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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 22

22/02/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.200 RORAIMA

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : REDE SUSTENTABILIDADE
ADV.(A/S) : CASSIO DOS SANTOS ARAUJO E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE
RORAIMA
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DE RORAIMA
AM. CURIAE. : CONSELHO INDÍGENA DE RORAIMA - CIR
ADV.(A/S) : LUIZ EDUARDO SILVA DE CASTILHO
AM. CURIAE. : PARTIDO VERDE NACIONAL - PV
ADV.(A/S) : LAURO RODRIGUES DE MORAES REGO JUNIOR
ADV.(A/S) : CAIO HENRIQUE CAMACHO COELHO
AM. CURIAE. : ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO
BRASIL -APIB
ADV.(A/S) : MAURICIO SERPA FRANCA
ADV.(A/S) : NATHALY CONCEICAO MUNARINI OTERO

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL QUE VEDA A
DESTRUIÇÃO E INUTILIZAÇÃO DE BENS PARTICULARES
APREENDIDOS EM OPERAÇÕES AMBIENTAIS.
1. Ação direta contra a Lei nº 1.701/2022, do Estado de
Roraima, que proíbe os órgãos ambientais de fiscalização e a Polícia
Militar de destruir e inutilizar bens particulares apreendidos nas
operações e fiscalizações ambientais.
2. Ao proibir a destruição de instrumentos utilizados na
prática de infrações ambientais, a lei questionada incorre em
inconstitucionalidade formal. Usurpação de competência da União para
legislar sobre direito penal e processual penal, bem como para editar
normas gerais de proteção ao meio ambiente (arts. 22, I, e 24, VI e § 1º, da
CF/1988).

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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ADI 7200 / RR

3. De igual modo, a norma questionada vulnera o direito


fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225,
caput, da CF/1988). Isso porque a proibição de destruir instrumentos
utilizados em infrações ambientais acaba permitindo a prática de novos
ilícitos, inviabilizando a plenitude do exercício poder de polícia
ambiental.
4. A manutenção dos efeitos da norma estadual pode
acarretar prejuízo para a devida repressão à prática de ilícitos ambientais,
com potenciais danos irreparáveis ao meio ambiente e às populações
indígenas no Estado de Roraima.
5. Pedido julgado procedente para declarar a
inconstitucionalidade da Lei nº 1.701, de 5.7.2022, do Estado de Roraima,
com a seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional lei estadual que
proíbe os órgãos policiais e ambientais de destruir e inutilizar bens particulares
apreendidos em operações, por violação da competência privativa da União para
legislar sobre direito penal e processual penal, para editar normas gerais de
proteção ao meio ambiente (arts. 22, I, e 24, VI e § 1º, da CF/1988) e por afronta
ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da
CF/1988)”.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por unanimidade de votos,
em confirmar a medida cautelar deferida e julgar procedente o pedido, a
fim de declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 1.701, de 5.7.2022, do
Estado de Roraima, fixando a seguinte tese de julgamento: “É
inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos policiais e ambientais
de destruir e inutilizar bens particulares apreendidos em operações, por
violação da competência privativa da União para legislar sobre direito
penal e processual penal, para editar normas gerais de proteção ao meio
ambiente (arts. 22, I, e 24, VI e § 1º, da CF/1988) e por afronta ao direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da CF/1988)”,
nos termos do voto do Relator.

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ADI 7200 / RR

Brasília, 10 a 17 de fevereiro de 2023.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.200 RORAIMA

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : REDE SUSTENTABILIDADE
ADV.(A/S) : CASSIO DOS SANTOS ARAUJO E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE
RORAIMA
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DE RORAIMA
AM. CURIAE. : CONSELHO INDÍGENA DE RORAIMA - CIR
ADV.(A/S) : LUIZ EDUARDO SILVA DE CASTILHO
AM. CURIAE. : PARTIDO VERDE NACIONAL - PV
ADV.(A/S) : LAURO RODRIGUES DE MORAES REGO JUNIOR
ADV.(A/S) : CAIO HENRIQUE CAMACHO COELHO
AM. CURIAE. : ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO
BRASIL -APIB
ADV.(A/S) : MAURICIO SERPA FRANCA
ADV.(A/S) : NATHALY CONCEICAO MUNARINI OTERO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Trata-se de ações diretas de inconstitucionalidade, com


pedido de medida cautelar, propostas pelo Partido Rede Sustentabilidade
(ADI 7200) e pelo Procurador-Geral da República (ADI 7204) contra a Lei
nº 1.701, de 5.7.2022, do Estado de Roraima, que “dispõe sobre a proibição
aos órgãos ambientais de fiscalização e à Polícia Militar do Estado de Roraima de
destruir e inutilizar bens particulares apreendidos nas operações/fiscalizações
ambientais no estado e dá outras providências”. Eis o teor do diploma
normativo questionado:

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ADI 7200 / RR

Lei 1.701/2022 do Estado de Roraima


Art. 1º Fica terminantemente proibido aos órgãos
ambientais de fiscalização, Polícia Militar do Estado de Roraima
e da Companhia Independente do Policiamento Ambiental –
CIPA, a destruição e inutilização de bens particulares
apreendidos nas operações/fiscalizações ambientais no estado.
Parágrafo único. Aos bens apreendidos na prática de
infrações ambientais serão dados a destinação que prevê o art.
25, § 5º, da Lei Federal 9.605/1998 e/ou no disposto do art. 105
do Decreto Federal 6.514/2008.
Art. 2º Fica também proibido aos órgãos de fiscalização do
Estado acompanhar órgãos federais em ações de destruição e
inutilização/inviabilização de bens particulares apreendidos em
operações e fiscalizações ambientais no âmbito do estado de
Roraima.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

2. O partido requerente sustenta que: (i) a norma impugnada


padece de inconstitucionalidade formal, porque viola a competência da
União para legislar sobre proteção do meio ambiente e ao patrimônio
paisagístico e responsabilidade por danos ao meio ambiente (art. 24, VI,
VII e VIII, e § 1º, da CF); (ii) o dispositivo seria materialmente
inconstitucional, uma vez que ofende o direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado e o dever estatal de promover a sua
defesa e proteção para as presentes e futuras gerações (art. 225 da CF);
(iii) a norma gera retrocesso em normas ambientais mínimas, as quais
evitam a destruição da flora e fauna e, portanto, ofende não apenas o
meio ambiente equilibrado, como também o direito constitucional à vida,
à saúde e à integridade física; (iv) há ofensa ao princípio da vedação ao
retrocesso institucional e ao retrocesso socioambiental, segundo os quais
o Estado tem dever de implementação de medidas para desenvolver o
meio ambiente e evitar medidas de caráter regressivo em matéria de
direitos ambientais; (v) o quadro normativo federal permite a apreensão e
destruição de produtos e instrumentos de infrações ambientais, por meio
da Lei nº 9.605/1998, regulamentada pelo Decreto n.º 6.514/08. Dessa

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forma, a Lei do Estado de Roraima, “ao vedar a destruição de instrumentos


do crime, para além de violar a norma geral estabelecida pela União, também
impede a atuação de agentes públicos estaduais em operações nas quais tais
medidas possam ser adotadas, o que viola, inclusive, o dever de cooperação entre
os entes federados no desenvolvimento sustentável do país”.

3. O Procurador-Geral da República, por sua vez, alega que:


(i) as medidas de destruição ou inutilização de instrumentos empregados
para a prática de infrações ambientais não acarreta, por si, violação ao
direito de propriedade nem ao devido processo legal, e sua
implementação tampouco depende de prévia decisão judicial com
trânsito em julgado. Diversamente, esclarece que se trata de uma
prerrogativa de atuação conferida aos agentes de fiscalização ambiental
pelo legislador nacional, que atribui preponderância ao direito à
preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado; (ii) as normas
que veiculam medidas de destruição/inutilização de produtos,
instrumentos e equipamentos empregados em infrações ambientais foram
chanceladas por este Tribunal como legítimas para a garantia do
resultado prático do processo administrativo ambiental e de proteção à
recuperação do meio ambiente, tendo em vista que, em alguns casos, a
não destruição do instrumento impossibilitaria seu perdimento e
permitiria a continuidade da sua destinação para prática de novas
infrações ambientais.

4. Nesse sentido, faz referência à ADPF 709/DF (DJe 170, de


25.8.2021), por meio da qual se impôs à União a adoção de medidas
necessárias à proteção da vida, saúde e segurança de populações
indígenas afetadas por impactos derivados de aumento do desmatamento
de áreas, degradação de florestas, extração ilegal de madeira, entre outros
fatores; (iii) o diploma impugnado implicou óbice ao exercício do poder
de polícia ambiental, proscrevendo o emprego das forças de segurança
estaduais na destruição e inutilização de produtos, subprodutos e
instrumentos de crimes ambientais, esvaziando um importante

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instrumento de fiscalização ambiental, o qual foi legitimamente


disciplinado em âmbito nacional pela Lei n.º 9.605/1998; (iv) há nítido
descumprimento de deveres estaduais de cooperação federativa em
matéria de proteção ambiental, uma vez que o ato normativo restringe o
desempenho da fiscalização ambiental, limitando a eficácia de normas
gerais de proteção ambiental.

5. Os requerentes pleitearam o deferimento de medida


cautelar para sustar os efeitos do dispositivo impugnado.

6. Em ambos os casos, adotei o rito previsto no art. 10 da Lei


nº 9.868/1999, solicitando informações ao Governador e à Assembleia
Legislativa do Estado de Roraima. Também concedi vista dos autos para
manifestação ao Advogado-Geral da União e ao Procurador-Geral da
República.

7. O Governador do Estado de Roraima manifestou-se pela


constitucionalidade da norma impugnada. Afirma que o diploma
normativo questionado pretendeu garantir que, nas hipóteses de bens
apreendidos em fiscalizações ambientais, não haja a sua imediata
destruição, sem o devido processo legal e o exercício do contraditório.
Argumenta que não estão presentes os requisitos para a concessão de
medida cautelar, uma vez que a norma estadual impugnada não impede
o exercício em si da fiscalização ambiental pelos órgãos com atribuições
para tal finalidade.

8. Em informações, a Assembleia Legislativa do Estado de


Roraima se manifestou pelo indeferimento da medida cautelar, diante da
ausência de probabilidade do direito invocado. Pondera que a norma
impugnada visa a resguardar, dentro dos parâmetros constitucionais
vigentes, o direito de propriedade sob a perspectiva do devido processo
legal. Afirma que a lei estadual não contrariou o texto federal, mas
coordenou, harmonizando e combinando os bens jurídicos

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constitucionais em conflito, para que se evite o sacrifício total de um deles


em relação ao outro (princípio da concordância prática).

9. A Advocacia-Geral da União se manifestou pelo


deferimento da cautelar, nos termos de ementa que transcrevo a seguir:

“Ambiental. Lei nº 1.701/2022, que “dispõe sobre a


proibição aos órgãos ambientais de fiscalização e à Polícia
Militar do Estado de Roraima de destruir e inutilizar bens
particulares apreendidos nas operações/fiscalizações ambientais
no estado e dá outras providências”. Alegação de ofensa ao
sistema constitucional de repartição de competências
legislativas e ao direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, com o consequente dever estatal de
promover a sua defesa e proteção para as presentes e futuras
gerações. Existência de arcabouço legislativo federal em vigor, o
qual, contempla, em determinadas hipóteses e atendidos os
requisitos previstos, a possibilidade de adoção de medida
administrativa de destruição ou inutilização dos produtos,
subprodutos e instrumentos de infrações ao meio ambiente. A
norma estadual atacada estabelece disciplinamento paralelo e
incompatível com a legislação nacional. Usurpação da
competência legislativa da União. Precedentes dessa Suprema
Corte. Presença dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum
in mora. Manifestação pelo deferimento do pedido de medida
cautelar”.

10. Na ADI 7200, a Procuradoria-Geral da República


apresentou parecer pelo deferimento da medida cautelar, com a seguinte
ementa:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


AMBIENTAL. LEI 1.701/2022. ESTADO DE RORAIMA.
ÓRGÃOS AMBIENTAIS DE FISCALIZAÇÃO. APREENSÃO
DE BENS. PROIBIÇÃO. DESTRUIÇÃO. REPARTIÇÃO DE
COMPETÊNCIAS. ARTS. 22, I E XXI, E 24, VI, § 1º, DA CF.

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ADI 7200 / RR

NORMAS GERAIS. UNIÃO. LEI FEDERAL 9.605/1998.


DECRETO REGULAMENTAR 6.514/2008. USURPAÇÃO DE
COMPETÊNCIA. NORMA ESTADUAL INCOMPATÍVEL COM
A LEGISLAÇÃO FEDERAL. POSSIBILIDADE DE
DESTRUIÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE PRODUTOS,
SUBPRODUTOS E INSTRUMENTOS DE INFRAÇÕES
AMBIENTAIS. ART. 225 DA CF. OFENSA AO DIREITO AO
MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO.
DEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR. PROCEDÊNCIA
DO PEDIDO.
1. É inconstitucional lei estadual que estabeleça regras de
direito ambiental incompatíveis e paralelas à disciplina federal
preexistente, nos termos do art. 24, VI, VII, VIII, e § 1º, da
Constituição Federal.
2. A Lei 1.701/2022, do Estado de Roraima, ao proibir a
destruição de bens apreendidos em ações de fiscalização
ambiental, destoa das regras gerais previstas na Lei Federal
9.605/1998 e no Decreto regulamentar 6.514/2008, além de tratar
de matéria cuja competência para legislar é privativa da União
(CF, art. 22, I e XXI).
— Parecer pela procedência do pedido.

11. Na ADI 7204, a PGR reiterou as razões lançadas na petição


inicial, manifestando-se pelo deferimento da medida cautelar.

12. Em 04 de outubro de 2022, ao analisar as medidas


cautelares em conjunto, deferi a liminar, ad referendum do Plenário, para
suspender, até o julgamento definitivo da presente ação direta, os efeitos
da Lei nº 1.701, de 5.7.2022, do Estado de Roraima.

13. É o relatório. Passo a votar.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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22/02/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.200 RORAIMA

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Registro, inicialmente, que as ações estão aptas para serem


julgadas no mérito, na medida em que o contraditório formal está
aperfeiçoado e foram colhidas manifestações das partes envolvidas, do
Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. Assim,
por imperativo de celeridade processual, o Plenário desta Corte tem
defendido, reiteradamente, ser tão oportuno quanto adequado emitir
pronunciamento jurisdicional definitivo. Destaco, entre diversos
precedentes, os seguintes: ADI 5.566, Rel. Min. Alexandre de Moraes; ADI
5.253, Rel. Min. Dias Toffoli; e ADPF 190, Rel. Min. Edson Fachin.

2. A questão jurídica posta em análise versa sobre a validade


da Lei nº 1.701, de 5 de julho de 2022, do Estado de Roraima, que proíbe
os órgãos ambientais de fiscalização e à Polícia Militar de destruir e
inutilizar bens particulares apreendidos nas operações ambientais no
estado. Por certo, como já me manifestei na cautelar, a manutenção dos
efeitos da norma coloca em risco a efetividade da fiscalização ambiental,
com potencial ocorrência de danos irreparáveis ou de difícil e reparação
ao meio ambiente.

3. De acordo com o art. 24, VI, da Constituição Federal, há


competência legislativa concorrente da União, dos Estados e do Distrito
Federal para legislar sobre proteção do meio ambiente e controle da
poluição. Por seu turno, o art. 23, VI, da CF estabelece a competência
político-administrativa comum dos três níveis federativos para proteger o
meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 7200 / RR

4. Dessa forma, em matéria ambiental: (i) compete à União


editar normas gerais (art. 24, § 1º); (ii) cabe aos Estados e ao Distrito
Federal editar disciplina própria no espaço deixado pela legislação
federal, agindo em caráter complementar ou supletivo (art. 24, §§ 2º e 3º);
e, por fim, (iii) os Municípios podem suplementar as normas federais e
estaduais existentes (art. 30, II). No RE 586.224/SP (Tema 145), Rel. Min.
Luiz Fux, esta Corte firmou a tese de que “o Município é competente para
legislar sobre o meio ambiente com a União e Estado, no limite do seu interesse
local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida
pelos demais entes federados”.

5. No âmbito federal, a Lei nº 9.605/1998, que versa sobre


sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, trouxe disposições relativas à destruição e
inutilização de bens particulares apreendidos em fiscalizações
ambientais. Destaco os seguintes dispositivos:

Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus


produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
[...]
§ 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão
estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares,
penais e outras com fins beneficentes.
§ 4º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis
serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais
ou educacionais.
§ 5º Os instrumentos utilizados na prática da infração
serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da
reciclagem.
[...]
Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as
seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:
[...]
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da
fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou

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ADI 7200 / RR

veículos de qualquer natureza utilizados na infração;


V - destruição ou inutilização do produto;
[...]
VIII - demolição de obra;
[...]
§ 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V
do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei. (Grifos
acrescidos)

6. Por sua vez, o Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, ao


regulamentar mencionada norma, trouxe maior especificação acerca da
atuação do agente fiscalizador quando da destruição ou inutilização de
produtos, subprodutos e instrumentos de infrações ambientais. Veja-se:

Art. 101. Constatada a infração ambiental, o agente


autuante, no uso do seu poder de polícia, poderá adotar as
seguintes medidas administrativas:
I - apreensão;
II - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
III - suspensão de venda ou fabricação de produto;
IV - suspensão parcial ou total de atividades;
V - destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos
e instrumentos da infração; e
VI - demolição.
§ 1° As medidas de que trata este artigo têm como objetivo
prevenir a ocorrência de novas infrações, resguardar a
recuperação ambiental e garantir o resultado prático do
processo administrativo.
§ 2° A aplicação de tais medidas será lavrada em
formulário próprio, sem emendas ou rasuras que
comprometam sua validade, e deverá conter, além da indicação
dos respectivos dispositivos legais e regulamentares
infringidos, os motivos que ensejaram o agente autuante a
assim proceder.
§ 3° A administração ambiental estabelecerá os
formulários específicos a que se refere o § 2º.

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ADI 7200 / RR

§ 4° O embargo de obra ou atividade restringe-se aos


locais onde efetivamente caracterizou-se a infração ambiental,
não alcançando as demais atividades realizadas em áreas não
embargadas da propriedade ou posse ou não correlacionadas
com a infração.
[...] Art. 111. Os produtos, inclusive madeiras,
subprodutos e instrumentos utilizados na prática da infração
poderão ser destruídos ou inutilizados quando:
I - a medida for necessária para evitar o seu uso e
aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e
a guarda forem inviáveis em face das circunstâncias; ou
II - possam expor o meio ambiente a riscos significativos
ou comprometer a segurança da população e dos agentes
públicos envolvidos na fiscalização.
Parágrafo único. O termo de destruição ou inutilização
deverá ser instruído com elementos que identifiquem as
condições anteriores e posteriores à ação, bem como a
avaliação dos bens destruídos.
Art. 112. A demolição de obra, edificação ou construção
não habitada e utilizada diretamente para a infração
ambiental dar-se-á excepcionalmente no ato da fiscalização
nos casos em que se constatar que a ausência da demolição
importa em iminente risco de agravamento do dano ambiental
ou de graves riscos à saúde.
§ 1° A demolição poderá ser feita pelo agente autuante,
por quem este autorizar ou pelo próprio infrator e deverá ser
devidamente descrita e documentada, inclusive com
fotografias.
§ 2° As despesas para a realização da demolição correrão
às custas do infrator.
§ 3° A demolição de que trata o caput não será realizada
em edificações residenciais. (Grifos acrescidos)

7. No caso, o diploma federal sobre sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, que autoriza a destruição de instrumentos utilizados na prática

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 7200 / RR

de infrações ambientais, constitui exercício da competência privativa da


União para legislar sobre direito penal e processual penal, em
observância ao art. 22, I, da Constituição de 1988, além de constituir
norma geral de proteção ambiental.

8. Nesse contexto, tem-se que a lei estadual impugnada (Lei


nº 1.701/2022) incorre em inconstitucionalidade formal ao deixar de
observar a repartição de competências legislativas estabelecida pela
Constituição de 1988 e por limitar a eficácia da norma geral de proteção
ambiental. Não há dúvida, conforme pontuado pela Procuradoria-Geral
da República nos autos da ADI 7.200, de que a Lei nº 1.701/2022 “esvaziou
um importante instrumento de fiscalização ambiental, o qual foi legitimamente
disciplinado em âmbito nacional pela Lei 9.605/1998 (art. 25) e pelo Decreto
6.514/2008 (arts. 101, V, 111 e 112); e descumpriu deveres estaduais de
cooperação federativa em matéria de proteção ambiental, estabelecidos em normas
gerais editadas pela União (Lei Complementar 140/2011, art. 17, §1º; Lei
9.985/2000, art. 6º; e Lei 6.938/1981, art. 6º)”.

9. Ademais, a norma estadual questionada vulnera o próprio


direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art.
225, caput, da CF). A proibição à destruição de instrumentos utilizados
em infrações ambientais acaba por permitir a prática de novas infrações
ambientais, de modo que a norma impugnada impede a plenitude de
efeitos do poder de polícia ambiental. Ao corroborar a importância de
medidas dessa natureza, relembro a cautelar por mim concedida na
ADPF 709, em que autorizei, para a proteção das populações indígenas,
medidas de destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos e
instrumentos da infração ambiental, inclusive dos equipamentos nela
utilizados, pelos fiscais ambientais.

10. Verifica-se, assim, incompatibilidade entre a norma


impugnada e a Constituição Federal, notadamente diante da previsão dos
arts. 24, VI e 225, caput.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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11. Além disso, a manutenção da vigência da norma, com sua


vedação peremptória à participação de órgãos de fiscalização estadual em
ações de destruição, inutilização e inviabilização de bens apreendidos em
operações ambientais, acarreta prejuízo para a devida repressão à prática
de ilícitos ambientais, com potenciais danos irreparáveis ao meio
ambiente e às populações indígenas presentes no Estado de Roraima.

12. Diante do exposto, confirmo a medida cautelar deferida e


julgo procedente o pedido, a fim de declarar a inconstitucionalidade da
Lei nº 1.701, de 5.7.2022, do Estado de Roraima, com fixação da seguinte
tese de julgamento: “É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos
policiais e ambientais de destruir e inutilizar bens particulares apreendidos em
operações, por violação da competência privativa da União para legislar sobre
direito penal e processual penal, para editar normas gerais de proteção ao meio
ambiente (arts. 22, I, e 24, VI e § 1º, da CF/1988) e por afronta ao direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da CF/1988)”.

13. É como voto.

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Voto Vogal

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22/02/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.200 RORAIMA

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : REDE SUSTENTABILIDADE
ADV.(A/S) : CASSIO DOS SANTOS ARAUJO E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE
RORAIMA
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DE RORAIMA
AM. CURIAE. : CONSELHO INDÍGENA DE RORAIMA - CIR
ADV.(A/S) : LUIZ EDUARDO SILVA DE CASTILHO
AM. CURIAE. : PARTIDO VERDE NACIONAL - PV
ADV.(A/S) : LAURO RODRIGUES DE MORAES REGO JUNIOR
ADV.(A/S) : CAIO HENRIQUE CAMACHO COELHO
AM. CURIAE. : ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO
BRASIL -APIB
ADV.(A/S) : MAURICIO SERPA FRANCA
ADV.(A/S) : NATHALY CONCEICAO MUNARINI OTERO

VOTO-VOGAL

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Trata-se de duas


ações diretas de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar,
propostas pela agremiação partidária Rede Sustentabilidade – ADI 7.200
– e pelo Procurador-Geral da República – ADI 7.204 – contra a Lei n.
1.701, de 5 de julho de 2022, do Estado de Roraima, que proíbe os órgãos
ambientais de fiscalização e a Polícia Militar de destruir ou inutilizar bens
particulares apreendidos nas operações e fiscalizações ambientais no
Estado.

O Relator, ministro Roberto Barroso, confirmou a medida cautelar


deferida e julgou procedente o pedido para declarar a

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Voto Vogal

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ADI 7200 / RR

inconstitucionalidade da lei impugnada, fixando a seguinte tese de


julgamento:

É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos


policiais e ambientais de destruir e inutilizar bens particulares
apreendidos em operações, por violação da competência
privativa da União para legislar sobre direito penal e processual
penal, para editar normas gerais de proteção ao meio ambiente
(arts. 22, I, e 24, VI e § 1º, da CF/1988) e por afronta ao direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da
CF/1988).

É o relato do essencial. Passo ao voto.

Acompanho o Ministro Relator consideradas as observações a seguir.

Filio-me ao entendimento quanto à presença de vício formal por


usurpação da competência privativa da União para legislar sobre direito
penal e processual penal (CF, art. 22, I) e para editar normas gerais de
proteção ao meio ambiente (CF, art. 24, VI, § 1º). No mais, permito-me
fazer algumas ponderações, pedindo as mais respeitosas vênias ao
ministro Roberto Barroso.

Cumpre registrar que a declaração de inconstitucionalidade da


norma estadual não pode ser compreendida como “carta branca”, de
modo que os órgãos ambientais de fiscalização, a Polícia Militar do
Estado de Roraima ou a Companhia Independente do Policiamento
Ambiental (Cipa) possam promover a destruição de equipamentos ou
maquinário de propriedade particular sem o devido processo legal.

Conforme fez ver o eminente Relator no voto proferido, as hipóteses


em que autorizada a destruição ou inutilização de bens particulares
(instrumentos) estão bem delimitadas no regramento federal aplicável:

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Voto Vogal

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ADI 7200 / RR

Lei n. 9.605/1998:
Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus
produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
§ 1º Os animais serão prioritariamente libertados em seu
habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomendável por
questões sanitárias, entregues a jardins zoológicos, fundações
ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a
responsabilidade de técnicos habilitados.
§ 2º Até que os animais sejam entregues às instituições
mencionadas no § 1º deste artigo, o órgão autuante zelará para
que eles sejam mantidos em condições adequadas de
acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar
físico.
§ 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão
estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares,
penais e outras com fins beneficentes.
§ 4º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis
serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais
ou educacionais.
§ 5º Os instrumentos utilizados na prática da infração
serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da
reciclagem.

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as


seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:
[…]
IV – apreensão dos animais, produtos e subprodutos da
fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou
veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V – destruição ou inutilização do produto;
[…]
VIII – demolição de obra;
[…]
§ 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V
do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei.

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Decreto n. 6.514/2008:
Art. 3º As infrações administrativas são punidas com as
seguintes sanções:
[…]
IV – apreensão dos animais, produtos e subprodutos da
fauna e flora e demais produtos e subprodutos objeto da
infração, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos
de qualquer natureza utilizados na infração;
V – destruição ou inutilização do produto;
[…]
VIII – demolição de obra;

Art. 101. Constatada a infração ambiental, o agente


autuante, no uso do seu poder de polícia, poderá adotar as
seguintes medidas administrativas:
[…]
V – destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos
e instrumentos da infração; e
VI – demolição.

Art. 111. Os produtos, inclusive madeiras, subprodutos e


instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser
destruídos ou inutilizados quando:
I – a medida for necessária para evitar o seu uso e
aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a
guarda forem inviáveis em face das circunstâncias; ou
II – possam expor o meio ambiente a riscos significativos
ou comprometer a segurança da população e dos agentes
públicos envolvidos na fiscalização.
Parágrafo único. O termo de destruição ou inutilização
deverá ser instruído com elementos que identifiquem as
condições anteriores e posteriores à ação, bem como a
avaliação dos bens destruídos.

Art. 112. A demolição de obra, edificação ou construção


não habitada e utilizada diretamente para a infração ambiental

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ADI 7200 / RR

dar-se-á excepcionalmente no ato da fiscalização nos casos em


que se constatar que a ausência da demolição importa em
iminente risco de agravamento do dano ambiental ou de
graves riscos à saúde.
§ 1º A demolição poderá ser feita pelo agente autuante,
por quem este autorizar ou pelo próprio infrator e deverá ser
devidamente descrita e documentada, inclusive com
fotografias.
[…]
§ 3º A demolição de que trata o caput não será realizada
em edificações residenciais.

Art. 134. Após decisão que confirme o auto de infração, os


bens e animais apreendidos que ainda não tenham sido objeto
da destinação prevista no art. 107, não mais retornarão ao
infrator, devendo ser destinados da seguinte forma:
[…]
IV – os instrumentos utilizados na prática da infração
poderão ser destruídos, utilizados pela administração quando
houver necessidade, doados ou vendidos, garantida a sua
descaracterização, neste último caso, por meio da reciclagem
quando o instrumento puder ser utilizado na prática de novas
infrações;
V – os demais petrechos, equipamentos, veículos e
embarcações descritos no inciso IV do art. 72 da Lei nº 9.605, de
1998, poderão ser utilizados pela administração quando
houver necessidade, ou ainda vendidos, doados ou
destruídos, conforme decisão motivada da autoridade
ambiental;

Em síntese, a penalidade de destruição ou inutilização de bens


particulares usados na infração poderá ocorrer em caráter excepcional,
sempre observadas as garantias do devido processo legal, da ampla
defesa e do contraditório.

Ante o exposto, acompanho o Ministro Relator, com as observações

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Voto Vogal

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ADI 7200 / RR

feitas acima.

É como voto.

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Extrato de Ata - 22/02/2023

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.200


PROCED. : RORAIMA
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : REDE SUSTENTABILIDADE
ADV.(A/S) : CASSIO DOS SANTOS ARAUJO (54492/DF) E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE RORAIMA
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO
DE RORAIMA
AM. CURIAE. : CONSELHO INDÍGENA DE RORAIMA - CIR
ADV.(A/S) : LUIZ EDUARDO SILVA DE CASTILHO (201-A/RR)
AM. CURIAE. : PARTIDO VERDE NACIONAL - PV
ADV.(A/S) : LAURO RODRIGUES DE MORAES REGO JUNIOR (68637/DF)
ADV.(A/S) : CAIO HENRIQUE CAMACHO COELHO (384361/SP)
AM. CURIAE. : ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL -APIB
ADV.(A/S) : MAURICIO SERPA FRANCA (24060/MS)
ADV.(A/S) : NATHALY CONCEICAO MUNARINI OTERO (22451/MS)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, confirmou a medida


cautelar deferida e julgou procedente o pedido, a fim de declarar
a inconstitucionalidade da Lei nº 1.701, de 5.7.2022, do Estado de
Roraima, fixando a seguinte tese de julgamento: “É
inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos policiais e
ambientais de destruir e inutilizar bens particulares apreendidos
em operações, por violação da competência privativa da União para
legislar sobre direito penal e processual penal, para editar
normas gerais de proteção ao meio ambiente (arts. 22, I, e 24, VI
e § 1º, da CF/1988) e por afronta ao direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da CF/1988)”, nos
termos do voto do Relator. Plenário, Sessão Virtual de 10.2.2023 a
17.2.2023.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto
Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André
Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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