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Carta Endereçada aos Leitores

Olá caro leitor. Fico feliz em te apresentar a primeira parte de


A ORDEM PARANORMAL-BOOK

Antes que comece a leitura, gostaria de deixar claro quatro coisinhas:


1. Nem Cellbit, nem ninguém do grupo de jogadores de AOP
sabem da existência disso. Gostaria, mas não sabem.
2. Tomei a liberdade de escrever minhas próprias descrições, com
base no que o Cellbit apresentou no vídeo, mas todas as falas
originais estão aí, e eu tentei trazer o conteúdo mais completinho
possível. Não há nenhuma imagem aqui. Apenas palavras.
3. Eu escrevi tudo sozinha. Palavra por palavra.

A número 4 é a mais importante.

4. Essa é a primeira parte, de um possível total de seis partes que


irei produzir. A única coisa que irá definir se essa será a única ou
não, vai ser o engajamento de vocês.
Se vocês curtirem, eu produzo mais, e no futuro esse documento
será parte de um livro completo.
(e talvez tenham outros, de OSNF, Desconjuração e Calamidade)

Ah....me esqueci de algo importante. Apreciem fervorosamente,


riam, chorem e relembrem cada momento que eu mesma
relembrei produzindo isso <3

Atenciosamente, Yasmin Machado


É madrugada. O céu está sem muitas estrelas e é possível ver a lua nova brilhando.
Uma camada espessa de fumaça a cobre completa e rapidamente.
A fumaça vem de um prédio grande e antigo. Há um caminhão de bombeiros
estacionado na frente e uma placa com o nome de uma escola. Essa é a escola
"Nostradamus" de ensino médio.
De dentro da escola é possível ouvir um grito de horror.

________________________________ ________________________________

Às 4:13 da manhã, três celulares, em diferentes locais da cidade, recebem uma


notificação de e-mail. Abrindo esse e-mail, cada uma das pessoas pode ler as
informações um pouco fora de contexto, com um endereço e horários diferentes,
próximos às 9:30 da manhã do dia seguinte e informações específicas sobre um café:
"Um café mocha médio com uma dose de expresso de grãos chilenos para o Sr.
Veríssimo."

No dia seguinte, às 9:30 da manhã, chega à uma cafeteria chamada "A Mancha de
Café", uma mulher de cabelo curto e preto. Ela entra sem falar nada, chega no balcão e
faz exatamente o pedido que recebeu no e-mail. Depois que ela paga, se senta na
poltrona.
Não há mais ninguém além dela e o barista. É um horário cedo na cafeteria, e parecia
que ela tinha acabado de ser aberta.
Alguns minutos depois, entra na cafeteria um rapaz com um colete e um cabelo curto
castanho. Ele chega no balcão, faz o mesmo pedido e rapidamente sai para fumar um
cigarro.
Mais alguns minutos se passam e entra um homem ruivo com uma barba bem longa e
um casaco longo. Ele chega, faz o pedido do mesmo café para o "Sr. Veríssimo".
Poucos segundos depois que ele paga, ele se assusta que o responsável por fazer o café
já chama o nome Sr. Veríssimo, o que não faria sentido pois ele recém havia pedido.
As três pessoas então vão até o balcão e pela primeira vez percebem que A Ordem
chamou-as juntamente de outras duas pessoas. Isso nunca havia acontecido antes.
O barista olha para os três e fala:
-Eu acho que vocês precisam de alguns minutos pra conversar entre vocês. A máquina
de grãos tá com problema- ele aponta para uma porta atrás dele. Ele parece jovem, entre
20 e 22 anos de idade. Tem cabelo curto e é bem magro.
Os três olham para os cafés que foram entregues pelo barista, e percebem que não é o
que pediram, e sim o café preferido de cada um.
O barista se vira e sai pela porta de trás.
-Olá... meus queridos- a mulher fala.
Em seguida o rapaz de colete fala, seguido de um simples "bom dia" do rapaz de
sobretudo:
-Hm...bom dia rapaziada! Ow! O café de vocês veio meio estranho também? Eu pedi
uma coisa diferente quando...- fala apontando para o copo.
-Eu recebi um chá né. Mas não tô reclamando. Eu odeio café- a garota responde, e dá
um gole de seu copo.
-Ma rapaiz...o meu veio café puro memo. Não mudô nada não. Só veio...
-Eu achei...
Os dois se interrompem e se calam por poucos segundos, antes do rapaz de sobretudo
falar.
-Algum motivo de vocês terem pedido... e o pedido de vocês ter vindo diferente?-
pergunta e toma um pouco de seu café.
A garota logo em seguida fala:
-Na verdade eu achei um pouco estranho que... eu entrei primeiro, e... vocês entraram
atrás de mim e pediram o mesmo café que o meu. Tem algum motivo especifi...
-Tava te admirando de longe- o barbudo interrompe falando rapidamente e bebe um
pouco.
-Rapaiz pra mim isso é coinci...- o de colete fala no intervalo de tempo e a morena o
interrompe, respondendo o ruivo depois de mais um gole em seu chá.
-Já? Assi...-ela para quando percebe que interrompeu o outro.
Então, o moreno continua:
-Rapaiz, só fui no embalo memo. Eu tá, vim aqui curioso, eu vi assim sabe, cheguei,
num sabia muito o que pidi, falei: Cara! Vou pidi qualqué coisa aqui. Você pediu na
minha frente- fala apontando para a moça- falei: Ah! Bora nesse embalo. Eu gostei.
Essa moça parece sabê o que ela tá...- ele para e fica quieto.
-Hmm...- murmura o homem de sobretudo.
-Não, é sério gente. Por que vocês pediram o mesmo café que o meu?
-Digamos que eu...recebi uma... dica. De que esse café era bom. Nesse lugar- o ruivo
bebe o café.
-Uma dica... por e-mail?
-Direta...-fala se referindo à pergunta da moça, e responde- Uhum.
-Eu preciso saber o que a gente tá fazendo aqui.
-Rapai que coincidência! Eu acho que esse brother aí é amigo meu também viu?- o
moreno fala.
-Esse brother é amigo teu?- o ruivo questiona.
-E quem seria esse brother?- a morena também pergunta.
-Ah! Aí eu não vou falar esse nome né? É com vocês. Eu me esqueci o nome dele. Vai
que vocês sabem né? Vocês podem me lembrar aí.
-Algum de vocês... conhece...o Sr. Veríssimo?- a moça pergunta.
-Não- o homem de barba responde rápido.
-Rapaiz... pra ser sincero, nunca vi ele pessoalmente não.
-Tá! Mas e aí? A gente tá trocando essa ideia mas, eu não sei o nome de vocês, eu não
sei o que vocês fazem, e... eu não sei nem porquê eu tô conversando com vocês- a moça
fala.
-Eu acho que alguma coisa... ou alguém, queria que a gente se encontrasse nesse exato
momento. Mas... meu nome é Daniel, eu sou escritor sobrenatural. De contos
sobrenaturais- o rapaz de sobretudo fala.
-Prazer Daniel, meu nome é Elizabeth, e... eu sou cientista forense e... perita criminal.
-Hm... cara, acho que eu já te vi em algum lugar, velho- o moreno fala apontando para
Daniel- Eu tô me sentindo intimidado aqui velho. Essa rodinha cheia de
intelectual...cara inteligente, estuda aí os alienígenas, essas coisa loca. A moça aqui
mexe com estetoscópio, microscópio, tudo cópio...-aponta para a moça- Eu to aqui só
com meu caderninho. Sou repórter cara. Salve rapaziada- fala acenando- meu nome é
Thiago Fritz, tenho 33 anos, sou repórter.
-Nossa, mas você já chega passando a ficha completa assim? Cê não tem medo do que
as pessoas podem fazer com toda essa informação da sua vida?- fala Elizabeth.
-Ah...- Thiago é interrompido por Daniel.
-Thiago com T-H?
-Com T-H, é.
Daniel anota a informação.
Eles continuam conversando na frente do balcão, com Thiago inclinado nele, de perna
cruzada, sendo o mais relaxado dos três, enquanto os outros dois estão de pé, um pouco
mais rígidos.
-É... meus queridos, o que vocês acham de a gente se sentar nas poltronas ali pra
conversar?- pergunta Elizabeth.
-Claro!- responde Daniel.
-Ma rapaiz, não tem ninguém aqui essa hora?- Thiago olha envolta, para as mesas na
cafeteria- Ninguém trabalha não? Incrível hein? Ah, mas tranquilo, bora sentar.
Eles então escolhem uma mesa afastada da porta e se sentam.
-Bom, aproveitar que... tá vazio esse lugar né? A gente pode conversar com calma. E...
eu gostaria muito, de saber... o porquê tá todo mundo aqui, reunido. O que vocês fazem
de tão especial... que trouxe vocês aqui?- Elizabeth termina de falar e bebe seu chá.
-Digamos que... esse e-mail veio num momento muito...-Daniel aperta os lábios
enquanto escolhe as palavras- pertinente, e eu não pude ignorar. E eu acho que, de
novo, a gente tá junto por algum motivo... que alguém, ou alguma coisa gostaria.
-Hm... Gostei do que cê falou cara. Pra mim é porque eu sou curioso mesmo, meu
querido- Thiago responde.
Daniel murmura.
-Ãn...Só por... curiosidade?- ele pergunta.
-Ok! Já que ninguém tá sendo direto aqui- Elizabeth faz uma pequena pausa enquanto
cruza os dedos embaixo do queixo e apoia os cotovelos na mesa- Vocês por acaso foram
chamados pela Ordem?
-Que ordem?- Daniel pergunta tentando fazer uma cara de desentendido igualmente à
Thiago que permanece quieto.
Há mais uma pausa antes que Elizabeth responda.
-É... Eu acho que não to no lugar certo- ela fala com decepção na voz.
-Rapaiz, eu não falaria isso daqui em voz alta não. Eu bem sei...
Daniel interrompe Thiago:
-Eu também achei um pouco perigoso.
O moreno então continua:
-Eu como repórter, eu posso te falar tranquilamente meu querido, as paredes sempre têm
ouvidos.
-E as canetas... anotam...coisas- Daniel tenta fazer uma piada, mas desanima no final e
limpa a garganta, sem graça. Enquanto Thiago dá um pequeno risinho.
Elizabeth continua séria, bebendo pequenos goles do restante do seu chá.
-Eu acho que isso já respondeu a minha pergunta. Considerando que nós estamos aqui
por um objetivo comum... alguém tem alguma pista? Do... o que exatamente aconteceu
pra gente ser chamado?
Assim que Elizabeth termina a frase, a porta de trás do balcão, onde o funcionário tinha
entrado, se abre e ele sai falando em seguida:
-Desculpa. Eu sei que isso é muito fora do comum, mas vocês conseguem me ajudar
aqui atrás com a máquina de café, pra ver se tá tudo em Ordem?
Os três falam ao mesmo tempo:
-É...- Elizabeth.
-Rapaiz...-Thiago.
-Ãn...-Daniel.
-Elizabeth? Você é policial né?- Daniel pergunta.
-Não é bem assim mas...dá pra ser.
-Ok. Porque eu não me sinto muito seguro de entrar lá. E eu tô... suspeitando desse
lugar, mas então se tu for na frente...
-Não! Pera aí! Eu não vou sozinha. Vocês vão ir atrás de mim.
-Ok, eu só não quero ir sozinho.
-Tá bom. Então tudo bem. Eu vou na frente.
Enquanto eles conversam, o rapaz ainda está segurando a porta, esperando pelos três.
-Ah! Pô rapaziada, se cês quiserem eu vou na frente, aqui tá de boa. O cara parece ser
mó confiável. Menino novo, menino bom, menino jovem.
-Eu não sei se eu confio em você indo na frente não-Elizabeth fala se levantando- Eu
vou na frente. Com licença.
-Ah vai na fé- Thiago fala enquanto ela caminha até o rapaz, passando por trás do
balcão.
Os dois a seguem, com Daniel ficando por último.
O rapaz se vira quando percebe que os três tem a intenção de segui-lo, e começa a
caminhar para dentro da sala.
Ao passar pela porta é possível ver um longo setor de corredores e escadas de
manutenção. Os três seguem o barista enquanto ele faz várias curvas e entra por várias
portas, até que ele abre uma porta, e eles saem para a parte de fora do prédio, do outro
lado, no estacionamento.
O rapaz caminha em direção à uma van preta que está com a porta de trás aberta, e para
ao lado dela com a postura correta, com as mãos juntas na frente do corpo, esperando
que o três entrem por ela.
-Agora eu não vou na frente não minha querida. Vai lá- fala Thiago parado um pouco
afastado.
Aquela situação não era nada diferente do que já havia acontecido com eles algumas
outras vezes, em outros testes que haviam feito anteriormente.
-É...-Elizabeth gagueja um pouco tentando pensar no que falar- Eu não sei se quero ir na
frente não...A gente pode conversar isso de novo...?
Daniel passa a língua pelos lábios antes de falar:
-Ok. Ãn...eu vou- e entra no carro.
-Cara corajoso, cara inteligente. Eu vou atrás do Daniel aqui cara, vai lá...
-Ah, eu vou também. Não quero ficar sozinha- Elizabeth interrompe Thiago.
Quando os dois entram, o barista fecha a porta e dá a volta na van, entrando e sentando
no banco do motorista, começando a dirigir em seguida.
Daniel quebra o silêncio da viagem:
-É sério...o que aconteceu?- pergunta para o motorista que estava quieto.
-Oi?- ele responde olhando rapidamente pelo retrovisor.
-O que aconteceu é sério, pra gente estar aqui?
Ele responde sem desviar os olhos da estrada.
-Eu não tenho muitas informações. A gente tá indo pra onde a gente precisa ir.
-Meu querido...cê pelo menos sabe pra onde a gente tá indo?- Elizabeth pergunta.
-A gente tá indo encontrar o Sr. Veríssimo- depois de responder, continua dirigindo.
-O que você é do Sr. Veríssimo?- pergunta Daniel.
-Eu sou o Sr. Veríssimo.
Os três na parte de trás da van se olham sem entender nada.
-Ma rapaiz, a gente vai encontrar o Sr. Veríssimo, já tá com o Sr. Veríssimo...Cê é quem
rapá?
O carro para, deixando Thiago sem sua resposta. Da janela, é possível ver que eles estão
na frente de um grande prédio.
O garoto que antes pilotava a van desce, dá a volta e abre a porta de trás. Um homem
grisalho e de terno está parado ali.
Thiago o reconhece como o primeiro homem da Ordem com quem ele falou quando foi
atrás deles.
O homem então sobe na van e fala:
-Olá. Eu sou o Sr. Veríssimo.
A porta se fecha e o menino volta para o banco do motorista, voltando a dirigir.
O homem grisalho deveria ter entre 50 e 60 anos, com a barba um pouco curta e o
cabelo bem curto. Poderia ser facilmente associado à um empresário, definitivamente
um CEO clichê de empresa multimilionária.
Ele olha para o trio com seriedade e fala:
-Esse é o primeiro caso oficial de vocês. A gente tá simulando vocês à uma nova célula
da Ordem. Sejam bem vindos à Ordo Veritatis.
Há um pequeno silêncio até todos assimilarem as informações.
-Ma rapaiz...-Thiago exclama, ainda assimilando o que acabou de ouvir.
-Obrigado eu acho...- fala Elizabeth.
-É um prazer senhor- o moreno fala enquanto aperta a mão do Sr. Veríssimo e balança a
cabeça. Assim que ele solta a mão, puxa um cigarro para acender.
-Por favor não fume dentro do carro- fala o homem grisalho enquanto coloca a mão para
frente em sinal de pare.
-Ah, desculpa meu querido. Foi mal aí- e guarda o cigarro no bolso.
-É...ok... meu querido- fala Elizabeth para o homem- Qual o seu nome primeiramente?
Eu acho que a gente não se conheceu antes- há um longo silêncio, sem resposta alguma-
Tudo bem...
-Bom, o tempo é curto. Nós precisamos ir direto ao ponto. Vocês são uma equipe agora,
e vocês devem confiar um no outro, assim como nós confiamos em vocês.
Há mais um curto momento de silêncio até que Daniel fala:
-Galera eu acho que...isso já quebrou o gelo. Então todo mundo sabe porque está aqui, e
eu espero que a gente aja profissionalmente porque são vidas que dependem de tudo e
qualquer coisa que a gente faça.
Mais um silêncio que dessa vez é quebrado por Thiago.
-Rapaiz...cara sério. Tô gostando dele memo- Elizabeth solta um risinho- Eu vou seguir
tudo que ele tiver falando. Cara, gostei de você Daniel.
A atenção volta toda para o Sr. Veríssimo quando ele volta a falar.
-Nós estamos indo agora para uma escola. Um membro do corpo de bombeiros
encontrou o cadáver de um colega dele. Minutos depois de eles terem se separado
durante essa última madrugada. A gente tá indo lá porque esse corpo apresenta diversos
indícios de interação paranormal. Vocês...vão chegar lá, e vocês vão se apresentar para
o oficial...-ele checa os arquivos dele- Gonzalez Medinna. Ele é o responsável por esta
investigação pela polícia. E vocês vão usar isso- ele entrega para eles três distintivos
pretos, com um brasão com listras vermelhas e azuis, escrito SCI e uma digital ao lado,
e uma espécie de broche dourado com a mesma sigla embaixo. Os três exclamam em
aprovação- Esse distintivo é de uma...um setor falso da Polícia Federal, chamado de
Setor de Crimes Inabituais. É assim que vocês vão falar...é desse setor que vocês vão
falar para o Gonzalez Medinna que vocês trabalham. A missão de vocês é descobrir se
nesse crime existe envolvimento Esoterrorista. E se existe, vocês vão fazer todos os
procedimentos necessários pra impedir os Esoterroristas. Enquanto vocês mantém a
existência de tudo que é paranormal irrevelada. Vocês precisam ter certeza de que
ninguém além de vocês, saiba ou presencie, a existência de entidades paranormais. A
verdade vai sempre vencer.
Assim que ele termina de falar, o carro para, a porta abre, e eles estão de frente para um
prédio com a placa: Escola Nostradamus de Ensino Médio.
-Ow, Sr. Veríssimo. Recapitulando aí. Cê disse que o corpo tinha uns caso paranormal
nele. Quê que é esses caso aí, só pra eu sabê se eu tô levando as coisa certa aqui, cara?
-Nossos agentes de... pesquisa tem um sistema de detecção que consegue...é... a gente
tem informantes que conseguem...ãn... distinguir casos mundanos, de casos
paranormais. Vocês vão perceber.
-Eu posso ver os arquivos da investigação?- pergunta Elizabeth.
-Ãn...não- Sr. Veríssimo responde balançando a cabeça.
Ela pensa um pouco antes de falar:
-É... como você espera que eu trabalhe no caso se eu não posso ver os arquivos da
investigação?
-Você vai ver o caso por si só- e aponta para a porta da escola.
-Ok...
-Nós confiamos em vocês. Obrigado- ele então espera que eles saiam do carro.
-Obrigado eu acho...? Por nada- fala Daniel ainda dentro do carro.
-Obrigado aí meu querido. Ô Daniel, sai na frente aí- fala Thiago- Confio em você meu
mano, vai lá.
Daniel desce então, esperando pelos outros na calçada.
Fora da van agora, é possível ver que aquele grande prédio de escola está bem
destruído, com traços que sugerem um incêndio. Ainda resta um pouco de fumaça
saindo do lugar.
Elizabeth pega a maleta dela no carro, coloca as luvas cirúrgicas e caminha em direção à
escola. Thiago puxa um cigarro do bolso, o acende e começa a fumar.
Os três seguem para dentro da escola. Parecia ser um prédio antigo que fora
transformado em escola, mas a fachada era estilosa.
Ao olhar lá dentro, é possível ver que está bem destruída por causa do fogo, embora por
fora não parecesse. Há vários pedaços de madeira e papéis carbonizados espalhados. Ao
entrar, eles têm a visão do que restou da recepção.
O local aparentava estar vazio, mesmo sendo uma cena de crime. Os corredores estavam
vazios, e o único som era um eco de uma voz que parecia vir do fim dos corredores.
Elizabeth começa a seguir na direção do eco e Thiago e Daniel a seguem. Eles viram à
direita e seguem na direção dessa voz. Continuam reto e conseguem ver uma porta
dupla no final de um corredor. Quando começam a se aproximar, percebem que o som
dessa voz vinha de trás das portas. Acima, tem uma placa um pouco queimada, com a
palavra "REFEITÓ", com o resto completamente queimado.
-Ah que beleza né, contaminando a cena do crime. É isso que a gente gosta- Elizabeth
fala quando percebe que Thiago está fumando atrás dela.
-Com fumaça...-Daniel fala em seguida
-Ah... tava tranquilo...- Thiago começa.
-E cinzas né- completa Elizabeth o interrompendo.
-Já tá tudo em cinzas e em fumaça né. To acrescentando um 0,1% na cena do crime- e
dá uma risadinha.
-Ah, tão tá. Então... divirta-se- fala Elizabeth- É... vocês querem entrar aqui comigo?-
aponta para as portas atrás dela.
-Ãn... bora lá... vai entrar aí primeiro- Thiago indica as portas com a cabeça.
-Não senti muita confiança nesse bora lá- Elizabeth fala com ar divertido.
Enquanto os dois discutiam, Daniel percebe uma pequena camada de névoa na altura do
dedão do pé, e sente que o ambiente parece estar mais frio do que deveria estar naquele
dia. Ele se pergunta se a escola estava em funcionamento antes do incêndio ocorrer.
As portas ainda estão fechadas, e eles estão bem próximos a elas. É possível ouvir às
vezes o eco da voz vindo de dentro.
Elizabeth olha para Daniel que se encontra ainda parado, observando e ponderando.
-É... Daniel, por que você tá aí parado? Cê tá pensando em alguma coisa?
-Eu tô analisando, e... eu percebi essa névoa. E... que o ambiente, a temperatura tá bem
mais fria do que o normal.
-Sério? Eu não sinto nada de diferente- ela fala observando em volta.
-Ô Daniel, essa névoa aí. Cê acha que é do que cara?- o moreno fala tirando o cigarro da
boca.
-Bom, eu acredito que essa névoa indica que a Membrana tá mais enfraquecida aqui.
Como a gente tá numa escola, pode ser...muitas coisas. Pode ser uma lenda urbana que
as crianças, ãn... decidiram investigar a fundo, ou ficaram com tanto medo que
começaram a acreditar e... ela pode ter se tornado real. Não é a primeira vez que eu...-
ele faz uma pausa, parecendo lembrar de algo- que eu veria isso acontecer.
-Rapai... Tão bora ver a origem dessa névoa aí cara? Tô curioso agora.
Antes de eles entrarem, Elizabeth dá uma olhada ao redor tentando encontrar algo útil
para a investigação. Ela encontra vários livros e materiais escolares jogados por todos os
lados, mas era o que ela esperaria ver de uma escola que pegou fogo.
Impulsivamente Thiago empurra a porta, agindo sob a influência da sua curiosidade,
mas ela não se move. Então ele tenta puxá-la para trás a abrindo. Ele dá de cara com um
emaranhado de fitas amarelas, do tipo que são usadas pelos policiais em cenas de crime.
Lá dentro é possível ver o refeitório da escola completamente destruído. Eles veem um
policial, baixinho, de cabelo escuro e jaqueta de couro, caminhando nervoso enquanto
mexe no celular. Tem um homem todo equipado com roupas de proteção e luvas que
estava tirando fotos das evidências, mas não parecia estar afim de trabalhar. Há vários
escombros, cadeiras e mesas jogadas para longe.
No meio do refeitório tem um corpo, duro, de um homem vestido de bombeiro.
Quando a porta é aberta, o homem que estava mexendo no celular levanta o olhar para
eles e fala:
-Ei! Q-quem são vocês?
Eles se aproximam do homem e Liz chega mais perto, com o distintivo falso em uma
das mãos, mostrando para ele.
-Isso aqui é uma cena de crime! O-oque?- ele olha o distintivo- Que isso? S-C...Que
isso?
-Com licença aí meu senhor- fala ela tentando chamar a atenção dele.
-O que é S-C-I?- ele fala com uma ruga na testa, ainda analisando o distintivo de Liz.
-Então é...
-Vocês não podem entrar aqui..- ele a interrompe, agora olhando para eles.
-A gente é do Setor de Crimes Inabituais- ela explica- e... eu sou cientista forense. Eu
queria dar uma olhada no corpo.
-Desde quando eles mandaram alguma equipe pra fazer...- ele parece extremamente
confuso- quê que é Setor de Crimes Inabituais? Eu nunca ouvi falar disso...
-É... então meu querido, é o seguinte, eu sou especialista em analisar essa cena do crime
e... a gente pode ter uma conversa agradável aqui se você me deixar dá uma analisada
no corpo- ela aponta para o bombeiro no chão- Eu não vou tocar em nada. Eu só vou
recolher algumas evidências e tirar umas fotos- segura a câmera pendurada no pescoço.
Ele pega o distintivo da sua mão. Ele olha para ele e fica desconfiado.
-O-ok- balança a cabeça e devolve para ela, que agradece. Ele pega o celular e dá uma
olhada tentando achar alguma informação, confuso sobre o que está acontecendo, mas
não parece se importar muito.
Liz sai de perto dele e vai em direção ao corpo.
Thiago se aproxima do policial, se apresentando simpaticamente:
-Pô! E aí meu querido? Beleza?- aperta a mão dele- Thiago Fritz, aqui do... Setor de
Crimes Inabituais. Bom dia aí. Qual o seu nome mesmo meu querido?
-Eu? Eu sou Gonzalez-ele tem o olhar confuso- Mas eu achei que...eu achei que...eles
não iam mandar ninguém pra...-ele suspira de alívio- ao menos alguém pra trabalhar
comigo. Pelo amor de Deus...-fala passando a mão no rosto.
-Pô Gonzalez, pelo amor de Deus meu querido. Cê tá ligado que a galera não ia deixar
cê trabalhando aqui sozinho né cara. Pô, a gente veio aqui te ajudar. Você que é um cara
que tem muito ae...
-Cê não faz ideia...- Gonzalez fala com ar de cansado.
-Pô meu- Thiago balança a cabeça- Tô vendo aí que cê tá com umas olheiras embaixo
do olho, tá complicado aí pai?
Gonzalez suspira e passa a mão no rosto.
-Só...-ele faz uma pausa- Só vamo tentar resolver isso logo- gesticula para o homem
falecido no chão-Eu quero ir pra casa. Eu não aguento mais...
Thiago tenta abraçá-lo mas ele dá um pulo para trás e levanta as mãos na frente do
corpo, na defensiva.
-Ow! Quê que isso?! Cê tá loco?!- fala transtornado.
-Pô mano! Ô! Foi mal. Calma aí. Calminha cara. Que cê tá muito estressado. Calma aí.
A gente tem que ter aqui, a gente tem que estabelecer primeiro aqui, que a gente é uma
equipe, aqui é uma galera. Todo mundo junto resolvendo em prol do bem maior.
-Pela primeira vez alguém manda uma equipe pra mim...
É bem visível que Gonzalez está muito estressado com tudo aquilo que está
acontecendo.
Enquanto Gonzalez e Thiago conversam, Liz chega mais perto do corpo.
Era um homem vestido de bombeiro, e pelas rugas deveria de ter uns 50 anos. Era um
pouco alto, aparentando ter mais ou menos 1,80 de altura. Seu cabelo era escuro mas
tinha alguns fios grisalhos que apareciam por baixo do capacete dele.
Quando ela se aproxima, consegue ver detalhes um pouco mais perturbadores que
chamam sua atenção rapidamente: no lugar dos olhos dele haviam dois grandes buracos
e a mandíbula dele estava completamente aberta, mais do que um ser humano
conseguiria abrir normalmente.
Ela pega a câmera com as duas mãos e tira uma foto do rosto e uma do corpo inteiro.
Daniel se afasta dos outros examinando as mesas, que estavam jogadas de uma forma
estranha nos cantos do refeitório.
Enquanto isso, Thiago continua a conversa com Gonzalez.
-Quando...quando que a delegacia mandou vocês? Eu nunca ouvi falar desse... desse
Setor de Crimes... o que?
-Não... é que é o seguinte cara, eles falaram pra gente que aqui seria um trabalho que
poderia ser um pouco complicado pra só duas pessoas né...
-Mas o que é o Setor de cri...do...de...Eu nunca ouvi falar desse setor- ele parece
confuso.
-Pô meu querido, daí já não é culpa nossa né pai...Mas é o seguinte, escuta, a gente aqui
é do Setor de Crimes Inabituais. A gente vai aqui ajudar vocês. Pode continuar o
trabalho de vocês que por sinal é muito bem feito...
-Qual o seu nome?
-Meu nome é Thiago, meu querido, e o seu? Fala aí de novo. Só pra eu anotar aqui no
meu caderninho ó- e puxa um caderninho do bolso.
-Eu sou o Gonzalez- fala agora um pouco mais calmo.
-Pronto, perfeito. Só pra eu ouvir de novo, que cê tem um nome bonito cara- fala com
um sorriso simpático no rosto- E qual o nome do seu amigo ali?- pergunta apontando
para o outro homem.
-Aquele...- suspira um pouco irritado- Aquele é o Douglas- e coloca a mão no rosto.
-Douglas?- pergunta anotando o nome.
-É o único que eles mandam aqui pra trabalhar comigo- fala claramente incomodado-
Mas se não mandasse, também dava na mesma- ele passa a mão no rosto enquanto
murmura- Eu nem sei o que eu faço ainda nesse emprego...
-Não, tranquilidade. Gonzalez e Douglas. Parece até dupla sertaneja. Vocês trabalham
bem juntos.
-Trabalha bem- fala com escárnio, e depois balança a cabeça sem acreditar naquela
informação.
-Não, mas o que vocês tem de informação aqui...pra gente que acabou de chegar, que cê
pode ajudar a gente aqui pra gente não perder tempo?
-Honestamente, não faz diferença.
-Claro que faz. Faz toda a diferença...
-É a primeira vez em...quantos meses que a delegacia manda qualquer tipo de equipe
pra trabalhar comigo.
-Ah, então ao invés de reclamar cê devia ficar feliz pô.
-Eu quero ir pra casa logo... eu tô com muita coisa na minha cabeça... Tem... uma porra
dum incêndio, que o corpo de bombeiros não quer nem vim analisar porque eles tão
com medo do que aconteceu. Tem...ãn...a minha equipe...nunca quer trabalhar com
qualquer coisa que seja um pouco estranha. Que diferença faz a gente tentar se esforçar
de qualquer jeito?
-Ah... corpo de bombeiros tentou analisar pelo visto, ma deu um probleminha ali no
chão né- ele aponta para o corpo- A gente tá querendo sabê quê que aconteceu aí meu
querido. Cê tem alguma informação útil pra gente aí, ou como é que vai ser?
Thiago consegue perceber que durante essa conversa Gonzalez está claramente
desinteressado. Ele parece estressado e Thiago deduz que ele pode estar com muitos
problemas na vida dele. Mas enquanto eles conversam ele percebe que o policial
começa a se sentir melhor, como se finalmente alguém estivesse interessado no que ele
tivesse para falar.
Daniel chega perto deles e os interrompe depois de ouvir um pouco da conversa.
-Por quê que o corpo de bombeiros ficou com medo? O que que eles estão dizendo por
aí? O que que eles acham que aconteceu aqui?
Gonzalez passa a mão no rosto.
-Pra ser honesto, nem eu sei direito. O outro bombeiro que encontrou ele aqui, durante a
madrugada, continua insistindo que ele viu um fantasma. Ele continua insistindo sem
parar que ele viu um fantasma. Ele tá em choque. Nin... a Isabela tá lá fora- aponta para
a porta- lidando com ele pra ver se ele para de falar baboseira sem sentido. Mas ele tá
completamente em choque, e... que porra...? Que tipo de... pessoa faz isso com...? O que
causou...?- ele suspira e passa as mãos no rosto, estressado e depois resmunga algo
incompreensível.
-Mas fantasma não existe cara- fala Daniel.
-O que?- Gonzalez tira a mão do rosto.
-Tô falando. Fantasma não existe.
-Eu sei que não. É óbvio que não.
-Por que tu tá estressado?
-Desculpa- fala mais calmo- é que eu tô com um...eu tenho problemas mais
importantes...A minha mulher...é...- ele pega o celular- Me dá um segundo.
Liz aproveita aquele momento que ele parece distraído.
-Ow seu Gonzalez! Eu já fotografei o corpo aqui. Eu posso... mexer com ele?
-Me...Oi?- ele se vira um momento para olhar para ela- Mexer?
-Eu vou investigar aqui...- aponta para o defunto.
-Faz o que você quiser.
-Opa! Brigada.
Agora, analisando o corpo com um pouco mais de atenção, ela consegue ver que
existem marcas de hematomas ao redor do pescoço que indicavam um possível
estrangulamento.
Ela abre a maleta e pega um palitinho, do tipo que médicos usam para examinar a boca
do paciente. Ela mexe nos buracos dos olhos e na boca do cadáver procurando algo de
diferente que pudesse ser uma evidência ou que indicasse a causa da morte.
Examinando, ela percebe que os olhos parecem ter sido esmagados por alguma coisa, e
que a boca tem várias feridas em volta dela, além da sua desumana abertura.
Mexendo nela, ela encontra alguns fios de cabelo longos e negros. Ela coleta esses fios,
achando aquilo muito incomum.
Ela desce o olhar até uma das mãos que está fechada e parece estar segurando algo.
Liz tenta abri-la usando as próprias mãos. Abrindo, ela encontra um pedaço de tecido
branco, então pega um saquinho e coleta aquela evidência, vedando-o com cuidado.
Ela procura por mais alguma coisa no corpo, como sinais de violência, mas não
encontra nada, apenas observa que ele está gelado e branco. Nada atípico de um
cadáver.
Olhando bem para aquele homem, ela consegue ter impressão de que ele está fazendo a
expressão da tela O Grito- de Van Gogh, com a boca totalmente aberta, como se
estivesse completamente horrorizado. Mas talvez fosse apenas por causa daquelas
feridas.
Aquela imagem era extremamente forte, até para ela que já tinha visto diversos corpos e
assassinatos antes.
Aquela era a cena mais horripilante que já tinha visto na vida. Ao olhar para o rosto, ela
não se sentia nada bem.
Pegando as fotos que tirou e as evidências coletadas, ela sai dali e não interage mais
com o corpo, começando a procurar por mais evidências pelo refeitório.
No meio de todo aquele cenário de destruição, entre todos os talheres de plástico,
pedaços de madeira e ferro espalhados, algo lhe chama a atenção. Um ponto específico
próximo ao corpo onde o chão estava mais queimado e que formava um círculo, onde
parecia ter ocorrido uma pequena explosão. Saindo deste círculo, haviam vários pedaços
de plástico queimados, que seguiam se espalhando por toda a cantina.
Ela coleta alguns pedaços, vedando-os em um de seus saquinhos.
Thiago a observa de longe, mas se aproxima ao ver o interesse dela por aquele ponto
muito específico do salão. Ele então, quando enxerga os plásticos, pega seu celular e tira
uma foto.
Enquanto ela examina, Daniel sai para falar com Isabela e o outro bombeiro e Thiago o
segue.
Eles chegam do lado de fora, e se aproximam de um bombeiro magrinho. Ele tem um
cobertor roxo sobre os ombros e está sentado na escada, sozinho.
-Olá! Boa tarde, bom dia- cumprimenta Daniel.
O homem o olha assustado.
-Ãn?
-O que você prefere?- Daniel completa.
-Bo-boa tarde- ele o olha um pouco confuso.
-O que aconteceu aí amigo?
-Eu já falei tudo pra vocês.
-Não pra mim.
-Vou ter que falar tudo de novo- fala claramente cansado- eu só quero ir pra casa...
-Prometo que depois daqui você vai pra casa. Você vai fazer o que você quiser, mas a
gente gostaria de entender o que aconteceu aqui- o bombeiro suspira um pouco
incomodado- então se você puder começar do começo...
Ele respira fundo antes de falar.
-Era mais ou menos umas duas e alguma coisa da manhã. Eu vou resumir porque eu já
falei tudo- fala um pouco irritado- Era mais ou menos umas duas da manhã, a gente
recebeu o chamado, a gente veio pra cá. A gente passou...tava tendo um incêndio na
escola. A gente- em vários momentos ele para de falar antes de continuar a frase. Era
visível o quanto o assunto o estava estressando e ele parecia cansado de ter de repetir
tantas vezes a mesma coisa- lidou com...
-A gente quem?- Daniel o interrompe.
-Que?- ele pergunta saindo de sua bolha de irritação por alguns segundos.
-A gente quem?
-A gente, do corpo de bombeiro!- e ele volta novamente para o tom de raiva anterior-
Cê não tá vendo? Eu sou um bombeiro- aponta pra si mesmo.
-Mas, o corpo do bombeiro inteiro?
-Sim. Ah...você chama o corpo de bombeiro, a gente apaga os incêndios, esse é o nosso
trabalho- fala como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
-Mas era quantas pessoas meu querido?- Thiago se pronuncia pela primeira vez.
Ele pensa um pouco antes de responder em um tom de voz calmo.
-A gente tava em cinco ou seis pessoas, apagando o incêndio.
-Hmm- Thiago murmura
-Mais ou menos...Era um grande incêndio. Alguma coisa muito grande tinha explodido
dentro dessa escola...A gente lidou com o incêndio em mais ou menos uma hora e
pouco. E aí eu e o Jorge entramo pra analisar qual... se tinha alguma vítima, se tinha
mais algum ponto de...de incêndio, e tentar descobrir de onde veio essa origem- ele
inspira um pouco, fazendo uma breve pausa antes de continuar- E aí a gente se separou.
Eu tava tentando falar com ele por rádio... a gente tava se comunicando e de repente ele
só parou de me responder- ele faz mais uma pausa continuando com a voz um pouco
falhada, parecendo que iria chorar- Eu fui procurar por ele... Eu fui procurar por ele- as
lágrimas começam a aparecer e a voz dele é de desespero- e eu vi ele deitado no chão.
Morto!
-Não fica assim não meu querido- fala Thiago, com a voz calma.
-Eu entendendo que deve ter sido uma experiência bem traumática...- Daniel tenta
ajudar a acalmá-lo.
-EXPERIÊNCIA TRAUMÁTICA? ELE MORREU!- fala desesperado- EU NEM SEI
COMO.
-Ok...- fala Daniel suspirando- Beleza. Ãn... mais alguma coisa que você tenha visto...?
Que possa ajudar a gente a entender o que aconteceu...?
-Por que vocês não me deixam ir pra casa logo?- o bombeiro fala incomodado e
continua com voz de desespero- Eu já falei tudo isso pra vocês. Eu já vi meu amigo
morrer. Eu me a... Eu só quero voltar pra minha mãe.
-Ô. Pera aí meu querido. Cê tá com muita pressa de sair, velho- Thiago tenta perceber se
havia algum traço de mentira na voz do homem, mas percebe que ele apenas estava em
choque, e que queria ir pra casa. Ele estava claramente horrorizado com toda a cena.
-Foi a primeira vez que você lidou com... com a morte de...- o ruivo começa, mas é
interrompido.
-Que diferença isso faz pra vocês?! Só me deixa ir embora logo, pelo amor de Deus!
Quantas horas eu vou ter que ficar parado nessa escola? Nem tem policial direito aqui!
Vocês são a primeira pessoa que vem investigar isso de verdade. O outro só fica no
celular!
-Mais um motivo pra você ajudar a gente não é mesmo?
-O QUÊ QUE EU F...O QUE QUE EU... QUE MAIS CÊ QUÉ QUE EU FALE?! EU
JÁ FALEI TUDO!- o bombeiro fala surtado.
-Você não falou tudo- Daniel fala calmo.
O homem começa a lacrimejar enquanto fala:
-Eu não aguento mais... Deixa eu ir pra casa.
-Ô Daniel. Deixa eu falar com você aqui no canto, rapidinho meu querido.
Eles saem de perto do bombeiro.
-Pode falar.
-Cara, esse cara daí pelo que tô vendo, não vai ter nenhuma informação útil pra gente
não, velho. Parece ser uma perda de tempo. Acho que deve deixar ele ir pra casa logo e
cabou, hein. Não acha não?
-Hm...não. Ele claramente precisa de alguém pra acalmar ele. Só que eu não sou muito
bom nisso.
-Pra ser bem sincero com você cara, a gente pó...até achei o cara gente boa, mas ele não
é da nossa conta não irmão. Acho que a nossa conta é ver quem que fez isso com o
amiguinho dele lá, tá ligado. Acho que nossa conta não é o corpo de bombeiros, é o
corpo do bombeiro né.
-Engraçadinho você. Mas o oficial Gonzalez falou que esse cara aparentemente viu um
fantasma, e a gente precisa dos detalhes do que ele viu...pra continuar essa investigação.
Porque alguma coisa claramente aconteceu aqui. E será que você consegue acalmar ele?
Porque eu, sinceramente, não tenho... não tenho paciência pra isso não- ele termina de
falar, pega o cantil e toma um gole da bebida.
-Pra ser bem sincero irmão, eu tô de boa aqui, cara. Eu vou voltar lá dentro pra ver se a
Elizabeth achou alguma coisa.
Enquanto a cena do lado de fora ocorria, Liz continuava analisando o refeitório.
Ela percebe duas pegadas diferentes que pareciam ser de botas. Ela pega a câmera e tira
uma foto delas e então começa a analisa-las melhor.
São pegadas grandes de bota. Ela olha para o lado, onde está o bombeiro, e conclui que
o formato da pegada é o mesmo da bota do defunto. As duas pegadas tinham formatos
iguais mas tamanhos diferentes.
Ela caminha em direção à porta, com o objetivo de sair da escola, mas para quando
percebe que ao lado dela tem uma mochila que ela não tinha visto quando entrou. A
mochila é pequena e está bem destruída.
Abrindo o que restou daquela bolsa, percebe que, ao contrário do que ela imaginava que
poderia ter, como materiais escolares, tinha apenas alguns pedaços de madeira e cinzas
que caíram ali por ela estar um pouco aberta.
Olhando com atenção, ela consegue ver no meio de alguns cabos e carregadores, um
pequeno cartão SD. Ela coleta esse cartãozinho com muito cuidado. Ele está bem sujo e
destruído.
Gonzalez tira os olhos do celular por alguns segundos e percebe Liz mexendo em
alguma coisa.
-Ow! Que cê tá fazendo aí?
-É... com licença moço...isso aqui é de alguém?- ela se levanta e vira para olhá-lo
enquanto fala- É de alguém de vocês?
-É...hm...não. Por que você tá mexendo na evidência, sem permissão?
-É... você me deu permissão. Cê não lembra não?
-Quando que eu dei...? Ah... eu dei permissão. Me desculpa. Não, mas o que que é isso
aí? Deixa eu ver- ele se aproxima dela. Ele parecia mais motivado desde à conversa com
Thiago. Ele guarda o celular- O quê que é isso que cê encontrou?
-É... Eu embalei algumas das evidências e...
-Que evidências?
-Eu gostaria de fazer uma análise. Bom... Eu tirei algumas fotos né, do corpo do...
-Você vai fazer uma análise? Você não tá aqui pra coletar as evidências. Não tem que
mandar isso pro laboratório. Isso aqui é da p... é... propriedade da polícia.
-Acredite, o laboratório não vai analisar tão bem quanto eu. Eles deixam passar muitas
coisas.
-Eu...desculpa. Eu não posso deixar você simplesmente levar.
-Hm...
-Deixa as evidências aqui.
-Eu lamento muito, mas isso não vai acontecer- ela fala e fecha a mala com as
evidências dentro.
-O q... quê que cê...- ele pega o celular e começa mandar mensagem para alguém.
-É... qualquer coisa você reclama com o seu superior aí- e sai rapidamente, indo para
fora da escola.
Ela encontra um bombeiro em um cobertor roxo, tremendo, e vê um pouco afastados,
Daniel e Thiago conversando.
Assim que ela passa pela porta, uma mulher jovem de cabelo curto e olhos castanhos,
vestida de policial, chega e fala:
-Ai! Desculpa! Eu voltei. Eu tinha ido no banheiro. Quem...quem são vocês?
-É...com licença. Tinha mais alguém na cena do crime... além do bombeiro morto?- Liz
é interrompida pela mulher.
-Quem são vocês? Isso aqui é uma cena...que...o que vocês tão fazendo aqui?
Daniel estica a mão para apertar a da mulher.
-Daniel Hartmann, ex BBB, prazer.
Ela aperta a mão dele e fala:
-Tá, e o que você tá fazendo aqui?
-Eu gostaria de acalmar esse senhor, pra que a gente pudesse...ãn...coletar evidências e
entender exatamente o que aconteceu aqui. Eu não sou ex BBB na verdade. É... ex
Fazenda, desculpa.
-Desculpa, isso aqui é um...é uma cena de crime policial. Vocês não podem tá aqui.
Daniel mostra o distintivo e o guarda rapidamente, tentando fazer graça.
-O que? Que?- ela olha tentando entender o que está escrito quando ele guarda- Si-és...
Vocês são do C.S.I? O que?
-Não, calma aí minha querida- fala Thiago se aproximando- Tamo aqui, nosso grupo.
Eu sou Thiago Fritz, essa daqui- aponta para Liz- Elizabeth, esse aqui Daniel- aponta
para ele- a gente chegou aqui pra ajudar vocês. Sabe, a gente veio aqui, viu que tava
tendo um probleminha...
-Quem enviou vocês? Foi...foi a delegacia?
-Cara, a gente é do Setor de Crimes Inabituais. E esse crime daqui não me parece ser
muito habitual...
-Eu nunca ouvi falar desse setor.
-Ah... mas a gente ouviu falar de você Isabela. Cê faz um trabalho muito bem feito, mas
a gente viu que tinha que vim até aqui, dá um helpizinho né. Dá uma ajudinha. Porque
aquele cara ali pelo visto, meu amigo, o que quer que tenha feito de botar o buracão no
olho dele e aquele sorrizão gigantesco, parece que não é algo muito habitual não.
-Eu...é verdade. Eu nunca vi nada parecido com aquilo. Foi...assustador. Eu nem quis
ficar lá na verdade. Foi por isso que eu vim ficar com o bombeiro. Eu tô quase igual ele,
na verdade.
-Você conseguiu falar com ele...ãn...durante o tempo que você tava aqui? Porque a
gente tentou e ele...tá muito em choque ainda- fala Daniel.
-Ele tá falando baboseira. Ele tá falando coisas como...relacionadas à fantasma e
agora...nas...das... Desde as últimas duas horas, ele só fica gritando que quer ir pra casa.
Mas as coisas que ele diz não fazem sentido. E as únicas pegadas que tem lá são dele e
do amigo dele. Não tem explicação nenhuma.
-Mas se tivesse um fantasma... fantasma não deixa pegada não é mesmo? Ha-ha- Daniel
tenta fazer graça de novo.
Os dois amigos dão uma risadinha sem graça, e Liz fala um "Nossa...", colocando a mão
no rosto.
Elizabeth sai de perto deles e se aproxima do bombeiro amigavelmente.
-Ah, mais um agora- ele fala impaciente- Quê que foi?
-Calma, calma meu querido. Eu...preciso perguntar, você tava na cena do crime junto
com o seu colega?
-Ãn...eu...eu... a gente se separou, e a gente foi pro...pro... buscar a origem do fogo.
-E vocês encontraram a origem do fogo?
-Por que cê não deixa eu ir pra casa logo?- ele passa as mãos no rosto, estressado- Sim!
Encontramo! Era o refeitório! É óbvio que é o refeitório! Cê não viu que tem a porra
duma explosão no refeitório?!
-É. Eu vi uma explosão no refeitório. Mas eu vi o ponto específico de onde partiu a
explosão, e as suas pegadas logo ao lado.
-Sim! Porque eu vi o corpo do meu amigo e fui vê se ele tava bem, porque ele tava
deitado no chão, E ELE TAVA COM OS... SEM A PORRA DOS OLHOS, MANO!
-Hm... então quando você chegou, a explosão já tinha acontecido?
-A gente apagou o fogo da explosão! A gente é bombeiro.
Daniel se aproxima dos dois, o interrogando.
-Ãn... como é que é o seu nome?
-Meu nome é Wesleynardo.
-Wesley...
-Nardo.
-O que exatamente...
-Wesleynardo!
-Ok, Wesleynardo, ok. Ãn... O que exatamente você viu...no... perto do corpo do seu
amigo?
Ele demora para responder, parecendo agoniado.
-Eu tô falando pra eles, mas eles não acreditam em mim. Quê que adianta eu ficar
falando a mesma merda se ninguém acredita em mim de qualquer jeito?
-Eu não sou ninguém. Quer dizer... eu não sou todo mundo? Era isso que a minha mãe
me dizia? Enfim.
-Quando eu vi... eu achei que tinha visto... não fazia sentido. Quando eu cheguei eu vi
alguma coisa. Algum...alguma coisa...saindo pela porta do outro lado do refeitório. Mas
achei que não fosse nada. Achei que pudesse ser alguma coisa saindo do fogo. Talvez
tenha sido alguém que atacou ele. Eu não sei, eu não vi. Eu só vi um vulto. Mas era
transparente...E tinha algo mexendo...Não faz sentido.
-Wesleynardo, eu preciso muito da sua ajuda- fala Liz- Eu sou cientista forense, mas eu
não faço milagre. Eu preciso que você descreva com o máximo de detalhes possível. Eu
sei que isso pode ser muito traumático, mas eu preciso que você tente descrever, com o
máximo de detalhes possível, o que foi que você viu. Você pode tentar descrever com o
máximo de detalhes possíveis o que você viu, independente...
-Eu não sei o que eu vi. Eu n...não faz sentido o que eu vi. Era...era uma pessoa
transparente, mas não era uma pessoa, eram muitas pessoas...eu... o que que era aquilo?-
ele balança a cabeça tentando entender aquelas imagens.
Elizabeth anota enquanto ele fala.
-Ela parecia...
-Eram muitas pessoas...?- Daniel interrompe Liz.
-Elas pareciam usar algum tipo de roupa...?- ela fala sem deixar espaço para que
Wesleynardo responda.
-Não, não. Era a marcha dos fantasmas topless- Daniel a interrompe de novo, agora
incomodado pela interrupção de seu interrogatório.
-Eu não...era... eu só vi... Era algo negro e... torto...eu não...Parecia tá voando e
transparente. Não era um... não era humano, mas...mas... Não faz sentido. É claro que
era humano. Alguém matou ele!
-Alguém matou o seu amigo- fala Daniel- Você acredita nisso.
-No que mais eu vou acreditar?! Que ele simplesmente explodiu os olhos e caiu no
chão?
-Ok. Ok. Bom, eu já tenho... Ãn... tudo que eu preciso aqui. Então vocês me dão
licença.
Daniel sai de perto então, e vai para o canto, pegando o celular. Ele procura nas
anotações dele, informações de casos anteriores, tentando encontrar algo semelhante a
olhos e boca, como ele tinha visto no bombeiro morto.
Ele não encontra nada que fosse referente a mandíbulas totalmente abertas e olhos
arrancados em nenhum dos arquivos que a Ordem já tinha fornecido à ele.
Ele sabia que às vezes os Esoterroristas faziam alguns assassinatos ritualísticos para
enfraquecer a Membrana. Mas aquele não parecia ser esse tipo de caso.
Aquele era claramente um caso paranormal, mas não parecia algo que já tinha
acontecido antes.
Ele então retorna para falar com seus dois parceiros.
-Ãn...Elizabeth, Thiago? É Thiago né?
-Eu mêmo.
-Ãn...ok. Ãn... vou esperar vocês conversarem com ele. Depois eu queria trocar uma
palavrinha com vocês. Então assim que vocês...terminarem aí, me procura. Eu vô tá
aqui. Ouvindo tudo.
-Então minha querida, eu já ouvi dele aqui, e ele tá um pouco...assustado de mais pra
falar, mas eu quero ouvir a sua versão da história. Você viu alguma coisa diferente?
Alguma coisa...não muito habitual?- Thiago pergunta para Isabela.
Elizabeth está anotando, atrás deles, todas as informações que pareciam ser importantes.
-A-a-a-a... analisando a cena do crime e o que... e o que ele...no-no meio das balburdias
que esse... que o Wesleynardo falou mais cedo... ele mencionou alguma coisa sobre...
gás na cozinha? É... e... Eu não sei na verdade. Eu não tenho muita expe... eu não tenho
muita exp... Eu não conheço muito disso. Mas ele mencionou algo como a origem da
explosão ter sido na cozinha. Ãn... Algo sobre um dispositivo menor, abrindo...
causando a explosão de gás.
-Abrindo....causando... Cê tá falando umas palavrinhas aí diferentes minha querida.
Que, como assim abrindo?
-Não. Abri...-ela abre e fecha a boca algumas vezes, indecisa de como falar-
Basicamente o que eu entendi que ele disse...Wesleynardo! Por que cê não fala você
mesmo?!
-O que cê quer mano? Deixa eu ir pra casa, velho!- ele responde.
-Não. Eu quero ouvir de você minha querida...
Daniel suspira e interrompe Thiago.
-Ai...Só deixa ele ir pra casa, pelo amor de Deus.
-Eu não le...eu...- Isabela gagueja- só acabei de começar a trabalhar no... eu cabei de
começar a trabalhar no corpo d-da polícia. Eu não... eu não...Eu só tô responsável
pra...de cuidar dele pra ele não... porque ele tá claramente em choque. Eu não tenho
muitas informações. Pode falar com o Gonzalez. Ele tá responsável pela investigação lá
dentro.
Thiago percebe que ela só está um pouco nervosa. Parece ser um dos primeiros casos
dela, e ela pegou logo de cara um caso completamente estranho.
-Mano, eu sei que pode ser um pouco difícil pra vocês mas... se a gente voltar lá, eu
cubro assim o corpo do rapaz lá, pra ninguém precisar ver, mas eu acho que seria muito
melhor se você tivesse lá na sala pra mostrar as coisas pra gente. Tem como não?
-Ãn...tá. Tá.
Antes de eles entrarem, Liz puxa o Thiago para o canto e fala:
-Thiago. Só... assim ó. Então, é meio que a gente não tem autorização né, pra coletar as
evidências, e o Gonzalez ficou muito puto que eu coletei as evidências. Mas eu preciso
delas pra gente resolver o caso, então, se você puder...assim... usar um joguinho de
cintura sabe, pra...pra dá uma ajudinha pra ele não pegar as evidências, cê ia me ajudar
assim...muito, porque eu não tenho jeito pra essas coisas.
-Elizabeth, o cara já é meu brother mano. Já conheço o cara desde o jardim de infância,
pode relaxar. Bora lá. Confia.
-Fechou. Tá. Então eu vou com você.
Eles entram e encontram Gonzalez falando no telefone, que em seguida desliga e se vira
para falar com eles.
-Não tem nenhum registro de enviarem ninguém além de mim pra cá. Exatamente como
eu pensava. Que porra é essa?
-Pô Gonzalez...Gonzalez, Gonzalez...-fala Thiago calmamente- Escuta meu parcero, a
gente acabou de ver um corpo que tem um sorriso do tamanho de um saco de
supermercado, véi. Mó buracão. O cara tem dois olho sem nada. Cê tá preocupado com
uma falha no sistema, que aparentemente esqueceram de mandar, que a gente ia vim pa
cá. Mano, olha o que cê tá pensando cara.
Gonzalez parece ter aceitado o que Thiago falou.
-O que...mas esse setor de...de... Qual que era o nome do setor?
-Setor de Crimes Inabituais, meu querido. Depois eu posso até te dar um tour no nosso
escritório se quiser.
-Mas isso é novo?
-Ah... uma coisa nova. Essa tecnologia hoje em dia...
-Desculpa. É Thiago né?
-Eu mesmo.
-Me desculpa. Eu tava... passando alguns problemas com a minha mulher agora...Eu não
tô conseguindo focar direito e...por algum motivo nesse caso, ninguém quer
mandar...é...orçamento. Nem quer liberar nada. Eu tenho que resolver tudo sozinho.
Aconteceu um incêndio na madrugada que ninguém sabe porquê, acont...e aí apareceu
um bombeiro morto. SÃO DOIS CRIMES! NINGUÉM QUER RESOLVER ALÉM DE
MIM- ele respira um pouco depois de tanto falar e gritar.
-Irmão, irmão. Relaxa.
-Ai me desculpa...eu tô...eu tô...Brigado por tá aqui. Obrigado por tá aqui.
-Não irmão. Relaxa. Depois ó, qualquer dia desses a gente sai prum barzinho, toma
uma cerveja, cê fala da sua esposa...Qual o nome da sua esposa?
-Dorotéia.
-Dorotéia. Pronto. Grande Dorotéia. Isso aí meu querido. A gente vai lá, troca ideia
sobre a Dorotéia, mas agora bora resolver as coisas que tão rolando aqui meu querido.
Bora esquecer esse bagulho de, pô: ah não tem, não mandaram falar do nosso setor.
Problema. Deixa lá atrás, igual a Dorotéia. Na hora, no momento não, meu querido.
-Tá...Ok. É o seguinte, eu confio em você, eu vou te dizer o que eu sei. Tá bom?
-Tá bom. Perfeito. Manda aí.
Daniel e Liz estão ali apenas escutando e anotando a conversa, quietos.
-Basicamente, ãn...aconte... ligaram pro corpo de bombeiros mais ou menos perto da-da
uma da manhã, e mandaram eles...avisaram que tinham um barulho de... Na verdade,
ligaram pra polícia, avisaram que aconteceu um alto barulho na escola, depois ligaram
pro corpo de bombeiros porque tava tendo um incêndio na escola. Aí os...o corpo de
bombeiros veio pra cá, eles cuidaram do incêndio, e...entraram pra averiguar o que tava
acontecendo. Dois bombeiros entraram. O Jorge- ele aponta para o corpo- e
Wesleynardo. Eles se separaram em algum momento, segundo o relato do Wesleynardo,
e... quando o Wesleynardo supostamente voltou pro refeitório, o corpo dele já tava
assim. Pelos relatos dos bombeiros, a explosão não foi acidental. É isso que a gente
sabe. E eu nunca vi um corpo assim... Eu nunca vi uma pessoa desse...nesse estado.
Nem sei o que causou... como que alguém consegue esmagar os olhos de uma pessoa
desse jeito? Não tem nenhum tipo de resíduo de arma, nada- termina incrédulo com a
última informação.
-Você falou uma coisa muito importante meu querido. A explosão não foi acidental. Se
não foi acidental, foi o que meu querido?
-Eu não sei...eu não... eu não conheço de-de explosões. Bombeiro...ninguém do corpo
de bombeiro quer entrar nessa escola, porque tão todos assustados que eles vão morrer
igual esse maluco! Eu sou o único que aparentemente não acredita em fantasmas nesse
lugar!
-Não. Isso daí é papo de louco, tem fantasma nenhum não. Mas relaxa ó, a gente tá
aqui, tá todo mundo junto aqui, não vai ter problema porque quem fez isso daqui com
ele, a gente vai descobrir quem foi o rapaiz. Mas agora a gente tá sabendo o que causou
essa explosão. Então... vamo fazer o seguinte, cadê o outro bombeiro? O outro
bombeiro que tava lá fora? Bora... cê consegue chamar ele aqui meu querido? Você
policial aí...Gonzalão, brabo, o grandão aí... Chama o cara lá pra vim aqui pô. Confio
em você.
As palavras de Thiago parecem ter afetado Gonzalez. Ele até se colocou em uma
postura mais confiante.
-Brigado. Eu vou...eu vou fazer... Brigado. Eu vou lá fora. Já volto.
Então ele caminha em direção à porta, restando apenas os três ali.
Elizabeth abre a sua maleta, e começa a analisar as evidências.
Quando ela analisa o plástico de novo, ela percebe que era o plástico de algum tipo de
garrafa, e que nele tem resíduos de um pó estranho.
Ela pega um cotonete na sua mala, passa no plástico, retirando alguns fragmentos do pó
dele.
Pega alguns frascos com alguns líquidos, e faz alguns testes, e descobre que aquele não
era um simples pó. Era a mistura de vários cloretos diferentes, que são todos elementos
que se conseguiria encontrar em um laboratório de química de uma escola. Liz sabia
que, ao misturar aqueles elementos, poderia facilmente ser criada uma pequena bomba
caseira que não causaria grande explosão, mas provavelmente tinha sido o estopim para
começar aquele incêndio.
Olhando para o tecido branco e para os fios de cabelo, ela tenta achar alguma relação
entre eles, mas não encontra. Porém, ao analisar a foto que tirou do rosto, olhando para
as feridas nos olhos e na boca, ela percebe que são vários cortes extremamente finos.
Daniel que estava quieto antes, resolve se aproximar para falar com Elizabeth, mas
percebe algo estranho quando passa pelo corpo e olha de relance. Ele para e analisa,
percebendo que um dos braços não estava no mesmo lugar de antes. Ele parecia ter se
mexido alguns centímetros para o lado.
Ele então volta a seguir em direção à Liz, para conversar.
-Elizabeth.
-Opa!
-Seguinte, eu não sou muito bom nesse negócio de trabalhar com as pessoas, mas eu
acho que a gente vai ter que...trabalhar junto pra descobrir o que aconteceu aqui.
Ãn...Eu queria saber se, o quê que tu tá pensando, o quê que...quê que talvez... você
acha que aconteceu aqui, porque...o quê que você viu no corpo exatamente?
-Tá. Vamos por partes. É... enquanto vocês tavam conversando com o bombeiro lá fora,
eu anotei algumas coisas como... o gás de cozinha causando a explosão- fala olhando as
anotações- Detalhes que foram dados pelo bombeiro. E tinha um dispositivo
menor...e...o dispositivo menor talvez confira. Eu encontrei vários pedaços de plástico,
não sei se você consegue ver no chão, ó- mostra para ele os pedaços de plástico perto do
corpo- Tem um ponto de onde saiu a explosão. E vários pedaços plástico ao redor. Que
indicam que algum tipo de químico foi colocado dentro de uma garrafa, ou algo do
gênero, e essa garrafa explodiu. Mas não foi uma explosão grande o suficiente ao ponto
de botar fogo na escola, e talvez o gás de cozinha, citado pelo bombeiro, seja o ponto
pra gente começar a investigar.
-Certo.
-É... não parece uma explosão acidental. Na verdade, a garrafa ela já entrega um pouco
que foi algo minimamente pensado. É... tem muitas feridas em volta dos olhos e da boca
desse cadáver e... eu encontrei alguns fios de cabelo...é... mas são fios de cabelo pretos-
ela mostra o cabelo embalado- Não são fios grisalhos, ou seja, não é da vítima. E não
parecem ser de outras pessoas que tavam presentes no local. Fora esse pedaço de tecido
branco que tava na mão dele- ela mostra a última evidência.
-Você não acha estranho... esses sinais de luta? Do bombeiro. Porque ele... apresenta
hematomas no pescoço, mas ao mesmo tempo, os olhos dele foram...esmagados. Isso
me faz questionar, se isso realmente é um trabalho sobrenatural ou não, porque...Bom,
eu acho que se a gente tá aqui, com certeza foi um trab...alguma... alguma coisa
sobrenatural, mas... tudo tá muito estranho. Muito estranho. Por quê que uma garrafa
explodiria...na cozinha que tinha gás...parece intencional. Mas daí de repente o
bombeiro viu uma...uma figura...obscura, andando pra lá e pra cá, meio torta... e aí o
bombeiro morto tá com a boca aberta...
-Mas veja bem, vamos analisar com calma. Porque, se a gente começar pela garrafa, os
elementos que tão dentro da garrafa, eles são elementos que podem ser encontrados em
um laboratório escolar. A gente não...os cloretos dentro da garrafa, eles não são nada
difíceis de serem encontrados, então isso pode ter sido feito por uma pessoa, que talvez
esteja com a intenção de amedrontar outras. Ela tinha intenção de causar uma explosão.
E ela tinha a intenção de deixar as pessoas apavoradas. Não parece ser algo paranormal.
Mas...após à explosão é a parte que me preocupa. O que causaria feridas
tão...dilacerantes no rosto desse homem, e... de quem que ele arrancou esse pedaço de
roupa ou o que quer que esse tecido seja? E esse cabelo também. Então, eu não consigo
determinar se são de uma pessoa normal? Ou, cê sabe né...
Thiago que estava apenas observando de longe, percebe que o cadáver começa a dar
pequenas tremidas.
-Rapaziada?- ele se aproxima deles- Ô rapaziada, não queria interromper vocês não. Tô
ligado que o papo aí tá bom, mas ô...aquele bicho ali no chão tá dando uns trimilique,
velho- quando ele aponta, eles veem que o corpo, que antes Daniel só tinha visto uma
pequena movimentação no braço, agora dava pequenos espasmos.
Elizabeth se aproxima do corpo e consegue ouvir sons vindos dele e do constante
movimento. É possível ver as veias dele pulsando e inchando.
Thiago grita:
-Ô GONZALEZ! BROTA AQUI QUE DEU UM PROBLEMA GRAVE MEU
QUERIDO! VEM CÁ!
Gonzalez que estava dobrando o corredor para chegar no refeitório, chega e pergunta:
-Oi. Que tá acontecendo?
-Corre aqui meu querido. Corre aqui que esse corpo daqui tá com capeta dentro.
Pelos conhecimentos de Daniel, ele sabia que porque a Membrana estava muito
sensível, provavelmente pelo corpo estar há muito tempo ali, ele estava sendo possuído
pelas entidades do mundo oculto, e logo se transformaria em algo.
Ele puxa Thiago e fala:
-O quê que tu tá fazendo? Tira o Gonzalez daqui porque ele não pode ver nada
sobrenatural.
Próximo a eles, Gonzalez se encontra extremamente curioso e falando:
-O quê que tá acontecendo aqui? Oi?
-Ô meu querido, ô meu querido- Thiago se aproxima de Gonzalez- Peraí. Ô Gonzalez.
Não. Era só um teste pra ver se você tava atento mano. Ow! Peço perdão aí, tá ligado.
Vem cá, vem cá, deixa eu conversar com você.
-Eu trouxe...
-Não. Vem cá, eu conversar com você. Bora conversar com a Isabela ali pô. Vem cá- ele
começa a puxá-lo para a porta- Deixa a coisa aí...é que eles viram uma coisa muito
importante. Bora lá, bora lá.
Enquanto ele puxa o Gonzalez, o corpo começa a tremer mais. É possível ouvir o som
da garganta dele tremendo por dentro, e ver as veias pulsando e inchando mais,
enquanto as unhas começam a entrar na carne e ficarem mais pontudas e a mandíbula
começa a se mexer.
Ele está virando algo que definitivamente não é humano.
-É...Daniel? É o seguinte, eu lido com coisa que tá morta. Isso aqui não tá morto não-
fala Elizabeth.
Daniel se encontra muito assustado. Ele nunca tinha visto uma criatura paranormal na
sua frente, e aquela era a primeira vez que isso estava acontecendo. Isso estava
deixando-o chocado.
Ele tenta se lembrar de algum conhecimento sobre aquela criatura, e constata que aquele
era o que a Ordem chamava de Zumbi de Sangue. Aquilo acontecia quando um corpo
ficava por muito tempo em um lugar onde a Membrana estava sensível. Entidades da
outra dimensão começam a tomar conta e transformar o corpo em uma criatura com
garras grandes, uma boca enorme e muito vermelha. Logo a transformação acabaria, e
no lugar do bombeiro, estaria um monstro muito agressivo.
Daniel sabia que eles tinham no máximo um minuto e meio até aquilo virar uma criatura
sedenta por sangue e carne. E sabia também, que não havia muito mistério para matar,
mas que não seria fácil, pois o monstro era forte.
Ele explica brevemente sobre isso para Liz que ainda estava próxima ao cadáver.
-Daniel! Seguinte, ele tá...ele tá tremendo aqui no chão. O que...o quê que ele faz? O
quê que a gente pode fazer?- Liz pergunta um pouco nervosa.
-Ok. Primeiro sai de perto, e segundo, tu é policial né?
Aos poucos o corpo começa a ter espasmos mais fortes, subindo e descendo diversas
vezes.
-Tá. É o seguinte Daniel, o plano é o seguinte: cada um pega num braço e a gente vai
arrastar ele pra fora daqui o mais rápido que a gente puder. Quanto tempo a gente tem?
-Elizabeth, fica longe dele. Fica longe dele e me responde, tu é uma policial né?- fala
começando a ficar irritado.
-É...então...é que é meio que eu não trouxe minha arma né...- fala se afastando um
pouco.
-Que show de bola que você não trouxe sua arma. Muito inteligente não é mesmo?- fala
em tom de deboche.
-Caramba. A gente foi num café. Como que eu ia trazer minha arma num café?- fala
ficando um pouco irritada.
-Eiii! Não use bons argumentos contra mim! Não use bons argumentos contra mim.
Esse bicho vai tentar devorar a gente.
Ela abre a mala e vê que, por muita sorte, que tinha guardado de uma evidência de outro
caso, uma faca que foi usada em um crime que já tinha sido resolvido.
-Esfaqueia- fala Daniel com convicção quando vê aquele objeto nas mãos de Liz.
-Onde eu esfaqueio ele?
-Na cabeça, pra garantir- Daniel vai para cima do corpo para segurá-lo.
O cadáver começa a mudar, ganhando uma forma mais monstruosa, enquanto começa a
se mexer mais intensamente e começa a dar pequenos rosnados monstruosos.
Daniel consegue ver que a boca da criatura parecia estar sendo costurada pela própria
carne e pelas veias que estavam pulsando anteriormente.
Os dedos estavam pontiagudos, formando garras. Não havia nada naquela
monstruosidade que lembrasse que um dia aquilo tinha sido um ser humano.
Em um instante, o monstro tenta atacar seu pescoço, mas ele consegue segurar a garra
no último instante, forçando-a para baixo e segurando firmemente no chão. Mas aquela
não era uma tarefa fácil e Daniel não sabia por quanto conseguiria segurá-la.
A besta parecia ficar cada vez mais forte.
-Pelo amor de Deus! Onde...em qual lugar especificamente eu esfaqueio?- Elizabeth
pergunta nervosa, se aproximando com a faca.
-NA CABEÇA! CABEÇA PELO AMOR DE DEUS!
-Tá bom!
Ela chega por trás da cabeça do bicho para atacar e ele vira a cabeça fazendo com que
ela quase errasse, mas Daniel segura e a coloca de volta na posição anterior, fazendo
com que Liz enfiasse a faca com tudo no olho da criatura.
Pela primeira vez ela sente que está realmente lutando contra uma criatura viva, em um
termo completamente diferente do qual ela conhecia.
Assim que a faca é enterrada na cabeça do monstro, Daniel começa a fraquejar, e uma
das garras se solta das mãos dele acertando em cheio sua costela. Ele consegue sentir os
dedos perfurando a sua carne.
Naquele momento, tudo em que Daniel acreditava tinha sido desmentido. A vida inteira
tinha acreditado que seres paranormais não passavam de lendas, e agora, além de estar
cara a cara com uma criatura sobrenatural, ele tinha acabado ser atacado por uma.
Sua vida passa diante dos seus olhos e de repente ele cai na realidade, tendo em sua
frente uma criatura grotesca e terrível, enfiando as unhas em sua costela, que agora
começa a sangrar. Não era humano aquilo que estava enfiando algo dentro dele, e ele
sente como se estivesse sendo envenenado pelo conceito de irracionalidade que não
devia estar acontecendo.
Ele estava completamente transtornado com aquela situação. Prestes a sair fora de si.
Elizabeth ainda está segurando a faca que está no olho da besta. Ela retira e enfia
novamente algumas vezes, mas ele ainda continua lutando. Ela vê que a garra continua
enterrada na costela de Daniel. Parece que o monstro está tentando arrancar um pedaço
dela.
Ela retira a faca do olho dele com toda a sua força, se preparando para tentar decepar a
mão que está enfiada dentro dele.
Ela segura o pulso do bicho, passando a faca por ele. A carne é facilmente rasgada,
quase como se fosse um salame. Os ossos da criatura pareciam ter sido desmanchados,
se transformando em uma espécie de membrana que facilitou o corte.
Ao cortar a mão, o braço se abre, e ela aproveita o impulso para enfiar a faca com tudo
na cabeça dele, na testa, bem acima do nariz.
A criatura dá mais alguns pequenos rosnados antes de desfalecer, voltando aos poucos à
sua forma antiga e humana, do cadáver, mas agora com uma mão humana decepada e
uma faca enfiada na testa.
Ela arranca a faca, agora cheia de sangue do bombeiro Jorge.
Daniel, sangrando, não consegue descrever o alívio que sentiu ao não ter mais aquela
garra perfurando seu corpo. Era quase como ter um orgasmo invertido.
Ele ainda estava em choque, achando que poderia ter morrido naquele momento.
Elizabeth retira-o de cima do cadáver e pega da sua maleta alguns pedaços de gaze que
tinha para emergências, estancando a ferida em seguida, segurando no lugar até que
pare o sangramento. Depois pega uma fita durex, que era a única fita que tinha no
momento, para prender os esparadrapos no lugar.
-Obrigado, obrigado, obrigado- Daniel fala quase sem fôlego.
Alguns minutos antes:
Thiago está empurrando Gonzalez para longe da sala.
-O quê que tá acontecen... o quê que foi? O quê que foi isso?- pergunta Gonzalez
completamente confuso.
-Cara, pra te falar...
-Bom, eu trouxe o bombeiro que você pediu.
-Mano, é que o Daniel...Deixa eu falar o que aconteceu. Mano, o Daniel tem muito
medo de aranha, cara. Apareceu uma daquela caranguejeira gigante ali no chão, aí na
hora eu achei que era alguma coisa se mexendo ali. Mano, eu me confundi, falei
bobagem. Só ignora irmão. Só ignora. Não é problemação não.
-Ãn...tudo bem. A gente tá aqui pra conversar sobre as evidências.
-Hm... Tá. Bora, bora.
Eles conseguem ouvir um som estranho que parecia ser de dor- dor essa que era de
Daniel sendo atacado- e rapidamente Thiago tenta disfarçar, fazendo um som parecido,
fingindo tossir.
Gonzalez que estava caminhando na frente dele se vira ao escutar o estranho som.
-Eita! Tá acontecendo alguma coisa ali dentro?
-Não, não. Eu tossi. Minha garganta...É que eu...antes de sair daqui eu não...não comi.
Eu já fumei uns três cigarros antes de chegar aqui.
Wesleynardo, que estava quieto, vira para o Gonzalez e fala:
-Por favor...me deixa ir pra casa, velho. Eu não aguento mais.
-Ô irmão. É o seguinte. Ãn... todo mundo aqui quer ir pa casa. Ninguém quer ficar aqui
vendo...o meninão lá com os buraco no olho- Thiago percebe o erro que cometeu ao
falar daquele jeito-Desculpa aí, lembrar teu amigo assim. Foi mal. Eu tenho certeza de
que ele era gente boa- Wesleynardo parece um pouco afetado e algumas lágrimas
aparecem- Má mano...não chora, não chora não. Fo...foi mal, foi mal irmão. Ô...ô
Isabela. Cuida do menino aqui pô, pelo amor de Deus.
-Ah! Tá! Sim- Isabela fala colocando a mão no ombro dele- Vai ficar tudo bem, vai
ficar tudo bem.
Thiago sente que está conseguindo a confiança deles o suficiente para conseguir
influenciá-los facilmente.
-Aqui, ô Gonzalez. Ajuda o cara também pô. Tu que...tu que é o brabo pô. Chega lá. Dá
um helpinho pro cara. Dá um ajuda.
-Tudo bem, tudo bem. Vamo lá pra fora, vamo lá pra fora, e dá uma respirada. Aqui é
um ambiente...
-Sim. Bora todo mundo lá, bora todo mundo lá- Thiago interrompe Gonzalez-Deixa
eu... Eu vou ver ali rapidão como tá a caranguejeira, tá ligado. Aquela caranguejeira
grandona, tá ligado. Uns dois metro de altura. Parecia aquele filme que as aranha cai e
mata todo mundo...
-Ok, ok- fala Gonzalez.
-Valeu. Obrigado viu...viu Gonzalez. Cuida aí do cara. Pô irmão, desculpa lembrar aí
teu brother.
Quando Thiago fala isso, Wesleynardo vira para trás e fala:
-Dá uma olhada...é... Vê, vê a cozinha, tem...eu acho que o vazamento de gás veio da
cozinha.
-Da cozinha...Rapai, tu podia ter falado isso...nanana, esquece. Desculpa viu irmão. Fica
de boa. Eu entendi que você perdeu o brother. Não tem problema. Ô! Bora todo mundo
dá um abraço em grupo aí no Wesleynardo, que o cara tá triste.
Os três então se abraçam e Gonzalez fala:
-Não, vai ficar tudo bem. Minha mulher acabou de me trair também, tá tudo uma merda
aqui. A gente tá todo mundo junto.
-É isso irmão. Pô irmão, falar pra vocês, se cêis ficarem aqui uns cinco, dez, vinte
minutinhos aqui, todo mundo se abraçando, vai ser uma coisa linda véi- Thiago fala e
eles começam a caminhar para fora, para tomar um ar- Pronto. Perfeito- ele manda um
beijo para o grupo- um beijo pra vocês. Já volto. Vou ver como é que tá a aranha lá.
Thiago então volta para o refeitório e se depara com a cena de Liz segurando uma mão e
enfiando uma faca no rosto do monstro.
Ele olha para cena um pouco pasmo.
-Carai... Quê que rolou aqui meu querido?- ele passa a mão no rosto e se aproxima dos
dois- Então rapaziada, desculpa aí eu ter saído aqui, ma quê que aconteceu aqui?
-Opa! Fala Thiago!- Elizabeth fala terminando de cuidar do ferimento de Daniel- Então
né...é...chega aqui, chega aqui.
-Eles foram embora Thiago?- pergunta Daniel com o machucado exposto.
-Ah, eles tão lá fora. O Wesleynardo tá numa bad bruta. Que o rapaz aí...
-Eles não podem entrar aqui. Eles não podem de jeito nenhum entrar aqui, porque isso
vai ferrar todo o nosso...nosso objetivo de não... de não expor o mundo sobrenatural.
Eles tariam em perigo tanto...tanto quanto a gente.
-É...Thiago, é o nosso momento de ajudar o Daniel- fala Liz quando percebe que Daniel
está um pouco abalado- É...Daniel, você sabia que esse momento ia chegar. Que a gente
ia ter que lidar com o sobrenatural, e é a nossa função lidar com isso da melhor forma
possível. Eu sei que é difícil, eu sei que é a primeira vez, é a minha primeira vez lidando
com isso também, mas a gente vai conseguir tá bom?
-A primeira vez é sempre- ele fala transmitindo dor na voz e depois limpa a garganta,
falando em um tom mais normal- traumática, se é que me entende- e dá uma risadinha.
Thiago bate palma para o discurso de Liz.
-Isso aí mano. Força. Vamo trabalhar junto.
-Ow! Pensei que você ia ajudar aqui irmão- fala Liz.
Thiago dá uma olhada no bombeiro, que agora tinha voltado ao normal, exceto que
agora estava sem uma das mãos e com um buraco à mais no rosto, depois na costela de
Daniel, examinando o curativo e se assegurando de que estava tudo bem.
-Mano...o bombeiro já tava mal sem olho e sem boca, agora tá sem braço...? Como é
que...e...ow...ãn... A galera não pode mais entrar aqui não, ô velho. Eu vou tê que...Ô,
vou fazer o seguinte, ô Liz, cê tá conseguindo cuidar do Daniel aí de boa?
-Já, já, já tá indo já.
-Tô bem já. Brigado- Daniel fala e dá uma fungada.
-Ó! Eu vou... Eu tenho uma informação importante pra vocês. Eu tava trocando com a
galera lá- Thiago aponta para a porta- e, por um acaso do destino, o rapaz lá que tava
triste, ficou um pouquinho de boa por um segundo, falou que na cozinha deu algum
problema.
Eles se viram e conseguem ver a cozinha por uma porta.
-Sim! Daniel? Lembra que eu falei do vazamento de gás?- Daniel apenas assente com a
cabeça- A gente precisa verificar isso agora.
-Ok, ok, ok- ele responde um pouco baixo.
Os três se locomovem até a cozinha. Ela estava bem destruída, o suficiente para a
parede quase desabar ao abrirem a porta.
De todos os lugares ali dentro, o fogão é a parte mais queimada. Claramente havia saído
dali uma grande explosão.
Pelo pouco conhecimento que cada um deles tinham de explosões, deduziram que: o gás
havia sido aberto e alguma coisa tinha explodido no refeitório, se misturando com os
gases da explosão com o da cozinha, causando o incêndio que eventualmente incendiou
a escola inteira.
Elizabeth se aproxima do fogão, examinando, enquanto Thiago tira algumas fotos da
cozinha.
Liz procura por mais alguma evidência, mas sente que dali ela não conseguiria mais
nada.
Ela então volta a analisar as evidências anteriores, pegando seu kit para tirar impressões
digitais de cenas de crime. Pegando alguns pozinhos e líquidos e espalhando-os no
pedaço de tecido e nos pedacinhos de plástico, ela consegue duas digitais diferentes.
Uma era a do bombeiro, que estava no pedaço de pano. A outra, nos pedaços de
plástico, estava um pouco destruída pelo fogo, mas ela consegue retirar uma impressão
de alguém que não tinha ideia de quem era.
Daniel tenta achar alguma relação entre uma possível criatura que pudesse produzir
fogo, e o incêndio, mas logo constata de que aquilo era apenas uma obra proposital e
humana.
-Ô rapaziada, vou ser sincero aqui, eu não encontrei nada de relevante aqui, velho.
Meu...meu...meu papo é com pessoa e aqui a última coisa que tem é pessoa, velho. Cês
viram alguma coisa de interessante aí? Bora fazer um brainstorming.
-Na verdade, tudo indica que foi o trabalho de uma pessoa mesmo- Daniel fala.
-Então...-Elizabeth fala- o meu grande ponto é que o explosivo no refeitório foi feito
com químicos muito simples, que podem existir nessa escola. E eu não sei se aqui tem
algum laboratório de química, mas... se tiver, seria uma boa ideia a gente dar uma
analisada.
-Você acha que foi algum aluno que fez? Ou um professor ou alguém que trabalhava
aqui?- Daniel pergunta.
-Com certeza alguém que conhecia o lugar né?- Elizabeth responde.
-Ok. O que vocês acham de a gente ir atrás desse laboratório?- ele continua.
Thiago responde:
-Uma boa ideia. Mas antes eu acho que a gente tinha que fazer uma coisa primeiro, cara.
Acho que a galera que a gente não quer que veja o que tá rolando aqui, tem que meter ó-
Thiago faz um gesto com as mãos- o pé. E o Gonzalez, eu acho que a gente tá assim ó-
ele gesticula com os dedos- parcero. Se a gente chamar ele pra vim pra cá com a gente,
e a gente ir no carro de policia dele, chegar e falar: "Ô irmão, a gente esqueceu nossa
arma, pá. Tamo desarmado aqui...vai que tem algum bandido aqui escondido." Ele
talvez empreste uma arminha pra gente.
-Só não deixa o Gonzalez entrar aqui, porque o corpo do Jorge ali ó- Liz aponta pro
refeitório- não tem mais o que fazer.
Enquanto fala, ela se lembra, que dentro da maleta, ela guarda sacos pretos, que são
usados para embalar cadáveres em cenas de crime.
-Ô rapaziada, me ajuda aqui- ela segue pro refeitório- Eu preciso de ajuda que eu tô
meio fraca. Mas assim, dá pra gente embalar o corpo aqui...que né...minha maleta, auto
nível de preparação. E aí a gente se livra desse corpo.
-Rapaiz...Pera ae, pera ae. Antes de tocar nisso ae, deixa eu só eu fumar um cigarrinho-
Thiago fala, já puxando o maço do bolso.
Elizabeth ergue as mãos indignada.
-Ow! Só me ajuda a erguer o corpo aqui. Pelo amor de Deus.
-Ow, calma lá minha querida.
-Eu ajudo, eu ajudo- Daniel levanta a mão. Liz agradece enquanto ele se aproxima. Ele
pega o braço que Elizabeth tinha cortado e estica até ela- Ó! Quer uma mãozinha?
-Ah não velho...- ela fala e dá uma risadinha.
Enquanto isso, Thiago fuma seu cigarro, só observando e dando risada.
-Ow, se o Gonzalez voltar aqui, a culpa não vai ser minha. Só dizendo- a Liz fala.
-Ok. Vamo embalar esse corpo logo, vai- Daniel fala.
Elizabeth abre o saco no chão, e juntos, os dois erguem o corpo e o colocam dentro,
jogando o braço decepado junto e fechando em seguida com o zíper.
Agora, não tinha mais nenhuma evidência da batalha que tinha acontecido ali, com
exceção do machucado de Daniel, que já tinha sido escondido com o casaco.
Ele fica preocupado com a possibilidade de aquele cadáver se transformar de novo caso
demorasse muito tempo para tirarem ele dali. Mas concluiu que logo alguém da polícia
iria aparecer para levá-lo. Ele se recorda do homem que estava tirando fotos quando eles
chegaram e que ele não lembra de ter visto de novo.
-Ei! Elizabeth, Thiago, vocês viram de novo esse outro cara que tava tirando foto aqui?
-Os cara tavam fazendo uma roda de cobaiá lá, fazendo rodinha e abraçando todo
mundo cara. A última vez que eu vi.- Thiago responde.
Elizabeth fala preocupada:
-E se a gente avisasse a Isabela e o Gonzalez que a gente embalou o corpo, assim, e eles
podem vim pegar. Só pra... sei lá, eles não se perguntarem o que é e tentarem abrir. Não
sei... eu quero tá precavida.
Quando ela termina a frase, Gonzalez entra com o Douglas e a Isabela no refeitório, e
ele fala:
-Eita! O que aconteceu? Vocês já embalaram o corpo?
-Opa!- Liz fala e levanta o braço em cumprimento- Opa rapaziada! Eu embalei aqui- ela
aponta pro saco preto- Eu já coletei as evidências necessárias aqui.
-Bom...-Gonzalez balança e coça a cabeça- Já tá ficando...já tá chegando o horário do
meu almoço... É...
-Ah, não. A gente já deixou tudo pronto pra você. Tá- ela faz um ok com a mão.
Ele olha especificamente pro Thiago e diz:
-Muito obrigado por terem me ajudado. Eu tô tendo uma semana muito difícil.
É...e...esse caso especialmente, a polícia não quis m-me dá nenhum tipo de apoio. Eu
fico feliz de que, ao menos eles enviaram vocês, esse setor. Muito obrigado, muito
obrigado. Vocês até já embalaram o corpo pra mim- ele aponta pro saco no chão-
Brigado mesmo. Já deve...mais tarde deve vim a equipe aqui e levar o cadáver embora.
-Pô...não, mas...queria falar pa você aqui Gonzalez- Thiago começa- foi um prazer falar
com você cara. Juro que em todos os meus anos, trabalhando aqui, no grande distrito do
Setor de Crimes Inabituais, eu nunca vi um profissional tão habilidoso como o senhor,
cara. Você chegou aqui, em um momento de adversidade, você botou a moral de todo
mundo pra cima, se mostrou um líder nato. Você foi do começo ao fim, sem reclamar
em hora nenhuma, memo com problemas pessoais, que mano, eu, pessoalmente não
conseguiria, cara. Eu, com problema em casa, com a minha esposa, eu não taria nem
aqui irmão. Você é um cara foda.
Gonzalez, tocado pelo que ouviu, dá um abraço no Thiago.
-Brigado. Brigado- fala chorando- Que bom que você entende. É difícil sabe. Divórcio é
muito chato. Divórcio é uma coisa... porque tem que trabalhar. Não consigo nem... por
quê que não tem algum tipo de leva do meu trabalho sabe, umas férias do divórcio. Ao
menos umas duas semanas pra mim parar de pensar- ele bota a mão no rosto.
-Ô irmão, relaxa. Relaxa, relaxa. O importante cara, não é o amor da outra pessoa, o
importante é o amor próprio irmão. Você tem que se amar porque você é um cara foda-
Thiago aponta pro peito dele.
-Brigado, brigado Thiago- Gonzalez fala mais calmo.
-Você, você é um profissional foda mano.
-Brigado, brigado.
-Você é muito foda...
-Eu sou foda! É verdade!
-Não, fala isso, fala que cê é foda, fala que cê é foda. Quero ouvir.
-EU SOU FODA!
-Isso. Você é foda muleque. Você é foda.
-Você também é Thiago. Muito obrigado.
-Não. Tá tranquilo. Mas relaxa que a aqui a gente vai fazer o trabalhinho por noix tá
ligado? Vô... a gente vai, a gente vai aqui dá um jeito aqui na...no rolê. Olha, queria
falar pra você, que...mano, cê não vai acreditar irmão- ele bate a palma da mão na testa-
Do mesmo jeito que... você tá com a cabeça na sua, tô com a cabeça em casa, tá ligado.
A minha filha lá... Joninha, três anos de idade, tá com uma pneumonia braba irmão, e eu
acabei esquecendo a minha arma. Lá em casa.
-Cê quer que eu empreste a minha?
-Pô, seria perfeito irmão.
-Eu não acho que eu vou usar de qualquer jeito. Eu vou ir... Meu, meu turno acaba
agora. Cê pode me emprestar... Cê tem...Só que aí cê depois cê deixa né...na...na
delegacia pra...não. Mas tudo bem, tudo bem. Pode ficar- ele estende a pistola-
Obrigada Thiago. Brigada por hoje.
-Irmão...obrigada você irmão, pelo amor de Deus. Aqui ó- ele pega a arma da mão dele-
Brigado viu irmão. Ô Isabela, ô Douglas, rapaziada, tudo de bom pra vocês ó- ele
manda um beijo pra eles- um beijo, um ótimo final de semana aí.
-Tchau tchau- Daniel fala.
-Tchaau- Elizabeth também diz.
-Obrigado, obrigado- Gonzalez fala, e eles se viram para a porta- E aí? Vamo almoçar
aonde?
-Sei lá. Vamo no restaurante da esquina?
Eles seguem até a saída, deixando-os sozinhos no meio da cantina destruída.
Thiago analisa o pente da pistola, e constata que tem balas suficientes caso surgisse
alguma batalha.
Assim que o trio sai do campo de visão dos agentes, Elizabeth fala:
-É... vamo procurar o laboratório gente?
-Vamo- Daniel responde.
Eles saem do refeitório, entrando em um corredor à direita, e caminhando na direção
oposta da entrada. No meio das ruínas, haviam alguns lugares menos queimados e
outros mais destruídos. Eles seguem pelo corredor e no final dele, na última sala da
direita, eles encontram uma placa escrito: "LABORATÓRIO DE QUÍMICA".
Os três passam pela porta e entram no laboratório. Ele parece estar em condições
melhores que o resto da escola. A maior parte do ambiente parece ter sobrevivido às
chamas.
Há algumas estantes com frascos de elementos químicos separados em ordem
alfabética, potes com bichos em conserva no formol, pias para uso dos alunos. Todas as
coisas que se espera encontrar em um laboratório escolar.
-É...rapaziada, é o seguinte, não encosta em nada- Elizabeth tira as luvas que estava
usando anteriormente, que tinham sido usadas na batalha contra o zumbi de sangue, e as
substitui por um par novo e limpo. Ela analisa os frascos nas estantes, tentando
identificar os elementos químicos que foram usados para criar a bomba, mas não os
encontra. No lugar onde eles deveriam estar há um espaço vazio, como se alguém os
tivesse pego- É gente- ela junta as mãos sob o queixo- Os cloretos que foram usados
como explosivo não tão mais aqui.
-Ish...-murmura Thiago.
Daniel passa a mão na braba ruiva enquanto diz:
-Bom, usaram tudo então?
-Eles podem ter levado embora...?- Liz levanta os braços em sinal de dúvida e completa
em seguida- os tubos. Eles podem ter preparado o explosivo em algum lugar e ter
deixado os tubos lá. A minha intenção era encontrar as digitais de quem fez isso- ela
apoia o queixo com uma mão enquanto termina de falar.
-Cara... o quê que...
Daniel interrompe Thiago:
-Você consegue descobrir isso?
Elizabeth ignora a pergunta e não se dá por vencida, procurando mais evidências pela
sala. Ela encontra dentro de uma das pias alguns jarros com o cloreto usado na bomba, e
um pouco dele espalhado sobre a bancada, no meio das cinzas. Em um desses jarros, ela
encontra as mesmas digitais que estavam nos pedaços de plástico, só que agora mais
nítidas.
Ela puxa seu pequeno notebook de dentro da maleta, entra no banco de dados da polícia
e insere um pen-drive no aparelho. Daniel e Thiago ficam observando enquanto Liz faz
vários procedimentos. Ela pega algumas fotos e escaneia, passando-as por um software
de digitalização, joga as digitais para dentro do sistema e depois de 10 minutos
analisando e passando por várias fotos de digitais e criminosos, ela não encontra nada.
A digital não pertence a ninguém que está no registro do sistema da polícia. Ela então
resmunga de frustação e se vira para os dois do seu lado.
-Ô rapaziada, eu tenho um negócio aqui que eu não contei pra vocês que eu tinha até
então. Mas eu preciso muito saber se alguém tem algum conhecimento em recuperação
de dados...?
-Rapai, eu vou te falar que eu manjo um pouco disso viu. Na minha época de infância,
te falar, eu era muito bom em montar lego, aí eu decidi ir em cima disso sabe? Aí eu
meio que aprendi a conectar A com B com C. Isso daí eu acho que dá pra dar uma
brincada. Quê que cê tem aí?- Thiago chega mais perto.
-É...então meu querido, eu tenho um cartão SD um pouquinho destruído- ela fala
enquanto pega o item da sua mala- Que eu encontrei numa mochila. Ele não tá
destruído, ele tá sujo. Mas eu acho que é melhor eu deixar ele com alguém que tem mais
experiência do que eu, pra dá uma analisada.
-Você consegue limpar Thiago?- Daniel pergunta.
-Eu consigo dá uma limpada, mas você me empresta o seu...note aí pra eu dá uma
brincada?
-Show-Elizabeth fala enquanto alcança o cartãozinho e o notebook para ele.
-Deixa eu dá uma olhada aqui- fala analisando o cartão dos dois lados.
Ele coloca o cartão SD dentro do computador, e logo que o aparelho lê os dados aparece
um aviso, indicando que o dispositivo está corrompido e que seria necessário passar por
algumas etapas de restauração de dados.
Ele então baixa os softwares que sabe que são necessários para restaurar e formatar
parcialmente as informações desse cartão.
Thiago faz o que sabe, tentando recuperar o máximo de dados possíveis. Com esforço,
consegue recuperar alguns frames de vários vídeos e vê que o cartão está
completamente cheio, ou estava, antes de ter sido parcialmente destruído.
Os dados estavam realmente muito corrompidos, e foram poucos os que puderam ser
salvos.
Eram vários vídeos diferentes, todos nomeados com as datas, como vídeos de câmera. A
maioria eram apenas frames de quadros negros de escola.
Ele concluiu que alguém usava esse cartão em uma câmera, para gravar aulas.
Não conseguiu salvar fragmentos que fossem de vídeos de fato, então não foi possível
pegar nenhuma informação. A maioria eram apenas um quadrado verde com algumas
coisas brancas rabiscadas, muito difícil de ver.
Mas o último vídeo registrado nesse cartão, provavelmente por ter sido o mais recente e
conter informações mais recentes, foi o vídeo com mais peso e o que ele conseguiu
extrair mais dados. A data do arquivo é dia 28 de fevereiro de 2020. O dia anterior,
antes do incêndio e o assassinato ocorrerem.
Thiago abre o vídeo, que começa a reproduzir com muita interferência. Os três ficam na
frente do computador assistindo com atenção.
Muitos ruídos e frames que passam muito rápidos e distorcidos do que parecem ser
árvores ou grama.
O vídeo estabiliza um pouco e é possível ver três pessoas. Uma delas está segurando a
câmera, mirando para o chão.
Eles estão em um lugar com grama, no escuro, durante a noite.
O som está muito distorcido. Tem ruídos altos e às vezes alguns fragmentos
corrompidos passam na tela.
Mas eventualmente é possível ouvir o garoto que está segurando a câmera dizer:
"Gabriel, eu não acho que ela ve..." E então a fala é cortada por um chiado de
interferência.
-Eu acho que ela vem?- Daniel pergunta.
-Eu não acho que ela vem- Elizabeth responde.
Thiago então volta alguns segundos do vídeo, para ouvir de novo, e novamente é
possível ouvir: "Gabriel, eu não acho que ela ve..." e novamente o chiado interrompe a
fala.
Mais alguns segundos se passam e a câmera levanta rapidamente. Eles veem a figura de
uma pessoa, um pouco borrada pelo movimento, na frente de uma cerca. Em seguida é
possível ouvir outra voz, vinda dessa direção: "Fica quieto. Espera um pouco. A gente
já veio aqui de qualquer jei..." E novamente a interferência atrapalha o áudio.
Mais alguns segundos de interferência se passam, e o menino segurando a câmera fala:
"Eu preciso mesmo gravar tudo isso?", e uma voz, vinda da direita dele, de outro
menino que até então não tinha falado nada, diz: "Sim. A gente precisa de evidênci..." E
mais uma vez o chiado surge, mas dessa vez, se mantém por vários minutos, tomando
grande parte do vídeo.
No meio dessa interferência, uma mensagem começa a piscar: "CARTÃO SD
LOTANDO". Logo após essa mensagem aparecer, o vídeo volta, e eles conseguem
ouvir no meio de vários cortes de chiados:"...eu vou ter que trocar de cartão. Esse...".
Se passam mais alguns segundos, e é possível ouvir um garoto dizendo: "Finalmente!".
A câmera sobe rapidamente, revelando pés femininos, com um tênis vermelho e uma
saia vermelha. Quando a câmera vai mostrar mais acima disso, aparece a mensagem:
"CARTÃO LOTADO", e o vídeo termina.
Liz está anotando algumas coisas no seu caderninho, enquanto Thiago ainda está
parado, com a mão sob o queixo, aparentemente pensando no que acabou de assistir.
Daniel enquanto isso, tenta fazer uma análise mental, tentando identificar se as
interferências no vídeo eram por causas paranormais ou não. Mas ele constata, com base
nos próprios conhecimentos, que eram apenas pelos danos causados pelo incêndio.
Thiago volta novamente alguns minutos do vídeo, exatamente no frame onde aparece
um vulto de alguém na frente de uma cerca.
Ele utiliza alguns softwares para amplificar e melhorar a qualidade da imagem, e
imprime em seguida.
Eles tinham a imagem impressa de um frame, onde aparecia um garoto de mais ou
menos quinze anos de idade, com cabelos e olhos escuros, usando um moletom em
cores azuis e brancas e carregando uma mochila nas costas. Ele tinha uma expressão
séria no rosto, quase como se estivesse bravo.
-Ele tá com uma mochila?- Daniel pergunta.
-Parece que tá com uma mochila e um casaco- Thiago responde.
-É um casaco e uma mochila-Daniel constata.
-Ele parece que tá...Ô Daniel, queria falar pra você, que esse cara daqui, é a única coisa
que a gente tem de informação. Eu... ô Liz, acho que o ideal, cara...
-Então... pera aí. Eu tenho uma observação a fazer. Eu tirei esse cartão de uma mochila
destruída- ela fala analisando a foto do garoto e percebe que as duas mochilas não são a
mesma, e termina murmurando- e...não tem semelhança.
Thiago continua:
-Olha gente, eu acho que o ideal... A gente acabou de ver um rosto de um cara. Eu acho
que se a gente conseguir vasculhar essa escola em busca de um anuário, ou algum lugar
que mostre o rosto das pessoas que estudam aqui...-então se lembra, que enquanto eles
passavam pela recepção mais cedo, ele viu uma plaquinha atrás dela, escrito "Arquivo"-
Rapaziada, eu acho que a gente agora tem que ir no arquivo, urgente, ver quem é esse
muleque aqui, velho- ele aponta para a foto- Porque eu não sei que bem bolado eles
tavam aprontando, mas se isso daqui tem alguma coisa haver com aquela explosão, meu
parcero...A gente tem que ver quê que vai rolar.
-É- Daniel fala- Vale à pena pesquisar eu acho.
-Ok. Vambora- Elizabeth fala recolhendo suas coisas.
Eles caminham em direção aos "Arquivos", agora, com o nome "Gabriel" e uma foto
para auxiliar na procura do documento.
Eles abrem a sala, que está bastante bagunçada, mas não sofreu tanto com o incêndio,
por estar protegida pela recepção. Muitos arquivos foram salvos, todos guardados em
ordem alfabética.
Thiago segue direto para a letra "G", e encontra vários arquivos, de muitos alunos de
diferentes turmas. Ele vai procurando pela foto, por terem muitos Gabriéis nessa escola
e em vários horários diferentes.
Depois de algum tempo, enfim encontra a ficha do Gabriel que procurava.
Ele então passa ela para o Daniel, por julgar que ele entendia mais que ele sobre o
assunto.
Daniel então começa a ler em voz alta:
-Gabriel Opspor... Nascido 21 de março de 1994, altura 1 e 70, pais, Giovanni Opspor,
Vic...mãe Victória Opspor...2004...?- então ele percebe que leu a data errada e limpa a
garganta e diz- é desculpa pessoal, eu li errado aqui. É 2004. Endereço, rua
Urubuqueçaba, n...ok. Telefone, hm...eu meio que quero ligar pra esse telefone. Ãn...
conversa...e tem anotações aqui. Conversa muito, muito inteligente, e falta de interesse
nas aulas. Excesso de ausências...- ele fala a última frase passando a mão pela barba e
continua assim-Hm... Ele conversa muito, muito inteligente, porém falta interesse nas
aulas. Hm...Hm...Hm...
-Rapaiz...
-Um aluno de 15 anos então...- Elizabeth fala e anota- Ele ainda faz parte da escola. Não
é um arquivo velho...Hm...
-Alguém tem um telefone aí? Que o meu tá com problema de sinal aqui, velho- Thiago
fala procurando sinal com o celular na mão- Eu tô...Alguém...Eu quero...Alguém trouxe
celular aí?
Liz pega o celular dela na maleta.
-Por favor- Daniel fala.
-Tó- ela fala estendendo o aparelho para ele- Usa aí.
-Eu não paguei meu plano esse mês- ele justifica.
-Divirta-se. O meu é pago pela polícia. Então tá tudo certo.
-Empresta aqui rapidão, pra mim vê uma coisa- Thiago estende a mão para ela.
-Ó aí- ela entrega para ele.
-Então tu é policial- Daniel fala.
-É...-ela balança as mãos representado um "mais ou menos".
Enquanto isso, Thiago disca o número que ele tem salvo como "Sr. Veríssimo", que
inclusive era o mesmo que ele usou para entrar em contato com a Ordem pela primeira
vez.
Ele pressiona o botão de telefonezinho verde e a ligação chama uma vez antes de
alguém atender:
-Alô?- um homem atende.
-Ô...jãa...é a galera da Ordem, beleza? É o... Thiago aqui. Tô numa missão de campo
aqui, junto com o Daniel e a Liz...
-Sr. Veríssimo? Sim, sim. O que deseja Sr.Veríssimo?- ele fala, reconhecendo os nomes.
-Não, não é o Sr. Veríssimo não. É o Thiago.
-Sr. Veríssimo, o que deseja?- ele insiste.
-Ahh...- ele compreende- Eu recebi um número aqui, meu querido, o número aqui, e eu
quero que você investigue pra mim...Eu posso te passar o número aqui, agora?
-Ãn...Você quer que a gente investigue o que?- fala um pouco confuso.
-Um número de celular. Um número de celular aqui, que eu recebi.
-Mas por quê que vai investigar um número de celular, Thiago?- Daniel pergunta baixo.
-Que informações você quer Sr. Veríssimo?
-Eu quero saber todos os números que ligaram e...todos os números que esse número
ligô, nas últimas 48 horas, se possível.
-Ok...- o ruivo fala baixinho.
-Inteligente- Elizabeth comenta.
-Ãn...pode nos passar o endereço...o número por favor?
-Sim, é...mais cinco cinco onze, nove quatro, um um cinco, quatro oito sete meia dois
um, meu querido.
-Nós...entraremos em contato assim que possível. Obrigado- e a ligação é encerrada.
-Pede o histórico do zap. Pede o histórico do zap, Thiago- Daniel fala rápido enquanto
vê ele baixando o celular da orelha- Thiag...adolescente não usa telefone, Thiago. Por
que você não pediu o histórico do zap?
-Esqueci. Noss...Pera aí. Deixa eu ligá de novo, deixa eu ligá de novo- ele fala enquanto
digita rápido o número da Ordem novamente.
-Por favor- o ruivo responde.
Ele coloca o celular no ouvido e ouve-se o aviso de que a linha está ocupada.
-Ai caralho...-fala e tira o celular de perto do rosto de novo- Ô Daniel...
-Ah, quando eles ligarem de novo...-Liz fala.
-Mano! Tu tinha um trabalho- Daniel fala irritado.
-Ei...-Elizabeth começa.
-Desculpa...-ele se acalma- Me dá um cigarro. Eu tô nervoso.
-Ah, tá tranquilo. Tá tranquilo- Thiago responde.
-E...ó...já...Não. Eu já não aguento...eu aguento um fumando- ela levanta as mãos em
direção à cabeça- mas dois...assim ó...
-Mano...bó racha, bó racha um que tá acabando aqui a minha cartela. N... só trouxe um.
Só trouxe um...
-Ahh- Daniel resmunga, e pega o cantil, bebendo um gole.
-Ô, deixa dá um gole também, que eu tô precisando cara- Thiago fala estendendo a mão.
-Ãn...é...sinto muito, eu sou um pouco...hmm...ok. Pode pegar.
-Cigarr...ciga...ah pô. Dividir a...tamo junto. Toma aqui o cigarro- fala alcançado um
cigarro.
-Pode pegar, pode pegar- o ruivo fala quando entrega o cantil.
Thiago toma um gole da bebida, e em seguida pega o celular para fazer uma nova
ligação, só que dessa vez, para o número que tinha no arquivo.
Ele fica atento aos sons da escola, esperando ouvir um celular tocando próximo.
Passam-se 20 segundos, até que uma voz jovem e masculina atende a chamada.
-Alô?
-Alô...quem fala?
-Eu tô ocupado agora. Não posso- e a ligação é encerrada.
Thiago abaixa o celular do rosto, e fala:
-Então gente...é...não falei o nome dele pá...ele não achar que tem alguém procurando
ele e podia tá assustado né. Mas...é o seguinte, Daniel e Liz, esse rapaz tá bem, e a gente
tem que achar ele de alguma forma, que...
-Ow, manda um zap pra ele. Ao invés de ligar- Elizabeth fala- Manda um...alô.
-Essa adolescência toda problemática, cara. Essa adolescência toda problemática- ele
fala passando a mão no rosto- Aqui. Toma aqui o celular de volta- estende o aparelho
para ela- Ó. Desculpa. Eu n-não consigo lidar com esses adolescente não, mano.
-Eu ligo- Daniel levanta o braço.
-Tá. Eu-eu...vai lá. Pega- Liz entrega o celular para ele.
-Eu ligo. Ok.
-Whatzap- Thiago fala.
Daniel abre o aplicativo, e manda uma mensagem para ele:
"E aí?"
Assim que ele aperta "Enviar", um risquinho indica que a mensagem foi enviada.
Ele espera alguns minutos e nada acontece. A mensagem não é recebida.
-Mas ele atendeu o telefone...- fala baixinho, enquanto passa a mão na barba.
-Ele tava ocupado...hm...-Elizabeth murmura.
-Ele não tá vindo de zap?-Thiago pergunta.
-Ele não tá conectado no wi-fi, provavelmente. Beleza. Ok- e Daniel tenta ligar
novamente.
Um aviso indica: "Não é possível alcançar este número nesse momento".
-Bom, isso foi uma perda de tempo- ele fala e em seguida ameaça arremessar o telefone
longe, mas entrega o aparelho para Thiago.
-Tá. Mas, calma. É o meu telefone. Devolve ele aqui por favor.
-Ah...é verdade. Perdão Elizabeth. Eu...
-Brigada-ela fala pegando o celular de volta.
-Eu tô um pouco nervoso- ele fala e bebe de novo do cantil.
-Não, tá tranquilo- Thiago diz- Gente, o quê que a gente sabe agora: a gente sabe que
esse muleque tá bem. A gente sabe que...com certeza...alguma coisa tava rolando
porque ele tava agitado. Então...a gente tem que dar um jeito de descobrir...se o q...se o
número do pai, da mãe dele, pra saber se eles sabem onde é que ele tá. Que...
-Não é mais fácil ligar pra Ordem e pedir pra eles rastrearem o número?- Daniel
pergunta.
-Eu tentei. Na última vez que eu liguei pra eles, os cara deu ocupado. Mas acho que é
uma boa ideia.
-Hm...-Daniel e Liz murmuram juntos e ela continua- Talvez a gente devesse esperar a
Ordem retornar nossa ligação.
-Ok. A gente espera então. O quê que a gente faz enquanto isso?- o ruivo pergunta e
Thiago responde:
-Eu quero conhecer um pouco mais de vocês. A gente tá aqui trabalhando junto,
ma...pô. Liz, fala aí alguma coisa. Quê que...conta um pouco da sua infância.
-Ok. Eu sou da polícia, mas eu não sou uma policial. Eu sou só uma cientista forense.
Eu trabalho com perícia criminal. Eu tenho posse de arma, mas assim...e...não é meu
trabalho trabalhar na rua. Eu só vejo uns corpo, e geralmente morto né. Não vivo que
nem aquele que a gente trabalhou lá atrás.
-Justo, justo- ele fala com a mão no rosto.
-E é isso né. Eu trabalhar com gente morta é meio...sabe...morto.
-Ma rapaiz, cê...prefere conversar com gente viva, ou...ficar, passar a tarde com gente
morta?
-Ah, sei lá né. Eu prefiro fazer meu trabalho do que ficar batendo papinho sobre a
mulher do Gonzalez- ela fala com escárnio.
-Ah...é que aí cê tem que entender também que...pra você extrair informação das
pessoas, cê tem que falar o que elas querem né. Não o que você quer falar.
-Ish...-ela murmura.
-Você tem um bom ponto Thiago- Daniel fala- É mais fácil manipular as pessoas
quando elas acham que você é...idiota.
-Exatamente.
Nesse momento, o celular dos três começa a tocar. Thiago é o primeiro a atender, e
assim que ele aperta o botão, os outros dois sessam.
-Sr. Veríssimo?
-Opa-Thiago fala com o celular no viva-voz.
-As informações que o senhor pediu sobre o número de telefone, indicam um garoto
chamado...Gabriel Opspor, de...15 anos. Ele é filho de Vitória Opspor e Giovanni
Opspor. O endereço da sua residência é rua U...-o atendente parece um pouco perdido
como o nome do endereço- Uru-quiçaba. Um três meia um. O seu pai, é dono de uma
construtora, chamada de Construtora Opspor LTDA (limitada)- e o atendente encerra a
ligação.
-Calma aí, e a mãe? Pergunta...perg..-Daniel fala-Thiago, tu tinha um trabalho! Todas as
informações a gente já tinha no cartão dele.
-Calma, calma- Liz fala enquanto anota.
-Maluco, esse cara fala o bagulho e não espera nada. O cara tá trabalhando pro outro
time pô.
-Ele deu o nome da empresa do pai do Gabriel- Elizabeth fala olhando o caderninho-
que é a construtora. Mas a gente pode pesquisar se...a construtora tinha algum
interesse...se...talvez fosse de interesse da construtora a escola pegar fogo. Nunca se
sabe.
-É. A gente precisa... a gente precisa descobrir a relação da construtora, ou dessa
família, desse menino, com a escola. E como que a gente vai fazer isso?- Daniel
pergunta.
-Cara, acho que...bora vê esse note aí da...da... da Liz. Bó vê se o, se esse endereço...se
acho o endereço dessa construtora. Vai que né-fala Thiago, passando a mão no rosto.
Elizabeth pega então o notebook, e pesquisa sobre a construtora do pai do Gabriel. Ela
encontra um site de uma construtora chamada Opspor, que parece bem empresarial, sem
muitas informações. A construtora não aparenta vender muito seus serviços, deixando
claro que faz trabalhos de construções maiores, para o governo, e não de casas comuns.
Ela tenta encontrar algo que indique que a construtora já fez algum trabalho com a
escola "Nostradamus". Mas essa informação não constava no site.
-Ô Thiago, vem cá, cê é o maluco da burocracia. Chega aqui, me ajuda aqui a fazer isso.
-Manda aí, manda aí. Mostra aí pra nóis quê que a gente tem que resolver- ele se
aproxima do computador e olha o site. Depois, faz algumas ligações e manda algumas
mensagens para pessoas com quem ele trabalhou e que ele acha que podem liberar as
informações que eles precisam. Mas demoraria um tempo até eles responderem-
Rapaziada, eu acho que...a gente tem a informação que é muito importante que a gente
tá vendo. Vai ter o próprio endereço da casa do muleque aqui cara. V...dá uma
pesquisada perto daqui- ele pesquisa então o endereço, e descobre que é relativamente
perto. Menos de 2km da escola.
-Ãn...vamo pra lá?- Daniel pergunta- Cês tão afim de ir lá?
-Eu acho bom. Enquanto isso a gente espera a resposta. Acho que a gente pode dá uma
passadinha lá- Thiago fala.
-Ok.
Elizabeth dá mais uma olhada em volta da sala de arquivos, tentando encontrar mais
algo que pudesse ser útil, mas não encontra nada.
Eles então saem da escola, e pedem um Uber.
Antes de ir até a residência, o trio resolve parar em um estabelecimento para comer.
Elizabeth pede um chá e biscoitos, Daniel um empadão de frango e Thiago apenas vai
ao banheiro.
Já é próximo da uma da tarde quando eles finalmente chegam ao endereço.
O motorista para o carro na frente de uma casa branca, grande e bonita, em um bairro
que parece ser bem rico.
Só a fachada luxuosa foi suficiente para sanar qualquer dúvida de que Giovanni Opspor
era o dono da construtora.
No portão tem um interfone e Thiago prontamente aperta o botão. Após alguns
segundos, uma voz carismática de senhorinha é ouvida do aparelho:
-Alô?
-Alô. Minha querida. Boa tar...
-Quem é?
-Ãn..sou o Thiago. Estou aqui com alguns amigos lá da escola...Como é que é o nome
mêmo...?
-Ãn...escola?
-A escola lá do...
-A escola do Gabriel- Liz ajuda.
-Do Gabriel- Thiago completa.
-Ahh...O Gabriel- a senhora fala com voz mais animada-É dos amigos do Gabriel?
-Isso- Liz fala lá atrás.
-É. Exatamente-Thiago responde- A gente tava vendo que ele tava com algumas faltas,
e aí a gente ficou preocupado aqui...que ele podia tá um pouco triste...podia tá...
-Não fala das falta, não fala das falta-Elizabeth fala baixinho.
-Mas o Gabriel não tava em casa hoje.
-Pera, quê?-Liz fala, confusa como os outros dois.
-O Gabriel dormiu na casa de um amigo-a senhora completa.
-Ahh...-Daniel exclama, tentando fingir já saber disso- É verdade. Ele comentou. Na
casa do...como que é que era o nome dele mesmo? Moça?
-Eu...eu não sei. Vocês querem que eu chame a Dona Vitória?
Daniel e Liz falam juntos:
-Pode ser...
-Eu acho que não...-e Thiago pergunta olhando para os outros- Será...?
-Dona Vitória...- a senhora fala distante do telefone.
-Sim-Liz concorda.
-Pode chamar, pode chamar- o moreno decide.
Alguns segundos se passam, e uma voz feminina é ouvida no interfone:
-Alô?- ela fica em silêncio alguns segundos, esperando uma resposta que não vem, e
então continua- Quem é?
-Fala aí Thiago- Daniel fala baixinho, dando uma cotovelada.
-Foi mal- ele fala respondendo o colega e fala para o interfone- Oi Dona Vitória, aqui
é...amigo do seu...seu filho Gabriel.
-Quê que tem o Gabriel?
-Então, é que a gente...joga futebol de vez enquando junto, lá na quadra e...a gente
percebeu que não tava indo por uns dias e parecia meio cabisbaixo...
-Vocês são bem velhos pra ser amigos do Gabriel, não é?- a mulher fala desconfiada.
Os três olham para cima, e percebem uma câmera que eles não haviam notado antes,
que estava filmando-os.
-Não. É porque é o seguinte, a gente tinha, a gente tava fazendo uma parte de um grupo
assim tá ligado, de uma galera que joga futebol de salão. Eu não sei se ele contou pra
senhora. Certo? E aí a gente meio que tava fazendo aquela parte do coaching staff.
Entendeu?
-Futi...O Gabriel jogando futebol? Desde quando que ele joga futebol? Ele não sai do
computador- Victória fala incrédula.
-Não, mais o muleque é muito bom...-Thiago tenta se explicar.
-FIFA- Daniel ajuda.
-Exatamente minha querida.
-A gente tá ensinando ele à competir em FIFA- o barbudo continua e Elizabeth ajuda a
completar a mentira:
-Video-game- faz movimento de apertar controles de video-game para a câmera.
-Isso- Daniel confirma.
-Quem são vocês? Eu vou chamar a polícia- a mulher fala em tom sério, não
acreditando no que eles contaram.
-Nós somos a polícia- o ruivo fala, convencido.
Elizabeth empurra Thiago para o lado ignorando isso, esperando que a mulher não tenha
escutado.
-Thiago, dá licença. Oi. Senhora. É...
-Ah meu Deus! O quê?- Vitória fala exasperada- O que a polícia...? Pera.
Antes que qualquer um tivesse reação, o portão se abre na frente deles.
Elizabeth, que já estava pronta para consertar o erro do amigo, apenas diz:
-Ah. Tá bom.
-Sempre funciona pessoal. Vamo entrar- Daniel fala em tom de deboche.
-Rapaz, gostei do seu approach cara-Thiago fala, enquanto o grupo caminha para
dentro, em direção à casa.
Eles sobem uma pequena escadaria, até uma bonita entrada, com um pilar de cada lado
e uma grande porta de madeira, com uma maçaneta enorme. O tipo de entrada que só
teria em uma casa de pessoas muito ricas.
Uma senhora baixinha e um pouco corcunda, usando uniforme de empregada e
segurando uma vassoura, abre a porta.
-Ah! A Don...a Senhora Vitória tá esperando vocês na sala.
-Ah...Ok. Muito obrigada. Com licença- Daniel fala passando por ela.
-Valeu minha querida-Thiago o segue.
Assim que todos passam, a senhora fecha a porta. Um cachorro late em algum lugar da
casa e em seguida surge um poodle no hall que os cheira e late em estranheza.
Eles seguem na direção que a senhora apontou e no lugar tem uma mulher esperando-
os.
Ela tem os cabelos completamente loiros, sem nenhum fio branco à mostra. Aparenta ter
por volta dos quarenta anos e medir 1,60 de altura.
Seus olhos azuis se destacam contra a camisola vermelha que usa e tem um par de
brincos de pérola em suas orelhas.
-Ãn...O que? Vocês são policiais? O que tá acontecendo? Cadê o Gabriel?
-É isso que nós gostaríamos de saber Senhora Victória- Daniel responde calmamente.
-Ele se meteu em algum problema de novo?- ela fala um pouco irritada.
-Na verdade...-o ruivo começa a responder.
-Ele sempre se mete em problema na escola- ela o interrompe.
-Ah! É comum ele se meter em problema na escola?- ele fala surpreso.
A mulher passa a mão no rosto e suspira.
-Ai meu Deus. O que o Gabriel fez dessa vez? Esse menino se não tá no quarto jogando
vídeo-game, tá fazendo merda na escola com os amigos- fala um pouco irritada- Ai,
desculpa-fala mais calma e olha profundamente para Thiago- Hein, qual seu nome?
-Ow minha querida, meu nome é Thiago-fala com voz sedutora, e a mulher murmura
em aprovação-Como é que você tá? Tudo bem?
-Tô muito bem. Obrigada Thiago.
-Moça, que brinco bonito esse daí viu- ele fala apontando.
-Você percebeu? Obrigado-ela fala com a mão no rosto e seu cachorro começa a latir-
Geraldinho! Fica quieto!-ela grita com o poodle e abana com uma das mãos, e logo em
seguida o pega no colo.
Thiago assobia e estala os dedos tentando chamar a atenção do cão. Os outros dois
ficam segurando o riso durante todo esse momento de flerte que se passou.
-Mas então...é...o quê que houve, o Gabriel? Eu sei que ele se mete em muito problema
mas ele é um bom menino, ele tem um bom coração.
-Thiago, fala aí-Daniel dá uma cotovelada nele- Ela vai te contar tudo.
-Então minha querida- ele fala passando a mão no cabelo- Falar pra você...não. É que o
Gabriel tava fazendo umas...umas filmagens assim no terreno, que...com os amigos
dele.
-Filmagens?
-É. Tava fazendo filmagem no terreno.
-Ah, é aquele negócio de detetive de novo que ele sempre fica insistindo?
-Não...negócio de detetive? Que, que negócio de detetive é esse daí?
-Ai, desculpa senhores policiais. Eu não sei o que ele fez dessa vez. Mas ele fica
insistindo com esse negócio que ele é um detetive, mas ele tem dezesseis anos, é coisa
de jovem sabe?
-Detetive...quis...quis “casos” que ele tá aprontando, só de curiosidade?
-Toda vez ele acha alguma coisa pra se estressar. Eu nem ligo sabe, muito. Criança tem
que se ocupar mesmo. Sabe? Melhor do que ele ficar o dia inteiro jogando aqueles
joguinhos de vídeo-game. Ao menos ele tá lendo livro. Tá...sabe...tá...
-Ah...verdade. Não, se ele se ocupa cê fica com mais tempo livre né minha querida? Cê
tem algum marido? Alguma outra pessoa aqui na casa?
-Meu Deus...-Daniel fala baixinho tomando um gole do cantil.
-Tenho mais ou menos né...
-Ah. Então, fala pra mim. Como é que tá essa tua situação?
-Do que...do quê? Do meu marido?
-É...exatamente. Quero saber se você tá...tá comprometida.
-Por que você tá interessado no meu marido?
-Não, só de curiosidade. Pra saber as pessoas que...com que pessoas que o Gabriel
interage. Porque a gente tá conversando com você agora, depois a gente pode conversar
com seu marido também.
-O Gabriel, pra ser honesta, ele não...eu não conver...eu não costumo conversar muito.
Des...desde que ele completou treze, catorze anos, ele ficou muito fechado sabe? Ele
passa muito tempo no quarto, ãn... Eu nem tento muito entrar porque eu também não
quero...muito ver o que ele tá fazendo, que nessa idade, cê sabe o que esses meninos
ficam fazendo o dia inteiro.
-É complicado. Tem que bater na porta antes de entrar. É perigosíssimo.
-Mas às vezes ele trás uns amigos aqui pra casa. Eu não lembro muito bem o nome dos
amigos. É, mas cê sabe, ele tem...ele tem um ou dois amigos que fica vindo aqui o
tempo todo. E ele até disse que...áme...hoje mesmo, ontem mesmo ele foi dormir na
casa de um amigo. Ai! Como é que é...Nanci!- ela grita chamando a senhora- Qual o
nome daquele, daquele menino que ele foi dormir?
-O Gustavo?- ela fala na entrada da sala.
-Isso, isso, isso. O Gustavo.
-Gustavo? Qual que é o sobrenome desse Gustavo? Só de curiosidade. Você sabe?
-Ah...eu não vou saber.
-Ish...Não, tranquilo, tranquilo.
-É...Senhorita...Vitória, cê tem o banheiro que eu posso usar?- Elizabeth fala
interrompendo a conversa.
-O banheiro é subindo as escadas, à primeira esquerda.
-Tá bom. Eu...eu vou lá rapidinho. Brigada viu?
-Claro, sem problema.
-Não, pode ir lá. Vai lá Liz. Pode deixar que eu converso aqui com ela.
-Isso, isso, isso. Conversa com ela Thiago- fala saindo em direção às escadas.
-Isso, exatamente. Vou conversar bastante aqui com ela.
-Mas Thiago- Victória fala colocando a mão embaixo do queixo- Por que cê queria
saber do meu marido, hein?-ela dá uma risadinha- Você tem uma esposa, Thiago?- ela
começa a fazer carinho na cabeça do poodle.
Thiago consegue sentir que, claramente, ela está interessada nele. Daniel fica
desconfortável com a situação, mas fica quieto.
-Nã...sou...sou solteiro na noite, né.
-Sabe, eu...meu marido...-ela coloca a mão no rosto, com expressão melancólica- Ele
passa o tempo todo no escritório. Se não tá no escritório da empresa, tá no escritório
aqui de casa...
Thiago está prestes a responder quando Elizabeth grita do andar de cima:
-Ow Daniel! Vem me ajudar aqui no banheiro!
-Ah! Claro!- ele responde.
-Tá tudo bem com a sua amiga?
-Ow, vai lá Daniel.
-Ãn...é coisa de...mulher. Eu vou lá ajudar ela, eu acho- a mulher olha para ele
desconfiada- eu não sei. Eu não interajo muito com elas.
-Ãn...-Victória fica sem saber o que dizer.
-Não, tá tranquilo. Pode deixar eles lá. De vez enquando...é que ela tem continência
renal de vez enquando e...o Dan...o Daniel que carrega os remédio dela.
-Ãn...é... claro-Daniel concorda com a cabeça e dá um sorriso forçado-É...Thiago...-ele
ri sem graça-Tchau, tchau- e sai, deixando os dois sozinhos.
Eles se sentam em uma poltrona.
-Bom, é...Thiago- ela coloca a mão encima do joelho dele- Mas e aí? O quê que o
Gabriel fez dessa vez? Se eu puder fazer qualquer coisa...
-Ah...-ele passa a mão no rosto, desconfortável.
-Pra livrar ele. Me desculpa. Ele só faz besteira, mas ele tem um bom coração.
-Não. Magina. Não, é que...ele entrou num terreno que...era...era do governo sabe? Não
podia entrar e aí tem algumas filma...
-Quando isso? Ontem à noite?
-Não. Ontem à noite não, não. Faz alguns dias. A gente só viu agora as filmagens, mas a
gente queria saber exatamente isso, porque tá se metendo...
-Ai meu Deus Gabriel- a mulher passa a mão no rosto, estressada.
-Não, não. Relaxa minha querida- Thiago fala tentando acalmá-la e ela suspira- Minha
querida, não se preocupe, não se preocupe, que...
-O que o...o que eu posso fazer pra...- ela sobe a mão pelo joelho dele, até chegar na sua
coxa- O que eu preciso fazer pra livrar hein?
-Então...não...-ele fala meio desconcertado- Minha querida, a gente não precisa fazer
nada disso. A única coisa que eu queria saber, tipo, uma coisa séria, justamente pra
né...ajudar o seu filho. Porque aqui a gente tá fazendo tudo obviamente pelo...pelo bem.
Porque é pra ajudar sua família, você...uma mulher linda como você...
-Mas...ele tá em custódia? Vocês prenderam o meu filho?
-Não, não. Ó...minha querida. Se acalme, se acalme, se acalme- ele toca no rosto dela
com uma das mãos- Se acalme, se acalme.
-Para...-ela dá uma risadinha e bate na mão dele- Eu tenho marido. Eu tenho marido.
Para.
Durante esse tempo de flerte desconfortável entre os dois, Elizabeth e Daniel
estavam no andar de cima.
Elizabeth estava esperando no corredor, perto da escada, quando Daniel apareceu.
Ele não questionou, pois estava completamente ciente dos planos dela.
Haviam vários corredores e muitas portas iguais, mas uma em específico se destacava.
Ela tinha um adesivo grande, escrito: “NÃO ENTRE” com a fonte da banda Metallica,
colado em sua superfície.
-Acho que ele tem um bom gosto- Daniel fala admirando o adesivo- Vamo entrar?
Elizabeth concorda e empurra a maçaneta para baixo e a porta abre.
Lá dentro, eles têm a visão de um quarto de adolescente, que claramente é fã de séries
de detetive.
As paredes estavam repletas de pôsteres com as séries de Sherlock Holmes e de todas de
C.S.I. existentes.
Em uma estante, haviam vários livros sobre Sherlock Holmes e outros detetives e
alguns mangás.
O quarto estava impecavelmente limpo e arrumado, com exceção de uma mesa grande
que ficava na parede contrária da cama.
Sobre ela tinha dois monitores, um teclado e um mouse gamers. O que restava de
espaço estava coberto com diversos papéis, cadernos, xícaras e pratos.
O garoto provavelmente pedia para que a empregada não encostasse ali.
O jovem Gabriel parecia empenhado em ser um detetive de verdade pois, preso na
parede, encima do computador, estava um quadro clichê, do tipo visto em investigações
de séries de detetive. Ele estava repleto de diversos alfinetes, que prendiam fotos e
documentos e fios vermelhos que ligavam uns aos outros.
-Primeira coisa-Elizabeth fala- Daniel, esse menino deve tá em grande problema agora-
ela fica alguns segundos em silêncio- Lembra quando a gente ligou pra ele e ele falou
que tá ocupado?
-Uhum.
-É...
-Eu não acho que ele esteja em problema, na verdade eu acho que ele pode até ajudar a
gente.
-Hm...-ela parece considerar essa opção- É o que a gente vai descobrir- ela caminha na
direção do quadro, começando a analisa-lo.
Ela encara todos aqueles fios e papéis, que se conectam de alguma forma com os que
estão espalhados pela mesa.
São todas anotações feitas à mão, e todas elas têm alguma coisa relacionado à escola
Nostradamus. Até mesmo as fotos. Algumas eram de salas de aula de turmas diferentes,
outras eram imagens de postagens de redes sociais.
A maior parte parecia muito relevante, mas três fotos se destacavam entre as outras.
Eram as fotos de três meninas, cada uma em um lugar diferente no quadro, mas com um
xis vermelho riscado encima dos rostos.
Aparentemente, Gabriel estava analisando a vida das três meninas. Cada foto estava
conectada à vários fios vermelhos, que ligavam em lugares, em tweets, conversas e
postagens. Todas datavam do ano anterior.
Na parte direita do quadro, algo estranho chamava a atenção: a maioria dos fios daquele
lado estavam soltos, assim como pedaços de papéis rasgados, e restos ainda grudados
nos alfinetes, como se alguém tivesse arrancado metade das informações.
Elizabeth se aproxima um pouco mais e percebe que nas fotos das meninas tinha seus
nomes.
A primeira era Julia Correa, uma menina de olhos e cabelos castanhos. A segunda era
Fernanda Pinto, uma ruiva de olhos castanhos. E a terceira se chamava Evelyn Orlando,
morena como a primeira, mas com olhos verdes. Liz anota cada um dos nomes em seu
caderninho.
A foto de Fernanda Pinto é a única conectada à outra, de um professor virado para o
quadro negro.
No quadro, está escrito “Bom Dia!” e “História”, em letra cursiva, juntamente de um
desenho do planeta Terra.
O professor tem a pele morena e cabelo raspado. É possível ver a fina haste de um
óculos, pendurado na sua orelha.
Ele usa um moletom amarelo e uma calça preta, e segura um apagador com uma mão e
um giz branco com a outra.
Há três cabeças na parte mais abaixo da foto, o que sugere que foi tirada por alguém no
fundo da sala.
Em azul, em diferentes pontos da foto, está escrito com a letra do Gabriel: “Professor
Alexsander”, “Demitido?”, “• desaparecido?”, “rua augusto liberdade Nº 35 ap. 42”
-Hm...Demitido...Desaparecido...Rua Augusto...Ei, ei, ei, ei ei- Elizabeth fala chamando
a atenção de Daniel- A gente tem um endereço. Hm...
Ligado à essas duas fotos tem a screenshot de um tweet, onde Fernanda Pinto menciona
ter ficado de recuperação em história.
Havia outra informação no quadro, ligada à foto da menina, que dizia: “Dia do
Desaparecimento” e embaixo “30 de novembro de 2019”. Essa data era a mesma que
estava ligada com a de Evelyn Orlando.
Nas anotações do Gabriel, o desaparecimento de Julia Correa estava marcado como “20
de março de 2019”
Analisando com mais atenção os papéis sobre a mesa, Liz e Daniel coneguem ver vários
desenhos com referência à jogos, que pareciam destoantes do resto das informações.
Isto confirmava a falta de organização do rapaz.
Elizabeth está folheando todos os papéis e encontra uma foto rasgada ao meio, onde só
tem o Gabriel. Próximo à metade, onde o rasgo foi feito, tem dois pequenos traços
vermelhos, em diagonal, que lembram a metade de um xis.
Daniel que estava observando do seu lado, fala:
-Quê que tu acha? Ele brigou com alguém?
-Ou...ele perdeu alguém.
-Hm...Ok. Bem observado.
-Será que alguma das meninas desaparecidas tinha alguma relação com ele?
-Não sei. Eu acho que a nossa próxima resposta tá nesse endereço aqui da...da imagem
do professor.
Do andar de baixo, Victória e Thiago continuam sua conversa.

-Mas Thiago- a mulher fala inclinando o corpo um pouco mais perto dele- Você
traba...Há quanto tempo você trabalha na polícia?
-Ah...eu trabalho há seis anos minha querida.
-Seis anos? E como é ser policial? Você deve passar por muito perigo né?
-Pô, te falar que...é um...
-É porque meu marido é tão chato. Ele...ai! le fica com essa coisa de construção. E ai!
É reforma- fala com tédio na voz- Amor, tem que passar três meses fora por causa de
uma construção em Minas Gerais, sabe? Eu fico muito tempo sozinha em casa.
-Não...isso daí. Ó que coisa errada. Como é que deixa uma mulher que nem você,
sozinha?- ele fala balançando a cabeça, e Victória ri.
-Para...Quantos anos você tem Thiago?
-Eu tenho trinta e três, tenho trinta e três.
-Trinta e três...- fala surpresa.
- E você minha querida? Desculpa. Nã-nã-não. Desculpa. Eu não deveria perguntar isso
pra você. Você é uma mulher jovem.
-Quantos você acha que eu tenho?
-Trinta e um, no máximo- ela abre a boca e passa a mão no rosto e ri- no máximo, no
máximo, no máximo trinta e um.
-Ah, não. É porque eu fiz umas cirurgias recentemente. Não mas...
-Não, não. Cê não fez cirurgia. Isso aí é tudo natural. Não é possível.
-Não. Mas é um pouco complicado. Mas, o que importa não é a idade, sabe Thiago.
-Não...a idade...
-É a energia.
-Idade é apenas sinônimo de experiência, minha querida.
-Exato.
-É sinônimo de experiência.
-Uhum.
-E...eu queria falar uma coisa antes, rapidinho. Você falou de um...de investigações que
o seu filho fazia...que...qual foi essa a última investigação de detetive que ele fez?
-Ãn...deixa eu pensar...hm...Ele ficava correndo pra lá e pra cá com tanta coisa.
Faz...mas faz um ano que ele tá implicando que tem menina sumindo na escola. Ele
fica: ah...não sei quem que...ai porque...Eu não sei. Ele deve ter brigado com a
namorada dele.
-Namorada? E quem é essa moça daí?
-Ah...a Li...a Li...Luna, Lina, Lina. Aline. Acho que é Lina, Lina. É...ele mal aparece
com ela aqui. Mas eu gostei que ele começou a namorar, que aí ele ia se ocupar com
menos coisa que não seja coisa de vídeo-game. E ficar, sabe...Mas ele se ocupou
com...Ele se ocupou com alguma coisa diferente de ficar brincando de detetive, sabe. Às
vezes eu acho ele um pouco velho pra ficar brincando de detetive assim. Sei lá.
Fingi...Ficar...Magina ficar fingindo que você é um detetive...que coisa ridícula.
-Nossa...Mas assim, talvez ele um dia seja um excelente policial, não é mesmo?
-Ai...será? Mas eu acho meio perigoso pra ele.
-Ah...Sinceramente...ele parece ser um menino muito inteligente, muito esperto. Eu
acho que o que quer que...
-Ele puxou a mãe né?-fala e passa as duas mãos no rosto enquanto ri forçadamente- Ai,
não. Brincadeira, brincadeira. Mas...e aí? O que...o que eu preciso fazer...o que ele fez
de verdade? Ele só invadiu uma área do governo? É isso?
-Ele invadiu uma área que não era pra ele ter entrado. Porque lá tinha muito, muita coisa
perigosa sabe? Tem uns animais selvagens. Sabe aquelas aves que o exército fica
treinando? Daí ele chega lá...
-Ele invadiu uma área militar?-ela fala com a mão no rosto, chocada.
-É. Ele invadiu uma área militar senhora. Acredita? Aí, eu tava querendo só ver se...
-Meu Deus do céu. Se o pai dele sabe disso...
- Não. Exatamente. A única coisa que eu queria fazer, era achar ele pra poder falar pra
ele: Olha meu querido, não faça isso, que isso é perigoso pra você, a sua fa...a sua mãe
vai ficar preocupada com você.
-Eu posso...eu posso ligar pra ele. Cê quer que eu ligue pra ele?
-Nossa! Por favor minha querida. Liga pra ele aí.
-Só um segundinho. Só um segundinho.
Ela pega um celular que tem uma capinha cheia de brilhos e pedrinhas. Thiago não tem
certeza se são diamantes de verdade, mas provavelmente tinha algum no meio de todas
elas.
Ela disca um número e o coloca perto da orelha. Depois de poucos segundos ela suspira
e guarda de volta.
-Ai...Desligado o celular. Não consegui.
-Hm...complicá...Cê tem o número da namorada dele talvez? Que se ligar pra namorada
dele, talvez ela saiba onde ele tá.
-Não...-ela balança a cabeça-Não, não. Não, mas é que...esses meninos...ele nem deixa
eu falar com ela, sabe? Ela mal vem aqui em casa. É sempre ele indo lá. Ele sempre
indo encontrar os amigos...Ele nunca chama os amigos dele aqui pra casa quase. Só vem
aquele Gustavo. Mas aquele Gustavo também é um pé no saco. Só fica gritano e
jogando vídeo-game.
-Ah, pronto. Por que não liga pro Gustavo? Pronto. Se ele tem todo...
-Eu não tenho o número desse Gustavo. Eu não tenho o número desse...você acha que
uma mãe, em 2020, vai ter número dos amigos do filho?
-Pô...mas e a mãe do amigo do filho? A mãe do amigo do filho você deve ter pô. Aquela
conversinha, aquela fofoquinha entre amigas...não tem não?
-Queria, mas até que não. Meu marido não me deixa sair muito de casa.
-Ah...que complicado esse...esse seu marido tem cara de ser muito chato hein. Sem
querer falar mal...
-Ai! Cê não faz ideia. Cê não faz ideia Thiago.
-Nossa! Pelo amor de Deus. Ele não te deixa sair de casa, não te dá atenção. Uma
mulher maravilhosa dessa...
-Eu sinto falta, sabe?- ela fala em um tom sedutor- De...um homem mais másculo assim.
Mais...jovem mesmo, sabe? Que talvez trabalhe na polícia...
-Ish...Ah, minha querida, sinceramente...
-Seria uma boa influência, sabe, pro meu filho. Mas...-ela não termina a frase.
-Ah...a gente pó...próxima vez aqui, quando você...
-Mas a gente vive uma vida muito boa assim.
-Ah, graças à Deus, graças à Deus. Mas, pra ser bem sincero com você minha...
-Quando é que você termina o seu o horário, hein Thiago?
-Então, meu expediente agora vai até umas oito e meia da noite, depois eu posso vim
aqui e a gente conversa de novo. Uma oito e meia da noite, por aí. Mas aí a gente vê.
-Hm...Cê tem número de telefone, Thiago? Que não seja da polícia?
-Hm...vô te passar aqui...-ele pega o celular da mão dela e salva um número aleatório
nos contatos.
Ela pega o celular de volta e confere.
-Uhum, ok. Entro em contato com você então, Thiago. Seus amigos não tão demorando
um pouco no banheiro?
-Nã...porque...deixa eu te falar...
-Tá tudo bem lá?- ela se vira para olhar as escadas.
-Não, problema grave, problema é grave, sabe? É porque...tadinha da Liz...
-Ai! O que?-a mulher fala e se levanta e começa ir na direção das escadas.
-Não. Não precisa, não precisa- ele pega a mão dela e começa a acariciá-la.
-Ai...
-Não. Minha querida...não precisa vim. Tá tão bom esse momento eu e você aqui, só
nós dois conversando. Cê vai querer estragar isso?
-Para Thiago. Eu sou uma mulher compromissada. Para.
-Não, não. Eu só quero passar esse tempo com você, minha querida. Com você. Senta
aqui vai.
-Depois a gente se fala, depois a gente se fala. Depois. Outra hora, outra hora.
-Não, mas eu só quero conversar. Quero te conhecer melhor. Cê é muito interessante...
-Como é que é o nome dela...?- ela fala o ignorando- Menina?! Menina?! Tá tudo bem
aí?!- ela grita e Elizabeth e Daniel escutam lá encima.
-Eu sou intolerante à lactose!- Liz grita de dentro do quarto- Desculpa!
-Ai...
-Que perigo. Pô, depois pra vim limpar esse banheiro vai ser uma merda, Liz...- Thiago
fala passando a mão na cabeça- Bora, bora então aproveitar pra ver enquanto agora aqui,
pô.
-A gente já tá descendo!- Liz grita.
Nesse meio tempo, lá encima, Liz aproveita para conversar com Daniel.
- Tá. Vem cá, vem cá, vem cá, vem cá.
-Tô aqui.
-Cê tá vendo essa...esse pedaço de foto que a gente tem? Essa meia foto...
-Do Gabriel?
-Sim!
-Uhum.
-É...Não parece que ele fez um xis nessa foto?
-Parece que ele fez um xis nessa foto. Muito bem observado.
-E...
-Talvez uma das meninas que desapareceu?
-Então, será que ele tinha uma namorada? Ou...-ela observa o quadro e tenta descobrir
se aquela foto completa alguma delas, mas percebe que não.
-Possivelmente pode ter sido talvez uma namorada, ou alguém que ele gostava...e isso
talvez tenha incentivado ele a querer investigar esses tipo de desaparecimento, pra
encontrar quem quer que seja que sumiu.
-A gente só tem meninas desaparecidas. Então eu suponho que...essa pessoa na foto
com ele seja uma menina também.
-Provavelmente. Hm...
-A gente devia descer e perguntar pra mãe dele se tinha uma namorada...se ela conheceu
essa namorada...aparência talvez...
-Uhum.
-A gente precisa do máximo de detalhes que a gente puder.
-Liz, tu não achou entranho na hora que a gente entrou, ela não ter mencionado do fato
da escola não ter pego fogo? Ela não sabe? Ninguém sabe? Eu achei isso muito
estranho.
-Hm...bem observado.
-Ela pareceu muito despreocupada com o que aconteceu. A gente mencionou a escola
algumas vezes e ela...não pareceu falar sobre...? Ou pareceu não saber.
-Hm...Talvez ela nem saiba sobre, e como o filho dela falou que tá dormindo no amigo,
que provavelmente não é verdade...
-Uhum. Ok.
-Mas olha, considerando essa vontade dele de investigar coisa, ele com certeza...pode
ter passado na escola. Antes ou depois do incêndio. Também é uma grande opção.
-Bom, se aquela mochila era dele, ele tava lá nessa madrugada, e hoje é sábado. Não
tem aula hoje.
Elizabeth dá mais uma olhada no quarto, tentando encontrar mais alguma coisa que
pareça relevante. Ela observa a mesa e o quadro com atenção, mas aparentemente, tudo
que era realmente importante para seguir com a investigação, já estava em suas mãos.
-Feito. Então eu acho que é isso.
-A gente não consegue analisar o computador, Liz?- ele olha o computador que está
desligado- A gente não consegue ligar ele?.
Ele aperta o botão e a tela se acende, revelando uma tela de bloqueio, com a foto de
perfil do Sherlock Holmes, e um campo para digitar a senha.
-Ok...ãn...Liz? Tudo consegue ver...meu Deus. Como é que a gente vai descobrir essa
senha?
-Hm...
-Hm...
-Eu não consigo pensar em nada.
-Talvez o nome de uma das meninas. Julia, ou Fernanda, ou Evelyn...
Elizabeth tenta rapidamente com os três nomes, mas nenhum deles é a senha. Ela então
escreve Sherlock Holmes, mas essa também não é a senha.
Agora, só restava uma tentativa. O computador iria bloquear depois disso.
-Cê tem alguma sugestão, meu querido?- ela fala com decepção na voz.
-Só com uma tentativa, absolutamente não. Porque...a gente pode tentar a data de
nascimento dele...a gente tem a data de nascimento dele? A gente tem a data de
nascimento dele. Porque geralmente...pessoas utilizam.
Eles tentam pensar em uma forma de descobrir a senha sem ir pelas tentativas, mas
nenhum dos dois era apto o suficiente com computadores.
-Isso aí é coisa do nosso amigo Thiago- Liz fala- Deixa aí, deixa aí. A gente tenta
conseguir com o nosso amigo Thiago.
Do andar de baixo, Victória já estava impaciente com a demora.
Ela solta a mão que Thiago estava segurando.
-Não, não. Mas eu vou ver. Se tem alguma coisa errada com essa menina. Não é
possível- e começa a subir as escadas.
-Não, relaxa minha querida. Relaxa.
Ela ignora e continua subindo.
-Oi! Tudo bem?- ela chega na frente da porta do banheiro, que estava fechada, e bate-
Tá tudo bem aí dentro?
Liz e Daniel conseguem ouvir ela no corredor.
-Ow...Liz!- Daniel sussurra.
Thiago segue Victória, e para chamar a atenção dela, esbarra em um quadro que tinha
na parede.
-Ai, ai, ai- ele passa a mão no braço
-Ai! Cuidado! Meu Deus! Ai meu Deus! Esse quadro custa trinta e...trinta e dois mil
reais!- ela se aproxima do quadro.
Daniel e Liz aproveitam a distração para tentar sair do quarto.
-Ai meu braço, ai meu braço, ai meu braço- Thiago fala passando a mão nele.
Victória ignora Thiago e continua falando sobre o quadro.
-É de um artista norueguês, é uma edição limitada! É um original na verdade.
-Nossa, acho que eu machuquei meu braço- ele fala fazendo expressão de dor.
Enquanto isso, os outros dois conseguem sair do quarto e parar no corredor sem serem
vistos.
A mulher continua ignorando o homem, e começa a analisar a obra de arte, procurando
alguma possível mancha ou algum tipo de estrago.
-Nossa, me desculpa minha querida, me desculpa. Aí, cê tem algum kit de primeiros
socorros em algum lugar?
Ela se vira de frente para o corredor e nota Liz e Daniel:
-Ai! Tá tudo bem? Acontecê...Cê tá bem menina?
-Opa! Então, eu peguei uns biscoitinho ali no caminho pra cá, só que eles tinham leite e
eu sou intolerante à lactose. Eu passei muito mal. Não, mas tá tudo bem agora, viu?
Muito obrigada.
-Bom, já falei com o...com o oficial Thiago sobre o Gabriel. Tá tudo certo. Cês tem
ainda mais alguma coisa? Eu tenho ainda algumas coisas que eu preciso resolver.
-É...eu gostaria muito de perguntar se...ele tinha uma namorada...alguém com que
ele...saía...
-Por quê que você, com essa idade, quer saber se o meu filho tem namorada?-Victória
pergunta um pouco irritada- Cê tem quase a minha idade mulher!- fala indignada.
-Não, não, não, não, não. Não é o que a senhora tá pensando. É só porque...a gente
tá...pesquisando algumas crianças da escola, e eu gostaria muito de saber se o seu filho
tem relação com alguma das meninas...se conhece alguma delas...
-Ué! Mas o quê que tem haver isso com ele ter invadido uma área do governo? Thiago!
Que...
-É porque a menina pode ter invadido com ele, e a gente tá pesquisando todas as
pessoas que podem estar envolvidas- Liz justifica.
-Bom, tem a Lina.
-Lina...-ela anota o nome.
-A Lina é a namorada dele.
-É...você não sabe o sobrenome dela, né?
-Ah...Lina...Cá...alguma coisa. Alguma coisa com K.
-Lina K- Daniel fala.
-Já serve. Já ajuda bastante, viu?
-Muito obrigado. Você foi muito útil- o ruivo fala com ironia.
-Por favor é...o Thiago tem o meu número de telefone- ela fala olhando de forma
conspirante para ele- Ãn...vocês dão, depois dão uma ligada caso ele se meta em mais
algum problema tá? Por favor. Ele é um bom menino. Ele só é meio chatinho às vezes.
-Ah...pode deixar- Thiago fala.
-Nanci! Abre a porta pra eles por favor.
-To ino!- e a senhora vai caminhando até a porta.
Depois que eles passam pela porta, Daniel fala baixinho para Liz:
-A gente deixou o computador ligado.
-Dá nada, dá nada. Fala que foi a empregada depois. A empregada que mexeu.
-Ok, ok.
-Tadinha da Nanci...- Elizabeth fala com pena.
Assim que eles passam pelo portão, ele se fecha, deixando-os do lado de fora, na
calçada.
-Ok. Ãn...Thiago, a gente encontrou uma foto de...aparentemente um dos professor,
desaparecido, e lá tem outro endereço- o ruivo começa.
Liz mostra a foto para ele.
-Ma rapai! Quem é esse rapaz aqui?
Daniel responde:
-Aparentemente um professor que ou foi demitido, ou foi desaparecido. Tudo indica que
os alunos não...sabem o quê que, o quê que aconteceu com ele. Ou especificamente...
-Que endereço é esse aqui? Nessa foto aqui?- Thiago pergunta.
-Eu acho que é o nosso próximo destino.
-Hm...pô...gostei de vocês pensarem...vocês acharam mais alguma coisa interessante lá,
enquanto conversava com a...moça ali?
-Liz?
-É...então, a gente encontrou um quadro, e aparentemente o menino tava conduzindo
uma investigação sozinho-fala incrédula-E...sobre várias meninas desaparecidas no
colégio, e a gente tem até alguns nomes que seria interessante pesquisar no arquivo
depois-ela abre seu caderninho, lendo em voz alta os nomes das meninas- A Julia
Correa, a Fernanda Pinto e a Evelyn Orlando. E...é legal dá uma atenção especial pra
namorada do menino porque a gente encontrou uma foto rasgada ao meio, que...pode
envolver a namorada do garoto.
-É...deve a...ela falou o nome né? Lina K? -Thiago pergunta.
-Lina.
-Depois, talvez a gente possa voltar pra escola e procurar lá nos registro se ela é do
colégio.
-E se a Lina desapareceu, esse pode ser o maior motivo pra esse garoto ter surtado e ter
sumido.
-Com certeza. Deve ter tido algum motivo pra ele ser tão interessado em coisa de
detetive. E pra esse caso ter sido algo tão importante que ele sumiu. Cês querem ir no
endereço agora desse homem então, agora?
-Ãn...o quão longe é?- ela pesquisa no Google Maps que indica que o endereço fica em
torno de 4 à 5km dali, por ser na região oposta da escola, em uma área mais pobre- Opa!
Vamo de Uber rapaziada.
-Uberzada-Daniel fala.
Eles então pedem um Uber pelo aplicativo, e seguem para o endereço.
O contraste entre o endereço anterior e esse é muito grande.
O bairro era muito mais simples se comparado com o outro que era repleto de mansões
e casarões. Era um ambiente repleto de pequenos prédios de apartamento.
Já são por volta de quatro da tarde quando o motorista para o carro em frente à um
prédio bem simples e amarelo, com mais ou menos nove andares.
Depois de pagá-lo, eles descem do carro, caminhando em direção à entrada.
Elizabeth para em frente à porta e aperta o número 42 no interfone.
Eles esperam durante um tempo, mas ninguém responde. Aparentemente não tinha
porteiro.
Thiago analisa a porta de metal, pensando em arromba-la com um chute. Mas a porta
parecia bem resistente e poderia fazer um barulho desnecessário, considerando que eles
estavam em público e várias pessoas passavam pro ali.
Daniel pensa em utilizar algo como lockpick, mas desiste da ideia quando percebe que
não tem maçaneta.
Elizabeth é a única a ter uma ideia promissora. Ela liga para o número 41 no interfone.
Depois de alguns segundos, uma voz grossa atende:
-Alô?
-Opa! Boa tarde. Tudo bem?
-Boa tarde. Quem é?
-É...então, eu sou amiga do...Alexsander...ele mora acho que...na porta à sua frente. Ele
me ligou pra ir aí, que ele não tava passando bem, mas eu to ligando no interfone dele
agora, e ele não tá atendendo. Cê acha que você consegue abrir pra mim, pra eu dar uma
verificada se ele tá bem?
-Ãn...claro. Claro, claro. Qual o seu nome, só pra...
-É...Gabriela.
-Gabriela...
-Isso.
-O...o Alexsander tá passando mal?
-Opa! É...ele tá, ele tá. Ele me ligou que ele tava passando meio mal.
-Ok, ok.
A porta faz um som e se abre.
-Opa!
-Qualquer coisa é...eu moro...eu moro...Eu moro na, no outro elevador. Mas, se
precisar...o Alexsander é um bom garoto. Eu gosto dele. Só me chamar.
-Opa! Brigada.
-Okay-Daniel fala.
-Vamo lá rapaziada- Liz fala enquanto entra.
Eles entram no prédio e se deparam com um corredor bem fino, com dois elevadores,
um à frente do outro, um com a lista de números finalizados em um e outro com
números finalizados em dois.
Eles seguem no corredor e entram no elevador com números dois e apertam o botão
para o quarto andar.
Quando a porta se abre, eles estão de frente para a porta do apartamento 42, que está
fechada. Este é o único apartamento do andar, e não tem nenhuma campainha visível.
Elizabeth se aproxima para bater, mas começa a ouvir sons intensos de luta vindos do
lado de dentro do apartamento.
-Arromba! Arromba!- Daniel fala- Thiago arromba! Tu é o mais forte de todo mundo!
Thiago então se afasta um pouco e dá um chute com toda a sua força. A porta cede com
facilidade, caindo do lado de dentro do apartamento.
O que eles veem do lado de dentro é............................................................................

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NO PRÓÓÓXIMO EPISÓDIO DE A ORDEM PARANORMAL!!!!

TÃNÃNÃNÃN TÃNÃNÃNÃN TÃN TÃNTÃN TÃNÃN

;-;
felps reference

Obs: Têm um símbolo da primeira temporada em dois lugares aí em cima. Eles são beeeem visíveis.

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