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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Vigésima Sétima Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000852-57.2021.8.19.0010


Apelantes: ESTADO DO RIO DE JANEIRO e FUNDO ÚNICO DE
PREVIDÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO -
RIOPREVIDÊNCIA
Apelada: ANA CLARA PONTES CARVALHO
Relatora: DESEMBARGADORA LÚCIA HELENA DO PASSO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO PROPOSTA EM FACE


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E DO
RIOPREVIDÊNCIA. SERVIDORA PÚBLICA
ESTADUAL. PROFESSORA. PISO SALARIAL DO
MAGISTÉRIO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
PRELIMINAR DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO
NECESSÁRIO COM A UNIÃO QUE DEVE SER
REJEITADA. ARTIGO 4º DA LEI Nº 11.738/2008
QUE NÃO CRIA OBRIGAÇÕES À UNIÃO
PERANTE OS ADMINISTRADOS. PARA
IMPLEMENTAR OU PAGAR, DIRETAMENTE, O
PISO SALARIAL DE PROFESSORES DA REDE
ESTADUAL. DEVER DA UNIÃO DE
COMPLEMENTAR A INTEGRALIZAÇÃO DO PISO
NA HIPÓTESE DE O ENTE ESTADUAL NÃO
APRESENTAR DISPONIBILIDADE
ORÇAMENTÁRIA. VINCULAÇÃO SOMENTE DOS
ENTES FEDERADOS. ENTENDIMENTO FIRMADO
NO JULGAMENTO DO RESP 1.559.965 PELO
STJ, SOB A SISTEMÁTICA DOS RECURSOS

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Assinado em 09/02/2023 21:50:42


LUCIA HELENA DO PASSO:15387 Local: GAB. DES(A). LUCIA HELENA DO PASSO
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APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000852-57.2021.8.19.0010


REPETITIVOS. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE
COMPETÊNCIA Nº 0059333-48.2018.81.19.0000
QUE DIZ RESPEITO À APLICAÇÃO DOS
ARTIGOS 3º E 4º, DA LEI Nº 11.738/08 AOS
PROFESSORES MUNICIPAIS DO MUNICÍPIO DE
MIRACEMA, NÃO TENDO, PORTANTO,
RELAÇÃO COM OS PROFESSORES DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO. DOCUMENTAÇÃO
ACOSTADA AOS AUTOS QUE DEMONSTRA QUE
AUTORA É APOSENTADA, NO CARGO DE
PROFESSOR DOCENTE II, COM CARGA
HORÁRIA DE 22 HORAS SEMANAIS, QUE FAZ
JUS AO REAJUSTE DE SEUS VENCIMENTOS.
INCIDÊNCIA AUTOMÁTICA DO PISO NACIONAL
EM TODA A CARREIRA E REFLEXO IMEDIATO
SOBRE AS DEMAIS VANTAGENS E
GRATIFICAÇÕES. ALEGAÇÕES FÁTICAS
COMPROVADAS E RATIFICADAS POR TESES
FIXADAS EM PRECEDENTES DOS TRIBUNAIS
SUPERIORES COM EFICÁCIA VINCULANTE.
NORMA DE OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PARA
ESTADOS E MUNICÍPIOS, EDITADA PELA UNIÃO
FEDERAL. RECURSO CONHECIDO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.

ACÓRDÃO

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000852-57.2021.8.19.0010


Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº
0000852-57.2021.8.19.0010, em que figuram como Apelantes ESTADO DO
RIO DE JANEIRO e FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA e Apelada ANA CLARA PONTES
CARVALHO.

A C O R D A M os Desembargadores que compõem esta


Vigésima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, por unanimidade de votos, em conhecer para negar provimento ao
recurso,nos termos do voto da Desembargadora Relatora.

Trata-se de Apelação Cível interposta por ESTADO DO RIO


DE JANEIRO e FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA contra a sentença proferida pelo Juízo
da 2ª Vara Cível da Comarca de Bom Jesus de Itabapoana, nos autos da ação
de obrigação de fazer ajuizada por ANA CLARA PONTES CARVALHO, que
julgou procedente o pedido para: ‘‘1) a adequar o vencimento-base da parte
Autora, ANA CLARA PONTES CARVALHO, matrícula 00-0503405-3, o qual
deverá ser calculado de acordo com a jornada de trabalho da requerente,tendo
por base o piso nacional dos professores, instituído pela Lei Federal
11.738/2008, devidamente atualizado, aplicando-se os reajustes concedidos
pelo MEC desde o nível 1, observando-se o interstício de 12% (doze por cento)
entre referências, a partir da referência da parte Autora, na forma do artigo 3º
da Lei Estadual 5.539/2009 e adicional por tempo de serviço e outras
vantagens pecuniárias pertinentes, observando-se a proporção dos valores de
acordo com a carga horária e cargo (docente II, 22 horas, em 10/08/2009, na
referência 07, com triênio de 60%); 2) a pagar a parte Autora as diferenças

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devidas, observada a prescrição quinquenal relativa aos cinco anos antes do
ajuizamento da ação, a serem apuradas em sede de cumprimento de
sentença relativas aos anos de 2016 a 2021, além das diferenças vencidas no
curso desta demanda até o efetivo cumprimento do item 1 supra, tudo
devidamente atualizado e acrescido de correção monetária a partir da data em
que deveria ter sido efetuado o pagamento de cada parcela de acordo com o
IPCA-E (nos termos do que restou decidido pelo STF, no julgamento do TEMA
810, no RE 870947/SE) e de juros de mora desde a citação, nos termos do art.
1ºF da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei 11.960/09.’’ Ainda
condenou os Réus ao pagamento de honorários advocatícios, cujo percentual
deverá ser definido por ocasião da liquidação do julgado.

Em razões recursais (index 2586), os réus, ora Apelantes,


sustentam, preliminarmente, a anulação do julgado sob a alegação de que não
teria sido observada a admissão do Incidente de Assunção de Competência (nº
0059333-48.2018.81.19.0000) sobre a matéria objeto da ação, de modo que
não poderia ter sido proferida sentença até o seu julgamento. Ainda, aduzem
que haveria litisconsórcio passivo necessário com a União. No mérito, afirmam
que o piso do salário nacional estaria sendo respeitado. Defendem que a Lei
11.738/2008 se referiria a uma jornada de 40 horas semanais e a Apelada teria
jornada de 22 horas semanais. Alegam que a pretensão da Apelada seria
vedada pela Súmula Vinculante 37 e que os artigos 37, XIII e 39, §1º, da
CRFB/88 vedariam a vinculação de remunerações.

Contrarrazões apresentadas em index 2628, pugnando pelo


desprovimento do recurso.

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É O RELATÓRIO.

VOTO

Verifica-se que o recurso é tempestivo e atende aos demais


requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade, razão por que deve ser
conhecido.

Na petição inicial a Apelada narra ter se aposentado pela


paridade como Professora Docente II, 22 horas, em 10/08/2009, incidindo
sobre seu vencimento-base 60% de triênio. Contudo, os proventos pagos pelos
réus estariam em dissonância com a Lei 11.738/2008, que prevê o piso salarial
profissional nacional do magistério público da educação básica.

Inicialmente, verifica-se que o Incidente de Assunção de


Competência nº 0059333-48.2018.81.19.0000 diz respeito a aplicação dos
artigos 3º e 4º, da Lei nº 11.738/08 aos professores municipais do Município de
Miracema, sendo admitido para cuidar da jornada de trabalho estabelecida
para os professores municipais, notadamente o percentual de horas
extraclasse e a forma de cálculo para atender à proporcionalidade legal, ao
passo que a presente demanda cuida da remuneração de professora da rede
estadual de educação aposentada, razão pela qual não se aplica ao presente
caso. Confira-se a ementa da admissibilidade do referido IAC:

INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DE


ADMISSIBILIDADE. QUESTÃO ENVOLVENDO À APLICAÇÃO

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DO DISPOSTO NOS PARÁGRAFOS 3º E 4º DA LEI
11.738/08, RELACIONADOSAO PISO FIXADO PARA OS
PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL. JULGADOS
DESTE TRIBUNAL QUE SE MOSTRAM APTOS A GERAR
INSEGURANÇA JURÍDICA. -Nos julgamentos deste Tribunal
verifica-se a existência de forte divergência quanto à
interpretação da jornada de trabalho estabelecida para os
professores municipais, especificamente, no que diz respeito
ao percentual de horas de atividades extraclasse e a forma de
cálculo para se chegar à proporcionalidade estabelecida pela
lei. -Necessário o estabelecimento de uma interpretação única
e segura, que possibilite a aplicação da norma, declarada
constitucional pelo STF através da ADI 4167. JUIZO DE
ADMISSIBILIDADE POSITIVO.

Não bastasse isso, no julgamento da admissibilidade do IAC


não foi determinado o sobrestamento de processos.

Desse modo, não há qualquer equívoco do Juízo a quo em


julgar a presente demanda, visto que não se vislumbra a necessidade de
suspensão do processo para eventual aplicação de tese firmada no julgamento
do referido IAC.

Ademais, não assiste razão aos Apelantes quanto à alegação


de litisconsórcio necessário com a União, porquanto o fato de o artigo 4º, da
Lei nº 11.738/08 prever que caberá a União complementar as despesas caso
do Estado não tenha disponibilidade orçamentária cria uma relação entre os
entes públicos, não havendo um obrigação da União perante o administrado.

Assim, a relação jurídica continua a ser entre o Estado-membro


e o particular, pelo que a matéria continua a ser de competência estadual.

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Inclusive, o Superior Tribunal de Justiça firmou a tese, quando


do julgamento do REsp 1.559.965/RS, sob o rito dos recursos repetitivos, no
seguinte sentido:

“Os dispositivos do art. 4º, caput, e §§ 1º e 2º, da Lei n.


11.738/2008 não amparam a tese de que a União é parte
legítima, perante terceiros particulares, em demandas que
visam à sua responsabilização pela implementação do piso
nacional do magistério, afigurando-se correta a decisão que a
exclui da lide e declara a incompetência da Justiça Federal
para processar e julgar o feito ou, em sendo a única parte na
lide, que decreta a extinção da demanda sem resolução do
mérito”.

Conforme destacado no referido julgado, o artigo 4º, caput, e


§§ 1º e 2º, da Lei nº 11.738/2008, apenas atribui à União o dever de
complementar a integralização do piso na hipótese de o ente estadual não
apresentar disponibilidade orçamentária para cumprir o valor fixado, pelo que
somente vincula os entes federados entre si, “não chegando a determinar, nem
de longe, a responsabilidade da União pela implementação do piso”.

No mérito, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIN


4167/DF entendeu pela constitucionalidade da estipulação de piso salarial
nacional dos professores públicos de ensino fundamental prevista na Lei nº
11.738/08. Confira-se:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA


CAUTELAR (ART. 10 E § 1º DA LEI 9.868/1999).
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PISO SALARIAL
NACIONAL DOS PROFESSORES PÚBLICOS DE ENSINO

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FUNDAMENTAL. LEI FEDERAL 11.738/2008. DISCUSSÃO
ACERCA DO ALCANCE DA EXPRESSÃO "PISO" (ART. 2º,
caput e §1º). LIMITAÇÃO AO VALOR PAGO COMO
VENCIMENTO BÁSICO INICIAL DA CARREIRA OU
EXTENSÃO AO VENCIMENTO GLOBAL. FIXAÇÃO DA
CARGA HORÁRIA DE TRABALHO. ALEGADA VIOLAÇÃO DA
RESERVA DE LEI DE INICIATIVA DO CHEFE DO
EXECUTIVO PARA DISPOR SOBRE O REGIME JURÍDICO
DO SERVIDOR PÚBLICO (ART. 61, § 1º, II, C DA
CONSTITUIÇÃO). CONTRARIEDADE AO PACTO
FEDERATIVO (ART. 60, § 4º E I, DA CONSTITUIÇÃO).
INOBSERVÂNCIA DA REGRA DA PROPORCIONALIDADE. 1.
Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida
cautelar, ajuizada contra o art. 2º, caput e § 1º da Lei
11.738/2008, que estabelecem que o piso salarial nacional
para os profissionais de magistério público da educação básica
se refere à jornada de, no máximo, quarenta horas semanais, e
corresponde à quantia abaixo da qual os entes federados não
poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério
público da educação básica. 2. Alegada violação da reserva de
lei de iniciativa do Chefe do Executivo local para dispor sobre o
regime jurídico do servidor público, que se estende a todos os
entes federados e aos municípios em razão da regra de
simetria (aplicação obrigatória do art. 61, § 1º, II, c da
Constituição). Suposta contrariedade ao pacto federativo, na
medida em que a organização dos sistemas de ensino
pertinentes a cada ente federado deve seguir regime de
colaboração, sem imposições postas pela União aos entes
federados que não se revelem simples diretrizes (arts. 60, § 4º,
I e 211, § 4º da Constituição. Inobservância da regra de
proporcionalidade, pois a fixação da carga horária implicaria
aumento imprevisto e exagerado de gastos públicos. Ausência
de plausibilidade da argumentação quanto à expressão "para a
jornada de, no máximo, 40 (quarenta horas)", prevista no art.
2º, § 1º. A expressão "de quarenta horas semanais" tem por
função compor o cálculo do valor devido a título de piso,
juntamente com o parâmetro monetário de R$ 950,00. A
ausência de parâmetro de carga horária para condicionar a
obrigatoriedade da adoção do valor do piso poderia levar a
distorções regionais e potencializar o conflito judicial, na

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medida em que permitiria a escolha de cargas horárias
desproporcionais ou inexeqüíveis. Medida cautelar deferida,
por maioria, para, até o julgamento final da ação, dar
interpretação conforme ao art. 2º da Lei 11.738/2008, no
sentido de que a referência ao piso salarial é a remuneração e
não, tãosomente, o vencimento básico inicial da carreira.
Ressalva pessoal do ministro-relator acerca do periculum in
mora, em razão da existência de mecanismo de calibração, que
postergava a vinculação do piso ao vencimento inicial (art. 2º, §
2º). Proposta não acolhida pela maioria do Colegiado.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FIXAÇÃO DA CARGA
HORÁRIA DE TRABALHO. COMPOSIÇÃO. LIMITAÇÃO DE
DOIS TERÇOS DA CARGA HORÁRIA À INTERAÇÃO COM
EDUCANDOS (ART. 2º, § 4º DA LEI 11.738/2008). ALEGADA
VIOLAÇÃO DO PACTO FEDERATIVO. INVASÃO DO CAMPO
ATRIBUÍDO AOS ENTES FEDERADOS E AOS MUNICÍPIOS
PARA ESTABELECER A CARGA HORÁRIA DOS ALUNOS E
DOS DOCENTES. SUPOSTA CONTRARIEDADE ÀS
REGRAS ORÇAMENTÁRIAS (ART. 169 DA CONSTITUIÇÃO).
AUMENTO DESPROPORCIONAL E IMPREVISÍVEL DOS
GASTOS PÚBLICOS COM FOLHA DE SALÁRIOS.
IMPOSSIBILIDADE DE ACOMODAÇÃO DAS DESPESAS NO
CICLO ORÇAMENTÁRIO CORRENTE. 3. Plausibilidade da
alegada violação das regras orçamentárias e da
proporcionalidade, na medida em que a redução do tempo de
interação dos professores com os alunos, de forma planificada,
implicaria a necessidade de contratação de novos docentes, de
modo a aumentar as despesas de pessoal. Plausibilidade,
ainda, da pretensa invasão da competência do ente federado
para estabelecer o regime didático local, observadas as
diretrizes educacionais estabelecidas pela União. Ressalva
pessoal do ministro-relator, no sentido de que o próprio texto
legal já conteria mecanismo de calibração, que obrigaria a
adoção da nova composição da carga horária somente ao final
da aplicação escalonada do piso salarial. Proposta não
acolhida pela maioria do Colegiado. Medida cautelar deferida,
por maioria, para suspender a aplicabilidade do art. 2º, § 4º da
Lei 11.738/2008. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.
PISO SALARIAL. DATA DE INÍCIO DA APLICAÇÃO.
APARENTE CONTRARIEDADE ENTRE O DISPOSTO NA

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CLÁUSULA DE VIGÊNCIA EXISTENTE NO CAPUT DO ART.
3º DA LEI 11.738/2008 E O VETO APOSTO AO ART. 3º, I DO
MESMO TEXTO LEGAL. 4. Em razão do veto parcial aposto ao
art. 3º, I da Lei 11.738/2008, que previa a aplicação escalonada
do piso salarial já em 1º de janeiro de 2008, à razão de um
terço, aliado à manutenção da norma de vigência geral inscrita
no art. 8º (vigência na data de publicação, isto é, 17.07.2008), a
expressão "o valor de que trata o art. 2º desta Lei passará a
vigorar a partir de 1º de janeiro de 2008", mantida, poderia ser
interpretada de forma a obrigar o cálculo do valor do piso com
base já em 2008, para ser pago somente a partir de 2009. Para
manter a unicidade de sentido do texto legal e do veto,
interpreta-se o art. 3º para estabelecer que o cálculo das
obrigações relativas ao piso salarial se dará a partir de 1º de
janeiro de 2009. Medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade concedida em parte.
(ADI 4167 MC, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Tribunal
Pleno, julgado em 17/12/2008, DJe-079 DIVULG 29-04-2009
PUBLIC 30-04-2009 EMENT VOL-02358-01 PP-00157 RTJ
VOL-00210-02 PP-00629)

Como é cediço, a decisão proferida em ação de controle de


constitucionalidade concentrado tem eficácia vinculante e erga omnes, nos
termos do artigo 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99, in verbis:

“Art. 28. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em


julgado da decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar
em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da
União a parte dispositiva do acórdão.
Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou
de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação
conforme a Constituição e a declaração parcial de
inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia
contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do
Poder Judiciário e à Administração Pública federal,
estadual e municipal”

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Ainda, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp
1.426.210/RS, sob o rito dos recursos repetitivos, firmou o entendimento no
sentido de ser vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior ao piso
nacional, mas sem determinação de incidência automática em toda a carreira e
reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente
ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais.

Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PISO SALARIAL


NACIONAL PARA OS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/1973.
INOCORRÊNCIA. VENCIMENTO BÁSICO. REFLEXO SOBRE
GRATIFICAÇÕES E DEMAIS VANTAGENS. INCIDÊNCIA
SOBRE TODA A CARREIRA. TEMAS A SEREM
DISCIPLINADOS NA LEGISLAÇÃO LOCAL. MATÉRIAS
CONSTITUCIONAIS. ANÁLISE EM SEDE DE RECURSO
ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não viola o art. 535 do
CPC/1973 o acórdão que contém fundamentação suficiente
para responder às teses defendidas pelas partes, pois não há
como confundir o resultado desfavorável ao litigante com a falta
de fundamentação. 2. A Lei n. 11.738/2008, regulamentando
um dos princípios de ensino no País, estabelecido no art.
206, VIII, da Constituição Federal e no art. 60 III, "e", do
ADCT, estabeleceu o piso salarial profissional nacional
para o magistério público da educação básica, sendo esse
o valor mínimo a ser observado pela União, pelos Estados,
o Distrito Federal e os Municípios quando da fixação do
vencimento inicial das carreiras. 3. O Supremo Tribunal
Federal, no julgamento da ADI 4167/DF, declarou que os
dispositivos da Lei n. 11.738/2008 questionados estavam
em conformidade com a Constituição Federal, registrando
que a expressão "piso" não poderia ser interpretada como
"remuneração global", mas como "vencimento básico
inicial", não compreendendo vantagens pecuniárias pagas

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a qualquer outro título. Consignou, ainda, a Suprema Corte
que o pagamento do referido piso como vencimento básico
inicial da carreira passaria a ser aplicável a partir de
27/04/2011, data do julgamento do mérito da ação. 4. Não
há que se falar em reflexo imediato sobre as vantagens
temporais, adicionais e gratificações ou em reajuste geral
para toda a carreira do magistério, visto que não há
nenhuma determinação na Lei Federal de incidência
escalonada com aplicação dos mesmos índices utilizados
para a classe inicial da carreira. 5. Nos termos da Súmula
280 do STF, é defesa a análise de lei local em sede de recurso
especial, de modo que, uma vez determinado pela Lei n.
11.738/2008 que os entes federados devem fixar o vencimento
básico das carreiras no mesmo valor do piso salarial
profissional, compete exclusivamente aos Tribunais de origem,
mediante a análise das legislações locais, verificar a ocorrência
de eventuais reflexos nas gratificações e demais vantagens,
bem como na carreira do magistério. 6. Hipótese em que o
Tribunal de Justiça estadual limitouse a consignar que a
determinação constante na Lei n. 11.738/2008 repercute nas
vantagens, gratificações e no plano de carreira, olvidando-se
de analisar especificamente a situação dos profissionais do
magistério do Estado do Rio Grande do Sul. 7. Considerações
acerca dos limites impostos pela Constituição Federal –
autonomia legislativa dos entes federados, iniciativa de cada
chefe do poder executivo para propor leis sobre organização
das carreiras e aumento de remuneração de servidores, e
necessidade de prévia previsão orçamentária –, bem como
sobre a necessidade de edição de lei específica, nos moldes
do art. 37, X, da Constituição Federal, além de já terem sido
analisadas pelo STF no julgamento da ADI, refogem dos limites
do recurso especial. 8. Para o fim preconizado no art. 1.039 do
CPC/2015, firmase a seguinte tese: "A Lei n. 11.738/2008, em
seu art.2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das
carreiras do magistério público da educação básica deve
corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo
vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior,
não havendo determinação de incidência automática em
toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais
vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se

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estas determinações estiverem previstas nas legislações
locais." 9. Recurso especial parcialmente provido para cassar
o acórdão a quo e determinar o retorno dos autos ao Tribunal
de origem, a fim de que reaprecie as questões referentes à
incidência automática da adoção do piso salarial profissional
nacional em toda a carreira do magistério e ao reflexo imediato
sobre as demais vantagens e gratificações, de acordo com o
determinado pela lei local. Julgamento proferido pelo rito dos
recursos repetitivos (art. 1.039 do CPC/2015).

Por conseguinte, trata-se de norma de observância obrigatória


pelo Estado do Rio de Janeiro, de modo que não cabe a alegação de ausência
de dotação orçamentária para deixar de cumpri-la, sobretudo pela possibilidade
de repasses pela União, conforme previsto no já mencionado artigo 4º, da Lei
nº 11.738/2008.

Tampouco se pode sustentar a incidência da Súmula


Vinculante 37, haja vista que não se trata de aumento de remuneração de
servidor, mas sim de determinação de equiparação, em atendimento ao
disposto em lei federal.

Outrossim, quanto à recuperação fiscal do Estado do Rio de


Janeiro, destaque-se que a Lei Complementar nº 159/2017, que instituiu o
Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal, excepciona
a concessão de adequação de remuneração quando proveniente de sentença
judicial transitada em julgado. Confira-se:

“Art. 8º São vedados ao Estado durante a vigência do Regime


de Recuperação Fiscal: I - a concessão, a qualquer título, de
vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração
de membros dos Poderes ou de órgãos, de servidores e

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empregados públicos e de militares, exceto aqueles
provenientes de sentença judicial transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso X do caput do art. 37 da
Constituição Federal”

Insta salientar que até mesmo quando atingido o limite


prudencial de gastos com pessoal previsto no artigo 22, da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) o Estado não está dispensado do
cumprimento de direitos subjetivos dos servidores, conforme já decidido pela
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro no Parecer Normativo nº
24/2017, cuja eficácia vinculante foi atribuída pelo Decreto nº 46.309/2018.

Acrescente-se que a Lei nº 11.738/2008 menciona a carga


horária de 40 horas semanais como parâmetro para fixação do piso salarial,
mas, na forma do artigo 2º, §3º, da Lei nº 11.738/2008, os servidores que
exercem jornada de trabalho inferior devem receber os vencimentos de forma
proporcional, como no caso em tela, em que a jornada era de 22 horas.

Por tais fundamentos, voto no sentido de conhecer para


NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. Honorários advocatícios a serem
fixados na liquidação de sentença nos termos do artigo Art. 85, § 4º, II, do
Código de Processo Civil, como determinou a sentença.

Rio de Janeiro, na data da assinatura digital.

LUCIA HELENA DO PASSO


Desembargadora Relatora

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