casa contra a obrigação da outra parte de realizar
serviços de limpeza de prédio.

- Misto stricto sensu: contratos em que é usada uma estrutura própria de


um tipo contratual para preencher uma função típica de outro tipo
contratual.
➥​exemplo: ​Alguém vender uma casa pelo preço de 1000 € ( o preço é tão baixo
que é meramente simbólico).

- Complementares: aqueles em que são adoptados os elementos essenciais de


um determinado contrato, mas aparecem acessoriamente elementos típicos
de outros contratos.
➥​exemplo:​Venda de um automóvel com a obrigação acessória de o vendedor
realizar a manutenção do veículo.

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Nos contratos mistos qual o regime que deve ser aplicado? ( uma vez que as
partes, ao reunirem no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios total ou
parcialmente negociados na lei, provocam sempre um conflito de regimes legais
potencialmente aplicáveis).
→ ​Almeida Costa: ​faz apelo aos critérios de integração dos negócios jurídicos
(239º), mas em primeiro lugar deve ser averiguada a possibilidade de aplicação
analógica da disciplina de algum / alguns contratos típicos, o que corresponderá à
teoria da analogia;
→ ​Menezes Cordeiro: ​perante um contrato misto, devemos indagar, com recurso
ao sentido objetivo do conjunto, à finalidade comum das partes e às valorações
envolvidas, qual o centro de gravidade a relevar. Na presença de contratos mistos
cujo tipo básico contraire normas imperativas, temos: - ou que se recorra ao
método da combinação, de modo a assegurar a aplicação da parte injuntiva; ou se
cai na nulidade, por contrariedade à lei (280º.1 e 294º), salva a hipótese de
conversão (293º).
Mais relevante será a vontade das partes. Ao confeccionar um contrato misto,
poderão ter visado, muito simplesmente o afastamento das normas típicas que não
lhes conviesse. A vontade contratual deve pois ser respeitada, apenas com uma
prevenção: a de que não deve ser contrariada pelo conjunto, que prevalece, salvo
vício na conformação ou na exteriorização da vontade.

2.2.9 União de Contratos


Ao contrário de nos contratos mistos, na união de contratos a celebração conjunta
de diversos contratos, unidos entre si. Esta permite que cada contrato mantenha a
sua autonomia, possibilitando a sua individualização face ao conjunto.

Formas:
→União Externa: ligação entre os diversos contratos resulta apenas da
circunstância de serem celebrados ao mesmo tempo.
→União Interna: apresentam-se ligados entre si por uma relação de dependência,
na altura da sua celebração uma das partes estabelece que não aceitaria celebrar um
dos contratos sem o outro.
→ União Alternativa: partes declaram pretender ou ou outro contrato,
consoante ocorrer ou não verificação de determinada condição.

20
2.3. Contratos Preliminares
Contratos cuja execução pressupõe a celebração de outros contratos. Muitas vezes
ocorrem situações em que falta esta efetiva vinculação embora as partes assumam
certos compromissos durante a fase das negociações, o que corresponde ao
fenómeno que ​Menezes Cordeiro​ denomina de contratação mitigada.

Vamos agora ver algumas das modalidades mais relevantes.

2.3.1 Contrato-Promessa
A definição encontra-se prevista no artigo 410º.1, vista como a convenção pela
qual alguém se obriga a celebrar um novo contrato ou como ​Calvão Silva diria “ a
convenção pela qual além se obriga a celebrar certo negócio jurídico por forma a
abranger tanto negócios bilaterais ou contratos como negócios unilaterais”. O
contrato- promessa caracteriza-se especialmente pelo seu objeto, uma obrigação de
contratar.
Este contrato tem uma convenção autónoma do contrato definitivo, uma vez que
se caracteriza normalmente por ter eficácia meramente obrigacional, mesmo que o
contrato definitivo tenha eficácia real.

Apesar desta autonomia entre os dois contratos, a lei não deixou de sujeitar em
princípio o contrato-promessa ao mesmo regime do contrato definitivo ( 410º.1).
É o que se denomina de ​princípio da equiparação. Efetua-se uma extensão do
regime do contrato definitivo ao contrato-promessa, sujeitando-se este em
princípio às mesmas regras que vigoram para o contrato definitivo.

Exceções ao princípio da equiparação:


→ ​disposições relativas à forma ( a forma não é necessariamente a do contrato
definitivo o que permite que ao contrato promessa seja atribuída uma forma
menos solene do que a que seria exigida para o contrato definitivo);
→​disposições que pela razão de ser não devam considerar-se extensivas ao
contrato-promessa ( implica o afastamento de todas as disposições relativas ao
contrato-prometido, justificadas em função da configuração deste, e que não se
harmonizem com a natureza do contrato-promessa);

Modalidades:

21
- Unilateral: ​consoante uma das partes se vincule à celebração do
contrato-futuro.
Esta modalidade pode ser remunerada, o que sucede sempre que a outra parte
assuma a obrigação de pagar ao promitente determinada quantia como
contrapartida pelo facto de se manter durante certo tempo vinculado à celebração
de um contrato.
A lei considera que o direito à celebração do contrato definitivo apenas deve poder
ser exercido dentro de um prazo limitado, pelo que sempre que as partes não o
estipulem é possível ao promitente fixar à outra parte de um prazo para o exercício
do direito, findo qual este caducará ( 411º).
➥​exemplo: ​Alguém que se compromete da mesma forma a vender o imóvel por
um certo preço mas a outra parte não se comprometer a comprar-lho ficando livre
de o fazer ou não.

-Bilateral: consoante ambas as partes se vinculam à celebração do


contrato-futuro;
➥​exemplo:​Alguém promete vender a outrem determinado imóvel por certo
preço e este outrem, simultaneamente se comprometer a comprar-lho.

Forma:
Relativamente à forma, o contrato-promessa segue por esse motivo, o regime
geral, que se baseia precisamente na liberdade de forma ( 219º). Há uma exceção,
presente no artigo 410º.2, quando a lei nos exige um documento autêntico ou
particular para o contrato prometido é também exigido documento para o
contrato-promessa ainda que o contrato exija um documento particular apenas
será necessário um documento autêntico.
➥​exemplo: ​O contrato promessa de compra e venda de um imóvel, sujeita por lei a
escritura pública ou documento particular autenticado ( 875º) .

O contrato promessa bilateral, assinado apenas por um dos promitentes pode


ser válido como promessa unilateral?

Tese da Conversão ( Galvão Telles e Antunes Varela) →parte do pressuposto de


que se apresentaria como injusto permitir o aproveitamento do negócio, mas que
este deve ser realizado através de mecanismo da conversão e não da redução ( que

22
pressupõe uma invalidade parcial-292º) e o contrato-promessa bilateral a que falte
uma das assinaturas apresenta-se como completamente nulo, por falta de forma
exigida por lei. A natureza sinalagmática do contrato promessa bilateral torná-lo
diferente do contrato-promessa unilateral. Não se estaria assim perante um
aproveitamento parcial do negócio, mas perante a sua transformação num negócio
de tipo ou pelo menos de conteúdo diferente.

Tese da Redução ( Almeida Costa, Calvão Silva) → se no contrato-promessa a lei


só exige a assinatura para a declaração negocial do contraente que se vincula à
promessa, a nulidade por falta de forma no contrato-promessa bilateral será
parcial se apenas um dos contraentes não assinar o contrato o que justifica a
aplicação do regime da redução ( 292º). è o que melhor tutela os interesses da parte
que pretende o aproveitamento do negócio( estabelece em princípio a solução,
afasta apenas quando se demonstre que a vontade hipotética das partes iria em
sentido contrário).

Posição Intermédia ​( Menezes Cordeiro) → sendo a promessa unilateral


visceralmente diferente da bilateral, a situação nunca poderia ser de invalidade
parcial mas antes de invalidade total pelo que, em princípio só a conversão
poderia salvar o negócio. No entanto, reconhece que a redução pode em concreto
salvaguardar melhor os interesses do contratante vinculado propugna uma
aplicação melhor os interesses do contraente vinculado propugna uma aplicação
conjunta dos dois preceitos remetendo ainda para a boa fé ( por base do 239º).

Transmissão dos direitos e obrigações emergentes do contrato-promessa


O 412º esclarece que os direitos e as obrigações emergentes do contrato-promessa (
não exclusivamente pessoais), se transmitem por morte aos sucessores, ficando a
transmissão por ato entre vivos sujeita às regras gerais.

Execução específica:
No contrato-promessa os promitentes vinculam-se a uma prestação de facto
jurídico. A lei admite a execução especifíca desta obrigação, consiste em que o
devedor ser substituído no cumprimento, obtendo o credor a satisfação do seu
direito por via judicial ( o tribunal emitirá uma sentença que produzirá os mesmos

23
efeitos jurídicos da declaração negocial que não foi realizada, operando-se assim a
constituição do contrato definitivo).

Pelo artigo 830º resulta que o não cumprimento da promessa atribui à outra parte
do direito a recorrer à execução específica. A execução específica deixa de ser
possível a partir do momento em que se verifique uma impossibilidade definitiva
de cumprimento, como no caso de o bem que se prometeu vender já ter sido
alienado a um terceiro, ou não ser possível obter a licença de utilização do imóvel.

Há 2 exceções para a execução específica:


- existência de uma convenção em contrário;
- execução específica ser incompatível com a natureza da obrigação assumida;

2.3.1.1Articulação com o regime do sinal:

Sinal - ​cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante a qual uma das partes
entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível( em
regra dinheiro).
➥​exemplo: António e Bento obrigam-se reciprocamente a vender e comprar a
certo preço 1 imóvel, acordando Bento na entrega a António o sinal de 5000€. Se
Bento incumprir terá António o direito de exigir que aquele lhe entregue 10000€,
se for ao contrário Bento tem o direito de fazer seus os 5000 €

O sinal funciona então como fixação das consequências do incumprimento, uma


vez que se a parte que constitui o sinal deixou de cumprir a sua obrigação, a outra
parte tem o direito de fazer a sua coisa entregue .
→ ​Não Cumprimento a partir de quem recebeu o sinal​: tem este que o devolver
em dobro (442º2)
→ ​Cumprimento do contrato​: a coisa entregue será imputada na prestação devida (
442º.1).

Através do Sinal as partes visam estabelecer as consequências do incumprimento e


do incumpriemto definitivo ( Santos Júnior e Menezes Leitão)7.

7
​Contra: Menezes Cordeiro que admite a exigibilidade do sinal logo que haja incumprimento aprazado

24
Funcionamento:
O artigo 442º.1, refere-se ao regime do sinal em geral, indicado o seu
funcionamento em caso de cumprimetno da obrigação. A primeira parte do
442º.2, explica o funcionamento em caso de não cumprimento do sinal.
Já a segunda parte do 442º.2 fala especificamente do funcionamento do sinal do
contrato-promessa. Uma questão controvertida tem sido saber se a exigência do
aumento do valor da coisa o do direito, a que se refere o contrato-prometido,
pressupõe que tenha sido constituído sinal ou basta-se com a tradição da coisa

➩ ​Menezes Cordeiro +Menezes Leitão​: deve ser exigida a constituição de sinal,


uma vez que, quando este não é estipulado, a tradição de coisa para o promitente
comprador apresenta-se como um ato de mera tolerância do promitente vendedor,
não havendo razão para que ele seja prejudicado por esse ato
➩ ​Galvão Telles + Januário Gomes​: o aumento do valor da coisa ou do direito
tem lugar mesmo que não tenha sido estipulado o sinal, já que não haveria motivo
para só aplicar este regime quando o sinal exista em alternativa a este.

A perda do sinal ou a sua restituição em dobro pressupõe o incumprimento


definitivo ( 442º.2). Já a opção pelo aumento do valor da coisa, na medida em que
admite ainda um psoterior cumpriemnto, pode ocorrer em caso de simples mora
(442º.3 onde ainda se refere a execução específica).

Qual a natureza deste direito ao aumento do valor da coisa ou do direito, que se


reconhece ao promitente comprador que recebeu a tradição da coisa em caso de
incumpriemnto da outra parte?
➪ Antunes Varela: sustentou não constituir uma indeminização, mas antes uma
forma especial de sanção pecuniária compulsória.
➪ Galvão Telles: trata-se de uma indeminização compensatória, destinada a
ressarcir os prejuízos causados pelo incumprimento definitivo do
contrato-promessa, atento o facto de surgir em paralelismo com a exigência do
sinal em dobro.

Perante uma situação em que o promitente-vendedor, tendo antecipadamente


realizado a tradição da coisa, se enriquecer à custa do promitente comprador
através da restituição do sinal em dobro, atenta a valorização entretanto verificada

25
na coisa entregue, a lei vem determinar que essa valorizaç possa ser atribuída ao
promitente-comprador, em alternativa à indemnização convencionada

Funções do Sinal:
➪​Menezes Cordeiro: ​o regime vigente procedeu à junção das diversas funções do
sinal, uma vez que tem natureza confirmatória-penal e dá consistência ao contrato
e funciona como indemnização e natureza penitencial “ quando funcione como
preço arrependimento permitindo ao interessado resolver o contrato, mediante o
pagamento que resulte do próprio sinal.

Atribuição do direito de retenção ao promitente que obteve a tradição da


coisa:
O artigo 755º.1.f reporta-se à situação do beneficiário da promessa que haja
obtido a traditio ​da coisa , atribuindo a este um direito de retenção sobre essa
coisa para a garantia do seu crédito ao aumento do valor da coisa ( 442º).

2.3.2. Eficácia real do contrato-promessa


A lei permite ainda a atribuição de eficácia real ao contrato-promessa, no caso de a
promessa respeitar a bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, e a partes
declararem expressamente a atribuição de eficácia real e procedam ao seu registo (
413º.1).
O direito à celebração do contrato definitivo prevalecerá sobre todos os direitos
reais que não tenham registo anterior ao registo da promessa.
Em relação à natureza do beneficiário da promessa com eficácia real:
➥Menezes Cordeiro​- verdadeiro direito real de aquisição;
➥Almeida Costa - direito de crédito sujeito a um regime especial de
oponibilidade a terceiros;

2.4. Pacto Preferência


Previsto no artigo 414º constitui à semelhança do contrato-promessa um contrato
preliminar de outro contraente. O obrigado à preferência não se obriga a
contratar, mas apenas a escolher alguém como contraente no caso de decidir
contratar, se esse alguém como contraente no caso de decidir contratar esse
alguém como contraente, no caso de decidir contratar, se esse alguém lhe oferecer
as mesmas condições que conseguiu negociar a um terceiro.

26
É um contrato unilateral, em que apenas uma das partes assume uma obrigação
ficando a outra parte ( o titular da preferência ) livre de exercer ou não o seu
direito.

Forma:
Encontra-se sujeito ao mesmo regime do contrato-promessa (415º), significa que
regra geral a sua validade não depende de forma especial, apenas exigindo
documento particular se for exigido documento autêntico ou particular. 8

Direitos de preferência com eficácia real:


O pacto de preferência atribui apenas ao seu beneficiário um direito de crédito
contra outra parte, estando sujeito a características comuns do direito de crédito (
relatividade e não possibilidade de ser oposto a terceiros).
A lei admite também porém que ao direito de preferência seja atribuída eficácia
real, desde que, respeitando a bens imóveis ou a móveis sujeitos a registo.

Estaremos posteriormente perante ​preferências legais ​as quais têm sempre


eficácia real, permitindo aos que dela desfrutam exercer o seu direito de
preferência, mesmo perante o terceiro adquirente. Estas surgem porque por vezes
a lei concede a certos titulares de direitos reais de gozo sobre determinada coisa a
preferência na venda ou dação em cumprimento da coisa a esse objeto desse direito
( exemplo: arrendatário 1091º).

Obrigação de preferência:
Regulada genericamente nos artigos 416º a 418º. A forma de cumpriemnto da
obrigação de preferência prevista no artigo 416º.
Resulta desta norma em primeiro lugar, a forma adequada de cumprir a obrigação
de preferência é efetuar uma comunicação para preferência. A lei não exige uma
forma específica para essa comunicação, o que implica que ela possa ser
inclusivamente verbal, ao abrigo do artigo 219º.

As partes quase sempre optam por fazer estas comunicações por escrito, como
forma de se preverem para a hipótese de posterior discussão judicial. Caso o

8
​Não se aplica ao pacto de preferência o regime do 410º.3, pelo que esse documento não estará em caso algum sujeito a
mais formalidades.

27
titular da preferência rejeite uma proposta contratual ou convite a contratar não
perde o seu direito de preferência. Se, no entanto vier a ser celebrado o contrato
em consequência dessa proposta/ convite, o direito de preferência extinguir-se-á
por inutilidade.

A comunicação por preferência não pode ser realizada logo que o obrigado se
encontre na situação de “querer vender” ao contrário do que parece resultar do
416º. Exigir-se-á antes uma negociação com terceiro, com o qual sejam acordadas
as cláusulas a comunicar designadamente preço e condições de pagamento. A
comunicação para preferência terá, que ser efetuada antes da celebração de um
contrato definitivo com o referido terceiro ➝ Caso contrário: Incumprimento

➥​Conteúdo da comunicação para a preferência:


A lei esclarece que não basta indicar elementos gerais do negócio, mas que terão
igualmente de ser comunicadas todas as estipulações particulares acordadas,
relevantes para o exercício da preferência.

➥​Comunicação para a preferência e o nome de terceiro:


Deverá a comunicação conter o nome de terceiro com que a foram comunicadas as
condições:
➩ ​Oliveira Ascensão: lei faz apenas referência à cláusula do contrato e o nome do
terceiro não parece estar abrangido
➩​Menezes Cordeiro​: o princípio da boa fé impõe que o nome de terceiro que
tenha que ser obrigatoriamente indicado na comunicação para a preferência.
➩ ​Menezes Leitão: o nome de terceiro adquirente desde que esteja determinado,
tem de ser sempre indicado na comunicação para a preferência, havendo que
mencionar a situação indeterminação no caso contrário.
Se a comunicação não indicar o nome do terceiro, não há qualquer hipótese de o
titular da preferência verificar a veracidade das condições comunicadas.

Efetuada a comunicação para a preferência o titular tem que exercer o seu direito
no prazo de 8 dias, salvo se o pacto de preferência o vincular a um prazo mais
curto / longo.
Exercida a preferência ambas as partes perdem a liberdade de decidir celebrar ou
não contrato ➞Se voltarem atrás:​ Ilicitude

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Ambas as partes formulam uma proposta de contrato e respetiva aceitação, que
em princípio deveria implicar sem mais a celebração do contrato definitivo desde
que estejam preenchidos os seus requisitos de forma.
O direito de preferência só surge caso o brigado tome a decisão de celebrar o
contrato em relação ao qual tenha concedido a preferência, não havendo
naturalmente incumprimento da obrigação de preferência se o obrigado celebrar
um contrato de natureza diferente do contrato preferível, mesmo que esse
contrato implique a não celebração em definitivo do contrato preferível. Há 2
hipóteses que a lei considera poderem ainda justificar a manutenção da
preferência:
- união de contratos ( 417º);
- contratos mistos ( 418º);

2.4.1. Violação da obrigação de preferência


➣Indemnização por incumprimento em caso simples eficácia obrigacional:
A partir do momento em que o obrigado à preferência celebra com terceiro um
contrato incompatível com a preferência, sem efetuar a qualquer comunicação
para a preferência ou tendo-a efetuado, se o titular tiver comunicado dentro do
prazo, a intenção de exercer a preferência.
​⇩
Incumprimento + Direito de Indemnização ao titular da preferência(798º)

➣ Ação de preferência em caso de haver eficácia real


O titular da preferência não possui apenas um direito de crédito à preferência, mas
também um direito real de aquisição que pode ser erga omnes, mesmo a
posteriores adquirentes da propriedade.

Legitimidade passiva para a ação de preferência ⇒ ​Almeida Costa + Menezes


Cordeiro “​o obrigado à preferência não seria, enquanto tal parte legítima para ação
de preferência. só sendo caso o titular da preferência decida simultaneamente
exigir uma indemnização.

Problema da simulação do preço: ​E se as partes no intuito de enganar terceiros


podem por acordo celebrar um negócio que não corresponda à sua verdadeira

29
vontade, com a indicação de um preço superior ou inferior no intuito de
defraudar o exercício da competência ?
→ Preço Superior: o negócio será nulo ( 240º.2), a preferência é naturalmente
exercida em relação ao negócio válido.
→​Preço Inferior : ​Menezes Cordeiro sustenta a não permissão aos simuladores de
exigir que a preferência seja realizada pelo preço real equivale a autorizar um
enriquecimento ilegítimo do preferente à custa dos simuladores que nada justifica.
Sustentado através de uma interpretação do 243º.2, não considerado a situação do
preferente neste caso como a de um terceiro de boa fé , pois o direito de adquirir
por determinado preço só se constituiria com a sentença que julgasse procedente a
ação de preferência.

2.4.2. Natureza da obrigação de preferência:


➪​Manuel de Andrade e Galvão Telles​: obrigação de contratar
➪​Menezes Cordeiro​: obrigação de conteúdo positivo ( escolher o titular de
preferência como contraparte, casos se decidir a contratar);

2.5. Conteúdo dos contratos


2.5.1. Contrato a favor de terceiro
Previsto no 443º , reporta-se a ➝contrato em que uma das partes se compromete
perante outra a efetuar uma atribuição patrimonial ( realização de uma prestação
443º.1/ liberação de uma obrigação ou na cessação de um crédito) em benefício de
outrem estranho ao negócio.

Pode ser decomposto em 3 relações:


⟼ cobertura ( relação contratual entre promitente e promissário, no âmbito da
qual se estabelecem direitos e obrigações e a estipulação a favor de um terceiro
com uma mera cláusula acessória).
⟼ ​atribuição ( estabelece entre o promissário e o terceiro e justifica a outorga
desse direito ao terceiro, tendo por base um interesse do promissário nessa
concessão- 443º.1)
⟼ execução ( consiste na relação entre o promitente ao terceiro, no âmbito da
qual ele vem a executar a determinação do promissário).

Regime normal do contrato a favor de terceiro:

30
O contrato a favor de terceiro faz nascer automaticamente um direito para o
terceiro, o qual se constitui independentemente de aceitação deste ( 444º.1). A lei
prevê ainda a possibilidade de o terceiro aderir à promessa ( 447º.1) , a sua função
é antes impedir a revogação da promessa a qual pode ser efetuada enquanto adesão
não for manifestada ( 448º.1). A revogação compete ao promissário, mas necessita
do acordo do promitente, quando a promessa tenha sido efetuada no interesse de
ambos ( 448º.2) .

O contrato a favor de terceiro faz nascer diretamente um crédito na esfera jurídica


do terceiro ( 44º.1), legitimando-o a exigir o cumpriemnto da promessa. Também
o promissário pode exigir do promitente o cumprimento da sua obrigação
(444º.2), em virtude de ter sido ele a acordar com o promitente a realização da
prestação a terceiro e possuir interesse jurídico no seu cumprimento.9

Regimes especiais de contratos a favor de terceiros :


➢ Promessa de liberação de dívida como falso contrato a favor de terceiro:
Costuma realizar-se uma distinção entre os verdadeiros contratos a favor de
terceiro ( 443º e 444º.1 e 2) e os falsos contratos a favor de terceiro exemplo a
promessa de liberação (444º.3).
Situação em que o promitente e promissário acordam numa obrigação de
resultado: a de que o promitente obterá a extinção de uma dívida que o
promissário tem para com terceiro. O promitente não se obriga a realizar uma
prestação a terceiro, mas apenas a conseguir obter a ligação da dívida do
promissário.
➢ Promessas em benefício de pessoas indeterminadas ou no interesse público
Designação do beneficiário da prestação, não se referir a uma pessoa
indeterminada mas antes a um conjunto indeterminado de pessoas ou a
corresponder mesmo a um interesse público.

➥exemplo: Caso de alguém acordar com um restaurante que ele forneceria uma
refeição na noite de Natal aos pobres de determinada região;
Caso de alguém se comprometer a não urbanizar a um terreno em ordem a
permitir a conservação de uma floresta.

9
​Para Miguel Teixeira de Sousa, existe aqui apenas uma única posição jurídica objetiva que permite a aquisição da
prestação que é o direito de crédito do terceiro, independentemente de a vinculação subjetiva do promitente ocorrer
tanto em relação ao terceiro como ao promissário.

31
➢Promessa de contribuir depois da morte do promissário
Faz exceção ao regime do 444º.1, uma vez que oterceiro nãop ode exigir o
cumpriemtno da promessa antes da verificação da morte do promissário. A lei vem
presumir que a estipulação das partes é no sentido de que o terceiro só adquire
direito com a morte do promissário (451º.1) mas que, se aquele falecer antes deste,
os seus herdeiros são chamados no lugar dele à titularidade da promessa ( 451º.2).

Outra característica é o facto de a promessa ser sempre revogável enquanto o


promissário for vivo, independentemente da aceitação do terceiro ( 448º.1).

2.6. Contrato para a pessoa a nomear


Quando um dos intervenientes no contrato se reserva a faculdade de designar a
outrem para adquirir os direitos ou assumir as obrigações deste contrato ( 452º.1).
Os efeitos do contrato vão repercutir-se diretamente na esfera do nomeado. Não
ocorre qualquer transmissão entre o nomeante ou nomeado. Não ocorre qualquer
transmissão entre o nomeante ou nomeado, ocorrendo o fenómeno da
substituição de contraentes após nomeação, o contraente nomeado adquire os
direitos e assume as obrigações provenientes do contrato a partir do momento a
celebração dele ( 455º.1) .
Para poder produzir os seus efeitos, a nomeação do deve observar determinados
requisitos legais, deve ser feita por escrito e no prazo convencionado.

2.7.Negócios Unilaterais
No princípio da autonomia privada consiste na celebração de contratos, daí
resulta uma certa limitação à constituição de obrigações por negócio unilateral:
- a constituição de obrigações por negócio unilateral implicaria a constituição
de um direito de crédito na esfera jurídica alheia sem acordo do seu titular;
- admitir a eficácia dos negócios unilaterais como constitutivos de obrigações
poderá conduzir à criação de vinculações precipitadamente assumidas, sem
a prévia obtenção do acordo das partes em relação a elas.
O artigo 457º estabelecer um princípio da tipicidade dos negócios unilaterais

Menezes Cordeiro defende a ausência de tipicidade dos negócios unilaterais com


fundamento no caráter totalmente livre da proposta contratual. Sendo a proposta
contratual um negócio unilateral, e sendo a sua celebração possível em relação a

32
qualquer contrato, o princípio da tipicidade fica esvaziado de conteúdo, uma vez
que a lei prevê um tipo de negócio suficientemente abrangente para permitir a
atipicidade negocial.

2.7.1. Promessa de cumprimento e reconhecimento de dívida


A promessa de cumprimento e reconhecimento está referida no artigo 458º.1. A
lei exige em termos de forma que a promessa ou reconhecimento constem do
documento escrito ( se outras formalidades não forem exigidas para a prova da
relação fundamental- 458º.2)

2.7.2. Promessa Pública


Declaração negocial dirigida ao público, através da qual se promete uma prestação
a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo facto positivo/
negativo. Situação implica imediatamente e sem necessidade de aceitação da
vinculação do promitente a essa promessa ( 459º.1)
A declaração é emitida através de anúncio público, poderá revestir formas
variadas, abrangendo qualquer meio de comunicação social ou difusão pública de
mensagens, seja esta de maior ou menor alcance ( imprensa, rádio, televisão ou
internet).
Essa declaração negocial deve ter como conteúdo a promessa de prestação que uma
vez emitida tem efeito a constituição imediata de uma obrigação , ficando o
promitente desde logo vinculado à promessa ( 459º.1), Está-se por isso neste caso
perante uma obrigação de sujeito passivo indeterminado, mas determinável (511º).
Se na produção do resultado previsto tiverem cooperado várias pessoas, conjunta
ou separadamente e todas tiverem direito à prestação far-se-á uma divisão
equitativa ( 463º).

2.7.3. Concurso Público


Modalidade especial de negócio unilateral, distinta da promessa pública em
virtude de a oferta da prestação ocorrer como prémio de um concurso, o que
justifica que tenha que ser fixado o prazo para a apresentação dos concorrentes. A
decisão sobre a decisão sobre a admissão dos candidatos e sobre a atribuição do
prémio caberá às pessoas designadas no anúncio como júri do concurso ou se não
houver designação do promitente ( 463º.2).

33
3. Fonte das obrigações baseadas no princípio do
ressarcimento dos danos
3.1 A responsabilidade civil
Responsabilidade Civil - conjunto de factos que dão origem à obrigação de
indemnizar os danos sofridos por outrem.
Consiste por isso, numa fonte de obrigações baseada no princípio do
ressarcimento dos danos.

Pode ser classificada em responsabilidade por:


→ ​Risco​( 483º.2 e 499º): imputação de acordo com critérios objetivos de
distribuição do risco;
→ Sacrifício: ​prescinde-se de um juízo de desvalor da conduta do agente, sendo a
imputação do dano baseada numa compensação do lesado, justificado pelo
prejuízo suportado.
→ ​Culpa ( é a regra geral- 483º.1): a responsabilização do agente pressupõe um
juízo moral da sua conduta que leve a efetuar uma censura ao seu comportamento.
Pode ainda ser classificada em:
⬋ ⬊
Delitual ( Extracontratual) -483º ​ O
​ brigacional ( Contratual)-798º
Está em causa a violação de deveres Resulta do incumprimento das
genéricos de respeito, de normas obrigações
gerais destinadas à proteção de outrem.
⇓ ⇓
Regime Unitário de obrigação de Indemnização (562º)

Diferenças entre regimes:


- Presume-se a culpa na responsabilidade obrigacional (799º.1), mas não na
delitual ( 487º.1);
- A responsabilidade delitual tem prazos de prescrição mais curtos ( 498º),
enquanto que a responsabilidade obrigacional é sujeita aos prazos de
prescrição mais gerais das obrigações ( 309º)
- É diferente o regime da responsabilidade por atos de terceiro ( 500º e 800º) ;
- Em caso de pluralidade de responsáveis na responsabilidade delitual o
regime aplicável é o da solidariedade ( 497º), na responsabilidade

34
obrigacional tal só acontecerá se esse regime já vigora para a obrigação
incumprida;
A ​diferença entre a responsabilidade delitual e a responsabilidade obrigaciona​l é
que:
-enquanto a responsabilidade delitual surge como consequência da violação de
direitos absolutos ) aparecem assim desligados de qualquer relação inter-subjetiva
previamente existente entre lesante e lesado);
- já a obrigacional pressupõe a existência de uma relação intersubjetiva, que atribui
ao lesado um direito à prestação surgindo como consequência da violação de um
dever emergente dessa relação específica;

3.2. Responsabilidade civil por factos ilícito


3.2.1 responsabilidade delitual
O artigo 483º vem a estabelecer uma cláusula geral de responsabilidade civil
subjetiva, fazendo depender a sua constituição da obrigação de indemnização da
existência de uma conduta do agente, a qual representa a violação de um dever
imposto pela ordem jurídica, sendo o agente censurável, a qual tenha provocado
danos que sejam em consequência de um conduta.

Surgem-nos assim os seguintes pressupostos da responsabilidade civil

3.2.1.1 Facto
O facto voluntário do lesante trata-se de uma situação de responsabilidade civil
subjetiva, que nunca poderia ser estabelecida sem existir um comportamento
dominável pela vontade que possa ser imputável a um ser humano e visto como
expressão da conduta de um sujeito responsável.
Não se exige que o comportamento do agente seja intencional ou sequer que
consista numa atuação, bastando que exista uma conduta que lhe possa ser
imputada em virtude de estar sobre o controlo da sua vontade ( não são por isso
factos voluntários, por estarem fora do controle da vontade agente
acontecimentos como rajadas de vento ou terramotos).

Ao agente podem não constituir factos voluntários sempre que lhe falte a
consciência ou não possa exercer o domínio sobre a sua vontade.

35
➥exemplo​: Não envolve por isso a responsabilidade civil a situação de o agente
destruir um vaso de porcelana precioso, porque cai sobre ele em consequência de
uma síncope cardíaca

Se existir algum domínio da vontade já pode, porém haver responsabilidade como


na hipótese de a destruição do vaso ter regulado de um gesto brusco do agente.
O facto voluntário do agente pode revestir 2 formas:
➞ Ação ( 483º): imputação da conduta ao agente apresenta-se como simples;
➞ Omissão ( 486º) : essa imputação ao agente exige algo mais: a sua oneração com
um dever específico de praticar o ato omitido

Para alguém ser responsável por omissão pelos danos sofridos por outrem se exija,
para além dos outros pressupostos da responsabilidade delitual, um dever
específico, que torne um particular sujeito garante da não ocorrência desses danos.

Conforme resulta do artigo 486º, esse dever específico de garante pode ser criado
por contrato. A doutrina dos deveres de segurança ou da prevenção de perigos
delituais, permitiu alargar a responsabilidade delitual por omissão.

⟹Sempre que alguém possui coisas ou exerce uma atividade que se apresentam
como potencialmente susceptíveis de causar danos a outrem, tem igualmente o
dever de tornar as providências adequadas a evitar a ocorrência de danos, podendo
responder por omissão se o não fizer;

➥ ​exemplo: ​Se um ramo cai de uma árvore seca e provoca danos, o proprietário é
responsável por não a ter cortado// Se uma criança atinge outra com uma arma de
caça o dono pode ser responsabilizado por a ter deixado em sítio acessível;

3.2.1.2. Ilicitude
Exigência expressa da ilicitude do facto praticado pelo agente, que nos termos do
artigo 483º pode consistir na violação de direitos subjetivos alheios, ou de
disposições legais destinadas a proteger interesses alheios ( 334º,335, 484º e 485º).
Surge assim como um juízo de desvalor atribuído pela ordem jurídica , ficando a
dúvida em determinar que o juízo de desvalor se refere em relação ao
comportamento do agente ou sobre o seu próprio resultado.

36
Poderíamos por vezes considerar ilícitos comportamentos que são perfeitamente
conformes ao tráfego apenas porque são casualmente adequados a produzir o
resultado. Se o agente atuou conforme as regras do tráfego parece incorreto
considerar presente a ilicitude
➥ ​exemplo: ​O condutor de comboios que, conduzindo corretamente, mata um
suicida.

A ilicitude não se aufere em relação ao resultado mas pressupõe antes uma


avaliação do comportamento do agente. A ilicitude é avaliada através da
prossecução de um fim não permitido pelo Direito. Não há ilicitude sempre que o
comportamento do agente apesar de representar uma lesão de bens jurídicos, não
prossiga qualquer fim proibido por lei.
No caso das atuações meramente negligentes não se mostra suficiente a simples
lesão de bens jurídicos, tendo que lhe acrescer a violação do dever objetivo de
cuidado por agente.

➢Violação de direitos subjetivos


O artigo 483º.1 consiste na violação de direitos subjetivos.

Características desta modalidade de ilicitude:


- O facto de ao se exigir uma lesão de um direito subjetivo específico, se
limitar a indeminização à frustração de utilidades proporcionadas por esse
direito, não se admitindo assim nesta sede a tutela dos danos puramente
patrimoniais;
- O 483º.1, não se reconduz à tutela genérica do património do sujeito, mas
antes à tutela das utilidades que lhe proporciona o direito subjetivo objeto
de violação.
São abrangidos por esta modalidade ilicitudes sobre bens jurídicos pessoais como a
vida, corpo saúde e liberdade, cuja proteção tem aliás dignidade constitucional.
Outros direitos absolutos como os direitos reais e os direitos de autor
encontram-se tutelados pela responsabilidade civil.
Os direitos de crédito não são abrangidos , pelo 483º ( uma vez que conforme já se
referiu a sua tutela apenas se efetua nos termos da responsabilidade
contratual-798º).

37
Haverá ilicitude sempre que sejam violados direitos de personalidade, como o
direito ao nome ( 72º e 74º) e à não divulgação de escritos confidenciais ( 75º a
78º), à imagem ( 79º) e à intimidade privada ( 80º).
A tutela jurídica da personalidade física e moral ( 70º), que prevê a sua proteção
pela responsabilidade civil ( 70º.2).

➢ Ilicitude por violação das normas de proteção


O 483º.1 refere-se às disposições legais destinadas a proteger interesses alheios ➩
Normas de proteção
Normas que embora dirigidas à tutela de interesses particulares não atribuem aos
titulares desses interesses um verdadeiro subjetivo, por não lhes atribuírem em
exclusivo o aproveitamento de um bem.
Esta categoria de ilicitude tem os seguintes pressupostos:
- não adopção de um comportamento, definido em termos precisos pela
norma;
- fim dessa imposição seja dirigido à tutela de interesses particulares;
- verificação de um dano no âmbito do círculo de interesses tutelados por
esta via;
➢T ​ ipos delituais específicos
- Abuso de Direito (334º)
Vem estabelecer a ilegitimidade do exercício do direito sempre que o seu titular
exceda manifestamente os limites impostos pela boa fé.
No âmbito da responsabilidade civil, a previsão assume 2 funções:
- limitar as possibilidades de exclusão da ilicitude por parte de quem exerce
um direito subjetivo próprio;
- estabelecer o caráter ilícito dos comportamentos que se apresentem como
contrários aos vetores referidos;

- Não cedência em caso de colisão de direitos ( 335º)


➥ ​exemplo: ​Vários comproprietários pretendem utilizar aos mesmo tempo a coisa
comum;
Se não se verificar essa cedência naturalmente que estará preenchido o requisito da
ilicitude para efeitos da responsabilidade civil.

- Ofensa ao crédito ou bom nome ( 484º)

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Esta previsão abrange indistintamente a afirmação ou difusão de quaisquer fatos
sejam eles falsos ou verdadeiros?
→ ​Pessoa Jorge​: desde que a divulgação não integrasse os pressupostos de um
previsão penal, não haveria responsabilidade pela divulgação de factos verdadeiros,
já que teria que se considerar ilícita a atividade das agências de informações.
→ ​Antunes Varela​: considerou abrangida também aqui a divulgação de factos
verdadeiros já que este representa igualmente uma ofensa ao crédito ou do bom
nome;
→​Menezes Cordeiro + ​Almeida Costa​: embora a regra seja a irrelevância da
veracidade ou falsidade do facto, sempre que a difusão corresponda a interesses
legítimos deve-se admitir a exclusão da responsabilidade com base na ​exceptio
veritatis​.
→ Ribeiro de Faria​: ​a divulgação de factos verdadeiros apenas deverá envolver a
responsabilização do agente se for efetuada dolosamente, pelo que a não se
considerar consagrada esta solução no 484º, não poderá admitir-se a inclusão no
seu âmbito de divulgação de atos verdadeiros.

- Responsabilidade por conselhos, recomendações e informações(485º)


A regra geral prevista no artigo 485º.1 é a irrelevância para efeitos de
responsabilidade civil ainda que tenha atuado com negligência. O artigo 485º.2
admite porém a responsabilidade do autor pelos danos sofridos pelo seu repôr em
3 situações:

1- ​Quando se haja assumido a responsabilidade pelos danos​( assume a natureza de


uma garantia contra a ocorrência de danos na esfera do receptor caso, seja
adoptado o comportamento indicado).
2- ​Quando exista um dever jurídico de dar o conselho, recomendação ou
informação e se tenha procedido com negligência ou intenção de prejudicar (
situações em que a lei impõe deveres jurídicos de prestação de informação ou de
aconselhamento | ex: deveres de informação relativos a valores mobiliários);
3- ​Procedimento do agente constitua facto punível

O que sucede se não se verificar qualquer destas 3 situações mas o agentes tiver
atuado em dolo?

39
- Pessoa Jorge + Almeida Costa: a atuação dolosa do agente está igualmente
abrangida pela exclusão da responsabilidade prevista no artigo 485º.1;
- Menezes Cordeiro: sustenta que qualquer atuação dolosa envolve
necessariamente responsabilidade por parte do agente relativamente aos
danos causados pela informação falsa;

➢​ Causas de exclusão da ilicitude:


- Exercício de um direito:
Se alguém tem um direito subjetivo e o exerce, não deve responder pelos danos daí
resulte para outrem.
➥ ​exemplo: ​Se alguém tiver uma licença de caça poderá caçar num determinado
terreno em que tal lhe seja permitido, sem que o seu proprietário possa reclamar
indemnização pelas peças de caça abatidas.

- Cumprimento de um dever:
Vigorando para o sujeito o dever de adoptar determinada conduta este pode ver-se
forçado a acatá-la ainda que para isso tenha que infringir outros deveres relativos.
➥ ​exemplo: ​O médico que apenas dispõe de um número limitado de unidades
para efetuar transfusões de sangue pode, em caso de excesso de sinistrados, optar
por privilegiar os doentes em maior risco, sem que atua ilicitamente;

- Legítima Defesa:
Prevista no artigo 337º, consiste numa atitude defensiva do agente que estando a
ser vítima de uma agressão põe termo a essa geração pelos seus próprios meios.
Deve-se observar os p
​ ressupostos10:

➛ Existência de uma Agressão;


➛ Contra a pessoa/ património do agente ou de terceiro;
➛ Atualidade e contrariedade à lei dessa agressão;
➛ Impossibilidade de recurso aos meios normais;
➛ Proporcionalidade ( prejuízo causado pelo ato não seja manifestamente
superior ao que pode resultar da agressão);

10
​O medo invencível justifica o ato ,ainda que haja excesso (337º.2)

40
- Ação Direta:
Prevista no artigo 336º, tendo os seguintes pressupostos:
➛ realização/ proteção de um direito subjetivo do próprio agente;
➛ impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
➛ a atuação do agente seja indispensável para evitar a inutilização prática do
direito;
➛o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo;
➛ o agente não sacrifique interesses superiores aos que a sua atuação visa realizar/
assegurar;

- Estado de Necessidade:
O artigo 339º prevê o regime do estado de necessidade, ao contrário da legítima
defesa, apenas justifica o sacrifício de bens patrimoniais . Permitindo que o agente
remova um perigo de um dano a o correr na sua própria esfera de terceiro ainda
que em certos casos imponha uma obrigação de compensar danos sofrido pelo
lesado ( 339º.2).

- Consentimento do lesado:
Previsto no artigo 340º.1 , destinando-se a responsabilidade civil à tutela de
interesses privados e normalmente disponíveis, o seu titular poderá renunciar a
essa tutela. A existência de consentimento retira ao ato lesivo a sua natureza ilícita
( exige-se no entanto que os atos consentidos não se apresentem como contrários a
uma proibição legal ou aos bons costumes- artigo 340º.2).

O consentimento poderá ser expresso ou tácito. No caso de lesões causadas em


práticas desportivas perigosas ( como o boxe), é de considerar que a participação
nelas envolve uma aceitação tácita e recíproca do risco dos acidentes.

3.2.1.3 Culpa
Culpa- ​juízo de censura ao agente por ter adoptado a conduta que adoptou,
quando de acordo com o comando legal estaria obrigado a adoptar uma conduta
diferente .
Em sentido normativo, é a omissão da diligência que seria exigível ao agente de
acordo com o padrão de conduta que a lei impõe.

41
➢ ​Imputabilidade como pressuposto da culpa e o regime da responsabilidade
dos inimputáveis:
Para que o agente possa ser censurado pelo seu comportamento é sempre
necessário que ele conhecesse ou devesse conhecer o desvalor do seu
comportamento e que tivesse podido escolher a sua conduta:
→ ​falta de imputabilidade quando o agente não tem a necessária capacidade para
entender a valorização negativa do seu comportamento ou lhe falte a possibilidade
de o determinar livremente;
→ imputabilidade é um pressuposto do juízo de culpa, o agente fica isento de
responsabilidade se praticar o facto em estado de inimputabilidade ( 488º.1), a lei
presume que se verifica sempre que o agente seja menor de 7 anos ou interdito por
anomalia psíquica ( 488º.2) .

Conforme resulta do artigo 488º.1, a falta de imputabilidade não exclui no


entanto a responsabilidade. Quem inconscientemente causou danos a outrem em
virtude de ter ingerido substâncias psicotrópicas ou se ter deixado adormecer a
conduzir veículos automóveis, não deixa de responder por esses danos.

A possibilidade de por motivos de equidade ( 489º.1), responsabilizar total /


parcialmente o inimputável pelos danos que este causar, desde que não seja
possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a sua vigilância.

Em relação a esta norma é manifesta a subsidiariedade em relação à


responsabilidade dos vigilantes ( 491º), exigindo-se que portanto para a sua
aplicação ou que não exista vigilante ou que, existindo ele não seja responsável
pela situação, ou ainda que, sendo responsável, não tenha meios para pagar a
devida reparação.

➢​ O dolo e a negligência
O artigo 483º prevê 2 formas de culpa:
- dolo ​( intenção do agente praticar o facto);
- negligência ​( não se verifica essa ​intenção, mas o comportamento do
agente não deixa de ser censurável em virtude de ter omitido a diligência a
que estava legalmente obrigado);

42
Se o agente agir em com dolo atua logo ilicitamente desde que lese algum direito
subjetivo alheio ou um interesse objeto de uma norma de proteção. Se não existir
uma atuação dolosa do agente, só haverá ilicitude, se o agente violar um dever
objetivo de cuidado na lesão de bens jurídicos.

Existem 2 graus de negligência ( em ambas as situações não deseja efetivamente a


verificação do facto) :
➛ Consciente ( violado dever de diligência a que estava obrigado, representa a
verificação do facto como consequência possível da sua conduta, mas atua sem se
conformar com a sua verificação)
➥ ​exemplo: ​Alguém que conduz em desrespeito às regras de trânsito admite a
possibilidade de provocar uma acidente, mas convence-se que tal não acontecerá)

➛​Inconsciente ( violado o dever de diligência a que estava obrigado não chega


sequer a representar a verificação do facto)
➥ ​exemplo: ​Alguém infringe as regras de trânsito sem sequer equacionar a
possibilidade de provocar um acidente;

Existem ​3 graus de dolo​:


➛ dolo direto​(o agente quer a verificação do facto sendo a sua conduta dirigida
diretamente a produzi-lo);
➥ e​ xemplo: ​Se alguém pretendendo a morte de outrem o atingir a tiro;

➛dolo necessário (o agente não dirige a sua atuação diretamente a produzir a


verificação do facto, mas aceita-o como consequência necessária da sua conduta);
➥ ​exemplo: ​O indivíduo que coloca uma bomba numa embaixada, sabe que a sua
atuação irá inevitavelmente implicar a morte ou ferimentos graves para os que se
encontrarem no respetivo edifício;

➛ dolo eventual ( o agente representa a verificação como consequência possível


da sua conduta e atua, conformando-se com a sua verificação);
➥ ​exemplo: ​A violação de regras de trânsito pelo agente consistem em ele entrar
conscientemente na auto-estrada a alta velocidade em contra-mão,
comportamento que toda a gente que irá conduzir a um acidente;

43
Dolo Eventual // Negligência Consciente:
- a diferença poderá residir no grau de probabilidade com que o resultado é
representado pelo agente, havendo dolo eventual quando o agente
representasse o resultado como extremamente provável e negligência no
caso contrário;
- haverá dolo eventual se o agente, na hipótese de ter considerado como certo
o resultado da sua conduta não tivesse adoptado comportamento diferente;

➢ Critérios de apreciação e graduação da culpa:


O juízo de censura ao agente pode ser feito por 2 formas:
- Apreciando a ​culpa em concreto​, exigindo ao agente a diligência que ele
põe habitualmente nos seus próprios negócio/ de que é capaz;
- Apreciação da ​culpa em abstrato​, exigindo a lei ao agente da diligência
padrão dos membros da sociedade a diligência do homem médio (487º.2)11;

Para vários efeitos é relevante a graduação da culpa em relação à obrigação da


determinação da obrigação de indemnização:

1​- ​No artigo 494º, em casos negligência do agente a indeminização pode ser fixada
em montante inferior aos danos causados, tendo em consideração o grau de
culpabilidade, a par da situação económica do agente e do lesado e demais
circunstâncias do caso;
2​- ​Pluralidade de responsáveis pelos danos (490º), caso em que a obrigação de
indemnização é solidária (497º.1), repartindo-se nas relações internas de acordos
com a medida das respectivas culpas, que se presumem iguais (497º.2+507º.2);
3​- Releva em caso de concurso com a culpa do lesado, caso em que é a ponderação
das culpas de ambos que poderá determinar a concessão, redução ou exclusão de
indemnização ( 570º)

Graduação da culpabilidade:
- Culpa Grave ​( situação de negligência grosseira, em que a conduta do
agente só seria susceptível de ser realizada por uma pessoa especialmente
negligente);

11
Não deixa de exigir, no entanto, uma análise das circunstâncias do caso, ou seja, do condicionalismo da situação e da
atividade em causa. A diligência exigida a um profissional qualificado na sua atividade não seja a mesma que é exigida a
um transeunte em passeio.

44
- Culpa Leve ( situação em que a conduta do agente não seria susceptível de
ser praticada por um homem médio, correspondendo assim a sua atuação à
omissão da diligência do b​ onus pater familias​);
- Culpa Levíssima12 ( corresponde à situação em que a conduta do agente só
não seria realizada por uma pessoa excepcionalmente diligente, uma vez que
mesmo o homem médio não a conseguiria evitar).

➢​ Prova da Culpa
Incumbe ao lesado a prova da culpa do autor da lesão (487º.1). em caso de
probatio diabolica ( prova difícil de realizar), esse ónus a cargo do lesado reduz em
grande medida as suas possibilidades efetivas de obter indeminização.
A lei estabelece presunções de culpa ( verificando-se uma inversão do ónus da
prova- 350º.1), por conta do lesante. As presunções genericamente ilidíveis (
350º.2), as dificuldades de prova neste domínio tornam, em caso de presunção de
culpa, muito mais segura a obtenção de indeminização pelo lesado. Exemplos de
presunção de culpa:
- Danos causados por incapazes:
Danos causados pelos incapazes naturais ( 491º), estabelecendo uma presunção de
culpa das pessoas a quem incumbe a vigilância, pode ser ilidida através da
demonstração de que cumpriram o seu dever de vigilância. A responsabilização
parte da presunção de não cumprimento do dever de vigilância, por parte das
pessoas sobre as quais este recai por lei,por negócio ou indicada através da prática
de um facto danoso pelo incapaz natural ( menor ou deficiente físico / mental)
Se o vigiado for considerado imputável (488º) e continuar a existir a
responsabilidade do vigilante, caso em que ambos responderão solidariamente
(497º). Se o vigiado for inimputável, só o vigilante responderá (491º), só se
admitindo ação contra o vigiado, por motivos de equidade no caso de ser
impossível exigir responsabilidade ao vigilante ( 489º) .

-Danos causados por edifícios ou outras obras:


O artigo 492º1, pressupõe o vício da construção ou defeito de conservação,
estabelecendo nesse caso uma presunção de culpa que recai sobre o proprietário ou
possuidor do edifício. Transfere-se para a pessoa obrigada, por lei ou negócio
jurídico, a conservar o edifício/ obra (492º.2).

12
​A culpa levíssima não é nesta sede considerada atualmente como culpa

45
→​Antunes Varela: A aplicação desta presunção de culpa depende da prova de que
existia um vício de construção ou um defeito de conservação no edifício ou obra
que ruiu deveria ser realizada pelo lesado.
→​Menezes Leitão: Fazer recair esta prova sobre o lesado equivale a retirar grande
parte do alcance à presunção de culpa. Salvo no caso extraordinários ( como nos
terramotos), a ruína de um edifício ou obra é um facto que indica só por si o
incumpriemnto de deveres relativos à construção/ conservação dos edifícios , não
se justificando por isso que recaia sobre o lesado o ónus suplementar de
demonstrar a forma como ocorreu esse incumprimento.

- Danos causados por coisas ou animais:


A culpa presumida por parte de que tiver em seu poder coisa móvel ou imóvel,
com o dever de vigiar bem como animais (493º). Pressupõe em face da
perigosidade imanente de certas coisas o surgimento de um dever de segurança no
tráfego ( como paióis explosivos, depósitos de gasolina, máquinas industriais,
árvores secas).
Normalmente a obrigação de vigilância recairá sobre o proprietário da coisa ou
animal, podendo porém recair sobre detentores onerados com essa obrigação, caso
em que o proprietário deixará de ser sujeito a responsabilidade.

- Danos resultantes de atividades perigosas:


O artigo 493º.2 presume a culpa daquele que causar danos a outrem no exercício
de uma atividade, perigosa por sua própria natureza ou pela natureza dos meios
utilizados. Constitui uma cláusula geral que necessita de um preenchimento
valorativo em relação à qualificação da atividade como perigosa.

➢​ Causas de exclusão de culpa:


A culpa pode ser excluída sempre que o agente se encontre em determinada
situação que afasta a possibilidade de a ordem jurídica estabelecer um juízo de
censura em relação ao seu comportamento.

- Erro desculpável
A atuação do agente resulte de uma falsa representação da realidade, que não lhe
possa, em face das circunstâncias, ser censurada ( o artigo 338º reside sobre os
pressupostos da legítima defesa ou do estado de necessidade).

46
➥ ​exemplo: Alguém anda a ser perseguido numa floresta por um grupo de
assaltantes e na fuga depara com 2 homens armados que julga fazerem parte do
grupo, pelo que os resolve atingir os dois a tiro, vindo porém mais tarde a
descobrir que esses dois homens eram simples caçadores. Neste caso, ocorrerá a
exclusão da culpa do agente , uma vez que a sua reação é compreensível naquelas
circunstâncias.

-Medo Invencível:
A atuação do agente tenha sido provocada por um medo que ele não conseguiu
ultrapassar, sem que tal lhe possa, em face das circunstâncias, ser censurado. Pode
surgir em resultado de atuações humanas ( a coação psicológica por um terceiro),
como em resultado de fatores objetivos ( perigo desencadeado por fenómenos
naturais).
No entanto, se o perigo ameaçava um bem pessoal do agente ou terceiro e se não é
censurável ao agente não ter sido capaz de vencer o medo que o atingiu, a situação
representa uma causa de exclusão da culpa, o que justifica a ausência de
responsabilidade. O medo em causa de exclusão da culpa, diz respeito ao excesso
de legítima defesa.

- Desculpabilidade:
Embora não se verificando medo nem erro, em face das circunstâncias do caso não
lhe fosse exigível comportamento diferente.
➥ ​exemplo: ​Um médico que causa danos ao doente numa intervenção cirúrgica de
emergência, em virtude de num estado de emergência geral provocado por uma
catástrofe.

➢ Concurso da culpa do lesado:


A culpa do lesante pode concorrer com a existência simultânea de culpa do lesado
( 487º.2), como a omissão de diligência que teria levado um bom pai de família,
nas circunstâncias do caso. Tendo sido demonstrada a culpa do lesante ( 570º.1),
no caso de culpa do lesante não ter sido provada apenas presumida, a culpa do
lesado salvo disposição em contrário, exclui o dever de indeminizar ( 570º-2).

O regime da culpa do lesado, demonstra que não sendo o juízo de censura


exclusivamente estabelecido em relação à conduta do lesante, não seria justificado

47
obrigá-lo a indemnizar todos os danos sofridos pelo lesado, havendo antes que
efetuar uma ponderação de ambas as culpas e das consequências que delas
resultaram, sendo em função dessa ponderação que se estabelecerá a
indemnização.
a existência de dolo do lesante exclui a possibilidade de ponderação da culpa do
lesado, uma vez que o 570º não estabelece esse requisito.
➥ ​exemplo: Se alguém atingir outrem com uma faca, no intuito de lhe causar
danos corporais e os danos vêm ser consideravelmente agravados por o lesado se
recusar a tratar o ferimento, a agravação dos danos sofridos deve ser-lhe imputada
e não ao lesante.

A lei estabelece equiparação entre a culpa do lesado e a culpa dos seus auxiliares ou
das pessoas de que ele se tenha utilizado ( artigo 571º), evitando assim que o juízo
da culpa que pode recair sobre o lesado seja prejudicado pela interposição da culpa
de alguma destas entidades.

3.2.1.4. Dano
É uma condição essencial da responsabilidade, entendida como a supressão de uma
vantagem de que o sujeito beneficiava ou a frustração de uma utilidade que era
objeto de tutela jurídica.

Cabe fazer uma distinção entre:


- Dano em sentido real ( avaliação em abstrato das utilidades que eram
objeto de tutela jurídica, o que implica a sua indemnização através do
objeto lesado-restauração natural- ou da entrega de outro equivalente -
indemnização específica);
- Dano em sentido material ( avaliação concreta dos efeitos da lesão no
âmbito do património do lesado, consistindo assim a indemnização na
compensação da diminuição verificada nesse património em virtude da
lesão);
➥ ​exemplo: Se alguém embate no carro de outra pessoa, o dano em sentido real
consistirá na perda ou na deterioração do automóvel. O dano em sentido
patrimonial corresponderá às alterações que se verificam no património do lesado
em consequência dessa perda/ deterioração designadamente das despesas do
conserto).

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Dano
⇙ ⇘
Real Patrimonial
⇙ ⇘
Dano Emergente Lucro Cessante

O artigo 562º estabelece o princípio geral, o que implica que a lei dê primazia à
reconstrução natural do dano ou à sua indemnização em espécie, no âmbito da
obrigação de indemnização.
O critério predominante é o da determinação do dano em sentido real, devendo
proporcionar-se ao lesado as mesmas utilidades que ele possuía antes da lesão,
através da reconstituição do bem afetado ou da entrega de um bem idêntico.
Quando não é possível reparar o bem ou entregar outro equivalente ou quando
essa forma de indemnização não seja o suficiente para reparar todos os danos
sofridos pelo devedor, ou ainda quando se torna absolutamente desproporcionado
em face dos sacrifícios que importa exigir do lesante a reconstituição natural do
dano, a lei vem estabelecer que a indenização seja fixada em dinheiro.

➢ Danos Emergentes e Lucros Cessantes


Dano Emergente​- corresponde à situação em que alguém em consequência da
lesão vê frustrada uma utilidade que já tinha adquirido;
Lucro Cessante​- corresponde àquela situação em que é frustrada uma utilidade que
o lesado iria adquirir, se não fosse a lesão (564º.1).

Ambos devem ser abrangidos pelo dever de indemnizar, os lucros cessantes só se


verificam se se o lesado, no momento da lesão, for titular de uma expectativa
jurídica que lhe permitisse a aquisição de um benefício tendo deixado essa
aquisição de se verificar.

➢ Danos presentes e Danos futuros


Os danos consideram-se presentes se já se encontrarem verificados no momento da
fixação da indemnização, sendo futuros no caso contrário. A lei vem referir no
artigo 564º.2, que o facto de o dano ainda não se ter verificado não é fundamento
para excluir a indemnização, bastando-se o tribunal com a previsibilidade da

49
verificação de o dano para afixar. A fixação da indemnização naquele momento
depende, da determinabilidade do dano futuro;

➢Danos patrimoniais e Não Patrimoniais :


Danos Patrimoniais - correspondem à frustração de utilidades susceptíveis de
avaliação pecuniária, como na hipótese da destruição de coisas pertencentes ao
lesado.
Danos Não Patrimoniai​s- aqueles que correspondem à frustração de utilidades
não susceptíveis de avaliação pecuniária como desgosto resultante da perda de um
ente querido

A distinção tem que ver com o tipo de utilidades que esse bem proporciona e que
se vieram a frustrar com a lesão.
➥ ​exemplo: ​Se alguém causa uma lesão uma lesão no corpo de outrem, este sofre
danos não patrimoniais, correspondentes à dor e ao sofrimento físico suportados,
mas pode também sofrer danos patrimoniais, correspondentes à redução do valor
da sua força de trabalho:

Do artigo 496º.1 resulta assim claramente a admissibildiade genérica do


ressarcimento dos danos não patrimoniais. A lei refere-nos que a indemnização
pelos danos não patrimoniais é fixada equitativamente, tomando em consideração
não apenas a extensão dos danos causados , mas também o grau de culpabilidade
do agente, a situação económica deste e do lesado e as demais circunstâncias (
496º.4+494º) → A indemnização por danos não patrimoniais não reveste natureza
exclusivamente ressarcitória, mas também cariz punitivo.

➢ A Morte como dano


Determinar a possibilidade de indemnização da morte de uma pessoa.
Efetivamente, as ofensas de que resulte a morte de uma pessoa podem dar origem
aos seguintes danos:
- perda da vida da própria vítima;
- danos não patrimoniais sofridos pelos familiares da vítima em consequência
da sua morte;
- no caso de a morte não ser instantânea, danos não patrimoniais sofridos
pela vítima e pelos seus familiares até à ocorrência da morte;

50
→​Antunes Varela + Oliveira Ascensão : ​contestam a possibilidade de atribuição
de indemnização pela perda da vida dizendo que o artigo 68º diz que a
personalidade jurídica cessa com a morte, pelo que a morte não permitirá a
aquisição de qualquer direito, não podendo consequentemente o direito de
indemnização ser transmitido.
→ Menezes Cordeiro + Menezes Leitão: propugnam que independentemente do
artigo 68º.1, a vida constitui um bem jurídico cuja lesão faz surgir na esfera
jurídica da vítima o direito a uma indemnização que naturalmente se transmitirá
aos seus herdeiros ( 2024º).

Os artigos 496º.2 ,3 e 4 referem-se aos danos não patrimoniais sofridos pelas


pessoas em consequência da morte da vítima. O facto que é susceptível de
provocar dor e sofrimento numa série de outras pessoas, desde os familiares,
amigos até simples conhecidos ou admiradores (o legislador restringiu a apenas
cônjuge e filhos em disposições mais comuns ).

O 496º.4 trata os danos não patrimoniais ocorridos antes dessa morte, sendo que a
lesão que causou a morte, no caso de esta não ter sido instantânea, pode ter
produzido dor e sofrimento quer na vítima, quer nos seus familiares mais
próximos.

➢​ Perda de oportunidade como dano:


A doutrina que aceita a indemnização com base na determinação das
probabilidades que a oportunidade tinha de se verificar, nunca concedendo,
mesmo perante fortíssimas probabilidades mais do que uma indemnização parcial.

A perda de oportunidade é vista como um dano emergente, considerando-se que a


oportunidade corresponderia a um benefício esse que deve calcular com base nas
probabilidades de realização da oportunidade.

3.2.1.5 Nexo de causalidade entre o facto e o dano


A indemnização estabelecida no 483º resultado danos resultantes da violação, o
que implica exigir que esse comportamento seja causa dos danos sofridos, ou seja
que haja um nexo de causalidade entre o facto e o dano.

51
O facto pode ser causa do dano em termos muito remotos, que torna difícil
responsabilizar o agente por este.
➥ ​exemplo: ​O comerciante que vende uma vaca a um lavrador que a coloca junto
dos seus outros animais, acabando todos por vir a perecer da doença que a vaca
tinha mas que o comerciante dissimulou, sendo que todos os animais morrerão e o
agricultor acaba por tomar a sua própria vida.

O comerciante não pode ser responsabilizado por todos os danos que advenham
desse evento por isso terem de os avaliar por um critério jurídico, o do nexo de
causalidade entre facto e dano.

➢ Teoria do escopo da norma violada:


Para o estabelecimento do nexo de causalidade é apenas necessário averiguar se os
danos que resultaram do facto correspondem à frustração das utilidades que a
norma visava conferir ao sujeito através do direito subjetivo ou da norma
proteção.
A questão de determinação do nexo acaba por se reconduzir a um problema de
interpretação do conteúdo e fim específico da norma que serviu de base à
imputação dos danos.
A obrigação de reparar os danos causados constitui uma consequência jurídica de
uma norma relativa à imputação de danos.
➥ ​exemplo: ​O alarme que não esteja em funcionamento é causa relativamente a
um roubo de um estabelecimento, uma vez que o objetivo da sua instalação é
impedir os mesmos.

➢Processos Causais Virtuais:


Verifica-se sempre que o dano resultante da causa real se tivesse igualmente
verificado, na ausência desta, por via de outra causa, denominada a causa virtual.
➥ ​exemplo: ​Alguém ter envenenado um cavalo, mas alguém se ter antecipado e o
tiver abatido, o disparo será a causa real da morte e o veneno será a causa virtual,
que iria produzir o mesmo efeito.

Menezes Leitão+Menezes Cordeiro: a causa virtual é todavia irrelevante,


verificando-se a imputação delitual dos danos a um agente obviamente que ele irá
responder pelos danos causados ( 483º), não prevendo a lei que essa

52
responsabilidade seja interrompida pela causa virtual o que se afigura de absurdo
face às funções preventivas e punitivas prosseguidas na responsabilidade delitual.

3.3. Responsabilidade obrigacional


Prevista no artigo 798º, resulta uma clara equiparação dos pressupostos da
responsabilidade obrigacional aos pressupostos da responsabilidade civil delitual.13

A diferença essencial reside no diferente regime do ónus da prova, face à


presunção de culpa que recaia sobre o devedor ( 799º). Na responsabilidade
obrigacional são tutelados todos os prejuízos sofridos e os benefícios que o credor
deixou de obter pelo facto de lhe não ter sido realizada a prestação devida ( 798º),
o que permite a tutela nesta sede dos danos patrimoniais.

13
​Menezes Cordeiro considera que os pressupostos se concentram numa só esfera , ou seja nesta modalidade todos os
pressupostos seriam presumidos.

53
Índice:
1.Direito das Obrigações: Parte Geral​……………...……………...……………...………………………………...1
1.1 Definição de Obrigação…………...……………...……………...…………………………………………..…………...1
1.2. Características das
Obrigações:…………...……………...……………...………………………………..…………...1
1.3 Distinção entre Direitos de Crédito e Reais …………...……………...……………...………………..………….2
1.4. Objeto da Obrigação: A Prestação…………...……………...……………...………………………………………..2
1.5. Modalidades de
Prestações…………...……………...……………...……………………………………………...…...3
1.6. Modalidades das Obrigações…………...……………...……………...…………………………………………..…...4
1.7.Indeterminação e pluralidade das partes na relação obrigacional…………...……………...………...….11

2. Fontes das Obrigações​…………...……………...……………...…………………………………..……..…………...14


2.1 Contrato…………...……………...……………...……………………………………………………………...…………...14
2.2 Modalidade de Contratos…………...……………...……………...…………………………………………..………15
2.2.1 Forma…………...……………...……………...………………………………………………………....……………......15
2.2.2 Modo de Formação…………...……………...……………...…………………………………………..…….……...15
2.2.3 Efeitos…………...……………...……………...…………………………………………..…………………..…………...15
2.2.4 Sinalagmáticos ou não sinalagmáticos…………...……………...……………...…………………….…………16
2.2.5 Contratos Onerosos e Gratuitos…………...……………...…………...…………………………………………18
2.2.6. Nominados e Inominados…………...……………...……………...………………………………..………..……18
2.2.7 Típicos e Atípicos…………...……………...……………...…………………………………………..………….…...18
2.2.8 Contratos Mistos…………...……………...……………...…………………………………………..………..……...19
2.2.9 União de Contratos…………...……………...……………...…………………………………………..…………....20
2.3. Contratos Preliminares …………...……………...……………...…………………………………………..…………20
2.3.1 Contrato-Promessa…………...……………...……………...…………………………………………..………….....21
2.3.1.1Articulação com o regime do sinal…………...……………...……………...………………………………..…24
2.3.2. Eficácia real do
contrato-promessa…………...……………...……………...……………………………………26
2.4. Pacto Preferência…………...……………...……………...…………………………………………..……………….....26
2.4.1. Violação da obrigação de preferência…………...……………...……………...…………………………..……29
2.4.2. Natureza da obrigação de preferência…………...……………...……………...…………………………...….30
2.5. Conteúdo dos contratos…………...……………...……………...……………………………..………..…………...30
2.5.1. Contrato a favor de
terceiro…………...……………...……………...………………………………………...…..30
2.6. Contrato para a pessoa a
nomear…………...……………...……………...…………………………………………32
2.7.Negócios Unilaterais…………...……………...……………...…………………………………………..……………...32
2.7.1. Promessa de cumprimento e reconhecimento de
dívida…………...……………...………………..……33
2.7.2. Promessa Pública…………...……………...……………...…………………………………………..………….…...33
2.7.3. Concurso Público…………...……………..……………...…………………………………………..………….......33

54
3. Fonte das obrigações baseadas no princípio do ressarcimento dos danos​….………..............34
3.1 A responsabilidade civil …………...……………...……………...…………………………………..……..………….34
3.2. Responsabilidade civil por factos ilícito…………...……………...……………...…………………..……..…..35
3.2.1 responsabilidade delitual …………...……………...……………...…………………………………..……..……..35
3.2.1.1 Facto …………...……………...……………...…………………………………..……..………………………….…...35
3.2.1.2. Ilicitude…………...……………...……………...…………………………………..……..…………………..……...36
3.2.1.3 Culpa…………...……………...……………...…………………………………..……..……………………………....41
3.2.1.4. Dano…………...……………...……………...…………………………………..……..………………………….…...48
3.2.1.5 Nexo de Causalidade entre Facto e Dano…………...……………...……………...…….………………….51
3.3. Responsabilidade Obrigacional ……………………………………………………………………………………....53

55

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