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LINDB – Parte I
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
LINDB – Parte I
Sumário
Carlos Elias
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
LINDB – Parte I. . ................................................................................................................................ 8
1. Eficácia, Vigência e Vigor............................................................................................................ 8
2. Formação da Lei......................................................................................................................... 10
3. Princípios da Obrigatoriedade, da Vigência Sincrônica e da Continuidade da Lei. .......12
4. Vacatio Legis, Vacatio Constitutionis e Contagem do Prazo. . .......................................... 14
5. Repristinação e Efeito Repristinatório.. ................................................................................. 17
6. Correção de Texto de Lei...........................................................................................................19
7. Retroatividade............................................................................................................................ 20
7.1. Princípio da Irretroatividade................................................................................................. 20
7.2. Direito Adquirido......................................................................................................................21
7.3. Coisa Julgada........................................................................................................................... 24
7.4. Ato Jurídico Perfeito............................................................................................................... 26
7.5. Roubier vs Gabba.................................................................................................................... 27
7.6. Graus de Retroatividade.. ...................................................................................................... 28
7.7. Situações Jurídicas Institucionais....................................................................................... 30
7.8. Normas que Positivam Regras Anteriores e Baseadas em Princípios.........................31
7.9. Lei do Distrato e Aplicação a Contratos Anteriores........................................................ 32
7.10. O Caso dos Planos de Saúde e a Retroatividade de Novas Leis: Contratos
Sucessivos e Contínuos ou Contrato Único?. . .......................................................................... 33
8. Conflito de Normas e Diálogo das Fontes. . .......................................................................... 36
8.1. Antinomia. . ................................................................................................................................ 36
8.2. Diálogo das Fontes................................................................................................................ 38
Questões de Concurso..................................................................................................................40
Gabarito............................................................................................................................................ 58
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LINDB – Parte I
Carlos Elias
Apresentação
Olá, meus amigos e minhas amigas!
Fico feliz em estar aqui para unir-me à tua jornada de estudos para concurso! O cargo que
você está almejando é formidável. Vale a pena o teu sacrifício de dedicar-se intensamente ago-
ra para, em um futuro breve, está usufruindo de um salário bem atraente e de uma profissão
bem entusiasmante!
Sou o professor Carlos E. Elias de Oliveira. Ministro aula de concurso de Direito Civil há
vários anos. Pelo meu currículo, você já percebeu que eu vivi estudando para concursos. Con-
segui realizar o meu objetivo de ser consultor legislativo do Senado após ser o único aprovado
no concurso de 2012 (é que os concorrentes foram eliminados por não conseguirem as notas
mínimas). Antes, eu já havia sido aprovado no concurso de Advogado da União (cargo que
exerci por quase três anos). E, durante a faculdade, eu havia sido aprovado nos concursos de
técnico judiciário do TST e do STJ. Eu preferi ficar no STJ na época. E, por conta disso, eu gos-
taria de, antes de começarmos a aula, compartilhar algumas experiências minhas quanto ao
método mais adequado para estudar para concursos.
Tenho um amigo que, apesar de sua genialidade, estudava há bastante tempo para concur-
so sem obter êxito. Ele já era servidor de um Tribunal, mas estava em busca de outros cargos.
Perguntei-lhe como ele estudava, e ele me disse: “Pego um livro de doutrina e saio a fazer
resumo”. Vi logo a razão de ele não estar passando nos concursos públicos. Passei-lhe o mé-
todo que agora te exporei e, algum tempo depois, esse meu amigo conseguiu se aprovado no
concurso da AGU para Advogado da União e, posteriormente, ele se confortou ao ser aprovado
para juiz federal.
Posso assegurar que esse método é o caminho correto para passar em concurso. Só fica
de fora daí as pessoas que são superdotadas, como um amigo que conheci. As pessoas de
padrão médio – no meio das quais eu me incluo! – devem adotar o método que exporei.
Passo a expor o método.
Estudar para concurso é igual a aprender a jogar futebol. Ninguém lê um livro previamente.
Já vai direto para o campo de futebol e vai aprendendo na “raça” como jogar. No caso de con-
curso, o objetivo é você responder corretamente às questões. Logo, você tem de começar os
estudos pegando questão de concurso.
Então, a primeira coisa a fazer quando você for estudar é pegar uma questão de concurso
– seguindo a ordem das matérias do edital – e tentar responder, mesmo não sabendo nada.
Isso é importante por dois motivos. O primeiro é o de que você desenvolverá uma habilidade
importante em importante (a de “chutar”). Eu me vali dessa habilidade em todos os concursos
que fiz, porque sempre a gente vai se deparar com questões cobrando temas que não estuda-
mos. Acontece que, ao ter essa habilidade de “chutar” mais aguçada, a gente passa a dar um
“chute qualificado” (rssssss), ou seja, a gente consegue intuir qual é a resposta mais provável.
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É claro que você só deve chutar em concursos que não punam o candidato com a perda de
uma questão no caso de erro na resposta (uma errada anula uma certa). O segundo motivo é
que a tua atenção no estudo se aguçará. De fato, o nosso cérebro, ao deparar-se com um pro-
blema, ativa a tinta indelével da memória. O que for aprendido dificilmente será esquecido. Por
exemplo, lembramos, com facilidade, de problemas que sofremos. Semelhantemente, quando
esbarramos com uma questão de concurso, o nosso cérebro interpreta-a como um problema,
de sorte que tudo quanto for estudado por força dela será armazenado no cérebro com maior
perenidade. Duvido você sentir sono ao estudar assim.
O fato é que, após tentar responder à questão, aí sim você para a tua segunda fonte de
consulta: o texto da lei. Várias questões de concurso se baseiam no texto da lei. Você vai ler o
texto da lei sem pressa alguma. Lei e faça anotações. Talvez você demore 30 minutos nessa
brincadeira. Não há problema! Você está adquirindo aí uma “memória fotográfica” do texto da
lei, o que te ajudará futuramente na resolução de questões.
Não achando a solução para a questão no texto da lei, você irá para a terceira fonte de
consulta: a doutrina. E aí, se você não tiver livros, até o Google está valendo. Eu já me servi dele
bastante. Você vai ler a doutrina relativa ao assunto, sem pressa. Faça anotações. Talvez você
demore uma hora nisso. Não há problemas.
Após tudo isso, você deve retornar à questão e novamente tentar responder. Pronto! Você
terá aprendido a matéria de uma forma muito mais perene, porque o teu cérebro dificilmente
esquecerá tudo quanto você aprendeu ao impulso de um problema (de uma questão). Em se-
guida, você deve continuar resolvendo mais questões, repetindo a metodologia. Evidentemen-
te, quando se deparar com matérias do mesmo assunto, você irá mais rápido, porque poderá
consultar também as tuas anotações.
Fora isso, você deve ler informativos do STF e – nos casos de concursos de carreiras jurí-
dicas – do STJ.
Tenho uma boa notícia para você: as nossas aulas aqui seguirão, no que couber, a metodo-
logia acima, de maneira que, seguindo as nossas aulas, você acabará estudando toda a maté-
ria no que é relevante para concurso público.
É evidente que, nas aulas, a gente não trata de TUDO de Direito Civil. A gente trata apenas
daquilo que costuma ser cobrado em concurso. É que há diversos temas de Direito Civil que só
tem relevância para a vida acadêmica; nunca ou raramente cai em concurso. O nosso objetivo
aqui é contribuir para você conquistar a tua vaga.
Por fim, faço mais uma advertência. Sacrifique mesmo o teu tempo. Eu, como disse, estu-
dei bastante para concurso. Lembre-se de que, depois de você ser aprovado no concurso, você
terá estabilidade financeira e profissional para fazer o que quiser, como desfrutar de lazer, dar
atenção para família, ir pessoalmente ao Maracanã para ver o maior espetáculo do mundo: a
torcida do Flamengo vibrando com os gols do Mais Querido etc. Pague o preço para conquistar
a vitória!
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Em concursos públicos (e isso vale para as mais diferentes bancas), há questões que exi-
gem conhecimento do texto da lei (cai muito o texto dela). Dessa forma, o que acaba diferen-
ciando os candidatos que não apenas passarão, mas também serão nomeados no concurso,
é o conhecimento de alguns temas doutrinários e jurisprudenciais. Lembre-se de que uma ou
duas questões podem ser decisivas para você ser nomeado. Por isso, no nosso curso, iremos
abordar também aspectos doutrinários e jurisprudenciais que, embora não tenham sido muito
cobrados, podem te distinguir no concurso.
Por isso, durante as aulas, eu me servirei de questões de várias bancas examinadoras. Não
é correto você se limitar a questões da banca examinadora do concurso que você fará. É extre-
mamente comum uma banca examinadora copiar questões de outras.
Além do mais, não me limitarei a questões do nível do concurso que você fará. Usarei ques-
tões para os mais variados cargos, porque o meu objetivo é que você esteja preparado não
apenas para questões mais simples, mas especialmente para as questões mais complexas.
São estas últimas que te farão não apenas ser aprovado, mas também nomeado! Ademais, eu
darei preferência a questões mais difíceis: quem se prepara para o mais difícil faz o mais fácil.
Tem mais uma coisa importante: eu vou aprofundar o conteúdo. Em alguns pontos, eu irei
além do que comumente vem caindo nas provas. Sabe por quê? Porque é comum haver 5% de
questões no concurso público que são extremamente difíceis e que trata de assunto novo. Eu
quero que você acerte esses 5% de questões, exatamente porque elas podem ser decisivas
para você não apenas ser aprovado no concurso, mas também ser NOMEADO. Uma questão
pode significar a tua nomeação!
Resumo
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O ideal é que, depois de ver esse resumo, você prosseguir lendo a parte teórica, pois eu
explico a matéria abordando questões e esclarecendo tudo.
Enfim, segue o resumo desta aula:
• Vigência, vigor e eficácia são conceitos diferentes.
− Vigência é o período entre a entrada em vigor e a revogação da lei;
− Vigor é a força vinculante, é a aptidão de sujeitar os fatos à norma. Isso explica a ul-
tratividade: uma norma, mesmo depois de revogada (após a sua vigência), continua
tendo força para disciplinar fatos ocorridos durante a vigência (continua com vigor
para esses fatos);
− Eficácia é a aptidão da norma para produzir efeitos concretos;
• A formação da lei ocorre em três fases:
− Elaboração: é o processo legislativo;
− Promulgação: o ato que atesta a existência formal da lei;
− Publicação: condição de eficácia da lei;
• Há controvérsia sobre o momento de nascimento da lei: há quem aponte para a promul-
gação e outros para o último ato do processo legislativo (como a sanção e a derrubada
do veto nos casos de leis ordinárias e complementares);
• Há três princípios importantes acerca das leis:
− Princípio da obrigatoriedade da lei: ninguém pode alegar desconhecimento da lei;
− Princípio da vigência sincrônica da lei: a lei entra em vigor simultaneamente em
todo o território;
− Princípio da continuidade da lei: lei permanece até que outra a revogue;
• A entrada em vigor da lei ocorre após o período de vacatio legis, que, salvo disposição
em contrário, é de 45 dias após a publicação ou, para ter eficácia no exterior, é de 3 me-
ses;
• Não se aplica a LINDB para a vacatio constitutionis, de modo que a regra é que a CF e
suas emendas entram em vigor na data de sua publicação. Houve, porém, um caso de
vacatio constitutionis para uma pequena parte da CF/88: a parte do sistema tributário
nacional (art. 34 da ADCT);
• A repristinação é vedada no nosso Direito, salvo previsão expressa;
• Efeito repristinatório é sinônimo de repristinação como regra geral. Há, porém, quem
faça a distinção, associando a repristinação ao fenômeno tratado na LINDB (revoga-
ção de leis sucessivas, caso em que se aplica a vedação de repristinação sem previsão
legal contrária) e o efeito repristinatório a outras hipóteses (inconstitucionalidade, não
conversão de Medida Provisória em Lei e competência legislativa). Para essa última
hipótese, há efeito repristinatório automático: não há necessidade lei para ocorrer. De
qualquer forma, saiba que o STF usa a expressão repristinação e efeito repristinatório
como sinônimos para casos de inconstitucionalidade;
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LINDB – PARTE I
1. Eficácia, Vigência e Vigor
Amigos e amigas, respondam esta questão abaixo: certo ou errado? Se não souber, tente
chutar a resposta mesmo assim:
001. (CESPE/TJ-AM/JUIZ SUBSTITUTO/2016) Para ser aplicada, a norma deverá estar vigen-
te e, por isso, uma vez que ela seja revogada, não será permitida a sua ultratividade.
002. (CESPE/AUDITOR/TCU/2011) A vigência, uma qualidade da lei, diz respeito a sua eficá-
cia temporal.
Se você não sabia o tema, excelente! Isso significa que você deve prestar o máximo de atenção
na explicação abaixo.
Certo.
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Você precisa saber da distinção existente entre três conceitos: vigência, vigor e eficácia.
É verdade que você encontrará provas que usarão esses conceitos de forma indiscrimina-
da. Você só levará isso em conta para responder à questão se você verificar que o examinador
está focando a definição do conceito. Do contrário, não seja rigoroso; não responda “errado” só
porque o examinador usou um termo de forma indevida.
Vigência, vigor e eficácia são conceitos diversos, embora todas sejam qualidades da nor-
ma (ou seja, caracterizam as normas jurídicas).
A vigência da lei diz respeito ao período da lei, ao tempo de duração da norma, à eficácia
temporal da lei (lembra da questão do TCU acima?), ao lapso temporal durante o qual a lei tem
vigor. Ex.: a vigência do CPC/73 é o período compreendido entre a sua entrada em vigor (1º/
JAN/1974, conforme art. 1.220) e a sua revogação, que ocorreu na data da entrada em vigor
do novo CPC (18/MAR/2016).
O vigor é a força vinculante da norma, é a sua condição de sujeitar à norma os fatos. Nor-
mas sem vigência podem ainda estar em vigor. É o que sucede no fenômeno da ultratividade
da lei, assim entendido que leis revogadas (sem vigência, portanto) ainda vinculam (possuem
vigor, portanto) fatos ocorridos antes da revogação. A título de exemplo, o Código Civil de
1916 (CC/16), embora já tenha sido revogado, ainda continua aplicável a contratos celebrados
durante a sua vigência. Isso é uma ultratividade: o CC/16 continua em vigor para os fatos jurí-
dicos ocorridos durante a sua vigência.
A eficácia é a aptidão da norma para produzir efeitos concretos e pode ser social, técnica
ou jurídica.
A eficácia social diz respeito à presença de condições fáticas para o cumprimento da nor-
ma. Uma lei que, p.ex., exija que todos os seres humanos se abstenham de dormir para sempre
é ineficaz socialmente, pois a realidade fática denuncia a impossibilidade de seu cumprimen-
to. Alerte-se que eficácia social não se confunde com observância da norma, pois esta última
significa a necessidade de o Estado valer-se dos meios coercitivos disponíveis para exigir o
cumprimento de uma norma, como a que exige o uso de cinto de segurança.
A eficácia técnica reporta-se à presença de condições técnicas para a aplicação. Uma nor-
ma que dependa de outra para produzir efeitos concretos é um exemplo, tal como sucede
com as “normas de eficácia limitada”, para usar classificação de José Afonso da Silva. Essa
norma tecnicamente só poderá produzir efeitos concretos com o advento de uma norma regu-
lamentadora.
A eficácia jurídica representa a presença de condições jurídicas para a produção de efeito
concreto. Toda norma possui eficácia jurídica, pois sempre irradiará efeitos jurídicos, como,
por exemplo, o de revogar uma norma anterior incompatível.
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Exatamente porque o CC/16 possui ultratividade: embora tenha sido revogado, ele continua re-
gendo fatos jurídicos (como a sucessão hereditária aberta com a morte de uma pessoa) ocor-
ridos durante a sua vigência. A partilha de bens será feita de acordo com as regras do CC/1916,
ainda que os herdeiros tenham demorado a propor a ação de inventário. O que importa, para
definir a regra sucessória, é a data da morte da pessoa, e não da data do início do processo. O
processo apenas é um instrumento para formalizar um direito já existente previamente.
Certo.
2. Formação da Lei
Mudando de assunto, peço que você tente resolver esta questão abaixo (certo ou errado?):
Talvez você se apresse a dizer: “Que absurdo! É com a sanção que a lei nasce!”.
Certo.
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Keep calm! Deixe-me explicar algumas coisas para você. Em concurso público, você preci-
sa sempre tentar descobrir o que estava na cabeça do examinador. Na questão acima, como a
questão falou de “lei em sentido amplo”, ela abrangeu todas as espécies legislativas do art. 59
da Constituição Federal (CF), e não apenas as leis ordinária e complementar. Aí no art. 59 da
CF há menção a várias “leis em sentido amplo” (emendas à Constituição, leis complementares,
leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos do Congresso Nacio-
nal e resoluções do Congresso Nacional, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados).
Isso significa que, por exemplo, a Medida Provisória está incluída nesse meio. Ora, não dá
para falar que a Medida Provisória nasce com a sanção, porque não existe sanção aí. Na ver-
dade, a questão em pauta acabou sendo formulada por algum examinador que, provavelmente,
só deve conhecer alguns manuais de direito civil, porque há civilistas que afirmam que a lei
nasce com a promulgação. É mais no Direito Constitucional que há divergência apontando a
“sanção” como o marco de nascimento da lei.
Seja como for, vamos estudar o assunto.
A formação da lei em sentido amplo envolve três etapas: (1) a de elaboração da lei; (2) a
de promulgação da lei; e (3) a de publicação da lei, que é uma condição de eficácia da lei, pois,
sem publicidade, uma lei não pode irradiar efeitos.
A fase da elaboração corresponde ao processo legislativo, disciplinado no art. 59 e seguin-
tes da CF. Tem-se, apenas, uma proposição legislativa. Assim, por exemplo, na fase de elabo-
ração das leis, tivemos o Projeto de Lei Ordinária n. 1.756/2003, que representava o Projeto de
Lei Nacional de Adoção.
A promulgação é ato que atesta a existência formal da lei, embora ainda não tenha entra-
do em vigor.
Promulgar é, grosso modo, arrumar o texto final da lei, enumerar adequadamente a norma,
inserir a numeração sequencial das leis, indicar os dispositivos que foram vetados, acrescer
a tradicional cláusula de sanção “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o Congresso
Nacional e eu sanciono a seguinte lei” no preâmbulo da lei e lançar a assinatura da autoridade
promulgadora. Promulga-se uma lei, e não um projeto de lei, porque a lei já existe desde o últi-
mo ato da primeira etapa de formação da lei.
Por fim, a publicação é o ato que divulga oficialmente o teor da lei. É a condição para a
lei entrar em vigor, atendido – se houver – o período de vacatio legis, instituto a ser estuda-
do adiante.
Há controvérsia acerca do momento do surgimento da lei, se seria com a promulgação ou
não. Alguns civilistas apontam para a promulgação como marco inicial, como Maria Helena
Diniz (2012, p. 111). Outros doutrinadores, porém, entendem que o nascimento ocorre com
o último ato da fase de elaboração, de maneira que, no caso de leis ordinárias ou comple-
mentares, a lei nasce antes da promulgação, especificamente com a sanção do Presidente
da República ou a rejeição do veto presidencial pelo Congresso Nacional, após as quais o
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projeto de lei ordinária transforma-se em uma lei (Fernandes, 2012, p. 856). Parece-nos que a
segunda corrente é mais adequada, pois se promulga algo que já existe: a lei. O próprio art. 66,
§ 7º, da CF refere-se à promulgação de lei, e não de projeto de lei. A promulgação, portanto,
tem eficácia meramente declaratória: a lei já existe antes disso. Portanto, temos que o último
ato do processo legislativo é o marco do nascimento da lei, de sorte que o parto da lei será a
sanção ou a derrubada do veto no caso de leis ordinárias complementares (art. 66 da CF) ou a
aprovação pela última Casa Legislativa no caso de emendas à Constituição (art. 60, § 3º, CF).
No caso de medidas provisórias, como se trata de um ato único e unilateral do Presidente da
República, o nascimento da lei coincidirá com a promulgação, pois inexiste ato anterior. E, no
caso de decreto legislativo e de resolução, o nascimento se dá com a aprovação do projeto
na forma do Regimento Comum do Congresso Nacional ou do Regimento Interno do Senado
Federal ou da Câmara dos Deputados.
Seja como for, para efeito de concurso público, você precisa estar atento ao que está na
cabeça do examinador. Se for uma prova de Direito Civil, há tendência de o examinador sim-
plesmente dizer que a lei nasce com a promulgação.
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(também chamado de critério do prazo único). Antes da LINDB (que nasceu na década de
1940, em 04/09/1942), o art. 2º da antiga Lei de Introdução adotava o sistema da vigência su-
cessiva, progressiva ou gradual da lei (também chamado de critério do prazo progressivo), de
maneira que, salvo disposição diversa, uma nova lei entrava em vigor em momentos diferentes
em cada região do país: 3 dias depois no antigo Distrito Federal (DF1), 15 dias no RJ - que era
vizinho do DF –, 30 dias nos Estados marítimos e em MG e 100 dias nos demais locais.
Não enxergamos obstáculos a que uma lei preveja, para si, uma vigência progressiva, pois
o próprio caput do art. 1º da LINDB admite disposição contrária. Além do mais, o fato de a va-
catio legis para a vigência da lei brasileira no exterior ser de 3 meses indica haver resquícios do
sistema da vigência progressiva.
O terceiro princípio é o da continuidade ou da permanência da lei. De acordo com ele, a lei
permanece em vigor até que outra a revogue, salvo no caso de lei temporária, que já prevê a
sua própria caducidade com o advento de um termo. Trata-se do princípio da continuidade ou
da permanência.
A revogação consiste em fazer cessar a eficácia de uma lei, encerrando a sua vigência. No
caso de leis que dão nova redação a dispositivos legais, há uma revogação do texto anterior
cumulada com a edição de uma nova norma. Pode ser dividida em duas espécies quanto à ex-
tensão: (1) ab-rogação, quando atinge toda a lei, ou seja, todos os seus dispositivos, a exemplo
do que sucedeu com o CC/1916, que foi ab-rogado pelo CC/2002; e (2) derrogação, quando
atinge apenas alguns artigos da lei, a exemplo das revogações ocorridas em dispositivos do
CC pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, que, ao modificar apenas alguns artigos do CC,
perpetrou uma derrogação.
Uma nova lei somente revoga a anterior se entrar em vigor. Antes do início de sua vigên-
cia, ela não produz o efeito de revogar normas anteriores, pois não tem eficácia jurídica. Não
importa a data de sua publicação ou de sua promulgação, e sim a data do início da sua vigên-
cia. Assim, se uma norma tiver um ano de vacatio legis, ela só revogará normas anteriores e
incompatíveis quando do fim dessa vacatio. Isso explica o atropelamento legislativo perpe-
trado pelo CPC/2015 (Lei n. 13.105/2015) sobre o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.
13.146/2015), pois diversos dispositivos que haviam sido alterados por este último diploma
– como o art. 1.769 do CC – foram revogados posteriormente pelo CPC/2015, que entrou em
vigor em março de 2016, dois meses depois da entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com
Deficiência. É irrelevante o fato de o Estatuto ter sido promulgado e publicado posteriormente
ao CPC/2015, pois o que importa é a data do início da vigência.
Quanto à forma, a revogação pode classificada como expressa, quando textualmente revo-
gar uma outra norma, ou tácita, quando, apesar de seu silêncio, guardar incompatibilidade com
outra norma ou regular inteiramente a matéria dessa outra lei (art. 2º, § 1º, da LINDB). É co-
mum haver novas normas que, sem anunciar a revogação expressa, reiteram o texto de outra
1
Não coincidia, obviamente, com o atual DF, que se localiza na região Centro-Oeste do Brasil e que só foi criado na década
de 1960.
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norma, caso em que, apesar de a disciplina da matéria ter se mantido, poder-se-á falar em revo-
gação implícita da norma reproduzida se a matéria das normas for a mesma. Há ainda casos
de normas que disciplinam o assunto de outra sem reiterar dispositivos, caso em que também
se poderá falar em revogação tácita. Um exemplo é o de que foram revogadas implicitamente
as Leis n.s 1.046/1950 e 2.339/1954, que previam a extinção do empréstimo consignado com
a morte do servidor público mutuário, pois a Lei n. 8.112/1990 regulamentou inteiramente a
matéria – empréstimo consignado por servidor público -, sem reiterar a previsão daquelas leis
(STJ, REsp 688.286/RJ, 5ª T., Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 05/12/2005).
A lei não entra em vigor com a sua publicação. Isso é sempre perguntado em concurso. Ela
entra em vigor após o período de vacatio legis, que, em regra, é de 45 dias, salvo disposição
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em contrário (art. 1º da LINDB). Para vigência no exterior, a vacatio legis é de 3 meses (art. 1º,
§ 1º, LINDB).
Errado.
Em regra, a lei somente entra em vigor após o transcurso de um tempo posterior à publica-
ção e destinado a permitir que os destinatários tomem ciência e preparem-se para observar a
nova lei. Esse lapso temporal entre a publicação e a entrada em vigor (o início da vigência) da
lei chama-se: (1) vacatio legis para as normas infraconstitucionais ou (2) vacatio constitutionis
para a Constituição Federal e uma emenda constitucional. Antes de entrar em vigor, não há
revogação da lei anterior incompatível.
Salvo previsão em sentido contrário, a vacatio legis é de 45 dias após a publicação ou,
especificamente para entrar em vigor em território estrangeiro, de 3 meses (art. 1º, LINDB). O
lapso é maior para vigência no exterior diante da presunção de que a chegada da notícia da
nova norma pode ser mais demorada. Há vários casos em que a lei brasileira se aplica mesmo
no exterior, como no caso de regras de sucessão hereditária envolvendo brasileiro domiciliado
no Brasil na hipótese de o processo de inventário correr no exterior (art. 10, LINDB). Um outro
exemplo é dado pelo Decreto-Lei n. 333/1967, que, após alterar regras relativas ao imposto de
importação, afastou expressamente a vacatio legis trimestral da LINDB e estabeleceu entrada
em vigor imediata à publicação. Além do mais, uma lei que altera regras de casamento, só pas-
sará a vigorar nos consulados brasileiros (que tem competência para celebrar casamentos) se-
diados em outros países após três meses, salvo previsão legal diversa. Fazemos uma ressalva:
apesar de o consulado brasileiro ser território brasileiro por ficção jurídica, temos que a vacatio
legis será mesmo assim de 3 meses, pois a interpretação racional do § 1º do art. 1º da LINDB,
que reserva esse trimestre para a vigência da lei brasileira em “Estados estrangeiros”, conduz-
-nos a entender que o motivo do prazo especial é a distância do território geográfico brasileiro.
Maria Helena Diniz (2012, p. 112) acena para isso, ao ilustrar com leis que digam respeito aos
funcionários de representações diplomáticas no exterior.
É comum haver normas que explicitamente estabeleçam que a sua entrada em vigor será
na data da publicação, hipótese em que não haverá vacatio legis, ou que aumentem o lapso da
vacatio legis para um ou mais anos. O fato é que a vacatio legis é um período durante o qual a
lei, embora já tenha sido publicada, ainda está vaga (daí o nome vacatio legis), sem irradiar efei-
tos concretos, com o objetivo de permitir que os seus destinatários tomem ciência e adotem
as medidas necessárias para cumprir a lei, como, por exemplo, criar sistemas informáticos ou
contratar pessoal para obedecer às normas que imponham obrigações de controle tributário.
Como a norma “tem pressa” para entrar em vigor – como brincamos em sala de aula –,
a contagem do prazo inclui o dia do início e o dia do fim e autoriza a entrada em vigor no dia
seguinte à consumação do prazo (art. 8º, § 1º, da LC 95/1998). A contagem é contínua e pode
recair em dia não útil, pois, afinal de contas, mesmo nos feriados alguma lei deve estar em
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vigor. Na prática, basta somar o prazo da vacatio legis com o dia da publicação, fazendo as
adaptações de mês necessárias. Assim, se a vacatio legis é de 10 dias e a lei foi publicada no
dia 11 de um mês, a sua entrada em vigor ocorrerá no dia 21 (10+11). Se a vacatio legis for
estipulada em anos, a contagem será feita em anos, e não em dias, de modo a que a norma en-
trará em vigor no dia seguinte à consumação. Basta somar a quantidade de anos com o ano da
data da publicação e considerar o dia seguinte como a data inicial. Assim, por exemplo, o STJ,
em sessão administrativa ocorrida em 2/MAR/2016, entendeu que o CPC de 2015, por ter sido
publicado em 17/MAR/2015 e por conter comando de vacatio legis de um ano da publicação
(art. 1.045), entraria em vigor no dia 18/MAR/2016, dia seguinte à consumação do prazo. Se o
ano do vencimento do prazo não contiver o dia correspondente ao ano de início da contagem,
o prazo finda-se no primeiro dia subsequente, conforme art. 2º da Lei que define o ano civil (Lei
810/1949). Ex.: se uma lei é publicada em 29/FEV/2016 com vacatio legis de 1 ano, o prazo
se expirará em 1º/MAR/2017 (não há dia 29/FEV no ano de 2017), de modo que a entrada em
vigor da lei será no dia seguinte, ou seja, em 2/MAR/2017.
A vacatio constitutionis aplica-se apenas à Constituição Federal e a emendas constitucio-
nais. Para ela, não se aplica a regra do art. 1º da LINDB (que prevê a regra de 45 dias de vacatio
legis), pois uma lei ordinária – a LINDB – não pode vincular uma norma superior – a CF ou uma
emenda constitucional. Dessa forma, se a CF ou a emenda constitucional for omissa, a entrada
em vigor será na data de sua publicação. Isso significa que a vacatio constitutionis é admitida
no Brasil, desde que haja previsão expressa na CF ou na emenda constitucional.
No caso da CF/88, ela entrou em vigor na data de sua promulgação por comando próprio
(art. 1º, ADCT), salvo na parte relativa ao sistema tributário nacional, que desfrutou de uma va-
catio constitucionais até o primeiro dia do quinto mês seguinte à promulgação da Carta Magna
(art. 34 da ADCT). No caso de emendas constitucionais, cita-se a Emenda Constitucional n. 25,
que previu, para si, uma vacatio constitutionis de cerca de 10 meses.
Por fim, como o art. 1º da LINDB cuida de vacatio legis abrangendo apenas espécies legis-
lativas, ele não se aplica às normas infralegais, pois estas não são espécies legislativas (não
estão no art. 59, CF), e sim espécies de atos administrativos de índole normativo. É o caso de
decretos editados pelo Presidente da República para regulamentar lei e de outros atos norma-
tivos de autoridades públicas (como uma portaria do chefe de uma repartição pública). Nesses
casos, vigora as regras de Direito Administrativo, segundo a qual o ato administrativo produz
efeitos com a ciência do seu destinatário. Isso significa que, com a publicação do ato, presu-
mir-se-á a ciência do destinatário e, portanto, a norma infralegal já estará em vigor. É evidente
que a própria norma infralegal pode diferir a sua entrada em vigor, mas, nessa hipótese, será
atécnico servir-se da expressão vacatio legis, pois não se trata de uma lei (legis). Melhor seria
falar em vacatio infralegis, para servir-se de um neologismo.
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repristinaria, voltando a estar em vigor a partir dessa revogação. Indo contra essa intuição,
o § 3º do art. 2º da LINDB proíbe expressamente a repristinação nesse caso, salvo se houver
disposição expressa em contrário. A repristinação nesses casos não é automática; depende de
previsão expressa. Se, no exemplo citado, a Lei “C”, ao revogar a Lei “B”, expressamente prever
a repristinação de todas as normas revogadas pela Lei “B”, a Lei “A” voltará a viger. O comando
expresso de repristinação pode ser específico (nominando as leis a serem repristinadas) ou
geral (aludindo-se à repristinação de todas as normas que haviam sido tácita ou expressamen-
te revogadas).
Como a doutrina civilista tradicional só atentava para esse caso de repristinação (a decor-
rente de revogações sucessivas), popularizou-se a asserção de que a repristinação é vedada,
salvo disposição em contrário. Todavia, há outras situações jurídicas de repristinação ou de
efeito repristinatório. Trata-se dos casos de repristinação de uma norma que havia sido: (1)
revogada por uma lei que, posteriormente, veio a ser declarada inconstitucional em contro-
le concentrado de constitucionalidade; (2) revogada por uma medida provisória que não foi
convertida em lei; ou (3) suspensa por uma lei federal geral que posteriormente foi revogada
nos casos de competência legislativa concorrente do art. 24 da CF. Ora, nessas hipóteses, a
ressurreição da norma revogada ou suspensa é automática e independe de comando expres-
so. Não se aplica a esses casos o § 3º do art. 2º da LINDB, que se reserva apenas a casos de
revogações sucessivas de leis. Essas outras situações representam, portanto, hipóteses de
repristinação automática.
Em termos de nomenclatura, preferimos considerar que o verbete “repristinação” deveria
ser reservado aos casos de revogações sucessivas, para as quais há necessidade de comando
expresso para a restauração da lei, ao passo que a locução “efeito repristinatório” deveria ser
aplicada para essas outras hipóteses de ressurreição de normas, que ocorrem automatica-
mente com a declaração de inconstitucionalidade, como a não conversão da medida provisó-
ria em lei ou com a revogação da lei federal geral. Assim, com essa distinção de nomenclatura,
poder-se-ia dizer que a repristinação não é automática, ao passo que o efeito repristinatório o
é. Um interessante julgado do STJ já chegou a adotar essa nomenclatura (STJ, REsp 517.789,
2ª T., Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 13/06/2015). Todavia, o STF, a doutrina majoritá-
ria e até mesmo as provas de concursos públicos em geral confundem as expressões “efeito
repristinatório” e “repristinação”, de modo que o recomendável é, em nome da uniformização
taxonômica, reputar as duas formas como sinônimas e abrangentes de todas as situações
acima (seja a de revogações sucessivas, seja as demais situações de restauração de normas).
A sua pergunta deve ser a seguinte: o que devo fazer em concurso público, professor?
Minha resposta é a seguinte: tente descobrir o que está na cabeça do examinador mediante
a leitura da questão. Se a questão deita holofotes sobre a distinção entre as expressões (efei-
to repristinatório e repristinação), considere a corrente minoritária e distinga os termos. Se,
porém, não há esse indício, trate os termos como sinônimos, na linha da corrente majoritária.
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007. (CESPE/JUIZ/TJ-AM/2016) Quando a republicação de lei que ainda não entrou em vigor
ocorrer tão somente para correção de falhas de grafia constantes de seu texto, o prazo da va-
catio legis não sofrerá interrupção e deverá ser contado da data da primeira publicação.
Nesse caso, reinicia-se o prazo da vacatio legis, conforme art. 1º, § 3º, da LINDB.
Errado.
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7. Retroatividade
7.1. Princípio da Irretroatividade
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009. (FCC/TRT-20ª/2016) Com autorização de lei, a empresa “Z” descarta resíduos sólidos em
área próxima a uma represa. Se revogada a lei que autoriza o descarte nesta área, a empresa “Z”
a) não poderá continuar a fazê-lo, pois a lei nova possui efeito imediato e a empresa “Z” não
tem direito adquirido, devendo adequar-se ao novo regime jurídico.
b) não poderá continuar a fazê-lo, pois, embora a empresa “Z” tenha direito adquirido, a lei de
ordem pública tem efeito retroativo.
c) poderá continuar a fazê-lo, pois a empresa “Z” tem direito adquirido, o qual obsta o efeito
imediato da lei nova.
d) poderá continuar a fazê-lo, pois a empresa “Z” tem direito adquirido, o qual obsta o efeito
retroativo da lei nova.
e) não poderá continuar a fazê-lo, pois, de acordo com as Normas de Introdução às Leis do
Direito Brasileiro, a lei nova possui efeito retroativo, seja de ordem pública ou não, e a empresa
“Z” não tem direito adquirido, devendo adequar-se ao novo regime jurídico.
O caso em pauta pode ser explicado de duas formas. Primeira: não há direito adquirido a regi-
me jurídico, de maneira que o conjunto de regras ambientais que autorizavam a empresa “Z” a
poluir (ou seja, o regime jurídico ambiental) pode ser modificado por nova lei, vedando poluição
daí para frente. Segunda forma: a empresa “Z” tinha apenas uma faculdade jurídica de poluir e,
como isso não é direito adquirido, ela perde a faculdade jurídica com a revogação da lei.
Letra a.
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da vontade do titular. A faculdade jurídica, por outro lado, consiste na possibilidade de o seu ti-
tular poder, se quiser, praticar um ato para adquirir um direito. A faculdade jurídica distingue-se
da expectativa de direito em razão de, na faculdade jurídica, o preenchimento do suporte fático
de aquisição do direito depender apenas de conduta do titular. É o caso, por exemplo, da facul-
dade de doar, de testar, de contratar. Se o titular não exercer essa faculdade, não poderá querer
exercê-la se sobrevier lei cassando-a. Se alguém não fez uma doação quando a lei permitia,
não poderá realizá-la após a superveniência de lei proibindo-a, pois inexistia direito adquirido a
doar, e sim mera faculdade jurídica, em desfavor de quem uma nova lei pode retroagir.
Alerte-se que a locução “faculdade jurídica” também pode ser empregada em um outro
sentido, como alerta Vicente Ráo. Trata-se de uma faculdade oriunda de um direito adquirido,
como, por exemplo, a faculdade de usar, fruir e dispor de um imóvel em razão de um direito real
de propriedade. Não é dessa percepção que estamos tratando ao afirmar que as faculdades
jurídicas não são protegidas contra a retroatividade.
É verdade que esses conceitos de expectativa de direito e de faculdade jurídica são confu-
sos, tanto que o mestre Clóvis Beviláqua os desqualificava afirmando que eles “nenhuma luz
trouxeram à questão, antes concorreram para obscurecê-la”. Entendemos que a maior con-
fusão está na falha distinção de duas espécies de faculdades jurídicas, pois, a nosso sentir,
sempre uma faculdade jurídica decorre de um direito subjetivo. A faculdade de doar decorre do
direito subjetivo de fazer doações. Por isso, parece-nos que seria mais didático simplesmente
se valer da expectativa de direito como conceito que abrangesse todas as situações de não
preenchimento total dos requisitos de aquisição de um direito, inserindo o conceito de mera
faculdade jurídica no de expectativa de direito.
Do fato de a expectativa de direito não ser direito adquirido decorre uma outra consequên-
cia: não há direito adquirido a regime jurídico, assim entendido o conjunto de regras que auto-
riza a aquisição de um direito automaticamente após a ocorrência de fatos predeterminados.
Novas leis podem mudar o regime jurídico, resguardado apenas os direitos cujos fatos aquisi-
tivos já tenham sido totalmente preenchidos por já haver aí direito adquirido.
À guisa de exemplo, a versão original Lei n. 8.112/1990 (art. 87) previa o direito à licença-
-prêmio: o servidor público tinha direito a três meses de folga a cada cinco anos de trabalho.
Servidores públicos à época dessa versão inicial não têm direito adquirido a permanecer com
esse regime jurídico generoso. Nova lei poderia extingui-lo, como, aliás, ocorreu em 1997, com
o advento da Lei n. 9.527/1997, que revogou o referido art. 87 e, no seu lugar, inseriu um outro
regime jurídico (o da licença-capacitação). Nesse caso, nenhum servidor público poderá alegar
direito adquirido a, após a lei, continuar recebendo novos direitos à licença após o transcurso
de novos quinquênios (situações jurídicas futuras). Se, em 1997, faltava apenas 2 anos para
um servidor completar um quinquênio de trabalho, esse servidor tinha mera expectativa de di-
reito de adquirir um período de licença-prêmio (três meses de folga), de maneira que a nova lei
atingirá essa situação jurídica pendente e o impedirá de completar o pressuposto fático. Não
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Na definição do art. 6º, § 3º, da LINDB, coisa julgada (= caso julgado) é definida como a
decisão judicial da qual não caiba mais recurso. É, em outras palavras, a decisão que “transi-
tou em julgado”, ou seja, que caminhou até se tornar um julgado. Essa definição é incompleta
e pode ser elucidada com estudos de Processo Civil, mas, para não escapar ao nosso objeto,
limitar-nos-emos a remeter ao art. 502 e seguintes do CPC, que detalha o tema. Basta-nos a
noção dada pela LINDB.
O fato é que a coisa julgada garante segurança jurídica ao impedir a contínua rediscussão
de questões já decididas judicialmente. Os romanos, nas suas típicas metáforas, afirmavam
que a coisa julgada faz do quadrado redondo e do branco preto. Isso significa que, se uma
sentença reconhecer uma pretensão de uma pessoa (ex.: o direito de um servidor a receber
uma gratificação) e transitar em julgado, nada mais há a fazer, ainda que a sentença tenha se
baseado em argumentos equivocados: o quadrado virou redondo. Nem mesmo uma nova lei
poderia ser editada para atingir esse direito reconhecido por uma coisa julgada, pois nenhuma
lei pode retroagir para prejudicar coisa julgada.
É evidente que a coisa julgada define um direito dentro dos limites fáticos e jurídicos vi-
gentes no momento da propositura da ação ou, no máximo, no caso de fatos supervenientes,
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até a data da decisão judicial. A coisa julgada tem, portanto, limites objetivos. Se, por exemplo,
alguém ganhou judicialmente um direito com base em uma Lei “X”, os limites objetivos da coi-
sa julgada não impedirão que esse beneficiário perca esse direito caso a uma nova lei venha
a revogar a Lei “X”, salvo se o direito previsto na Lei “X” era vitalício ou sujeito a um termo ou
condição resolutivo além da vigência dessa Lei. Nesse caso, a nova lei não está desafiando a
coisa julgada, e sim a lei sobre a qual se amparou a coisa julgada. Isso é lícito! O beneficiário
não poderá invocar a proteção da coisa julgada para preservar o seu direito. Cumpre-lhe recor-
rer a outro óbice constitucional, se for o caso.
Assim, por exemplo, se uma pessoa ganha judicialmente direito a receber um benefício as-
sistencial previsto por uma Lei “X” e com duração enquanto esta estiver em vigor, ela não terá
direito a continuar recebendo esse benefício assistencial caso essa lei venha a ser revogada2.
A coisa julgada lhe garantirá o benefício somente durante a vigência da Lei “X”, e não depois.
Há limites objetivos da coisa julgada. Do contrário, essa pessoa injustamente continuaria a
perceber um benefício assistencial que os demais indivíduos, que não precisaram de uma
ação judicial para receber esse benefício, perderam. O direito ao benefício assistencial somen-
te subsistiria se houvesse algum outro óbice constitucional a imunizá-lo diante dessa nova lei,
como um direito adquirido, o que não é o caso em pauta, pois a Lei “X” apenas garante o direito
ao benefício assistencial durante a sua vigência.
É raro haver um caso de lei que se volte contra uma coisa julgada, dada a manifesta incons-
titucionalidade. E é disso que a LINDB trata ao vedar a retroatividade contra a coisa julgada.
Todavia, fora da discussão de retroatividade de leis, podem-se discutir outras situações de
flexibilização da coisa julgada. A coisa julgada pode ser flexibilizada nas hipóteses processu-
almente admissíveis, como em ação rescisória (art. 966 do CPC), em defesa em execução de
sentenças inconstitucionais (arts. 525, § 12, e 535, § 5º, CPC) e em querela nullitatis insanabilis
(doutrina processual admite no caso de vícios transrescisórios, como o de falta de citação).
Essas hipóteses interessam mais ao Direito Processual.
Há, porém, uma outra situação de flexibilização da coisa julgada, de relevância para o Direi-
to Civil. Trata-se do caso de situações jurídicas que envolvam valores constitucionais que, no
caso concreto, devem ser prestigiados em detrimento da segurança jurídica.
Se, por exemplo, uma sentença transitasse em julgado ordenando o fuzilamento de um
devedor, essa sentença poderia ser flexibilizada a qualquer momento, por violar o direito à vida,
que, no caso concreto, deve preponderar sobre o valor da segurança jurídica.
2
A observação é feita levando em conta benefícios assistenciais que são outorgados apenas enquanto houver lei. Por exem-
plo, o famoso benefício assistencial do “Bolsa Família” só é dado enquanto houver lei para tanto. Se revogarem a lei do
“Bolsa Família”, ninguém mais vai continuar recebendo-o, pois não se trata de um benefício vitalício. O mesmo se dá com
o benefício assistencial da Lei Orgânica de Assistência Social. A questão trata desses casos. Se, porém, se tratasse de um
benefício vitalício ou com um termo ou condição resolutivos para além da vigência da lei, a solução seria diferente: a revo-
gação da lei não iria subtrair o direito daqueles que já tiverem adquirido esse direito, o qual só se extinguirá com a superve-
niência do termo ou condição resolutivos pertinentes.
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Veja também esta matéria: http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Negativa-de-
-paternidade-transitada-em-julgado-nao-pode-ser-relativizada-sem-duvida-razoavel.aspx.
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Quanto aos efeitos, a retroatividade pode ser dividida em três espécies: (1) máxima: é a
máxima intensidade de uma retroatividade, pois a nova lei atinge efeitos pretéritos, pendentes
e futuros de um ato pretérito; (2) média: a nova lei atinge apenas efeitos pendentes e futuros
de um ato pretérito; (3) mínima: a nova lei atinge apenas os efeitos futuros de um ato pretérito.
Ao se tratar de norma constitucional originária (NCO) – aquela que é produzida pelo oni-
potente Poder Constituinte Originário (que, ao elaborar uma nova Constituição, é ilimitado e,
portanto, pode estabelecer o que lhe aprouver como regra4) –, o STF firmou que: (1) toda NCO
possui retroatividade mínima, independentemente de previsão expressa; e (2) a NCO pode ter
retroatividade média ou máxima, desde que haja comando expresso nesse sentido. A ideia
subjacente a isso é a de que, na sua onipotência, o Poder Constituinte Originário não é obri-
gado a assistir, no novo Estado que ele constituiu, a uma situação jurídica que ele abominou,
ainda que seja procedente de um ato jurídico perfeito, de uma coisa julgada ou de um direito
adquirido anterior à CF. Por isso, qualquer NCO possui retroatividade mínima automaticamen-
te. Lembre-se de que foi o Poder Constituinte Originário quem estabeleceu a proteção ao di-
reito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito, de maneira que ele pode, se quiser,
flexibilizá-los. Seja como for, para haver retroatividade média ou máxima, aí já há necessidade
de comando expresso em NCO.
4
Por falta de pertinência temática, deixa-se de lado aqui as discussões de Direito Constitucional acerca da existência de
limites supradispositivos para o Poder Constituinte Originário.
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A título de ilustração, suponha que a CF, na sua versão inicial, tivesse proibido a cobrança
de juros remuneratórios acima de 12% a.a. em qualquer contrato bancário. Nesse caso, há uma
NCO a abominar a cobrança de juros acima desse patamar, de maneira que quem havia se
comprometido a pagar 20% a.a. de juros por meio de um contrato de empréstimo bancário (ato
jurídico perfeito) celebrado antes da CF está livre da obrigação de pagar juros acima de 12%
a.a. relativamente às prestações que se vencerem após o advento da CF. Os efeitos futuros à
CF do referido contrato deverão submeter-se à NCO (retroatividade mínima), porque nada, nem
mesmo um contrato, poderá fazer o onipotente Poder Constituinte Originário testemunhar a
algo que ele repugnou. A CF, todavia, não atingirá as prestações vencidas e pagas antes da CF
(retroatividade máxima) nem as prestações que, embora tenham vencido antes da CF, estão
pendentes de pagamento (retroatividade média), pois inexiste determinação expressa para
tanto. Essas prestações seguirão sujeitas à taxa de juros de 20% a.a.
Ao se tratar, porém, de normas que não são constitucionais originárias, como as emendas
à Constituição e as demais normas infraconstitucionais, todas elas devem estrito respeito à
proibição de retroatividade contra os óbices constitucionais, pois essa vedação foi instituída
pelo onipotente Poder Constituinte Originário como cláusula pétrea. Diante disso, se a norma
não for constitucional originária, ela jamais poderá exibir qualquer tipo de retroatividade, se-
quer mínima, quando se deparar com algum óbice constitucional.
Assim, no caso ilustrativo acima, se a proibição de cobrança de juros acima de 12% tivesse
sido imposta por uma lei ordinária, nenhuma das prestações do contrato de empréstimo ban-
cário seriam atingidas, nem mesmo as vencidas posteriormente a essa nova lei, sob pena de
violação ao ato jurídico perfeito. Todas as prestações, vencidas e vincendas, sujeitar-se-iam à
taxa contratada de juros, a de 20% a.a.
Portanto, diante de óbices constitucionais, não se admite retroatividade alguma, sequer
mínima, salvo para as normas constitucionais originárias, que possuem retroatividade mínima
automática e, se contiverem comando expresso, podem ter retroatividade máxima e média.
Na CF, há dois casos de retroatividade máxima. A primeira é a prevista no art. 51 da ADCT,
que autorizava, nos três anos seguintes à CF, o desfazimento de doações de grandes faixas de
terras públicas entre 1962 e 1987. Quem estivesse vivendo em um imóvel adquirido da União
em 1963 de acordo com as leis da época ficaria sujeito a perder a propriedade diante de uma
nova norma, a CF/1988. Essa situação, por ser flagrantemente controversa em matéria de
justiça, nunca foi implementada na prática. A segunda hipótese de retroatividade máxima é a
prevista no art. 231, § 6º, da CF, que extinguiu todos os títulos de propriedades em terras indí-
genas sem direito à indenização. Quem, por exemplo, comprou um imóvel da União na década
de 1940 e nele edificou toda a sua vida iria ver esse contrato de compra e venda totalmente
desfeito por força desse dispositivo constitucional e, ainda por cima, ficaria sem indenização.
Haveria de, para servir-se de metáfora, ir morar debaixo da ponte para entregar o imóvel aos
indígenas. Esse caso de retroatividade máxima vem encontrando sólidas resistências e tem
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ocasionado cruentos conflitos com muitas mortes. A nosso sentir, a falta de indenização aos
titulares de imóveis nas áreas indígenas é uma rombuda injustiça e assemelha-se a um ato me-
dieval de extermínio de vassalos pelo arbitrário suserano. No mínimo, temos que a CF deveria
ter assegurado o direito à indenização, a ser paga pelo ente público.
Por fim, entendemos que qualquer norma constitucional originária poderá ter retroatividade
média automaticamente diante de situações jurídicas de grave violação a direitos fundamen-
tais. Basta imaginar uma hipótese de um contrato que estabeleça uma pena de tortura contra
o devedor. Supondo-se que essa cláusula fosse válida à época de sua celebração, o fato é que,
sobrevindo a CF/88 a proibir penas corporais por dívidas, não se poderia admitir a aplicação
dessa cláusula em hipótese alguma, ainda que a inadimplência já tenha ocorrido e a inflição da
pena de tortura esteja pendente de ocorrer à época do advento da CF (retroatividade média).
Até mesmo situações de retroatividade máxima podem ser admitidas quando houver grave
violação a direito fundamental, a exemplo do exemplo hipotético de um contrato de compra de
uma pessoa que, embora fosse válido à época de sua celebração no presente caso cerebrino,
seria tido por desfeito com o advento da CF/88.
O ato jurídico perfeito abrange apenas as questões que se enquadrem em situações jurídi-
cas individuais, assim entendidas as questões que são formadas por ato de vontade. Assim,
por exemplo, o preço de um produto pactuado num contrato é uma situação jurídica individual,
pois decorre de um ato de vontade. Nenhuma lei posterior pode atingir essa situação, pois se
cuida de ato jurídico perfeito.
O ato jurídico perfeito não abarca, porém, situações jurídicas institucionais ou estatutárias,
que não são formadas por ato de vontade, e sim por normas gerais e abstratas de ordem públi-
ca, e que somente criam um direito adquirido após a ocorrência dos fatos exigidos por essas
normas. É irrelevante que, no contrato, haja previsão dessas situações jurídicas institucionais,
pois essas questões não se formam por ato de vontade, e sim pelas normas cogentes gerais e
abstratas. Nesse caso, enquanto não preenchido o suporte fático previsto para essas situações
jurídicas institucionais, não há direito adquirido, de modo que nova lei atingirá essa situação.
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Não há falar em retroatividade quando sobrevém uma norma que apenas positiva regras
que já existiam anteriormente com base em princípios. A nova lei traz uma pseudonovidade.
Nesse caso, os atos praticados antes da nova lei serão disciplinados de acordo com os princí-
pios então vigentes, o que desaguará em conclusões coincidentes com a proposta pela nova lei.
O STJ já aplicou essa lógica ao analisar um pedido de falência feito antes da atual Lei de
Falências (Lei n. 11.101/2005) com fundamento no inadimplemento de uma dívida de valor
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inferior a 40 salários-mínimos. Nesse caso, não se poderia aplicar a nova Lei de Quebra, pois
isso seria retroatividade contra um ato jurídico perfeito (a propositura da ação ocorreu antes
de 2005). O art. 94, I, da nova Lei de Falência proíbe pedido de falência quando a dívida é in-
ferior a 40 salários-mínimos, em homenagem ao princípio da conservação da empresa. O STJ
não aplicou esse dispositivo da nova lei, pois isso seria retroatividade. Adotou outro caminho;
afirmou que, antes da nova Lei de Falência, vigorava o princípio da conservação da empresa e,
com base nesse princípio, o STJ entendeu não ser lícita a quebra de uma empresa por uma dívi-
da diminuta, assim entendida qualquer uma de valor inferior a 40 salários-mínimos. Com base
nesse princípio vigente à época do pedido de falência, o STJ negou o pedido de falência por ser
inferior a 40 salários-mínimos (REsp 850.624, 3ª T., Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 21/08/2009).
Além do mais, o art. 2.035 do CC, ao dispor que os efeitos de atos jurídicos anteriores ao
CC/2002 devem sujeitar-se a esse novo Código se forem produzidos na vigência deste, pa-
rece anunciar uma retroatividade mínima, o que seria inconstitucional. Todavia, para conferir
interpretação conforme à CF para esse dispositivo, o mais adequado é entender que esse
dispositivo só se aplica aos casos de normas do CC/2002 que tenham positivado regras que
anteriormente já encontravam suporte nos princípios do ordenamento. Dessa forma, não se
falará de retroatividade, e sim de aplicação de princípios jurídicos vigentes à época da prática
do ato e que desaguam em solução jurídica coincidente com as normas escritas do CC/2002.
Foi nesse sentido que doutrinariamente se posicionou a Ministra Nancy Andrighi.
Em alentado estudo sobre a bem recente Lei, os Consultores Legislativos Carlos E. Elias de Oliveira
e Bruno Mattos e Silva expõem a questão com clareza e apresentam suas conclusões:
‘A nova lei só poderá atingir contratos celebrados posteriormente à entrada em vigor. Não poderá,
jamais, atingir contratos anteriores, nem mesmo os efeitos futuros desse contrato, porque a retroa-
tividade – ainda que mínima – é vedada no direito brasileiro para normas que não sejam constitucionais
5
OLIVEIRA, Carlos E. Elias; SILVA, Bruno Mattos e. A recente Lei do Distrato (Lei n. 13.786/2018): o novo cená-
rio jurídico dos contratos de aquisição de imóveis em regime de incorporação imobiliária e em loteamento.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-jan-09/opiniao-lei-distrato-contratos-aquisicao-imoveis. Ela-
borado em 6 de janeiro de 2018.
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originárias. A propósito, reportamos o leitor a excelente artigo da Ministra Fátima Nancy Andrighi e
também ao texto “Caso dos planos de saúde a retroatividade das leis”.
Assim, se, após a entrada em vigor da nova lei, um consumidor incorrer em inadimplência em rela-
ção a um contrato antigo, o caso deverá ser disciplinado pela legislação anterior. Não pode a nova
lei incidir, sob pena de se chancelar uma retroatividade mínima para a nova lei, o que seria inconsti-
tucional.
De qualquer forma, por uma manobra astuciosa, há a possibilidade de os tribunais, à luz da le-
gislação anterior, mudarem seus entendimentos para chegarem a um resultado igual ao da nova
lei, especialmente quando a questão tiver sido tratada com base na volatilidade de princípios e de
cláusulas abertas. Assim, por exemplo, os tribunais costumavam considerar abusivas as multas
compensatórias acima de 15% do valor pago contra o consumidor e, para tanto, valia-se do conceito
aberto de abuso de direito previsto nos arts. 413 do CC e 51 do CDC. Os tribunais poderiam, basean-
do-se nesse mesmo conceito aberto, passar a entender que a multa compensatória poderia chegar
a 25% ou a 50% conforme haja ou não patrimônio de afetação, tudo de modo a chegar ao mesmo
resultado prático da nova lei. Entendemos, porém, que essa manobra seria indevida e jamais deveria
ser admitida pelos tribunais para o caso em específico, pois, além de os referidos percentuais serem
alarmantes à luz do ordenamento jurídico anterior à nova lei, a orientação consolidada dos tribunais
gera legítima expectativa nos indivíduos, que, confiando nela, celebram contratos e propõem ações
judiciais. Mudar jurisprudência consolidada gera insegurança jurídica. Seja como for, caso os tri-
bunais venham a mudar o seu entendimento, eles devem, no mínimo, modular os efeitos por dois
motivos.
O primeiro motivo é que o próprio CPC protege essa boa-fé e essa segurança jurídica, recomen-
dando a modulação de efeitos da mudança de jurisprudência consolidada a fim de que o novo en-
tendimento só se aplique para ações judiciais posteriores (art. 927, § 3º, CPC). O segundo é que,
ao nosso sentir, essa modulação dos efeitos é exigência do princípio constitucional da segurança
jurídica e da legalidade. É que a norma jurídica tem de ser prévia. E, por norma jurídica, há de en-
tender-se não apenas o texto legal, mas também a sua interpretação, pois, como é consabido, lei é
texto e contexto.
Portanto, seria inconstitucional mudança de jurisprudência consolidada para atingir ações judiciais
anteriores.
Desse modo, temos que, na hipótese de os tribunais vierem a mudar sua jurisprudência consolidada
para chegar a um resultado similar ao da nova lei, é dever deles aplicar essa nova orientação apenas
para ações judiciais propostas posteriormente à nova lei, sob pena de ferir os princípios constitucio-
nais da segurança jurídica e da legalidade. (Disponível em Acesso em: 23 de março de 2019)’
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mínima e a outras condições contratuais. De fato, segundo o art. 10, § 2º, e o art. 35-E da LPS
6
A razão de decidir do STF pode ser assim resumida: nenhuma nova lei pode determinar que
contratos anteriores se adaptem a essa nova lei em determinado prazo, sob pena de ofensa ao
ato jurídico perfeito. No seu voto, o Ministro Marco Aurélio consignou que “o legislador, com o
6
Essa cobertura mínima é o chamado “plano de referência”.
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etc., os quais não passam de meros atos administrativos de índole normativa). Como se vê,
o critério hierárquico acaba sendo absorvido pela doutrina do direito constitucional dentro do
tema de controle de constitucionalidade (é nula norma infraconstitucional posterior que viole
a CF), da teoria da recepção de normas (CF revoga normas anteriores e inferiores que forem
incompatíveis) e dos limites do poder regulamentar (os atos infralegais não podem contrariar
as espécies legislativas). Dessa forma, o CC/2002, por ser posterior ao CC/1916, prevalece so-
bre este último por conta do critério cronológico: isso é um exemplo de antinomia de primeiro
grau. Toda antinomia de primeiro grau é aparente.
A segunda espécie é a antinomia de segundo grau, que se reporta a casos em que dois cri-
térios normativos passam a estar em conflito. É um nível superior (um segundo grau) de con-
flito: no primeiro grau, foca-se as normas em conflito; no segundo grau, os critérios normativos
em conflito. O nosso ordenamento prevê a solução normativa apenas nos conflitos envolvendo
o critério cronológico, fazendo-o ceder diante do critério da especialidade (art. 2º, § 2º, da
LINDB) e do hierárquico (implícito na CF). Portanto, a antinomia de segundo grau será aparen-
te apenas nesses casos (cronológico vs especialidade; cronológico vs hierárquico). Quando,
porém, houver conflito entre os critérios da especialidade com o hierárquico, não há solução
normativa prévia; temos uma antinomia real, portanto, de sorte que o juiz deverá, no caso con-
creto, buscar a solução mais justa (princípio da máxima justiça). Se, por exemplo, uma norma
superior estabelece que os cães-guia estão proibidos de entrar no circo (norma geral, pois trata
dos animais em geral) e uma norma inferior autoriza a entrada de cegos com cães-guia no cir-
co (norma especial, pois só trata apenas dos cães-guia), vê-se que cada critério conduz a uma
resultado diferente: pelo critério hierárquico, a norma inferior não prevalece e, portanto, cego
não poderia entrar com cão-guia, mas, pelo critério da especialidade, a norma inferior – por
ser especial – prevalecerá em relação à permissão da entrada de cães-guia. Deve-se buscar a
solução mais justa. Para nós, a mais justa é fazer prevalecer o critério hierárquico e censurar a
entrada do cão-guia. Por quê? Porque, no circo, algum animal que esteja fazendo o espetáculo
(suponha ser permitido) poderá estranhar o cão-guia e avançar na plateia. Há justo motivo para
impedir a entrada de cão-guia, à semelhança da vedação de entrada de cães-guia em ambiente
de UTI (evitar contaminação nos internados). Portanto, a antinomia de segundo grau pode ser
aparente ou real, a depender do tipo de conflito.
A terceira espécie é a antinomia de terceiro grau, que envolve o conflito entre os três crité-
rios normativos (cronológico, especialidade e hierárquico). Inexiste solução normativa a tanto,
de sorte que sempre esse tipo de antinomia será antinomia real.
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O Diálogo das Fontes foi desenvolvido no Brasil inicialmente por Cláudia Lima Marques, que
importou essa teoria do jurista alemão Erik Jaime (canadense radicado na Alemanha, onde é
docente), que a utilizada para resolver conflitos entre as Diretivas da Comunidade Europeia e
as normas internas dos países-membros.
O Diálogo das Fontes rejeita os critérios tradicionais de solução de antinomia (cronológico,
hierárquico e da especialidade), por considerá-los pobres diante da complexidade do mundo
atual. No lugar de suprimir uma das normas em conflito, o Diálogo das Fontes propõe coorde-
ná-las. Em suma, o Diálogo das Fontes propõe a aplicação harmônica, simultânea, coerente e
coordenada de diversas normas (= fontes legislativas), sempre com vistas a atender ao valor
do bem tutelado, à luz do ordenamento jurídico. Assim, no caso envolvendo consumidor, have-
rá de ser aplicado concomitantemente as diversas fontes normativas existentes (como o CDC
e o NCC), com o escopo de proteger o consumidor, parte hipossuficiente da relação jurídica,
tendo em vista que a própria Constituição Federal assinala para essa diretriz ao prestigiar a
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), o solidarismo (art. 3º, I) e a defesa do consumidor
(arts. 5º, XXXII, e 170, V).
Na doutrina, são apontadas três espécies de Diálogo das Fontes: (1) Diálogo sistemático de
coerência: uma lei serve de base conceitual para outra. Exemplo: em um contrato de compra e
venda de consumo, deve-se aplicar o CDC concomitantemente com o CC, para extrair deste úl-
timo as regras básicas do contrato de compra e venda; (2) Diálogo sistemático de complemen-
tariedade e subsidiariedade: uma lei completa a outra, complementando-a ou suprindo-lhe uma
lacuna. Exemplo: em um contrato de consumo e de adesão, a incidência do CDC não excluirá
a aplicabilidade dos arts. 423 e 424 do NCC, que protegem o aderente; (3) Diálogo de coorde-
nação e adaptação sistemática (também designado de Diálogo de influências recíprocas): leis
gerais e especiais influenciam-se mutuamente, num diálogo de duplo sentido. Exemplo: o CC
pode influir na conceituação do que seja consumidor.
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O STJ vem admitindo o Diálogo das Fontes, especialmente na modalidade mais inovadora,
que é a do Diálogo de influências recíprocas, aplicando simultaneamente mais de uma norma
em conflito.
É verdade que o diálogo das fontes foi negado em ações de indenização movidos por filhos
de fumantes falecidos, que, com base na teoria do Diálogo das Fontes, reivindicavam a aplica-
ção do prazo prescricional de vinte de anos previsto no CC/16, e não o lapso prescricional de
cinco anos do CDC. O STJ, rejeitando o Diálogo das Fontes, adotou o critério da especialidade
para optar pela aplicação do CDC, o qual, além de conceder bônus ao consumidor (como a
inversão do ônus da prova), carregaria também ônus (como um menor prazo prescricional).
Confira-se: STJ, AgRg no AREsp 49.191/SP, 3ª T., Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 21/05/2012.
A mesma Corte Máxima, todavia, admitiu o diálogo das fontes em ação de indenização
movida contra hospital, por ter o paciente sofrido necrose em um de seus braços após erro
médico consistente na aplicação indevida de fármaco. Nesse caso, o STJ afastou o prazo pres-
cricional de cinco anos do CDC para convidar o elástico prazo vintenário do CC/16 (STJ, REsp
841051/RS, 3ª T., Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 19/11/2010).
O STJ admite, pacificamente, o Diálogo das Fontes em sede ações de execução fiscal,
afastando a ordem de bens penhoráveis da Lei de Execução Fiscal (art. 11 da Lei n. 6.830/80)
em favor da lista do art. 655 do CPC/1973, pois esta última foi fruto de alteração feita pela Lei
n. 11.382/2006 para viabilizar a tramitação mais célere do processo, em conformidade com o
direito fundamental à duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF). Confira-se: STJ, REsp
1241063/RJ, 2ª Turma, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 13/12/2011.
Amigos e amigas, resolvam exercícios agora. Separamos vários para vocês se divertirem
ao final desta aula. E não deixem de nos falar acerca das suas impressões sobre essa nossa
aula. Temos nosso Facebook (Carlos Eduardo Elias de Oliveira), nosso Instagram (@profcar-
loselias e @direitoprivadoestrangeiro), nosso e-mail (carloseliasdeoliveira@yahoo.com.br) e
também a plataforma virtual aqui. Foi um prazer estar com vocês nesta primeira aula.
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QUESTÕES DE CONCURSO
010. (MPE-GO/PROMOTOR/MPE-GO/2019/ADAPTADA) Salvo disposição contrária, a lei co-
meça a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada, contu-
do, nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três
meses depois de oficialmente publicada.
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três
meses depois de oficialmente publicada.
Certo.
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue
[princípio da continuidade ou da permanência da lei]
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare [revogação expressa], quando
seja com ela incompatível [revogação tácita] ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava
a lei anterior [revogação tácita].
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior [critério da especialidade como resolução de conflitos de normas].
Certo.
Vigência só pode começar a partir da publicação da lei. Não pode começar antes disso. Não
pode, por exemplo, determinar a entrada em vigor na fase de aprovação do projeto de lei pelo
Congresso Nacional, pois sequer a lei nasceu e sequer foi divulgada à população.
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De fato, a formação da lei ocorre em três fases: (1) processo legislativo; (2) promulgação; e
(3) publicação. É só a partir dessa terceira fase que se pode iniciar a vigência, respeitado, se
houver, o prazo de vacatio legis. Afinal de contas, é só com a publicação que todos tomaram
ciência da lei e, assim, poderão obedecer-lhe.
Errado.
Não é a partir do “momento de aprovação da lei pelo Poder Legislativo”, e sim a partir da publi-
cação da lei.
Errado.
É o art. 1º, caput, da LINDB: a lei pode prever prazo de vacatio legis diverso do de 45 dias.
Certo.
A regra é 45 dias de vacatio legis, salvo disposição contrária. Não é 90 dias (art. 1º, LINDB).
Errado.
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É a vacatio legis, que, salvo disposição em contrário, é de 45 dias (art. 1º, LINDB).
Errado.
Para a contagem do prazo de vacatio legis, inclui-se o dia da publicação e também o último dia
do prazo: “a lei tem pressa em entrar em vigor”. A lei entra em vigor no dia seguinte à consu-
mação do prazo (art. 8º, § 1º, da Lei Complementar n. 95/1998). E evidentemente é irrelevante
se há feriados ou finais de semana, pois a lei tem de ser obedecida em dias úteis e em dias
não úteis. A Lei Complementar não prevê suspensão da contagem do prazo em dias não úteis
exatamente por esse motivo. Assim, na questão acima, está errada a questão, porque o prazo
de vacatio legis começa a correr no dia 12 de fevereiro mesmo. Não importa se o dia 12 de
fevereiro era dia útil ou não. Veja, por fim, o texto do art. 8º, § 1º, da LC n. 95/1998:
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável
para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua
publicação” para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância
far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subsequente à sua consumação integral.
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor
após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial.
Errado.
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Há revogação expressa (nova lei textualmente determina revogação) ou tácita (nova lei é in-
compatível com a anterior ou regula inteiramente a matéria da lei anterior), conforme art. 2º, §
2º, da LINDB. Por isso, está errado o item.
No mais, o item estaria correto: ab-rogação é a revogação total (= revogação de toda a lei an-
terior), ao passo que derrogação é a revogação parcial (= revogação de apenas alguns artigos
da lei anterior).
Errado.
Ultratividade é a aplicação da lei já revogada para fatos ocorridos durante sua vigência. É a
regra do nosso ordenamento jurídico: se, em 2040, o juiz for julgar um fato ocorrido em 2010, o
juiz tem de aplicar a lei que estava em vigor na época, ainda que essa lei já tenha sido revogada.
Se a lei já tiver sido revogada, haverá o que se designa de ultratividade: a lei está tendo “ativi-
dade” mesmo depois de revogada (daí o nome “ultratividade”).
Cuidado: a ultratividade é admitida no Direito Brasileiro apenas no caso de aplicação da lei re-
vogada para fatos ocorridos durante sua vigência, e não para fatos posteriores a essa vigência.
Para fatos posteriores, deve-se aplicar a lei que estiver em vigor. Não há nenhum artigo legal
explícito sobre isso; trata-se de uma decorrência lógica do nosso sistema jurídico.
Certo.
A ultratividade é admitida na hipótese de lei revogada continuar regendo fatos ocorridos duran-
te sua vigência.
Errado.
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O prazo de vacatio legis se reinicia com a republicação, conforme art. 1º, § 3º, da LINDB:
Art. 1º, § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Errado.
O prazo de vacatio legis se reinicia com a republicação, conforme art. 1º, § 3º, da LINDB:
Art. 1º, § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Errado.
É o princípio da obrigatoriedade da lei, que estabelece uma presunção relativa (admite prova
em contrário) de que todos conhecem a lei e que está no art. 3º da LINDB, que dispõe:
É o art. 5º da LINDB:
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum.
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Esse dispositivo precisa ser lido em conjunto com o art. 8ª do CPC, que assim dispõe:
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionali-
dade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Certo.
O desuso não revoga lei no Direito Brasileiro. Só lei pode revogar uma outra lei, seja de modo
explícito, seja de modo tácito. É o que se extrai do art. 2º, § 1º, da LINDB.
Errado.
A regra é a vedação da repristinação. A exceção é quando há lei em sentido contrário, tudo por
força do § 3º do art. 2º da LINDB, in verbis:
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
vigência [repristinação é vedada, salvo lei contrária].
Errado.
A repristinação é vedada, salvo disposição em contrário (art. 2º, § 3º, da LINDB). Logo, no caso
da questão, a primeira lei, que havia sido revogada, não será restaurada, porque não houve lei
expressa determinando a repristinação.
Errado.
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DIREITO CIVIL
LINDB – Parte I
Carlos Elias
Antinomia aparente é aquele conflito de lei que pode ser resolvido por meio de alguma solução
normativa, como os critérios cronológico, hierárquico e da especialidade. Antinomias reais são
aquelas para as quais não há uma solução normativa, de maneira que o juiz terá de resolvê-las
por meio do princípio da máxima justiça. Logo, está correta a questão: a forma de resolver
cada uma das antinomias é diferente, razão por que é essencial distingui-las.
Certo.
Os critérios citados são soluções normativas e, por isso, são adequados para resolver antino-
mias aparentes. Antinomia real é aquela para a qual não há solução normativa, razão por que é
necessário aplicar o princípio da máxima justiça. Por isso, está errada a questão. Além disso,
antinomias é conflito de leis, e não de princípios jurídicos. Para conflitos de princípios jurídicos,
há outras ferramentas a serem utilizadas, como o método da ponderação de Robert Alexy, que
é utilizado para colisão de princípios constitucionais. A parte final da questão, portanto, tam-
bém está errada.
Errado.
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DIREITO CIVIL
LINDB – Parte I
Carlos Elias
Todas as leis, mesmo as de ordem pública, são sujeitas ao princípio da irretroatividade das
leis. Segundo esse princípio, em regra, a lei nova se aplica a fatos futuros. Lei não é para disci-
plinar o passado, e sim o futuro.
Certo.
Apesar de a irretroatividade ser a regra geral (princípio da irretroatividade das leis), uma lei até
pode retroagir, desde que não viole os óbices constitucionais (direito adquirido, ato jurídico
perfeito e coisa julgada), conforme art. 6º da LINDB e art. 5º, XXXVI, da CF.
Errado.
É o art. 6º da LINDB:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efe-
tuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterá-
vel, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.”
Certo.
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DIREITO CIVIL
LINDB – Parte I
Carlos Elias
Direito adquirido é aquele cujo titular já preencheu todos os requisitos de aquisição do direito.
Se ainda não foram preenchidos todos os requisitos de aquisição, há mera expectativa de di-
reito, e não direito adquirido. É o que ensinam a doutrina e a jurisprudência.
Esse direito adquirido pode decorrer de uma relação jurídica (assim entendido aquele vínculo
jurídico existente entre duas ou mais pessoas, como de um contrato) ou não. Não importa a
origem. O que importa é a aquisição do direito.
Se, por exemplo, eu pesco um peixe (coisa sem dono), eu adquiro o direito de propriedade so-
bre o peixe. Trata-se de um direito adquirido que nasceu de um ato jurídico que não se caracte-
riza como uma relação jurídica.
Se eu tivesse comprado o peixe de alguém (contrato de compra e venda), o meu direito adqui-
rido de propriedade sobre o peixe teria decorrido de uma relação jurídica (o contrato).
Em ambos os casos, há direito adquirido.
Certo.
Lei nova se aplica a fatos posteriores, e não a fatos anteriores, pois a regra é a irretroatividade
das leis. Não importa se a lei nova é mais benéfica ou não. A única exceção a tanto é no caso
de lei penal mais benéfica ao réu, pois ela pode retroagir por determinação do art. 5º, XL, da CF.
Isso só vale para direito penal, como na hipótese de a lei nova abolir um crime. Na questão, es-
tá-se a falar de relação civil, razão por que não há falar em retroatividade de lei mais benéfica.
Errado.
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LINDB – Parte I
Carlos Elias
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três
meses depois de oficialmente publicada.
§ 2º (REVOGADO)
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o
prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Certo.
A vacatio legis da lei no estrangeiro será de 3 meses (art. 1º, § 1º, da LINDB).
Errado.
045. (CESPE/SE-DF/2017) Caso uma lei nova não dispuser sobre a data de início da sua vi-
gência, entende-se que ela entrará em vigor na data da sua publicação.
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LINDB – Parte I
Carlos Elias
O prazo de vacatio legis é de 45 dias, se nada for previsto em contrário (art. 1º, LINDB). Além
do mais, feriados e finais de semana são irrelevantes para a entrada em vigor da lei, pois as leis
também têm de ser obedecidas nesses dias não úteis. Por isso, está errada a questão.
Errado.
A vacatio legis consiste no intervalo entre a publicação e a vigência da lei, nos termos do art.
1º da LINDB.
Errado.
É a definição de vacatio legis, que, em regra, é de 45 dias nos termos do art. 1º da LINDB.
Certo.
Segundo art. 1º da LINDB, salvo disposição em contrário, o período de vacatio legis será de 45
dias. Em outras palavras, o legislador pode determinar um lapso temporal específico.
Certo.
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LINDB – Parte I
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É o art. 1º da LINDB.
Letra b.
É o art. 1º da LINDB.
Letra e.
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LINDB – Parte I
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É o art. 1º da LINDB.
Letra b.
A lei só poderá entrar em vigor em algum momento posterior à publicação, após a vacatio le-
gis. Antes disso, nem mesmo os cidadãos têm ciência da lei, pois ela não foi publicada, o que
inviabilizaria a sua obediência. Além do mais, após a aprovação pelo Congresso Nacional, a lei
ainda depende de sanção do Presidente da República (se for lei ordinária ou lei complementar)
e de promulgação para completar.
Errada.
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Certo.
É admitido posteriormente também, mas aí se terá uma lei nova, conforme art. 1º, § 4º da LINDB:
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Errado.
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LINDB – Parte I
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Como o art. 1º da LINDB cuida de vacatio legis abrangendo apenas espécies legislativas, ele
não se aplica às normas infralegais, pois estas não são espécies legislativas (não estão no art.
59, CF), e sim espécies de atos administrativos de índole normativo.
Errado.
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incom-
patível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
vigência.
Errado.
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LINDB – Parte I
Carlos Elias
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incom-
patível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
vigência.
Errado.
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LINDB – Parte I
Carlos Elias
É a definição de ultratividade. O juiz aplica a lei da época do fato analisado, ainda que essa lei
tenha sido revogada. A lei revogada continua em vigor mesmo após sua revogação para os
fatos ocorridos na sua vigência.
Certo.
A ultratividade é uma exceção mesmo à regra geral de que a lei só se aplica enquanto esti-
ver vigente.
Certo.
Jamais o desuso pode retirar a eficácia de uma lei, conforme doutrina majoritária. É o que se
extrai do caput do art. 2º da LINDB:
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incom-
patível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
vigência.
Errado.
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LINDB – Parte I
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Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efe-
tuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterá-
vel, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
Certo.
068. (CESPE/TÉCNICO JUDICIÁRIO/STJ/2018) Lei em vigor tem efeito imediato e geral, res-
peitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
É o art. 6º da LINDB:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efe-
tuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterá-
vel, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
Certo.
Derrogação é a revogação de PARTE da lei. Quando a revogação for TOTAL estaremos diante da
ab-rogação.
Errado.
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LINDB – Parte I
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É o art. 4º da LINDB:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
Letra d.
A antinomia de segundo grau se reporta a casos em que há dois critérios normativos em con-
flito, como se dá na hipótese, em que há conflito entre o critério da especialidade e o critério
da cronológica.
Certo.
073. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015) O negócio jurídico celebrado durante a vacatio de uma lei que o
irá proibir é
a) anulável, porque assim se considera aquele em que se verifica a prática de fraude.
b) nulo, por faltar licitude ao seu objeto.
c) inexistente, porque assim se considera aquele que tiver por objetivo fraudar lei imperativa.
d) válido, porque a lei ainda não está em vigor.
e) ineficaz, porque a convenção dos particulares não pode derrogar a ordem pública.
É válido, porque, durante a vacatio legis, a nova lei não está em vigor.
Letra d.
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LINDB – Parte I
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GABARITO
10. C 46. E
11. C 47. E
12. E 48. E
13. E 49. E
14. C 50. C
15. E 51. C
16. E 52. b
17. E 53. e
18. E 54. b
19. E 55. E
20. E 56. C
21. E 57. E
22. C 58. E
23. E 59. E
24. C 60. E
25. E 61. E
26. E 62. d
27. C 63. a
28. C 64. C
29. E 65. C
30. E 66. E
31. E 67. C
32. C 68. C
33. C 69. E
34. C 70. d
35. E 71. E
36. C 72. C
37. C 73. d
38. E
39. C
40. C
41. E
42. C
43. E
44. E
45. E
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Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
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