A norma Jurídica
⇢Refere-se à orientação da conduta do
Homem em sociedade e constituem o seu
princípio de ação e critério de sanção.
⇢Tem por objetivo orientar a conduta social
do Homem no respeito dos valores e
interesses que a Ordem Jurídica pretende
proteger, contribuindo de forma especial
para a coexistência pacífica dos homens em
sociedade.
⇢É uma regra de comportamento, mas
possui algo de específico distinguindo-se
das demais regras: é obrigatória, podendo o
seu respeito ser imposto pela força
organizada do Estado.
Estrutura
↳Previsão, estatuição e sanção
O módulo lógico ou formal de uma norma
jurídica (completa) é composto por duas
partes:
↓ ↓
um antecedente uma previsão
e um consequente e uma estatuição
⇣ A estatuição é consequente. São os
à previsão chamamos primeira
fase (representação da situação
da vida social e regular) e
estatuição à segunda
(estabelecimento da conduta a
observar).
Previsão
A norma jurídica fixa padrões de conduta
que regulam situações, casos concretos da
vida que se espera que venham a
acontecer (previsíveis), contendo em si
mesma a representação de uma situação
futura.
A previsão adota, também, o nome de
“hipótese”, “tipo legal”, e “facti species”
(espécie do facto; particularidade do
facto), ou seja, é a situação típica da vida:
o “facto” cuja verificação em concreto
desencadeia a consequência jurídica
fixada na estatuição.
A previsão faz-se de forma geral e
abstrata, mas podem haver normas em
que a previsão é um acontecimento
singular e concreto: “Quando o vagar o
lugar de escrivão no tribunal de… será
extinto esse lugar”.
Na norma “Quem encontrar coisa perdida
e souber a quem pertence, deve restituí-la
ao seu dono”, a primeira parte constitui a
previsão (quem encontrar e souber) e a
segunda é a estatuição (deve restituí-la).
Mas, a ordem pode ser diferente: “o
professor marcará falta (estatuição) aos
alunos ausentes” (previsão).
A previsão é antecedente; descrição de
determinados factos, comportamentos,
estados, acontecimentos; descrição da
factualidade que vai ter relevância para o
direito (situações típicas da vida).
Estatuição
A norma jurídica impõe necessariamente
uma conduta a adotar quando se
verifique, no caso concreto, a previsão da
norma.
(exemplo)-No caso do artigo 200.º do
Código Penal, a estatuição será: “(…) deixar
de lhe prestar o auxílio necessário ao
afastamento do perigo, seja por ação
pessoal, seja promovendo o socorro, (…)”.
direitos e deveres que surgem por força do
preenchimento da previsão. É a
consequência ou efeito jurídico do
incumprimento da norma.
Sanção
A norma jurídica dispõe dos meios de
coação que fazem parte do sistema
jurídico para impor o cumprimento dos
seus comandos.
Exemplos:
- Quem ofender o corpo ou a saúde de outra
pessoa é punido com pena de prisão até três
anos ou com pena de multa (143.º C.Penal);
- Se o regime de bens adotado pelos cônjuges
for o da comunhão geral, o património comum
é constituído por todos os bens presentes e
futuros dos cônjuges, que não sejam
excetuados por lei (1732.º C.Civil);
- Transmitida a propriedade da coisa, ou o
direito sobre ela, e feita a sua entrega, o
vendedor não pode, salvo convenção em
contrário, resolver o contrato por falta de
pagamento do preço (886.º CCivil);
Características das normas jurídicas
Exemplo: artigo 131.º do Código Penal:
“Quem matar outra pessoa é punido com
pena de prisão de 8 a 16 anos”.
a) Imperatividade: impõe um determinado
comportamento através de uma conduta
(ou estatuição)(não matar- porque impõe
um comportamento). Assim, porque
impõem regras, elas podem ser positivas
(o inquilino tem de pagar a renda) ou
negativas (não matarás), ou apenas
declarativas.
b) generalidade: os seus preceitos
dirigem-se a todos os membros da ordem
jurídica, ou a uma categoria de pessoas.
(“Quem”- porque visa uma pluralidade
indefinida de pessoas: todas as pessoas)
c) abstração: disciplinam um número
indeterminado de casos e de situações.
(“matar outra pessoa”- porque contempla
um conjunto de situações definidas de
forma genérica e não situações concretas
e individualizadas)
d) coercibilidade: possibilidade da ordem
jurídica em recorrer ao uso da força para
impedir ou reprimir a violação de uma
norma jurídica (“é punido com pena de
prisão de 8 a 16 anos”- porque a violação é
suscetível de imposição coativa de
sanções)
Classificação das normas
A ordem jurídica ordena ou proíbe através de
imposições
Normas proibitivas e normas
precetivas
-Proibitivas: impõem um comportamento
negativo (não deves)”). Exemplo: artigo 877.º CC –
Os pais e avós não podem vender a filhos ou netos,
se os outros filhos ou netos não consentirem na
venda. Normas que proíbem crimes: as normas que
punem o homicídio, as ofensas corporais, o furto ou
o roubo.
-Precetivas: impõem um comportamento
positivo (deves).)”. Ex: “a compra e venda de imóveis
deve ser feita por escritura pública”; “os pais devem
zelar pela educação e segurança dos filhos”; “o
inquilino deve pagar a renda”.
Normas gerais e normas excecionais
-Gerais: estipulam o regime-regra para o setor
da vida que regulam (art 219º cc- liberdade de
forma)
-Excecionais: recortam uma parte daquele
setor e estabelecem para essa parte restrita,
por razões privativas dele. (art 1143º cc:
escritura pública, em contraposição ao
princípio da liberdade de forma para a
formação dos contratos)
Normas de direito comum e normas de
direito especial
-de direito comum: traduzir os princípios
fundamentais do sistema jurídico, constituindo
o regime-regra das relações que regulam.
-de direito especial: regulam um setor restrito
de casos de forma diferente do regime-regra.
Ou seja, há um regime-regra, comum para todo
o sector de relações ou situações jurídicas (ex.
Código Civil) e depois a lei recorta um
subconjunto ou subsector de relações ou
situações dentro daquele conjunto e
estabelece para o subconjunto uma disciplina
especial (ex. Código das Sociedades
Comerciais), que se não fosse objeto da norma
especial, caberia inteiramente na norma geral
Normas autónomas e normas não
autónomas
-autónomas: têm um sentido completo,
produzindo efeitos só por si e contendo em si a
regulamentação completa de uma situação
jurídica. (art 131.º CP: “Quem matar outra pessoa é
punido com pena de prisão de 8 a 16 anos”)
-não autónomas: não produzem efeitos só por
si (ex. artigo 994.º CC: “é nula a cláusula…”; 23.º
n.º 2 CP: tentativa.) só produzem efeitos
enquadrados numa situação exterior.
Normas imperativas e normas dispositivas
-imperativas: quando a conduta que estatuem
é obrigatória, verificada a sua previsão (ex.
artigo 1874.º ou art.º 1877.º CC). São normas que
impõem certos comportamentos, não podendo
ser afastadas por vontade das partes.
-dispositivas: atribuem faculdades, ou seja, não
impõem nada, apenas permitem: se o sujeito
quiser faz uso da faculdade, se não quiser não
faz (“podes”). Exemplo: artigo 2188.º CC – lei
permite fazer testamento, mas se alguém não
quiser não o faz.