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Duarte Canau
1.Direito das Obrigações: Parte Geral
1.1 Definição de Obrigação
O artigo 397º do CC apresenta uma definição do que é uma obrigação, sendo que
estaríamos a observar uma linguagem semelhante se observarmos uma definição
dada por:
Mediação devida- o credor não pode exercer direta e imediatamente o seu direito,
necessitando da colaboração do devedor para obter a satisfação do seu interesse (
só através da conduta do devedor o credor consegue obter a satisfação do seu
interesse).
1
Autonomia: não poderiam ser considerados como obrigações aquelas situações
que embora estruturalmente obrigacionais viessem a ser reguladas por outros
ramos do direito( como a obrigação de pagar impostos);
Requisitos da Prestação:
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Pelo artigo 401º.2, podemos rever casos em que a prestação é originariamente
impossível mas a validade do negócio não é afetada ( casos em que o negócio é
celebrado para a hipótese de a prestação se tornar possível, ou em que o negócio
está sujeito a condição suspensiva). É assim admissível a celebração de negócios
para a eventualidade de a prestação se tornar possível.
As prestações são em princípio fungíveis pelo que o seu cumprimento pode ser
efetuado por qualquer pessoa (767º.1). Se só o devedor estiver impossibilitado de
prestar deve fazer-se substituir no cumprimento da obrigação.
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A realização global das duradouras dependem sempre do decurso de um período
temporal, durante o qual a prestação deve ser continuada ou repetida , podendo
dividir-se entre prestações: continuadas ( não sofrem qualquer interrupção, como
no fornecimento de eletricidade) e periódicas ( sucessivamente repetidas em
períodos de tempo, como o pagamento de juros);
ex: Uma dívida prescrita. Alguém que recebe uma quantia de dinheiro de outra
pessoa, devia ter devolvido o dinheiro mas não devolve. O devedor devia ter
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observado o dever de justiça subjacente e devolver o que lhe foi prontamente
emprestado;
As obrigações naturais não se podem extinguir por prescrição, uma vez que as
consequências desta correspondem precisamente em transformar uma obrigação
civil em natural;
Existe uma discussão doutrinária sobre a natureza jurídica das obrigações naturais:
- Relações de Facto:
Guilherme Moreira: são como a posse em matéria de direitos reais, relações de
facto que derivam de certos efeitos jurídicos, e designadamente o de que sendo
voluntariamente cumpridas não se pode pedir a restituição do que haja pago,
produzindo efeitos correspondentes aos que resultam das obrigações;
Jaime Gouveia: A obrigação natural será pois o próprio dever moral, cuja prática
realizada pelo devedor, a lei em certos casos, atribui efeitos jurídicos;
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Obrigações Genéricas:
Aquelas em que o objeto da prestação se encontra determinado apenas quanto ao
género ou seja a prestação encontra-se determinada apenas por referência a uma
certa quantidade, mas não está ainda concretamente determinada1 ( artigo 539º).
1
Pelo contrário a obrigação é específica quando o género e o espécime das prestações se encontrarem determinados;
2
As exceções, sobre quando a escolha podem caber a um terceiro encontram-se no artigo 539º
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A lei portuguesa consagra a “ Teoria da Entrega” (540º), que refere que enquanto
a prestação for possível com coisas do género estipulado não fica o devedor
exonerado pelo facto de terem perecido aquelas com que se dispunha a cumprir,
consagrando a irrelevância da escolha para efeitos da concentração da obrigação
genérica.
Obrigações Alternativas:
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Na falta de determinação em contrário, a escolha pertence ao devedor (
543º.2)podendo também competir a terceiro ( 549º) .
A escolha tem que se verificar entre uma ou outra das prestações, não sendo
permitido, que aquele a quem incumbe a escolha decida realizá-la entre parte de
uma prestação ou parte de outra ( 544º).
Não é permitida ao devedor a posterior revogação da escolha efetuada, uma vez
que após a realização da escolha, só é exonerado efetuando a prestação escolhida. A
escolha é igualmente irrevogável quando compete ao credor ou a terceiro
(549º+542º).
Se alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido a lei prevê a
devolução desta faculdade à outra ( 542º.2+548º+549º) .
As obrigações alternativas têm um regime especial em sede de impossibilidade da
prestação, quando esta se verifica antes de a escolha ter ocorrido. Devemos
distinguir entre várias modalidades de impossibilidade:
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Impossibilidade de ser imputável a uma das partes e a escolha caber a terceiro:
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ESQUEMA:
Obrigações Pecuniárias:
Têm dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o valor que as respetivas
espécies monetárias possuam. Isto são requisitos cumulativos, como por exemplo:
Se se entregarem notas para integrar uma coleção, isto não será uma obrigação
pecuniária;
Modalidades:
- Quantidade( artigo 550º, tem por objeto uma quantidade de moeda com
curso legal no país);
Dois princípios reguladores:
□ Curso Legal ( o cumprimento das obrigações pecuniárias deve ser realizada
apenas com espécies monetárias a que o Estado reconheça função liberatória
genérica. Tem sempre por objeto uma quantia de unidades monetárias, devendo o
cumprimento ser realizado com espécies, ou seja moedas/notas);
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por exemplo: Tendo em conta o fenómeno inflação / deflação, o artigo 550º, prevê
que o cumpriemnto das obrigações pecuniárias se faz pelo valor nominal da moeda
no momento do cumprimento;
Obrigações de Juros:
Indeterminação do credor:
No artigo 511º é referido que o credor não pode ficar determinado no momento
em que a obrigação é constituída.. A indeterminação temporária do credor pode
resultar de se aguardar a verificação de um determinado facto futuro e incerto;
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Obrigações conjuntas ou parciárias:
Cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao credor ou credores a sua
parte na prestação e cada um dos credores só pode exigir do devedor ou devedores
a parte que lhe cabe.
exemplo: A, B e C obrigam-se a entregar a D a quantia de 900 euros, D apenas
poderá exigir de A que lhe entregue 300 euros, ou seja a sua parte da dívida.
Obrigações solidárias:
Nelas qualquer um dos devedores está obrigado perante o credor a realizar a
prestação integral ( artigo 512º).
Características:
- Identidade da prestação em relação a todos os sujeitos da obrigação;
- Extensão integral do dever de prestar ou do direito à prestação em relação
respetivamente a todos os devedores;
- A solidariedade dos devedores só existe quando resulte da lei ou da vontade
das partes ( 513º)3;
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Se nada tiver sido estipulado pelas partes nem resultar da própria lei, a regra não é assim da solidariedade mas da
conjução)
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Não podendo o benefício da divisão ser invocado depois ( 518º)
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lhes compete obrigado a satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito
comum- 533º ):
- Relações Externas : em relação aos credores, apenas um deles pode exigir por
si só a prestação integral, liberando-se o devedor perante todos com a
realização da prestação a qualquer um dos credores ( 512º.1). O devedor
pode, escolher o credor solidário a quem realiza a prestação, enquanto não
tiver sido judicialmente citado por um credor cujo crédito se encontre
vencido ( 528º.1);
- Relações Internas: caracteriza-se pelo facto de o credor cujo direito foi
satisfeito além da parte que lhe competia na relação ter a obrigação de
satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito comum;
Características:
- A lei refere que se se verificar a extinção da obrigação em relação a algum ou
alguns dos devedores, o credor não fica inibido de exigir a prestação dos
restantes obrigados, contanto que lhes entregue o valor da parte que cabia
ao devedor ou devedores exonerados (536º);
- Quanto à impossibilidade da prestação por facto imputável a algum ou
alguns dos devedores, a lei dispõe que outros ficam exonerados ( 537º);
exemplo: A destrói culposamente o automóvel , só ele deverá ser sujeito à
indemnização perante impossibilidade culposa (809º.1)
Se a obrigação for indivisível com pluralidade de credores a lei refere que qualquer
um deles tem o direito de exigir a indemnização por inteiro. 5
5
Menezes Cordeiro- regime significa que a criação judicial do devedor por um dos credores transforma a obrigação
conjunta em solidária;
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2. Fontes das Obrigações:
A obrigação constitui um efeito jurídico, que tem sempre na sua origem um facto
que o desencadeia, denominadas por fontes de obrigações;
As obrigações podem resultar de diversos fenómenos jurídicos, sendo denominado
fonte da obrigação o facto jurídico de onde emerge a relação obrigacional. A
enumeração das fontes seguir-se-á.
2.1 Contrato
Os negócios jurídicos são distinguidos entre :
- Unilaterais ( possuem apenas uma parte);
- Contratos ( possuem duas ou mais partes);
Por parte deve-se entender não uma pessoa mas antes um interesse, o que poderia
implicar que duas ou mais pessoas constituírem uma única parte, quando tivessem
interesses comuns, daí a exigência precisamente da estipulação contratual.
→ Baseado nos efeitos que venham a ser desencadeados: nos negócio unilaterais
os efeitos não diferenciam as pessoas que eventualmente neles tenham intervindo,
pois neles há apenas uma pessoa, uma declaração um interesse”.
→Contratos: os efeitos diferenciam duas ou mais pessoas, isto é: fazem, surgir a
cargo de cada interveniente, regras próprias que devam ser cumpridas e possam ser
violadas independentemente uma das outras;
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seriam um contrato pois exigem duas ou mais declarações negociais para a sua
efetivação ( 940º).Não são os efeitos do negócio que permitem distinguir os
contratos dos negócios unilaterais, mas antes o seu modo de formação.
Formais- são excepcionais todas as disposições que exigem sob pena de nulidade, a
adopção de uma forma especial para a declaração negocial;
2.2.3 Efeitos
- Obrigacionais e Reais:
→ Obrigacionais ( criação de direitos de crédito e obrigações, sendo a sua eficácia
sobre a esfera jurídica das partes imediata);
→ Reais ( pode suceder que a sua eficácia não seja imediata, o que sucede sempre
que não estejam preenchidos, no momento da celebração do contrato, os
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requisitos necessários para que o contrato dê origem a uma situação jurídica de
natureza real);
Regra geral a transmissão de direitos ocorre por mero efeito do contrato ( 408º.1).
A transmissão da propriedade no momento da celebração do contrato apenas
ocorre relativamente a coisas que já possuam os requisitos necessários para sobre
elas ser constituído um direito real.
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Galvão Telles, Antunes Varela e Almeida Costa;
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➥O professor Menezes Cordeiro diz que num contrato há adstrição a cargo de
ambas as partes , mesmo nos não sinalagmáticos ( ou nos gratuitos), os contratos
produzem os seus efeitos perante as duas partes, as quais devem respeitá-los.
Em certas circunstâncias apenas uma das partes fica vinculada ( a outra irá dispor
do direito potestativo de desencadear para ambas as partes efeitos contratuais),
isto sucede na promessa unilateral ( 411º)em que uma das partes fica vinculada a
ter de celebrar o contrato definitivo, enquanto a outra pode decidir se quer ou não
uma promessa. è claramente diferente da sinalagmaticidade: um contrato não
sinalagmático fixa um regime relevante entre as partes, sem inserir, uma delas na
posição potestativa de tudo desencadear, podendo depender da mera vontade uma
das partes.
➥O professor Menezes Leitão diz porém que esta classificação não se justificará ,
ao dizer que se só uma das partes tem uma obrigação ou dizer que uma parte está
vinculada é a mesma coisa ( no exemplo do contrato-promessa unilateral
parece-nos clara a inexistência de sinalagma , pois só uma das partes tem a
obrigação de celebrar o contrato definitivo).
Os contratos sinalagmáticos opõe-se assim aos não sinalagmáticos, que podem ser
unilaterais, em que apenas uma das partes assume uma obrigação ou bilaterais
imperfeitos em que uma das partes assume uma obrigação, mas a outra apenas
realiza uma prestação em circunstâncias eventuais.
Reconduz-se à existência de obrigações recíprocas para ambas as partes do
contrato ou apenas a uma delas.
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Aspetos do regime:
- Excepção de não cumprimento do contrato ( cada uma das partes pode
recusar a sua prestação enquanto a outra não efetuar a que lhe cabe- 428º);
- Resolução por incumprimento ( o contraente fiel pode resolver o contrato
se a outra parte incumprir a sua obrigação -801º.2);
- Caducidade do contrato sinalagmático por impossibilidade (
impossibilitação de uma das prestações e determina a restituição da outra -
795º1);
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Contrato Típico-quando o seu regime se encontra previsto na lei.
Contrato Atípico-quando o seu regime não se encontra previsto na lei.
Categorias:
- Múltiplos: partes estipulam que uma delas deve realizar prestações
correspondente a dois contatos típicos distintos, enquanto a outra realiza
uma única contraprestação comum.
➥exemplo: Se alguém vender um automóvel a outrem e simultaneamente
comprometer a conduzi-lo.
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Nos contratos mistos qual o regime que deve ser aplicado? ( uma vez que as
partes, ao reunirem no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios total ou
parcialmente negociados na lei, provocam sempre um conflito de regimes legais
potencialmente aplicáveis).
→ Almeida Costa: faz apelo aos critérios de integração dos negócios jurídicos
(239º), mas em primeiro lugar deve ser averiguada a possibilidade de aplicação
analógica da disciplina de algum / alguns contratos típicos, o que corresponderá à
teoria da analogia;
→ Menezes Cordeiro: perante um contrato misto, devemos indagar, com recurso
ao sentido objetivo do conjunto, à finalidade comum das partes e às valorações
envolvidas, qual o centro de gravidade a relevar. Na presença de contratos mistos
cujo tipo básico contraire normas imperativas, temos: - ou que se recorra ao
método da combinação, de modo a assegurar a aplicação da parte injuntiva; ou se
cai na nulidade, por contrariedade à lei (280º.1 e 294º), salva a hipótese de
conversão (293º).
Mais relevante será a vontade das partes. Ao confeccionar um contrato misto,
poderão ter visado, muito simplesmente o afastamento das normas típicas que não
lhes conviesse. A vontade contratual deve pois ser respeitada, apenas com uma
prevenção: a de que não deve ser contrariada pelo conjunto, que prevalece, salvo
vício na conformação ou na exteriorização da vontade.
Formas:
→União Externa: ligação entre os diversos contratos resulta apenas da
circunstância de serem celebrados ao mesmo tempo.
→União Interna: apresentam-se ligados entre si por uma relação de dependência,
na altura da sua celebração uma das partes estabelece que não aceitaria celebrar um
dos contratos sem o outro.
→ União Alternativa: partes declaram pretender ou ou outro contrato,
consoante ocorrer ou não verificação de determinada condição.
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2.3. Contratos Preliminares
Contratos cuja execução pressupõe a celebração de outros contratos. Muitas vezes
ocorrem situações em que falta esta efetiva vinculação embora as partes assumam
certos compromissos durante a fase das negociações, o que corresponde ao
fenómeno que Menezes Cordeiro denomina de contratação mitigada.
2.3.1 Contrato-Promessa
A definição encontra-se prevista no artigo 410º.1, vista como a convenção pela
qual alguém se obriga a celebrar um novo contrato ou como Calvão Silva diria “ a
convenção pela qual além se obriga a celebrar certo negócio jurídico por forma a
abranger tanto negócios bilaterais ou contratos como negócios unilaterais”. O
contrato- promessa caracteriza-se especialmente pelo seu objeto, uma obrigação de
contratar.
Este contrato tem uma convenção autónoma do contrato definitivo, uma vez que
se caracteriza normalmente por ter eficácia meramente obrigacional, mesmo que o
contrato definitivo tenha eficácia real.
Apesar desta autonomia entre os dois contratos, a lei não deixou de sujeitar em
princípio o contrato-promessa ao mesmo regime do contrato definitivo ( 410º.1).
É o que se denomina de princípio da equiparação. Efetua-se uma extensão do
regime do contrato definitivo ao contrato-promessa, sujeitando-se este em
princípio às mesmas regras que vigoram para o contrato definitivo.
Modalidades:
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- Unilateral: consoante uma das partes se vincule à celebração do
contrato-futuro.
Esta modalidade pode ser remunerada, o que sucede sempre que a outra parte
assuma a obrigação de pagar ao promitente determinada quantia como
contrapartida pelo facto de se manter durante certo tempo vinculado à celebração
de um contrato.
A lei considera que o direito à celebração do contrato definitivo apenas deve poder
ser exercido dentro de um prazo limitado, pelo que sempre que as partes não o
estipulem é possível ao promitente fixar à outra parte de um prazo para o exercício
do direito, findo qual este caducará ( 411º).
➥exemplo: Alguém que se compromete da mesma forma a vender o imóvel por
um certo preço mas a outra parte não se comprometer a comprar-lho ficando livre
de o fazer ou não.
Forma:
Relativamente à forma, o contrato-promessa segue por esse motivo, o regime
geral, que se baseia precisamente na liberdade de forma ( 219º). Há uma exceção,
presente no artigo 410º.2, quando a lei nos exige um documento autêntico ou
particular para o contrato prometido é também exigido documento para o
contrato-promessa ainda que o contrato exija um documento particular apenas
será necessário um documento autêntico.
➥exemplo: O contrato promessa de compra e venda de um imóvel, sujeita por lei a
escritura pública ou documento particular autenticado ( 875º) .
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pressupõe uma invalidade parcial-292º) e o contrato-promessa bilateral a que falte
uma das assinaturas apresenta-se como completamente nulo, por falta de forma
exigida por lei. A natureza sinalagmática do contrato promessa bilateral torná-lo
diferente do contrato-promessa unilateral. Não se estaria assim perante um
aproveitamento parcial do negócio, mas perante a sua transformação num negócio
de tipo ou pelo menos de conteúdo diferente.
Execução específica:
No contrato-promessa os promitentes vinculam-se a uma prestação de facto
jurídico. A lei admite a execução especifíca desta obrigação, consiste em que o
devedor ser substituído no cumprimento, obtendo o credor a satisfação do seu
direito por via judicial ( o tribunal emitirá uma sentença que produzirá os mesmos
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efeitos jurídicos da declaração negocial que não foi realizada, operando-se assim a
constituição do contrato definitivo).
Pelo artigo 830º resulta que o não cumprimento da promessa atribui à outra parte
do direito a recorrer à execução específica. A execução específica deixa de ser
possível a partir do momento em que se verifique uma impossibilidade definitiva
de cumprimento, como no caso de o bem que se prometeu vender já ter sido
alienado a um terceiro, ou não ser possível obter a licença de utilização do imóvel.
Sinal - cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante a qual uma das partes
entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível( em
regra dinheiro).
➥exemplo: António e Bento obrigam-se reciprocamente a vender e comprar a
certo preço 1 imóvel, acordando Bento na entrega a António o sinal de 5000€. Se
Bento incumprir terá António o direito de exigir que aquele lhe entregue 10000€,
se for ao contrário Bento tem o direito de fazer seus os 5000 €
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Contra: Menezes Cordeiro que admite a exigibilidade do sinal logo que haja incumprimento aprazado
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Funcionamento:
O artigo 442º.1, refere-se ao regime do sinal em geral, indicado o seu
funcionamento em caso de cumprimetno da obrigação. A primeira parte do
442º.2, explica o funcionamento em caso de não cumprimento do sinal.
Já a segunda parte do 442º.2 fala especificamente do funcionamento do sinal do
contrato-promessa. Uma questão controvertida tem sido saber se a exigência do
aumento do valor da coisa o do direito, a que se refere o contrato-prometido,
pressupõe que tenha sido constituído sinal ou basta-se com a tradição da coisa
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na coisa entregue, a lei vem determinar que essa valorizaç possa ser atribuída ao
promitente-comprador, em alternativa à indemnização convencionada
Funções do Sinal:
➪Menezes Cordeiro: o regime vigente procedeu à junção das diversas funções do
sinal, uma vez que tem natureza confirmatória-penal e dá consistência ao contrato
e funciona como indemnização e natureza penitencial “ quando funcione como
preço arrependimento permitindo ao interessado resolver o contrato, mediante o
pagamento que resulte do próprio sinal.
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É um contrato unilateral, em que apenas uma das partes assume uma obrigação
ficando a outra parte ( o titular da preferência ) livre de exercer ou não o seu
direito.
Forma:
Encontra-se sujeito ao mesmo regime do contrato-promessa (415º), significa que
regra geral a sua validade não depende de forma especial, apenas exigindo
documento particular se for exigido documento autêntico ou particular. 8
Obrigação de preferência:
Regulada genericamente nos artigos 416º a 418º. A forma de cumpriemnto da
obrigação de preferência prevista no artigo 416º.
Resulta desta norma em primeiro lugar, a forma adequada de cumprir a obrigação
de preferência é efetuar uma comunicação para preferência. A lei não exige uma
forma específica para essa comunicação, o que implica que ela possa ser
inclusivamente verbal, ao abrigo do artigo 219º.
As partes quase sempre optam por fazer estas comunicações por escrito, como
forma de se preverem para a hipótese de posterior discussão judicial. Caso o
8
Não se aplica ao pacto de preferência o regime do 410º.3, pelo que esse documento não estará em caso algum sujeito a
mais formalidades.
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titular da preferência rejeite uma proposta contratual ou convite a contratar não
perde o seu direito de preferência. Se, no entanto vier a ser celebrado o contrato
em consequência dessa proposta/ convite, o direito de preferência extinguir-se-á
por inutilidade.
A comunicação por preferência não pode ser realizada logo que o obrigado se
encontre na situação de “querer vender” ao contrário do que parece resultar do
416º. Exigir-se-á antes uma negociação com terceiro, com o qual sejam acordadas
as cláusulas a comunicar designadamente preço e condições de pagamento. A
comunicação para preferência terá, que ser efetuada antes da celebração de um
contrato definitivo com o referido terceiro ➝ Caso contrário: Incumprimento
Efetuada a comunicação para a preferência o titular tem que exercer o seu direito
no prazo de 8 dias, salvo se o pacto de preferência o vincular a um prazo mais
curto / longo.
Exercida a preferência ambas as partes perdem a liberdade de decidir celebrar ou
não contrato ➞Se voltarem atrás: Ilicitude
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Ambas as partes formulam uma proposta de contrato e respetiva aceitação, que
em princípio deveria implicar sem mais a celebração do contrato definitivo desde
que estejam preenchidos os seus requisitos de forma.
O direito de preferência só surge caso o brigado tome a decisão de celebrar o
contrato em relação ao qual tenha concedido a preferência, não havendo
naturalmente incumprimento da obrigação de preferência se o obrigado celebrar
um contrato de natureza diferente do contrato preferível, mesmo que esse
contrato implique a não celebração em definitivo do contrato preferível. Há 2
hipóteses que a lei considera poderem ainda justificar a manutenção da
preferência:
- união de contratos ( 417º);
- contratos mistos ( 418º);
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vontade, com a indicação de um preço superior ou inferior no intuito de
defraudar o exercício da competência ?
→ Preço Superior: o negócio será nulo ( 240º.2), a preferência é naturalmente
exercida em relação ao negócio válido.
→Preço Inferior : Menezes Cordeiro sustenta a não permissão aos simuladores de
exigir que a preferência seja realizada pelo preço real equivale a autorizar um
enriquecimento ilegítimo do preferente à custa dos simuladores que nada justifica.
Sustentado através de uma interpretação do 243º.2, não considerado a situação do
preferente neste caso como a de um terceiro de boa fé , pois o direito de adquirir
por determinado preço só se constituiria com a sentença que julgasse procedente a
ação de preferência.
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O contrato a favor de terceiro faz nascer automaticamente um direito para o
terceiro, o qual se constitui independentemente de aceitação deste ( 444º.1). A lei
prevê ainda a possibilidade de o terceiro aderir à promessa ( 447º.1) , a sua função
é antes impedir a revogação da promessa a qual pode ser efetuada enquanto adesão
não for manifestada ( 448º.1). A revogação compete ao promissário, mas necessita
do acordo do promitente, quando a promessa tenha sido efetuada no interesse de
ambos ( 448º.2) .
➥exemplo: Caso de alguém acordar com um restaurante que ele forneceria uma
refeição na noite de Natal aos pobres de determinada região;
Caso de alguém se comprometer a não urbanizar a um terreno em ordem a
permitir a conservação de uma floresta.
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Para Miguel Teixeira de Sousa, existe aqui apenas uma única posição jurídica objetiva que permite a aquisição da
prestação que é o direito de crédito do terceiro, independentemente de a vinculação subjetiva do promitente ocorrer
tanto em relação ao terceiro como ao promissário.
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➢Promessa de contribuir depois da morte do promissário
Faz exceção ao regime do 444º.1, uma vez que oterceiro nãop ode exigir o
cumpriemtno da promessa antes da verificação da morte do promissário. A lei vem
presumir que a estipulação das partes é no sentido de que o terceiro só adquire
direito com a morte do promissário (451º.1) mas que, se aquele falecer antes deste,
os seus herdeiros são chamados no lugar dele à titularidade da promessa ( 451º.2).
2.7.Negócios Unilaterais
No princípio da autonomia privada consiste na celebração de contratos, daí
resulta uma certa limitação à constituição de obrigações por negócio unilateral:
- a constituição de obrigações por negócio unilateral implicaria a constituição
de um direito de crédito na esfera jurídica alheia sem acordo do seu titular;
- admitir a eficácia dos negócios unilaterais como constitutivos de obrigações
poderá conduzir à criação de vinculações precipitadamente assumidas, sem
a prévia obtenção do acordo das partes em relação a elas.
O artigo 457º estabelecer um princípio da tipicidade dos negócios unilaterais
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qualquer contrato, o princípio da tipicidade fica esvaziado de conteúdo, uma vez
que a lei prevê um tipo de negócio suficientemente abrangente para permitir a
atipicidade negocial.
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3. Fonte das obrigações baseadas no princípio do
ressarcimento dos danos
3.1 A responsabilidade civil
Responsabilidade Civil - conjunto de factos que dão origem à obrigação de
indemnizar os danos sofridos por outrem.
Consiste por isso, numa fonte de obrigações baseada no princípio do
ressarcimento dos danos.
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obrigacional tal só acontecerá se esse regime já vigora para a obrigação
incumprida;
A diferença entre a responsabilidade delitual e a responsabilidade obrigacional é
que:
-enquanto a responsabilidade delitual surge como consequência da violação de
direitos absolutos ) aparecem assim desligados de qualquer relação inter-subjetiva
previamente existente entre lesante e lesado);
- já a obrigacional pressupõe a existência de uma relação intersubjetiva, que atribui
ao lesado um direito à prestação surgindo como consequência da violação de um
dever emergente dessa relação específica;
3.2.1.1 Facto
O facto voluntário do lesante trata-se de uma situação de responsabilidade civil
subjetiva, que nunca poderia ser estabelecida sem existir um comportamento
dominável pela vontade que possa ser imputável a um ser humano e visto como
expressão da conduta de um sujeito responsável.
Não se exige que o comportamento do agente seja intencional ou sequer que
consista numa atuação, bastando que exista uma conduta que lhe possa ser
imputada em virtude de estar sobre o controlo da sua vontade ( não são por isso
factos voluntários, por estarem fora do controle da vontade agente
acontecimentos como rajadas de vento ou terramotos).
Ao agente podem não constituir factos voluntários sempre que lhe falte a
consciência ou não possa exercer o domínio sobre a sua vontade.
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➥exemplo: Não envolve por isso a responsabilidade civil a situação de o agente
destruir um vaso de porcelana precioso, porque cai sobre ele em consequência de
uma síncope cardíaca
Para alguém ser responsável por omissão pelos danos sofridos por outrem se exija,
para além dos outros pressupostos da responsabilidade delitual, um dever
específico, que torne um particular sujeito garante da não ocorrência desses danos.
Conforme resulta do artigo 486º, esse dever específico de garante pode ser criado
por contrato. A doutrina dos deveres de segurança ou da prevenção de perigos
delituais, permitiu alargar a responsabilidade delitual por omissão.
⟹Sempre que alguém possui coisas ou exerce uma atividade que se apresentam
como potencialmente susceptíveis de causar danos a outrem, tem igualmente o
dever de tornar as providências adequadas a evitar a ocorrência de danos, podendo
responder por omissão se o não fizer;
➥ exemplo: Se um ramo cai de uma árvore seca e provoca danos, o proprietário é
responsável por não a ter cortado// Se uma criança atinge outra com uma arma de
caça o dono pode ser responsabilizado por a ter deixado em sítio acessível;
3.2.1.2. Ilicitude
Exigência expressa da ilicitude do facto praticado pelo agente, que nos termos do
artigo 483º pode consistir na violação de direitos subjetivos alheios, ou de
disposições legais destinadas a proteger interesses alheios ( 334º,335, 484º e 485º).
Surge assim como um juízo de desvalor atribuído pela ordem jurídica , ficando a
dúvida em determinar que o juízo de desvalor se refere em relação ao
comportamento do agente ou sobre o seu próprio resultado.
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Poderíamos por vezes considerar ilícitos comportamentos que são perfeitamente
conformes ao tráfego apenas porque são casualmente adequados a produzir o
resultado. Se o agente atuou conforme as regras do tráfego parece incorreto
considerar presente a ilicitude
➥ exemplo: O condutor de comboios que, conduzindo corretamente, mata um
suicida.
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Haverá ilicitude sempre que sejam violados direitos de personalidade, como o
direito ao nome ( 72º e 74º) e à não divulgação de escritos confidenciais ( 75º a
78º), à imagem ( 79º) e à intimidade privada ( 80º).
A tutela jurídica da personalidade física e moral ( 70º), que prevê a sua proteção
pela responsabilidade civil ( 70º.2).
38
Esta previsão abrange indistintamente a afirmação ou difusão de quaisquer fatos
sejam eles falsos ou verdadeiros?
→ Pessoa Jorge: desde que a divulgação não integrasse os pressupostos de um
previsão penal, não haveria responsabilidade pela divulgação de factos verdadeiros,
já que teria que se considerar ilícita a atividade das agências de informações.
→ Antunes Varela: considerou abrangida também aqui a divulgação de factos
verdadeiros já que este representa igualmente uma ofensa ao crédito ou do bom
nome;
→Menezes Cordeiro + Almeida Costa: embora a regra seja a irrelevância da
veracidade ou falsidade do facto, sempre que a difusão corresponda a interesses
legítimos deve-se admitir a exclusão da responsabilidade com base na exceptio
veritatis.
→ Ribeiro de Faria: a divulgação de factos verdadeiros apenas deverá envolver a
responsabilização do agente se for efetuada dolosamente, pelo que a não se
considerar consagrada esta solução no 484º, não poderá admitir-se a inclusão no
seu âmbito de divulgação de atos verdadeiros.
O que sucede se não se verificar qualquer destas 3 situações mas o agentes tiver
atuado em dolo?
39
- Pessoa Jorge + Almeida Costa: a atuação dolosa do agente está igualmente
abrangida pela exclusão da responsabilidade prevista no artigo 485º.1;
- Menezes Cordeiro: sustenta que qualquer atuação dolosa envolve
necessariamente responsabilidade por parte do agente relativamente aos
danos causados pela informação falsa;
- Cumprimento de um dever:
Vigorando para o sujeito o dever de adoptar determinada conduta este pode ver-se
forçado a acatá-la ainda que para isso tenha que infringir outros deveres relativos.
➥ exemplo: O médico que apenas dispõe de um número limitado de unidades
para efetuar transfusões de sangue pode, em caso de excesso de sinistrados, optar
por privilegiar os doentes em maior risco, sem que atua ilicitamente;
- Legítima Defesa:
Prevista no artigo 337º, consiste numa atitude defensiva do agente que estando a
ser vítima de uma agressão põe termo a essa geração pelos seus próprios meios.
Deve-se observar os p
ressupostos10:
10
O medo invencível justifica o ato ,ainda que haja excesso (337º.2)
40
- Ação Direta:
Prevista no artigo 336º, tendo os seguintes pressupostos:
➛ realização/ proteção de um direito subjetivo do próprio agente;
➛ impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
➛ a atuação do agente seja indispensável para evitar a inutilização prática do
direito;
➛o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo;
➛ o agente não sacrifique interesses superiores aos que a sua atuação visa realizar/
assegurar;
- Estado de Necessidade:
O artigo 339º prevê o regime do estado de necessidade, ao contrário da legítima
defesa, apenas justifica o sacrifício de bens patrimoniais . Permitindo que o agente
remova um perigo de um dano a o correr na sua própria esfera de terceiro ainda
que em certos casos imponha uma obrigação de compensar danos sofrido pelo
lesado ( 339º.2).
- Consentimento do lesado:
Previsto no artigo 340º.1 , destinando-se a responsabilidade civil à tutela de
interesses privados e normalmente disponíveis, o seu titular poderá renunciar a
essa tutela. A existência de consentimento retira ao ato lesivo a sua natureza ilícita
( exige-se no entanto que os atos consentidos não se apresentem como contrários a
uma proibição legal ou aos bons costumes- artigo 340º.2).
3.2.1.3 Culpa
Culpa- juízo de censura ao agente por ter adoptado a conduta que adoptou,
quando de acordo com o comando legal estaria obrigado a adoptar uma conduta
diferente .
Em sentido normativo, é a omissão da diligência que seria exigível ao agente de
acordo com o padrão de conduta que a lei impõe.
41
➢ Imputabilidade como pressuposto da culpa e o regime da responsabilidade
dos inimputáveis:
Para que o agente possa ser censurado pelo seu comportamento é sempre
necessário que ele conhecesse ou devesse conhecer o desvalor do seu
comportamento e que tivesse podido escolher a sua conduta:
→ falta de imputabilidade quando o agente não tem a necessária capacidade para
entender a valorização negativa do seu comportamento ou lhe falte a possibilidade
de o determinar livremente;
→ imputabilidade é um pressuposto do juízo de culpa, o agente fica isento de
responsabilidade se praticar o facto em estado de inimputabilidade ( 488º.1), a lei
presume que se verifica sempre que o agente seja menor de 7 anos ou interdito por
anomalia psíquica ( 488º.2) .
➢ O dolo e a negligência
O artigo 483º prevê 2 formas de culpa:
- dolo ( intenção do agente praticar o facto);
- negligência ( não se verifica essa intenção, mas o comportamento do
agente não deixa de ser censurável em virtude de ter omitido a diligência a
que estava legalmente obrigado);
42
Se o agente agir em com dolo atua logo ilicitamente desde que lese algum direito
subjetivo alheio ou um interesse objeto de uma norma de proteção. Se não existir
uma atuação dolosa do agente, só haverá ilicitude, se o agente violar um dever
objetivo de cuidado na lesão de bens jurídicos.
43
Dolo Eventual // Negligência Consciente:
- a diferença poderá residir no grau de probabilidade com que o resultado é
representado pelo agente, havendo dolo eventual quando o agente
representasse o resultado como extremamente provável e negligência no
caso contrário;
- haverá dolo eventual se o agente, na hipótese de ter considerado como certo
o resultado da sua conduta não tivesse adoptado comportamento diferente;
1- No artigo 494º, em casos negligência do agente a indeminização pode ser fixada
em montante inferior aos danos causados, tendo em consideração o grau de
culpabilidade, a par da situação económica do agente e do lesado e demais
circunstâncias do caso;
2- Pluralidade de responsáveis pelos danos (490º), caso em que a obrigação de
indemnização é solidária (497º.1), repartindo-se nas relações internas de acordos
com a medida das respectivas culpas, que se presumem iguais (497º.2+507º.2);
3- Releva em caso de concurso com a culpa do lesado, caso em que é a ponderação
das culpas de ambos que poderá determinar a concessão, redução ou exclusão de
indemnização ( 570º)
Graduação da culpabilidade:
- Culpa Grave ( situação de negligência grosseira, em que a conduta do
agente só seria susceptível de ser realizada por uma pessoa especialmente
negligente);
11
Não deixa de exigir, no entanto, uma análise das circunstâncias do caso, ou seja, do condicionalismo da situação e da
atividade em causa. A diligência exigida a um profissional qualificado na sua atividade não seja a mesma que é exigida a
um transeunte em passeio.
44
- Culpa Leve ( situação em que a conduta do agente não seria susceptível de
ser praticada por um homem médio, correspondendo assim a sua atuação à
omissão da diligência do b onus pater familias);
- Culpa Levíssima12 ( corresponde à situação em que a conduta do agente só
não seria realizada por uma pessoa excepcionalmente diligente, uma vez que
mesmo o homem médio não a conseguiria evitar).
➢ Prova da Culpa
Incumbe ao lesado a prova da culpa do autor da lesão (487º.1). em caso de
probatio diabolica ( prova difícil de realizar), esse ónus a cargo do lesado reduz em
grande medida as suas possibilidades efetivas de obter indeminização.
A lei estabelece presunções de culpa ( verificando-se uma inversão do ónus da
prova- 350º.1), por conta do lesante. As presunções genericamente ilidíveis (
350º.2), as dificuldades de prova neste domínio tornam, em caso de presunção de
culpa, muito mais segura a obtenção de indeminização pelo lesado. Exemplos de
presunção de culpa:
- Danos causados por incapazes:
Danos causados pelos incapazes naturais ( 491º), estabelecendo uma presunção de
culpa das pessoas a quem incumbe a vigilância, pode ser ilidida através da
demonstração de que cumpriram o seu dever de vigilância. A responsabilização
parte da presunção de não cumprimento do dever de vigilância, por parte das
pessoas sobre as quais este recai por lei,por negócio ou indicada através da prática
de um facto danoso pelo incapaz natural ( menor ou deficiente físico / mental)
Se o vigiado for considerado imputável (488º) e continuar a existir a
responsabilidade do vigilante, caso em que ambos responderão solidariamente
(497º). Se o vigiado for inimputável, só o vigilante responderá (491º), só se
admitindo ação contra o vigiado, por motivos de equidade no caso de ser
impossível exigir responsabilidade ao vigilante ( 489º) .
12
A culpa levíssima não é nesta sede considerada atualmente como culpa
45
→Antunes Varela: A aplicação desta presunção de culpa depende da prova de que
existia um vício de construção ou um defeito de conservação no edifício ou obra
que ruiu deveria ser realizada pelo lesado.
→Menezes Leitão: Fazer recair esta prova sobre o lesado equivale a retirar grande
parte do alcance à presunção de culpa. Salvo no caso extraordinários ( como nos
terramotos), a ruína de um edifício ou obra é um facto que indica só por si o
incumpriemnto de deveres relativos à construção/ conservação dos edifícios , não
se justificando por isso que recaia sobre o lesado o ónus suplementar de
demonstrar a forma como ocorreu esse incumprimento.
- Erro desculpável
A atuação do agente resulte de uma falsa representação da realidade, que não lhe
possa, em face das circunstâncias, ser censurada ( o artigo 338º reside sobre os
pressupostos da legítima defesa ou do estado de necessidade).
46
➥ exemplo: Alguém anda a ser perseguido numa floresta por um grupo de
assaltantes e na fuga depara com 2 homens armados que julga fazerem parte do
grupo, pelo que os resolve atingir os dois a tiro, vindo porém mais tarde a
descobrir que esses dois homens eram simples caçadores. Neste caso, ocorrerá a
exclusão da culpa do agente , uma vez que a sua reação é compreensível naquelas
circunstâncias.
-Medo Invencível:
A atuação do agente tenha sido provocada por um medo que ele não conseguiu
ultrapassar, sem que tal lhe possa, em face das circunstâncias, ser censurado. Pode
surgir em resultado de atuações humanas ( a coação psicológica por um terceiro),
como em resultado de fatores objetivos ( perigo desencadeado por fenómenos
naturais).
No entanto, se o perigo ameaçava um bem pessoal do agente ou terceiro e se não é
censurável ao agente não ter sido capaz de vencer o medo que o atingiu, a situação
representa uma causa de exclusão da culpa, o que justifica a ausência de
responsabilidade. O medo em causa de exclusão da culpa, diz respeito ao excesso
de legítima defesa.
- Desculpabilidade:
Embora não se verificando medo nem erro, em face das circunstâncias do caso não
lhe fosse exigível comportamento diferente.
➥ exemplo: Um médico que causa danos ao doente numa intervenção cirúrgica de
emergência, em virtude de num estado de emergência geral provocado por uma
catástrofe.
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obrigá-lo a indemnizar todos os danos sofridos pelo lesado, havendo antes que
efetuar uma ponderação de ambas as culpas e das consequências que delas
resultaram, sendo em função dessa ponderação que se estabelecerá a
indemnização.
a existência de dolo do lesante exclui a possibilidade de ponderação da culpa do
lesado, uma vez que o 570º não estabelece esse requisito.
➥ exemplo: Se alguém atingir outrem com uma faca, no intuito de lhe causar
danos corporais e os danos vêm ser consideravelmente agravados por o lesado se
recusar a tratar o ferimento, a agravação dos danos sofridos deve ser-lhe imputada
e não ao lesante.
A lei estabelece equiparação entre a culpa do lesado e a culpa dos seus auxiliares ou
das pessoas de que ele se tenha utilizado ( artigo 571º), evitando assim que o juízo
da culpa que pode recair sobre o lesado seja prejudicado pela interposição da culpa
de alguma destas entidades.
3.2.1.4. Dano
É uma condição essencial da responsabilidade, entendida como a supressão de uma
vantagem de que o sujeito beneficiava ou a frustração de uma utilidade que era
objeto de tutela jurídica.
48
Dano
⇙ ⇘
Real Patrimonial
⇙ ⇘
Dano Emergente Lucro Cessante
O artigo 562º estabelece o princípio geral, o que implica que a lei dê primazia à
reconstrução natural do dano ou à sua indemnização em espécie, no âmbito da
obrigação de indemnização.
O critério predominante é o da determinação do dano em sentido real, devendo
proporcionar-se ao lesado as mesmas utilidades que ele possuía antes da lesão,
através da reconstituição do bem afetado ou da entrega de um bem idêntico.
Quando não é possível reparar o bem ou entregar outro equivalente ou quando
essa forma de indemnização não seja o suficiente para reparar todos os danos
sofridos pelo devedor, ou ainda quando se torna absolutamente desproporcionado
em face dos sacrifícios que importa exigir do lesante a reconstituição natural do
dano, a lei vem estabelecer que a indenização seja fixada em dinheiro.
49
verificação de o dano para afixar. A fixação da indemnização naquele momento
depende, da determinabilidade do dano futuro;
A distinção tem que ver com o tipo de utilidades que esse bem proporciona e que
se vieram a frustrar com a lesão.
➥ exemplo: Se alguém causa uma lesão uma lesão no corpo de outrem, este sofre
danos não patrimoniais, correspondentes à dor e ao sofrimento físico suportados,
mas pode também sofrer danos patrimoniais, correspondentes à redução do valor
da sua força de trabalho:
50
→Antunes Varela + Oliveira Ascensão : contestam a possibilidade de atribuição
de indemnização pela perda da vida dizendo que o artigo 68º diz que a
personalidade jurídica cessa com a morte, pelo que a morte não permitirá a
aquisição de qualquer direito, não podendo consequentemente o direito de
indemnização ser transmitido.
→ Menezes Cordeiro + Menezes Leitão: propugnam que independentemente do
artigo 68º.1, a vida constitui um bem jurídico cuja lesão faz surgir na esfera
jurídica da vítima o direito a uma indemnização que naturalmente se transmitirá
aos seus herdeiros ( 2024º).
O 496º.4 trata os danos não patrimoniais ocorridos antes dessa morte, sendo que a
lesão que causou a morte, no caso de esta não ter sido instantânea, pode ter
produzido dor e sofrimento quer na vítima, quer nos seus familiares mais
próximos.
51
O facto pode ser causa do dano em termos muito remotos, que torna difícil
responsabilizar o agente por este.
➥ exemplo: O comerciante que vende uma vaca a um lavrador que a coloca junto
dos seus outros animais, acabando todos por vir a perecer da doença que a vaca
tinha mas que o comerciante dissimulou, sendo que todos os animais morrerão e o
agricultor acaba por tomar a sua própria vida.
O comerciante não pode ser responsabilizado por todos os danos que advenham
desse evento por isso terem de os avaliar por um critério jurídico, o do nexo de
causalidade entre facto e dano.
52
responsabilidade seja interrompida pela causa virtual o que se afigura de absurdo
face às funções preventivas e punitivas prosseguidas na responsabilidade delitual.
13
Menezes Cordeiro considera que os pressupostos se concentram numa só esfera , ou seja nesta modalidade todos os
pressupostos seriam presumidos.
53
Índice:
1.Direito das Obrigações: Parte Geral……………...……………...……………...………………………………...1
1.1 Definição de Obrigação…………...……………...……………...…………………………………………..…………...1
1.2. Características das
Obrigações:…………...……………...……………...………………………………..…………...1
1.3 Distinção entre Direitos de Crédito e Reais …………...……………...……………...………………..………….2
1.4. Objeto da Obrigação: A Prestação…………...……………...……………...………………………………………..2
1.5. Modalidades de
Prestações…………...……………...……………...……………………………………………...…...3
1.6. Modalidades das Obrigações…………...……………...……………...…………………………………………..…...4
1.7.Indeterminação e pluralidade das partes na relação obrigacional…………...……………...………...….11
54
3. Fonte das obrigações baseadas no princípio do ressarcimento dos danos….………..............34
3.1 A responsabilidade civil …………...……………...……………...…………………………………..……..………….34
3.2. Responsabilidade civil por factos ilícito…………...……………...……………...…………………..……..…..35
3.2.1 responsabilidade delitual …………...……………...……………...…………………………………..……..……..35
3.2.1.1 Facto …………...……………...……………...…………………………………..……..………………………….…...35
3.2.1.2. Ilicitude…………...……………...……………...…………………………………..……..…………………..……...36
3.2.1.3 Culpa…………...……………...……………...…………………………………..……..……………………………....41
3.2.1.4. Dano…………...……………...……………...…………………………………..……..………………………….…...48
3.2.1.5 Nexo de Causalidade entre Facto e Dano…………...……………...……………...…….………………….51
3.3. Responsabilidade Obrigacional ……………………………………………………………………………………....53
55