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Noções elementares Art.

403º:

Aquelas que nao sao verdadeiramente obrigaçoes,


Obrigação – art.397º: porque nao incluem a faculdade de exigir a prestaçao,
apenas a permissao normativa para a aproveitar.
É o vínculo jurídico sobre o qual uma pessoa fica
adstrita a realizaçao de uma prestaçao e que une as Contextos em que podem surgir:
partes.
• Jogo e aposta – art.1045º e art.1047º;
É o conjunto da situaçao jurídica passiva de quem fica
• Prescriçao;
adstrita a prestaçao e a situaçao ativa de quem a
recebe. • Obrigaçao de alimentos – art.2009º e
art.495º/3.
Prestação – art.398º: Doutrina:*

É uma conduta, e o um comportamento humano So existem quando o CC expressamente se refere a


voluntario. elas, nao podendo as partes criar obrigaçoes naturais.
Realizar a prestação = cumprir a obrigação.
Prof. Lima Rego discorda. O art.892º nao impede que
Sao o objeto da obrigaçao.
se criem figuras menores, que nao cheguem a ser
Nº1: as partes podem fixar o conteudo da prestaçao. direitos de credito. Quem tem direito a se vincular a
Nº2: nao precisa de ter valor pecuniario. Limite: so um verdadeiro direito de credito tambem se pode
podem criar obrigaçoes na sua esfera jurídica. vincular a figuras menores.

Conceito de credor e devedor: Cumprimento

Credor: titular ativo do direito de credito. Noção – art.762º:


Devedor: titular passivo do dever de prestaçao. Nº1: O devedor cumpre a obrigaçao quando realiza a
prestaçao a que esta adstrito.
Cumprimento e não cumprimento:
Nº2: as partes devem proceder de boa-fe.
Cumprimento: realizaçao voluntaria da prestaçao
devida. Efeitos: Éxtinçao da obrigaçao.
Nao cumprimento: diferente de incumprimento, visto
que esse encerra em si um desvalor no sentido de que Princípios relevantes:
devia ter havido cumprimento e nao houve. O nao • Princípio da pontualidade – art.406º/1;
cumprimento e a noçao mais ampla – pode ser • Princípio da integralidade – art.763º;
justificavel ou nao. • Materialidade subjacente.
Direito de crédito: Princípio da pontualidade:
Élementos: Eficácia dos contratos – art.406º:
• Faculdade de exigir a prestaçao;
• Permissao específica de a aproveitar. Nº1: deve ser pontualmente cumprido. So se pode
modificar ou extinguir por mutuo consentimento ou
Obrigações naturais – art.402º a 404º nos casos admitidos na lei.
Nº2: so produz efeitos relativamente a terceiros nos
Art.402º: casos admitidos na lei.
Aquelas que se fundam num mero dever de ordem
Norma aplicavel a qualquer obrigaçao, que deve ser
moral ou social, cujo cumprimento nao e judicialmente
cumprida ponto por ponto.
exigível, mas corresponde a um dever de justiça.
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Prestação de coisa diversa – art.837º: Deveres acessorios: asseguram a realizaçao do dever
de prestaçao principal de maneira a tutelar o interesse
Se o devedor prestar coisa diversa a devida, so fica
do credor, e evitar que a realizaçao da prestaçao possa
exonerado se o credor concordar.
provocar danos as partes. Tem como fonte o sistema
Princípio da integralidade: jurídico e a vigencia da boa-fe.

Realização integral da prestação – art.763º: Obrigações de meio e de resultados


Nº1: regra – a prestaçao realiza-se na íntegra. Obrigaçoes de resultado: o devedor vincula-se
Nº2: o credor pode exigir uma parte, mas o devedor efetivamente a obter um resultado determinado,
pode prestar por inteiro. respondendo por incumprimento no caso desse
resultado nao ser obtido.
Art.934º: pagamento a prestaçoes, nao integralmente, Obrigaçoes de meio: o devedor nao esta obrigado a
por acordo. obter um resultado, apenas a atuar com a diligencia
Art.813º: mora caso o credor nao aceitar a prestaçao, necessaria para que esse resultado seja obtido. Nao
de forma injustificada. sao automatizaveis da prestaçao principal.

Princípio da materialidade subjacente e da boa-fé: Presunção de culpa e apreciação desta – art.799º:*

Materialidade subjacente: razao pela qual aquela A lei presume que ha incumprimento ou
obrigaçao foi constituída para aproveitamento do incumprimento defeituoso se a prestaçao nao for
credor da prestaçao. realizada.
Princípio da boa-fe: art.762º/2 (vago). So se torna Credor: prova que a prestaçao nao foi realizada e
operacional de forma eficaz quando aplicado ao caso presume-se culpa.
concreto. Deste retiram-se deveres de conduta na Devedor: dever de provar que nao foi culpa sua.
realizaçao da prestaçao devida.
Obrigações de execução duradoura e execução
Deveres de comportamento/ acessórios de instantânea
conduta:
Obrigações de execução instantânea:
Impoe as partes um certo comportamento e nao sao
Integrais – consomem-se no momento em que surgem.
suscetíveis de enumeraçao taxativa. Surgem de acordo
Fracionadas – suscetíveis de serem cumpridas num so
com a relaçao obrigacional e do princípio da boa-fe.
momento, mas as partes acordam em fraciona-las, em
benefício do devedor.
Deveres acessorios de conduta:
• de lealdade;
Obrigações de execução duradoura:
• de proteçao.
Continuadas – a prestaçao e continuadamente
Deveres de lealdade: nao dificultar a realizaçao da
fornecida.
prestaçao.
Deveres de proteçao: obstar/prevenir que as partes Periodicas – a prestaçao e interrompida por um certo
período de tempo, mas e recorrente.
produzam danos umas as outras.

Não são suscetíveis de execução forçada – art.817º. Nota: Os deveres de boa-fe sao mais intensos nas
obrigaçao de execuçao duradoura. Ha outras formas
Deveres acessórios ≠ deveres secundários: de por termo a estes contratos.
Deveres secundarios: funçao instrumental face a
realizaçao da prestaçao principal e a satisfaçao dos
interesses do credor. Tem como fonte o contrato.
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Dívidas liquidáveis em prestações Atualização das obrigações pecuniárias – art.551º:

No caso de obrigaçoes de execuçao instantanea Aplicado se as partes nao disserem como a atualizaçao
fracionada ha um benefício do prazo. e feita e quando ha oscilaçoes do poder aquisitivo do
dinheiro, quando a lei o permitir.
Regra geral – art.781º:
Nota: No contrato de arredamento a lei preve
No caso de dívidas liquidaveis em duas ou mais atualizaçoes sem ser necessario estipulaçao das partes
prestaçoes, se uma for incumprida, todas as – art.1077º.
prestaçoes vencem e o credor pode exigi-las.
Dívidas de valor:
Regra especial – art.934º:
Dívidas de valor: obrigaçoes com o objetivo de se
Falta de pagamento nos contratos de compra e venda.
transformar em pecuniarias.
Nao ha perda do benefício do prazo nem se vencem
≠ Obrigaçoes pecuniarias.
todas as prestaçoes se nao exceder 1/8 do valor da
O que as distingue e se o montante da prestaçao esta
coisa.
ou nao definido no momento em que a obrigaçao
Prestações de dare ou de facere surge. Se o montante nao estiver definido temos uma
dívida de valor e so no momento da liquidação e que
Prestaçao de dare ou de coisa: sao aquelas em que se transforma num valor específico e sequentemente
alguem se obriga a entregar algo a alguem. Sao sempre em obrigação pecuniária.
positivas.
Prestaçoes de facere ou de facto: sao aquelas em que Exemplos em que a lei prevê a forma do
alguem se obriga a prestar uma conduta de outra pagamento:
ordem. Podem ser positivas (implicam a pratica de
Art.798º/2 CPC (pagamento por entrega de dinheiro):
uma conduta) ou negativas (implicam a abstençao de
pagamento feito por cheque ou transferencia bancaria.
uma conduta).
Art.63º-C LGT: as empresas estao obrigadas a ter uma
Normalmente, todas as prestaçoes abrigam as duas, se conta bancaria e devem fazer os pagamentos igual ou
bem que da para apontar a dominante. superior a 1000€ atraves dessas contas bancarias.
(moeda bancaria)
Obrigações pecuniárias* Art.40º LGT: o Éstado e obrigado a admitir a moeda
bancaria para pagamento de impostos. (moeda
ML: aquelas que tem dinheiro por objeto, visando bancaria)
proporcionar ao credor o valor que as respetivas
especies monetarias possuam. Obrigações de juros – art.559º e ss.
Sao as obrigaçoes mais genericas e incorporam
prestaçoes de dare. Noção de frutos – art.212º:

Princípio nominalista – art.550º: Art.212º/1: definiçao.


Os juros sao frutos civis que resultam periodicamente
O cumprimento das obrigaçoes pecuniarias faz-se em de uma relaçao jurídica.
moeda que tenha curso legal no país a data em que for
efetuado e pelo valor nominal que nesse momento Autonomia do crédito de juros – art.561º:
tiver, salvo estipulaçao em contrario.
Sempre que de uma determinada relaçao jurídica
Moeda com curso legal e o euro – CÉ nº1103/97 de 17 emerjam juros, essa prestaçao e o credito
de junho e CÉ nº974/98 de 3 de maio. correspondente e autonomo da outra obrigaçao - se o
credito principal for cedido, o de juros nao vai atras.
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Modalidades dos juros Calcular juros
Juros remuneratórios: 4% x (numero de meses)/12 = taxa de juros aplicavel
(TJA)
Pela utilizaçao de capital alheio durante certo tempo, TJA x prestaçao = credito de juros.
que visam remunerar alguem que disponibiliza capital
seu a outrem. Nota: 4% = 0.04

Art.1145º (contrato mutuo): pagamento de juros Taxa de juros máxima – usura


como retribuiçao do mutuo.
Limitação das taxas de juros:
Juros indemnizatórios:

Visam compensar uma privaçao de capital ligada a 1. Recorrer as regras da usura (art.282º a 284º).
uma situaçao de incumprimento contratual, Difícil prova.
temporario ou definitivo. 2. Juros usurarios – art.559º-A → art.1146º (este
nao se aplica somente ao contrario mutuo, mas
Art.806º: juros de mora. a todos os juros).

Juros compulsórios: Usura – art.1146º:

Associados a uma sançao pecuniaria compulsoria. É usurario o juro anual que exceda os juros legais (4%)
Visam incentivar o infrator a cumprir, e nao a + 3% ou 5%.
compensar.
3% - nos casos onde ha garantias reais, algo que afeta
Art.829º-A/4: determina que por cada dia de atraso o a satisfaçao de um credito (ex. hipoteca)
devedor pague mais x juros. 5% - se o risco do credor for maior.

Juros compensatórios: Taxas de juros bancárias:


Sao fixados com o objetivo de compensar o credor por
Éste regime e limites nao se aplicam as taxas de juros
uma temporaria privaçao do capital que ele nao
bancarias, por aviso 3/93 do BP.
deveria ter suportado, mas nao num contexto de
incumprimento. Anatocismo – art.560º
Juros Cobrança de juros sobre juros.

Juros legais: Capitalização de juros:


Art.559º (regra supletiva): Supletivamente se as
Transforma juros em capital, de forma a que se possam
partes nao o determinarem ou quando previstos em
cobrar juros sobre os juros mais o capital inicial
normas legais.
passado um ano.
Portaria 291/2003 - taxa de 4% ao ano.
Princípio geral de proibição do anatocismo:
Nota: nao se aplica as relaçoes comerciais (que sao
Nao se podem cobrar juros sobre juros, visa proteger
mais altos que os civis).
o devedor que esta em incumprimento.
Juros convencionais:
Exceções – art.560º:
A sua taxa ou quantitativo e estipulada pelas partes.
Nº1: Por convençao posterior ao vencimento;
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Nº2: Prazo 1 ano; A lei generaliza o princípio da legitimidade ativa –
Nº3: Se os usos o permitirem. todas as pessoas podem cumprir a obrigaçao, tenham
interesse ou nao.
DL 58/2003 no ambito bancario ha regras que
facilitam a capitalizaçao de juros. Quem é que pode cumprir – art.767º:

AUJ 7/2009 Nº1: qualquer pessoa.


Nº2: a nao ser que as partes estipulem de outra forma
No contrato de mutuo oneroso liquidavel em ou a substituiçao prejudique o credor (intuitus
prestaçoes, o vencimento imediato destas ao abrigo do personae).
art.781º, nao implica a obrigaçao de pagamento dos ML: do nº1 resulta que as prestaçoes sao fungíveis e do
juros nela incorporados. Quando as dívidas liquidáveis nº2 sao os casos em que a prestaçao e infungível.
em prestações vencem-se, isso não implica o pagamento
dos juros remuneratórios. Recusa da prestação pelo credor – art.768º:

Nº1: quando a prestaçao for realizada por terceiro


Ac. Relação de Lisboa 04/07/2013
com legitimidade, se o credor recusar entao entra em
As partes podem convencionar que os juros podem ser mora.
pedidos ate ao termo do contrato. Nº2: o credor nao tem de aceitar se o devedor se opor
e se o terceiro nao poder ficar sub-rogado. Mesmo que
Legitimidade e capacidade o devedor se oponha o credor pode aceitar.

Legitimidade: quem tem capacidade jurídica para Nota:


realizar a prestaçao. • Nas obrigaçoes pecuniarias aplica-se sempre a
Capacidade: a pessoa em específico reune regra geral porque qualquer pessoa tem
discernimento para conscientemente realizar a legitimidade.
prestaçao. • Mesmo que terceiro (solvens) cumpra, nao
significa que receba a contraprestaçao.
Solvens e accipiens • Nem sempre existe um accipiens, so existe se
envolver entrega ou um ato perante certa
Solvens: pessoa.
Quem realiza a prestaçao (cumpre), tendo ou nao o
A quem deve ser feita a prestação – art.769º:
dever de faze-lo.
≠ devedor – o unico que esta vinculado a cumprir. Apenas o credor ou o seu representante pode receber
a prestaçao.
Accipiens:

A quem a prestaçao e realizada. Prestação feita a terceiro – art.770º:


≠ credor – unico que tem o direito de exigir o
Por regra nao pode ser feita a terceiros, a nao ser que:
cumprimento e que tem a possibilidade de a
a) Seja estipulado ou consentido pelo credor;
aproveitar.
b) Se o credor ratificar;
c) Quem recebeu passou a ser credor;
Legitimidade para o cumprimento
d) Se o credor aproveitar-se da aprovaçao e nao
Regras supletivas que existem na falta de disposiçao tiver interesse fundado em nao considerar.
das partes em sentido diferente. As partes tem
autonomia para criar os seus regimes. Necessario atender a materialidade subjacente. Se o
processo correu bem, mesmo que tenha sido prestado
a quem nao tenha legitimidade ativa, a irregularidade
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sana-se. Caso contrario, o risco de por conta do Atos dos representantes legais ou auxiliares –
devedor e a obrigaçao nao se extingue. art.800º:

Prestações dispositivas e não dispositivas Responsabilidade do devedor pelos atos dos


representantes. (culpa na escolha)
Prestaçoes dispositivas: envolvem uma disposiçao
patrimonial. Prestações fungíveis e infungíveis
Prestaçoes nao dispositivas: nao ha disposiçao
patrimonial. Prestaçoes fungíveis: aquelas em que a prestaçao pode
ser realizada por outrem que nao o devedor, podendo
Capacidade para o cumprimento assim este fazer-se substituir no cumprimento.
Prestaçoes infungíveis: aquelas em que so o devedor
Fala-se de capacidade apenas relativamente a atos de pode realizar a prestaçao, nao sendo permitida a sua
disposiçao. realizaçao por terceiro.
Ém todo o regime esta presente o princípio da
materialidade subjacente. Mesmo se a pessoa nao Lugar do cumprimento - art.772º a 776º
tiver capacidade, se na pratica tudo correu bem, o
credor esta impossibilitado de protestar o Princípio geral – art.772º:
cumprimento.
A prestaçao deve ser efetuada no domicílio do devedor.
Capacidade do devedor e do credor – art.764º:
Entrega de coisa móvel – art.773º:
Regra: nao se exige capacidade do devedor, a menos
que a prestaçao consista num ato de disposiçao. No lugar onde a coisa esta no momento do negocio.
Nº1: devedor de ato dispositivo → credor pode recusar
a prestaçao feita por solvens incapaz sob risco de Compra e venda – art.885º:
anulaçao futura → mas o credor pode opor-se a
Regra supletiva.
anulaçao se o solvens nao tiver prejuízo.
Nº1: pagamento no momento e lugar da entrega.
Nº2: accipiens incapaz → representante legal pode
Nº2: ou o pagamento e feito no domicílio do credor, se
anular e exigir nova prestaçao → mas o devedor pode
nao for pago na hora por acordo ou uso.
opor-se a anulaçao se o credor receber a prestaçao.
Obrigações pecuniárias sem contraprestação –
Entrega da coisa de que o devedor não pode dispor
art.774º:
– art.765º:

Nº1: o credor pode impugnar o cumprimento, sendo A prestaçao deve ser efetuada no domicílio do credor.
ressarcido pelos danos. Pode ser afastado pelo art.885º.
Nº2: o devedor so pode impugnar se oferecer nova
Mudança do domicílio do credor – art.775º:
prestaçao. Mas o legítimo proprietario pode
reivindicar a coisa ou anular o cumprimento.
Passa a ser no domicílio do devedor se o credor o
indemnizar pelo prejuízo.
Declaração de nulidade ou anulação do
cumprimento e garantias prestadas por terceiro –
Impossibilidade da prestação no lugar fixado –
art.766º:
art.776º:
Se o cumprimento for invalido por causa do credor, as
No caso de impossibilidade do lugar fixado, aplicam-se
garantias prestadas por terceiro nao renascem.
as regras supletivas anteriormente anunciadas.

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Tempo do cumprimento passa a valer como obrigaçao civil, tendo os herdeiros
o dever de cumprir.
Vencimento: momento a partir do qual o credor pode
exigir o cumprimento. Podem as partes criar obrigações naturais?

Nao aceitar: doutrina dominante diz que nao podem


Obrigações puras:
ser criadas obrigaçoes naturais no ambito da
• Cumprimento pode ser exigido e realizado a autonomia privada, com fundamento no art.809º.
todo o tempo; Pois, criar obrigaçoes naturais seria renunciar a
• Definidas no art.777º/1; faculdade de se impor uma prestaçao em tribunal,
• Nascem vencidas; deixando o credor numa posiçao fragilizada. O credor
• Nao ha mora. nao pode renunciar qualquer direito atribuído a ele
pelo OJ, numa logica de proteçao deste.
Obrigações a prazo: Conversao: aceitar que as partes criem obrigaçoes
naturais convertendo-as em obrigaçoes cum voluerit,
• Definidas no art.777º/2;
aplicando o art.293º.
• Prazo certo (data para o vencimento,
Prof. Lima Rego: nas obrigaçoes naturais nao ha
independentemente de interpelaçao –
verdadeiro credor, para isso teria de existir uma
art.805º/2/a));
obrigaçao civil. Éntao, o art.809º nao se aplica,
• Prazo incerto: natural, circunstancial e usual
aplicando-se o art.778º.
(vencimento por interpelaçao)
Benefício do prazo
Critério do prazo razoável para prazos incertos:
Em benefício do devedor:
Difícil precisar a data em que o devedor entrou em
mora, devendo o tribunal indicar a data razoavel de
• Credor respeita o prazo;
início da mora a posteriori – art.777º/3.
• Devedor cumpre a todo o tempo.
Prazo certo:
Em benefício do credor:
Prazo relativamente fixo: comporta mora. O atraso nao
implica o incumprimento definitivo. Na duvida e a • Credor exige a todo o tempo;
regra-geral. Automatica situaçao de mora sem ser • Devedor respeita o prazo.
necessario interpelaçao.
Em benefício de ambos:
Prazo absolutamente fixo: o decurso sem a realizaçao
da prestaçao leva ao incumprimento definitivo. Nao ha
• Nenhum pode cumprir antes do prazo.
mora.
Beneficiário do prazo – art.779º:
Prazo incerto:
Presume-se que seja o devedor.
Obrigaçoes cum potuerit: art.778º/1. Obrigação
quando puder – quando a dificuldade ou Perda do benefício do prazo – art.780º:
impossibilidade momentanea e ultrapassada.
Obrigaçoes cum voluerit: art.778º/2. Obrigaçao O credor pode exigir o cumprimento se o devedor:
quando quiser – deixado ao arbítrio do devedor.
Proximas das obrigaçoes naturais. • Se tornar insolvente;
• Diminuir as garantias de credito;
Obrigaçoes cum potuerit vs obrigaçoes naturais: se o • Nao forem prestadas as garantias prometidas.
devedor de uma obrigaçao cum voluerit morrer, essa
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Dívida liquidável em prestações – art.781º:1 Concentração da obrigação:

Regra geral. Éstas obrigaçoes seguem o seu proprio regime ate ao


Se o devedor nao cumprir uma prestaçao, todas as momento da concentraçao – momento em que se
outras vencem-se. tornam específicas.
A concentraçao da-se no momento do cumprimento.
Falta de pagamento de uma prestação – art.934º:
Concentração antes do cumprimento – art.541º:
Regra especial para os contratos de compra e venda.
Nao ha perda do benefício do prazo se a prestaçao em • Por acordo das partes (nao foi cumprida
falta nao exceder 1/8 do valor da coisa, nao havendo porque a coisa nao foi entregue);
lugar a resoluçao do contrato. • Quando so ja existir uma unidade daquele
objeto em todo o mundo;
Nota: nao ha benefício do prazo em obrigaçoes de • Quando o credor incorrer em mora ou nos
execuçao duradoura. termos do art.797º (lugar de entrega
diferente do lugar do cumprimento).
Objeto da obrigação
Nao se aplica as promoçoes limitadas ao stock
Determinação da prestação – art.400º:
existente.
Nº1: quem determina e uma das partes, as partes ou
um terceiro, de acordo com juízos de equidade. Não perecimento do género - art.540º:
Nº2: se a determinaçao nao for feita, ou nao for feita
Énquanto no mundo houver coisas com as quais se
no tempo devido, e feita pelo tribunal.
possa cumprir a prestaçao devida, o devedor nao fica
So se aplica esta regra geral se nao estiver em causa exonerado.
obrigaçoes indeterminadas quanto ao objeto
genéricas ou alternativas, que seguem um regime
Obrigações alternativas – art.543º e ss.
especial.
Noção – art.543º:

Obrigações genéricas – art.539º e ss. Nº1: compreende varias possibilidades de prestaçao,


mas o devedor exonera-se efetuando aquela que, por
Regra especial – art.539º: escolha, vier a ser designada.
Nº2: a menos que as partes estabeleçam diferente, a
A obrigaçao e generica quando o objeto da prestaçao
escolha pertence ao devedor.
se encontra apenas determinado quanto ao genero e a
quantidade, mas ainda nao esta concretamente Indivisibilidade das prestações – art.544º:
determinado quanto aos especimes daquele genero.
As prestaçoes sao indivisíveis, nao se pode escolher
≠ Obrigações específicas: parte de uma.

Regra geral: Tem genero e especimes da prestaçao Prazo para cumprir ≠ prazo para escolher, mas a
determinado. regra e que coincidam se nao houver estipulaçao
diferente das partes.
Casos típicos de obrigações específicas: Lojas em
segunda mao; artigos com defeito; artigos unicos

1 P.3
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Falta de escolha pelo devedor – art.548º: Éx: obrigações em moeda com curso legal apenas
no estrangeiro – art.548º. O credor, se quiser, pode
Se o dever nao escolher dentro do prazo, nao perde a pagar com a moeda com curso legal em Portugal.
faculdade nem essa se transmite para o credor. Mas, se
o credor pede um novo prazo e o devedor nao escolher ≠ Obrigações alternativas
novamente, entao o credor fica com a faculdade de ser
Nas obrigaçoes com faculdade alternativa, o credor
ele a escolher
nao pode exigir a alternativa, so aquilo a que se
Escolha pelo credor ou por terceiro – art.549º: vinculou o credor.
Nas obrigaçoes alternativas, o credor, se poder
Remete para o art.542º/2. Se a escolha couber ao escolher, pode exigir qualquer alternativa.
credor ou terceiro e este nao a fizer dentro do prazo,
essa faculdade passa para o lado do devedor. Imputação do cumprimento – art.783º a 785º

Impossibilidade não imputável às partes – Imputaçao do cumprimento: relaçao entre a prestaçao


art.545º: realizada e as dívidas que existem.

No caso de uma prestaçao se tornar impossível sem Regras sobre imputação:


culpa das partes, entao as opçoes ficam limitadas as
• Éstipulaçao das partes;
possíveis.
• Quando nao ha acordo:
Impossibilidade imputável ao devedor – art.546º: - Éscolha do devedor – art.783º;
- Regras se o devedor nao escolher – art.784º;
Se a escolha pertencer ao devedor, deve escolher uma - Ordem de imputaçao – art.785º.
das prestaçoes possíveis.
Se a escolha pertencer ao credor, este pode: Designação pelo devedor – art.783º:
• Éxigir uma prestaçao possível ou; Nº1: se o devedor efetuar uma prestaçao que nao
• Éscolher a ser indemnizado por nao poder extingue para extinguir todas, pode designar as
escolher a prestaçao que se tornou impossível; dívidas a que o cumprimento se refere.
• Resolver o contrato nos termos gerais. Nº2: nao pode designar dívidas ainda nao vencidas se
o prazo for em benefício do credor; nem contra a
Impossibilidade imputável ao credor – art.547º: vontade do credor designar dívida de montante
Se a escolha pertencer: superior ao da prestaçao.
• Ao credor que impossibilitou a prestaçao, tem-
Art.1147º: o mutuo oneroso presume-se estipulado a
se a obrigaçao como cumprida.
favor de ambas as partes, mas o mutuario pode
• Ao devedor, tambem consideramos que a
antecipar o pagamento desde que satisfaça os juros
obrigaçao se cumpriu, a menos que este
por inteiro (regra especial no caso do mutuo).
prefira cumprir outra prestaçao e ser
Relembrar: regra geral do art.779º, o prazo presume-
indemnizado pelos danos que tenha sofrido
se em benefício do devedor.
com a impossibilidade.
Regras supletivas – art.784º:
Obrigações com faculdade alternativa
Se o devedor nao designar, entao:
Quando a prestaçao ja esta determinada, mas e
concedida ao devedor a possibilidade de a substituir dívidas vencidas → - garantia → + onerosa → venceu 1º
por outra. → + antiga → imputação proporcional.

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Dívidas de juros, despesas e indemnizações – Nº3: terceiro que cumpra a obrigaçao tambem tem
art.795º: esse direito se ficar sub-rogado.

despesas → indemnizações (juros moratórios ou Impossibilidade de restituição ou menção –


indemnizatórios)→ juros compensatórios e art.789º:
remuneratórios → capital
Se o credor invocar a impossibilidade de restituir o
Direito à quitação – art.787º documento ou o mencionar, o devedor pode pedir
quitaçao em documento autentico ou autenticado.
Ónus da prova - art.342º:
Existe um direito a cumprir?
Nº2: a prova dos factos extintivos do direito do credor
deve ser demonstrado pela parte contra quem o Ha uma tutela do devedor em cumprir? Do lado do
credito e invocado (devedor). credor, ha um dever de aceitar o cumprimento, sob
pena de entrar em mora (art.813º). Ém certas
Inadmissibilidade da prova testemunhal -
situaçoes o devedor tem interesse em cumprir, mas ate
art.393º:
que ponto pode pedir uma indemnizaçao por nao
O cumprimento nao pode ser provado por poder cumprir?
testemunhas porque tem de ser por declaraçao escrita
do credor. Não cumprimento

Quitação: ML: quando nao ocorre a realizaçao da prestaçao


devida ou e realizada de forma que nao corresponde a
Declaraçao na qual o credor exprime que o devedor se adequada satisfaçao do interesse do credor.
encontra quite para com ele. Nao cumprimento: qualquer “perturbaçao” da
Recibo: quitaçao em documento avulso. prestaçao.
Impossibilidade ≠ nao cumprimento.
Direito à quitação – art.787º:

Nº1: solvens tem direito a exigir a quitaçao. Consequências das “perturbações”:


Nº2: pode-se recusar a prestaçao ate que o credor de a • Éfeitos relativos a obrigaçao;
quitaçao, ou exigi-la depois do cumprimento.
• Éfeitos relativos a contraprestaçao;
• Éfeitos da responsabilidade civil.
Presunções de cumprimento – art.786º:

Nº1: numa quitaçao sem reserva presumem-se pagos Modalidades da perturbação:


os juros ou prestaçoes.
• Momento do surgimento;
Nº2: nas prestaçoes periodicas, se emitir uma quitaçao
• Origem da perturbaçao;
sem reserva entao assumem-se pagas as anteriores.
• Éxtensao.
Nº3: se ha entrega ao devedor do título original do
credito entao esta exonerado.
Momento do surgimento:
Restituição do título. Menção do cumprimento –
Impossibilidade originaria: art.401º/1, art.280º/1 →
art.788º:
nulo por impossibilidade do objeto.
Nº1: devedor pode exigir restituiçao do título. Se o Impossibilidade superveniente: nasce de acordo com
credor tiver um interesse legítimo em nao devolver o a lei mas acontece algo que impede a prestaçao nos
título/lhe conferir direitos/devedor cumpra termos acordados → extinçao do vínculo obrigacional.
parcialmente, o devedor tem direito a mençao do • Sem culpa: art.790º;
cumprimento no título. • Com culpa (art.487º): art.801º → art.798º.
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Impossibilidade objetiva – art.790º: Esfera de risco
Nº1: a obrigaçao extingue-se quando se torna Parte da doutrina alarga a imputabilidade da
impossível por causa não imputável ao devedor. impossibilidade para a esfera de uma das partes de
forma a que suporte os seus efeitos, mesmo nao tendo
Nº2: se o negocio for feito sob condiçao ou termo e a
culpa, pois a impossibilidade esta de alguma forma
prestaçao for possível na data da conclusao do negocio relacionada com ela ou tao proxima de si que e como
mas se tornar impossível antes da sua verificaçao, e se ela propria fosse culpada.
impossibilidade superveniente.
Origem da perturbação
Impossibilidade culposa – art.801º:
• Do devedor, do credor ou externa.
Nº1: se for por culpa imputável ao devedor, ele e
Impossibilidade superveniente:
responsavel como se faltasse culposamente. →
art.798º. • Nao imputavel – art.790º/1.
Nº2: se for um contrato bilateral, o credor alem do • Imputavel ao devedor – art.801º, art.798º e
direito a indemnizaçao, pode resolver o contrato ou art.487º/2 (culpa).
exigir a restituiçao da sua contraprestaçao. • Imputavel ao credor se provier da sua esfera
de risco – art.795º/2.
Responsabilidade do devedor – art.798º:
Incumprimento:
O devedor que falta culposamente ao cumprimento e
responsavel pelo prejuízo que causa ao credor. • Mora do devedor – art.804º e ss.
• Mora do credor – art.813º e ss.
Culpa:
Extensão
É aferida nos termos do art.487º.
Pode ser dolosa (comportamento deliberado e • Total, parcial, defeituosa (nao conforme o
voluntario) ou negligente (falta de cuidado). acordado);
• Temporaria (art.792º ou mora), definitiva ou
Presunção de culpa e apreciação desta – art.799º: condicional (art.790º/2, com eficacia
Nº1: a culpa do devedor e presumida. O credor apenas retroativa – art.246º).
tem de provar que nao houve cumprimento e o
Impossibilidade total:
devedor tem de provar que nao teve culpa.
• Impossibilidade temporaria nao imputavel ao
Sinalagma – art.795º devedor – art.792º.2
• Nao cumprimento por causa imputavel ao
Relaçao de interdependencia entre a prestaçao e a
devedor – art.804º.
contraprestaçao nos contratos bilaterais.
Nº1: se a prestaçao se tornar impossível sem culpa Impossibilidade temporária – art.792º: (não
imputável às partes, o credor fica desobrigado da imputável ao devedor)
obrigaçao ou pode exigir a sua restituiçao noa termos
do enriquecimento sem causa. Nº1: o devedor nao responde pela mora.
Nº2: se se tornar impossível por causa imputável ao Nº2: so e temporaria enquanto se mantiver o interesse
credor, nao fica desobrigado, ou na medida em que no do credor.
devedor for beneficiado.

2 Nao existe se houver prazo absolutamente fixo.


11
Mora do devedor – art.804º: (imputável ao devedor) Impossibilidade subjetiva – art.791º:

Nº1: consequencia - reparar os danos ao credor. Impossibilidade relativa a pessoa do devedor implica
Nº2: esta em mora se, por causa que lhe seja a extinçao da obrigaçao se nao poder ser substituído
imputavel, nao cumpre no tempo devido. por terceiro.

Impossibilidade parcial: Abuso de direito – impossibilidade objetiva:


• Impossibilidade parcial sem culpa do devedor
Por vezes pode ser abuso de direito (contrario a boa fe
– art.793º.
- art.762º/2) invocar impossibilidade objetiva e pedir
• Incumpre parcialmente com culpa do devedor
a extinçao da prestaçao se o devedor deveria ter
– art.802º.
alguma flexibilidade em prorrogar o prazo, nos casos
Impossibilidade parcial – art.793º: (não imputável onde alegue que a prestaçao tinha um prazo
ao devedor) absolutamente fixo.

Nº1: devedor exonera-se ao prestar o possível, sendo Commodum de representação


a contraprestaçao proporcionalmente reduzida.
Afasta o princípio da integralidade (art.763º). Commodum de representação – art.794º (não
Nº2: se o credor nao tiver interesse justificado na imputável ao devedor):
contraprestaçao pode resolver o negocio.
Se da impossibilidade o devedor adquirir algum
Impossibilidade parcial – art.802º: (imputável ao direito em substituiçao do objeto prestaçao, o credor
devedor) pode exigir isso como prestaçao ou substituir-se ao
devedor na titularidade desse direito.
Nº1: o credor pode resolver o negocio ou exigir o A contraprestaçao continua a ser devida.
cumprimento do possível, sendo a contraprestaçao Éx: seguros.
proporcionalmente reduzida. Independentemente do
que escolha tem direito a indemnizaçao. Commodum de representação – art.803º (imputável
Nº2: o credor nao pode resolver o negocio se o nao ao devedor):
cumprimento tiver pouca importancia, atendendo ao
seu interesse → so em casos graves. É extensivo o art.794º, e se o credor se fizer valer desse
direito o montante da indemnizaçao e reduzido na
Impossibilidade defeituosa:* medida correspondente.
O nosso CC so regula o cumprimento defeituoso no Perturbações imputáveis ao devedor – art.798º e
contrato de compra e venda – art.913º e ss., pelo que
ss.
requer uma aplicaçao analogica a outros tipos de
• Art.801º: impossibilidade superveniente
contrato.
imputavel ao devedor → art.798º (p.11);
• Art.802º: impossibilidade parcial (p.12);
Impossibilidade objetiva e subjetiva
• Art.803º: commodum da representaçao (p.12).
Impossibilidade objetiva: tem a ver com a prestaçao
Cumprimento defeituoso*
em si, independentemente da pessoa que o realize -
art.790º. Trata-se de incumprimento. O CC nao regula de forma
Impossibilidade subjetiva: o devedor em específico generica.
nao consegue cumprir, mas outra pessoa conseguiria Doutrina alema chama de violaçao positiva do
ou o objeto e infungível – art.791º. contrato.
ML: verifica-se uma situaçao de cumprimento
defeituoso quando o devedor, embora realizando uma
12
prestaçao, essa prestaçao nao corresponde Responsabilidade do devedor – art.814º:
inteiramente a obrigaçao que se vinculou, nao
Nº1: durante a mora o devedor apenas responde pelo
permitindo assim a satisfaçao adequada do interesse
seu dolo.
do credor.
Nº2: durante a mora a dívida deixa de vencer juros.
Ha tipos contratuais que regulam o cumprimento
defeituoso, com um regime proprio: Risco – art.815º:
• Compra e venda – art.913º e ss.;
• Émpreitada – art.1218º e ss.. Nº1: recai sobre o credor o risco da impossibilidade
Ha uma doutrina que aplica por analogia o art.802º superveniente se for sem dolo do devedor.
da impossibilidade parcial para suprir a lacuna. Nº2: se por contrato bilateral o credor perder o seu
credito por impossibilidade superveniente, nao fica
Regime no DL 84/2021: exonerado da contraprestaçao. Se o devedor tiver
benefícios entao desconta da contraprestaçao.
So se aplica a transaçoes entre profissionais e
consumidores, em alguns tipos contratuais – business Indemnização – art.816º:
to consumer.
Conceito de nao conformidade do bem (art.6º e 7º) O credor tem de indemnizar o devedor pelas despesas
com o contrato – o bem defeituoso. que tenha efetuado pelo cumprimento da prestaçao e
Face aos bens defeituosos, o consumidor tem uma a guarda e conservaçao do objeto.
serie de respostas, independentemente da culpa.
Consequências da mora:
Direitos do consumidor – art.15º:
• Nao se aplica a presunçao de culpa do art.799º.
• Bens moveis (art.12º) - o prazo e de 3 anos.
• Dívida deixa de vencer juros – art.814º/2.
• Bens imoveis (art.23º), o prazo varia, 5 a 10
anos. • Inversao do risco: mora cai no credor e
responde pelo risco, exceto se haver dolo
Ao consumidor cabe a escolha do remédio: (responde pela negligencia) – art.815º/1.
• Reparaçao; ou • O credor nao fica exonerado da
• Substituiçao. contraprestaçao, a nao ser que o devedor seja
• Reduçao do preço; ou beneficiado – art.815º/2.
• Resoluçao do contrato. • Obrigaçao de indemnizaçao pelo credor –
art.816º.
Limites à reparação ou substituição:
• A impossibilidade; Consignação em depósito – art.841º e ss:*
• A desproporcionalidade dos custos.
É art.916º CPC.
Nota: Se o bem tiver garantia, o prazo volta sempre a
Surge em obrigaçoes de entrega da coisa, obrigaçoes
contar a partir do momento em que ha uma reparaçao
de dare. Nao e possível em obrigaçoes de facere.
ou substituiçao.
Nº1: o devedor pode exonerar-se da sua obrigaçao,
Mora do credor – art.813º e ss. que nao consegue cumprir por motivos imputaveis ao
Requisitos – art.813º: credor ou se sem culpa nao puder efetuar a prestaçao
ao credor ou em segurança, entregando a coisa sobre
O credor incorre em mora sempre que, sem motivo a qual recai a obrigaçao a terceiro depositario.
justificado: Nº2: direito facultativo do devedor.
• Nao aceita a prestaçao que lhe e oferecida nos
termos legais; ou Éxtingue a obrigaçao quando aceite pelo devedor ou
• Nao pratica os atos necessarios ao decisao judicial – art.846º.
cumprimento da obrigaçao.
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Mora do devedor • Inversao do risco, corre por conta do devedor
– art.807º.
Princípios gerais – art.804º:
Incumprimento definitivo – art.808º
Nº1: a mora gera a obrigaçao de indemnizaçao pelos
danos. Mecanismo que permite passar da mora para o
Nº2: esta em mora quando a prestaçao, ainda possível, incumprimento definitivo, libertando o credor quando
nao foi efetuada no tempo devido, por facto imputavel perde o interesse ou fixa um prazo.
ao devedor.
Perda do interesse do credor ou recusa do
Momento da constituição da mora– art.805º: cumprimento – art.808º:
Nº1: so depois de ter sido interpelado. Aplica-se as
Nº1: se o credor, face a mora, perder o interesse ou nao
obrigaçoes puras – quando as partes nao concordaram
for realizada no prazo razoavelmente fixado, a
numa data.
obrigaçao considera-se nao cumprida.
Remete para o art.777º:
Nº2: a perda do interesse e apreciada objetivamente.
Nº1: obrigaçoes puras.
A interpelaçao – art.805º/1 – nos casos em que e
Nº2: mora acontece apos interpelaçao.
necessario so constitui o devedor em mora. A
Nº2: casos em que a mora nao requer interpelaçao, e
interpelaçao admonitoria – art.808º - e um ultimo
automatica:
aviso, ja depois da mora, que fixa um novo prazo que
• Prazo certo;
nao sendo cumprido implica o incumprimento
• Facto ilícito;
definitivo.
• Devedor impedir a interpelaçao.
Consequências do incumprimento definitivo:
Obrigações pecuniárias – art.806º:
• Credor ja nao esta obrigado a aceitar o
Nº1: indemnizaçao corresponde aos juros que
cumprimento, sob risco de mora;
começam a contar juros desde a mora.
• Credor tem direito a indemnizaçao e
Nº2: os juros devidos sao os juros legais.
restituiçao se ja tiver prestado – art.801º/1;
Nº3: se o credor sofrer danos superior ao juros, pode
• Credor pode resolver o contrato – art.801º/2.
pedir indemnizaçao suplementar, quando se trata de
responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco.
Incumprimento definitivo automático:
Risco – art.807º:
Nos prazos absolutamente fixos.
Nº1: por estar em mora e responsavel pelo prejuízo do
Perda de interesse do credor
credor face a perdas ou deterioraçao, mesmo que nao
lhe seja imputavel. Relevante nos seguintes casos:
Nº2: porem o devedor nao e responsavel se provar que • Art.792º/2 (impossibilidade temporaria);
o credor teria sofrido o mesmo dado se tivesse • Art.793º/2 (impossibilidade parcial);
cumprido a tempo.
• Art.802º/2 (impossibilidade parcial);
Consequências da mora: • Art.808º (incumprimento definitivo).

• A prestaçao e contraprestaçao mantem-se. Casos equiparáveis à impossibilidade


• Gera obrigaçao de indemnizar – art.804º/1;
• A indemnizaçao de obrigaçoes pecuniarias • Casos em que o credor satisfaz o seu interesse
assume a forma de juros legais – art.806º; por outra via que nao a acordada.
• Frustraçao do fim.
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Frustração do fim: Doutrina do limite sacrifício
Hoje em dia e vista como impossibilidade, mas a Doutrina alema segundo a qual se do ponto de vista
doutrina diverge. O credor deixa de precisar da economico a prestaçao se tornou de tal forma mais
prestaçao mas o seu interesse nao foi satisfeito. Ha um economicamente onerosa para uma das partes, deve-
alargamento do sentido de impossibilidade – nao se equiparar a impossibilidade. Ha quem discorde e
havia impossibilidade física ou jurídica, mas uma diga que nestes casos aplica-se a alteraçao das
frustraçao do fim. circunstancias.
Éx: no dia da coroaçao de Éduardo VII este teve uma
apendicite e a sua coroaçao teve de ser adiada. Declaração antecipada de não cumprimento
Acontece que uma serie de gente alugou varandas nos
sítios onde ia passar o cortejo. O resultado de assistir Na ordem formal, so ha incumprimento depois do
ao cortejo foi frustrado, portanto a obrigaçao vencimento da obrigaçao, e nunca antes. Porem, ha
extingue-se e entende-se que o devedor deve ser uma discussao doutrinaria acerca dos efeitos de uma
ressarcido pelas despesas. declaraçao antecipada de nao cumprimento pelo
devedor. O CC nao regula.
Alteração das circunstâncias – art.437º
Maioria: a declaraçao antecipada de nao cumprimento
Fronteira entre impossibilidade superveniente antes do vencimento coloca automaticamente o
não imputável e a alteração das circunstâncias: devedor em mora, mas nao em incumprimento
definitivo. Nao carece de interpelaçao.
A alteraçao das circunstancias aplica-se a contratos e Carlos Ferreira de Almeida: o devedor nao pode
e um instituto que permite a uma das partes, face a um declarar o nao cumprimento e depois mudar de ideias,
desequilíbrio, por alteraçao superveniente a do caso contrario age em abuso de direito na modalidade
momento em que se contratou, pedir a resoluçao do venire contra factum proprium. O credor pode recusar
contrato ou a sua modificaçao. Nao se aplica quando a o cumprimento.
obrigaçao se tornou impossível, mas, embora ainda Joana Farrajota: a declaraçao implica o
possível, o cumprimento tornou-se mais penoso e incumprimento definitivo. Do ponto de vista
oneroso. economico o credor sofre menos danos se poder reagir
automaticamente. Nao e necessario interpelaçao
Nº1: admonitoria pelo credor.
Requisitos:
• Alteraçao anormal – situaçao extraordinaria, Consequências:
imprevisível.
• Éxtinçao da obrigaçao – art.801º:
• Afete gravemente os princípios da boa-fe –
torna o negocio injusto por ser mais oneroso • Éxtinçao da contraprestaçao – art.801º;
para uma das partes. Agravamento da • Devedor deve indemnizar se houver danos –
prestaçao – difficultas praestandi. art.798º.
• Nao esteja coberta pelos riscos proprios do
Transferência do risco
contrato.
Consequencia: Da lugar a resoluçao ou modificaçao do Risco: possibilidade de perda ou deterioraçao das
contrato, segundo juízos de equidade.
mercadorias, na compra e venda, sem culpa relevante
Nº2: se uma das partes requerer resoluçao, a parte
das partes.
contraria pode opor-se pedindo a modificaçao do
Transferencia do risco: momento em que a parte se
contrato.
exonera do risco. Ocorre normalmente no
Éx: saída do euro – alteraçao anormal nao previsível cumprimento da obrigaçao da entrega da coisa.
que desequilibra a relaçao entre as partes.
15
Énquanto o problema for do vendedor, se acontecer Ratio: como a propriedade e transferida
alguma coisa, pode perder o direito ao preço, ter de automaticamente, o risco tambem deve acompanhar.
substituir a coisa ou indemnizar.
A regra e que o risco cabe ao alienante, mesmo que a
Éxoneraçao: a partir da transferencia do risco, se a
culpa nao lhe seja imputavel. Exceções:
coisa deteriorar, desaparecer ou for destruída, o
vendedor nao tem de entregar coisa nova e tem direito • Se a culpa for imputavel ao credor, ele e
a receber o preço convencionado. responsavel – art.801º/1.
A transferencia do risco nao respeita apenas a compra • Mora do credor, o risco inverte-se e passa a
e venda, mas todas as obrigaçoes cujo conteudo seja correr por sua conta, mesmo nas situaçoes de
transferir um direito sobre uma coisa ou a sua entrega negligencia por parte do devedor – art.815º/1.
a outra pessoa. • Se a coisa ainda estiver na posse do alienante
por razao a seu favor – art.796º/2.
Risco – art.815º: (mora do credor)

Nº1: recai sobre o credor o risco da impossibilidade Transferência do risco na Convenção de


superveniente se for sem dolo do devedor. Viena
Criterio determinante: saber quem controla, em cada
Risco – art.807º: (mora do devedor) momento, as mercadorias – questao pratica. Portanto,
quem assume o risco e quem controla o bem, porque
Nº1: por estar em mora e responsavel pelo prejuízo do
esta em melhor posiçao para defende-lo.
credor face a perdas ou deterioraçao, mesmo que nao
Regime que potencia a manutençao da coisa.
lhe seja imputavel.
So se aplica ao comercio internacional.
Nº2: porem o devedor nao e responsavel se provar que
o credor teria sofrido o mesmo dado se tivesse Modalidades da obrigação de entrega:
cumprido a tempo.
O risco corre por conta do devedor no caso de mora. 1. Obrigação de enviar: o vendedor obriga-se
apenas a entregar a coisa a um transportador.
Risco – art.796º: (não imputável) A transferencia do risco ocorre com a entrega
ao transportador. – art.797º.
Aplica-se a prestaçoes de dare, em especial no contrato
2. Obrigação de disponibilizar/vir buscar: o
de compra e venda de coisas específicas - “contratos
vendedor tem a obrigaçao de estar presente e
que importem a transferência de domínio sobre certa
disponibilizar o bem; e o comprador vem
coisa ou que constituam ou transfiram um direito real
buscar.
sobre ela”.
3. Obrigação de levar: o vendedor obriga-se a
Nº1: A transferencia do risco nos casos de compra e
levar a coisa, mesmo que seja por meio de um
venda de coisa específica ocorre logo que e celebrado
transportador, o risco ocorre sempre por sua
o contrato, mesmo que a coisa nao seja logo entregue,
conta ate a entrega ao devedor.
por a propriedade tambem se transferir nesse
momento. O risco corre por conta do adquirente, se o Isto interessa quando o vendedor e o credor estao em
perecimento ou deterioraçao da coisa nao for por pontos geograficamente diferentes.
causa imputavel ao alienante.
Nº2: O risco nao se transmite automaticamente para o Regra geral:
adquirente no momento de celebraçao do contrato se
o termo for a favor do alienante - so se transfere com o Transferência do risco nas obrigações de prestação de
vencimento do termo ou com a entrega da coisa. coisa: a transferência do risco acompanha a
(afasta o nº1) transferência da propriedade.

Art.408º/1: a transmissao da coisa ocorre


automaticamente nos efeitos do contrato.
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Se a obrigação de prestação de coisa é específica: - Nada disto se aplica se houver Incoterms.
• A transferencia de propriedade da-se por
mero efeito do contrato – art.408º/1. Fornecimento de bens de consumo
• Logo, a transferencia do risco da-se com a (DL 84/2021):
celebraçao do contrato: res perit domino suo.
A transferência do risco é independente da
• So assim nao sera se a coisa permaneceu em
transferência de propriedade.
poder do alienante para satisfazer interesse
(tambem) seu – art.796º/2. Art.11º:

Se a obrigação da prestação da coisa é genérica: Nº12: Nos contratos em que o profissional envie os
• A transferencia de risco, como a da bens para o consumidor, o risco de perda ou dano dos
propriedade, so se da com a concentraçao, bens transfere-se para o consumidor quando este ou
ocorrendo esta, em regra, no momento do um terceiro por ele indicado, que nao o transportador,
cumprimento – art.540º e art.541º. adquira a posse física dos bens.
Nº13: Se o consumidor confiar o transporte a pessoa
Regime distinto nas obrigações de enviar:
diferente da proposta pelo profissional, o risco
• O risco transfere-se com a entrega ao
transfere-se para o consumidor com a entrega do bem
transportador – art.797º.
ao transportador.
Risco transfere-se antes do cumprimento:
Incoterms
• Quando ha mora do credor – art.815º.
Tem regras mais complexas e detalhadas, regulando: o
Convenção de Viena (art.66º a 70º):
momento do cumprimento, a transferencia do risco,
A transferência do risco é independente da quem e que trata da burocracia e do transporte e quem
transferência de propriedade. trata do seguro.

Quando ocorre o cumprimento (entrega)? Sao clausulas típicas desenvolvidas no comercio


• Interpretaçao do contrato: saber se e uma internacional preparadas pela Camara do Comercio
obrigaçao de levar/enviar/disponibilizar. internacional.

Conceito jurídico de entrega (delivery) ≠ conceito Incoterm EXW – Ex Works (na fábrica):
físico de tradição (handing over) das mercadorias.
Supletivamente, na transferencia do risco da-se O vendedor entrega a mercadoria ao comprador:
prevalencia a tradiçao. • Quando coloca a mercadoria a disposiçao do
comprador num local designado; e
Há contratação de transporte? • Ésse local designado pode ou nao coincidir
• Se ha, a transferencia do risco ocorre com a com as instalaçoes do vendedor (fabrica).
tradiçao ao transportador (o primeiro ou O comprador suporta todos os riscos e custos do
outro em local designado no contrato). transporte. É a mais onerosa para o comprador e a
• Se nao ha, o risco transfere-se com a menos onerosa para o vendedor.
disponibilizaçao das mercadorias para
levantamento pelo comprador. Importancia da Incoterm FOB – Free on Board (franco a bordo):
individualizaçao das mercadorias.
O vendedor entrega a mercadoria ao comprador:
• Mercadorias vendidas em transito:
• A bordo do navio indicado pelo comprador;
transferencia do risco no momento da
• No porto de embarque designado.
contrataçao.

17
O risco de perda ou danos a mercadoria transfere-se Consignação em depósito – art.841º e ss:*
quando esta se encontre a bordo do navio, suportando
Nº1: o devedor pode exonerar-se da sua obrigaçao,
o comprador todos os custos tambem a partir desse
que nao consegue cumprir por motivos imputaveis ao
momento.
credor ou se sem culpa nao puder efetuar a prestaçao
So para transporte marítimo.
ao credor ou em segurança, entregando a coisa sobre
Incoterm CIF – Cost insurance and freight (custo, a qual recai a obrigaçao a terceiro depositario.
seguro e frete): Nº2: direito facultativo do devedor.

O vendedor entrega a mercadoria ao comprador: Consequência – art.846º:


• A bordo do navio. Éxtingue a obrigaçao quando aceite pelo devedor ou
O risco de perda ou danos a mercadoria transfere-se decisao judicial. A obrigaçao extingue-se como se o
quando esta se encontre a bordo do navio. No entanto, devedor tivesse cumprido a prestaçao na data do
cabe ao vendedor celebrar o contrato de transporte e deposito.
suportar todos os custos ate ao porto de destino.
Difere do anterior porque apesar de se transferir o Petição - art.916º CPC:
risco para o comprador, os custos mantem-se no
Mecanismo judicial – depositante tem de requerer ao
vendedor.
tribunal, declarando o motivo. O devedor depositante
So para transporte marítimo.
arca com os custos, e depois e reembolsado pelo
Incoterm DPU – Delivered Port Unloaded credor.
(entregue no local descarregado): Normalmente envolve a CGD, a nao ser que seja algo
que nao possa ser la guardado.
O vendedor entrega a mercadoria ao comprador: Se forem prestaçoes periodicas, uma vez depositada a
• Quando a mercadoria, uma vez descarregada primeira, pode continuar a la depositar sem outras
no meio de transporte em que tenha chegado, formalidades.
e colocada a disposiçao do comprador;
• No local de destino designado. Dação em cumprimento – art.837º a 839º
O risco de perda ou danos a mercadoria transfere-se Quando é admitida – art.837º:
quando esta e entregue ao comprador, suportando o
vendedor todos os custos ate esse momento. A prestaçao de coisa diversa do que for devida so
exonera o devedor se o credor consentir.
Outras causas de extinção da obrigação A prestaçao substituta pode ser total ou parcialmente
diferente da inicial.
Causas de extinçao que levam a cessam de um A obrigaçao inicial mantem-se a mesma.
contrato: revogaçao, anulaçao, resoluçao, caducidade,
denuncia, oposiçao a renovaçao. Pressupostos:
Causas de extinçao que tem a propria obrigaçao como • Obrigaçao e a mesma.
alvo (e nao o contrato): daçao em cumprimento, • Realizaçao de uma prestaçao diferente da
consignaçao em deposito, compensaçao, novaçao, devida.
remissao, confusao, (prescriçao). • Credor da o seu acordo.

Consignação em depósito – art.841º e ss. Nao esta sujeita a forma escrita, a nao ser que a
natureza do bem o exija – art.219º.
Para os casos em que a falta de colaboraçao do credor
causa prejuízo ou em que nao conhecemos a pessoa do Vícios da coisa ou do direito – art.838º:
credor. Permite que, mesmo nesses casos, o devedor
O credor a quem foi feita a daçao em cumprimento
possa cumprir.
goza de garantia pelos vícios da prestaçao ou do
18
direito transmitido, a nao ser que opte pela prestaçao Novação subjetiva – art.858º
primitiva e reparaçao dos danos.
Pressupostos:
Dação «pro solvendo» - art.840º
• Substitui-se o credor ou devedor, em relaçao a
Consiste na execuçao de uma prestaçao diversa da uma nova obrigaçao – art.858º.
devida para que o credor proceda a realizaçao do valor • Declaraçao expressa de vontade – art.859º.
dela e obtenha a satisfaçao do seu credito por virtude
dessa realizaçao. Dação ≠ novação:
A obrigaçao nao se extingue com a entrega da coisa,
mas quando e convertida naquilo que deveria ter sido Novaçao: os sujeitos acordam numa nova obrigaçao,
extinguindo-se a anterior.
entregue.
Daçao: a prestaçao realizada e diferente da prevista, a
Éx: dívida paga por cheque.
obrigaçao e a mesma.
Dação «pro solvendo» - art.840º:
Ém caso de duvida, aplica-se o regime da daçao por ser
Nº1: se o devedor efetuar uma prestaçao diferente da menos grave. A novaçao nao se presume, nem mesmo
devida, para que o credor obtenha mais facilmente a se for tacita – a vontade das partes tem de ser
satisfaçao do seu credito, so se extingue quando for expressa.
satisfeito.
Remissão – art.863º e ss.
Dação em cumprimento ≠ dação pro solvendo
Remissao → remitir → perdoar. Caso de extinçao por
Daçao em cumprimento:
perdao da prestaçao.
1. Visa obter imediata exoneraçao do devedor.
2. Causa distinta de extinçao. Natureza contratual da remissão – art.863º:
3. Atuaçao do devedor extingue a obrigaçao.
A remissao consiste no acordo entre o credor e o
Daçao pro solvendo: devedor no qual aquele prescinde de receber deste a
1. Nao visa obter a imediata exoneraçao do prestaçao devida.
devedor, mas proporcionar uma forma mais Carece de aceitaçao.
facil de satisfazer o seu credito. ≠ Reconhecimento da inexistencia de dívida
2. Meio de facilitar.
3. Éxtinçao da obrigaçao desencadeada por açao Compensação – art.847º e ss
do credor.
Requisitos – art.847º:
Novação objetiva – art.857º Nº1: quando duas pessoas sejam reciprocamente
devedor e credor, qualquer delas pode livrar-se da sua
As partes extinguem uma obrigaçao mediante a
obrigaçao por mio de compensaçao se:
criaçao de uma nova obrigaçao em lugar dela.
• Éxistir duas ou mais obrigaçoes recíprocas de
Pressupostos: sentido inverso - obrigaçoes fungíveis, da
mesma especie e qualidade;
• Relaçao entre as partes mantem-se, mas com • O credito for exigível judicialmente.
uma nova obrigaçao. Ha um novo “acordo”– Nº2: se as dívidas nao forem de igual montante, da-se
art.857º. compensaçao na parte correspondente.
• Vontade expressa das partes– art.859º. Nº3: a iliquidez da dívida nao impede a compensaçao,
averiguando-se posteriormente ao montante em que
ela ocorreu.
19
Como se torna efetiva – art.848º: Prescrição – art.850º:

Nº1: Mediante declaraçao de uma das partes a outra. A prescriçao apenas modifica uma obrigaçao, nao a
É unilateral, mas pode ser por acordo, so que nesse extingue e o cumprimento simplesmente deixa de ser
caso a fonte de extinçao e o acordo e nao a exigível.
compensaçao. Como os efeitos da compensaçao sao retroativos,
Nao esta sujeita a forma escrita. mesmo depois da dívida prescrever, pode-se invocar a
Como carece de declaraçao não é automática. A compensaçao, desde que os períodos em que foram
exceçao e no caso das contas contra corrente onde ha exigíveis os creditos tiverem coincidido no tempo.
compensaçao automatica.
Possibilidade de renunciar à compensação –
Reciprocidade dos créditos – art.851º: art.18º/h da lei das cláusulas contratuais gerais:

Nº2: O declarante so pode compensar creditos seus. Nestes contratos nao e possível renunciar a
compensaçao, mas regra geral nada o impede.
Exclusão da compensação – art.853º:
Confusão – art.868º
Nº1: nao se pode extinguir por compensaçao
a) Creditos provenientes de factos ilícitos Noção – art.868º:
dolosos. Prof. Lima Rego e ML defendem uma
interpretação restritiva, so quem praticou o ato Quando a posiçao de credor e de devedor da mesma
ilícito e que esta impedido de compensar. obrigaçao passam a estar na titularidade da mesma
b) Creditos impenhoraveis, a nao ser que sejam pessoa.
da mesma natureza. Normalmente acontece no contexto sucessorio.
c) Dívidas contraídas perante o Éstado ou
entidade publica. Transmissão das obrigações
É uma eventualidade, nem todas as obrigaçoes sao
Retroatividade – art.854º:
transmitidas.
Apos a declaraçao, os efeitos produzem-se no Transmitir uma obrigaçao ≠ transmitir uma posiçao
momento da compensaçao, mas retroagem ao num contrato (cessao da posiçao contratual).
momento em que os creditos se tornaram
compensaveis pelo declarante. Lado ativo:
Os efeitos retroagem ate ao momento em que ambos
Transmissao da posiçao de credor.
os creditos eram exigíveis, ou seja, compensaveis.
Cessao de credito e sub-rogaçao.
Os juros extinguem-se a partir da data em que os A é credor de B e transmite a posição ativa ao C que
creditos se tornaram compensaveis, ja que os efeitos
passa a ser o credor de B.
retroagem.
Lado passivo:
Pluralidade de créditos – art.855º:
Transmissao da dívida.
Nº1: Éxistindo mais do que um credito compensavel
Assunçao de dívida.
entre as partes, cabe ao declarante escolher qual
Se B é devedor de A e transmite a sua posição passiva a
credito pretende compensar.
C, este passa a ser devedor de A.
Nº2: se nao escolher aplica-se os art.784º e art.785º.
Partes:

Cedente – quem cede.


Cessionario – a quem e cedido.
20
Cessão de créditos – art.577º e ss. Cessão a várias pessoas – art.584º:

Transmissao singular de dívidas. Prevalece a cessao da qual o devedor for notificado ou


O cedente (antigo credor) pode ceder parte ou aceitar primeiro.
totalidade do seu credito a um cessionario (novo
credor), embora so seja possível ceder parte se a Meios de defesa oponíveis pelo devedor – art.585º.
prestaçao for divisível.
Ocorre por vontade do credor e nao requer Documentos e meios probatórios – art.586º.
consentimento do devedor.
Garantia da existência do crédito e solvência do
Ocorre muitas vezes no factoring – atividade
devedor – art.587º:
economica onde o credor de um credito pode vende-lo
a terceiro por um valor inferior porque precisa de O cedente garante: a existencia do credito e a sua
liquidez e nao consegue exigi-la imediatamente. exigibilidade.
Nao garante: solvencia do devedor – que e capaz de
Admissibilidade da cessão – art.577º: satisfazer a dívida.
Nº1: requisitos:
• Credor pode ceder a terceiro parte ou a
Contratos poli-causais
totalidade do credito; O contrato de concessao de creditos e um contrato
• Independentemente do consentimento do poli-causal – ha qualificativos que nao correspondem
devedor; a um tipo contratual, apenas identificam uma
• Cessao interdita: por determinaçao da lei, caraterística desses contratos.
convençao das partes, ou se a natureza da Éx: contrato de cessao de credito pode ser uma
prestaçao estiver ligada a pessoa do credor. empreitada, compra e venda,…
Nº2: sobre cessao interdita – se as partes por acordo
nao permitirem a cessao, e se essa acontecer, nao e Sub-rogação
oponível ao cessionario, salvo se a conhecia no
Consiste na situaçao que se verifica quando cumprida
momento da cessao.
uma obrigaçao por terceiro, o credito respetivo nao se
Regime aplicável – art.578º: extingue, mas antes se transmite por efeito desse
cumprimento para o terceiro que realiza a prestaçao
Nº1: os requisitos e efeitos da cessao definem-se em ou que forneceu os meios necessarios para o
funçao do tipo de negocio que lhe serve de base. cumprimento.
Nº2: a cessao de creditos hipotecarios que recai sobre Transmissao de obrigaçoes por efeito do ato do
imoveis deve constar de escritura publica. cumprimento por terceiro ou qualquer outro ato que
extinga a obrigaçao, como a daçao em cumprimento, a
Efeitos em relação ao devedor – art.583º:
compensaçao ou a consignaçao em deposito –
Nº1: cessao produz efeitos em relaçao ao devedor se art.592º/2.
for notificado ou se a aceitar.
Nº2: se antes da notificaçao ou aceitaçao o devedor Tipos de sub-rogação:
pagar ao cedente ou celebrar negocios relativos ao • Sub-rogaçao pelo credor;
credito com o conhecimento da cessao, entao nao e • Sub-rogaçao pelo devedor;
oponível ao cessionario. • Sub-rogaçao legal.
Produz efeitos por: notificação ou aceitação ou
conhecimento.

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Sub-rogação pelo credor – art.589º: Nº2: equivale a cumprimento a daçao em
cumprimento, a consignaçao em deposito e a
Requisitos:
compensaçao.
• Ato de cumprimento da obrigaçao por
terceiro; Efeitos da sub-rogação – art.593º:
• Acordo previo ou em simultaneo entre o
terceiro e o credor – sub-rogaçao expressa. Nº1: o terceiro adquire, na medida da satisfaçao dada
• Nao e necessario consentimento do devedor. ao credor, os poderes que a este competiam. (inclui
Éfeitos: juros)
• Credor que recebe a prestaçao sub-roga o Nº2: o terceiro pode satisfazer o interesse do credor
terceiro nos seus direitos; parcialmente.
Nº3: nos casos de satisfaçao parcial do credito com
• O terceiro assume a posiçao de credor.
varios sub-rogados, nenhum deles tem preferencia.
A é credor de B. O C cumpre. O A sub-roga C no seu
próprio direito contra B. O credor declarou sub-rogar C
Disposições aplicáveis – art.594º:
no seu crédito – há um acordo.
A transmissao do credito acarreta igualmente a
Cessao de creditos ≠ sub-rogaçao pelo credor: na transmissao de todas as garantias e acessorios para o
cessao a transmissao da-se por acordo, na sub-rogaçao sub-rogado.
por efeito do cumprimento. Remete para os art.582º e 584º.

Sub-rogação pelo devedor – art.590º: Cessão de créditos ≠ sub-rogação legal:


Nº1: o terceiro que cumpre a obrigaçao fica sub- Cessao de creditos:
rogado pelo devedor, sem necessidade de 1. Tem por base um negocio jurídico – art.578º.
consentimento do credor. 2. Cedente tem de garantir a exigibilidade do
Nº2: Declaraçao expressa de sub-rogaçao. credito – art.578º/1.
O devedor declara expressamente que pretende que o
terceiro que cumpre a obrigaçao adquira o respetivo Sub-rogaçao:
credito. 1. Resulta de um ato nao negocial – art.593º/1.
2. Visa compensar o sacrifício suportado pelo
Sub-rogação em consequência de empréstimo terceiro.
efetuado ao devedor – art.591º: 3. Insuscetível de se verificar em relaçao a
prestaçoes futuras.
Quando o devedor cumpre com dinheiro ou outra
coisa fungível emprestada por terceiro que fica sub- Assunção de dívidas
rogado nos direitos do credor. O devedor depois tem
de devolver o emprestimo. Assunção de dívida – art.595º:

Sub-rogação legal – art.592º: Nº1: a assunçao pode ocorrer por:


a) Contrato entre o antigo e o novo devedor,
Resulta de determinaçao da lei, independentemente ratificado pelo credor;
de qualquer declaraçao do credor ou devedor. b) Contrato entre o credor e o novo devedor, com
Nº1: requisitos: ou sem consentimento do antigo devedor.
• O terceiro garante o cumprimento Nº2: a transmissao so exonera o antigo devedor se
• O terceiro esta diretamente interessado na houver declaraçao expressa do credor, caso contrario
satisfaçao do credito. o antigo devedor responde solidariamente com o novo
obrigado.

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Modalidades: • Pluralidade ativa: vinculaçao de uma pessoa
para com as outras. Mais do que um credor.
• Assunçao liberatoria: o novo devedor substitui • Pluralidade mista: vinculaçao de varias
o antigo devedor. pessoas para com varias pessoas. Mais do que
• Assunçao cumulativa: o novo devedor soma-se um devedor e mais do que um credor.
ao antigo devedor (inves de um, temos dois
devedores vinculados a mesma dívida). Obrigações divisíveis
• Assunçao fidejussoria: corresponde a fiança. O
Aquelas cuja prestaçao e sujeitavel a divisao, podendo
terceiro torna-se um garante da dívida, mas
realizar-se em partes por ou perante pessoas distintas.
nao passa ele proprio a ser mais um devedor.
Nao fere o princípio da integralidade.
Art.595º/2 – assunção liberatória e cumulativa: Coisas divisíveis – art.209º.

Regra geral, a assunçao e cumulativa. Obrigações parciárias – art.534º:

Na falta de divisao prevista legalmente ou pelo negocio


Para haver assunçao liberatoria o credor tem de:
jurídico, consideramos que sao iguais as partes.
• Aceitar a assunçao da dívida e;
Parecida ao art.516º, na solidariedade.
• Aceitar a exoneraçao do antigo devedor.
Obrigações indivisíveis
Ratificação do credor – art.596º:
Todos os credores ou devedores tem de estar presente
Nº1: enquanto o contrato entre o antigo e o novo
para poder haver o cumprimento da obrigaçao.
devedor nao for ratificado pelo credor, nao produz
efeitos. Podem ser indivisíveis por:
Mesmo sem ratificaçao, a assunçao de dívidas pode
• Natureza (so funcionam realizadas em
produzir algum efeito pelo art.444º/3 entre os dois
conjunto);
devedores. (promessa de exoneraçao)
• Imposiçao legal;
Ou entao, pelo princípio de aproveitamento dos atos, • Convencionalmente pelas partes.
pode-se converter pelo art.293º. O negocio invalido
pode converter-se noutro. Se a pluralidade for:

• Ativa – so perante todos os credores em


Relações Plurais conjunto se pode realizar a prestaçao.
Sao uma eventualidade. Quando do lado ativo ou • Passiva – todos os devedores tem de realizar a
passivo tem mais do que dois titulares. prestaçao em conjunto.

Regimes: A nao ser que se conclua que so um credor pode


receber a totalidade da prestaçao ou que so um
• Obrigaçoes divisíveis (art.534º) e indivisíveis devedor efetua a prestaçao na íntegra.
(art.535º a 538º);
• Obrigaçoes parciarias/conjuntas, disjuntas e Obrigações indivisíveis com pluralidade de
solidarias. devedores – art.535º:

Pluralidades: Regra geral: o credor so pode exigir o cumprimento de


todos os obrigados em conjunto.
• Pluralidade passiva: vinculaçao de varias Salvo se: for uma obrigaçao indivisível solidaria,
pessoas para com uma outra. Mais do que um podendo o credor exigir a obrigaçao inteira de um
devedor. devedor.
23
Extinção relativamente a um dos devedores – Obrigações disjuntas
art.536º:
Temos uma pluralidade de credores/devedores, mas
Se um devedor ficar exonerado e a obrigaçao se so um e chamado a cumprir – a alternatividade ocorre
extinguir em relaçao a ele, os outros devedores nao entre os sujeitos.
ficam inibidos e devem entregar o valor da parte que Tem algum paralelo com as obrigaçoes alternativas –
lhe cabia – ha um acrescimo da responsabilidade dos alternatividade entre as prestaçoes.
restantes obrigados; e o credor tem de lhes entregar a Éxiste pluralidade, mas nao na fase do cumprimento,
contraprestaçao que inicialmente daria ao devedor ela desfaz-se. Inicialmente temos varios titulares, mas
exonerado. no momento do cumprimento so uma pessoa cumpre.
Aplica-se o regime das obrigaçoes singulares.
Impossibilidade da prestação – art.537º:
Obrigações solidárias
Se a prestaçao indivisível se tornar impossível por
facto imputavel a algum devedor, ficam os outros Tem regime proprio.
exonerados. Qualquer um dos devedores esta obrigado perante o
credor a realizar a prestaçao integral, ou qualquer um
Pluralidade de credores – art.538º: dos credores pode exigir do devedor a prestaçao
integral.
Nº1: qualquer credor pode exigir a prestaçao por Apesar de liberar os outros devedores/credores
inteiro (qualquer um interpela), mas o devedor so quando cumprida (art.512º/2 e art.532º), quem
pode prestar perante o conjunto. cumpriu adquire um direito de regresso sobre os
Se houver citaçao judicial entao transforma a demais credores/devedores, de modo a poder exigir a
obrigaçao parciaria em solidaria. parte que lhes compete na obrigaçao/entregar o
excedente. So existe se as partes expressamente o
Obrigações parciárias/conjuntas identificaram (art.513º).
Nao tem regime específico no CC, sao “repartidas” e
tratadas pelo regime normal das obrigaçoes Nas relações comerciais:
singulares. O regime supletivo e o da solidariedade – art.100º do
É o regime supletivo. Codigo Comercial.
Sao aquelas em que cada um dos devedores so esta
vinculado a pagar a sua parte, e os credores so podem Solidariedade do lado:
exigir a prestaçao individual de cada um, e nao a sua
Passivo: o credor pode exigir a prestaçao integral a um
totalidade.
devedor.
Vínculos parcelares: Ativo: o devedor pode cumprir totalmente perante um
credor.
Ha tantos vínculos parcelares quanto o numero de
ligaçoes entre as partes e cada vínculo goza de Noção – art.512º:
autonomia em relaçao aos demais.
A cada vínculo aplicamos o regime das obrigaçoes Nº1: a obrigaçao e solidaria quando cada devedor
simples, porem a vicissitude de um vínculo pode ter responde pela prestaçao integral liberando os outros
repercussoes nas restantes – o nao cumprimento por devedores, ou quando cada um dos credores tem a
um devedor pode implicar a recusa do credor de faculdade de exigir a prestaçao integral e esta libera o
cumprir a sua parte ou entao dar-lhe o direito de devedor para com todos eles.
resolver o contrato. Nº2: as obrigaçoes podem ter diversas garantias,
diferente conteudo da prestaçao ou ter termos
diversos.
24
Fontes da solidariedade - art.513º: Obrigação de credor que foi pago - art.533º:
(solidariedade ativa)
A solidariedade quando resulta da lei ou da vontade
das partes. O credor que recebe a prestaçao devida tem de
entregar aos outros a parte que lhes compete.
Participação nas dívidas e nos créditos – art.516º:
Meios de defesa – art.514º:
Se nada disser, partimos do pressuposto que os
devedores/credores solidarios comparticipam em Nº1: dos devedores – meios de defesa pessoais e os
partes iguais nas dívidas e nos creditos. comuns a todos os devedores.
Nº2: dos credores – meios de defesa pessoais e
Exclusão do benefício da divisão – art.518º: comuns a todos os credores.
O devedor nao pode invocar o benefício da divisao das
Quando há invocação de um dever de defesa
prestaçoes entre os devedores pois so afeta as relaçoes
pessoal:
internas – tem de efetuar a prestaçao por inteiro.
Art.521º: se um devedor declara exoneraçao, os
Direitos do credor – art.519º: demais vem a sua obrigaçao aumentar.
O credor tem o direito de exigir de qualquer devedor Art.530º: se um credor nao pode exercer o seu direito,
toda a prestaçao. os devedores nao precisam de pagar o montante desse
credor aos restantes.
Escolha do credor – art.528º:
Remissões para o regime da solidariedade:
Nº1: o devedor pode escolher o credor solidario a art.184º, 198º/1, 200º/1, 477º, 497º, 507º, 595º,
quem prestar, enquanto nao tiver sido judicialmente 901º, 997º, 1009º, 1017º, 1139º, 1228º, 1342º, 1695º.
citado por outro credor cujo credito se venceu.
Nº2: se o devedor for judicialmente citado tem de Obrigação de informar e apresentar coisas –
prestar integralmente perante esse credor. Se a art.573º a 576º
solidariedade entre os credores for estabelecida em
favor do devedor, este pode renunciar do benefício e Obrigação de informação – art.573º:
prestar a cada credor a parte que lhe cabe.
É um direito potestativo que cria na esfera jurídica do
Satisfação do direito de um dos credores – outro o dever de responder.
art.532º: Requisitos:
• Titular de um direito com duvida fundada
A satisfaçao do direito de um credor produz a extinçao acerca do seu conteudo ou da sua existencia.
relativamente a todos os credores da obrigaçao do Interpretaçao extensiva – nao so o titular mas
devedor. os interessados.
• Outrem com condiçoes de prestar a
Impossibilidade da prestação:
informaçao necessaria. Interpretaçao
Art.520º - solidariedade passiva. restritiva – a pessoa que tem de prestar
Art.529º - solidariedade ativa. informaçoes tem de estar diretamente
relacionada.
Direito de regresso:
Dever de cooperação para a descoberta da verdade
Direito de regresso – art.524º: (solidariedade – art.417º CPC:
passiva)
Quando ha um processo judicial, todas as pessoas
O devedor que cumpre totalmente tem direito de envolvidas tem o dever de colaborar com o tribunal
regresso contra os outros devedores. para a descoberta da verdade.
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Nº3: a recusa e permitida se a obediencia levar: O princípio geral e que todo o patrimonio responde
a) Violaçao da integridade física/moral; pelo cumprimento das obrigaçoes, mas existem
b) Intromissao na vida privada ou familiar, algumas salvaguardas de forma a garantir o princípio
domicílio, correspondencia ou da dignidade da pessoa humana que permita o mínimo
telecomunicaçoes, de subsistencia.
c) violaçao do sigilo profissional de funcionarios
publicos ou segredo de Éstado. Proibição de autodefesa – art.1º CPC:

Nao e permitido o uso da força com o fim de realizar


Limites ao art.573º - interpretação restritiva:
ou assegurar o proprio direito, fora dos casos de
Se ate no tribunal ha casos em que se pode recusar a autotutela.
colaboraçao, entao estas restriçoes tambem se
aplicam a esta obrigaçao de informar. Aplica-se o Acesso ao direito e tutela jurisdicional efetiva –
limite do art.417º CPC por analogia e maioria de art.20º CRP:
razao. Garantia do acesso aos tribunais que protege os
Ésta obrigaçao e específica relativamente a um nossos direitos e faz garantir o que nos e devido.
contexto concreto, nao se admitindo pedidos
genericos de informaçao. Ações de cumprimento e execução
Apresentação de coisas – art.574º. Garantia de acesso aos tribunais – art.2º CPC:
Apresentação de documentos – art.575º.
Reprodução das coisas e dos documentos – O que podemos obter dos tribunais.
art.576º. Nº1: podemos obter junto do tribunal atraves da
proteçao jurídica dos tribunais:
Garantia das obrigações • Uma decisao judicial que aprecie a pretensao
regularmente deduzida em juízo;
ML: o direito de credito, enquanto realidade jurídica, • A possibilidade de a executar.
recebe proteçao do direito. Ésta proteçao denomina-se Nº2: podemos:
a garantia das obrigaçoes e consiste na ordem jurídica • Faze-lo reconhecer em juízo → pedir ao
assegurar ao credor os meios necessarios para realizar tribunal para reconhecer que temos razao.
o seu direito, em caso de incumprimento pelo devedor. • Prevenir ou reparar a violaçao → pedimos
Como é que a lei garante a satisfação do direito de ajuda para prevenir a violaçao eminente ou
crédito. reparar a violaçao.
• Realizar coercivamente → nao por nos, mas
Direito de propriedade privada – art.62º CRP:
pelo tribunal, para fazer valer o nosso direito.
Proteçao constitucional ao patrimonio, que inclui
todas as posiçoes ativas. Espécies de ações, consoante o fim – art.10º CPC:
Interpretaçao extensiva de “propriedade privada”. Nº1: as açoes sao declarativas ou executivas.

Força jurídica – art.18º CRP: Ações declarativas:


As restriçoes a direitos fundamentais devem atender Acabam com uma sentença.
ao princípio da necessidade, proporcionalidade e Nº2 e nº3: podem ser de:
adequaçao. • Simples apreciaçao – tribunal reconhece a
A pessoa nao pode ser atingida por violaçoes do (in)existencia de um direito;
direito de credito. Nao ha prisao por dívidas.

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• Condenaçao – exige a prestaçao de uma coisa Execução específica – art.827º a 830º
ou de um facto, ainda exige colaboraçao pelo
Tipos de execução:
reu e pressupoe a violaçao de um direito.
• Constitutivas – deixa de ser necessaria a
colaboraçao do reu. A sentença vale como Execução Execução por
declaraçao e autoriza uma mudança na ordem específica equivalente
jurídica existente. (satisfaçao de (satisfaçao do
um interesse interesse
Ações executivas: primario) secundario:
indemnizaçao)
As declarativas precisam de ser acompanhadas por
estas, mas nem sempre e preciso uma para se exercer Éx. contrato Açao de Ação
logo a açao executiva (nem sempre e possível) promessa responsabilidade declarativa
Ultrapassa-se a fase das palavras e passamos para a civil
açao. Ésta em causa a execuçao do patrimonio do
devedor. Nestes casos
Pode ou nao
Nº4: aquelas em que o credor requer as providencias existe sempre
recorrer a uma Ação
adequadas a realizaçao coativa de uma obrigaçao que um apelo a
garantia geral – executiva
lhe e devida. garantia geral
art.828º.
das obrigaçoes.
Ém suma: nas açoes declarativas o tribunal acaba por
dizer o direito; nas açoes executivas, o tribunal com o Éspecífica: execuçao do interesse primario. O credor
seu braço de coerçao garante que as coisas acontecem recebe a propria prestaçao.
mesmo. Por equivalente: nao e possível pagar a obrigaçao
específica, entao e paga por indemnizaçao.
Ação de cumprimento (declarativa) e execução –
art.817º: Entrega de coisa determinada – art.827º:

Se a açao nao e cumprida voluntariamente, o credor Se a prestaçao for de coisa determinada o credor pode
pode: forçar judicialmente a sua entrega.
• Éxigir a açao declarativa do seu cumprimento Se a prestaçao for de coisa consumível, converte-se em
– tribunal condena o devedor a cumprir. dinheiro.
• Recorrer a açao executiva – tribunal executa o
Prestação de facto fungível – art.828º:
patrimonio do devedor.
O credor de prestaçao fungível (aquela que pode ser
Execução de bens de terceiro – art.818º: feita por outra pessoa) pode requerer que seja
O direito de execuçao pode incidir sobre bens de prestado por outrem a custa do devedor.
terceiro.
Prestação de facto negativo – art.829º:
Éx: garantias especiais e impugnaçao pauliana.
Nº1: Se o devedor estiver obrigado a nao aplicar algum
Garantia geral das obrigações – art.601º: ato e o praticar, o credor pode exigir desfazer-se o que
Pelo cumprimento da obrigaçao respondem todos os foi feito.
bens suscetíveis de penhora Nº2: Se trouxer mais prejuízo desfazer, entao cabe
direito a indemnizaçao.

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Sanção pecuniária compulsória - art.829º-A: • Produto da venda – os bens do devedor sao
vendidos em hasta publica e o credor recebe o
Prestaçao facto fungível que nao podemos forçar –
que resultar da venda (leilao).
tribunal estabelece um montante que “força” a pessoa
a cumprir.
Cláusula de exclusão de responsabilidade por
Garantia geral dívidas
Limitação por determinação de terceiro –
Princípio geral – art.601º:
art.603º:
Princípio: responsabilidade patrimonial.
Nº1: para proteger contra a penhora em casos de
Regra: respondem todos os bens do devedor no
doaçao, podem-se introduzir clausulas de exclusao
cumprimento de obrigaçoes.
por responsabilidade que permite retirar do
Restriçao: bens nao suscetíveis de penhora nem o
patrimonio geral o bem doado. A penhora tem de ser
patrimonio autonomo.
posterior a data da clausula para ser oponível aos
Património geral e autónomo credores anteriores.
Nº2: limitaçoes:
Patrimonio geral: composto por tudo o que se detem. • Se o bem nao for registado: a clausula e
Patrimonio autonomo: nao respondem pelas dívidas. oponível apenas aos credores anteriores.
• Se o bem for registado: a clausula e oponível
Penhora aos credores anteriores e posteriores.

É uma apreensao judicial de bens para efeitos de A eficacia da clausula depende da tutela da expetativa
satisfaçao de creditos. do credor.
Princípio da dignidade humana e art.18º CRP –
limitam o tipo de bens suscetíveis de penhora. Limitação da responsabilidade por convenção das
• Art.736º CPC: Bens absoluta ou totalmente partes – art.602º:
impenhoraveis. Salvaguardam os bens
As partes podem acordar em limitar a
essenciais a dignidade humana.
responsabilidade do devedor em relaçao a alguns dos
• Art.737º CPC: Bens relativamente
seus bens.
impenhoraveis. Bens subjetiveis de penhora
Manifestaçao do princípio da autonomia privada.
mas apenas numa determinada medida.
Casos em que isto nao e admissível: obrigaçoes de
• Art.738º CPC: Bens parcialmente penhoraveis.
alimentos, materias importantes, contratos de adesao.
Possibilidade de penhorar apenas 1/3 da parte
líquida do vencimento. Isto tem um teto em Vantagem dos credores na satisfação do
funçao do salario mínimo nacional. crédito
Modos de efetuar o pagamento – art.795º CPC:
Concurso de credores – art.604º:
Meios que o credor tem para transformar o seu direito
em dinheiro aquando de uma açao executiva: Regra: princípio par conditio creditorem ou do
• Éntrega de dinheiro; tratamento igualitario dos credores.
Os credores comuns de um devedor devem ser
• Designaçao de bens;
tratados de forma igual e proporcional.
• Consignaçao de rendimentos – rendimentos
O tempo e irrelevante (nao importa qual credor
descontados do valor da dívida e reconduzidos
apareceu primeiro).
ao credor;

28
Pratica: nao ha meios de implementar coercivamente No processo judicial por nao cumprimento voluntario:
a nao ser que se verifiquem os requisitos do art.229º preferencia do credor que impugnar a açao em
CP ou se entre em processo de insolvência. tribunal primeiro.

Processo judicial por não cumprimento Conservação da garantia patrimonial –


voluntário: art.605º e ss.
Se nao houver cumprimento voluntario, os credores Meios de conservaçao do patrimonio do devedor
podem recorrer a tribunal e nesse caso quem tem concedidos ao credor para garantir a satisfaçao do seu
vantagem e quem interpor a açao contra o devedor credito, impedindo que o devedor se liberte ou dissipe
primeiro e regista-la. Tambem podem existir credores o seu patrimonio. Garante que o patrimonio do
com direito de preferencia na satisfaçao do credito devedor continua a existir caso nao cumpra. → tutela
(credores com garantia real). do credor.
O tempo e relevante.
Instrumentos de proteção do credor:
Favorecimento de credores – art.229º CP:
• Declaraçao de nulidade – art.605º;
Limitaçao da regra do devedor poder voluntariamente • Sub-rogaçao – art.606º a art.609º;
pagar ao credor que lhe apetece se preencher os • Impugnaçao pauliana – art.610º a art.618º;
requisitos: • Arresto – art,619º a art.622º.
• Tiver conhecimento da situaçao de insolvencia
ou a sua iminencia (mais dívidas que Declaração de nulidade – art.605º
patrimonio);
• Pagar com o intuito de favorecer ou prejudicar Regime da nulidade – art.206º.
certos credores; Serve para negocios que sofrem do vício da nulidade
• Solver dívidas que ainda nao estejam vencidas. (ex. negocios simulados – art.240º), que e arguível a
todo o momento e por qualquer interessado.
Situação de insolvência – art.3º CIRE:
Legitimidade dos credores – art.605º:
Nº1: esta em situaçao de insolvencia o devedor
impossibilitado de cumprir as suas obrigaçoes Nº1: os credores podem invocar a nulidade dos atos
vencidas. praticados pelo devedor que os possam prejudicar,
Nº4: e equiparavel a insolvencia a sua iminencia. anteriores ou posteriores ao credito. Nao e necessario
que o ato produza ou agrave a insolvencia do devedor.
Nota: na insolvencia o princípio par conditio Nº2: a nulidade aproveita todos os credor. Nao traz
creditorem entra em açao. nenhuma vantagem especial.

Dever de apresentação à insolvência – art.18º Efeitos: os bens voltam a reintegrar o patrimonio do


CIRE: devedor.
Desvantagens: nao traz nenhuma vantagem especial,
Nas pessoas coletivas ha um dever de apresentaçao a abre portas para todos os credores atingirem o seu
insolvencia. As pessoas singulares nao tem de o
patrimonio e podem haver credores com direito de
declarar. preferencia.
Processo judicial:

No processo de insolvencia: nao ha preferencia de


credor.

29
Impugnação pauliana – art.610º a 618º Atos onerosos: so sujeito a impugnaçao se ambas as
partes agirem de ma-fe. Ma fe nao e a intenção, mas a
Permite ao credor proteger apenas os seus creditos, consciência de que vai provocar prejuízo, ou se deviam
impugnando um ato do devedor pedindo para que seja estar cientes.
ineficaz perante ele. Atos gratuitos: sempre impugnaveis, ainda que
praticados de boa fe.
Requisitos gerais:
Efeitos em relação ao credor – art.616º:
→ Art.610º, al. b): o ato em causa tem de ser lesivo
da garantia patrimonial – agrava a possibilidade do Nº1: credor tem direito a restituiçao dos bens na
credor nao poder executar os bens do devedor. medida do seu interesse - nao ha restituiçao para alem
do valor do direito de credito. Pode-se executar o
Para provar que o ato e lesivo: patrimonio diretamente na esfera jurídica do terceiro
• O devedor tornou-se insolvente; sem ser necessario haver retorno para o devedor.
• Agravou a situaçao de insolvencia; Nº2: adquirente de má fé – e responsavel pelo valor
• Desconhecimento/inexistencia de outros bens dos bens perdidos, deteriorados ou alienados.
penhoraveis pelo credor. Nº3: adquirente de boa-fé – so e responsavel na
medida do seu enriquecimento, nao responde pelo
Doutrina e jurisprudencia: os casos de venda de bens
perecimento ou perda.
imoveis podem ser suscetíveis de impugnaçao
Nº4: os efeitos da impugnaçao aproveitam apenas o
pauliana porque se considera que mesmo que o valor
credor que a tenha requerido.
tenha sido convertido em dinheiro, essa liquidez
desaparece mais facilmente.
Impugnação de atos nulos – art.615º:
Prova – art.611º:
Nº1: nao obsta a impugnaçao a nulidade do ato do
Ao credor basta alegar a existencia do credito e que devedor. Podem-se impugnar atos nulos.
desconhece a existencia de outros bens que possam Nº2:
satisfaze-lo – nao precisa de demonstra-lo. • Cumprimento de obrigaçoes vencidas: nao
O onus da prova da existencia de bens de valor igual podem ser impugnadas.
ou superior e da desnecessidade da impugnaçao • Cumprimento de obrigaçoes nao vencidas ou
pauliana recai sobre o devedor ou terceiro interessado naturais: podem ser impugnadas.
na manutençao do ato.
Relações entre o devedor e terceiro – art.617º.
→ Art.610º, al. a): anterioridade do crédito ou
fraude pré-ordenada. Caducidade – art.618º:

Atos que podem ser objeto de impugnaçao pauliana: Prazo de caducidade de 5 anos.
• Atos realizados apos a constituiçao do credito.
• Atos anteriores a constituiçao do credito se
AUJ 3/2001
praticados dolosamente pelo devedor com a É um erro recorrente cometido por advogados invocar
intençao de prejudicar o credor – fraude pre- a declaraçao de nulidade quando na verdade estao a
ordenada. O devedor e terceiro dissipam o querer invocar a impugnaçao pauliana. Havendo esse
patrimonio para que o futuro credor nao seja erro, o juiz deve corrigi-lo oficiosamente e aplicar o
satisfeito. regime mais sofisticado, limitando-se a declarar a
ineficacia do ato relativamente a pessoa do credor e
→ Art.612º: má fé do devedor e do terceiro em caso
nao a nulidade do ato.
de atos onerosos (requisito da má fé).

30
7Sub-rogação – art.606º a 609º devedor e o credor. Por ser relativa nao tem eficacia
erga omnes.
Permite ao credor substituir-se ao devedor quando o
devedor fica inerte, exercendo os seus direitos de Questões:
forma a aumentar-lhe o patrimonio para que mais
facilmente possa responder as suas dívidas. O que • Um terceiro que saiba da existencia do direito
resultar do exercício do credor vai para a esfera de credito e contribui/instiga/impede o
jurídica do devedor e so aí pode ser executado, devedor de cumprir deve responder pelo
aproveitando todos os credores. incumprimento?
• Pode o titular do direito de credito reagir
Direitos sujeitos à sub-rogação – art.606º: contra ingerencias ao seu direito, nao sendo
esse erga omnes?
Requisitos: • Qual a eficacia externa da obrigaçao?
• Inercia do devedor – provar que a sua
diligencia esta aquem; Tese arcaica:
• Éssencialidade do ato para a satisfaçao da
Defende a inoponibilidade do direito de credito a
dívida.
terceiros.
Inclui todas as faculdades de conteudo patrimonial
Tendo em conta a estrutura da obrigaçao, a sua
contra terceiro mas nao inclui direitos pessoais.
relatividade, e conceptualmente impossível ter
eficacia externa porque a relaçao so vincula as partes.
Arresto – art.619º a 622º
Corresponde a uma apreensao judicial dos bens Tese tradicional:
(providencia cautelar) quando ha justo receio do Se a obrigaçao e relativa nao pode ser oponível a
credor de que aqueles bens possam ser dissipados de terceiros.
tal forma a que nao se possa garantir o seu direito de Nao ha base legal que sustente o direito a reagir contra
credito. a ingerencia de terceiros nas obrigaçoes. Os exemplos
O tribunal apreende os bens e fica responsavel por que encontramos no CC (ex. art.1311º sobre a açao de
eles, podendo depois ser suscetíveis de penhora. Se for defesa da propriedade) estao fora do ambito das
um bem nao pecuniario vai a leilao. obrigaçoes.
É mais usado em contexto internacional. O art.1406º/2 sobre a eficacia dos contratos diz-nos
que em relaçao a terceiros so produz efeitos nos casos
Requisitos – art.619º:
previstos na lei. Por analogia, se os contratos nao
Justo receio de perder a garantia patrimonial. produzem efeitos externos, entao as obrigaçoes
tambem nao.
Efeitos – art.622º:
Teses mais modernas:
Apreensao física da coisa, com privaçao de uso.
Atos posteriores de disposiçao do bem sao ineficazes Ha casos em que seria injusto nao poder reagir contra
relativamente ao credor. terceiros que se intrometem em creditos alheios. Nao
Tem vantagem apenas para o credor que passa a ser podemos aceitar a eficacia externa, mas tambem nao
um credor preferente. podemos nega-la completamente.

Relatividade e eficácia externa da obrigação 1. Impugnaçao pauliana.


Instrumento que permite atingir a esfera jurídica de
A obrigaçao e um vínculo e daí resulta a sua terceiros, fazendo-os responder perante os credores –
relatividade porque assenta numa relaçao entre o art.818º e art.612º (ma-fe de terceiro adquirente).

31
2. Violaçao da titularidade do credito. Garantias especiais reais
A doutrina tradicional tende a aceitar que e abuso de
O credor que beneficia desta garantia torna-se credor
direito quando um terceiro apos se fazer passar pelo
preferente. É um reforço qualitativo da sua posiçao
credor invocar que e terceiro e que apenas responde
perante os outros.
pelo prejuízo que causou.
Garantias pelas quais responde um determinado bem
3. Se A, o devedor, tem negocios com B, e se C, em particular. Éx: hipoteca.
outro credor, pode executar o patrimonio de A
acaba por se verificar uma eficacia externa. Garantias especiais pessoais
Argumento fraco. Nestas garantias alem do patrimonio do devedor,
4. Art.443º - contratos com eficacia a favor de passa a responder tambem o patrimonio do garante
terceiros. (terceiro). Éx: fiança.
Indício de que a relatividade nao e assim tao forte. Os credores nao se tornam preferenciais nem
assumem uma posiçao qualitativamente superior, o
Tese intermédia de Pedro Múrias: reforço e quantitativo.
O terceiro e responsavel por lesao do direito de credito Art.818º sobre a execuçao de bens de terceiros, preve
quando se verifique: os casos em que o credor pode executar bens de
terceiro para satisfazer os seus interesses.
a) Conhecimento pelo terceiro da existencia do
credito; Prestação da caução ≠ garantia especial
b) Nexo de causalidade suficiente (quando o
terceiro instiga ou impede o devedor de A maioria das garantias e imposta por lei, mas por
cumprir) vezes ha um dever legal de prestar garantia, chamado
c) O devedor nao indemniza (totalmente) o de dever legal de prestar cauçao.
credor; A cauçao em si mesma nao e uma garantia especial,
d) Imputaçao ao terceiro da ausencia de mas e prestada por uma serie de garantias e pode ser
indemnizaçao (total) pelo devedor. imposta por lei.

Garantias especiais Caução imposta ou autorizada por lei – art.623º:

ML: situaçoes em que a posiçao do credor aparece Élenca as garantias que se podem usar para cumprir
reforçada para alem do que resultaria simplesmente este dever.
da responsabilidade patrimonial do devedor. A cauçao pode determinar a prestaçao de uma
garantia em numerario, real (de um bem), etc.
Natureza das garantias especiais:
Falta de prestação da caução – art.912º CPC:
• Reais;
• Pessoais. Quando o tribunal impoe a prestaçao de uma cauçao.

Tipos de garantia: Hipoteca


• Quantitativa: quando outros patrimonios alem Bem que responde especificamente preferencialmente
do devedor sejam sujeitos ao poder de perante um credor.
execuçao do credor. Adicionam-se bens que Quando o patrimonio do devedor e atacado, esse bem
respondem pela dívida. e protegido da execuçao de forma a satisfazer primeiro
• Qualitativa: o credor tem preferencia sobre o credor preferencial que tem um direito de
outros credores aquando a execuçao do bem. preferencia na satisfaçao do credito.
Melhora a posiçao do credor.
32
Fiança Traços da obrigação do fiador:

Unica garantia especial pessoal regulada pelo CC. • Acessoriedade – traço essencial. A obrigaçao
O garante ou fiador assume uma posiçao do fiador nao vive independentemente e e um
qualitativamente identica a do devedor, respondendo acessorio essencial.
ambos os patrimonios pela dívida. • Subsidiariedade – traço nao essencial. A
obrigaçao do fiador como e eventual so existe
Noção. Acessoriedade – art.627º: e se concretiza se o devedor nao conseguir
responder perante o credor. A subsidiariedade
Nº1: fiador garante a satisfaçao do direito de credito e baseia-se no benefício da excussao previa
fica pessoalmente obrigado perante o credor. como regime supletivo.
Nº2: a obrigaçao do fiador e acessoria a obrigaçao do
devedor. É eventual porque surge do incumprimento Benefício da excussão prévia – art.638º e ss.
do contrato.
• Benefício: aproveita o fiador.
Acessoriedade: • Éxcussao previa: o patrimonio do devedor tem
de ser excutido (atacado) primeiro antes do
A obrigaçao do fiador e decalcada sobre a obrigaçao do patrimonio do devedor.
devedor, e um reflexo e e simetrica.
Acessoriedade traduz-se: O fiador pode exigir so responder subsidariamente
depois de esgotados os bens do devedor – art.638º.
1. Na forma. É o regime supletivo, podendo ser afastado pelas
Art.628º: A obrigaçao do fiador segue a exigencia de partes.
forma da obrigaçao principal, sob pena de nulidade. Nao existe em negocios comerciais ou nao civis –
Tem de ser expressamente declarada. art.101º Codigo Comercial. O fiador de obrigaçao
2. No objeto da obrigação. mercantil e solidario com o respetivo afiançado.
Art.631º: o ambito da fiança nao pode exceder a dívida
principal, mas pode ser menos. Nao sob pena de Renúncia ao benefício da excussão prévia –
nulidade mas sob pena de reduçao. art.640º:
Art.634º: a fiança tem o conteudo da obrigaçao
O fiador pode abdicar deste benefício, respondendo ao
principal e ainda cobre as consequencias da mora ou
lado do devedor.
culpa do devedor.
3. No regime da invalidade. Relações entre o devedor e fiador
Art.632º: se a obrigaçao do devedor estiver ferida com
uma invalidade, isso contamina a obrigaçao do fiador. Sub-rogação – art.644º:
4. Nos meios de defesa que o fiador pode opor
ao credor. O fiador que cumpre a obrigaçao do devedor fica sub-
Art.637º: o fiador pode opor ao credor os meios de rogado nos direitos do credor, na medida em que
defesa que compete ao devedor, para alem de meios foram satisfeitos.
que lhe sejam proprios. O fiador pode reaver o que pagou.
Art.642º: meio de defesa específico do fiador – Direito à liberação ou prestação da caução –
compensaçao. art.648º:
5. Na extinção.
Nos casos elencados neste artigo o fiador tem direito a
Art.651º: extinçao da obrigaçao principal extingue a ser libertado da fiança, ou a exigir prestaçao de cauçao
do fiador. para garantir o seu direito eventual contra o devedor.
Al.b) os riscos da fiança se agravarem sensivelmente.

33
Pluralidade de fiadores – art.649º: ≠ Fiança

Nº1: Se houver pluralidade de fiadores, a regra e que A fiança esta sempre ligada ao contrato base, de forma
que qualquer problema que o contrato base tenha
um deles responde pela satisfaçao integral do credito,
contamina a fiança.
exceto se tiverem acordado uma divisao. Se um pagar
A garantia autonoma vive independentemente do
tudo tem direito de regresso sobre os outros. → regime contrato base.
das obrigaçoes solidaria supletivamente.
Garantia autónoma bancária
Fiança de obrigações futuras?
O banco responde pelo pagamento do preço
Pode haver, mas desde que determinaveis, nos termos independentemente do contrato de compra e venda
do art.280º/1 e art.400º. nao ser cumprido. É necessario que o beneficiario
prove que ocorreu o facto constitutivo do seu direito.
Fiança omnibus: Limites: O banco pode recusar caso identifique que
haja abuso de direito ou fraude a lei. So serve em casos
É quando um fiador aceita responder por todas as
limites com carater evidente e manifesto, sob pena de
dívidas do devedor, passadas ou futuras. acabar com a celeridade da garantia ou de ganhar
Discussao doutrinaria. acessoriedade. Ex: credor pediu ao banco mas já houve
Obrigaçoes existentes no momento da sua cumprimento.
constituiçao: existe um criterio suficiente para a
determinaçao, uma vez que e possível averiguar o Garantia autónoma à primeira solicitação
montante das dívidas.
O garante satisfaz imediatamente a garantia quando
Obrigaçoes futuras do devedor: sem que esteja solicitada pelo credor. O reembolso tambem deve ser
estabelecido um criterio que as permita determinar, a feito a primeira solicitaçao.
fiança seria nula por constituir um negocio de objeto Se e preciso justificaçao documental: deve demonstrar
determinavel. em documento a ocorrencia do facto constitutivo do
AUJ 4033/99, nao e nula caso haja mençao expressa da seu direito.
origem ou natureza das obrigaçoes a que se constitua Se nao e preciso justificaçao documental: basta a
garante. interpelaçao do beneficiario.

Garantia autónoma Fonte das obrigações


Garantia pessoal de natureza qualitativa. Sao os factos jurídicos dos quais emergem as
Para contrapor a lentidao da fiança baseada na obrigaçoes.
acessoriedade das obrigaçoes, o mercado
Fontes das obrigaçoes no nosso CC:
internacional criou esta garantia marcada pela
autonomia. Nasceu da pratica e e justificada pelo • Contratos;
princípio da autonomia privada. • Negocios unilaterais;
A garantia nao depende da obrigaçao principal e e • Gestao de negocios;
autonoma relativamente a essa. Ocorre quando • Énriquecimento sem causa;
determinada entidade (normalmente instituiçao • Responsabilidade civil.
bancaria) vem garantir pessoalmente a satisfaçao de
uma obrigaçao assumida por terceiro, Enriquecimento sem causa – art.473º a 482º
independentemente da validade ou eficacia desta
obrigaçao e dos meios de defesa a que ela possam ser Fonte que emerge da lei e o seu regime resulta do
opostos. princípio geral de proibiçao do enriquecimento
O banco nao pode recusar o pagamento, a nao ser se injustificado a custa de outrem. Gera a obrigaçao de
hajam exceçoes no texto da garantia. restituir.

34
Princípio geral – art.473º: Enriquecimento por prestação
Nº1: aquele que sem causa justificaçao enriquecer a Ocorre quando alguem presta e esse incremento
custa de outrem e obrigado a restituir aquilo com que consciente e finalisticamente orientado de patrimonio
injustamente se enriqueceu. alheio nao corresponde a nenhuma causa jurídica; e o
Nº2: a obrigaçao de restituir pode ser do objeto destinatario que a recebe, dada a ausencia de causa,
indevidamente recebido, o que foi recebido por causa nao tem legitimidade para aproveitar a prestaçao.
que deixou de existir ou por efeito que nao se verificou.
Ocorre quando alguém cumpre – art.473º/2:
Pressupostos essenciais:
1. com convicçao assente num equívoco, no caso
• Énriquecimento patrimonial: incremento do de repetiçao do devido;
patrimonio ativo ou diminuiçao de dívidas, 2. mas a causa deixou de existir:
despesas. 3. mas o efeito pretendido nao aconteceu.
• Feita a custa de outrem: o terceiro nao tem
necessariamente de empobrecer, pode so nao 1. Repetição do indevido (conditio indebiti) –
ver o seu patrimonio incrementado. art.476º e art.473º/2.
• Énriquecimento nao tenha causa: nao ha
Prestaçao feita com a convicçao que ha uma obrigaçao
nenhuma justificaçao jurídica. (nota: nas
que na verdade nao existe.
obrigaçoes naturais ha causa jurídica)

Natureza subsidiária da obrigação – art.474º: Indevido objetivo – art.476º/1:

O enriquecimento sem causa so pode ser usado se nao Quando a obrigaçao nunca existiu.
houver outro instrumento que permita responder a “O que for prestado com intençao de cumprir uma
questao – natureza subsidiaria. obrigaçao pode ser repetido [devolvido], se esta nao
existia no momento da prestaçao”.
Nao ha lugar a restituiçao por enriquecimento sem
causa quando: Indevido temporal – art.476º/3:
• A lei facultar ao empobrecido outro meio de
ser indemnizado ou restituído; Quando o devedor cumpre, mas a obrigaçao ainda nao
se tinha vencido. O devedor achava que tinha de pagar
• Negar o direito a restituiçao;
naquele momento, mas afinal era so no futuro. O artigo
• Atribuir outros efeitos ao cumprimento.
estabelece que a prestaçao feita por erro desculpavel
Isto nao invalida que o enriquecimento sem causa antes do vencimento da obrigaçao so da lugar a
coexista com outros regimes em determinados casos, repetiçao do indevido se o credor tiver ganho alguma
so para as partes sem resposta. Ou seja, pode ser coisa por receber o dinheiro mais cedo.
cumulativo.
Indevido subjetivo:
Modalidades:
Quanto ao accipiens – art.476º/2: se o accipiens nao e
• Por prestaçao; o verdadeiro credor, constitui na sua esfera o dever de
• Por intervençao; restituiçao, a nao ser que entregue a prestaçao ao
• Por dispendios de outrem; verdadeiro credor, como previsto no art.770º.
• Atraves de patrimonio intermedio;
• Situaçoes nao enquadraveis em nenhuma Quanto ao solvens – art.477º: se o solvens nao e o
verdadeiro devedor, mas faz o cumprimento da
destas modalidades.
obrigaçao alheia na convicçao de que e propria, vai
gozar do direito a repetiçao da prestaçao. Contudo, o
engano tem de ser desculpavel, caso contrario
35
aplicamos a sub-rogaçao ou mesmo o cumprimento Falta do resultado previsto – art.475º:
por terceiro, correndo o risco por sua conta.
Nao ha lugar a restituiçao se, ao efetuar a prestaçao, o
Com a convicçao de se estar obrigado para com o autor sabia que o efeito com ela previsto era
devedor a cumprir – art.478º: se o que cumpre sabe impossível, ou se, agindo contra a boa fe, impediu a sua
quem e o devedor, mas por alguma razao, faz o verificaçao.
cumprimento da sua obrigaçao alheia (do devedor) na Quem presta tem de estar convencido de que esta a
convicçao de estar obrigado a cumpri-la. Éste solvens cumprir uma obrigaçao.
nao tem direito de repetiçao contra o credor, apenas
Erro de identidade:
pode exigir do devedor exonerado aquilo com que
deveria ser ele a cumprir. A menos que o credor Nos casos de erro de identidade (erro no IBAN, prestar
conhecesse o engano e aceitasse receber a prestaçao a pessoa parecida com o credor) deixa de ser
na mesma. enriquecimento por prestaçao por repetiçao do
indevido pois nao preenche o elemento volitivo que
2. Causa que deixou de existir (condictio ob causam exige vontade para a realizaçao da prestaçao. Nesses
finitam) – art.476º/1 e art.473º/2. casos nao se aplica o art.476º, mas o regime geral do
enriquecimento sem causa do art.473º
Tinha causa, mas desaparece.
Contrato com A, mas acho que é com B →
Os contratos bilaterais – art.795º, remetem para o
enriquecimento por prestação, art.476º.
regime do enriquecimento sem causa. Quando num
Contrato com A, sei que é A, mas presto com B → regime
contrato bilateral uma das prestaçoes se torna
geral art.473º
impossível, o credor fica desobrigado da
contraprestaçao e tem o direito de exigir a sua Notas:
restituiçao nos termos deste regime.
• Aplica-se quando ha engano sobre o montante,
3. Efeito que não se verificou (condictio ob rem) – engana-se a ler o valor.
art.476º/1 e art.473º/2. Não aplicação da sub-rogação e enriquecimento
sem causa:
Éx: bolsa de estudo que nao e usada para auxiliar nos
estudos, mas para outros fins. O seu efeito pretendido Prof. Lima Rego: Nos casos onde poderia caber sub-
nao e cumprido. rogaçao, mas essa nao preenche todos os requisitos, a
professora diz que nao se pode aplicar o
Requisitos:
enriquecimento sem causa por respeito ao princípio
• Élemento patrimonial; da subsidiariedade do art.474º, uma vez que ha outros
• Élemento cognitivo: o incremento e regimes aplicaveis. Alem do mais, e necessario um
consciente, quem presta sabia que estava a engano desculpavel.
faze-lo. ML: Defende que, mesmo assim, se os requisitos da
• Élemento volitivo: alem da consciencia e sub-rogaçao nao sao preenchidos, pode-se aplicar o
necessario vontade para faze-lo. enriquecimento sem causa, tendo o terceiro direito de
• Élemento final: o fim visado pela atuaçao era regresso sobre a prestaçao que cumpriu.
mesmo o incremento de patrimonio alheio.
Quem preste enganando-se no destinatario Enriquecimento por intervenção
nao preenche este requisito. Énriquecimento por prestaçao: quem motiva o
Prestação: incremento consciente e finalisticamente enriquecimento e o prejudicado que esta equivocado.
orientado do patrimonio alheio. Énriquecimento por intervençao: quem age e o
enriquecido.

36
Situaçoes em que alguem se aproveita ilicitamente de • Pelos juros legais das quantias a que o
um bem alheio. Aqui nao ha qualquer equívoco, mas empobrecido tiver direito depois de:
um aproveitamento indevido de um bem (ingerencia a) Ter sido judicialmente citado para a
nao autorizada) que nao e seu e que leva a um restituiçao;
enriquecimento, nao sendo necessario um b) Ter conhecimento da falta de causa do seu
empobrecimento pelo proprietario do bem. enriquecimento ou da falta do efeito que se
Aplica-se o art.473º/1. pretendia obter com a prestaçao.

Medida do enriquecimento Nas alíneas a) e b) esta em causa a cessao da boa fe, se


existia. So a partir da cessao da boa fe e que e exigível
Responsabilidade civil: olha-se para o patrimonio
que o enriquecido trate a coisa como algo alheio, ate
global e afere-se o impacto da conduta no seu
esse momento ele e protegido e so tem de restituir o
patrimonio.
valor que restar no momento em que cessa a sua boa
Énriquecimento sem causa: procura-se a vantagem
fe.
patrimonial concreta e nao a diferença global entre o
antes e depois. Apurar o valor de restituição quando não há valor
de mercado:
Objeto da obrigação de restituir – art.479º:
O mais adequado seria aplicar o art.566º/3 da
A obrigaçao de restituir compreende “tudo o que se responsabilidade civil, por analogia e por maioria de
tenha obtido a custa do empobrecido”. razao. Se nao e possível averiguar o valor dos danos, o
Problema: a interpretaçao deve ser extensiva de forma tribunal aplica um juízo de equidade.
a incluir os lucros do enriquecido por se aproveitar do
bem? O caso dos rissóis caros de Pedro Múrias
O objeto da obrigação de restituir pode ser: O autor ilustra as diferenças a que se chega com os
Nº1, 1ª parte: ou o enriquecido recebe algo e tem de institutos do enriquecimento sem causa e da
restituí-la. Deve ser restituído em especie. responsabilidade civil e realça a injustiça que e o facto
Nº1, 2ª parte: ou tratando-se de um serviço ou fruiçao da pessoa pagar pelo preço do mercado e nao o preço
de um bem, restitui-se o valor correspondente. O valor daquela pessoa/estabelecimento. Portanto, defende
correspondente e o valor de mercado, e nao o valor que quando alguem entra num determinado
que as pessoas deram ou costumam dar. estabelecimento, devem vigorar as regras do dono,
Nº2, limite: a obrigaçao de restituir nao pode exceder surgindo uma nova figura “as regulaçoes do dono” – o
a medida do enriquecimento a data da verificaçao de valor do bem e o valor do estabelecimento.
algum dos factos do art.480º. O enriquecimento ainda
subsiste no momento do conhecimento? Enriquecimento por dispêndios de outrem
ML: no enriquecimento por intervençao, o que deve Aplica-se a clausula geral do art.473º/2.
ser restituído e o valor de exploraçao, e nao os ganhos Requisito: enriquecimento feito a custa do patrimonio
patrimoniais do interventor. de outrem.

Agravamento da obrigação – art.480º: ML introduz 2 submodalidades:

O enriquecido passa a responder: 1. Énriquecimento por incremento de bens


• Pelo perecimento ou deterioraçao culposa da alheios;
coisa; 2. Énriquecimento por pagamento de dívidas
alheias.
• Pelos frutos que por sua culpa deixem de ser
A prof. Lima Rego diverge no segundo ponto. Quando
recebidos;
se pagam dívidas alheias, aplica-se o art.592º da sub-
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rogaçao, e nos casos em que e rejeitado nao se pode Alienação onerosa nos atos sujeitos a impugnação
recorrer ao enriquecimento sem causa. pauliana – art.616º:

Continua a existir um dever de restituição – Quando se aliena algo de forma onerosa, nao e possível
art.1311º - por quem detem o direito de propriedade. ir atras do patrimonio do adquirente, a nao ser que
esteja de ma fe (ma fe neste sentido e a consciencia de
Planificação subjetiva do enriquecido:
que podera causar prejuízo).
Ésta modalidade suscita o problema de que embora o Nº3: porem, o adquirente de boa fe so responde na
enriquecido beneficie das despesas realizadas pelo medida do seu enriquecimento. So ha remissao para o
empobrecido, de acordo com as suas circunstancias, ÉSC quando ha boa-fe.
nao gastaria dinheiro dessa forma.
O art.479º/2 deve atender a planificaçao subjetiva do Situações não enquadráveis nesta modalidade
enriquecido, nao ha enriquecimento efetivo se for
Aplica-se somente a clausula geral do art.473º/1.
demonstravel que subjetivamente o enriquecido nao
aplicaria o seu patrimonio dessa forma. Gestão de negócios – art.464º a 472º
O locupletamento tem de ser calculado tendo em conta
a utilidade. Mesmo que tenha ocorrido uma despesa, Éxiste para regular o auxílio nao autorizado a alguem
se daí nao se retira nenhuma utilidade (ex. porque que esta incapacitado para cuidar da sua propria
nunca a teria realizado) entao nao houve pessoa ou do seu patrimonio. Apenas regula as
verdadeiramente um enriquecimento. relaçoes entre o gestor e dono do negocio.

Enriquecimento através do património Noção – art.464º:


intermédio
Ha gestao de negocios quando uma pessoa assume a
Surge quando a pessoa que enriqueceu esta de boa-fe
direçao de negocio alheio no interesse e por conta do
e faz seguir o enriquecimento para outro patrimonio.
respetivo dono, sem para tal estar autorizada.
(a pessoa enriquece e depois dá esse enriquecimento a
outra) Requisitos:
1. Assunçao da direçao de negocio alheio;
Efeitos da declaração de nulidade e da anulação –
2. Gestao feita no interesse e por conta do dono
art.289º:
do negocio;
Nº1: efeito retroativo e deve ser restituído o que foi 3. Falta de autorizaçao;
prestado, em especie ou valor correspondente. 4. Situaçao de necessidade ou urgencia de tratar
Nº2: se as partes tiverem alienado gratuitamente coisa dos assuntos → requisito implícito.
que devessem restituir, e nao podendo tornar-se
efetiva contra o alienante a restituiçao do valor dela, 1. Assunção da direção de negócio alheio:
fica o adquirente obrigado em lugar daquele, mas so a) Éxiste uma conduta positiva – nao se qualificam
na medida do seu enriquecimento. omissoes.
Alienação gratuita e obrigação de restituição – b) Os atos podem ser jurídicos ou meramente
art.481º: materiais. Tambem podem ou nao ser de natureza
patrimonial mas nao podem ser de natureza pessoal.
Se o enriquecido alienar gratuitamente coisa que c) Alienidade objetiva: a conduta e objetivamente
devia restituir, o adquirente tem de restituir no lugar alheia quando basta a mera observaçao para percebe-
dele, mas so na medida do seu enriquecimento. lo.
d) Alienidade subjetiva: a conduta e subjetivamente
alheia quando nao e percetível com a mera

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observaçao, e preciso aferir a intençao de quem a Apenas coloca o gestor na posiçao em que estaria se
pratica. nao tivesse feito nada.

2. Feita no interesse e por conta do dono do Nº1: A gestão é regular se e exercida em


negócio: conformidade com: (cf. Art.465º/1)
• O interesse: requisito objetivo, a utilidade.
a) Atuaçao em nome de outrem: relaciona-se com a
• A vontade real ou presumível do dono:
representaçao e e uma questao jurídica. Os efeitos
requisito subjetivo. So se atua segundo a
jurídicos destinam-se ao representado.
vontade presumível se nao se souber a real.
b) Atuaçao por conta de outrem: e uma questao
economica. Significa atuar com o intuito de fazer Reembolso:
chegar o efeito economico da nossa açao a outrem,
com ou sem representaçao. Nº1: se a gestao e regular, o dono do negocio e
c) Atuaçao no interesse de outrem: o requisito e a obrigado a reembolsar o gestor pelas despesas que ele
objetividade. O interesse exige que objetivamente a fundadamente tenha considerado indispensaveis. Tem
atuaçao tenha utilidade. Apesar de ser objetivo o dono ainda de pagar juros compensatorios.
deve agir tendo em conta toda a informaçao Nº2: se a gestao nao foi regular, o dono do negocio
disponível. responde apenas segundo as regras do
enriquecimento sem causa.
3. Falta de autorização: É possível que as despejas e prejuízos do gestor sejam
Trata-se de uma ingerencia nao autorizada no superiores ao impacto positivo no patrimonio do
patrimonio alheio. dono.

4. Situação de necessidade/urgência. Remuneração do gestor – art.470º:

Nº1: a direito a remuneraçao do gestor apenas se a sua


Deveres do gestor – art.465º:
atuaçao corresponder ao exercício da sua atividade
a): A sua atuaçao deve estar conforme o interesse e a profissional.
vontade, real ou presumível, do dono do negocio. Nº2: se houver remuneraçao, e feita segundo o
b): deve avisar o dono do negocio logo que possível de art.1158º/2, importando as regras do mandato.
que assumiu a gestao. A gestao so e legítima enquanto
Interpretaçao literal: alem do reembolso das despesas
esse esforço de tentar entrar em contato com o dono
com juros, o gestor pode ser remunerado se aquela
for prosseguido e continuado.
atuaçao e algo que o gestor faz profissionalmente.
c): os ultimos deveres do gestor colocam-se no termo
Isto resulta de como o regime da gestao esta decalcado
da gestao.
sobre o regime do mandato e esse tem uma presunçao
Equilíbrio entre o nível de ingerência em negócios de a pessoa faz uma atividade de forma gratuita, a nao
alheios e a intensidade com que se procura ser que o faça profissionalmente.
autorização: Interpretaçao alternativa: essa presunçao nao faz
sentido no regime da gestao de negocios porque nao
Para medidas mais drasticas o esforço de procurar ha autorizaçao nem maioria de razoes. Ao que se
autorizaçao deve ser mais intenso. Mas, se em causa entende e que, tendo em conta o tipo de serviço em
estao atos inocuos que nao causam muito prejuízo causa, se exigiria apenas de um profissional, entao
nem exigem muito esforço, nao e necessaria tanta remunera-se.
intensidade na procura de autorizaçao.
Atos lesivos de direitos das pessoas – art.340º:
Obrigações do dono do negócio – art.468º:
Logica do consentimento do lesado. Ajuda a aferir o
(reembolso e GN regular)
interesse e a vontade.
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Nº3: e consentida a lesao se feita em interesse do Aos atos celebrados pelo gestor em nome do dono do
lesado e de acordo com a sua vontade presumível. negocio, aplica-se a representaçao sem poderes →
Éste artigo nao e aplicado diretamente, faz-se paralelo art.286º.
com o art.465º por identidade de razao. Aos atos celebrados pelo gestor em seu nome proprio,
sao extensivas a esses negocios as disposiçoes
Houve gestão de negócios?
relativas ao mandato sem representaçao → art.1880º
a) Verificar ex ante os requisitos do art.464º.
e ss.
A gestão foi regular?
a) Verificar ex post os requisitos do art.465º. Advogado que age em tribunal sem autorização:

Há reembolso? Consagrou-se um uso errado na lei (deixou de ser uso)


a) Se a GN foi regular – art.468º/1. sobre a qualificaçao dos casos em que o advogado age
b) Se a GN foi irregular – art.468º/2.
em tribunal sem autorizaçao. Isso acontece porque
Há remuneração? tem de agir rapido para elaborar a procuraçao forense
a) Requisitos do art.470º. porque o cliente foi preso. O advogado diz que esta a
agir em gestao de negocios – aplica-se o mandato sem
Responsabilidade do gestor – art.466º: representaçao.

Nº1: o gestor responde perante o dono do negocio, A professora considera isto errado, porque:
tanto pelos danos que causa por culpa sua no exercício • É absurdo comparar a falta de um documento
da gestao, como pelos danos que causar com a escrito com a falta de autorizaçao.
injustificada interrupçao da gestao. • Ésta em causa uma açao perante terceiros, e a
Nº2: a atuação do gestor é culposa quando age em gestao nao se aplica a terceiros.
desconformidade com o interesse ou vontade, real ou
presumível, do dono do negocio. Indemnizações e reembolsos:

O gestor pode ter de indemnizar pelos prejuízos e o


O que acontece se a gestão é interrompida?
dono ao mesmo tempo pode ter de reembolsa-lo.
A gestao de negocios nao e um dever, mas a partir do Nestes casos reduz-se a obrigaçao a outra por meio da
momento em que se assume a direçao de um negocio compensaçao – art.487º e ss.
ha um dever de ser diligente e proteger o patrimonio
alheio. Aprovação da gestão – art.469º:
Art.466º/1: o gestor e responsavel pelos danos que A aprovaçao:
causar com a injustificada interrupçao da gestao. • Implica a renuncia ao direito de indemnizaçao
pelos danos devidos a culpa do gestor. Afasta o
É possível identificar várias gestões ou a gestão
art.466º.
deve ser entendida como um todo?
• Vale como reconhecimento dos direitos que
O CC nao da resposta. sao reconhecidos ao gestor quando a gestao e
Prof. Margarida Lima Rego: deve-se dividir a atuaçao. regular. Quando a gestao e irregular o gestor
Outra opiniao: uma ma atuaçao contamina o negocio fica desprotegido e aplica-se o enriquecimento
inteiro. O art.468º parece ser um “tudo ou nada”. sem causa, mas se ha aprovaçao entao a gestao
passa a valer como regular.
Representação sem poderes e mandato sem Nota: a aprovaçao so acontece com consentimento
representação – art.471º: informado, caso contrario seria contra a boa fe.
Ésses regimes sao aplicaveis a GN, nos termos do
art.471º.

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Gestão de negócio alheio julgado próprio – Nº2: as pessoas ameaçadas ou ofendidas podem
art.472º: requerer providencias com o fim de evitar a
consumaçao da ameaça ou atenuar os efeitos da
É uma gestao impropria porque nao havia animus.
ofensa.
Quando ha gestao de negocio alheio com a convicçao
de que lhe pertence e o dono do negocio: Podemos encontrar esta figura plasmada nos
• Aprovar: aplica-se o regime da gestao de art.878º CPC, art.492º, art.1350º, art.1328º e
negocios. 1329º:
• Nao aprovar: aplica-se o regime do
enriquecimento sem causa. Art.492º: danos causados por edifícios ou outras
obras. O dono responde pelos danos causados por falta
Gestão imprópria – animus deprae dando: de conservaçao do seu muro. Os danos que tiverem
sido causados sao alvo de indemnizaçao desde que
Quando o gestor aproveita-se da situaçao para tratar haja culpa.
do seu proprio interesse. A professora diz que nao se Art.1350º: “ruina de construçao”. Interessava para
justifica aplicar o regime da gestao de negocios mesmo antes da situaçao acontecer, pois trata de eliminar o
com aprovaçao. perigo. Permite exigir algo antes de acontecer - “tutela
preventiva” – pedir para o vizinho arranjar o muro
Obrigação de eliminação da lesão – ação antes de cair.
negatória Art.1328º e 1329º: a pessoa tem o direito de ir buscar
o que caiu. Nao ha nenhum antigo que mostre o dever
A açao negatoria trata casos em que a fonte se chama
de ir buscar. Se ha algo que pertencia ha minha
obrigaçao da eliminaçao da lesao. Nos atos lesivos,
propriedade e caiu eu tenho de ir buscar.
pagar uma indemnizaçao nao basta, tem de ser parado.
Os danos sao o resultado da lesao. Fora dos direitos de personalidade e o de propriedade
A açao negatoria faz nascer na esfera dos sujeitos uma intelectual, ficamos com uma resposta incompleta e
obrigaçao de eliminaçao da lesao (tutela inibitoria), que nao nos permite ter base para resolver o
antes de se impor uma indemnizaçao pelos danos problema.
(tutela ressarcitoria).
O tribunal tem possibilidade de caso a caso dar essas
providencias, mas como o regime e pouco
desenvolvido, acaba por ser pouco pedido.
No CC temos a tutela geral dos direitos de
personalidade, quando se fala de direitos
fundamentais – art.70º, e no Codigo dos Direitos de
Autor temos tutela inibitoria na propriedade
intelectual.

Tipos de tutela no art.70º:

• Tutela ressarcitoria: visa indemnizar o dano →


responsabilidade civil.
• Tutela inibitoria: visa prevenir quando a lesao
e iminente, e quando ja aconteceu visa cessar
o comportamento → açao negatoria.
Nº1: proteçao dos indivíduos contra qualquer ofensa
ilícita ou ameaça a sua personalidade física ou moral.

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