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Capacidade Profissional

Direito Fiscal

COMPÊNDIO DE FORMAÇÃO

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Capacidade Profissional Direito Fiscal
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Índice
1. O Conceito de Imposto ......................................................................................................................... 4
1.1 Criação do Imposto ..................................................................................................................... 4
1.2 Distinção entre imposto e taxa ................................................................................................... 5
2. O Sistema Fiscal Português ................................................................................................................... 5
2.1 Os momentos da vida do imposto .............................................................................................. 6
2.2 Caducidade e prescrição ............................................................................................................. 6
2.2.1 Caducidade do direito à liquidação do imposto ..................................................................... 7
2.2.2 Prescrição das dívidas tributárias ........................................................................................... 7
2.3 Formas de reação do contribuinte .............................................................................................. 7
2.3.1 Reclamação graciosa .............................................................................................................. 7
2.3.2 Impugnação judicial (art. 102.º do CPPT) ............................................................................... 8
2.4 A infração à lei fiscal ................................................................................................................... 8
2.4.1 Responsabilidade das pessoas coletivas e equiparadas (art. 7.º do RGIT) ............................. 9
2.4.2 Responsabilidade civil pelas multas e coimas (art. 8.º do RGIT) ............................................ 9
2.4.3 Processo de aplicação das coimas ( Arts. 67.º a 86.º do RGIT) ............................................... 9
3. Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) ................................................................ 10
3.1 Incidência real (art. 1.º CIRS) .................................................................................................... 10
3.2 Incidência pessoal (art. 13.º e seguintes do CIRS) .................................................................... 10
3.3 Determinação do rendimento coletável (art. 22.º e seguintes do CIRS) .................................. 11
3.3.1 Deduções específicas ............................................................................................................ 11
3.3.2 Algumas considerações sobre os regimes da categoria B .................................................... 12
3.4 Processo de determinação da matéria coletável (arts. 57.º e ss. do CIRS) .............................. 13
4. Imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC) .................................................................. 16
4.1 Incidência Pessoal ..................................................................................................................... 16
4.2 Incidência Real .......................................................................................................................... 17
4.3 Período de Tributação............................................................................................................... 17
4.4 O Regime de Transparência fiscal ............................................................................................. 17
4.5 Determinação da matéria coletável .......................................................................................... 17
4.5.1 Regime simplificado de determinação da matéria coletável ............................................... 18
4.6 Taxas ......................................................................................................................................... 18
4.7 Pagamento ................................................................................................................................ 18
5. Imposto sobre o valor acrescentado (IVA) ......................................................................................... 19
5.1 Incidência objetiva (art. 1.º do CIVA) ........................................................................................ 19
5.2 Incidência subjetiva ( art. 2.º do CIVA) ..................................................................................... 19
5.3 Taxas ......................................................................................................................................... 20
5.4 Liquidação e pagamento do imposto ........................................................................................ 20
5.4.1 Deduções (art. 19.º e seguintes do CIVA) ............................................................................. 20
5.4.2 Declaração Periódica ............................................................................................................ 21
5.5 Documentos que devem acompanhar as mercadorias em circulação ..................................... 21

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5.6 Prazo de factoração e formalidades das faturas ....................................................................... 21


5.7 Obrigações de contabilidade (art. 44.º do CIVA) ...................................................................... 22
5.8 Reembolso do IVA (art. 22.º do CIVA) ....................................................................................... 22
5.9 Regime especial de exigibilidade do IVA nos serviços de transporte rodoviário nacional de
mercadorias ............................................................................................................................................ 22
5.9.1 Âmbito de Aplicação ............................................................................................................. 22
5.9.2 Exigibilidade do Imposto ...................................................................................................... 23
5.9.3 Direito à dedução ................................................................................................................. 23
5.9.4 Regras relativas à emissão de faturas e recibos ................................................................... 23
5.9.5 Registo das operações e conservação das faturas e recibos abrangidas pelo regime ......... 24
5.9.6 Opção pelas regras gerais de exigibilidade do IVA previstas no art. 8.º do CIVA ................. 24
6. Impostos rodoviários .......................................................................................................................... 25
6.1 Imposto sobre veículos (Lei n.º 22-A/2007, de 29 de Junho) ................................................... 25
6.1.1 Incidência objetiva ................................................................................................................ 25
6.1.2 Taxas ..................................................................................................................................... 25
6.2 Imposto único de circulação (Lei n.º 22-A/2007, de 29 de Junho) ........................................... 27
6.2.1 Incidência Objetiva ............................................................................................................... 27
6.2.2 Incidência subjetiva .............................................................................................................. 27
6.2.3 Veículos isentos .................................................................................................................... 27
6.2.4 Apuramento do IUC – Categorias C e D ................................................................................ 28
6.2.5 Período em que é devido ...................................................................................................... 28

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1. O Conceito de Imposto
O imposto é uma prestação pecuniária, unilateral, definitiva e coativa, exigida a (ou devida por)
detentores (individuais ou coletivos) de capacidade contributiva a favor de entidades que exerçam
funções ou tarefas públicas para a realização dessas funções e sem carácter sancionatório.

Assim, quanto ao objeto, o imposto é:


a) uma prestação - integra uma relação de natureza obrigacional;
b) pecuniária – concretizada em dinheiro;
c) unilateral – não lhe correspondendo qualquer contraprestação específica a favor do
contribuinte, o que a distingue dos tributos bilaterais, de que são exemplo as taxas;
d) coativa – tem por fonte a lei, é estabelecida por lei;
e) definitiva, porque não dá lugar a qualquer reembolso, restituição ou indemnização.

Quanto aos sujeitos é:

Uma prestação exigida (ou devida por) detentores (individuais ou coletivos) de capacidade contributiva
a favor de entidades que exerçam funções ou tarefas públicas.
Traz-se assim para o conceito de imposto o critério material da igualdade ou da justiça fiscal, que
constitui o suporte indiscutível de um Estado fiscal de direito – a capacidade contributiva.

Artigo 4.º da Lei Geral Tributária (LGT)

Pressupostos dos tributos

1 - Os impostos assentam essencialmente na capacidade contributiva, revelada, nos termos


da lei, através do rendimento ou da sua utilização e do património.

Do ponto de vista teleológico ou finalista:

O imposto é exigido pelas entidades que exerçam funções públicas para a realização das suas funções de
carácter não sancionatório, o que significas que o imposto pode ter por finalidade não apenas a
finalidade financeira ou fiscal, mas também outra, excluída naturalmente a função sancionatória.

E porquê?

Se com o imposto se pretendesse aplicar uma sanção, estaríamos diante de uma multa (sanção
pecuniária penal), uma coima (sanção pecuniária contraordenacional), um confisco (sanção penal
traduzida na apreensão e correspondente perda a favor do Estado do produto obtido e dos
instrumentos utilizados na prática de ato ilícito), uma indemnização (reparação do prejuízo ou dano
causado a outrem através de ato ilícito), etc., mas nunca perante um imposto.

1.1 Criação do Imposto


Dispõe o art. 103.º, n.º 2 da Constituição da República Portuguesa (CRP) que os impostos são criados por
lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Assim,
ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não tenham sido criados por lei, que tenham natureza
retroativa ou cuja liquidação e cobrança não sejam feitas nos termos da lei.

A criação de um imposto é da exclusiva competência da Assembleia da República, que pode também


conceder ao Governo uma autorização para legislar sobre esta matéria.

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1.2 Distinção entre imposto e taxa

Artigo 4.º da Lei Geral Tributária (LGT)


Pressupostos dos tributos

2 - As taxas assentam na prestação concreta de um serviço público, na utilização de


um bem do domínio público ou na remoção de um obstáculo jurídico ao
comportamento dos particulares.

Ao contrário do imposto, a taxa é um tributo bilateral, ou seja, à prestação do particular a favor do


Estado e demais entes públicos corresponde uma contraprestação específica, uma atividade desses
mesmos entes especialmente dirigida ao respetivo obrigado.

Uma atividade que se vem a concretizar seja na prestação de um serviço público, como as taxas devidas
pelos serviços de registo e notariado (emolumentos), pelos serviços de justiça (taxa de justiça), pelos
serviços de educação pública (propinas),etc.; seja na utilização de bens do domínio público como as
portagens, aterragem de aeronaves nos aeroportos, etc., seja na remoção de um limite jurídico à
atividade dos particulares como as devidas pelas licenças de uso e porte de arma, por exemplo.

Enquanto os impostos obedecem ao exigente princípio da legalidade fiscal e a sua medida tem por base
o princípio da capacidade contributiva, as taxas bastam-se com a reserva à lei parlamentar do seu
regime geral e a sua medida assenta no princípio da proporcionalidade taxa/prestação estadual
proporcionada ou taxa/custos específicos causados à comunidade.

2. O Sistema Fiscal Português


O sistema fiscal português decorre da CRP (art. 103.º), que define os seus princípios orientadores,
designadamente no que concerne ao tipo de impostos e aos direitos e garantias dos contribuintes.

Portugal tem um sistema fiscal composto por:

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Impostos

Património
Rendimento Despesa Veículos Outros
(Imposto Local)

Imposto Sobre o Impostos Especiais


Pessoas Singulares Imposto Municipal Imposto único de
Valor Acrescentado Sobre o Consumo Imposto do Selo (IS)
(IRS) Sobre Imóveis (IMI) Circulação (IUC)
(IVA) (IEC)

Imposto sobre a
Imposto Sobre o álcool e
Pessoas colectivas Transmissão
as bebidas alcoólicas
(IRC) Onerosa de Imóveis
(IABA)
(IMT)

Imposto sobre o Tabaco (IT)

Imposto sobre os produtos


petrolíferos e energéticos (ISP)

2.1 Os momentos da vida do imposto


Olhando para o imposto tendo em conta os momentos em que se desdobra a sua vida, encontramos
dois momentos essenciais. Por um lado, temos o estabelecimento, criação, instituição ou incidência do
imposto e, por outro, o momento da sua aplicação, efetivação, administração ou gestão.

Assim, no primeiro momento trata-se de definir o SE e o QUANTO do imposto:

a) Facto, atividade ou situação que dá origem ao imposto (facto tributário);


b) Sujeitos ativos e passivos da obrigação de imposto;
c) Montante do imposto, que, quando não é de quota fixa, é definido através do valor sobre que
recai (definição em abstrato da matéria coletável), mediante a percentagem desse valor ou a
quantidade por unidade a exigir ao contribuinte e, eventualmente, das deduções a fazer ao
valor assim que apurado (deduções à coleta);
d) Isenção do imposto ou benefício fiscal (menor imposto).

No segundo momento procede-se à aplicação, efetivação, administração ou gestão do imposto, o que se


traduz nas seguintes operações:
a) Lançamento – identificação dos contribuintes através do lançamento subjetivo e determinação
da matéria coletável (ou tributável) e da taxa, mediante o lançamento objetivo;
b) Liquidação – determinação da matéria coletável pela aplicação da taxa à matéria coletável,
coleta que vem a coincidir com o imposto a pagar, a menos que haja lugar a deduções à coleta,
caso em que a liquidação também abarca esta última operação;
c) Cobrança (ou pagamento, quando visto do lado passivo) – entrada do imposto nos cofres do
Estado, seja através da cobrança voluntária, quando há lugar ao pagamento espontâneo pelo
contribuinte do montante liquidado, seja através da cobrança coerciva, se for preciso recorrer à
apreensão dos bens necessários à solvência do débito fiscal do devedor.

2.2 Caducidade e prescrição

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2.2.1 Caducidade do direito à liquidação do imposto


De acordo com o artigo 45.º da LGT, o direito de liquidar os tributos caduca se a liquidação não for
validamente notificada ao contribuinte no prazo de quatro anos, salvo se a lei fixar outro prazo. O prazo
é reduzido para três anos nos casos de nova liquidação fruto de erro evidenciado na declaração do
sujeito passivo ou nos casos de utilização de métodos indiretos.
No caso de o contribuinte ter, em determinado exercício, efetuado reporte de prejuízos ou qualquer
outra dedução ou crédito de imposto, o prazo de caducidade é o do exercício desse direito. Sempre que
o direito à liquidação respeite a factos relativamente aos quais foi instaurado inquérito criminal, o prazo
de caducidade é alargado até ao arquivamento ou trânsito em julgado da sentença, acrescido de um
ano.
Para evitar a caducidade, a administração fiscal deve notificar o contribuinte nos prazos legais. Neste
sentido, o prazo de caducidade conta-se, nos impostos periódicos a partir do início do ano seguinte
àquele em que teve lugar o facto tributário. Nos impostos de obrigação única, o prazo de caducidade
conta-se a partir da data do facto tributário, exceto no imposto sobre o valor acrescentado e nos
impostos sobre o rendimento quando a tributação seja efetuada por retenção na fonte a título
definitivo, caso em que aquele prazo se conta a partir do início do ano civil seguinte.

2.2.2 Prescrição das dívidas tributárias


Nos termos do artigo 48.º da Lei Geral Tributária (LGT), as dívidas tributárias prescrevem, salvo o
disposto em lei especial, no prazo de oito anos, contados nos impostos periódicos, a partir do termo do
ano em que se verificou o facto tributário e, nos impostos de obrigação única, a partir da data em que o
facto tributário ocorreu, exceto no imposto sobre o valor acrescentado e nos impostos sobre o
rendimento quando a tributação seja efetuada por retenção na fonte a título definitivo, caso em que
aquele prazo se conta a partir do início do ano civil seguinte àquele em que se verificou,
respetivamente, a exigibilidade do imposto ou o facto tributário.,

A citação, reclamação, o recurso hierárquico, a impugnação e o pedido de revisão oficiosa da liquidação


do tributo interrompem a prescrição. Por interrupção devemos entender, de acordo com o artigo 326.º
do Código Civil, a inutilização do prazo decorrido anteriormente. Após a interrupção, inicia-se uma nova
prescrição, um novo prazo (artigo 49.º n.º 1 da LGT).

2.3 Formas de reação do contribuinte


Quando o contribuinte considere que se encontra prejudicado por algum ato da administração fiscal, ou
detete algum erro, poderá reagir, dirigindo-se à entidade que praticou o ato tributário.

Para tal, estão previstas na lei duas formas de reação do contribuinte:

2.3.1 Reclamação graciosa


A reclamação graciosa visa a anulação total ou parcial dos atos tributários por iniciativa do contribuinte,
de acordo com o disposto no art.º 68º do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT).
O contribuinte pode reclamar de atos de liquidação no prazo de 120 dias contados a partir dos seguintes
factos:
a) Termo do prazo para pagamento voluntário das prestações tributárias legalmente notificadas ao
contribuinte; e
b) Notificação dos restantes atos tributários, mesmo quando não deem origem a qualquer liquidação
(com imposto a reembolsar, sem pagamento ou sem reembolso). Em IRS, nestes casos, aquele prazo
conta-se a partir dos 30 dias seguintes ao da notificação da liquidação.

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A entrega de impostos retidos na fonte é suscetível de reclamação graciosa por parte do substituto em
caso de erro na entrega de imposto superior ao retido, no prazo de dois anos a contar do termo do ano
em que foi efetuado o pagamento indevido.
A reclamação graciosa não obriga à constituição de mandatário.
No entanto, os interessados ou os seus representantes legais podem conferir mandato, sob a forma
prevista na lei, para a prática de atos de natureza procedimental ou processual tributária que não tenha
carácter pessoal.

Sempre que o contribuinte tenha constituído mandatário, deve preencher o quadro dos dados do
mandatário uma vez que as notificações serão feitas na pessoa do mandatário e no seu escritório (Artº
40.º do Código de Procedimento e de Processo Tributário - CPPT).

A reclamação graciosa é apresentada por escrito no serviço periférico local da área do domicílio ou sede
do contribuinte, da situação dos bens ou da liquidação, podendo sê-lo oralmente mediante redução a
termo em caso de manifesta simplicidade.

A reclamação graciosa pode igualmente ser enviada por transmissão eletrónica de dados, nos termos
definidos em portaria do Ministro das Finanças.

Do indeferimento total ou parcial da reclamação graciosa cabe recurso hierárquico no prazo de 30 dias a
contar da notificação do ato respetivo. Os recursos hierárquicos são dirigidos ao mais elevado superior
hierárquico do autor do ato.

2.3.2 Impugnação judicial (art. 102.º do CPPT)


A impugnação dos atos tributários faz-se por petição articulada dirigida ao juiz do Tribunal competente,
que deve ser apresentada no prazo de 3 meses contados a partir dos factos seguintes:

a) Termo do prazo para pagamento voluntário das prestações tributárias legalmente notificadas
ao contribuinte;
b) Notificação dos restantes atos tributários, mesmo quando não deem origem a qualquer
liquidação;
c) Citação dos responsáveis subsidiários em processo de execução fiscal;
d) Formação da presunção de indeferimento tácito;
e) Notificação dos restantes atos que possam ser objeto de impugnação autónoma nos termos
deste Código;
f) Conhecimento dos atos lesivos dos interesses legalmente protegidos não abrangidos nas
alíneas anteriores.

Em caso de indeferimento de reclamação graciosa, o prazo de impugnação será de 15 dias após a


notificação.
Se o fundamento para a apresentação da impugnação for a nulidade, a impugnação pode ser
apresentada a todo o tempo.

2.4 A infração à lei fiscal


Nos termos do art. 2.º do Regime Geral das Infrações Tributárias (RGIT), as infrações tributárias dividem-
se em crimes e contraordenações.

Atenta a relevância das receitas tributárias, o legislador decidiu criminalizar determinados


comportamentos ou condutas dos contribuintes em geral, e dos agentes económicos em particular, cujo
desvalor do resultado possa colocar em causa os interesses patrimoniais do Estado.
O crime fiscal é, portanto, uma ação ou conduta material que preencha um tipo descrito nas leis
tributárias, que tenha sido praticado culposamente, e que seja lesivo dos interesses da Fazenda Pública.

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Os princípios gerais que o RGIT define e estabelece aplicam-se quer aos crimes, quer às contra- -
ordenações. Podemos definir contraordenação como o facto típico, ilícito e culposo declarado punível
por lei tributária anterior, cujos elementos constitutivos não preenchem um tipo legal de crime. A
contraordenação é, portanto, um ilícito fiscal sem natureza criminal.

As contraordenações tributárias qualificam-se como simples ou graves. São contraordenações simples


as puníveis com coima cujo limite máximo não exceda €15.000, e graves as puníveis com coima cujo
limite máximo seja superior a €15.000 e aquelas que, independentemente da coima aplicável, a lei
expressamente qualifique como tais.

2.4.1 Responsabilidade das pessoas coletivas e equiparadas (art. 7.º do


RGIT)
As pessoas coletivas, sociedades, ainda que irregularmente constituídas, e outras entidades fiscalmente
equiparadas são responsáveis pelas infrações previstas na presente lei quando cometidas pelos seus
órgãos ou representantes, em seu nome e no interesse coletivo.
Esta responsabilidade é excluída quando o agente tiver atuado contra ordens ou instruções expressas de
quem de direito.
A responsabilidade criminal das pessoas coletivas não exclui a responsabilidade individual dos respetivos
agentes, já a responsabilidade contraordenacional dessas entidades exclui a responsabilidade dos
respetivos agentes.

Se a multa ou coima for aplicada a uma entidade sem personalidade jurídica, responde por ela o
património comum e, na sua falta ou insuficiência, solidariamente, o património de cada um dos
associados (ver art. 7.º do RGIT).

2.4.2 Responsabilidade civil pelas multas e coimas (art. 8.º do RGIT)


Os administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de
administração em pessoas coletivas, sociedades, ainda que irregularmente constituídas, e outras
entidades fiscalmente equiparadas são subsidiariamente responsáveis:

a) Pelas multas ou coimas aplicadas a infrações por factos praticados no período do exercício do
seu cargo ou por factos anteriores quando tiver sido por culpa sua que o património da
sociedade ou pessoa coletiva se tornou insuficiente para o seu pagamento;
b) b) Pelas multas ou coimas devidas por factos anteriores quando a decisão definitiva que as
aplicar for notificada durante o período do exercício do seu cargo e lhes seja imputável a falta
de pagamento.
A responsabilidade subsidiária prevista no número anterior é solidária se forem várias as pessoas a
praticar os atos ou omissões culposos de que resulte a insuficiência do património das entidades em
causa.

2.4.3 Processo de aplicação das coimas ( Arts. 67.º a 86.º do RGIT)


O processo de aplicação das coimas é composto por duas fases:

a) Fase Administrativa – O processo é instaurada no serviço tributário da área onde tiver sido
cometida a contraordenação.
O dirigente do serviço tributário competente notifica o arguido do facto ou factos apurados no
processo de contraordenação e da punição em que incorre, comunicando-lhe também que
pode apresentar a sua defesa no prazo de 10 dias. Neste prazo o arguido pode ainda proceder

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ao pagamento antecipado da coima, beneficiando da redução desta para um valor igual ao


mínimo legal cominado para a contraordenação, bem como da redução a metade das custas
processuais.
Até à decisão do processo o arguido pode efetuar o pagamento voluntario do valor da coima.
Se o fizer a coima é reduzida para 75% do montante fixado, não podendo, porém, a coima a
pagar ser inferior ao montante mínimo respetivo.

b) Fase Judicial – As decisões de aplicação das coimas e sanções acessórias podem ser objeto de
recurso para Tribunal Tributário de 1.º Instância, no prazo de 20 dias após a sua notificação, a
apresentar no serviço tributário onde tiver sido instaurado o processo de contraordenação.
Até ao envio dos autos ao tribunal a autoridade recorrida pode revogar a decisão de aplicação
da coima.

3. Imposto sobre o rendimento das pessoas


singulares (IRS)
3.1 Incidência real (art. 1.º CIRS)
O imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) incide sobre o valor anual dos rendimentos
das categorias seguintes, mesmo quando provenientes de atos ilícitos, depois de efetuadas as
correspondentes deduções e abatimentos:
• Categoria A - Rendimentos do trabalho dependente;
• Categoria B - Rendimentos empresariais e profissionais;
• Categoria E - Rendimentos de capitais;
• Categoria F - Rendimentos prediais;
• Categoria G - Incrementos patrimoniais;
• Categoria H - Pensões.

3.2 Incidência pessoal (art. 13.º e seguintes do CIRS)


Estão sujeitas a IRS as pessoas singulares residentes em território português e aquelas que não
residindo, aqui obtenham rendimentos.

Quando existe agregado familiar, o imposto é apurado individualmente em relação a cada cônjuge ou
unido de facto, a não ser que seja exercida a opção pela tributação conjunta.

No caso de opção por tributação conjunta, o imposto é devido pela soma dos rendimentos das pessoas
que constituem o agregado familiar, considerando-se como sujeitos passivos aquelas a quem incumbe a
sua direção.

Os dependentes dos contribuintes que não optarem pela entrega da declaração conjunta podem
integrar a declaração de cada um dos progenitores, ou seja, podem ser incluídos em mais do que uma
declaração anual de IRS.

O agregado familiar é constituído por:


a) Os cônjuges não separados judicialmente de pessoas e bens, ou os unidos de facto, e os
respetivos dependentes;
b) Cada um dos cônjuges ou ex-cônjuges, respetivamente, nos casos de separação judicial de
pessoas e bens ou de declaração de nulidade, anulação ou dissolução do casamento, e os dependentes a
seu cargo;
c) O pai ou a mãe solteiros e os dependentes a seu cargo;

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d) O adotante solteiro e os dependentes a seu cargo.

Consideram-se ainda dependentes, desde que devidamente identificados pelo número fiscal de
contribuinte na declaração de rendimentos:

e) Os filhos, adotados e enteados, menores não emancipados, bem como os menores sob
tutela;
f) Os filhos, adotados e enteados, maiores, bem como aqueles que até à maioridade estiveram
sujeitos à tutela de qualquer dos sujeitos a quem incumbe a direção do agregado familiar, que não
tenham mais de 25 anos nem aufiram anualmente rendimentos superiores ao valor da retribuição
mínima mensal garantida;
g) Os filhos, adotados, enteados e os sujeitos a tutela, maiores, inaptos para o trabalho e para
angariar meios de subsistência;
h) Os afilhados civis.

3.3 Determinação do rendimento coletável (art. 22.º e


seguintes do CIRS)
O rendimento coletável em IRS é o que resulta do englobamento dos rendimentos das várias categorias
auferidas em cada ano, depois de feitas as deduções e os abatimentos legalmente previstos.

3.3.1 Deduções específicas


As deduções específicas visam fazer uma enumeração ampla e tendencialmente completa dos encargo,
de forma a tributar apenas o rendimento real e efetivo através da dedução de importâncias
consideradas indispensáveis à sua obtenção.

a) Deduções da categoria A

Aos rendimentos brutos da categoria A deduzem-se por cada titular que os tenha auferido, os seguintes
montantes:
i) € 4.104
ii) As indemnizações pagas pelo trabalhador à sua entidade patronal por rescisão unilateral
do contrato individual de trabalho sem aviso prévio em resultado de sentença judicial ou de
acordo judicialmente homologado ou, nos restantes casos, a indemnização de valor não
superior à remuneração de base correspondente ao aviso prévio;
iii) As quotizações sindicais, na parte em que não constituam contrapartida de benefícios de
saúde, educação, apoio à terceira idade, habitação, seguros ou segurança social e desde que
não excedam, em relação a cada sujeito passivo, 1 % do rendimento bruto desta categoria,
sendo acrescidas de 50 %.

Se as contribuições obrigatórias para regimes de proteção social e para subsistemas legais de saúde
excederem o limite de € 4.104, aquela dedução é pelo montante total dessas contribuições.

A dedução prevista na alínea i) pode ser elevada até 75 % de 12 vezes o valor do IAS desde que a
diferença resulte de quotizações para ordens profissionais suportadas pelo próprio sujeito passivo e
indispensáveis ao exercício da respetiva atividade desenvolvida exclusivamente por conta de outrem.

b) Deduções da categoria B

Nesta categoria as deduções específicas dependem do método de determinação dos


rendimentos. Assim, no chamado Regime Simplificado não há dedução de despesas e no

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Regime de Contabilidade Organizada são aceites as despesas inerentes ao exercício da


atividade.

3.3.2 Algumas considerações sobre os regimes da categoria B


a) O Regime Simplificado

Neste regime, o rendimento a tributar resultará da aplicação de determinados coeficientes aos


proveitos (vendas, prestação de serviços e outros) obtidos pelas entidades às quais seja
aplicável.
Ficam abrangidos por este regime os sujeitos passivos com rendimentos desta categoria (à
exceção dos rendimentos provenientes dos atos isolados) que não tenham atingido no período
de tributação anterior, valor superior a qualquer um dos seguintes limites:

Volume de vendas (anual): € 200.000,00


Tributação: Valor das vendas x 0,15

Volume de prestação de serviços (anual): € 200.000,00


Tributação: Valor dos serviços x 0,75

A determinação do rendimento coletável para efeitos deste regime é feita pela aplicação de
indicadores fixados pelo Ministério das Finanças para cada atividade.

O resultado obtido corresponde ao rendimento da atividade que será englobado na respetiva


declaração de rendimentos.

Os sujeitos passivos abrangidos pelo regime simplificado podem optar pela determinação
dos rendimentos com base na contabilidade. Tal opção deve ser formulada pelos sujeitos
passivos:
a) Na declaração de início de atividade;
b) Até ao fim do mês de março do ano em que pretendem alterar a forma de determinação
do rendimento, mediante a apresentação de declaração de alterações.

Esta opção mantém-se válida até que o sujeito passivo proceda à entrega de declaração de
alterações, a qual produz efeitos a partir do próprio ano em que é entregue, desde que seja
efetuada até ao final do mês de março.

A aplicação do regime simplificado cessa apenas quando o montante de € 200.000,00 seja


ultrapassado em dois períodos de tributação consecutivos ou, quando o seja num único
exercício, em montante superior a 25 %, caso em que a tributação pelo regime de
contabilidade organizada se faz a partir do período de tributação seguinte ao da verificação de
qualquer desses factos.

b) Contabilidade Organizada
Ficam abrangidos por este regime os sujeitos passivos com rendimentos da Categoria B que:
- Por exigência legal, se encontrem obrigados a possuir contabilidade organizada;
- Sejam sócios ou membros das entidades abrangidas pelo regime de transparência fiscal
definido nos termos do CIRC.
- Optem pelo regime de contabilidade organizada ainda que não atinjam os limites do regime
simplificado.
- Ultrapassem em dois períodos consecutivos, ou num único em montante superior a 25%, os
limites do regime simplificado.

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A determinação do rendimento é apurada de acordo com as regras estabelecidas no Código de


IRC.
Para além das limitações aí previstas e da tributação autónoma de certas despesas, não são
dedutíveis os seguintes encargos:
- Despesas com deslocações, viagens e estadas do sujeito passivo ou membro do seu agregado
familiar, na parte em que, no seu conjunto, excedam 10% do total dos proveitos contabilizados,
sujeitos e não isentos de IRS;
- Remunerações dos titulares de rendimentos desta categoria, bem como as atribuídas a
membros do seu agregado familiar que lhe prestem serviços, assim como outras prestações a
título de ajudas de custo, utilização de viatura própria, subsídios de refeição e outras
prestações de natureza remuneratória;
- Caso o sujeito passivo afete a sua atividade profissional ou empresarial parte da sua
habitação, os encargos com ela conexos (amortização, juros, rendas, energia, água e telefone
fixo) que excedam 25% das respetivas despesas devidamente comprovadas.

3.4 Processo de determinação da matéria coletável (arts. 57.º


e ss. do CIRS)
a) Declaração de rendimentos
Os sujeitos passivos devem apresentar, anualmente, uma declaração de modelo oficial, relativa
aos rendimentos do ano anterior e a outros elementos informativos relevantes para a sua
concreta situação tributária.

Como?
As declarações e demais documentos podem ser entregues em qualquer serviço de finanças ou
nos locais que vierem a ser fixados ou, ainda, ser remetidos pelo correio para o serviço de
finanças ou direção de finanças da área do domicílio fiscal do sujeito passivo. O cumprimento
das obrigações declarativas pode ainda ser efetuado através dos meios disponibilizados no
sistema de transmissão eletrónica de dados, para o efeito autorizado.

Quando?
Normalmente o prazo de entrega está dividido em 2 fases e compreendido entre os meses de
Março e Maio.
As datas exatas são disponibilizadas anualmente através do portal da Autoridade Tributária e
Aduaneira.

A declaração pode ainda ser apresentada nos 30 dias imediatos à ocorrência de qualquer facto
que determine a alteração dos rendimentos já declarados.

b) Taxas gerais

As taxas do imposto (em vigor em 2015) são as constantes da tabela seguinte:

Taxas
(em percentagens)
Rendimento Coletável
(em euros)
Normal Média
(A) (B)
Até 7 000 14,50 14,50
De mais de 7 000 até 20 000 28,50 23,60
De mais de 20 000 até 40 000 37 30,30
De mais de 40 000 até 80 000 45 37,65

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Superior a 80 000 48 ---

O quantitativo do rendimento coletável, quando superior a € 7000, é dividido em duas partes:


uma, igual ao limite do maior dos escalões que nele couber, à qual se aplica a taxa da coluna (B)
correspondente a esse escalão; outra, igual ao excedente, a que se aplica a taxa da coluna (A)
respeitante ao escalão imediatamente superior.

Quociente familiar

O Orçamento de Estado para 2015 veio introduzir um novo quociente familiar, de modo a
assegurar a equidade de tributação, nomeadamente, através da opção pela tributação conjunta
ou separada, conjugada com um método de tributação mais correlacionado com o poder de
compra das famílias, nomeadamente em função do número de dependentes e ascendentes que
compõem o agregado.

Anteriormente, o quociente familiar era de dois (“quociente conjugal”), independentemente do


número de dependentes e ascendentes do agregado familiar. Em 2015, passa a ser aplicado um
novo quociente familiar, em que cada sujeito passivo tem um peso de 1 e cada dependente e
ascendente tem um peso de 0,3. O peso de cada dependente e ascendente será de 0,15, caso
os membros do agregado familiar entreguem a declaração anual de IRS como separados,
estando neste caso o dependente incluído em ambas as declarações. São, naturalmente,
fixadas as regras de definição dos descendentes e ascendentes que qualificam para o
quociente.

Assim, a título de exemplo, assumindo um casal com três filhos, anteriormente, este casal era
obrigado a entregar uma declaração anual de IRS conjunta e o seu rendimento coletável anual é
dividido por 2, para efeitos de aplicação das taxas de tributação.

Em 2015, este casal poderá entregar a declaração anual de IRS separadamente, sendo o
rendimento de cada um dos elementos do casal dividido por 1,45 (1+0,15 +0,15 +0,15). Porém,
se o casal optar por entregar a declaração anual de IRS em conjunto, o rendimento anual
coletável será dividido por 2,9 (1 + 1 + 0,3 +0,3 +0,3).

É ainda introduzido um limite máximo ao benefício decorrente da introdução do quociente


familiar, sendo proposto que a redução da coleta de IRS, face ao ano de 2014, em cada uma das
seguintes situações, não possa exceder:

- Quando haja tributação separada:

• € 300 nos agregados com um dependente;


• € 625 nos agregados com dois dependentes; e
• € 1.000 nos agregados com três ou mais dependentes (por dependentes incluem-se
descendentes e ascendentes a cargo do agregado familiar).

- Quando haja opção pela tributação conjunta:


• € 600 nos agregados com um dependente;
• € 1.250 nos agregados com dois dependentes; e
• € 2.000 nos agregados com três ou mais dependentes.
- Nas famílias monoparentais:
• € 350 nos agregados com um dependente;
• € 750 nos agregados com dois dependentes; e
• € 1.200 nos agregados com três ou mais dependentes.

Liquidação

A liquidação do IRS compete à Autoridade Tributária e Aduaneira (AT).

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À coleta são efetuadas as seguintes deduções relativas:


a) Aos dependentes do agregado familiar e aos ascendentes que vivam em comunhão de
habitação com o sujeito passivo;
b) Às despesas gerais familiares;
c) Às despesas de saúde e com seguros de saúde;
d) Às despesas de educação e formação;
e) Aos encargos com imóveis;
f) Às importâncias respeitantes a pensões de alimentos;
g) À exigência de fatura;
h) Aos encargos com lares;
i) Às pessoas com deficiência;
j) À dupla tributação internacional;
k) Aos benefícios fiscais.

São ainda deduzidos à coleta os pagamentos por conta do imposto e as importâncias retidas na
fonte que tenham aquela natureza, respeitantes ao mesmo período de tributação, bem como
as retenções efetuadas ao abrigo do artigo 11.º da Diretiva n.º 2003/48/CE, de 3 de junho
(tributação dos rendimentos da poupança sob a forma de juros).
O sistema de cálculo do IRS será então o resultado de:

Rendimento bruto - deduções específicas = Rendimento colectável

Rendimento colectável / 2 = Rendimento colectável corrigido

Rendimento colectável corrigido x taxa de imposto = Imposto

Imposto - parcela a abater = Apuramento

Apuramento x coeficiente conjugal = Colecta total

Colecta total - deduções à colecta = Imposto liquidado

Imposto liquidado - retenções e pagamentos por conta = Imposto devido

c) Pagamento

O IRS deve ser pago no ano seguinte àquele a que respeitem os rendimentos e nos seguintes
prazos:

- até 31 de Agosto, para todas as categorias de rendimentos (prazo geral)

- até 31 de Dezembro, para todas as categorias de rendimentos quando o sujeito passivo não
tiver apresentado a declaração de IRS e a liquidação tiver sido realizada com base nos
elementos de que dispunha a Autoridade Tributária e Aduaneira.

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Os titulares de rendimentos da Categoria B encontram-se obrigados a efetuar três pagamentos


por conta do imposto devido a final, até ao dia 20 de cada um dos meses de Julho, Setembro e
Dezembro.

A obrigatoriedade de efetuar os pagamentos por conta cessa quanto:

a) Os sujeitos passivos verifiquem, pelos elementos de que disponham, que os montantes


das retenções que lhes tenham sido efetuadas sobre os rendimentos da categoria B, acrescidos
dos pagamentos por conta eventualmente já efetuados e relativos ao próprio ano, sejam iguais
ou superiores ao imposto total que será devido;

b) Deixem de ser auferidos rendimentos da categoria B.

Os pagamentos por conta podem ser reduzidos pelos sujeitos passivos quando o pagamento
por conta for superior à diferença entre o imposto total que os sujeitos passivos julgarem
devido e os pagamentos já efetuados.

4. Imposto sobre o rendimento das pessoas


coletivas (IRC)
O imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC) incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo
quando provenientes de atos ilícitos, no período de tributação, pelos respetivos sujeitos passivos.

4.1 Incidência Pessoal


O art. 2º do CIRC elenca as entidades que são sujeitos passivos do Imposto sobre o rendimento das
pessoas coletivas.
Em primeiro lugar, refira-se que não só as entidades residentes ficam abrangidas pelas regras deste
imposto. Tal incidência também recai sobre as entidades não residentes.
Também ficam sujeitas às normas deste Código, além das pessoas coletivas com personalidade jurídica,
outros entes de facto, ou seja, entidades sem personalidade jurídica, mas às quais é atribuída, para
efeitos deste imposto, personalidade tributária.

Temos então:
a) Residentes
-As sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, as cooperativas, as empresas
públicas
e as demais pessoas coletivas de direito público ou privado, com sede ou direção efetiva em
território português;
- As entidades desprovidas de personalidade jurídica, com sede ou direção efetiva em
território português, como sejam: as sociedades irregulares, as heranças jacentes, as
associações e sociedades civis sem personalidade jurídica e as sociedades comerciais ou
civis sob forma comercial, anteriormente ao registo definitivo.
b) Não residentes
- Entidades, com ou sem personalidade jurídica, que não tenham sede nem direção efetiva
em território português e cujos rendimentos nele obtidos não estejam sujeitos a IRS.

Para efeitos de IRC, serão consideradas residentes as pessoas coletivas que disponham de sede em
território nacional ou direção efetiva.

No caso de entidades sem personalidade jurídica, não basta que estejamos perante um agrupamento de
duas ou mais pessoas para que haja tributação em sede de IRC, é necessário que tal agrupamento
exerça uma atividade económica, e disponha de um património a este afeto.

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4.2 Incidência Real


Pelo art. 3º n.º 1 do CIRC, a base do imposto depende do tipo de sujeito passivo em causa. Temos então
a seguinte correspondência em função da partição atrás efetuada:

a) Entidades que exercem, a título principal, atividade de natureza comercial, industrial ou


agrícola (ex: sociedades comerciais, cooperativas) – a base do imposto é o lucro;
b) Entidades que não exercem, a título principal, atividade de natureza comercial, industrial
ou agrícola (ex: IPSS, associações) – a base do imposto é o rendimento global,
correspondente à soma algébrica dos rendimentos das diversas categorias consideradas
para efeitos de IRS e, bem assim, dos incrementos patrimoniais obtidos a título gratuito;
c) Entidades não residentes com estabelecimento estável – a base do imposto é o lucro
imputável a esse estabelecimento estável;
d) Entidades não residentes sem estabelecimento estável ou que obtenham rendimentos não
imputáveis a estabelecimento estável – a base do imposto são os rendimentos das
diversas categorias, consideradas para efeitos de IRS e, bem assim, os incrementos
patrimoniais obtidos a título gratuito.

Para estes efeitos, pelo n.º 2 do art. 3º do CIRC, o lucro consiste na diferença entre os valores do
património líquido no fim e no início do período de tributação, com as correções estabelecidas neste
Código.

4.3 Período de Tributação


Como regra geral teremos que o IRC é devido por cada período de tributação, coincidindo este com o
ano civil, ou seja, de 1 de janeiro a 31 de dezembro.
O período de tributação poderá não ser coincidente com o ano civil quer por opção do sujeito passivo,
quer mediante autorização do Ministro das Finanças para o efeito.

4.4 O Regime de Transparência fiscal


O regime de transparência fiscal é um regime especial de tributação em sede de IRC. Em termos
genéricos, caracteriza-se pelo facto do resultado tributável de determinada entidade não ser tributado
na esfera desta, mas sim na esfera dos seus sócios, sejam eles pessoas singulares ou coletivas.
Este regime especial de tributação encontra-se previsto no artigo 6º (Capítulo I – Incidência) e no artigo
12º (Capítulo II – Isenções). O legislador não terá sido muito claro em estabelecer se este regime se
situava na não sujeição ou na isenção. No entanto, certo é que as entidades abrangidas pelo regime de
transparência fiscal encontram-se obrigadas à determinação da matéria coletável segundo as regras
previstas em sede de IRC e também ao cumprimento de outras obrigações acessórias, nomeadamente
declarativas. Contudo, encontram-se isentas de IRC (ao imposto propriamente dito), pois este regime
opera na esfera dos sócios (no caso das sociedades de profissionais, em sede de IRS).

4.5 Determinação da matéria coletável


O art. 15º do CIRC define como é determinada a matéria coletável para cada uma das entidades que
sejam sujeitos passivos deste imposto, segundo a partição feita no art. 3º do CIRC.
É sobre a matéria coletável que será aplicada a taxa ou taxas aplicáveis, com vista ao apuramento do
imposto.

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4.5.1 Regime simplificado de determinação da matéria coletável


Podem optar pelo regime simplificado de determinação da matéria coletável, os sujeitos passivos
residentes, não isentos nem sujeitos a um regime especial de tributação, que exerçam a título principal
uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola e que verifiquem, cumulativamente, as
seguintes condições:
a) Tenham obtido, no período de tributação imediatamente anterior, um montante anual
ilíquido de rendimentos não superior a € 200.000;
b) O total do seu balanço relativo ao período de tributação imediatamente anterior não exceda
€ 500.000;
c) Não estejam legalmente obrigados à revisão legal das contas
d) O respetivo capital social não seja detido em mais de 20%, direta ou indiretamente, nos
termos do n.º 6 do artigo 69.º, por entidades que não preencham alguma das condições
previstas nas alíneas anteriores, exceto quando sejam sociedades de capital de risco ou
investidores de capital de risco;
e) Adotem o regime de normalização contabilística para mico entidades aprovadas pelo
Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de março;
f) Não tenham renunciado à aplicação do regime nos três anos anteriores, com referência à
data em que se inicia a aplicação do regime.

No período do início de atividade, o enquadramento no regime simplificado de determinação da


matéria coletável faz-se, verificados os demais requisitos, em conformidade com o valor anualizado dos
rendimentos estimado, constante da declaração de início de atividade.
A opção pela aplicação do regime simplificado de determinação da matéria coletável deve ser
formalizada pelos sujeitos passivos:
a) Na declaração de início de atividade;
b) Na declaração de alterações a que se refere o artigo 118.º, a apresentar até ao fim do 2.º
mês do período de tributação no qual pretendam iniciar a aplicação do regime simplificado de
determinação da matéria coletável.

4.6 Taxas
O art. 87º do CIRC estabelece as taxas de IRC a aplicar aos sujeitos passivos deste imposto.
A taxa do regime geral de IRC é de 21%.

Sobre a parte do lucro tributável superior a €1 500 000 sujeito e não isento de imposto sobre o
rendimento das pessoas coletivas apurado por sujeitos passivos residentes em território português que
exerçam, a título principal, uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola e por não
residentes com estabelecimento estável em território português, incidem taxas adicionais denominadas
de “derrama estadual”.

4.7 Pagamento
O pagamento do IRC é efetuado da seguinte forma e dentro dos prazos que se descriminam abaixo:

a) Pagamentos por conta – Julho, Setembro e Dezembro do ano a que respeitem os


rendimentos a tributar correspondendo, no caso dos sujeitos passivos com um volume de
negócios do exercício imediatamente anterior inferior a € 500.00,00, a 80% do imposto
liquidado (coleta) nesse mesmo exercício. No caso do volume de negócios ser superior a €
500.00,00 a percentagem a aplicar será de 95%.

Se o contribuinte verificar, pelos elementos de que disponha, que o montante do pagamento por conta
já efetuado é igual ou superior ao imposto que será devido com base na matéria coletável do exercício,

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pode deixar de efetuar novo pagamento por conta, sem que seja necessário efetuar qualquer
comunicação desse facto à Administração Fiscal.

b) Conjuntamente com a declaração Modelo 22 até 31 de Maio do ano seguinte ao dos


rendimentos, pela diferença que existir entre o imposto total calculado na declaração
periódica de rendimentos e as importâncias entregues por conta.

Para além dos pagamentos por conta, os sujeitos passivos que exerçam a título principal uma atividade
comercial, industrial ou agrícola e não estejam abrangidos pelo regime simplificado, ficam sujeitos a um
pagamento especial por conta (PEC) a efetuar no mês de Março ou, em duas prestações, durante os
meses de Março e Outubro do ano a que respeita.

Em termos de cálculo, o montante do PEC corresponde a 1% do volume de negócios do exercício


imediatamente anterior, com o limite mínimo de €1.000,00 e, quando superior, será igual a este limite
acrescido de 20% da parte excedente com o limite máximo de € 70.000. A este montante, será deduzido
o valor dos pagamentos por conta efetuados nos termos da alínea anterior.

Ficam dispensados de efetuar este pagamento, os sujeitos passivos isentos de IRC, os que se encontrem
com processos de falência ou de recuperação de empresas e também, os sujeitos passivos que tenham
deixado de efetuar vendas e prestações de serviços e tenham, para esse efeito, cessado a atividade nos
termos do art. 33.º do CIVA. O pagamento do IRC, quando efetuado no prazo de cobrança voluntária,
pode ser efetuado nos Bancos, correios e secções de cobrança de qualquer serviço de finanças.

5. Imposto sobre o valor acrescentado (IVA)


O IVA é um imposto que incide sobre a despesa, efetuada em geral com a aquisição onerosa de bens e
serviços com o fim de serem consumidos, repercutindo-se até ao consumidor final, pois o seu objetivo é
a tributação do consumo final.

Cada operador económico que intervenha no circuito económico do bem é obrigado a liquidar o
imposto, fazendo incidir a taxa devida sobre o preço de venda aos seus clientes.

Quando este operador for calcular o imposto a entregar ao Estado, ao imposto liquidado nas faturas
para os seus clientes, deduzirá o montante de imposto suportado nas suas aquisições e que conste das
faturas dos seus fornecedores.

IVA devido = IVA liquidado - IVA dedutível

5.1 Incidência objetiva (art. 1.º do CIVA)


Estão sujeitas a imposto sobre o valor acrescentado:
a) As transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas no território nacional, a título
oneroso, por um sujeito passivo agindo como tal;
b) As importações de bens;
c) As operações intracomunitárias efetuadas no território nacional, tal como são definidas no
Regime do IVA das Transações Intracomunitárias.

5.2 Incidência subjetiva ( art. 2.º do CIVA)

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A incidência subjetiva ou pessoal, determina quem é que está sujeito a IVA, ou seja, quem é que são os
sujeitos passivos de IVA. O n.º 3 do art. 30.º do CIVA estipula que, caso o sujeito passivo não esteja
estabelecido em território português, será o seu representante o devedor do imposto.

São, assim, sujeitos do imposto os seguintes casos:


a) Pessoas singulares ou coletivas que exerçam uma atividade económica, nomeadamente,
produção, comércio, prestações de serviços, atividades extrativas, agrícolas e profissões
liberais, com carácter de habitualidade;
b) Pessoas que, do mesmo modo independente, realizem uma só operações tributável;
c) Importadores;
d) Pessoas que efetuem operações intracomunitárias;
e) Adquirentes dos serviços prestados por não residentes;
f) Estados e outras pessoas coletivas de direito público, quando realizem de forma significativa as
seguintes operações:
• Telecomunicações;
• Distribuição de água, gás e eletricidade;
• Prestação de serviços portuários e aeroportuários;
• Transporte de pessoas;
• Armazenagem
• Entre outros

5.3 Taxas

Continente Açores Madeira


Taxa Reduzida 6% 4% 5%
Taxa intermédia 13% 9% 12%
Taxa genérica 23% 16% 22%

A taxa de IVA relativa ao transporte de passageiros é de 6% e no transporte de mercadorias é de 23%.


No caso do transporte de passageiros, esta taxa compreende o suplemento de preço exigido pelo
transporte de bagagens e reservas.

Nos Açores, a taxa do imposto é de 4% (passageiros) e 16% (mercadorias), enquanto na Madeira as


taxas são de 5% (passageiros) e 22% (mercadorias).
Na prática, o imposto é imputado a todas as etapas do percurso dos bens ou mercadorias e à prestação
de serviços.

Em cada uma destas etapas, desde o importador ou produtor, passando pelo armazenista e retalhista,
até ao consumidor final, o sujeito passivo está vinculado a certo número de obrigações acessórias que
favorecem o controlo e dificultam a evasão fiscal.

5.4 Liquidação e pagamento do imposto


5.4.1 Deduções (art. 19.º e seguintes do CIVA)
Para apuramento do imposto devido, os sujeitos passivos deduzem ao imposto incidente sobre as
operações tributáveis que efetuaram,

a) O imposto devido ou pago pela aquisição de bens e serviços a outros sujeitos passivos;
b) O imposto devido pela importação de bens;
c) Entre outros

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.
Só confere direito a dedução o imposto mencionado nos seguintes documentos, em nome e na posse do
sujeito passivo:
a) Em faturas passadas na forma legal;
b) No recibo de pagamento do IVA que faz parte das declarações de importação, bem como
em documentos emitidos por via eletrónica pela Autoridade Tributária e Aduaneira, nos
quais constem o número e a data do movimento de caixa.
c) Nos recibos emitidos a sujeitos passivos enquadrados no regime de IVA de caixa,
passados na forma legal prevista neste regime.

5.4.2 Declaração Periódica


Para os sujeitos passivos com volume de negócios no ano anterior igual ou superior a € 650.000,00, a
declaração periódica deverá ser enviada por transmissão eletrónica de dados até ao dia 10 do 2.º mês
seguinte àquele a que respeitem as operações (periodicidade mensal).

Os sujeitos passivos com volume de negócios no ano anterior inferior a € 650.000,00, a declaração
periódica deverá ser enviada até ao dia 15 do 2.º mês seguinte ao trimestre a que respeitem as
operações (periodicidade trimestral).

5.5 Documentos que devem acompanhar as mercadorias em


circulação
O sistema de fiscalização das mercadorias em trânsito destina-se ao controlo do IVA para evitar e
combater a fraude e evasão fiscais deste e de outros impostos.

Aos transportadores de mercadorias cabe um papel importante na execução do sistema de fiscalização.


Para tanto, exige-se que as mercadorias transportadas sejam acompanhadas dos seguintes documentos
de transporte, nos termos do Decreto-Lei n.º 147/2003 (última alteração – Lei n.º 82-B/2014, de
31/121):

Guias de transporte – documentos elaborados pelo transportador e que devem acompanhar o veículo
em circulação;
Guias de remessa, faturas, nota de devolução ou documentos equivalentes – emitidos pelos
fornecedores de mercadorias, processados em triplicado pelo sujeito passivo remetente dos bens e
mercadorias antes do início da circulação.

Os documentos de transporte têm de conter obrigatoriamente os seguintes elementos:


a) Nome, firma ou denominação social, domicílio ou sede e número de identificação fiscal do
remetente;
b) Nome, forma ou denominação social, domicílio ou sede do destinatário ou adquirente;
c) Número de identificação fiscal do destinatário ou adquirente, quando este seja sujeito passivo
de IVA;
d) Designação comercial dos bens, com indicação das quantidades;
e) Locais de carga e descarga, referidos como tais, e a data e hora em que se inicia o transporte.

5.6 Prazo de factoração e formalidades das faturas

1
http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=372&tabela=leis

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Por cada prestação de serviço efetuada deve o transportador emitir fatura ou documento equivalente,
nos 5 dias úteis seguintes ao da operação.
É dispensada esta obrigação nas prestações de serviços em que seja habitual a emissão de talão, bilhete,
senha, ou outro documento comprovativo do pagamento.

Apesar desta dispensa, o transportador é obrigado a emitir talões ou bilhetes devidamente numerados
e a ter um registo das operações realizadas diariamente.

As faturas ou documentos equivalentes devem ser numerados de forma sequencial, emitidos em


tipografias autorizadas pelo Ministério das Finanças, ou impressos diretamente de sistemas
informáticos.

5.7 Obrigações de contabilidade (art. 44.º do CIVA)


A contabilidade deve ser organizada de forma a possibilitar o conhecimento claro e inequívoco dos
elementos necessários ao cálculo do imposto, bem como a permitir o seu controlo, comportando todos
os dados necessários ao preenchimento da declaração periódica do imposto
Devem ser objeto de registo, nomeadamente:
a) As transmissões de bens e prestações de serviços efetuadas pelo sujeito passivo;
b) As importações de bens efetuadas pelo sujeito passivo e destinadas às necessidades da sua
empresa;
c) As transmissões de bens e prestações de serviços efetuadas ao sujeito passivo no quadro da
sua atividade empresarial.

5.8 Reembolso do IVA (art. 22.º do CIVA)


Sempre que o sujeito passivo seja credor de IVA superior a € 250,00 por um período de 12 meses, pode
solicitar o seu reembolso.

O sujeito passivo pode solicitar o reembolso antes do fim do período de 12 meses quando:
a) se verifique a cessação de atividade
b) passe a praticar só operações isentas
c) passe a enquadrar-se no Regime Especial de Isenção ou no Regime Especial dos Pequenos
Retalhistas.
d) o excesso for superior a € 3.000,00

5.9 Regime especial de exigibilidade do IVA nos serviços de


transporte rodoviário nacional de mercadorias
5.9.1 Âmbito de Aplicação
O Regime especial de exigibilidade do IVA nos serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias
está previsto na Lei 15/2009 de 1 de Abril.

O regime especial é aplicável às prestações de serviços de transporte rodoviário nacional de


mercadorias, tal como definido no DL 239/2003, de 4 de Outubro.

Nos termos do referido diploma, as prestações de serviços consubstanciadas em “transporte


subsequente ou subcontratação” de transporte rodoviário nacional de mercadorias, encontram-se
abrangidas pelo regime especial, considerando-se que o transportador originário, mantendo a sua

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qualidade perante o expedidor, assume, por sua vez, a qualidade de expedidor perante o terceiro
(transportador), a quem comete a realização do transporte.

Nos casos em que as prestações de serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias se


integrem em operações de transporte combinado, ou seja, quando, ao abrigo de um único contrato, as
mercadorias são transportadas, em parte por modo rodoviário e, na parte restante, por qualquer outro
modo (aéreo, ferroviário, marítimo ou fluvial), o regime especial aplica-se em exclusivo à parte
correspondente ao modo rodoviário.
Excluem-se deste regime as prestações de serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias,
nomeadamente “cabotagem”, quando, relativamente às quais, o adquirente seja o responsável pela
liquidação e pagamento do correspondente imposto, ou seja, nas situações em que ocorre o
vulgarmente designado “reverse charge”.

5.9.2 Exigibilidade do Imposto


O regime especial vem, relativamente às prestações de serviços de transporte rodoviário nacional de
mercadorias, consagrar o diferimento da exigibilidade do imposto para o momento do recebimento
total ou parcial do preço, neste último caso apenas pela parte do preço recebida.
A exigibilidade do imposto ocorre, ainda, no momento do recebimento total ou parcial do preço,
quando este preceda a realização das operações tributáveis.
Sem prejuízo da regra anteriormente referida, considera-se que o recebimento total do preço ocorre no
prazo máximo de 30 dias após a apresentação da respetiva fatura pelo transportador, salvo se prazo
superior não resultar de disposição contratual.

Caso a fatura não faça referência ao prazo de pagamento, o imposto ali liquidado presume-se exigível
no termo do prazo de 30 dias após a sua apresentação pelo transportador se, entretanto, não tiver
ocorrido o pagamento total ou parcial da operação. O IVA liquidado nos termos do regime especial deve
ser relevado na declaração do período em que se tiver verificado o respetivo pagamento.

5.9.3 Direito à dedução


Dado que a exigibilidade do imposto ocorre apenas no momento do pagamento total ou parcial do
preço, o regime especial estabelece que o direito à dedução do imposto suportado nas respetivas
operações (prestações de serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias) só se verifica a
partir do momento em que o sujeito passivo tenha na sua posse o recibo comprovativo do pagamento,
passado na forma legal, cuja data de emissão deve coincidir sempre com a do pagamento.

A dedução do imposto suportado nos termos do regime especial deve ser efetuada na declaração do
período em que se tiver verificado a receção do recibo comprovativo do pagamento.

5.9.4 Regras relativas à emissão de faturas e recibos


As faturas relativas às operações abrangidas por este regime devem ser numeradas numa série especial,
convenientemente referenciada, e conter a menção "IVA exigível e dedutível no pagamento", sem
prejuízo das demais obrigações previstas no artigo 36.º do Código do IVA.

As faturas devem, ainda, conter menção ao prazo de pagamento quando este, resultando de disposição
contratual, seja superior a 30 dias após a sua apresentação pelo transportador.
Nas operações abrangidas pelo regime especial é obrigatória a emissão de recibo, pelo valor do
montante recebido, no momento do pagamento total ou parcial, bem como pelo recebimento, total ou
parcial do preço, que preceda a realização das operações tributáveis.

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Do recibo devem constar a taxa do IVA aplicável e a referência à fatura a que respeita o pagamento,
quando for caso disso, considerando-se o imposto incluído no montante recebido.
Estes recibos devem ser emitidos em duplicado (destinando-se o original ao cliente e a cópia ao
prestador dos serviços) e a sua data deve coincidir com a do pagamento.
À numeração das faturas e recibos previstos no regime especial é aplicável o disposto no artigo 5º do
Decreto-Lei nº 198/90, de 19 de Junho.

5.9.5 Registo das operações e conservação das faturas e recibos


abrangidas pelo regime
As operações abrangidas por este regime especial devem ser registadas de modo a permitir o cálculo do
imposto devido em cada período, respeitante aos montantes recebidos, devendo evidenciar:

a) o valor das prestações de serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias,


líquido de imposto;
b) o valor do imposto respeitante àquelas operações, com relevação distinta do montante
ainda não exigível.

Para cumprimento das obrigações contabilísticas, os sujeitos passivos abrangidos pelo regime especial
devem adaptar o plano de contas de acordo com as suas necessidades, criando, para o efeito, sub
contas de IVA, quer do liquidado, quer do dedutível, de forma a evidenciar o IVA liquidado, mas cuja
data de exigibilidade ocorre apenas no momento do recebimento do preço dos serviços, bem como para
o IVA dedutível pelo adquirente, o qual só pode ser deduzido no período de imposto em que ocorrer o
respetivo pagamento das faturas.

Tendo em atenção às normas de conservação a que se refere o artigo 45.ºdo Código do IVA, as faturas e
recibos relativos a operações abrangidas pelo presente regime são numerados seguidamente, em uma
ou mais séries, convenientemente referenciadas, devendo conservar-se na respetiva ordem os seus
duplicados, assim como todos os exemplares dos que tenham sido anulados ou inutilizados, com os
averbamentos indispensáveis à identificação daqueles que os substituíram, se for caso disso.

5.9.6 Opção pelas regras gerais de exigibilidade do IVA previstas no art.


8.º do CIVA
O artigo 2.º da Lei n.º 15/2009, em sintonia com o disposto no n.º 1 do artigo 7.º do regime especial,
contempla a possibilidade de opção pelas regras gerais de exigibilidade do imposto.

• Assim, os sujeitos passivos que o pretendam, podem efetuar a opção pelas regras gerais de
exigibilidade do IVA, mediante comunicação eletrónica, devendo, para o efeito, aceder ao site
do Portal das Finanças (www.portaldasfinancas.gov.pt), assinalando em seguida:
SERVIÇOS => ENTREGAR => DECLARAÇÕES => IVA => LEI 15/2009 – OPÇÃO REGIME GERAL.

• Inversamente, os sujeitos passivos que, tendo optado pela aplicação das regras gerais de
exigibilidade do IVA, pretendam retomar a aplicação do regime especial, podem fazê-lo,
mediante comunicação eletrónica nos moldes descritos no parágrafo anterior, decorrido que
seja o período mínimo de permanência de três anos a que se refere o n.º 2 do artigo 7.º do
regime em anexo à Lei n.º 15/2009.

• Para que os adquirentes dos serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias, entre
outros, possam certificar-se do enquadramento do prestador(transportador), assegurando,
deste modo, que as correspondentes operações cumprem as normas de exigibilidade
estabelecidas no regime especial ou no Código do IVA, caso tenha sido exercida a respetiva

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opção, será oportunamente disponibilizada uma funcionalidade de consulta, acessível a partir


do site do Portal das Finanças (www.portaldasfinancas.gov.pt), assinalando em seguida:
SERVIÇOS => CONSULTAR => IDENTIFICAÇÃO CLIENTES/FORNECEDORES.

• A Lei foi publicada no passado dia 1 de Abril, produzindo, no entanto, efeitos a 1 de Janeiro,
permitindo que os sujeitos passivos, caso o pretendam, exerçam a opção pelas regras gerais de
exigibilidade previstas no artigo 8.º do Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado, desde a
data da entrada em vigor da citada Lei. O respetivo texto prevê, em concreto, que a opção
possa ser exercida até ao final do mês seguinte.

• No entanto, uma vez que o modo de comunicação ali consagrado, “via eletrónica”, revestindo a
forma prevista no n.º 1 do artigo 7.º do regime especial e os condicionalismos constantes do
n.º 2 do mesmo normativo, apenas foi recentemente implementado, o prazo estabelecido no
respetivo artigo 2.º, decorre até ao final do próximo mês de Junho.

6. Impostos rodoviários
6.1 Imposto sobre veículos (Lei n.º 22-A/2007, de 29 de
Junho)
O imposto sobre veículos (ISV) obedece ao princípio da equivalência, procurando onerar os
contribuintes na medida dos custos que estes provocam nos domínios do ambiente, infraestruturas
viárias e sinistralidade rodoviária, em concretização de uma regra geral de igualdade tributária.

6.1.1 Incidência objetiva


Estão sujeitos ao imposto os seguintes veículos:
a) Automóveis ligeiros de passageiros, considerando-se como tais os automóveis com peso bruto
até 3500 kg e com lotação não superior a nove lugares, incluindo o do condutor, que se
destinem ao transporte de pessoas;
b) Automóveis ligeiros de utilização mista, considerando-se como tais os automóveis com peso
bruto até 3500 kg e com lotação não superior a nove lugares, incluindo o do condutor, que se
destinem ao transporte, alternado ou simultâneo, de pessoas e carga;
c) Automóveis ligeiros de mercadorias, considerando-se como tais os automóveis com peso bruto
até 3500 kg e com lotação não superior a nove lugares, que se destinem ao transporte de
carga, de caixa aberta, fechada ou sem caixa;
d) Automóveis de passageiros com mais de 3500 kg e com lotação não superior a nove lugares,
e) incluindo o do condutor;
f) Autocaravanas, considerando-se como tais os automóveis construídos de modo a incluir um
espaço residencial que contenha, pelo menos, bancos e mesa, espaço para dormir, que possa
ser convertido a partir dos bancos, equipamento de cozinha e instalações para
acondicionamento de víveres;
g) Motociclos, triciclos e quadriciclos, tal como estes veículos são definidos pelo Código da
Estrada.

6.1.2 Taxas
A tabela A, a seguir indicada, estabelece as taxas de imposto, tendo em conta a componente cilindrada
e ambiental, e é aplicável aos seguintes veículos:
a) Aos automóveis de passageiros;

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b) Aos automóveis ligeiros de utilização mista e aos automóveis ligeiros de mercadorias, que não
sejam tributados pelas taxas reduzidas nem pela taxa intermédia.

TABELA A
Componente cilindrada

Componente ambiental
Veículos a gasolina

Veículos a gasóleo

A tabela B, tem em conta exclusivamente a componente cilindrada, sendo aplicável aos seguintes
veículos:
a) Na totalidade do imposto, aos automóveis ligeiros de mercadorias, de caixa fechada, com
lotação máxima de três lugares, incluindo o do condutor, e altura interior da caixa de carga
inferior a 120 cm;
b) Na totalidade do imposto, aos automóveis ligeiros de mercadorias, de caixa fechada, com
lotação máxima de três lugares, incluindo o do condutor, e tração às quatro rodas, permanente
ou adaptável;
c) Aos automóveis fabricados antes de 1970 e aos automóveis ligeiros de mercadorias, de caixa
aberta, ou sem caixa, com lotação superior a três lugares, incluindo o do condutor, que
apresentem tração às quatro rodas, permanente ou adaptável, nas percentagens previstas no
art. 8.º, n.º 2 e 3 da Lei 22-A/ 2007 de 29 de Junho;
d) Aos automóveis abrangidos pelo artigo 9.º da referida lei, nas percentagens aí previstas.

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TABELA B
Componente cilindrada

6.2 Imposto único de circulação (Lei n.º 22-A/2007, de 29 de


Junho)
O imposto único de circulação (IUC) obedece ao princípio da equivalência, procurando onerar os
contribuintes na medida do custo ambiental e viário que estes provocam, em concretização de uma
regra geral de igualdade tributária.

6.2.1 Incidência Objetiva


O imposto único de circulação incide sobre os veículos das categorias seguintes, matriculados ou
registados em Portugal:

a) Categoria A: Automóveis ligeiros de passageiros e automóveis ligeiros de utilização mista com


peso bruto não superior a 2500 kg matriculados desde 1981 até à data da entrada em vigor
CIUC;
b) Categoria B: Automóveis de passageiros referidos nas alíneas a) e d) do n.º 1 do artigo 2.º do
Código do Imposto sobre Veículos e automóveis ligeiros de utilização mista com peso bruto não
superior a 2500 kg, matriculados em data posterior à da entrada em vigor do CIUC;
c) Categoria C: Automóveis de mercadorias e automóveis de utilização mista com peso bruto
superior a 2500 kg, afetos ao transporte particular de mercadorias, ao transporte por conta
própria, ou ao aluguer sem condutor que possua essas finalidades;
d) Categoria D: Automóveis de mercadorias e automóveis de utilização mista com peso bruto
superior a 2500 kg, afetos ao transporte público de mercadorias, ao transporte por conta de
outrem, ou ao aluguer sem condutor que possua essas finalidades;
e) Categoria E: motociclos, ciclomotores, triciclos e quadriciclos, tal como estes veículos são
definidos pelo Código da Estrada, matriculados desde 1992;
f) Categoria F: Embarcações de recreio de uso particular com potência motriz igual ou superior a
20 kW, registados desde 1986;
g) Categoria G: Aeronaves de uso particular.

6.2.2 Incidência subjetiva


São sujeitos passivos deste imposto os proprietários dos veículos, considerando-se como tais as pessoas
singulares ou coletivas, de direito público ou privado, em nome das quais os mesmos se encontrem
registados.
No que se refere aos veículos adquiridos com recurso a instrumentos de financiamento, como sejam a
locação financeira ou a aquisição com reserva de propriedade, os locatários financeiros, os adquirentes
com reserva de propriedade, bem como outros titulares de direitos de opção de compra por força do
contrato de locação são equiparados a proprietários e como tal são sujeitos passivos de IUC.

6.2.3 Veículos isentos

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Estão isentos do pagamento de IUC os seguintes veículos:


a) Veículos da administração central, regional, local e das forças militares e de segurança, bem
como os veículos adquiridos pelas associações humanitárias de bombeiros ou câmaras
municipais para o cumprimento das missões de proteção, socorro, assistência, apoio e combate
a incêndios, atribuídas aos seus corpos de bombeiros;
b) Automóveis e motociclos da propriedade de Estados estrangeiros, de missões diplomáticas e
consulares, de organizações internacionais e de agências europeias especializadas, bem como
dos respetivos funcionários, quando o seu reconhecimento seja obrigatório em virtude de
instrumento de direito internacional;
c) Automóveis e motociclos que, tendo mais de 20 anos e constituindo peças de museus públicos,
só ocasionalmente sejam objeto de uso e não efetuem deslocações anuais superiores a 500
quilómetros;
d) Veículos não motorizados, exclusivamente elétricos ou movidos a energias renováveis não
combustíveis, veículos especiais de mercadorias sem capacidade de transporte, ambulâncias,
veículos funerários e tratores agrícolas;
e) Automóveis ligeiros de passageiros que se destinem ao serviço de aluguer com condutor (letra
«T»), bem como ao transporte em táxi.
f) Veículos apreendidos no âmbito de um processo-crime, enquanto durar a apreensão;
g) Veículos considerados abandonados nos termos do Código da Estrada a partir do momento em
que sejam adquiridos por ocupação pelo Estado ou pelas autarquias locais;
h) Veículos declarados perdidos a favor do Estado;
i) Veículos utilizados pelas equipas de sapadores florestais que integrem o Sistema de Defesa da
Floresta contra Incêndios.

Estão ainda isentos de imposto, os seguintes sujeitos passivos:


a) Pessoas com deficiência cujo grau de incapacidade seja igual ou superior a 60 % em relação a
veículos das categorias A, B e E;
b) Instituições particulares de solidariedade social.

Estão isentos de 50% do imposto os seguintes veículos:


a) Os veículos da categoria D, quando autorizados ou licenciados para o transporte de grandes
objetos;
b) Os veículos das categorias C e D que efetuem transporte exclusivamente na área territorial de
uma região autónoma.

6.2.4 Apuramento do IUC – Categorias C e D


No cálculo do IUC aplicável aos veículos da Categoria C e D devem ser considerados quatro fatores:

a) Peso bruto dos veículos;


b) Número de eixos;
c) Tipo de suspensão (mecânica e pneumática);
d) Ano da primeira matrícula do veículo.

6.2.5 Período em que é devido


O IUC é devido por inteiro em cada ano civil.
Os sujeitos passivos deverão proceder ao pagamento do IUC em função do mês de “aniversário” do
veículo, sendo que, no ano de matrícula ou de registo do veículo em território nacional, o imposto deve
ser liquidado pelo sujeito passivo nos 30 dias posteriores ao termo do prazo legalmente exigido para o
respetivo registo.
A liquidação do IUC é efetuada pelo contribuinte pela Internet ou na Secção de Cobrança de um
qualquer Serviço de Finanças. No caso das pessoas coletivas a liquidação é obrigatoriamente efetuada
através da Internet.

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