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Encontro 1

Referência: Gagliano, Pablo Stolze. Parte Geral – v. 1 / Pablo Stolze Gagliano,


Rodolfo Pamplona Filho. 25. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2023. (Novo Curso de
Direito Civil)

1. Noções elementares de Direito


• O Direito Civil necessita de premissas gerais, ainda que básicas, da sua própria
Ciência fundante.

• Considerações propedêuticas
Etimologia: no direito romano, a palavra utilizada para expressar o que entendemos
como Direito era jus ou juris, de raiz sânscrita ju. Essa expressão simbolizava a ideia de
jugo, na qual se pode compreender o vínculo jurídico criado entre duas pessoas. A
origem da palavra direito se encontra no latim directum, literalmente direto, trazendo à
mente a concepção de que o direito deve ser uma linha direta, isto é, conforme
exatamente uma regra
Conceito: várias escolas sobre a gênese do direito e seu papel social:
- Conjunto de normas gerais e positivas, que regulam a vida social
- Reconhecer a sua característica essencialmente humana, instrumento necessário
para o convívio social
- Não há falar em direito sem alteridade, isto é, a relação com o outro, como o
brocardo latino ubi homo, ibi jus (onde há homem há direito).
- Como um dado cultural, produzido pelo homem, o direito visa a garantir a harmonia
social, preservando a paz e a boa-fé, mediante o estabelecimento de regras de conduta,
com sanção institucionalizada.
Conceito de direito segundo o jurista Limongi França:

“O conjunto das regras sociais que


disciplinam as obrigações e poderes
referentes à questão do meu e do seu,
sancionadas pela força do Estado e
dos grupos intermediários”.

a) a norma agendi: conjunto de regras sociais
b) a facultas agendi: que disciplinam as obrigações e poderes
c) o direito como justo: referentes à questão do meu e do seu
d) a sanção do direito: sancionadas pelo força do Estado e dos grupos intermediários
• Outras acepções qualificadas da expressão “direito”
- Direito objetivo: regra imposta ao proceder humano. Trata-se de norma de
comportamento que a pessoa deve se submeter, preceito que, caso descumprido, deve
impor a aplicação de uma sanção institucionalizada. Ex: respeitar as normas de trânsito
- Direito subjetivo: faculdade individual de agir de acordo com o direito. Nela estão
envolvidas as prerrogativas de que um indivíduo é titular, obtendo certos efeitos
jurídicos, em virtude da norma estabelecida. Ex: o direito subjetivo de propriedade gera
as prerrogativas de usar, gozar e dispor da coisa.
- Direito nacional: existente dentro das fronteiras de determinado Estado
- Direito internacional: supraestatal, que se divide em direito internacional público
(conjunto de normas que regulam as relações entre Estados, entre si e com organismos
internacionais, bem como com seus indivíduos) e direito internacional privado
(conjunto de normas internas de um país, instituídas para definir se a determinado caso
se aplicará lei local ou lei de um Estado estrangeiro).
- Direito público e direito privado: no que diz respeito à maior ou menor intervenção
estatal.
• Direito e moral: ainda que seus conteúdos se encontrem na propensão humana para
realizar valores, distinguem-se direito e moral pelo aspecto formal de garantia
externa do mínimo ético. Cabe ao direito o estabelecimento de sanções concretas,
enquanto da moral somente podem se exigir sancionamentos difusos, não
institucionalizados. Moralidade não se confunde com legalidade.
• Direito e poder: a impositividade do direito está relacionada com o poder político do
qual emana. Sempre foi o centro de poder que formalizou o jurídico e garantiu a sua
efetividade. O Direito garante a manutenção do status quo.

2. Fontes do direito: meios pelos quais se formam ou se estabelecem as normas


jurídicas.
Art. 4º da LINDB
- A teoria das fontes do direito é um dos instrumentos primordiais para regular o
aparecimento contínuo e plural de normas de comportamento, sem perder de vista a
segurança e certeza das relações jurídicas.
Classificação das fontes:
a) Diretas: fontes primárias ou imediatas, enquadram-se a lei e o costume (fontes
formais)
b) Indiretas: secundárias ou mediatas, enquadram-se a analogia e os princípios
gerais do Direito, mencionado na LINDB. Além destas, jurisprudência, doutrina
e equidade.
Fontes do direito em espécie

Legislação
Costume
Jurisprudência
Doutrina
Analogia
Princípios gerais do direito
Equidade

a) Legislação: regra geral de direito, abstrata e permanente, dotada de sanção,


expressa pela vontade de autoridade competente, de cunho obrigatório e forma
escrita.
Generalidade: a lei deve ser dirigida a um número indeterminado de indivíduos
Abstração: as leis têm um caráter prospectivo de geração de efeitos para o
futuro, em função de hipóteses concebidas idealmente, não devendo, regra geral,
produzir efeitos pretéritos.
Permanência: caráter imperativo enquanto estiver vigente
Existência de sanção: consequências do eventual descumprimento dos deveres
jurídicos
Autoridade competente: aspecto formal da fonte do direito; a separação dos
poderes é uma forma de controle do arbítrio, limitando as possibilidades de
atuação dos agentes estatais na sua edição.
Obrigatoriedade
Registro escrito: garante estabilidade das relações jurídicas, com a sua
consequente divulgação através das publicações oficiais.

Classificação das leis


Quanto à imperatividade
a) impositivas: regras de caráter absoluto. Ex: a forma federativa do Estado
b) dispositivas: regras relativas, aplicáveis na ausência de manifestação em sentido
contrário das partes. Ex: a obrigação de o locador pagar as despesas extraordinárias do
condomínio, previstas em lei, pode ser transferida ao locatário, por força de pactuação
expressa nesse sentido.
Quanto à
imperatividade

Impositivas Dispositivas

Quanto à sanção institucionalizada


a) Perfeitas: regras cuja violação autoriza simplesmente a declaração de nulidade
(absoluta ou relativa) do ato. Ex: o ato ou negócio jurídico praticado com vício
de consentimento é anulável.
b) Mais que perfeitas: sua violação autoriza a aplicação de duas sanções: a nulidade
do ato, acrescida de uma pena ao violador. Ex: o casamento de pessoas casadas é
vedado pela lei, sendo sancionada pela lei civil e com a punição penal ao infrator
pelo crime de bigamia.
c) Imperfeitas: regras legais sui generis, não são consideradas normas jurídicas, por
não prescreverem nulidade para o seu descumprimento, sem sanção direta. Ex: a
pessoa física não comunicar previamente, à prefeitura, a sua mudança do seu
domicílio (art. 74).

Quanto à sanção
institucionalizada

Perfeitas Mais que perfeitas Imperfeitas

Quanto à origem
a) Federais: criadas no âmbito da União, aplicando-se a todo país ou a parte dele
(legislações federais de desenvolvimento regional). Ex: CF, CC, CLT
b) Estaduais
c) Municipais
Quanto à
origem

Federais Estaduais Municipais

Quanto à duração
a) Permanentes: sem prazo de vigência predeterminado (regra geral)
b) Temporárias: Ex: condutas cometidas durante a copa do mundo

Quanto à
duração

Permanentes Temporárias

Quanto ao alcance
a) Gerais: disciplinam uma quantidade ilimitada de situações jurídicas genéricas.
Ex: CF, CC
b) Especiais: matérias com critérios particulares. Ex: maria da penha
c) Excepcionais: a ideia que traduz é a de exceção. Ex: atos institucionais do
regime militar brasileiro de 1964
d) Singulares: norma estabelecida para um único caso concreto. Ex: decreto
legislativo de nomeação de servidor público

Quanto ao
alcance

Gerais Especiais Excepcionais Singulares

Quanto à hierarquia
a) Constituição: fundamento do sistema positivo, é a mais importante norma em
um ordenamento jurídico nacional. O princípio da supremacia da CF sujeita
todas as normas da ordem jurídica a uma conformidade tanto formal quanto
material com o texto constitucional. A CF como parâmetro, a projeção dos
efeitos dos direitos fundamentais sobre as relações privadas, o caráter irradiante
dos princípios constitucionais repercutem ativamente nas relações civis,
acarretando a constitucionalização do direito civil.
b) Leis infraconstitucionais: tecnicamente, não há hierarquia entre as leis
infraconstitucionais, mas sim apenas peculiaridades quanto à matéria regulável.
O órgão competente para sua edição e o quórum necessário. Leis
complementares, leis ordinárias, tratados internacionais de direitos humanos,
caráter supralegal, ressalvado o art. 5º, parágrafo 3º.
c) Decretos regulamentares: atos do poder executivo, com a finalidade de prover
situações previstas na lei em sentido técnico, para explicitá-la e dar-lhe
execução.
d) Normas internas: disciplinar situações específicas na Administração Pública:
estatutos, regimentos internos, instruções normativas etc.

Constituição

Leis
infraconstitucionais

Decretos regulamentares

Normas internas

b) Costume: é o uso geral, constante e notório, observado socialmente e correspondente


a uma necessidade jurídica.
Presença simultânea de dois elementos:
1. Objetivo ou substancial: o uso continuado da prática no tempo
2. Subjetivo ou relacional: a convicção da obrigatoriedade da prática como
necessidade social
Ele pode ser visualizado de três formas:
a) Praeter legem: costume que disciplina matéria que a lei não conhece; visa suprir
a lei, nas omissões existentes (art. 4ª, LINDB). Diz respeito à uma situação que
não está nem proibida, nem permitida pelo ordenamento jurídico. Ex: cheque
pré-datado (súmula 370, STJ).
b) Secundum legem: a própria lei reconhece a eficácia jurídica do costume. Ex:
obrigação legal do locatário pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados,
e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar (art. 569, II), onde o preceito
consuetudinário, não contido na lei, é admitido com eficácia obrigatória.
c) Contra legem: reconhecimento de uma prática que se oponha francamente ao
direito legislado. Ex: depois de a norma legal ter logrado eficácia por tempo
certo, a evolução dos valores sociais leva a negá-la, criando um costume que se
opõe à lei. Ex: declaração de mudança de domicílio.

Conflita com a lei sem


Contra legem
poder modificá-la

Esclarece e auxilia na
Espécies Secundum legem aplicação dos
dispositivos legais

Cobre lacunas,
especificando o
Praeter legem
conteúdo ou a extensão
da lei

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