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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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18/08/2016 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.627 UNIÃO FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : ALBERTO MOREIRA RODRIGUES
ADV.(A/S) : PAULO MACHADO GUIMARÃES
ADV.(A/S) : ADILSON JOSÉ PAULO BARBOSA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


NACIONAL N. 9.424/1996. PLANO DE CARREIRA E REMUNERAÇÃO
DO MAGISTÉRIO. MATÉRIA RESERVADA À COMPETÊNCIA DOS
ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS. IMPOSSIBILIDADE
DE FIXAÇÃO DE PRAZO. CONFIRMAÇÃO DA MEDIDA
CAUTELAR DEFERIDA PARCIALMENTE À UNANIMIDADE. AÇÃO
DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
1. Nos termos do art. 24, inc. IX, da Constituição da República, não
compete à União definir prazo para Estados, Distrito Federal e
Municípios organizarem os respectivos planos de carreira e remuneração
do magistério. Precedentes.
2. Ação julgada parcialmente procedente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em sessão Plenária, sob a Presidência do
Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata de julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade, em julgar parcialmente procedente
o pedido formulado, para, confirmando a medida cautelar deferida,
declarar a inconstitucionalidade da expressão “no prazo de seis meses da
vigência desta Lei”, presente no caput do art. 9º, e da expressão “no prazo
referido no artigo anterior”, presente no inciso II do art. 10 da Lei Federal nº
9.424, de 24.12.1996. Impedido o Ministro Dias Toffoli. Ausentes,

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ADI 1627 / UF

justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Teori Zavascki.


Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski.

Brasília, 18 de agosto de 2016.

Ministra CÁRMEN LÚCIA - Relatora

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.627 UNIÃO FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT E OUTROS
ADV.(A/S) : ALBERTO MOREIRA RODRIGUES E OUTROS
ADV.(A/S) : PAULO MACHADO GUIMARÃES
ADV.(A/S) : ADILSON JOSE PAULO BARBOSA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Cármen Lúcia (Relatora):

1. Ação direta de inconstitucionalidade, com requerimento de


medida cautelar, ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores, objetivando a
declaração de inconstitucionalidade dos arts. 9º, 10 (inc. II e parágrafo
único) e 11, todos da Lei n. 9.424, de 24.12.1996, pela qual se dispõe “sobre
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências”.

Nas normas impugnadas se estabelece:

“Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão,


no prazo de seis meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de
Carreira e Remuneração do Magistério, de modo a assegurar:

I - a remuneração condigna dos professores do ensino


fundamental público, em efetivo exercício no magistério;

II - o estímulo ao trabalho em sala de aula;

III - a melhoria da qualidade do ensino.

§ 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério


deverão contemplar investimentos na capacitação dos professores

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leigos, os quais passarão a integrar quadro em extinção, de duração de


cinco anos.

§ 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos


para obtenção da habilitação necessária ao exercício das atividades
docentes.

§ 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição


para ingresso no quadro permanente da carreira conforme os novos
planos de carreira e remuneração.

Art. 10. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão


comprovar:
(...)
II - apresentação de Plano de Carreira e Remuneração do
Magistério, de acordo com as diretrizes emanadas do Conselho
Nacional de Educação, no prazo referido no artigo anterior;
(...)
Parágrafo único. O não cumprimento das condições
estabelecidas neste artigo, ou o fornecimento de informações falsas,
acarretará sanções administrativas, sem prejuízo das civis ou penais
ao agente executivo que lhe der causa.

Art. 11. Os órgãos responsáveis pelos sistemas de ensino, assim


como os Tribunais de Contas da União, dos Estados e Municípios,
criarão mecanismos adequados à fiscalização do cumprimento pleno do
disposto no art. 212 da Constituição Federal e desta Lei, sujeitando-se
os Estados e o Distrito Federal à intervenção da União, e os
Municípios à intervenção dos respectivos Estados, nos termos do art.
34, inciso VII, alínea e, e do art. 35, inciso III, da Constituição
Federal”.

2. O Autor suscita afronta do diploma legal aos arts. 18, 22, inc. XXIV
e parágrafo único, 24, inc. IX e §§ 1º e 2º, e 25, § 1º, da Constituição da
República.

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Assevera que “a União deve se limitar à edição de normas gerais sobre


‘bases e diretrizes da educação e não se imiscuir no campo restrito e autônomo da
competência dos Estados-Membros” (fl. 12, doc. 2).

Argumenta não haver como a União, “por lei ordinária, determinar aos
Estados-Membros a elaboração de Planos de Carreira, fixar prazos para tal
implementação e ameaçar de intervenção os entes federados ‘desobedientes’. Tais
disposições violam a autonomia federativa dos Estados e avançam em esfera de
competência que o texto constitucional não destinou à União” (fl. 13, doc. 2).

Conclui que nem mesmo a pretexto de dar cumprimento ao art. 60, §


7º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias poderia a União
“legislar sobre seu pessoal, ou melhor, sobre plano de carreira de servidores
estaduais, é matéria de competência exclusiva dos Estados-Membros, no exercício
de sua autonomia fixada diante do pacto federativo de que participa e que se
exterioriza, concretamente, pela capacidade de auto-organização, autolegislação e
autodeterminação” (fl. 14, doc. 2).

Requer a “suspensão liminar dos artigos 9º, 10, II, e parágrafo único, e 11
citados, da Lei n. 9.424/96, posto que frontalmente contrários ao texto
constitucional vigente” (fl. 16, doc. 2).

Pede “o conhecimento e o processamento da presente Ação Direta de


Inconstitucionalidade para, ao final, ser a mesma julgada procedente e declara-se
a inconstitucionalidade dos artigos 9º, 10, II e parágrafo único, e 11, da Lei n.
9.424/96, pela configuração da violação aos dispositivos constitucionais
susomecionados” (fl. 16, doc. 2).

3. Em 30.6.1997, então sob relatoria do Ministro Octavio Gallotti, a


medida cautelar foi parcialmente deferida pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal (doc. 6), em acórdão assim ementado:

“Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino


Fundamental e de Valorização do Magistério. Cautelar, em parte,

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deferida, para suspender a eficácia das expressões que fixam prazo


para o exercício, pelas Unidades da Federação, de atos compreendidos
em sua competência legislativa (artigos 9º e 10, II, da Lei nº 9.424, de
24 de dezembro de 1996)” (ADI n. 1.627 MC, Relator o Ministro
Octavio Gallotti, Pleno, DJ 24.10.1997).

4. A Advocacia-Geral da União manifestou-se pela improcedência da


ação (doc. 7).

5. A Procuradoria-Geral da República opinou pela parcial


procedência da ação, nos termos do deferimento cautelar (doc. 8).

É o relatório, cuja cópia deverá ser encaminhada aos eminentes


Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 9º da Lei n. 9.868/1999 c/c art.
87, inc. I, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.627 UNIÃO FEDERAL

VOTO

A Senhora Ministra Cármen Lúcia (Relatora):

1. A questão posta nesta ação direta refere-se à delimitação


constitucional de competências da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios para legislarem sobre “Plano de Carreira e Remuneração do
Magistério” (arts. 9º e 10 da Lei n. 9.424/1996).

2. Em 30.6.1997, nos termos do voto condutor do Ministro Octavio


Gallotti, este Supremo Tribunal, “por votação unânime, deferiu, com eficácia
ex nunc, até o julgamento da ação direta, o pedido de suspensão cautelar da
aplicabilidade e execução, no caput do art. 9º da Lei Federal nº 9.424, de
24.12.96, da expressão ‘no prazo de seis meses da vigência desta Lei’, e, no inciso
II do art. 10 desse mesmo diploma legislativo, da expressão ‘no prazo referido no
artigo anterior’, indeferimento, quanto às demais normas impugnadas, o pedido
de medida cautelar’.

Seguem os fundamentos do julgado:

“O SENHOR MINISTRO OCTAVIO GALLOTTI(Relator): -


As recomendações proclamadas pelos três incisos do art. 9º da Lei nº
9.424, de 24 de dezembro de 1996 (remuneração condigna dos
professores, estímulo ao trabalho em sala de aula e melhoria da
qualidade do ensino) são, sem dúvida, diretrizes e princípios gerais de
educação, contidos na competência legislativa da União (C.F., art. 22,
XXIV e art. 24, IX e § 1º), nada impedindo, portanto, que se declare,
por lei ordinária federal, a coerência que lhe devem os Planos de
Carreira e Remuneração, elaborados pelos Estados e pelo Distrito
Federal dentro de sua competência legislativa subsidiária concorrente
(art. 24, IX, citado).
Dessa possibilidade, vai, no entanto, considerável distância,

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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ADI 1627 / UF

até a pretensão (combatida nesta ação) de cominar-se prazo, às


Unidades da Federação, para o exercício da competência que lhes
conferiu a Constituição.
Está, o desempenho desse poder pelos Estados e o Distrito
Federal, hierarquicamente subordinado ao conteúdo das normas gerais
editadas pela União, mas não a limites temporais nelas porventura
assinados para a desincumbência, pelos legisladores locais, de sua
competência constitucional, que envolve, ademais, na espécie, além da
competência concorrente relativa a educação e ao ensino, também a da
organização de seu serviço público e a referente ao regime jurídico e à
remuneração do pessoal.
Assim sendo, quanto ao art. 9º da Lei nº 9.424-96, defiro a
liminar, para nele suspender os efeitos da expressão “no prazo de seis
meses da vigência desta lei”.
As disposições acerca da capacitação de professores, constantes
dos parágrafos do mesmo art. 9º, bem caracterizam, segundo penso,
normas gerais, compreendidas na competência legislativa da União,
em que igualmente se inclui, a definição das condições para o exercício
de profissões (CF, art. 22, XVI), sejam, ou não, relacionadas com o
magistério.
Passando ao exame do art. 10, reitero, a respeito de seu inciso
II, o entendimento expendido no início deste voto, a propósito do prazo
fixado pelo art. 9º.
Com a exclusão, no citado item, da expressão “no prazo
referido no artigo anterior”, penso ficar sanado, ao menos ao primeiro
exame, qualquer outro vício de inconstitucionalidade, a incidir sobre o
conjunto das disposições do art. 102 e seu parágrafo único.
Chego, finalmente, ao art. 11, que se limita a proporcionar
meios, em sede adequada (Tribunais de Contas da União, dos Estados
e dos Municípios) à verificação da obediência ao art. 212 da
Constituição, em face do que estabelecem os artigos 34 e 35 da mesma,
o primeiro acrescido, pela Emenda nº 14-96, de nova alínea,
autorizativa da intervenção federal nos Estados, com vistas a,
especialmente, assegurar:
“e) a aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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manutenção e desenvolvimento do ensino”.


Ante o exposto, defiro, em parte, o pedido de medida liminar,
para suspender, até decisão final da ação, no caput do art. 9º da Lei nº
9424, de 24 de dezembro de 1996, os efeitos da expressão “no prazo de
seis meses de vigência desta Lei”, bem como, no inciso II do art. 10 da
mesma Lei, a eficácia da expressão “no prazo referido no artigo
anterior” (doc. 6).

3. Quanto ao Autor, não se está a discutir, nesta ação, qualquer


dispositivo afeto às diretrizes e bases da educação nacional. A
impugnação cinge-se apenas a determinados artigos da Lei n. 9.394/1996,
nos quais se teria, em certa medida, usurpado a competência dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios para definirem, autonomamente, os
respectivos planos de carreira e remuneração do magistério.

4. Na espécie vertente, embora a maior parte das normas


impugnadas (arts. 9º, 10, inc. II, e parágrafo único, e 11 da Lei n.
9.424/1996) disponham sobre diretrizes e bases da educação nacional,
exorbitam da competência reservada à União, pelo art. 24, inc. IX, da
Constituição, no ponto em que definem prazo de seis meses, contados da
vigência da lei, para Estados, Distrito Federal e Município organizarem
planos de carreira e remuneração do magistério local.

Nesse sentido, a atual jurisprudência deste Supremo Tribunal


harmoniza-se com o que decidido no julgamento da medida cautelar,
que deve ser confirmada.

5. O exame das regras constitucionais de repartição da competência


legislativa, por exemplo, em matéria de educação, tem sido admitido na
via da ação direita de inconstitucionalidade, não se havendo cogitar de
ofensa indireta à Constituição. Nesse sentido, as ponderações do Ministro
Luiz Fux, no julgamento da Ação Direita de Inconstitucionalidade n.
4.060 (Pleno, DJe 4.5.2015):

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“É inequívoco que a hipótese dos autos envolve debate acerca da


usurpação de competência da União para legislar sobre normas gerais
em matéria de educação, à luz do art. 24, inciso IX, da Carta de 1988.
Nesse ponto específico, a jurisprudência desta Corte é pacífica ao
reconhecer que não configura ofensa reflexa à Constituição da
República, hábil a obstaculizar o manejo de uma ação direta de
inconstitucionalidade, quando uma lei estadual pretensamente invade
competência prevista na Constituição para a União. É que, se a lei
estadual estivesse usurpando competência da União para editar
normas de caráter geral, ela ofenderia diretamente o texto
constitucional, e não, como invocado pela Assembleia catarinense,
dispositivo específico de Lei federal; in casu, a Lei nº 9.394/96. O
embate é, pour cause, direto com artigo do texto fundamental. Nesse
sentido, aponto os seguintes precedentes:
EMENTA. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 4.353,
de 1º de julho de 2009, do Distrito Federal, que admite o comércio de
artigos de conveniência em farmácias e drogarias. Preliminar.
Ausência de ofensa reflexa à Constituição. Mérito. Ausência de
usurpação da competência da União e de afronta ao direito à saúde.
Improcedência da ação. 1. A possível invasão da competência
legislativa da União envolve, diretamente, a confrontação da lei
atacada com a Carta Republicana (art. 24, incisos V e XII, da
Constituição Federal), não havendo que se falar nessas hipóteses em
ofensa reflexa à Constituição. (…) (ADI 4423, rel. Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 24/09/2014, DJe-225 de 14-
11-2014)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
14.861/05, DO ESTADO DO PARANÁ. INFORMAÇÃO
QUANTO À PRESENÇA DE ORGANISMOS
GENETICAMENTE MODIFICADOS EM ALIMENTOS E
INGREDIENTES ALIMENTARES DESTINADOS AO
CONSUMO HUMANO E ANIMAL. LEI FEDERAL 11.105/05 E
DECRETOS 4.680/03 E 5.591/05. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
CONCORRENTE PARA DISPOR SOBRE PRODUÇÃO,
CONSUMO E PROTEÇÃO E DEFESA DA SAÚDE. (...) 1.
Preliminar de ofensa reflexa afastada, uma vez que a despeito da

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constatação, pelo Tribunal, da existência de normas federais tratando


da mesma temática, está o exame na ação adstrito à eventual e direta
ofensa, pela lei atacada, das regras constitucionais de repartição da
competência legislativa. Precedente: ADI 2.535-MC, rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 21.11.03. (...). (ADI 3645, rel. Min. ELLEN
GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 31/05/2006, DJ 01-09-2006)”.

No mérito, este Supremo Tribunal assentou que “o princípio federativo


brasileiro reclama, na sua ótica contemporânea, o abandono de qualquer leitura
excessivamente inflacionada das competências normativas da União (sejam
privativas, sejam concorrentes), bem como a descoberta de novas searas
normativas que possam ser trilhadas pelos Estados, Municípios e pelo Distrito
Federal, tudo isso em conformidade com o pluralismo político, um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil (CRFB, art. 1º, V)”.

6. Naquela assentada, discutida norma estadual limitadora do


número de alunos em sala de aula, acompanhei o alentado voto do
Ministro Relator Luiz Fux, no sentido do fortalecimento do princípio
federativo, para evitar o que qualifiquei como “tendência histórica de se
frustrar as entidades federadas no exercício de suas competências” 1. Transcrevo
os fundamentos do voto condutor, nos quais se toca o mérito também
desta ação:

“Em matéria de educação, a competência da União e dos Estados


é concorrente, nos moldes do que previsto no artigo 24, inciso IX, da
Constituição da República:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre: (…)
IX - educação, cultura, ensino e desporto;

Ao dissertar sobre o exercício das competências concorrentes


previstas na Carta de 1988, o Ministro e professor Gilmar Mendes

1 Voto da Ministra Cármen Lúcia na ADI n. 4.060, Relator Ministro Luiz Fux, Tribunal
Pleno, DJe 4.5.2015.

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pontua:

‘A Constituição Federal prevê, além de competências privativas,


um condomínio legislativo, de que resultarão normas gerais a serem
editadas pela União e normas específicas, a serem editadas pelos
Estados-membros. O art. 24 da Lei Maior enumera as matérias
submetidas a essa competência concorrente, incluindo uma boa
variedade de matérias como o direito tributário e financeiro,
previdenciário e urbanístico, conservação da natureza e proteção do
meio ambiente (...)
A divisão de tarefas está contemplada nos parágrafos do art. 24,
de onde se extrai que cabe à União editar normas gerais – i. é, normas
não-exaustivas, leis-quadro, princípios amplos, que traçam um plano,
sem descer a pormenores. Os Estados-membros e o Distrito Federal
podem exercer, com relação às normas gerais, competência
suplementar (art. 24, §2º), o que significa preencher claros, suprir
lacunas’. (MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio
Mártires, e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional. 3ª Edição. São Paulo: Saraiva: 2008, p. 822).

Em consonância com as premissas teóricas firmadas linhas


atrás, cumpre não inflacionar a compreensão das ‘normas gerais’, o
que afastaria a autoridade normativa dos entes regionais e locais para
tratar do tema. Assim é que, não havendo necessidade autoevidente de
uniformidade nacional na disciplina da temática, proponho prestigiar
a iniciativa local em matéria de competências legislativas
concorrentes. O benefício da dúvida deve ser pró-autonomia dos
Estados e Municípios.
Na hipótese dos autos, foi a própria União que colocou em xeque
qualquer tentativa de caracterizar as regras impugnadas como normas
gerais. Confira-se o seguinte trecho esclarecedor do parecer subscrito
pela AGU:
‘(...) o limite máximo de alunos em sala de aula é questão
específica relativa à educação e ensino, que constitui,
indubitavelmente, interesse de cada ente da federação, pois envolve
circunstâncias peculiares, tais como: o número de escola colocadas à

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disposição da comunidade, a oferta de vagas para o ensino


fundamental e médio, o quantitativo de crianças em idade escolar para
o nível fundamental e médio, o número de professores em oferta na
região, além de aspectos ligados ao desenvolvimento tecnológico nas
áreas de educação e ensino. Não foi por outra razão que o Constituinte
originário inseriu os temas educação e ensino no âmbito da
competência concorrente’.
Tenho como suficiente este fundamento para – já aqui – rechaçar
o pedido de declaração de inconstitucionalidade articulado na inicial,
forte nas premissas teóricas sedimentadas anteriormente. Vale dizer: a
simples leitura do art. 24 da Lei Maior voltada a ‘resgatar o princípio
federativo’, para usar as palavras do Min. Ricardo Lewandowski, é
bastante para sufragar a validade da lei catarinense. (...)
Ademais, sob o ângulo material, a lei catarinense apresenta
evidente diretriz de prudência ao tratar casos distintos de modo
diferente. Assim é que cria uma proporção aluno/professor que se eleva
à medida que os alunos se tornam mais maduros. À guisa de
ilustração, no ensino fundamental o máximo de alunos é de 30
(trinta), enquanto que no ensino médio uma turma não pode ter mais
de 40 (quarenta) alunos. Tudo isso lastreado em estudos técnicos do
setor de educação, inclusive com a participação de órgãos federais,
como reconhece a AGU:
‘Assinale-se, finalmente, que o anteprojeto de Lei que deu
origem à Lei Complementar n° 170, de 1998, no qual se insere o
dispositivo questionado, foi elaborado por comissão constituída de
diversas entidades de ensino, entre elas o Conselho Estadual de
Educação, a Delegacia Regional do Ministério da Educação e a
Universidade Federal de Santa Catarina (fls. 187). Portanto, com o
envolvimento de órgãos federais.
Assim, evidencia-se que o dispositivo questionado na ação não se
reveste da inconstitucionalidade alegada pela autora’.
É evidente, pois, que a Lei Complementar nº 170/98 do Estado
de Santa Catarina tão-somente esmiúça a lei-quadro editada pela
União, não avançando sobre matéria de competência da entidade
central ao disciplinar quantos alunos devem estar presentes em sala de
aula.

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ADI 1627 / UF

Destaco que esta Corte tem, por seu turno, precedentes em que
considera como legítima a atuação de Estado-membro no exercício da
competência suplementar em matéria de educação.
Na ADI nº 1.399, de relatoria do Min. Maurício Corrêa, o
Plenário desta Corte, em março de 2004, julgou improcedente o pedido
de declaração de inconstitucionalidade Lei nº 9.164/95 do Estado de
São Paulo que impôs a obrigatoriedade do ensino de educação artística
em toda a rede pública, com carga horária definida em duas hora/aula
semanais. Considerou a Corte que essa exigência se afeiçoava à
competência concorrente do Estado para legislar sobre educação,
cultura, ensino e desporto. Confira-se excerto do voto conduto do
acórdão:
‘Também não se poderia afastar da competência concorrente do
Estado (CF, artigo 24, IX) a faculdade de dispor sobre o número de
horas/aulas semanais em que tal ou qual matéria deverá ser
ministrada. Esse rigor atentaria, de fato, contra a estrutura político-
administrativa da República, que, conforme previsto na Constituição,
supõe autonomia dos Estados-membros. Em idêntica trilha o que foi
decidido no julgamento da ADIMC 1991, de que sou relator, DJ de
25/09/99’. (Trecho do Voto do Relator na ADI 1399, rel. Min.
MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2004, DJ
11-06-2004)
Esta Corte também se pronunciou no sentido do exercício
regular da competência em matéria de educação quando do
julgamento, em 08 de março de 2007, da ADI nº 682, redator para o
acórdão o Min. Joaquim Barbosa, com contém a seguinte ementa:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DO ESTADO DO PARANÁ
9.346/1990. MATRÍCULA ESCOLAR ANTECIPADA. ART. 24, IX
E PARÁGRAFO 2º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
COMPETÊNCIA CONCORRENTE PARA LEGISLAR SOBRE
EDUCAÇÃO. A lei paranaense 9.346/1990, que faculta a matrícula
escolar antecipada de crianças que venham a completar seis anos de
idade até o final do ano letivo de matrícula, desde que preenchidos
determinados requisitos, cuida de situação excepcional em relação ao
que era estabelecido na lei federal sobre o tema à época de sua edição

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(lei 5.692/1971 revogada pela lei 9.394/1996, esta alterada pela lei
11.274/2006). Atuação do Estado do Paraná no exercício da
competência concorrente para legislar sobre educação. Ação direta
julgada improcedente.
(ADI 682, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a)
p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA (art. 38, IV, b, do RISTF),
Tribunal Pleno, julgado em 08/03/2007)
No referido processo de controle concentrado, o Min. Nelson
Jobim chegou a destacar o seguinte:
‘De fato a Constituição confere aos Estados competência para
suplementar a legislação da União sobre normas gerais (Art. 24, § 2º).
Basicamente é o que ocorre no caso concreto: o Estado do Paraná
exerceu sua competência concorrente para legislar sobre educação
(Art. 24, IX).
Conforme destacado pelo relator, a própria Lei Federal 5.692/71
facultou aos Estados o exercício da competência legislativa
concorrente (Art. 19, § 1º).
A lei paranaense não foi além do que autoriza a lei federal.
Não ultrapassou os limites da competência concorrente (art. 24,
§ 2º).
Entendo não haver inconstitucionalidade na norma
impugnada’.
Em arremate, e para que sejam afastadas dúvidas quanto à
necessidade de preservação dos dispositivos questionados, acrescento
que, consoante noticiado pelo Governador do Estado de Santa
Catarina nas fls. 121/122, a lei catarinense vigora desde 1998 sem
maiores traumas e resistências concretas profundas, além de ter sido
fruto de ambiente de ampla participação da sociedade catarinense (fls.
187).
Ex positis, voto no sentido de julgar improcedente o pedido de
declaração de inconstitucionalidade das alíneas a, b, e c do inciso VII
do artigo 82 da Lei Complementar nº 170, de 07 de agosto de 1998, do
Estado de Santa Catarina”.

7. Como enfatizei no julgamento da Ação Direta de


Inconstitucionalidade n. 3.669 (Pleno, DJ 29.6.2007), pela qual também

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discutida competência constitucional legislativa em matéria de educação:

“O cuidado da matéria é posto, no plano nacional das normas


gerais, na Lei nº 9.394/96 (Lei de diretrizes e bases da educação
nacional). Aos Estados membros e ao Distrito Federal haverá de se
reconhecer, com base no princípio federativo, a competência que lhe
outorga a Constituição para atuar no sentido de tornar específico e
apropriado, à comunidade local, o que haverá de ser cumprido nos
termos da norma geral” (ADI n. 3.669, de minha relatoria,
Tribunal Pleno, DJe 29.6.2007).

8. Na espécie, e com maior evidência, a definição de prazo e da


respectiva sanção pelo seu descumprimento (caput do art. 9º e parágrafo
único do art. 10 da Lei n. 9.424/1996) para que Estados, Distrito Federal e
Município elaborem planos de carreira e remuneração do magistério
local, nas palavras do Ministro Octavio Gallotti “envolve, ademais, além da
competência concorrente relativa à educação e ao ensino, também a da
organização de seu serviço público e a referente ao regime jurídico e à
remuneração do pessoal”, afrontando o disposto no art. 24, inc. IX, da
Constituição da República.

Como ressalvou, em obtier dictum, o Ministro Gilmar Mendes na


Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.167 (Relator o Ministro Joaquim
Barbosa, DJe 24.8.2011), embora inegável a competência da União para
estabelecer o piso nacional dos professores (objeto daquela ação), na
forma do art. 206, inc. VIII, da Constituição, “editar o estatuto e os planos de
carreiras de seus próprios servidores parece ser quase uma competência inerente à
autonomia dos entes federativos”.

Exorbita, portanto, da competência reservada à União, pelo art. 24,


inc. IX, da Constituição da República, a definição de prazo para Estados,
Distrito Federal e Municípios organizarem os respectivos planos de
carreira e remuneração do magistério.

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9. Os demais dispositivos impugnados tão somente articulam


parâmetros a serem observados na estruturação básica da educação
nacional, sem importar em inconstitucionalidade. Como ressaltou a
Procuradoria-Geral da República,
“(...) quanto à fixação desses parâmetros - ‘remuneração
condigna dos professores do ensino fundamental público, em efetivo
exercício no magistério’ (inc. I), ‘estímulo ao trabalho em sala de aula’
(inc. II) e ‘melhoria da qualidade de ensino’ (inc. III) – bem como a
exigência de elaboração de novos planos de carreira para Magistério
dos Estados-membros e municípios – normas meramente
principiológicas, de nítido caráter geral -, não se vislumbra qualquer
afronta ao texto constitucional, haja vista ser da União Federal, nos
termos do art. 22, inc. XXIV, da Lei Maior, a competência privativa
para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional.
(…) Quanto às regras previstas nos parágrafos 1º, 2º e 3º do art.
9º, além de também configurarem normas de caráter geral, versam
sobre a capacitação de professores, estando, por essa mesma razão,
inseridas na esfera de competência legislativa da União, a quem
compete definir condições para o exercício de atividades profissionais,
dentre as quais, as relativas às funções de magistério (art. 22, inc.
XVI, da Constituição Federal” (fl. 151).

Nesse sentido, bem decidiu o Ministro Octávio Galloti:


“As disposições acerca da capacitação de professores, constantes
dos parágrafos do mesmo art. 9º, bem caracterizam, segundo penso,
normas gerais, compreendidas na competência legislativa da União,
em que igualmente se inclui, a definição das condições para o exercício
de profissões (CF, art. 22, XVI), sejam, ou não, relacionadas com o
magistério”.

10. No ponto, cumpre realçar o que ponderou o Ministro Luiz Fux


em voto na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.167, (Tribunal
Pleno, DJe 24.8.2011), que, apesar de vencido (a ação foi julgada
parcialmente procedente2), ilustrou a necessidade de valorização nacional

2 “CONSTITUCIONAL. FINANCEIRO. PACTO FEDERATIVO E REPARTIÇÃO DE

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do magistério:
“Compete à União e à própria Carta Federal - e nós não temos
competência para declararmos a Constituição Federal inconstitucional
- estabelecer como princípio básico, fixado pela União Federal, a
garantia desse piso salarial profissional nacional para os profissionais
de educação, escola pública, nos termos da lei federal, estabelecer as
diretrizes e bases da educação e outras medidas que estão aqui
enunciadas e que fazem parte do nosso ideário pós-positivista de
valorização da educação, de valorização dos seus profissionais, que, na
essência, acaba resvalando para a própria dignidade do trabalho do
professor, que é, efetivamente, uma atividade que está muito
aproximada, até, de uma ordem sacra. Vossa Excelência, que tanto
gosta das passagens de Rui Barbosa, dizia ele que, na ordem da
sacralidade das palavras, a fala, a mocidade, vinha apenas abaixo da
oração. Então, realmente, é uma tarefa sacerdotal essa dos professores”
(voto do Ministro Luiz Fux na ADI n. 4.167, Relator o Ministro
Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, DJe 24.8.2011).

11. Pelo exposto, julgo parcialmente procedente a presente ação,

COMPETÊNCIA. PISO NACIONAL PARA OS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA.


CONCEITO DE PISO: VENCIMENTO OU REMUNERAÇÃO GLOBAL. RISCOS
FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO. JORNADA DE TRABALHO: FIXAÇÃO DO TEMPO
MÍNIMO PARA DEDICAÇÃO A ATIVIDADES EXTRACLASSE EM 1/3 DA JORNADA.
ARTS. 2º, §§ 1º E 4º, 3º, CAPUT, II E III E 8º, TODOS DA LEI 11.738/2008.
CONSTITUCIONALIDADE. PERDA PARCIAL DE OBJETO. 1. Perda parcial do objeto desta ação
direta de inconstitucionalidade, na medida em que o cronograma de aplicação escalonada do piso de
vencimento dos professores da educação básica se exauriu (arts. 3º e 8º da Lei 11.738/2008). 2. É
constitucional a norma geral federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio com base
no vencimento, e não na remuneração global. Competência da União para dispor sobre normas gerais
relativas ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de modo a utilizá-lo como
mecanismo de fomento ao sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como
instrumento de proteção mínima ao trabalhador. 3. É constitucional a norma geral federal que reserva
o percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos docentes da educação básica para dedicação às
atividades extraclasse. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. Perda de objeto
declarada em relação aos arts. 3º e 8º da Lei 11.738/2008” (ADI n. 4.167, Relator o Ministro
Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, Je 24.8.2011).

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para, confirmando a medida cautelar deferida, declarar a


inconstitucionalidade da expressão “no prazo de seis meses da vigência
desta Lei”, presente no caput do art. 9º e da expressão “no prazo referido no
artigo anterior”, presente no inc. II do art. 10 da Lei Federal n. 9.424, de
24.12.1996.

É o meu voto.

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Extrato de Ata - 18/08/2016

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.627


PROCED. : UNIÃO FEDERAL
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : ALBERTO MOREIRA RODRIGUES (12652/DF)
ADV.(A/S) : PAULO MACHADO GUIMARÃES (5358/DF)
ADV.(A/S) : ADILSON JOSÉ PAULO BARBOSA (10320/BA)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da


Relatora, julgou parcialmente procedente o pedido formulado, para,
confirmando a medida cautelar deferida, declarar a
inconstitucionalidade da expressão “no prazo de seis meses da
vigência desta Lei”, presente no caput do art. 9º, e da expressão
“no prazo referido no artigo anterior”, presente no inciso II do
art. 10 da Lei Federal nº 9.424, de 24.12.1996. Impedido o
Ministro Dias Toffoli. Ausentes, justificadamente, os Ministros
Celso de Mello e Teori Zavascki. Presidência do Ministro Ricardo
Lewandowski. Plenário, 18.08.2016.

Presidência do Senhor Ministro Ricardo Lewandowski. Presentes


à sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes,
Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso
e Edson Fachin.

Procurador-Geral da República, Dr. Rodrigo Janot Monteiro de


Barros.

p/ Maria Sílvia Marques dos Santos


Assessora-Chefe do Plenário

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