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Introdução ao

direito constitucional
e ao controle de
constitucionalidade
Rodrigo Canalli
Créditos do curso

Material didático do curso a distância:


Introdução ao direito constitucional e ao controle de constitucionalidade

Validação pedagógica e diagramação:


Supremo Tribunal Federal
Secretaria de Gestão de Pessoas
Coordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas

Conteudista:
Rodrigo Lobo Canalli (STF)

Revisora de textos:
Márcia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy (STF)

Web designer:
Vitor Dutra Freire (STJ)

Dados para referência


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Curso a distância: Controle de
Constitucionalidade da legislação local. Brasília: Coordenadoria de
Desenvolvimento de Pessoas, 2019. Disponível em https://ead.stf.jus.br/.
Acesso restrito com login e senha.

2019, Supremo Tribunal Federal.


Todos os direitos reservados.
Este material possui função didática, sem fins comerciais, e foi adaptado para a
versão autoinstrucional em 2021. O material foi atualizado em 2023. Para mais
detalhes sobre as condições de uso, acesse: Licença STF.

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sumário
Aula 1
Constituição e democracia

I. Apresentação do curso....................................................4

II. Objetivos...................................................................4

1.Introdução....................................................................5

2. Democracia.................................................................8

3. Constituição e constitucionalismo.......................................10

4. Poder Constituinte........................................................12

5. Relação entre Constituição e democracia...............................13

6. Considerações finais......................................................15

Sugestões de leitura.........................................................16

Imagens.....................................................................16

Glossário.....................................................................17
4 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Introdução ao direito constitucional


e ao controle de constitucionalidade

Aula 1 — Constituição e democracia

I. Apresentação do curso

Seja bem-vindo ao curso Introdução ao direito constitucional e ao


controle de constitucionalidade!
Para participar deste curso introdutório, destinado a todos os servidores interessados
em conhecer mais sobre a Constituição e o papel do Supremo Tribunal no controle da
constitucionalidade das normas, nenhum conhecimento jurídico prévio é exigido. No decorrer
do curso, iremos apresentar de modo amplo e contextualizar alguns conceitos constitucionais
básicos e verificar como têm sido desenvolvidos na jurisprudência do Tribunal.

II — Objetivos

Ao final deste curso, você deverá ter incorporado


conhecimentos técnicos e hermenêuticos para
compreender e avaliar, com objetividade, o processo
de controle de constitucionalidade desempenhado pelo
Supremo Tribunal Federal.

Após a primeira aula, nosso primeiro passo em direção


a esse objetivo, espero que você seja capaz de responder à
seguinte pergunta: por que uma democracia precisa de uma
Constituição?

Vamos lá!

Antes de iniciarmos, peço que clique aqui para ler e concordar com o nosso código de
ética.

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5 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Edifício-sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília.

1. Introdução

Caro aluno, como servidor do Supremo Tribunal Federal (STF), sem dúvida você já tem
ciência sobre o papel desse órgão como guardião da Constituição. Mas o que isso significa
na prática? Significa que, como Corte Constitucional e órgão de cúpula do Poder
Judiciário, o Supremo Tribunal Federal exerce o controle de constitucionalidade das leis e
dos atos normativos.

Embora compartilhem muitos pontos em comum, os conceitos de Corte Constitucional


e de órgão de cúpula do Poder Judiciário são um pouco diferentes.

Corte Constitucional ou Tribunal


Constitucional designa um órgão
especializado cuja tarefa precípua é decidir
sobre a constitucionalidade das leis. Uma
Corte Constitucional pode integrar a estrutura
ordinária do Poder Judiciário ou funcionar
paralelamente a este. Esse modelo, bastante
adotado na Europa, é chamado de modelo
austríaco.
Sede do Bundesverfassungsgericht, o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha.

Órgão de cúpula do Poder Judiciário ou Suprema Corte ou Supremo Tribunal refere-


-se, em geral, à última instância recursal, especialmente nos regimes em que todos os juízes
e tribunais têm competência para decidir sobre a constitucionalidade das leis ao examinar
sua aplicação nos casos que julgam. Nesse modelo, identificado como modelo norte-
americano, o órgão de cúpula não é uma Corte especializada; é simplesmente aquele que
tem a última palavra na decisão dos casos judiciais.

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6 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Sede da Suprema Corte dos Estados Unidos.

O Brasil adota um sistema misto, no qual o Supremo Tribunal Federal reúne


características tanto de tribunal constitucional quanto de corte suprema.

Essa estrutura tem importância, como veremos, para a definição dos diferentes
caminhos pelos quais uma questão constitucional chega a ser apreciada e decidida pelo
Supremo Tribunal Federal — ora de modo direto (a que chamamos competência originária),
ora por meio de um recurso contra decisões de outros tribunais (a que chamamos
competência recursal).

Além das competências estritamente relacionadas ao controle de constitucionalidade


das leis, o Supremo Tribunal Federal acumula outras competências, também originárias,
que não serão abordadas neste curso por não estarem diretamente relacionadas ao controle
de constitucionalidade. A ação penal originária contra detentores de foro por prerrogativa
de função é exemplo dessas outras competências. A competência originária que nos
interessa neste curso é a que diz respeito a uma tarefa específica: o controle concentrado
de constitucionalidade.

No exercício do controle concentrado ou controle abstrato de constitucionalidade,


o Supremo Tribunal Federal julga a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo em
tese ou, como o nome diz, em abstrato. Isso quer dizer que o que está em julgamento é a
validade da própria lei, e não necessariamente a sua aplicação a um caso concreto. O texto
da lei é comparado com o texto da Constituição e, caso ele contrarie algum dispositivo
da Constituição, a lei é tida como inválida. Esse tipo de controle também é chamado de
concentrado porque, ao invés de ser realizado simultaneamente por todos os órgãos do
Poder Judiciário, é concentrado em um único órgão, o STF.

A rigor, controle concentrado e controle abstrato de constitucionalidade não significam


exatamente a mesma coisa. Contudo, existe uma sobreposição suficiente para permitir o uso
intercambiável dessas expressões para se referir às seguintes modalidades de controle de
constitucionalidade, que examinaremos mais detidamente no decorrer do curso:

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7 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

a a ação direta de inconstitucionalidade (ADI);

b a ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO);

c a ação declaratória de constitucionalidade (ADC); e

d a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF).

Por sua vez, a reclamação constitucional seria um exemplo de ação que serve como
modalidade de controle de constitucionalidade concentrado, mas não abstrato. Embora seja da
competência originária do STF e se preste a viabilizar o exame da constitucionalidade, supõe
sempre uma situação concreta.

Quanto à competência recursal do Supremo Tribunal Federal, o controle de


constitucionalidade se faz primordialmente pela via do recurso extraordinário. Nesse caso,
uma questão constitucional é levada ao STF após ter sido levantada no curso do julgamento
de uma demanda concreta pelos demais tribunais estaduais e federais. Essa modalidade
é chamada de controle de constitucionalidade concreto ou difuso. Concreto porque
é realizado no curso de uma demanda judicial qualquer, um caso concreto no qual uma
questão constitucional foi suscitada. É difuso porque a apreciação da questão constitucional,
no exame do caso concreto, não é exclusiva do Supremo Tribunal Federal, mas distribuída
por todos os juízes e tribunais pelos quais o processo passou antes de chegar ao Supremo. Se,
no caso, não houver recurso para o STF, ou se este não for admitido, a decisão constitucional
que valerá será a que foi tomada por outro órgão do Poder Judiciário, e não pelo STF.

Mais recentemente, o instituto da


repercussão geral, como veremos adiante,
tem levado ao que o Ministro Gilmar Mendes
chamou de “abstrativização do controle
difuso”. Esse nome feio nada mais quer dizer
Nomeado
que o controle de constitucionalidade realizado
Ministro do Supremo
Tribunal Federal em 2002, por meio do recurso extraordinário, sem deixar
exerceu a Presidência da Corte
no biênio 2008-2010. É de pressupor um caso concreto, adquiriu, com
professor de direito
constitucional da graduação e a repercussão geral, algumas características
pós-graduação da Faculdade de
Direito da Universidade de do controle abstrato. Veremos mais sobre a
Brasília (UnB) e autor de
diversas obras e artigos
acadêmicos.
repercussão geral na Aula 6.

Mas, afinal, para que serve esse tal de controle de constitucionalidade? Por que é que ele
é exercido por um órgão do Poder Judiciário? Se a Constituição já estabeleceu o procedimento
para o funcionamento do Congresso Nacional e do Poder Executivo, ao Poder Judiciário não
cabe simplesmente aplicar as leis aprovadas? Ao invalidar uma lei aprovada pelo Congresso
Nacional, o Poder Judiciário não age de forma antidemocrática? Ou será isso, paradoxalmente,
uma necessidade da própria democracia?

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8 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Sem nenhuma pretensão de portar verdades absolutas, vamos verificar algumas respostas
que a história do constitucionalismo e das instituições democráticas modernas se encarregou
de elaborar para essas perguntas.

No espírito de liberdade de pensamento e crítica que acredito ser fundamental a qualquer


aprendizado, sinta-se livre para, nos fóruns, discordar, questionar e apresentar seus pontos de
vista sobre essas e outras questões. Longe de serem verdades matemáticas, instituições jurídico-
políticas como Estado, Democracia e Constituição são construções do espírito humano que
dependem, para existir, de ser reconhecidas por uma comunidade de pessoas. Não à toa, por
muito tempo, despertaram, e ainda despertam, inúmeros debates.

Nosso ponto de partida é o regime estabelecido pela Constituição da República


Federativa do Brasil, promulgada em 1988. Trata-se de um Estado Democrático de
Direito, que também pode ser chamado de Estado Democrático Constitucional. Democrático
e constitucional, podemos dizer, são opostos complementares.

2. Democracia

Um dos maiores líderes do século XX,


Winston Churchill, descreveu a democracia
como “a pior forma de governo, salvo todas as
Winston Churchill
(1874-1965), Primeiro-Ministro
demais formas que têm sido experimentadas de
do Reino Unido durante a
Segunda Guerra Mundial, foi um tempos em tempos”.
notável orador e estadista, forte
crítico do nazismo e defensor da
democracia parlamentar.
Em linhas bem gerais, um Estado é
democrático quando as normas que o governam são
determinadas pelo povo, diretamente (democracia
direta) ou por meio de representantes eleitos (democracia indireta ou parlamentar). Em
outras palavras, quando o povo é o autor das leis, os governados são, em última análise, os
próprios governantes.

Tradicionalmente, portanto, a democracia


é definida, a teor do célebre pronunciamento
Décimo sexto
de Abraham Lincoln, como o “governo do povo Presidente dos Estados
Unidos, Abraham Lincoln
e para o povo”. Embutidos nessa definição, liderou aquele país durante sua
maior crise, a Guerra Civil
aparentemente singela, estão séculos de estudos Americana, da qual saiu vitorioso
com a preservação da União e a
teóricos e experiências práticas em torno da abolição da escravidão. Foi
assassinado, ainda no exercício
ideia de soberania popular. da Presidência, enquanto
assistia a uma peça de
teatro.

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9 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Do lado teórico, a partir do século XVIII, a ideia de que é a vontade do povo que constitui
a comunidade política e determina os limites do poder político passou a ganhar espaço, pelo
menos no mundo ocidental, em detrimento das formas de legitimação do poder político até então
estabelecidas, tais como o poder divino e a tradição. Alguns dos mais importantes pensadores
que contribuíram para isso foram Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.

Thomas Hobbes
John Locke
(1588-1679): filósofo e Jean-Jacques
(1632-1704): filósofo
teórico político inglês. Na Rousseau (1712-1778):
clássica obra O Leviatã, inglês tido como um dos
principais teóricos do filósofo e teórico político
justificou o estabelecimento de suíço. Sua principal obra, Do
um Estado soberano em um pacto liberalismo e do contrato social.
Além de ter sido um dos Contrato Social, em que discute
social para a imposição da ordem,
que permitiria aos homens sair do desenvolvedores das doutrinas a legitimidade do Estado como
estado de natureza, em que do direito natural e da derivada da vontade do povo, é
haveria constante guerra de separação dos poderes, considerada uma das grandes
todos contra todos, e viver também se destacou pela influências políticas da
em paz e segurança. defesa da tolerância Revolução Francesa.
religiosa.

Como aspecto prático da difusão


dessas ideias, o fim do século XVIII foi
marcado por duas revoluções que viraram
o mundo de cabeça para baixo. Revolução
Francesa e a Revolução Americana
consagraram definitivamente a viabilidade
prática, na experiência moderna, do governo
do povo pelo próprio povo.

A Liberdade Guiando o Povo, pintura de Eugene Delacroix (1830).

ais
am Mas, como assim? A democracia não nasceu em Atenas, como eu aprendi?
Saib

Sim e não. De fato, existiram, na Antiguidade, práticas e instituições políticas


com importantes características democráticas, especialmente em algumas
das polis gregas (é célebre o exemplo da democracia ateniense) e na República
Romana. Na prática, porém, houve pouca ou nenhuma relação direta entre elas
e o nascimento da democracia nos Estados modernos. No plano teórico, vale
destacar que o filósofo grego Aristóteles já classificava o “governo de muitos”
entre as formas de governo, chamando-o, porém, de “República”. A palavra
“Democracia” era usada por ele para designar a forma corrompida da República,
quando esta se degenerava em tirania da maioria.

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10 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

O princípio democrático é um
princípio cuja dimensão mais aparente é
a procedimental, que diz respeito à forma
como as regras são feitas, à sua fonte. Nesse
contexto, o princípio da maioria tem grande
relevância. Em tese, uma decisão normativa
é democrática quando é aprovada pela
maioria do povo (ou seus representantes).
O princípio da maioria está presente nas
eleições, assim como nas votações das leis
pelos parlamentares.

3. Constituição e constitucionalismo

No século XVIII, a partir da Revolução Francesa e da Revolução Americana, surgiu o


sentido moderno de constituição. Esse conceito passou a traduzir uma norma jurídica
hierarquicamente superior às demais, que é, ao mesmo tempo, a pedra fundamental do
Estado e o critério interno de validação do direito. Essa ideia decorre do que chamamos de
constitucionalismo, doutrina segundo a qual a atividade do Estado deve ser pautada por
limites emanados de uma Constituição, que pode ser escrita ou não.

Uma Constituição escrita pode ser facilmente identificada porque assume a forma
de um texto corporificado em um documento. A Constituição da República Federativa do
Brasil, promulgada em 1988, é um exemplo de Constituição escrita.

Quando, porém, o conjunto dos preceitos fundamentais sobre a organização, o


funcionamento e os limites ao exercício do poder de um Estado não está reunido em um
texto escrito delimitado, mas pode ser inferido das práticas institucionais, de precedentes
judiciais, usos e costumes, além de textos esparsos considerados fundamentais, tem-se uma
Constituição não escrita. O Reino Unido é o exemplo mais conhecido. Outros exemplos
contemporâneos são Israel e Nova Zelândia.

Vale ressaltar que o sentido moderno de Constituição, resultado do constitucionalismo, é


bem diferente do uso pré-moderno da expressão “Constituição”, que significava apenas regime
ou forma de governo, o modo como uma comunidade se organizava politicamente e o seu
funcionamento, sem nenhuma alusão à ideia de limites ao exercício do poder.

Um Estado é constitucional, portanto, no sentido moderno, quando sua atuação é


subordinada às regras preestabelecidas em uma Constituição e, consequentemente, limitada
por ela. O Estado constitucional nasce como antítese ao Estado absolutista, em que não
existem critérios limitando ou vinculando as condutas e as decisões dos governantes.

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11 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Classicamente, esses limites ao exercício do poder são a separação de poderes e o


federalismo (divide-se o poder para que o poder controle o poder, os diferentes ramos
tenham interesse em controlar uns aos outros, e nenhum dos ramos tenha o poder absoluto),
bem como a existência de uma carta de direitos (direitos fundamentais, que não podem ser
violados pelas instituições do Estado, inclusive as leis).

lementar
mp Leia trecho de O Federalista, coletânea de artigos escritos no século XVIII em
Leitura co

defesa da ratificação da Constituição dos Estados Unidos. No trecho selecionado, James


Madison, que mais tarde viria a se tornar o quarto Presidente daquele país, expõe
argumentos justificando a separação de poderes e o sistema do federalismo.
A que expediente devemos, então, recorrer, a fim de assegurar na prática a necessária repartição de
atribuições entre os diferentes poderes, conforme prescreve a Constituição? A única resposta que pode
ser dada é que, se todas as medidas externas se mostraram inadequadas, o defeito deve ser corrigido
alterando-se a estrutura interna do governo, de modo que as suas diferentes partes constituintes
possam, através das suas relações mútuas, constituir os meios de manter umas às outras nos devidos
lugares. (...)

A fim de criar os devidos fundamentos para a atuação separada e distinta dos diferentes poderes
do governo — o que, em certo grau é admitido por todos como essencial à preservação da liberdade
— é evidente que cada um deve ter uma vontade própria e, consequentemente, ser de tal maneira
constituído que os membros de um tenha a menor ingerência possível na escolha dos membros dos
outros. (...)

Todavia, a grande segurança contra uma gradual concentração de vários poderes no mesmo ramo do
governo consiste em dar aos que administram cada um deles os necessários meios constitucionais e
motivações pessoais para que resistam às intromissões dos outros. (...) A ambição deverá ser contraposta
à ambição. Os interesses pessoais devem estar ligados aos direitos constitucionais do cargo. Talvez seja
um reflexo da natureza humana que tais expedientes sejam necessários para controlar os abusos do
governo. Mas afinal, o que é o próprio governo senão o maior de todos os reflexos da natureza humana?
Se os homens fossem anjos nenhuma espécie de governo seria necessária. Se os homens fossem
governados por anjos, não seriam necessários controles externos nem internos sobre o governo. Ao
constituir-se um governo de homens sobre outros homens, a maior dificuldade reside nisto: primeiro
é preciso habilitar o governo a controlar os governados; e, em seguida, obrigar o governo a controlar-
se a si próprio. A dependência do povo é, sem dúvida, o controlo primário sobre o governo; mas a
experiência ensinou à humanidade a necessidade de precauções auxiliares.

Em uma república unitária, todo o poder outorgado pelo povo é entregue a um único governo, e as
usurpações são prevenidas por uma divisão do governo em ramos distintos e independentes. Na
república composta da América, o poder outorgado pelo povo é primeiramente repartido entre
dois governos distintos, e, depois, a porção atribuída a cada um é subdividida entre ramos distintos
e separados. Surge, assim, uma dupla segurança para os direitos do povo. Os diferentes governos
controlar-se-ão mutuamente e ao mesmo tempo cada um deles será controlado por si próprio.

HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. O federalista. Brasília: Universidade de


Brasilia, 1984.

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12 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

4. Poder Constituinte

Poder Constituinte é o poder invocado para a promulgação de uma norma constitucional.


Trata-se de um dos conceitos mais controversos da teoria política, e, por isso, não é nosso
propósito nos estendermos muito sobre ele.

Poder Constituinte originário é o poder que funda a ordem constitucional. Podemos


dizer que é um poder de fato, já que a ordem jurídica constitucional nasce a partir dele, e
com ela todas as regras de distribuição de poder político. Em tese, é ilimitado.

A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada, em 1988, pela


AssembleiaNacionalConstituinteinstaladaentre1987e1988,comafinalidadede,noexercíciodo
poder constituinte originário, elaborar, no fim do regime militar, uma Constituição democrática
para o país.

Poder Constituinte derivado é o poder de revisão ou alteração de normas da


Constituição. Não é mais um poder ilimitado, porque está vinculado à forma prevista na
própria Constituição.
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
Na Constituição brasileira,
o poder constituinte derivado I — de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal;
é exercido pelo procedimento
II — do Presidente da República;
da proposta de emenda à
Constituição, previsto no art. 60. A III — de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
proposta de emenda à Constituição
membros.
precisa ser aprovada na Câmara
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
dos Deputados e no Senado, em federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
dois turnos, por pelo menos três
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso
quintos dos membros de cada Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos,
Casa. Além disso, nem todas as três quintos dos votos dos respectivos membros.

normas da Constituição podem ser § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos
objeto de deliberação pelo Poder Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

Constituinte derivado. Às normas § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
constitucionais que não podem ser
I — a forma federativa de Estado;
alteradas, nem mesmo por emenda
II — o voto direto, secreto, universal e periódico;
à Constituição, dá-se o nome de
cláusulas pétreas. III — a separação dos Poderes;

IV — os direitos e garantias individuais.

§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por


prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.

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13 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Alguns autores falam, ainda, no conceito de momento constituinte, para aludir


aos momentos históricos em que, por uma especial conjuntura política e social, o Poder
Constituinte originário se manifesta. São os momentos especialmente simbólicos de
transição política, revoluções, declarações de independência etc.

Brasil: A Assembleia Nacional Constituinte


EUA: A Convenção Constitucional de 1787 ficou
funcionou entre 1987 e 1988, no Congresso
conhecida como Convenção da Filadélfia, cidade
Nacional, em Brasília.
onde se reuniu.

5. Relação entre Constituição e democracia

Como acabamos de ver, os dois pilares do Estado Democrático de Direito são o regime
democrático (o poder político pertence ao povo) e a submissão a uma Constituição (a atividade
do Estado é pautada, e os seus poderes limitados, por uma Constituição).

Neste ponto, talvez você já tenha percebido que parece haver uma relação paradoxal entre
constitucionalismo e democracia.

Ao mesmo tempo em que o princípio democrático coloca o poder político nas mãos do
povo (ou pelo menos dos seus representantes eleitos), o princípio constitucional limita esse
poder. De um lado, ao impor limites ao exercício do poder, a Constituição impõe restrições à
democracia. Nem todas as leis, ainda que atendam ao princípio majoritário, serão válidas se não
forem compatíveis com a Constituição (se violarem direitos fundamentais, por exemplo).

Na prática, a função da Constituição é justamente remover certas decisões do processo


democrático. Como, então, podem ser conciliados a democracia e o constitucionalismo? O que
pode justificar um sistema em que a vontade do Poder Constituinte se sobrepõe à vontade da
maioria?

Eis o que dizem alguns autores que tentaram resolver esse quebra-cabeça.

Robert Houghwout
Para Robert Jackson, juiz da Suprema Corte
Jackson (1892-1954) foi,
quando juiz da Suprema Corte
Americana entre 1941 e 1954, certos princípios
dos EUA, um dos grandes
defensores das liberdades jurídicos, como o direito à vida, à propriedade,
individuais e do devido processo
legal. Também tornou-se célebre pela à liberdade de expressão e de imprensa, à
sua atuação como promotor de
acusação nos julgamentos de liberdade religiosa, não podem se sujeitar ao
Nuremberg, em que foram julgados
por crimes de guerra, ao final da sabor das maiorias políticas eventuais. Devem
Segunda Guerra Mundial, os
líderes do regime ser consagrados na Constituição e ser aplicados
nazista.
diretamente pelos Tribunais.

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14 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Já para o economista e filósofo Friedrich Hayek, a


Economista e filósofo austríaco,
democracia sem limites constitucionais acaba destruindo a si Friedrich Hayek (1899-1992) deixou
importantes contribuições para a
teoria do direito em obras como
mesma e se torna uma tirania. Direito, Legislação e Liberdade e A
Constituição da Liberdade.

Na mesma linha, o professor John Hart Ely não vê as


restrições constitucionais como antidemocráticas, e, sim,
Figurando entre os quatro mais
como reforços da democracia. Isso porque esses limites citados juristas da história dos
Estados Unidos, o professor John
asseguram a manutenção das condições para o exercício da Hart Ely (1938-2003) viu sua principal
obra, Democracia e Desconfiança,
democracia. O Tribunal constitucional, assim, é o guardião tornar-se, em pouco tempo, uma das
obras mais influentes sobre
não só da Constituição, mas também da própria democracia. controle de constitucionalidade.

São as limitações constitucionais ao poder político que permitem que a democracia


funcione, supere o princípio majoritário e seja o governo não só da maioria, mas de todos. É o
princípio do constitucionalismo que, ao inserir uma carta de direitos fundamentais na base da
ordem jurídica, assegura que maiorias de conveniência não subjuguem as minorias. É a função
contramajoritária da Constituição que, ao limitar a democracia, permite que a democracia
exista, sem se degenerar em despotismo. A Constituição tem esse papel de incluir no processo
democrático consideração pelos interesses minoritários, de índios, homossexuais, quilombolas,
minorias étnicas e religiosas etc.

Há uma permanente tensão entre o princípio democrático e o constitucional.

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15 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

6. Considerações finais

A nota diferenciadora do chamado Estado Democrático de Direito é a própria legitimidade


de o direito depender de mecanismos que preservem a autonomia e a responsabilidade dos
cidadãos/indivíduos, de tal modo que eles se reconheçam como coautores do direito. As
diferentes modalidades de participação político-­jurídica dos cidadãos nada mais são do que
expressões dessa ideia.

Nesta aula, apresentamos, em linhas gerais, o que é uma Constituição. Abordamos os


conceitos básicos do constitucionalismo, em especial o de Poder Constituinte, e a ideia de controle
de constitucionalidade. Além disso, discutimos a relação entre a Constituição e a democracia.
Para aprofundar o estudo desses temas, sugiro, a seguir, algumas leituras adicionais.

Antes de concluir, gostaria de dizer que não hesitem em manifestar qualquer dúvida ou
dificuldade que apareça durante nossa caminhada. Espero que a experiência de aprendizado
nesta plataforma seja, durante todo o curso, um verdadeiro prazer.

Esta aula fica por aqui. Despeço-me com um abraço e votos de enriquecimento intelectual
para todos os participantes.

Até a próxima aula!

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16 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Sugestões de leitura

FIORAVANTI, Maurizio. Constitucion de la Antigüedad a nuestros días. Madrid: Trotta, 2007.

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET BRANCO, Paulo Gustavo.
Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, IDP, 2000.

PAIXÃO, Cristiano; BIGLIAZZI, Renato. História constitucional inglesa e norte-americana:


dosurgimentoà estabilizaçãoda forma constitucional.Brasília: Editora UniversidadedeBrasília,
2008.

WALDRON, Jeremy. A dignidade da legislação. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ZAGREBELSKY, Gustavo. Principios y votos: el Tribunal Constitucional y la política. Madrid:


Minima Trotta, 2008.

Imagens

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pal%C3%A1cios_em_Bras%C3%ADlia

https://stanfordfreedomproject.com/what-is-freedom-new-essays-fall-2014/1601-2/

http://aktiventag2012.unitas.org/2012/03/21/vorstellung-der-stadt-karlsruhe/

http://www.crenshawlighting.com/projects/supreme-court-united-states/

http://connaissances.dk/tag/paris/page/2/

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17 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Glossário

Absolutismo — Doutrina política ou forma de governo em que o soberano (monarca) detém


poder absoluto e irrestrito sobre o Estado e seus súditos. No mundo ocidental, teve seu auge
nos séculos XVI e XII, com o declínio do feudalismo e a consolidação dos Estados nacionais
europeus, que eram, de início, marcadamente absolutistas. Exemplos históricos célebres
são a França sob Luis XIV (chamado de Rei Sol) e a Rússia dos Czares. Já a Arábia Saudita, o
Brunei e o Vaticano são exemplos atuais de regimes tipicamente absolutistas.

Antítese — Antítese é uma ideia que se opõe a outra, apresentada anteriormente. Por
exemplo: “limitado” em oposição a “absoluto”, “inferno” em oposição a “paraíso”, “paz” em
oposição a “guerra”.

Aristóteles — Considerado, ao lado de Platão, um dos dois filósofos mais importantes


da Grécia Antiga, foi tutor de Alexandre, o Grande, quando este era jovem. Ainda hoje
é considerado, por muitos, um dos mais influentes pensadores de todos os tempos. Sua
extensa obra filosófica e científica abrange desde física, biologia e medicina a política, ética,
estética, lógica e metafísica.

Atenas — Hoje a capital da República Helênica, mais conhecida como Grécia, a cidade de
Atenas é uma das mais antigas do mundo com uma rica história que se estende por mais
de 3.000 anos, pelo menos. No período conhecido como Antiguidade Clássica, Atenas foi
uma das mais importantes cidades-estado (polis) — um conjunto de cidades politicamente
independentes uma das outras, embora unidas pela língua e cultura em comum —
integrantes do que chamamos de Grécia Antiga. Entre os séculos V e VI a.C., período que
ficou conhecido como a Era de Ouro de Atenas ou o Século de Péricles, em referência ao
líder político que promoveu a implementação da democracia, Atenas foi palco da primeira
experiência democrática de que se tem registro.

Competência — Regra definidora da autoridade judicial ou administrativa responsável


por apreciar determinado processo ou realizar determinado procedimento. Diz-se que um
órgão tem competência originária sobre uma questão quando a ele cabe apreciá-la e decidi-
la direta e primeiramente, e recursal quando a ele cabe revisar a decisão de outro órgão.

Constituição — Lei fundamental de uma determinada organização política (um Estado, uma
Federação ou uma Comunidade de nações), na qual são definidos os limites do exercício do
poder político. Funciona, assim, como parâmetro para a atividade executiva (como o poder
de polícia), para a edição de leis e outros atos normativos e para a atuação dos juízes e dos
tribunais.

Controle de constitucionalidade — Procedimento pelo qual é verificada a compatibilidade


de uma lei ou ato normativo com a Constituição.

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18 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Democracia — Regime político caracterizado pela participação da população nas decisões


políticas, seja diretamente, seja por meio de representantes eleitos.

Direito constitucional — Ramo do direito que trata da formação, interpretação e aplicação


das normas integrantes da Constituição do Estado, e que dizem respeito primordialmente
à estruturação das instituições, à limitação do poder estatal e à garantia de direitos
fundamentais.

Estado — Embora não exista consenso acadêmico sobre a definição de Estado, podemos
dizer que se refere, de modo geral, à estrutura pela qual é organizado o exercício do domínio
político em uma comunidade e sobre um território particular. Alguns elementos que
costumam estar associados ou fazer parte da definição de Estado, a depender da teoria,
são: monopólio do uso legítimo da força; sistema de governo definido; povo; existência
de burocracias administrativas; existência de Forças Armadas; existência de um ou mais
idiomas oficiais. A não ser quando especificado pelo contexto, a palavra Estado, neste curso,
se refere indistintamente ao conjunto dos entes políticos da Federação (União, estados,
Distrito Federal e municípios).

Hermenêutica — Palavra derivada de Hermes, o nome dado, na mitologia grega, ao


mensageiro dos deuses. Designa os métodos, técnicas ou conhecimentos que permitem
ao intérprete extrair sentido e coerência de textos, especialmente os de caráter religioso,
literário ou jurídico.

Jurisprudência — No sentido aqui empregado, refere-se ao conjunto das decisões tomadas


por um órgão judicial, como um tribunal, em um intervalo de tempo, por meio das quais é
assentada a interpretação do direito.

Objetividade — Qualidade de uma avaliação ou conclusão feita segundo critérios objetivos,


isto é, desvinculada de fatores subjetivos do indivíduo, como vieses pessoais, envolvimento
emocional e preferências políticas, por exemplo.

Polis — Em vez de se vincularem a um governo central, as cidades estabelecidas na Grécia


antiga eram unidades políticas autônomas e independentes, sendo por isso chamadas
de cidades-Estado (polis). Nelas, foram realizadas algumas das primeiras experiências de
autogoverno da história, com destaque para a famosa democracia da cidade-estado de
Atenas, que, apesar do nome, era bem diferente da democracia moderna. Mulheres, escravos
e estrangeiros ficavam de fora, e alguns cargos eram escolhidos por sorteio! No mundo
contemporâneo, Mônaco e Cingapura são verdadeiras e proeminentes cidades-estado.

Recurso extraordinário — É o nome do recurso, no direito brasileiro, que leva para o


Supremo Tribunal Federal o exame de qualquer caso, do qual não caiba outro recurso para
qualquer órgão do Poder Judiciário, quando exista uma questão constitucional relevante a
ser resolvida.

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19 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

República Romana — Período da antiga civilização romana que sucedeu a Monarquia e


antecedeu o Império. Instituições políticas então desenvolvidas, como o Plebiscito, o Senado
e a Assembleia Legislativa, diferentes formas de participação política, continuam presentes
na política e no direito das democracias contemporâneas, apesar de terem passado por
profundas transformações. A esse período da civilização romana também se deve o
amadurecimento do conceito de cidadania.

Revolução Americana — Cadeia de eventos que tem início com a insurgência dos habitantes
de treze colônias britânicas na América do Norte contra a autoridade do Parlamento Britânico
e cuja consequência foi a fundação dos Estados Unidos da América, com a adoção, em 4 de
julho de 1776, da Declaração de Independência. Deu origem, assim, ao que é apontada como
a primeira grande experiência de democracia moderna.

Revolução Francesa — Série de eventos que, nas ultimas décadas do século XVIII, levou, na
França, ao fim da Monarquia Absolutista, à adoção da Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão e ao estabelecimento de uma república, entre outros desdobramentos
internos e externos. Influenciou movimentos revolucionários subsequentes pela Europa
e pelo mundo, desencadeando transformações sociais e políticas radicais, inspiradas nas
ideias de liberdade, igualdade e fraternidade.

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20 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

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