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Características da ordem jurídica:

Sanções jurídicas :
Imperatividade- é o elemento essencial A sanção é sempre uma consequência
da norma legal. O Direito coloca frente a desfavorável que atinge aquele que
frente dois sujeitos. a um impõe um violou uma regra.
dever, a outro reconhece um direito As sanções jurídicas são distintas de
todas as outras.
➤ impor um dever significa comandar. O
Direito não se limita a afirmar, a registar A sanção implica sempre a entrada em
factos ou situações, ele dá ordens. O vigor de novas regras, as regras
modo próprio do Direito é o imperativo. sancionatórias que são regras
subordinadas e complementares das
As normas jurídicas impõem regras. regras principais que atuam no caso de
Podem ser positivas (o inquilino tem de aquelas não terem sido observadas.
pagar a renda) ou negativas (não
matarás), ou apenas declarativas. Sendo normas obrigatórias, o seu
incumprimento está associado à
A ordem jurídica é constituída por possibilidade de aplicação ao infrator
ditames obrigatórios, imperativos de de sanções jurídicas.
dever/ser. Estas podem ser:

a)Sanções reconstrutivas- são as que


Coercibilidade- significa que, em caso
procuram a obtenção de um resultado o
de inobservância do Direito, se torna
mais próximo possível caso a norma
legítimo fazê-lo valer pela força.
não tivesse sido violada.
A sanção é uma consequência
➣Reconstituição Natural- (art 562ºcc
desfavorável normativa prevista para o
obrigação de indemnização), (art
caso de violação de uma regra, e pela
289ºnº1, primeira parte, efeitos da
qual se reforça a imperatividade desta.
declaração de nulidade e da anulação),
(1221ºcc- eliminação dos defeitos da
Em todas as ordens normativas há
empreitada).
sanções, embora a sua índole varie de
A indemnização abrange tudo aquilo
caso para caso. (podem haver regras
em que há direito a receber em
não sancionadas)
consequência de se ter sofrido um dano
que outrem deve reparar.
Todas estas características também se
A lei dá preferência à indemnização
aplicam às normas de cortesia,
específica, neste caso se houver a
religiosas e morais.
destruição de um bem do credor, a
indemnização consistirá na entrega de
O que realmente distingue as normas
um bem igual.
jurídicas das outras é a sua
coercibilidade. ↳i- execução específica de uma
↳ quem não cumprir as regras prestação de entrega de coisa certa (art
827ºcc)
impostas pelo Direito sofrerá sanções, e
a ordem jurídica apressa-se a repor a ii- prestação de facto fungível (art828º
situação que deveria existir caso não cc)- ou seja, a prestação desse facto
tivesse ocorrido violação; através da pode ser realizado por outra pessoa que
força pública, recurso a tribunais, etc… não o devedor, mas à custa do devedor,
↓ ou seja o devedor paga a alguém para o
pode usar-se a força fazer (reparação uma casa por exemplo)
iii-prestação de facto negativo- se a
para impedir ou reprimir
prestação consiste em não fazer uma
a violação das normas
determinada obra e o devedor a realiza,
jurídicas mas for possível desfazê-la, a obra será
Toda a regra pode ser assistida por uma desfeita pelo devedor ou à custa dele (art
sanção que reforça a sua 829ºcc)
imperatividade.
iv- obrigação de contratar- se alguém se iv. Civis: visam sancionar, no âmbito do
tiver obrigado a celebrar certo contrato direito civil, o incumprimento de um
e este faltar à promessa, pode o credor dever ou obrigação ou ainda um mau
obter sentença que funciona como comportamento (442.º n.º 2 ccv, 2034.º cc)
declaração de vontade da outra parte.
Tudo se passa como se houvesse d) Sanções preventivas- visa, evitar a
contrato e a parte faltosa fica vinculada violação futura de normas jurídicas. São
como se tivesse dado o seu exemplos as medidas de segurança, a
consentimento para ele (execução inibição do exercício de determinada
específica de um contrato promessa art
profissão, as garantias patrimoniais
830º nº1cc)
penais, Liberdade condicional,
inabilitação para o exercício de certas
b) Sanções compensatórias- procuram
funções públicas em consequência da
compensar a vítima de um facto ilícito
prática de certos factos delituosos.
quando a reconstituição natural não é
possível (art 566º cc indemnização em
e) Sanções compulsórias- São aquelas
dinheiro), art 289º nº1 segunda parte
que se destinam a atuar sobre o infrator
(efeitos da declaração de nulidade e da
da regra para o levar a adotar a
anulação)
conduta devida.
Nesta situação, considera-se um valor
Na generalidade dos casos, se uma
equivalente à situação que existia antes
pessoa não cumpre aquilo a que se
da violação da norma jurídica, ou seja
vinculou continua obrigada, mas não se
obtém-se através da indemnização dos
recorre à coação para a reforçar a fazer
danos causados a que o transgressor
o que não foi feito voluntariamente.
fica obrigado.
O Direito de retenção é uma hipótese de
A indemnização pode cobrir os danos
sanção compulsória. Em casos normais,
emergentes e também os lucros
ninguém pode recusar a entrega de
cessantes (art 564º cc).
coisa alheia alegando que o dono não
Tratando-se de danos não patrimoniais
pagou o que devia. Mas em certos
ou pessoais, a indemnização, tão-só,
casos,a retenção de coisa alheia
permite compensar o lesado e, por isso,
torna-se possível: quando há uma certa
é preferível falar da reparação ou de
relação entre a causa da dívida e a
compensação da dor ou do desgosto
detenção do objeto.
sofrido (art 496º cc).
visam forçar, compelir o agente a
cumprir determinado comportamento.
c) Sanções punitivas- A pena consiste
(art 829ºcc- sanção pecuniária
numa sanção imposta de maneira a
compulsória) e (arts 754º e 755º direito
representar simultaneamente um
de retenção)
sofrimento e uma reprovação para o
infrator. Já que não interessa
f) Ineficácia jurídica em sentido amplo:
reconstituir a situação que existiria se o
A doutrina não é pacífica na
facto não se tivesse verificado, mas
consideração da ineficácia jurídica, em
aplicar um castigo ao violador.
sentido amplo, como sanção jurídica.
Estas sanções podem ser:
Não deixa, todavia, de ser uma punição
i. Criminais: aplicáveis aos autores de crimes
por violação de uma norma legal.
(pena de prisão e pena de multa)
A ineficácia em sentido amplo pode
ii. Disciplinares: aplicáveis no âmbito de subdividir-se nas seguintes subespécies:
violação de dever disciplinar (contrato de
trabalho, funcionalismo público, etc.)

iii. Administrativas: violação de normas do


direito de mera ordenação social
(contravenções, coimas e algumas sanções
acessórias)
i. Inexistência jurídica- corresponde III. Ineficácia em sentido estrito: uma
aqueles casos mais graves em que circunstância estranha ao ato não
verdadeiramente se pode dizer que permite que todos os seus efeitos sejam
para o direito não há nada. O facto não produzidos. A remoção dessa
produz qualquer efeito para o Direito, circunstância “estranha” poderá causar
como se nunca tivesse existido (1628ºcc a produção da totalidade dos efeitos do
casamento inexistentes), nestes casos ato (artigo 268.º cc).
há um nada jurídico do qual nenhum Muitas vezes, a lei não considera
efeito pode derivar. inválido o ato que não observou os
requisitos legais, mas impede que ele
ii. Invalidades- verifica-se quando um produza todos ou parte das
ato sofre dum vício que justifica a não consequências que se destinava a
produção de efeitos jurídicos; por isso, produzir. Há, então, uma mera ineficácia
deverá ser restituído tudo o que tiver total ou parcial.
sido prestado ou, se não for possível a Este tipo de ineficácia ocorre, pois,
restituição em espécie, o valor quando o ato que transgrediu a lei não
correspondente. Os atos existem, mas o produz todos ou parte dos seus efeitos
Direito não lhes atribui valor (286.º a jurídicos (ex.: um negócio feito sob
289.ºcc) condição suspensiva não produz efeitos
quando a condição não se verificar–
→ Nulidade – os efeitos do ato art.º 270.º CC).
deixam de existir desde o seu primeiro
momento. Estatalidade- traduz-se no facto de,
Ocorre quando a violação da norma em regra, caber ao Estado a tutela do
jurídica ofende um interesse público (ex.: Direito através da denominada tutela
compra e venda sem escritura pública pública, seja ela judiciária ou
ou documento particular autenticado – administrativa. Essa tutela tem como
875.º CC) por isso não carece de ser pressuposto o reconhecimento, pelo
invocada por quaisquer interessados e Estado, de determinada norma como
pode ser declarada oficiosamente pelo jurídica. É o Estado, pois, que tutela o
juiz se, no processo em julgamento, tiver Direito e garante a sua aplicação, se
elementos que certifiquem a sua necessário pela força. É o Estado que,
existência; pode ser invocada por salvo determinadas exceções, cabe o
qualquer pessoa que tenha interesse na uso da força.
não produção dos efeitos jurídicos; é
insanável pelo decurso do tempo (ou Direito e Estado- é uma ordem da
seja, é perpétua) e por confirmação dos sociedade. Direito e Estado estão de tal
interessados (art.º 286.º CC). modo entrelaçados que o Direito
apareceria como tendo uma origem
→Anulabilidade – verifica-se quando necessariamente estatal. Assim, pode
a violação da norma jurídica ofende um falar-se de uma estatalidade do Direito
interesse particular; por isso, é quer por este ser o que emana do
necessário que seja invocada pela Estado (Estado-fonte), quer por este ser
pessoa a favor de quem foi estabelecida o que é aplicado como tal por órgãos
e o juiz não a pode declarar que se integram no Estado (Estado
oficiosamente; é sanável pelo decurso aplicador).
do tempo e por confirmação dos
interessados (art.º 287.º e 288.º CC). O ato Exterioridade - caraterística da
anulável produz efeitos válidos até ser exterioridade surgiu sobretudo pela
declarada judicialmente a sua preocupação de distinguir Direito e
anulação. Mesmo após a sua anulação, Moral. Faz-se, então, a distinção rígida
os efeitos que se produziram até essa entre o lado interno e o lado externo
declaração continuam válidos. das condutas humanas. O Direito
respeitaria ao lado externo, não
invadindo o foro íntimo de cada um; a
moral limitar-se-ia ao lado interno.
- A questão da exterioridade é relevante
para diferenciar a ordem jurídica da
ordem religiosa. A exterioridade
prende-se com o entendimento de à
ordem jurídica interessar apenas os
comportamentos, as ações, os atos
humanos exteriorizados e já não os
factos internos.

- A exterioridade, todavia, não significa


que para o Direito apenas interesse o
facto externo. Com efeito, circunstâncias
há em que a motivação, a intenção do
agente, o facto interno da decisão, pode
ter relevo jurídico, desde que,
obviamente, tenha sido exteriorizada
num comportamento (exemplo disso é o
dolo, nas suas variantes, e a
negligência, designadamente para
efeitos penais)

- Enquanto para a Moral, o facto interno


é relevante de per si, um agravamento
da menos-valia ética, na ordem jurídica
o facto interno por si só, isolado de um
comportamento que o concretize, não
tem qualquer relevo.

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