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direito constitucional
e ao controle de
constitucionalidade
Rodrigo Canalli
Créditos do curso
Conteudista:
Rodrigo Lobo Canalli (STF)
Revisora de textos:
Márcia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy (STF)
Web designer:
Vitor Dutra Freire (STJ)
I. Apresentação do curso....................................................4
II. Objetivos...................................................................4
1.Introdução....................................................................5
2. Democracia.................................................................8
3. Constituição e constitucionalismo.......................................10
4. Poder Constituinte........................................................12
6. Considerações finais......................................................15
Sugestões de leitura.........................................................16
Imagens.....................................................................16
Glossário.....................................................................17
4 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade
I. Apresentação do curso
II — Objetivos
Vamos lá!
Antes de iniciarmos, peço que clique aqui para ler e concordar com o nosso código de
ética.
1. Introdução
Caro aluno, como servidor do Supremo Tribunal Federal (STF), sem dúvida você já tem
ciência sobre o papel desse órgão como guardião da Constituição. Mas o que isso significa
na prática? Significa que, como Corte Constitucional e órgão de cúpula do Poder
Judiciário, o Supremo Tribunal Federal exerce o controle de constitucionalidade das leis e
dos atos normativos.
Essa estrutura tem importância, como veremos, para a definição dos diferentes
caminhos pelos quais uma questão constitucional chega a ser apreciada e decidida pelo
Supremo Tribunal Federal — ora de modo direto (a que chamamos competência originária),
ora por meio de um recurso contra decisões de outros tribunais (a que chamamos
competência recursal).
Por sua vez, a reclamação constitucional seria um exemplo de ação que serve como
modalidade de controle de constitucionalidade concentrado, mas não abstrato. Embora seja da
competência originária do STF e se preste a viabilizar o exame da constitucionalidade, supõe
sempre uma situação concreta.
Mas, afinal, para que serve esse tal de controle de constitucionalidade? Por que é que ele
é exercido por um órgão do Poder Judiciário? Se a Constituição já estabeleceu o procedimento
para o funcionamento do Congresso Nacional e do Poder Executivo, ao Poder Judiciário não
cabe simplesmente aplicar as leis aprovadas? Ao invalidar uma lei aprovada pelo Congresso
Nacional, o Poder Judiciário não age de forma antidemocrática? Ou será isso, paradoxalmente,
uma necessidade da própria democracia?
Sem nenhuma pretensão de portar verdades absolutas, vamos verificar algumas respostas
que a história do constitucionalismo e das instituições democráticas modernas se encarregou
de elaborar para essas perguntas.
2. Democracia
Do lado teórico, a partir do século XVIII, a ideia de que é a vontade do povo que constitui
a comunidade política e determina os limites do poder político passou a ganhar espaço, pelo
menos no mundo ocidental, em detrimento das formas de legitimação do poder político até então
estabelecidas, tais como o poder divino e a tradição. Alguns dos mais importantes pensadores
que contribuíram para isso foram Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
Thomas Hobbes
John Locke
(1588-1679): filósofo e Jean-Jacques
(1632-1704): filósofo
teórico político inglês. Na Rousseau (1712-1778):
clássica obra O Leviatã, inglês tido como um dos
principais teóricos do filósofo e teórico político
justificou o estabelecimento de suíço. Sua principal obra, Do
um Estado soberano em um pacto liberalismo e do contrato social.
Além de ter sido um dos Contrato Social, em que discute
social para a imposição da ordem,
que permitiria aos homens sair do desenvolvedores das doutrinas a legitimidade do Estado como
estado de natureza, em que do direito natural e da derivada da vontade do povo, é
haveria constante guerra de separação dos poderes, considerada uma das grandes
todos contra todos, e viver também se destacou pela influências políticas da
em paz e segurança. defesa da tolerância Revolução Francesa.
religiosa.
ais
am Mas, como assim? A democracia não nasceu em Atenas, como eu aprendi?
Saib
O princípio democrático é um
princípio cuja dimensão mais aparente é
a procedimental, que diz respeito à forma
como as regras são feitas, à sua fonte. Nesse
contexto, o princípio da maioria tem grande
relevância. Em tese, uma decisão normativa
é democrática quando é aprovada pela
maioria do povo (ou seus representantes).
O princípio da maioria está presente nas
eleições, assim como nas votações das leis
pelos parlamentares.
3. Constituição e constitucionalismo
Uma Constituição escrita pode ser facilmente identificada porque assume a forma
de um texto corporificado em um documento. A Constituição da República Federativa do
Brasil, promulgada em 1988, é um exemplo de Constituição escrita.
lementar
mp Leia trecho de O Federalista, coletânea de artigos escritos no século XVIII em
Leitura co
A fim de criar os devidos fundamentos para a atuação separada e distinta dos diferentes poderes
do governo — o que, em certo grau é admitido por todos como essencial à preservação da liberdade
— é evidente que cada um deve ter uma vontade própria e, consequentemente, ser de tal maneira
constituído que os membros de um tenha a menor ingerência possível na escolha dos membros dos
outros. (...)
Todavia, a grande segurança contra uma gradual concentração de vários poderes no mesmo ramo do
governo consiste em dar aos que administram cada um deles os necessários meios constitucionais e
motivações pessoais para que resistam às intromissões dos outros. (...) A ambição deverá ser contraposta
à ambição. Os interesses pessoais devem estar ligados aos direitos constitucionais do cargo. Talvez seja
um reflexo da natureza humana que tais expedientes sejam necessários para controlar os abusos do
governo. Mas afinal, o que é o próprio governo senão o maior de todos os reflexos da natureza humana?
Se os homens fossem anjos nenhuma espécie de governo seria necessária. Se os homens fossem
governados por anjos, não seriam necessários controles externos nem internos sobre o governo. Ao
constituir-se um governo de homens sobre outros homens, a maior dificuldade reside nisto: primeiro
é preciso habilitar o governo a controlar os governados; e, em seguida, obrigar o governo a controlar-
se a si próprio. A dependência do povo é, sem dúvida, o controlo primário sobre o governo; mas a
experiência ensinou à humanidade a necessidade de precauções auxiliares.
Em uma república unitária, todo o poder outorgado pelo povo é entregue a um único governo, e as
usurpações são prevenidas por uma divisão do governo em ramos distintos e independentes. Na
república composta da América, o poder outorgado pelo povo é primeiramente repartido entre
dois governos distintos, e, depois, a porção atribuída a cada um é subdividida entre ramos distintos
e separados. Surge, assim, uma dupla segurança para os direitos do povo. Os diferentes governos
controlar-se-ão mutuamente e ao mesmo tempo cada um deles será controlado por si próprio.
4. Poder Constituinte
normas da Constituição podem ser § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos
objeto de deliberação pelo Poder Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
Constituinte derivado. Às normas § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
constitucionais que não podem ser
I — a forma federativa de Estado;
alteradas, nem mesmo por emenda
II — o voto direto, secreto, universal e periódico;
à Constituição, dá-se o nome de
cláusulas pétreas. III — a separação dos Poderes;
Como acabamos de ver, os dois pilares do Estado Democrático de Direito são o regime
democrático (o poder político pertence ao povo) e a submissão a uma Constituição (a atividade
do Estado é pautada, e os seus poderes limitados, por uma Constituição).
Neste ponto, talvez você já tenha percebido que parece haver uma relação paradoxal entre
constitucionalismo e democracia.
Ao mesmo tempo em que o princípio democrático coloca o poder político nas mãos do
povo (ou pelo menos dos seus representantes eleitos), o princípio constitucional limita esse
poder. De um lado, ao impor limites ao exercício do poder, a Constituição impõe restrições à
democracia. Nem todas as leis, ainda que atendam ao princípio majoritário, serão válidas se não
forem compatíveis com a Constituição (se violarem direitos fundamentais, por exemplo).
Eis o que dizem alguns autores que tentaram resolver esse quebra-cabeça.
Robert Houghwout
Para Robert Jackson, juiz da Suprema Corte
Jackson (1892-1954) foi,
quando juiz da Suprema Corte
Americana entre 1941 e 1954, certos princípios
dos EUA, um dos grandes
defensores das liberdades jurídicos, como o direito à vida, à propriedade,
individuais e do devido processo
legal. Também tornou-se célebre pela à liberdade de expressão e de imprensa, à
sua atuação como promotor de
acusação nos julgamentos de liberdade religiosa, não podem se sujeitar ao
Nuremberg, em que foram julgados
por crimes de guerra, ao final da sabor das maiorias políticas eventuais. Devem
Segunda Guerra Mundial, os
líderes do regime ser consagrados na Constituição e ser aplicados
nazista.
diretamente pelos Tribunais.
6. Considerações finais
Antes de concluir, gostaria de dizer que não hesitem em manifestar qualquer dúvida ou
dificuldade que apareça durante nossa caminhada. Espero que a experiência de aprendizado
nesta plataforma seja, durante todo o curso, um verdadeiro prazer.
Esta aula fica por aqui. Despeço-me com um abraço e votos de enriquecimento intelectual
para todos os participantes.
Sugestões de leitura
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET BRANCO, Paulo Gustavo.
Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, IDP, 2000.
Imagens
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pal%C3%A1cios_em_Bras%C3%ADlia
https://stanfordfreedomproject.com/what-is-freedom-new-essays-fall-2014/1601-2/
http://aktiventag2012.unitas.org/2012/03/21/vorstellung-der-stadt-karlsruhe/
http://www.crenshawlighting.com/projects/supreme-court-united-states/
http://connaissances.dk/tag/paris/page/2/
Glossário
Antítese — Antítese é uma ideia que se opõe a outra, apresentada anteriormente. Por
exemplo: “limitado” em oposição a “absoluto”, “inferno” em oposição a “paraíso”, “paz” em
oposição a “guerra”.
Atenas — Hoje a capital da República Helênica, mais conhecida como Grécia, a cidade de
Atenas é uma das mais antigas do mundo com uma rica história que se estende por mais
de 3.000 anos, pelo menos. No período conhecido como Antiguidade Clássica, Atenas foi
uma das mais importantes cidades-estado (polis) — um conjunto de cidades politicamente
independentes uma das outras, embora unidas pela língua e cultura em comum —
integrantes do que chamamos de Grécia Antiga. Entre os séculos V e VI a.C., período que
ficou conhecido como a Era de Ouro de Atenas ou o Século de Péricles, em referência ao
líder político que promoveu a implementação da democracia, Atenas foi palco da primeira
experiência democrática de que se tem registro.
Constituição — Lei fundamental de uma determinada organização política (um Estado, uma
Federação ou uma Comunidade de nações), na qual são definidos os limites do exercício do
poder político. Funciona, assim, como parâmetro para a atividade executiva (como o poder
de polícia), para a edição de leis e outros atos normativos e para a atuação dos juízes e dos
tribunais.
Estado — Embora não exista consenso acadêmico sobre a definição de Estado, podemos
dizer que se refere, de modo geral, à estrutura pela qual é organizado o exercício do domínio
político em uma comunidade e sobre um território particular. Alguns elementos que
costumam estar associados ou fazer parte da definição de Estado, a depender da teoria,
são: monopólio do uso legítimo da força; sistema de governo definido; povo; existência
de burocracias administrativas; existência de Forças Armadas; existência de um ou mais
idiomas oficiais. A não ser quando especificado pelo contexto, a palavra Estado, neste curso,
se refere indistintamente ao conjunto dos entes políticos da Federação (União, estados,
Distrito Federal e municípios).
Revolução Americana — Cadeia de eventos que tem início com a insurgência dos habitantes
de treze colônias britânicas na América do Norte contra a autoridade do Parlamento Britânico
e cuja consequência foi a fundação dos Estados Unidos da América, com a adoção, em 4 de
julho de 1776, da Declaração de Independência. Deu origem, assim, ao que é apontada como
a primeira grande experiência de democracia moderna.
Revolução Francesa — Série de eventos que, nas ultimas décadas do século XVIII, levou, na
França, ao fim da Monarquia Absolutista, à adoção da Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão e ao estabelecimento de uma república, entre outros desdobramentos
internos e externos. Influenciou movimentos revolucionários subsequentes pela Europa
e pelo mundo, desencadeando transformações sociais e políticas radicais, inspiradas nas
ideias de liberdade, igualdade e fraternidade.