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Capacidade Profissional

Direito Civil

COMPÊNDIO DE FORMAÇÃO

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Capacidade Profissional Direito Civil
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Índice
1. Contratos em Geral .............................................................................................................................. 3
1.1. Noção de Contrato ...................................................................................................................... 3
1.2. O contrato no Código Civil Português ......................................................................................... 3
1.2.1. Contratos unilaterais e bilaterais (quanto à estrutura) .......................................................... 4
1.2.2. Contratos consensuais ou não solenes e contratos formais ou solenes ................................ 4
2. Contrato de Transporte – Legislação Nacional ..................................................................................... 5
2.1. Legislação .................................................................................................................................... 5
2.1.1. Noção ...................................................................................................................................... 5
2.1.2. Guia de Transporte ................................................................................................................. 6
2.2. Remuneração do contrato de transporte ................................................................................... 7
2.3. Direitos e obrigações das partes ................................................................................................. 8
2.3.1. Direitos do Expedidor (art. 5.º do DL 239/2003) .................................................................... 8
2.3.2. Obrigações do transportador ................................................................................................. 9
2.4. Direitos do transportador ......................................................................................................... 11
2.4.1. Direito de retenção ............................................................................................................... 11
2.4.2. Privilégio creditório .............................................................................................................. 11
3. Responsabilidade civil ........................................................................................................................ 12
3.1. Responsabilidade civil contratual ............................................................................................. 12
3.2. Responsabilidade civil extracontratual ..................................................................................... 12
3.2.1. Pressupostos do dever de indemnizar.................................................................................. 13
3.2.2. Responsabilidade pelo risco (responsabilidade objetiva) .................................................... 13
4. O regime da Convenção Relativa ao Contrato de Transporte Internacional de Mercadorias por
Estrada (CMR) ............................................................................................................................................. 17
4.1. Âmbito de aplicação ................................................................................................................. 17
4.2. A declaração de expedição ....................................................................................................... 17
4.2.1. Conteúdo da declaração de expedição................................................................................. 18
4.3. Responsabilidades do Transportador ....................................................................................... 18
4.3.1. Outras responsabilidades: .................................................................................................... 19
4.4. Responsabilidade do Expedidor ................................................................................................ 19
4.5. Destinatário .............................................................................................................................. 20
4.6. Mercadorias Perigosas .............................................................................................................. 20
4.7. Reclamações e Ações ................................................................................................................ 20
4.8. Transporte efetuado por transportadores sucessivos .............................................................. 21
5. Bibliografia.......................................................................................................................................... 22

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1. Contratos em Geral
1.1. Noção de Contrato

Diz-se contrato, o acordo vinculativo, assente sobre duas ou mais declarações de vontade (oferta ou
proposta, de um lado; aceitação, do outro), contrapostas, mas perfeitamente harmonizáveis entre si,
que visam estabelecer uma composição unitária de interesses.

O contrato é essencialmente um acordo vinculativo de vontades opostas, mas harmonizáveis entre si. O
seu elemento essencial é, assim, o mútuo consenso.
É essencial que as partes queiram um acordo vinculativo, um pacto colocado sob a alçada do Direito.

As vontades que integram o acordo contratual, embora concordantes ou ajustáveis entre si, têm de ser
opostas.

Ex.:
O vendedor quer obter o dinheiro, desfazendo-se da coisa vendida; o
comprador quer alcançar a coisa, abrindo mão do dinheiro que dispõe.

A pretende que determinada mercadoria seja conduzida ao local X e


entregue à pessoa Y, e B tem como atividade profissional conduzir a
mercadoria, mediante retribuição.

Se as declarações de vontade são concordantes, mas caminham no mesmo sentido, refletindo


interesses paralelos, não há contrato, mas ato coletivo ou acordo, como sucede quando várias pessoas
se reúnem para formar uma associação ou para constituir uma fundação.

1.2. O contrato no Código Civil Português


Artigo 405.º do Código Civil

Dentro dos limites da lei, aspartes têm a faculdade de fixar livremente o


conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste
código ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver.

Assim, o preceito basilar que serve de trave-mestra da teoria dos contratos é o da:

LIBERDADE CONTRATUAL – faculdade que as partes têm, dentro dos limites da lei, de fixar, de
acordo com a sua vontade, o conteúdo dos contratos que realizarem, celebrar contratos diferentes
dos prescritos no Código ou incluir neles as cláusulas que entenderem. As partes são livres de
contratar, na medida em que podem seguir os impulsos da sua razão, sem estarem aprisionados
pelas normas legais.

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A liberdade contratual é o corolário da autonomia privada, concebida como o poder que os


particulares têm de fixar, por si próprios (auto), a disciplina (nomos) juridicamente vinculativa dos
seus interesses.

1.2.1. Contratos unilaterais e bilaterais (quanto à estrutura)


Contratos unilaterais – contratos dos quais resultam obrigações só para uma das partes. O contrato é
sempre um negócio jurídico bilateral pois resulta do enlace de duas ou mais declarações de vontade
contrapostas, tendo assim sempre duas partes.
Mas há negócios bilaterais (contratos) que só criam obrigações para uma das partes. É o que sucede em
regra na doação, no comodato, no mútuo e no mandato gratuito.

Contratos bilaterais ou sinalagmáticos – nestes contratos, não só nascem obrigações para ambas as
partes, como essas obrigações se encontram unidas uma à outra por um vínculo de reciprocidade ou
interdependência. Assim acontece na compra e venda, na locação, na empreitada, no contrato de
trabalho, no contrato de transporte, entre outros.
Este vínculo acompanha as obrigações típicas do contrato desde o seu nascimento, continua a refletir-se
no regime da relação contratual, durante todo o período de execução do negócio e em todas as
vicissitudes registadas ao longo da existência das obrigações.

1.2.2. Contratos consensuais ou não solenes e contratos formais


ou solenes
Contratos consensuais ou não solenes – são aqueles que podem ser celebrados por quaisquer meios
declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial, a lei não impõe uma determinada roupagem
exterior para o negócio.
Contratos formais ou solenes – aqueles para os quais a lei prescreve a necessidade da observância de
determinada forma, por exemplo obrigar à forma escrita ou forma especial (escritura pública,
documento particular autenticado).
O não cumprimento da formalidade conduz à nulidade do negócio jurídico.
Não sendo reduzido a escrito, o contrato de transporte de mercadorias considera-se celebrado com o
simples acordo das partes, produzindo os seus efeitos a partir desse momento.
De todo o modo, mesmo que a lei assim não o imponha, é sempre preferível celebrar o contrato por
escrito, pois um documento facilita a prova das condições acordadas e consequentemente do seu
cumprimento.

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2. Contrato de Transporte – Legislação Nacional


2.1. Legislação
O contrato de transporte está consagrado no Decreto-Lei n.º 239/2003 de 4 de Outubro, com as
alterações do Decreto-Lei n.º 145/2008 de 28 de Julho.
Quando, num único contrato, as mercadorias sejam transportadas por vários meios, a presente
legislação aplica-se apenas à parte rodoviária.

Nota: Este diploma não abrange os contratos de transporte de envios postais a efetuar no âmbito dos
serviços postais e os transportes de mercadorias sem valor comercial.

2.1.1. Noção

Artigo 2.º do Código Civil

“ O contrato de transporte rodoviário nacional de mercadorias é o celebrado entre transportador e


expedidor nos termos do qual o primeiro se obriga a deslocar mercadorias, por meio de veículos
rodoviários, entre locais situados no território nacional e a entrega-las ao destinatário.”

Por transportador entende-se a empresa regularmente constituída para o transporte público ou por
conta de outrem, de mercadorias;

Por expedidor o proprietário possuidor ou mero detentor de mercadorias.

Assim, no contrato de transportes encontramos duas partes com interesses contrapostos, mas
harmonizáveis entre si.
Juridicamente, o contrato de transporte é:
• Bilateral ou sinalagmático – porque impõe obrigações recíprocas às partes;
• Oneroso – porque a atribuição patrimonial efetuada por cada um dos contraentes tem por
correspetivo a atribuição da mesma natureza proveniente do outro: o expedidor obtém a
colocação da mercadoria no local indicado e o transportador recebe o preço do transporte;
• Consensual –as partes podem manifestar a sua vontade por qualquer forma. Apesar de ter
vantagens que o contrato de transporte seja escrito, o contrato verbal é tão válido como
aquele.
Como consta do art. 3.º, n.º 2 do DL, a falta, irregularidade ou perda da guia não prejudicam a
existência nem a validade do contrato de transporte.
• Comercial – Nos termos do art. 366.º do Código Comercial: “O contrato de transporte por
terra, canais ou rios considerar-se-á mercantil quando os condutores tiverem constituído
empresa ou companhia regular permanente.

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2.1.2. Guia de Transporte

Artigo 3.º

A guia de transporte faz prova da celebração, termos e condições do contrato.


1. A falta, irregularidade ou perda da guia não
prejudicam a existência nem a validade do contrato
de transporte.
2. Quando a mercadoria a transportar for carregada
em mais de um veículo ou se trate de diversas
espécies de mercadoria ou de lotes distintos, o
expedidor ou transportador podem exigir que sejam
preenchidas tantas guias quantos os veículos a
utilizar ou quantas as espécies ou lotes de
mercadorias.
3. Presume-se que o transportador actua em nome
do expedidor quando, a pedido deste, inscrever na
guia de transporte indicações da responsabilidade do
expedidor.

O que resulta deste preceito?


A guia de transporte pode ser o único meio de prova do contrato, da identificação das partes e de tudo
o que foi convencionado entre transportador e expedidor. Através da guia de transporte as partes
podem invocar judicialmente os seus direitos e exigir o cumprimento do contrato.
A guia de transporte é também importante na organização e fiscalização da atividade de transporte
rodoviário de mercadorias.

2.1.2.1. Conteúdo da guia de transporte – art. 4.º do DL

Da análise do art. 4.º resulta o seguinte:


a) Modo de emissão da guia de transporte:
• Emitida em triplicado
• Assinada pelo expedidor e pelo transportador
• Ou aceite por favor escrita, por meio de carta, telegrama, telefax, ou outros meios
informáticos equivalentes.

b) Elementos obrigatórios da guia de transporte:


• lugar e data em que é preenchida;

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• nome e endereço do transportador, do expedidor e do destinatário;


• lugar e data do carregamento da mercadoria e local previsto para a entrega
• denominação corrente da mercadoria e tipo de embalagem e, quando se trate
de mercadorias perigosas ou de outras que careçam de precauções especiais, a
sua denominação nos termos da legislação especial aplicável;
• peso bruto da mercadoria, número de volumes ou quantidade expressa de
outro modo.
• Elementos extraordinários da guia de transporte (podem constar por acordo das
partes)
• prazo para a realização do transporte;
• declaração de valor da mercadoria;
• declaração de interesse especial na entrega;
• Entrega mediante reembolso.

c) Outros elementos
As partes podem ainda inscrever na guia de transporte outras menções, nomeadamente o preço e
outras despesas relativas ao transporte, lista de documentos entregues ao transportador e
instruções do expedidor ou do destinatário.

2.2. Remuneração do contrato de transporte


A recente evolução da economia internacional bem como os últimos aumentos do preço do petróleo
têm vindo a colocar dificuldades financeiras aos operadores de transporte rodoviário, em geral, e aos
operadores de transportes de mercadoria em especial, tendo em conta que um dos fatores que mais
influenciam o preço do transporte é o combustível.

O preço do transporte é calculado com base, pelo menos, nos seguintes fatores:
a) Prestação a realizar pelo transportador;
b) Tempo em que os veículos, os serviços e a mão-de-obra estão à disposição da operação de
carga e descarga;
c) Tempo necessário para a realização do transporte, em condições compatíveis com as regras
aplicáveis em termos de segurança;
d) Preço de referência do combustível e tipo de combustível necessário à realização da operação
de transporte.

Caso o contrato de transporte revista a forma escrita, este tem de mencionar expressamente o preço de
referência do combustível e o tipo de combustível utilizado para estabelecer o preço final do transporte.
Na ausência de contrato escrito, o preço de referência do combustível é determinado com referência ao
preço médio de venda do combustível ao público divulgado no sítio da Direção Geral de Energia e
Geologia nos dias imediatamente anteriores à celebração do contrato e à realização de cada operação
de transporte (ver artigo 4.º - A do Decreto-Lei n.º 145/2008 de 28 de Julho).

Na ausência de contrato escrito, a guia de transporte menciona expressamente o preço de referência do


combustível, nos termos do parágrafo anterior, bem como a fatura menciona expressamente o custo
efetivo que o combustível representou na operação de transporte.

O preço do transporte é revisto sempre que se verifique uma alteração de amplitude superior a 5%
entre, consoante o caso:

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a) O preço de referência do combustível do dia imediatamente anterior à celebração do contrato


de transporte e a média dos preços de referência do combustível no período compreendido
entre o dia imediatamente anterior à celebração do contrato e o dia anteriormente à realização
da operação de transporte, caso o objeto do contrato respeite a uma única operação de
transporte;
b) O preço de referência do combustível do dia imediatamente anterior a cada operação de
transporte e a média dos preços de referência do combustível no período compreendido entre
o dia imediatamente anterior à operação de transporte e o dia imediatamente anterior à
operação de transporte antecedente que tenha originado uma atualização do preço do
transporte ou, caso não tenha ocorrido qualquer atualização ou se trate da primeira operação
de transporte, o dia imediatamente anterior à celebração do contrato, caso o objeto do
contrato respeite a várias operações de transporte.
O disposto nos parágrafos anteriores tem carácter imperativo, quer para o transportador, quer para o
expedidor, não podendo ser afastado por via contratual.
O pagamento do serviço de transporte pelo expedidor deve ser realizado no prazo máximo de 30 dias,
salvo se prazo superior não resultar de disposição contratual, após a apresentação da respetiva fatura
pelo transportador.
O incumprimento do disposto nos parágrafos anteriores constitui contraordenação punível com uma
coima de € 1250 a € 3740 e de € 5000 a 15 000, consoante se trate de pessoa singular ou coletiva.
Ao procedimento contraordenacional previsto no parágrafo anterior aplicam-se as disposições
constantes do capítulo IV do Decreto-Lei n.º 257/2007, de 16 de Julho, sendo competentes para o
processamento das contraordenações o Instituto da Mobilidade e dos Transportes, I. P., e para aplicação
das coimas o presidente do respetivo Conselho Diretivo.

De acordo com o Despacho n.º 21 994/99, pode igualmente ser utilizado, no transporte de âmbito
nacional, o modelo da declaração de expedição adotado para efeitos da Convenção relativa ao Contrato
de Transporte Internacional de Mercadorias por Estrada.

2.3. Direitos e obrigações das partes


2.3.1. Direitos do Expedidor (art. 5.º do DL 239/2003)
a) Exigir que o transportador verifique o peso bruto da mercadoria ou a sua quantidade expressa
de outro modo;
b) Exigir que o transportador verifique o número ou conteúdo dos volumes
c) Exigir que o resultado da verificação seja mencionado na guia de transporte.

Salvo convenção em contrário o expedidor pode ainda:

d) fazer suspender o transporte, modificar o lugar previsto para a entrega da mercadoria ou


designar destinatário diferente do indicado na guia de transporte durante a execução do
contrato (sendo da responsabilidade do expedidor as despesas e prejuízos causados pelas
alterações ao contrato)
e) exigir que instruções dadas ao transportador sejam inscritas na guia de transporte.
f) designar-se a si próprio como destinatário.

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2.3.1.1. Declaração de valor da mercadoria

O expedidor pode, mediante o pagamento de um suplemento de preço a convencionar, declarar na guia


de transporte o valor da mercadoria, o qual, no caso de exceder o limite do valor estabelecido no n.º 1
do art. 20.º, substituir esse limite (€ 10 por quilograma de peso bruto de mercadoria em falta).

2.3.1.2. Interesse especial na entrega

O expedidor pode, mediante o pagamento de um suplemento de preço a convencionar, declarar na guia


de transporte o valor do interesse especial na entrega da mercadoria, para o caso de perda, avaria ou
incumprimento do prazo convencionado.

2.3.1.3. Entrega mediante reembolso

Sempre que da guia de transporte conste a cláusula de entrega mediante reembolso e a mercadoria seja
entregue ao destinatário sem cobrança, o transportador fica obrigado a indemnizar o expedidor até esse
valor, sem prejuízo do direito de regresso.

2.3.2. Obrigações do transportador


Como já vimos, o contrato de transporte de mercadorias é um contrato bilateral, ou seja, dele emergem
obrigações para ambas as partes.
Se o transportador não cumprir essas obrigações, incorre em responsabilidade civil contratual com a
consequente obrigação de indemnizar os prejuízos causados.

2.3.2.1. Dever de conduzir a mercadoria de um local para o outro

Com a celebração do contrato de transporte, o transportador assume o dever de conduzir a mercadoria


do expedidor de um local para o outro, independentemente de ser o próprio a efetuar o transporte ou
contrate outro transportador para realizar a operação de transporte.
A responsabilidade do 3.º transportador será apenas para com o transportador originário com quem
celebrou o contrato (pode haver vários transportes subsequentes, havendo assim tantos contratos de
transporte quantos os transportadores que ajustarem entre si o serviço de transporte).
Quem responde perante o expedidor e o destinatário é o transportador com quem aqueles contrataram
e não o transportador subsequente.

2.3.2.2. Dever de observar determinado itinerário de transporte

Regra geral, o transportador escolhe o itinerário mais conveniente.


Porém, existindo acordo entre o expedidor e o transportador quanto ao itinerário a seguir, o
transportador está obrigado a respeitar esse acordo sob pena de incorrer em responsabilidade civil
pelos prejuízos causados se seguir percurso diferente.
Esta responsabilidade ficará excluída se o transportador conseguir provar que os danos não se
verificaram em consequência do percurso seguido.

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2.3.2.3. Dever de observar determinada ordem na expedição

Por regra, o transportador deve expedir a mercadoria pela ordem que a recebe.
Essa ordem só poderá ser alterada se convenção, natureza ou destino das mercadorias a isso obrigarem,
ou quando caso fortuito ou de força maior o impeçam de a observar.

2.3.2.4. Mudança de consignação da mercadoria em trânsito

O transportador deve cumprir a ordem do expedidor quanto à mudança de local de destino da


mercadoria.
No entanto, se dessa alteração de local resultar um aumento do frete (ex.: aumento da distância a
percorrer), o transportador só terá essa obrigação se houver acordo quanto à alteração de preço.
Caso contrário, a mercadoria deverá ser entregue no destino originário.
Este dever cessa a partir do momento em que a mercadoria é entregue ao destinatário.
Estas alterações deverão ser averbadas na guia de transporte ou, em opção, poderá a guia ser
substituída.

2.3.2.5. Prazo de entrega da mercadoria

O transportador está obrigado a fazer a entrega da mercadoria no prazo fixado no contrato de


transporte ou, caso não exista essa estipulação, no prazo que resultar dos usos comerciais.
Em caso de atraso na entrega, o transportador responde pelos prejuízos causados, a menos que o atraso
resulte de caso fortuito ou de força maior (ex. tempestade) ou culpa do expedidor ou do destinatário.
Quando o atraso se deva a caso fortuito, o transportador deverá, de imediato, avisar o expedidor da
situação e aguardar que este comunique a sua decisão ( o expedidor poderá optar por esperar que o
impedimento cesse, rescindir o contrato ou por fazer seguir a mercadoria por outra via).

2.3.2.6. Dever de entrega da mercadoria no mesmo estado em que a recebeu

O transportador tem o dever de guarda e conservação das mercadorias que lhe são confiadas, desde
que as recebe até que as entregue ao destinatário, sendo responsável por deteriorações ou perdas
ocorridas entre o momento em que recebeu e o momento em que as entrega ao destinatário.
Existe avaria ou deterioração da mercadoria quando há qualquer desgaste ou estrago que retire à
mercadoria parte ou todo o seu valor económico ou da sua utilidade.
Verifica-se perda de mercadorias quando não há coincidência entre a mercadoria que consta da guia de
transporte e a que é entregue ao destinatário.
Esta responsabilidade poderá ser afastada se a avaria ou perda resultar de caso fortuito ou de força
maior, se for culpa do expedidor ou do destinatário.
Para sua salvaguarda o transportador deverá mencionar na guia de transporte qualquer reserva quanto
ao modo como a mercadoria lhe é entregue. Para que esta reserva seja válida deverá ser formulada de
forma clara e fundamentada e deverá ser aceite pelo expedidor. Se não for mencionado na guia de
transporte presume-se que o transportador aceita a mercadoria sem reservas não existindo vícios
aparentes.
Caso não exista acordo entre o transportador e o expedidor quanto ao estado das mercadorias estas
serão depositadas em armazém seguro até ser proferida sentença judicial, salvo se o Tribunal ordenar
que sejam entregues ao possuidor da guia de transporte.
O destinatário tem o direito de proceder, a expensas suas, à verificação do estado da mercadoria,
mesmo que esta não apresente sinais exteriores de deterioração.

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O direito de reclamação do destinatário por perdas ou avarias das mercadorias caduca com a entrega
das mesmas no caso de ter havido verificação ou sendo o vício aparente; nos outros casos caduca em 8
dias a contar da data da entrega.
As partes podem, no próprio contrato de transporte, estipular cláusulas que determinem o montante
indemnizatório as pagar em caso de perdas ou avarias. Na falta de tais cláusulas contratuais, a
indemnização será calculada nos termos gerais de direito.
O direito à indemnização está garantido por privilégio creditório, sobre os instrumentos principais e
acessórios que o transportador empregar no transporte.
O privilégio creditório é a faculdade que a lei, em função do motivo do crédito, concede a certos
credores de serem pagos com preferência em relação a quaisquer outros.

2.3.2.7. Responsabilidades acessórias do transportador

O transportador responde, como se fossem cometidos por ele próprio, por todos os atos ou omissões
dos seus empregados, agentes, representantes e outras pessoas a quem recorra para a execução do
contrato.
Em caso de transportes sucessivos (mesmo contrato, vários transportadores), verificando-se a
ocorrência de danos e não podendo determinar-se o transportador responsável por aqueles, todos os
transportadores são solidariamente responsáveis pelas indemnizações que sejam devidas.
A lei presume que o transportador subsequente recebeu as mercadorias em bom estado, se a guia de
transporte não contiver reservas quanto ao estado das mesmas.
É, por isso, de extrema importância, que o transportador subsequente formule as reservas convenientes
nas guias de transporte.
O transportador é também responsável perante o expedidor, por todas as omissões no cumprimento
das leis fiscais em todo o curso da viagem.

2.4. Direitos do transportador


2.4.1. Direito de retenção
O transportador goza de direito de retenção sobre as mercadorias transportadas como garantia de
pagamento de créditos vencidos de que seja titular relativamente a serviços de transporte prestados.
Para validamente exercer o direito de retenção, o transportador deve notificar o destinatário e o
expedidor até 3 dias depois da data prevista para a entrega da mercadoria.
A ação judicial deve ser proposta dentro dos 20 dias subsequentes à notificação referida.
Ficam a cargo do devedor as despesas de conservação das mercadorias efetuadas ao abrigo do direito
de retenção.

2.4.2. Privilégio creditório


O transportador goza de privilégio pelos créditos resultantes do contrato de transporte sobre as
mercadorias transportadas, privilégio que cessa com a entrega das mercadorias ao destinatário.
Sendo muitos os transportadores o último exercerá o direito por todos os outros.

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3. Responsabilidade civil
A responsabilidade civil consiste na obrigação legal de reparar um dano causado a um terceiro e pode
ser:
a) Contratual – decorre da falta de cumprimento de um contrato;
b) Extracontratual – consiste na violação de direitos de outrem ou na prática de atos que
violam leis que protegem interesses alheios (ex.: acidentes de viação, acidentes de trabalho);

3.1. Responsabilidade civil contratual


Quando duas pessoas (singulares ou coletivas) celebram um contrato entre si, ficam obrigadas àquilo
que convencionaram, sob pena de incumprimento.
Caso esse incumprimento provoque prejuízos para a outra parte, incorre em responsabilidade civil,
sendo obrigada a compensar a parte lesada, mediante o pagamento de indemnização.

O transportador é assim responsável por atrasos, perdas ou deteriorações que se verifiquem nas
mercadorias entre o momento em que as recebe até que as entrega ao destinatário ( a menos que
consiga provar que o atraso, a perda ou a deterioração ficou a dever-se a caso fortuito ou de força maior
ou a culpa do expedidor ou do destinatário).

O transportador é também responsável pelos atos e omissões dos seus empregados, agentes,
representantes ou outras pessoas a que recorra para a execução do contrato.

Mesmo existindo culpa exclusiva do condutor do veículo é o transportador também responsável


(solidariamente), uma vez que existe entre o transportador e o motorista uma relação de comissão, nos
termos da qual aquele que encarrega outrem de qualquer comissão responde, independentemente da
culpa, pelos danos que o comissário causar, tornando o transportador responsável pelos atos dos seus
colaboradores e agentes, sem prejuízo do direito de regresso sobre o motorista.

No entanto, esta responsabilidade do transportador (comitente) só existe se o dano for causado pelo
motorista (comissário) no exercício das suas funções.
Se o motorista, ainda que no horário de trabalho, praticar o ato fora do exercício das suas funções só ele
será responsabilizado.
A responsabilidade civil pressupõe sempre a existência de culpa ou negligência.

3.2. Responsabilidade civil extracontratual


A responsabilidade civil extracontratual resulta da violação dos direitos de outrem (o direito à saúde, o
direito à propriedade, por exemplo) ou da prática de atos que embora lícitos, pressuponham um certo
risco e causem prejuízos.

Dentro da responsabilidade civil extracontratual ainda podemos distinguir a responsabilidade civil


subjetiva e objetiva.

Em Portugal, o regime regra é o da responsabilidade subjetiva, o que significa, resumidamente, que só


haverá responsabilidade civil quando da parte do agente tenha havido uma atuação ou uma omissão
culposa.
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Não tendo o agente agido com culpa, só excecionalmente, nos casos expressamente previstos na lei,
poderá ser responsabilizado, ao abrigo da chamada responsabilidade objetiva (sem culpa).

Normalmente, os seguros só garantem a responsabilidade civil extracontratual subjetiva (fundada na


culpa), mas são cada vez mais frequentes os casos de seguros obrigatórios de responsabilidade civil
objetiva.

3.2.1. Pressupostos do dever de indemnizar


Para que haja responsabilidade civil e, consequentemente, obrigação de indemnizar, têm de se verificar
um conjunto de pressupostos, os quais, no caso de responsabilidade extracontratual subjetiva,
consistem na existência cumulativa de:
a) um facto
b) que seja ilícito,
c) imputável ao agente lesante;
d)que tenha ocorrido um dano e
e) se verifique um nexo de causalidade entre o facto e o dano.

Parecem assim ficar fora da proteção legal aquelas situações em que há atraso, perda ou deterioração
da mercadoria sem que haja culpa do transportador, expedidor ou destinatário (ex.: ocorrência de
fenómenos naturais, doença súbita do motorista que provoca um acidente e a consequente
deterioração da mercadoria, etc.).

Em casos como estes, será de negar ao lesado o direito ao ressarcimento pelos prejuízos sofridos?

3.2.2. Responsabilidade pelo risco (responsabilidade objetiva)


Apesar da ausência de responsáveis culposos, existe direito à indemnização, isto porque a lei acautela
estas situações com um regime de responsabilidade independente da culpa, denominada
responsabilidade pelo risco.

Este tipo de responsabilidade nasceu da necessidade de reparar danos reconhecidamente indemnizáveis


mas produzidos sem culpa.

No exercício de certas atividades que envolvem perigos constantes considerou-se justo que os danos
provenientes desses riscos fossem suportados por quem lucra com a atividade.

A responsabilidade sem culpa estimula o empresário a aperfeiçoar a organização e assim diminuir a


sinistralidade.

Esta ideia de socialização do risco levou a alargar a responsabilidade sem culpa à circulação rodoviária,
criando-se o seguro obrigatório e até o fundo de garantia automóvel, para os casos de falta de seguro
ou de seguro ineficaz.

A responsabilidade pelo risco, em última análise, também está dependente da violação de um direito de
outrem ou de uma disposição legal destinada a proteger interesses alheios bem como da verificação de
um dano.

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A grande diferença em relação à responsabilidade por factos ilícitos é, como se disse, o facto de a
obrigação de indemnizar não estar dependente da culpa. Tal obrigação nasce do risco próprio de certas
atividades e integra-se nelas, independentemente de dolo ou mera culpa.

A lei prevê algumas situações que se enquadram no âmbito da responsabilidade pelo risco.:
a) Relação entre comitente e comissário;
b) Danos causados por veículos.

3.2.2.1. Relação entre comitente e comissário

À relação que se estabelece entre comitente e comissário dá-se o nome de relação de comissão e
significa qualquer serviço ou atividade realizada por alguém (comissário) por conta e sob direção de
outrem (comitente), podendo essa atividade traduzir-se num ato isolado ou numa função duradoura,
ter carácter oneroso ou gratuito, manual ou intelectual.
A relação de comissão pressupõe uma dependência entre comitente e comissário que legitime aquele a
dar ordens ou instruções a este.
Só este poder justifica a responsabilidade do comitente pelos atos do comissário.

Nos termos da lei “aquele que encarrega outrem de qualquer comissão responde, independentemente
de culpa, pelos danos que o comissário causar, desde que se sobre este recaia também a obrigação de
indemnizar.”

Significa isto que, havendo uma relação de subordinação entre duas pessoas (comitente e comissário) o
comitente, independentemente de culpa sua, responde pelos danos causados pelo comissário.

Porém, só será assim, se o comissário atuar com culpa (no sentido visto para a responsabilidade
objetiva).

Se não houver culpa do comissário, o comitente não será obrigado a pagar qualquer indemnização e,
conforme já foi referido a propósito da responsabilidade subjetiva, a responsabilidade do comitente só
existe se o facto danoso for praticado no exercício das funções do comissário ainda que contra as
instruções daquele.

Em suma, o comitente, independentemente de culpa sua, será responsável pelos atos danosos
praticados pelo comissário, quando:
a) O comissário contribui, com culpa, para a produção do dano;
b) O comissário agiu no exercício das suas funções.

De ressalvar o direito de regresso do comitente, exigindo o reembolso do que tenha pago a título de
indemnização sobre o comissário.

3.2.2.2. Danos causados por veículos

No âmbito da responsabilidade pelo risco (sem culpa) os danos podem resultar da utilização dos
veículos.
Nos termos da lei: “pelos danos que o veículo de circulação terrestre causar responde a pessoa – singular
ou coletiva – que tiver a direção efetiva do veículo e o utilizar no seu próprio interesse “, ou seja, aquele

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que beneficia das vantagens que o veículo proporciona deve, por essa razão, arcar com os riscos
próprios da sua utilização.

• Direção efetiva do veículo – é o poder de facto sobre o veículo.


Tem a direção efetiva aquele que usufrui das suas vantagens e a quem, por essa razão,
cabe zelar pelo bom funcionamento do veículo.
Cabe aqui tanto o transportador que é proprietário como o locatário, no caso de
veículo adquirido em leasing ou em regime de aluguer a longo prazo, adquirente com
reserva de propriedade, o que furtou o veículo, o que o utiliza abusivamente ou
qualquer outro possuidor em nome próprio.

• Utilização no próprio interesse: não é obrigatório que seja um interesse material ou


económico, pode ser apenas um interesse moral ou espiritual ou, até mesmo, um
interesse reprovável.

• Riscos próprios dos veículos: aqueles que estão diretamente relacionados com o
funcionamento do veículo, que derivam dos riscos específicos da utilização do veículo,
ficando de fora todos os que não têm conexão com os riscos específicos do veículo,
isto é, aqueles danos que apesar de terem sido causados por um veículo poderiam ter
sido causados por qualquer outra coisa móvel.

Só haverá responsabilidade pelo risco, atinente a danos causados por veículos quando estiverem
preenchidos todos os requisitos atrás mencionados.
De referir ainda que “aquele que conduzir por conta de outrem responde pelos danos que causar, salvo
se provar que não houve culpa da sua parte”.

Isso significa que nos casos em que exista uma relação de subordinação, o motorista que conduz o
veículo também poderá responder pelos danos que causar, a menos que consiga provar que não houve
culpa sua.

Assim, em caso de acidente em que seja interveniente o motorista de uma empresa de transporte de
mercadorias, trabalhando por conta de outrem, responde a entidade empregadora independentemente
de culpa e o motorista solidariamente, a menos que prove que não houve culpa sua, isto é, o motorista
por conta de outrem não responde pelo risco, só pela culpa).

Só haverá exclusão da responsabilidade da entidade empregadora se o acidente resultar de motivo


alheio ao funcionamento do veículo ou quando seja imputável ao próprio lesado ou a terceiro.

A) Beneficiários da responsabilidade por danos causados por veículos:


• Terceiros;
• Pessoas ou coisa transportada (no caso de transporte por virtude de contrato).

B) Danos indemnizáveis
De acordo com os princípios da responsabilidade civil, aquele que estiver obrigado a reparar um dano
deve reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação.
Não sendo possível essa reparação/reconstituição, é fixada uma indemnização em dinheiro.
Existem dois tipos de danos, a saber:

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• Danos patrimoniais ou materiais - todos aqueles que possam ser avaliados em


dinheiro, isto é, aos quais corresponde uma quantia pecuniária determinada (por
exemplo, despesas hospitalares, reparação do veículo automóvel danificado, etc.)
Dentro dos danos patrimoniais ainda podemos distinguir entre:
o danos emergentes: são as perdas que se verificaram, os prejuízos sofridos
pela diminuição do património, em consequência da lesão;
o lucros cessantes: são os ganhos que se frustraram, ou seja, os prejuízos
sofridos pelo não aumento do património em consequência da lesão (ex.:
impossibilidade de efetuar transportes já contratados pelo cliente e,
consequentemente, cobrar o respetivo frete).

• Danos não patrimoniais ou morais - todos aqueles aos quais não corresponde
qualquer quantia pecuniária determinada, porque insuscetíveis de terem um valor
económico que lhes seja atribuído segundo as regras do mercado.
Ex.: Sofrimento, dor, angústia, causados por diferentes motivos como sejam a morte,
os ferimentos, a amputação de um membro, etc.

Nota: Dentro das situações relativas aos danos causados por veículos, existem várias que derivam
unicamente da colisão de veículos. Importa, neste âmbito, considerar as seguintes hipóteses:
• Ambos os condutores agiram com culpa: cada um responde pelos danos que causou na devida
proporção (responsabilidade por factos ilícitos);
• Apenas um dos condutores teve culpa: responde por todos os danos causados
(responsabilidade por factos ilícitos);
• Nenhum dos condutores agiu com culpa: os valores dos danos são somados e repartidos na
proporção com que cada um dos veículos contribuiu para a produção dos danos.
Em caso de dúvida, considera-se igual (responsabilidade pelo risco)
• Nenhum dos condutores agiu com culpa e apenas um dos veículos causou danos: apenas o
detentor desse veículo está obrigado a reparar os danos (responsabilidade pelo risco)

3.2.2.3. Limites de responsabilidade por avaria e perda total ou parcial

O capital seguro e o limite da responsabilidade é, normalmente, fixado por viagem e/ou transporte, em
relação a cada veículo devidamente identificado na apólice.

Transporte Internacional:
No caso de seguros de carga relativos à execução do contrato de transporte internacional, o limite da
responsabilidade pelo transporte é fixado de acordo com as normas da convenção CMR.
A indemnização a pagar não poderá ultrapassar 8,33 DSE – direitos de saque especial (unidade de conta
do Fundo Monetário Internacional) por KG de mercadoria em falta (ver art. 23.º, n.º 3 da CMR).

Transporte Nacional – DL 238/2003 de 4 de Outubro:

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O valor da indemnização devida por perda ou avaria não pode ultrapassar €10 por quilograma de peso
bruto de mercadoria em falta.
A indemnização por demora na entrega não pode ser superior ao preço do transporte e só é devida
quando o interessado demonstrar que dela resultou prejuízo, salvo quando exista declaração de
interesse especial na entrega, caso em que pode ainda ser exigida indemnização por lucros cessantes de
que seja apresentada prova.

4. O regime da Convenção Relativa ao Contrato


de Transporte Internacional de Mercadorias
por Estrada (CMR)

4.1. Âmbito de aplicação

A Convenção Relativa ao Contrato de Transporte Internacional de Mercadorias por Estrada (CMR) é uma
norma pela qual se regem todos os contratos de transporte de mercadorias por estrada a título
oneroso, por meio de veículos, quando o lugar do carregamento da mercadoria e o lugar da entrega
previsto se encontram situados em dois países diferentes.

Assim, esta convenção aplica-se (cumulativamente):

a) Todos os contratos de transporte de mercadorias por estrada;


b) A título oneroso;
c) Quando o lugar do carregamento da mercadoria e o lugar da entrega previsto, tais como
indicados no contrato, estão situados em dois países diferentes;
d) Sendo, pelo menos um destes, país contratante;
e) Independentemente do domicílio e nacionalidade das partes;

E também aos transportes efetuados por Estados ou por instituições ou organizações governamentais.

Excluem-se do âmbito de aplicação da Convenção:


a) Os transportes efetuados ao abrigo de convenções postais internacionais;
b) Os transportes funerários;
c) Os transportes de mobiliário por mudança de domicílio.

4.2. A declaração de expedição


A declaração de expedição é o documento pelo qual é celebrado o contrato de transporte; a sua falta,
irregularidade ou perda não prejudicam nem a existência nem a validade do contrato de transporte no
que diz respeito à sua sujeição à CMR.

A declaração é feita em três exemplares originais assinados pelo expedidor e pelo transportador. As
assinaturas podem ser impressas ou substituídas pelas chancelas do expedidor e do transportador se tal
for permitido pela legislação do país onde é preenchida a declaração de expedição.

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A distribuição dos exemplares é realizada da seguinte forma:

• O primeiro exemplar é entregue ao expedidor;


• O segundo acompanha a mercadoria;
• O terceiro fica em poder do transportador.

Quando a mercadoria a transportar é:

• carregada em veículos diferentes;


• quando se trata de diversas espécies de mercadorias ou de lotes distintos;

O expedidor e o transportador podem exigir que sejam preenchidas tantas declarações de expedição
quantos os veículos a utilizar ou quantas as espécies ou lotes de mercadorias.

4.2.1. Conteúdo da declaração de expedição

a) Lugar e data em que é preenchida;


b) Nome e endereço do expedidor;
c) Nome e endereço do transportador;
d) Lugar e data do carregamento da mercadoria e lugar previsto de entrega;
e) Nome e endereço do destinatário;
f) Denominação corrente da natureza da mercadoria e modo de embalagem e, quando se trate de
mercadorias perigosas, sua denominação geralmente aceite;
g) Número de volumes, marcas especiais e números;
h) Peso bruto da mercadoria ou quantidade expressa de outro modo;
i) Despesas relativas ao transporte (preço do transporte, despesas acessórias, direitos aduaneiros e
outras despesas que venham a surgir a partir da conclusão do contrato até à entrega);
j) Instruções exigidas para as formalidades aduaneiras e outras;
k) Indicação de que o transporte fica sujeito ao regime estabelecido por esta Convenção, a despeito
de qualquer cláusula em contrário.

Em algumas situações a declaração de expedição deve também conter:


a) Proibição de transbordo;
b) Despesas que o expedidor toma a seu cargo;
c) Valor da quantia a receber no momento da entrega da mercadoria;
d) Valor declarado da mercadoria e quantia que representa o interesse especial na entrega;
e) Instruções do expedidor ao transportador no que se refere ao seguro da mercadoria;
f) Prazo combinado, dentro do qual deve efetuar-se o transporte;
g) Lista dos documentos entregues ao transportador.

4.3. Responsabilidades do Transportador


O transportador, enquanto responsável pelos atos e omissões dos seus agentes e de todas as pessoas a
cujos serviços recorre para a execução do transporte, ao tomar conta da mercadoria deve verificar:
a) A exatidão das indicações da declaração de expedição em função do número de volumes,
marcas e números;
b) O aparente estado da mercadoria e respetiva embalagem.

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No caso de não dispor dos meios para verificar a exatidão das indicações referentes ao número de
volumes, marcas e números deverá inscrever na declaração de expedição as devidas reservas
(fundamentadas).

Sempre que o expedidor o exija, deverá ter que verificar o peso bruto da mercadoria ou o conteúdo dos
volumes; nestes casos, o transportador poderá reclamar o pagamento das despesas decorrentes da
verificação e o resultado das verificações efetuadas.

4.3.1. Outras responsabilidades:


O transportador é ainda responsável, como se fosse agente, pelas consequências da perda ou da
utilização inexata dos documentos mencionados na declaração de expedição, ou outros que a
acompanhem ou lhe sejam confiados;

O transportador é responsável pela perda total ou parcial da carga, ou pela avaria que se produzir entre
o momento do carregamento da mercadoria e o da entrega desta, bem como pelo eventual atraso na
entrega.

O transportador fica desobrigado da responsabilidade se:


a) A perda, avaria ou demora teve como causa uma falta do interessado;
b) Existir uma ordem do interessado que não resulte de falta do transportador;
c) Existir um vício próprio da mercadoria;
d) Existirem circunstâncias que o transportador não podia evitar e a cujas consequências não
podia obviar.

O transportador fica ainda isento da sua responsabilidade, quando a perda ou avaria resultar dos riscos
particulares inerentes a um ou mais dos factos a seguir descritos:
a) Utilização de veículos abertos e não cobertos com encerado, quando este uso foi acordado de
forma expressa e mencionado na declaração de expedição;
b) Falta ou defeito da embalagem quanto às mercadorias que, pela sua natureza, estão sujeitas a
perdas ou avarias quando não se encontram embaladas ou estão mal embaladas;
c) Manutenção, carga, arrumação ou descarga da mercadoria, pelo expedidor, pelo destinatário
ou por pessoas que intervenham por conta do expedidor ou do destinatário;
d) Origem de certas mercadorias, sujeitas, por causas inerentes a essa própria origem, quer a
perda total ou parcial, quer a avaria, especialmente por fratura, ferrugem, deterioração interna
e espontânea, secagem, derramamento, quebra normal ou ação de bicharia e de roedores;
e) Insuficiência ou imperfeição das marcas ou dos números dos volumes;
f) Transporte de animais vivos.

Caberá sempre ao transportador a prova de que a perda, avaria ou demora teve por base um dos factos
anteriormente descritos.

Sempre que a mercadoria for entregue ao destinatário sem cobrança do reembolso que deveria ter sido
percebido pelo transportador, de acordo com o respetivo contrato de transporte, o transportador terá
de indemnizar o expedidor até ao valor do reembolso, exceto se proceder contra o destinatário.

4.4. Responsabilidade do Expedidor

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O expedidor é responsável, perante o transportador, por eventuais danos a pessoas, materiais ou outras
mercadorias, assim como por despesas originadas por defeito da embalagem da mercadoria, a não ser
que, sendo o defeito aparente ou tendo conhecimento dele no momento em que se tornou conta da
mercadoria, o transportador não tenha feito reservas a seu respeito.

O expedidor é também responsável para com o transportador por todos os danos resultantes da falta,
insuficiência ou irregularidade dos documentos necessários para o cumprimento das formalidades
aduaneiras.

4.5. Destinatário
Após a chegada da mercadoria, o destinatário tem o direito de solicitar que o segundo exemplar da
declaração de expedição e a mercadoria lhe seja entregue.

4.6. Mercadorias Perigosas


Sempre que o expedidor entregar ao transportador de mercadorias consideradas perigosas, deve
indicar-lhe a natureza exata do perigo que estas representam e eventuais precauções a tomar. No caso
de este aviso não ser mencionado na declaração de expedição, competirá ao expedidor ou ao
destinatário apresentar prova, por quaisquer outros meios, de que o transportador teve conhecimento
da natureza exata do perigo que apresentava o transporte das referidas mercadorias.

As mercadorias perigosas, de cujo perigo o transportador não tenha tido prévio conhecimento poderão
ser descarregadas, destruídas ou tornadas inofensivas pela intervenção do transportador, sempre e em
qualquer lugar, sem direito a indemnização, sendo o expedidor responsável por todas as despesas e
prejuízos resultantes de terem sido entregues para transporte ou do respetivo transporte.

4.7. Reclamações e Ações


Sempre que o destinatário receba a mercadoria sem verificar, com o transportador, o seu estado, ou
sem ter formulado reservas a este que indiquem a natureza geral da perda ou avaria, o mais tardar no
momento da entrega, sempre que se tratar de perdas ou avarias aparentes, ou dentro de sete dias a
contar da entrega (não incluindo domingos e dias feriados), quando se tratar de perdas ou avarias não
aparentes, considera-se que a mercadoria foi recebida no estado descrito na declaração de expedição.
As eventuais reservas devem ser efetuadas por escrito sempre que se trate de perdas ou avarias não
aparentes. Quando o estado da mercadoria for verificado pelo destinatário e pelo transportador, a
prova em contrário do resultado da verificação só poderá fazer-se quando se tratar de perdas ou avarias
não aparentes e se o destinatário tiver apresentado ao transportador reservas por escrito dentro dos
referidos sete dias, a contar dessa verificação (Domingos e dias feriados excluídos).
Uma demora na entrega só poderá dar origem a indemnização, se esta tiver formulada uma reserva por
escrito no prazo de 21 dias, a contar da colocação da mercadoria à disposição do destinatário.

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4.8. Transporte efetuado por transportadores sucessivos


Sempre que um transporte for realizado por sucessivos transportadores rodoviários, cada um destes
assume a respetiva responsabilidade da execução do transporte total; o segundo e seguintes
transportadores, ao aceitarem a mercadoria e a respetiva declaração de expedição, tornam-se partes no
contrato e nas condições da declaração da expedição.
O transportador que aceitar a mercadoria do anterior transportador deve dar-lhe recibo datado e
assinado, devendo ainda indicar a sua identificação e morada, no segundo exemplar da declaração de
expedição.

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5. Bibliografia
Antunes Varela, Das obrigações em geral, Vol. I.
Antunes Varela, Das obrigações em geral, Vol. I
Decreto-Lei n.º 239/2003 de 4 de Outubro com as alterações do Decreto-Lei n.º 145/2008 de 28 de
Julho
Decreto-Lei nº 257/2007 de 16 de Julho de 2007 Código Civil

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