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Maratona Intensiva

Direito Penal
Michelle Tonon
profmichelletonon@gmail.com
@michelle.tonon
1. Em julho de 2021, Hugo, inconformado com o término de seu
relacionamento amoroso com Carolina, passa a enviar dezenas de
mensagens por aplicativos de conversas todos os dias, questionando a
moça sobre o rompimento e desejando marcar um encontro. Em redes
sociais, também envia mensagens, em tom ameaçador, mencionando
que cometeria um ato de loucura caso Carolina não o respondesse. Além
disso, durante cerca de duas semanas, Hugo se dirigiu ao trabalho de
Carolina e permanecia na porta, observando- -a, por algumas horas,
sendo notado pelos colegas de trabalho de Carolina. Em determinado
dia, após perseguir a ex-namorada na saída do trabalho, Hugo é preso
em flagrante. A família procura você, advogado/a, para aconselhamento
jurídico. Nessa situação:
a. A conduta descrita caracteriza a contravenção penal de perturbação da
tranquilidade, infração de menor potencial ofensivo, cabendo a aplicação dos institutos
despenalizadores da Lei n. 9.099/1995, como a transação penal.
b. Hugo praticou o delito de perseguição ou stalking, previsto no art. 147-A do Código
Penal, na forma majorada, pois praticado contra mulher em contexto de violência
doméstica e familiar, sob a égide da Lei Maria da Penha. O crime é de ação penal
pública condicionada, dependendo de representação de Carolina.
c. Ainda que Hugo praticasse um único ato de observação de Carolina em seu local de
trabalho já estaria caracterizado o crime de perseguição, o qual não exige um
comportamento reiterado do agressor.
d. A conduta de Hugo é atípica, pois seria necessário o efetivo ingresso no local de
trabalho de Carolina, assim como a prática de violência física contra a moça, o que não
se verificou no caso.
Art. 147-A do CP
“Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-
lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos
do § 2º-A do art. 121 deste Código;
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de
arma.
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à violência.
§ 3º Somente se procede mediante representação.
• Lei 14.132/21, que entrou em vigor em 1º de abril de 2021, introduziu no Código Penal
o crime de perseguição, também conhecido como stalking, tipificando-o no art. 147-A.
• O delito é de forma livre, podendo ser praticado das mais diferentes formas, como
ligações telefônicas, mensagens SMS ou em aplicativos de conversas, redes sociais,
emails, vigilância e perseguição da vítima pelos lugares que frequenta, dentre outras.
• O crime é habitual, consumando-se com a reiteração dos atos de perseguição.
• A tentativa não é admitida em virtude da natureza habitual do delito.
• A contravenção de perturbação da tranquilidade (art. 65 da Lei de Contravenções
Penais), que punia a conduta de molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por
acinte ou por motivo reprovável, foi expressamente revogada pela Lei nº 14.132/21.
• Considerando que a perseguição foi praticada por Hugo em julho de 2021, a
contravenção penal já se encontrava revogada, sendo hipótese de incidência da nova
figura prevista no art. 147-A do CP.
a. A conduta descrita caracteriza a contravenção penal de perturbação da
tranquilidade, infração de menor potencial ofensivo, cabendo a aplicação dos institutos
despenalizadores da Lei n. 9.099/1995, como a transação penal.
b. Hugo praticou o delito de perseguição ou stalking, previsto no art. 147-A do Código
Penal, na forma majorada, pois praticado contra mulher em contexto de violência
doméstica e familiar, sob a égide da Lei Maria da Penha. O crime é de ação penal
pública condicionada, dependendo de representação de Carolina.
c. Ainda que Hugo praticasse um único ato de observação de Carolina em seu local de
trabalho já estaria caracterizado o crime de perseguição, o qual não exige um
comportamento reiterado do agressor.
d. A conduta de Hugo é atípica, pois seria necessário o efetivo ingresso no local de
trabalho de Carolina, assim como a prática de violência física contra a moça, o que não
se verificou no caso.
2. (FGV/TJ-PR/2021/ADAPTADA) João subtraiu um celular de Maria,
no dia 24/12/2019, mediante grave ameaça consistente na
promessa de ofender sua integridade corporal, exercida com o
emprego de uma faca de 22 cm de lâmina. A ação foi percebida por
guardas municipais, em patrulhamento, que detiveram João de
imediato, ainda com a faca na mão e com o celular subtraído. A
tipicidade adequada dessa conduta é:
a. roubo simples tentado.
b. roubo simples consumado.
c. roubo qualificado pelo emprego de arma.
d. roubo qualificado pelo emprego de arma branca, tentado.
• Consumação do roubo: inversão da posse do bem
• Súmula 582 do STJ:
• “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve
tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação
da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.”
• Majorante da arma branca restaurada pelo Pacote Anticrime (art. 157,
§ 2º, inc. VII); vigência em 23 de janeiro de 2020.
• Lei nº 13.654/18 revogou o § 2º, inc. I, do art. 157. Novatio legis in
mellius.
a. roubo simples tentado.
b. roubo simples consumado.
c. roubo qualificado pelo emprego de arma.
d. roubo qualificado pelo emprego de arma branca,
tentado.
3. (FCC/DPE-BA/2021/ADAPTADA) Em 12/3/2021, Fernando chegou em
casa alcoolizado e após discussão por ciúme, desferiu dois fortes socos no
olho de sua esposa Vitória. Em seguida, Fernando disse que “não quer que
ela fique novamente de conversa com outros homens na rua” e saiu de
casa. Vitória pediu ajuda a vizinhos que a encaminharam ao pronto-
socorro para os devidos cuidados. Em razão dos ferimentos, Vitória
precisou ser submetida a pequena cirurgia, que necessitou de cinco dias
de observação no hospital, mas após alta médica poderia voltar às suas
atividades habituais normalmente. Contudo, no último dia se sentiu mal e
realizou exames no hospital, tendo sido constatada infecção por Covid-19,
que ocorrera no hospital. Em razão das complicações do vírus, Vitória
seguiu internada no hospital e morreu vinte e um dias depois. Diante dos
fatos narrados, Fernando deve responder por
a. lesão corporal em situação de violência doméstica.
b. lesão corporal seguida de morte.
c. feminicídio.
d. tentativa de homicídio.
• A doença contraída no hospital é concausa relativamente independente
superveniente.

• A concausa relativamente independente é aquela se origina da própria conduta


praticada pelo agente. Não existiria sem a atuação criminosa prévia. Por isso é chamada
de relativamente independente, afinal de contas Vitória só foi internada em razão da
lesão praticada por Fernando. É também uma concausa superveniente, pois ocorreu
após o crime de lesão corporal.

• As concausas relativamente independentes supervenientes recebem um tratamento


diferente pelo Código Penal, nos termos do art. 13, § 1º, que dispõe: § 1º - A
superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por
si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou.
Adoção da teoria da causalidade adequada: somente haverá imputação
do resultado se a conduta do agente, segundo a experiência comum, for a
mais adequada para a produção do evento.
Excluem-se os acontecimentos extraordinários, fortuitos, excepcionais,
anormais.
Causa é o antecedente, não só necessário, mas adequado à produção do
resultado.
No caso hipotético da questão, a Covid-19 agravada inaugura um novo
curso causal. A Covid, por si só, causa o resultado e, segundo a
experiência de vida, é improvável que uma pessoa faleça no hospital após
receber socos no rosto.
Portanto, se a concausa relativamente independente
superveniente, por si só, produz o resultado, o agente
só responderá pelos atos até então praticados, pelo
rompimento do nexo causal e adoção da teoria da
causalidade adequada. Logo, Gabriel somente
responderá pela tentativa de homicídio contra Caio,
não podendo ser a ele imputado o resultado morte.
a. lesão corporal em situação de violência doméstica.
b. lesão corporal seguida de morte.
c. feminicídio.
d. Tentativa de homicídio.

Lei nº 14.188/2021 (vigência em 29 de julho de 2021)


Art. 129, § 13, do CP:
Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos
termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).
4. (FGV/TJ-PR/2021/ADAPTADA) Antônio, 19 anos de idade, filho de José,
agrediu reiteradas vezes Pedro, marido de seu pai. O agressor residia com
o casal, na casa de seu genitor. Chegando o processo ao Judiciário, o juiz
impôs medida protetiva em favor do casal, José e Pedro, determinando
que o agressor se afastasse de ambos, proibindo- -o de manter contato
ou se aproximar das vítimas. Houve descumprimento da medida por
parte do agressor, com ingresso na casa paterna, mas com consentimento
de José, e nova agressão a Pedro, que chamou força policial, sendo
Antônio levado à delegacia policial. Nesse caso, as figuras típicas em
análise são:
a. lesão corporal (art. 129, caput, do CP).
b. lesão corporal (art. 129, caput, do CP), invasão de
domicílio (art. 150, caput, do CP) e descumprimento de
medida protetiva (art. 24-A, caput, da Lei n.
11.340/2006).
c. violência doméstica (art. 129, § 9º, do CP).
d. violência doméstica (art. 129, § 9º, do CP) e
descumprimento de medida protetiva (art. 24-A, caput,
da Lei n. 11.340/2006).
• Aplicação da Lei nº 11.340/06: vítima identificada com o gênero feminino.
• Não se aplica em relação homoafetiva entre homens.
• Não há invasão de domicílio, vez que houve consentimento na entrada.
• Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências
• Art. 129, § 9º, aplica-se aos casos de lesão corporal praticada em contexto de
violência doméstica, abrangendo as vítimas homens.
• § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:
• Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
a. lesão corporal (art. 129, caput, do CP).
b. lesão corporal (art. 129, caput, do CP), invasão de
domicílio (art. 150, caput, do CP) e descumprimento de
medida protetiva (art. 24-A, caput, da Lei n.
11.340/2006).
c. violência doméstica (art. 129, § 9º, do CP).
d. violência doméstica (art. 129, § 9º, do CP) e
descumprimento de medida protetiva (art. 24-A, caput,
da Lei n. 11.340/2006).
7. (FGV MPE RJ Estágio 2020 adaptada) Jorge ingressou em uma loja de conveniência de
determinado posto de gasolina com a intenção de praticar um crime de roubo,
portando um simulacro de arma de fogo. Após ingressar no local e anunciar o assalto,
verifica que a única pessoa presente e que estava responsável pelo caixa era o
adolescente Caio, de 16 anos de idade, que ajudava seu pai idoso, verdadeiro
proprietário do estabelecimento. Lamentando o fato de o adolescente estar
trabalhando, Jorge retira-se do local sem subtrair qualquer bem. Os fatos são
descobertos pela autoridade policial após divulgação das imagens da câmera de
segurança, mas Caio e seu pai optam por não comparecer em sede policial por não
terem interesse em ver Jorge responsabilizado, diante da decisão do autor de não
subtrair bens durante a execução do delito. Com base nas informações expostas, é
correto afirmar que a conduta de Jorge configura:
A) conduta atípica, em razão do arrependimento eficaz e do desinteresse
de Caio e seu representante em verem o autor do fato responsabilizado
pelo delito residual;

B) conduta atípica, em razão da desistência voluntária e do desinteresse de


Caio e seu representante em verem o autor do fato responsabilizado pelo
delito residual;

C) crime de roubo simples, devendo ser reconhecida a causa de


diminuição de pena em razão do arrependimento posterior;

D) crime de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo, com causa de


redução de pena da tentativa;
• Desistência voluntária
• O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já
praticados.”
• Tentativa abandonada.
• A diferença com a tentativa reside no sentido de que, na tentativa, o
resultado não acontece por circunstâncias alheias à vontade do agente.
• Na tentativa abandonada, o resultado não ocorre pela vontade do
agente, de forma voluntária ou por meio de arrependimento, o que
impede a consumação do delito.
•Causa exclusão da tipicidade.
•Na desistência voluntária, o indivíduo não
termina os atos executórios, podendo
prosseguir, mas não quer.
• “Posso prosseguir, mas não quero.”
• Consequência: o sujeito só responderá pelos atos até
então praticados.
• Resta o crime de ameaça, previsto no art. 147 do CP:
• Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou
qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e
grave:
• Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
• Parágrafo único - Somente se procede mediante
representação.
A) conduta atípica, em razão do arrependimento eficaz e do desinteresse
de Caio e seu representante em verem o autor do fato responsabilizado
pelo delito residual;

B) conduta atípica, em razão da desistência voluntária e do desinteresse


de Caio e seu representante em verem o autor do fato responsabilizado
pelo delito residual;

C) crime de roubo simples, devendo ser reconhecida a causa de


diminuição de pena em razão do arrependimento posterior;

D) crime de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo, com causa de


redução de pena da tentativa;

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