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UNIV ERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ALEX COELHO

O FORNECIM ENTO DE PRODUTOS E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


SEM O CONSENTIM ENTO DO CONSUMIDOR

Florianópolis
2020
1

ALEX COELHO

O FORNECIM ENTO DE PRODUTOS E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


SEM O CONSENTIM ENTO DO CONSUMIDOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito, da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito.
.

Orientador (a): Prof. Hernani L. Sobierajski, Esp.

Florianópolis
2020
2

ALEX COELHO

O FORNECIM ENTO DE PRODUTOS E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


SEM O CONSENTIM ENTO DO CONSUMIDOR

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Graduação em Direito, da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 20 de novembro de 2020.

______________________________________________________
Professor e orientador Nome do Professor, titulação
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, titulação
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, titulação
Universidade do Sul de Santa Catarina
3

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

O FORNECIM ENTO DE PRODUTOS E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


SEM O CONSENTIM ENTO DO CONSUMIDOR

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste
Trabalho de Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente
em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 20 de novembro de 2020.

____________________________________
ALEX COELHO
4

Dedico aos meus pais e aos meus filhos.


5

RESUMO

A proteção do elemento consumidor, cujo amparo está em boa parte definido pela
Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor - CDC),
é assinalada pelo princípio da vulnerabilidade, pilar que precisa permear qualquer
estudo frente a uma relação de consumo, tendo respaldo legal no artigo 4º, inciso I
da referida norma legislativa. O objetivo deste trabalho é analisar as práticas
abusivas consumeristas, mormente o fornecimento de produtos e a prestação de
serviços sem o consentimento do consumidor. Além disso, esta pesquisa se ocupará
em descrever o conceito o direito do consumidor e das relações de consumo, além
de suas práticas consumeristas. Metodologicamente, a pesquisa tem por base a
aplicação do método dedutivo, com natureza qualitativa, tendo como método de
procedimento o monográfico, e a técnica de pesquisa, a bibliográfica. Concluiu-se
que, a relação de consumo pode ser descrita como sendo a relação que o direito do
consumidor estabelece entre o consumidor e o fornecedor, conferindo ao primeiro
um poder e ao segundo um vínculo correspondente, tendo como objeto um produto
ou serviço. As práticas abusivas são aquelas ações ou condutas que, se existentes,
se caracterizam como ilícitas. O fornecimento de produtos sem o consentimento do
consumidor, torna-o amostra grátis; e, a prestação de serviço sem o consentimento
do consumidor, não poderá ser cobrada.

Palavras chave: Direito do consumidor. Relação de consumo. Prática abusiva


consumerista. Fornecimento de produtos. Prestações de serviço.
6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7
2 NOÇÕES GERAIS DE DIREITO DO CONSUMIDOR...................................... 10
2.1 DIREITO DO CONSUMIDOR E O CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR .................................................................................................... 10
2.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR ............................................... 14
2.2.1 Princípio da dignidade......................................................................................... 14
2.2.2 Proteção à vida, saúde e segurança.................................................................. 15
2.2.3 Proteção, necessidade e autocontrole ............................................................... 16
2.2.4 Princípio da informação, transparência e da confiança .................................... 17
2.2.5 Princípio da Harmonização, Equidade ou Equilíbrio ......................................... 19
2.2.6 Princípio da vulnerabilidade................................................................................ 20
2.2.7 Princípio da boa-fé objetiva ................................................................................ 21
3 RELAÇÃO DE CONSUMO ................................................................................ 25
3.1 CONCEITO DE RELA ÇÃO DE CONSUMO ...................................................... 25
3.2 CONCEITO DE CONSUMIDOR......................................................................... 27
3.3 CONCEITO DE FORNECEDOR ........................................................................ 33
3.4 CONCEITO DE PRODUTO E DE SERVIÇO .................................................... 34
4 PRÁTICAS ABUSIVAS CONSUM ERISTAS .................................................... 37
4.1 ESPÉCIES DE PRÁTICAS ABUSIVAS ............................................................. 37
4.2 CONTRATOS CONSUMERISTAS .................................................................... 39
4.3 DO ENVIO AO CONSUMIDOR DE QUALQUER PRODUTO OU
SERVIÇO SEM A PREVIA SOLICITAÇÃO POR PARTE DO
CONSUMIDOR .................................................................................................... 45
5 CONCLUSÃO...................................................................................................... 57
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 59
7

1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea consumerista possui estruturas muito bem


definidas para incrementar a lógica do sistema global capitalista, que são: produzir
em larga escala e consumir sem limites. No caminho desde produzir
exponencialmente até o consumo final, existe uma logística marcada por difundir
informações massivas através de ferramentas publicitárias, pelo avanço tecnológico,
pelo estímulo em se obter sempre mais produtos novos e, em técnicas que
diminuem a durabilidade dos bens.
Nesse contexto, a relação de consumo caracteriza-se pelo vínculo jurídico
entre consumidor e fornecedor por meio do produto (objeto da relação), sofrendo
enorme impacto e ocasionando um problema social de significativa importância a ser
examinado. A proteção do elemento consumidor, cujo amparo está em boa parte
definido pela Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do
Consumidor - CDC), é assinalada pelo princípio da vulnerabilidade, pilar que precisa
permear qualquer estudo frente a uma relação de consumo, tendo respaldo legal no
artigo 4º, inciso I do Código de Defesa do Consumidor. A Lei nº. 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil) consagra em seu artigo 187 restrições ao exercício do
direito, caracterizando como abusiva a prática de um direito que exceda
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou bons costumes.
As relações de consumo têm sua origem diretamente associada às
transações de natureza comercial e ao comércio propriamente dito. Neste, as
relações de consumo sofreram, ao longo do tempo, um processo de aprimoramento
e de desenvolvimento, até chegar à forma hodierna, sendo adequadamente
regulamentada pelo Código de Defesa do Consumidor, que passou a tutelar essa
relação, revestindo-a de caráter público, para resguardar os interesses da
coletividade. Usualmente, as relações de consumo nascem com um negócio jurídico
entre dois ou mais indivíduos, fruto de princípios contratuais básicos. Para existir
uma relação de consumo são indispensáveis dois agentes fundamentais, que são
consumidor e fornecedor.
No processo de captar a curiosidade do consumidor, com finalidade
precípua de gerar o desejo de consumo e a efetiva contratação para tal, o
fornecedor aplica uma infinita capacidade de criação. Indubitavelmente, ao exercitar
8

a liberdade de iniciativa, a publicidade e toda prática comercial no tocante a otimizar


as vendas são fruto da liberdade geral de ação. Contudo, neste exercício de direito e
prática comercial, não pode o fornecedor incorrer em abuso; pois o abuso de direito
o Código Civil considera ato ilícito. Práticas abusivas são comportamentos desleais
efetivados por fornecedores e prestadores de serviço, violando o CDC, lesionando
efetivamente consumidores finais.
Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a prática abusiva fornecimento de
produtos e a prestação de serviços sem o consentimento do consumidor, além
disso, esta pesquisa se ocupará em descrever o conceito de direito do consumidor e
das relações de consumo, juntamente às práticas consumeristas.
A motivação da presente pesquisa se deve ao conhecimento da existência
dessa prática abusiva ocorrer de forma sistemática e recorrente nas relações de
consumo, causando transtornos aos consumidores, visto a quantidade de casos no
judiciário brasileiro. A respeito da colaboração, a pesquisa terá o intuito de dar
ciência ao consumidor sobre seus direitos, expor a posição de vulnerabilidade a que
estão sujeitos na relação de consumo e mostrar-lhes que princípios (dignidade, boa-
fé) estão sendo ofendidos quando dessas práticas abusivas.
Metodologicamente, a pesquisa tem por base a aplicação do método
dedutivo, com natureza qualitativa, uma vez que a análise da matéria objeto deste
estudo partirá do geral para o específico, ou seja, haverá o estudo da legislação,
doutrina e jurisprudência, para que assim seja possível verificar a aplicação deste
estudo nos casos específicos, isto é, o estudo do direito do consumidor visando as
práticas abusivas presentes nas relações de consumo. O método de procedimento
será o monográfico, e a técnica de pesquisa, a bibliográfica, com amparo na Lei n.
8.078/1990, na doutrina e jurisprudência.
O presente trabalho se divide em cinco capítulos.
Neste primeiro, apresenta-se uma introdução ao tema, objetivos, justificativa e
a metodologia aplicada ao trabalho.
No segundo capítulo, descreve-se algumas noções gerais de direito do
consumidor e os princípios do direito do consumidor.
No terceiro, apresenta-se considerações sobre a relação de consumo,
consumidor, fornecedor, produto e de serviço.
Já no quarto, discorre-se ponderações sobre as práticas abusivas e contratos
consumeristas e sobre a temática principal do estudo que é o envio de produto ou a
9

prestação de serviços sem a prévia solicitação por parte do consumidor.


Por último, apresenta-se as considerações finais sobre o tema do trabalho.
10

2 NOÇÕES GERAIS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

Neste primeiro capítulo descreve-se algumas noções gerais de direito do


consumidor e os princípios do direito do consumidor.

2.1 DIREITO DO CONSUMIDOR E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor se encontra presente em toda relação


que se caracterize como de consumo. Para existir uma relação de consumo é
preciso que se identifique de um lado o consumidor, e de outro, o fornecedor e, entre
eles, relação de serviços ou produtos. Assim sendo, a relação de consumo se torna
um vínculo jurídico (ALVES, 2018).
Conforme explica Amaral (2010, p. 92), a relação jurídica se entende por:
“Um vínculo, que o direito reconhece entre pessoas ou grupos, atribuindo-lhes
poderes e deveres. Representa uma situação em que duas ou mais pessoas se
encontram, a respeito de bens ou interesses jurídicos”. Giancoli (2010, p. 29) define
relação jurídica de consumo como sendo “todo relacionamento social disciplinado
pelo Direito, ou seja, por uma fonte normativa”.
O CDC não aponta a concepção de relação de consumo, dispondo somente
seus elementos objetivos e subjetivos. O elemento subjetivo se entende por: “o
credor, o devedor e o consensualis mo que deve existir entre eles como uma
convergência de vontades para que o acordo seja pactuado sem vícios e sem
prejuízo de igualdade entre os sujeitos envolvidos” (ALVES, 2018, p. 14). O
elemento objetivo pode ser descrito como sendo “o negócio celebrado entre as
partes, como um instrumento para a concretização e formalização do vínculo
jurídico, e o bem, seja móvel, imóvel, corpóreo ou incorpóreo, objeto mediato da
relação jurídica” (ALVES, 2018, p. 14).
Para Donato (1993, p. 70), a relação de consumo pode ser descrita como: “A
relação que o direito do consumidor estabelece entre o consumidor e o fornecedor,
conferindo ao primeiro um poder e ao segundo um vínculo correspondente, tendo
como objeto um produto ou serviço”.
Em suma, para que a relação jurídica possa se caracterizar como de
consumo “é preciso que tenha a presença dos elementos subjetivos e pelo menos
um elemento objetivo. Na falta de um desses elementos, não caracterizará uma
11

relação de consumo, afastando a aplicação do Código de Defesa do Consumidor”


(ALVES, 2018, p. 15).
O estudo de princípios utilizados pelo CDC é uma das fontes para se
compreender o sistema aceito pela Lei Consumerista como sendo uma norma
protetiva do consumidor. A Lei nº. 8078/90 adota um sistema protetivo aberto, com
base em concepções legais indefinidas e construções vagas, possibilitando adequar-
se os preceitos às circunstâncias do caso concreto (COSTA, 2014).
Nesse sentido, Nunes (2009, p. 10) leciona que princípios “são linhas
mestras, os grandes nortes, as diretrizes magnas do sistema jurídico. Apontam os
rumos a serem seguidos por toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos
órgãos do governo (poderes constituídos)”. Para Amorim e Tartuce (2013, p. 38):

[...] é interessante fazer a devida confrontação princiológica entre o


CDC e o Código Civil, até porque muitos dos conceitos que constam
da codificação privada de 2002 encontram suas raízes na Lei
8.078/1990. Certo é que, diante de diferenças principiológicas
históricas e políticas, o Código de Defesa do Consumidor
encontrava-se muito distante do Código Civil de 1916, realidade essa
alterada a partir da vigência do Código Civil de 2002.

O CDC se materializa em uma lei principiológica, melhor dizendo, institui


princípios básicos para fundamentar sua interpretação. É uma lei de proteção que
promove a defesa dos consumidores, de ordem pública e interesse social, tendo
respaldo na Carta Magna, de modo intervencionista que estipula normativas
diretamente no mercado consumerista. Nesse sentido, Cavalieri Filho (2014, p. 16)
leciona que, “o Código de Defesa do Consumidor é uma lei principiológica, que se
destina a efetivar, no plano infraconstitucional, os princípios constitucionais de
proteção e defesa dos consumidores”.
O direito à informação pode ser entendido como “[...] um dever exigido
mesmo antes do início de qualquer relação. A informação passou a ser componente
necessário do produto e do serviço, que não podem ser oferecidos no mercado sem
ela” (NUNES, 2016, p. 183).
Nesse caminho, este direito encontra respaldo no art. 4º, inciso IV do CDC:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
12

como a transparência e harmonia das relações de consumo,


atendidos os seguintes princípios:
[...]
IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto
aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de
consumo; (BRASIL, 1990).

A informação tem previsão no CDC como um direito básico do consumidor.


Assim, dispõe o artigo 6º, III do CDC, que os produtos e serviços devem conter
informação “adequada e clara”:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


[...]
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem; [...]. (BRASIL, 1990).

Existe na relação de consumo o dever de o fornecedor informar, melhor


dizendo, apresentar informações bem claras sobre os produtos ou serviços que
oferta, sendo um direito basilar da lei nº 8.078/90, que juntamente com o direito a
transparência, aponta um novo formato a produtos/serviços oferecidos no mercado
(COSTA, 2014).
Segundo Nunes (2009, p. 136):

Com efeito, na sistemática implantada pelo CDC, o fornecedor está


obrigado a prestar todas as informações acerca do produto e do
serviço, suas características, qualidades, riscos, preços, etc., de
maneira clara e precisa não se admitindo falhas ou omissões. Trata-
se de um dever exigido mesmo antes do início de qualquer relação.
A informação passou a ser componente necessária do produto e do
serviço, que não podem ser oferecidos no mercado sem ela.

Amorim e Tartuce (2013, p. 57) aduzem que:

[...] a equivalência negocial, é garantida a igualdade de condições no


momento da contratação ou de aperfeiçoamento da relação jurídica
patrimonial. De acordo com a norma do inciso II, art. 6º, do CDC, fica
estabelecido o compromisso de tratamento igual a todos os
consumidores, consagrada a igualdade nas contratações.

Marques, Benjamin e Miragem (2006, p. 148) asseveram que “a vontade das


partes manifestada livremente no contrato não é mais o fator decisivo para o direito,
13

pois as normas do Código instituem novos valores superiores, como o equilíbrio e a


boa-fé nas relações de consumo”.
Almeida (2019, p. 274) leciona que é exatamente o pressuposto da
vulnerabilidade que sustenta “a necessidade de equilíbrio na situação fática,
incidindo este princípio, portanto, sobre as consequências patrimoniais das relações
de consumo em geral para o consumidor, protegendo o equilíbrio econômico das
prestações do contrato de consumo”.
Este direito visa a enaltecer a vontade de ambos os contratantes, para se
efetivar de forma justa e adequada, respeitando a boa-fé frente uma relação
equilibrada, de maneira a satisfazer os sujeitos envolvidos.
Para estabelecimento de instrumentos no intuito de coibir práticas abusivas
no mercado de consumo, a Política Nacional das Relações de Consumo, estabelece
no artigo 4º, VI do CDC, o seguinte:

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no


mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização
indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes
comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos
consumidores; (BRASIL, 1990).

O artigo 6º, V do CDC, estabelece como direito básico do consumidor: “VI - a


efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos” (BRASIL, 1990).
Percebe-se nestes artigos supracitados a precaução frente às práticas
abusivas em detrimento aos direitos dos consumidores, como por exemplo, a
concorrência desleal e uso indevido da propriedade industrial (NETO, 2018). Neto
(2018, s.p.) afirma que:

Igualmente, a coibição efetiva e repreensiva destas práticas tem


caráter punitivo e desencoraja futuros atos abusivos. Pode-se
destacar a atuação do CADE - Conselho Administrativo de Defesa
Econômica, na tutela econômica e o INPI – Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, no âmbito do registro de marcas, patentes e
afins.

Miragem (2016, p. 152) leciona que:

[...] a efetividade incide também sobre os processos de tomada de


decisão de todas as autoridades (judiciais ou administrativas) que se
14

ocupam da aplicação das normas do CDC, determinando-lhes,


dentre as diversas possibilidades de ação ou decisão, a opção
necessária por aquela que proteja de modo mais efetivo o direito dos
consumidores, o que resulta, em última análise, do dever de oferecer
máxima efetividade ao direito fundamental de defesa do consumidor.

Com base em Amaral (2010, p. 80), impõe-se ao Estado “a tarefa de estudar


as modificações e tendências do mercado, observando a forma mais correta de o
consumidor aplicar seu dinheiro em produtos de qualidade, os quais necessite e não
os induzindo a consumir produtos desnecessários”. É preciso analisar o mercado a
partir da lógica do consumidor e fornecedor, visando a “uma economia mais
saudável e mais sustentável” (AMARAL, 2010, p. 80), para ocorrer uma justa relação
de consumo.
Para Nery Jr. (2000, p. 432), em razão da permanente evolução social, “o
estudo constante das modificações ocorridas no mercado de consumo evita que as
normas instituídas regrem as relações de consumo se tornem ultrapassadas e sem
eficácia”; trazendo ao mercado de consumo “uma relação equânime, garantindo ao
consumidor segurança e garantia também às vias comerciais na internet” (NERY
JUNIOR, 2000, p. 432).

2.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR

A seguir descrevem-se alguns apontamentos acerca dos princípios do direito


do consumidor.

2.2.1 Princípio da Dignidade

Defender os direitos do consumidor é defender a dignidade da pessoa


humana. Se dif ícil conceituá-la, fácil perceber quando violada. É um princípio
fundamental expresso na Constituição Federal de 1988 como um dos fundamentos
da República:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana; (BRASIL,1988).
15

Deve a dignidade ser protegida em todos os âmbitos, inclusive

[...] no que tange às relações de consumo. Ao surgir, por exemplo,


um conflito entre princípios do direito do consumidor, deve prevalecer
aquele que melhor satisfizer o princípio fundamental da dignidade
humana, isto é, tamanha é a importância deste princípio, que deve
ser usado como orientador da aplicação dos demais (THEODORO
JUNIOR, 2017, p. 38).

Nunes (2009, p. 127) leciona que: “A dignidade garantida no caput do art. 4


da lei nº 8.078/90 está, assim, ligada diretamente àquela maior estampada no texto
constitucional”. Logo, é uma garantia basilar que clarifica todos os princípios e
normas, assim a ela deve respeito todos os princípios e normas (COSTA, 2014).
A proteção à vida, a saúde e segurança do consumidor estão diretamente
ligadas ao princípio constitucional da dignidade, inerente a todo ser humano, desde
o seu nascimento. Assim, o CDC, em seu art. 4º, caput:

Art.4º. caput. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo [...].
(BRASIL, 1990).

Este princípio objetiva assegurar a qualidade de vida e saúde do consumidor,


se preocupando não só com o bem-estar material, advindo da aquisição de produto
ou serviço considerados nocivos, como moral e até mesmo psicológico do
consumidor (SILVA, 2016).

2.2.2 Proteção à Vida, Saúde e Segurança

Segundo Nunes (2009, p. 127): “O CDC repete o princípio no art. 4º, caput,
para assegurar expressamente a sadia qualidade de vida com saúde do consumidor
e sua segurança, no inciso I do art. 6º”. Assim, o expresso no caput do artigo 4º
assegura as condições morais e materiais para o consumidor (COSTA, 2014).
Este é um básico e relevante direito do consumidor, pois todas as pessoas
estão sujeitas a riscos quando adquirem serviços, produtos e às mais diversas
16

práticas comerciais que oferecem riscos. Neste sentido, Benjamin, Marques e Bessa
(2014, p. 74), lecionam que:

Este direito básico de segurança é um fundamento único ou fonte


única do dever de segurança ou de cuidado dos fornecedores
quando colocam produtos e serviços no mercado brasileiro. É por
isso que afirmamos a seguir que o CDC quebra a summa divisia
entre responsabilidade contratual e extracontratual, pois agora o
importante é a segurança das vítimas consumidoras que deve ser
assegurada por toda a cadeia de fornecedores, sejam eles
contratantes diretos (responsabilidade contratual) ou não (por
exemplo, fabricantes) com os consumidores.

Almeida (2015, p. 69), descrevem em seu Manual de Direito do Consumidor:

O CDC contém normas que garantem a proteção à saúde e


segurança dos consumidores, garantindo que “os produtos e serviços
colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde
ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e
previsíveis (art.8º), ao mesmo tempo em que estabelece a
responsabilidade objetiva do fornecedor (fabricante, produtor,
construtor e importador) pela reparação dos danos causados (art.12).
Há, assim correlativamente, a enunciação do direito de “proteção da
vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos” (art.6º, I).

Assim, cria-se a obrigatoriedade do fornecedor de disponibilizar no mercado


de consumo, “produtos e serviços totalmente seguros ao consumidor, ou quando
inerente a sua natureza ou fruição, fornecer informações adequadas e necessárias a
seu respeito, conforme o art. 8, caput, do estatuto consumerista” (SILVA, 2016, p.
23). Através deste direito, assegura-se a integridade f ísica do consumidor que ao
utilizar um produto ou serviço não tem a possibilidade de ter conhecimento de sua
procedência e segurança.

2.2.3 Proteção, Necessidade e Autocontrole

O artigo 1º, do CDC estabelece caráter protecionista e de interesse social.


Segundo Nunes (2009, p. 128): “Uma das questões básicas que justifica a existência
da lei, indo até a intervenção do Estado no domínio econômico, é a necessidade de
proteção do consumidor em relação à aquisição de certos produtos e serviços”.
17

Este princípio ampara as necessidades do consumidor, estando em


conformidade com o princípio maior básico que lhe dá suporte a liberdade de agir e
escolher, contido no texto constitucional (artigo 1º, III, artigo 3º, I, artigo 5º, caput,
entre outros) (COSTA, 2014); além de incentivar os fornecedores no sentido de
evitar e solucionar problemas, que podem surgir, por meio de mecanismos criados e
custeados pelos próprios fornecedores (serviços de atendimento ao consumidor;
controle mais rigoroso na qualidade e segurança dos produtos, etc.).

Apesar de o Estado interpor-se como mediador nas relações de


consumo, procurando evitar e solucionar os conflitos de consumo,
não deve, por outro lado, deixar de incentivar que tais providencias
sejam tomadas pelos próprios fornecedores, mediante a utilização de
mecanismos alternativos por eles próprios criados e custeados. Essa
é a solução ideal e significa modernização das relações de consumo.
De três maneiras pode dar-se o autocontrole. Em primeiro lugar, pelo
eficiente controle de qualidade e segurança de produtos defeituosos
no mercado, o que refletirá na diminuição ou eliminação de atritos
com o consumidor. Em segundo lugar, pela pratica do recall, ou seja,
a convocação dos consumidores de bens produzidos em série e que
contenham defeitos de fabricação que possam atentar contra a vida
e segurança dos usuários, arcando o fornecedor com as despesas
de substituição das peças defeituosos. Há um reconhecimento de
defeito, mas ao mesmo tempo ele é sanado pelo próprio fabricante,
sem prejuízo ou custo para o consumidor [...] E, em terceiro lugar,
pela criação, pelas empresas, de centros ou serviços de atendimento
ao consumidor, resolvendo o fornecedor, diretamente, a reclamação
ou queixa apresentada contra seu produto ou serviço (ALMEIDA,
2015, p. 36-37).

Destaca-se que este Princípio visa dar facilidades no relacionamento entre


os sujeitos das relações de consumo, tendo por consequência positiva para os
fornecedores uma maior valorização e marketing para seus produtos e serviços
(SILVA, 2016).

2.2.4 Princípio da Informação, Transparência e da Confiança

Na prática, o princípio da transparência ou da confiança deriva da


necessidade do equilíbrio na relação entre consumidor/fornecedor, pois o primeiro é
a ponta vulnerável na relação. Portanto, o caput do artigo 4º do CDC traduz-se na
obrigação do fornecedor em dar ao consumidor a oportunidade de conhecer os
18

produtos e serviços ofertados e, além disso, gerar do contrato a obrigatoriedade de


proporcionar a este o conhecimento prévio de seu conteúdo (NUNES, 2009).
Os princípios informacionais têm previsão nos artigos 4º, IV e 6º, II (do
CDC), “desde o incentivo a educação do consumidor quanto aos seus direitos e
deveres perpassando pela conscientização das partes da relação de consumo até a
lisura do mercado de consumo” (NETO, 2018). Logo, a educação em sua função
formal (escola) e informal ( mercado consumidor), deve tornar o consumidor “mais
consciente no mercado de consumo, acarretando, consequentemente, uma
sociedade mais justa e equilibrada” (GARCIA, 2017, p. 68).
Uma sociedade bem educada é muito mais informada sobre seus direitos e
deveres, levando a menor número de conflitos nas relações de consumo. Entretanto,
a informação precisa ser “capaz de fazer o consumidor entender, de maneira clara e
transparente, tudo aquilo que está relacionado ao negócio” (ALCANTARA, 2017, p.
125). Segundo Neto (2018, s.p.):

[...] a densidade e rapidez do fluxo informativo da sociedade


contemporânea trazem consigo a necessidade de estabelecer um
maior grau de instrução das partes envolvidas, quais sejam,
consumidor e fornecedor e, de uma nitidez com relação ao mercado
de consumo.

Do CDC emana a finalidade de regulamentar o poder de economia, visando


uma maior visibilidade. Silva (2012, p. 271) leciona que:

Preconiza a forma como a informação deve ser prestada ao


consumidor no ato da contratação (qualificação da informação), a
qual deve ser clara, ostensiva, precisa e correta, visando a sanar
quaisquer dúvidas no ato da contratação e garantir o equilíbrio
contratual entre as partes contratantes.

Nesse mesmo caminho, Marques (2006, p. 715) assevera que a


transparência impõe a “qualificação da informação sobre aspectos relevantes
durante as tratativas (fase pré-contratual) e, por conseguinte, no ato da contratação,
sob pena de haver violação do princípio da transparência, por descumprimentos aos
preceitos deste princípio”.
Este princípio atua como um reflexo da boa-fé exigida aos agentes
contratuais. Logo, “o dever de agir com transparência significa qualificar a
19

informação fornecida de forma ampla ao consumidor, prezando-se pela clareza,


lealdade, sinceridade e respeito” (MARQUES, 2006, p. 57).
Braga Netto (2011, p. 49) aponta “conduta transparente é conduta não
ardilosa, conduta que não se esconde atrás do aparente, propósitos pouco
louváveis”. Deste modo, o fornecedor deve anunciar seus produtos/serviços
baseado em elementos verdadeiros, mostrando para os consumidores serem eles
realmente tão qualificados quanto divulgado através de campanha publicitária.

2.2.5 Princípio da Harmonização, Equidade ou Equilíbrio

É outro princípio inserto no caput do artigo 4º, objetivando a devida


harmonização dos interesses e o equilíbrio das partes nas relações de consumo.
Decorre dos princípios constitucionais da isonomia, da solidariedade e dos princípios
gerais da atividade econômica (COSTA, 2014).
O princípio da harmonia das relações de consumo está expresso no artigo
4º, III do CDC, ao assentar que uma relação entre consumidor/fornecedor precisa ter
equilíbrio. A harmonia das relações “deve ser considerada em conjunto com a boa-fé
para efeito de obtenção de maior Justiça no mercado de consumo” (MIRAGEM,
2016, p. 153). Para Garcia (2017, p. 59):

[...] o objetivo é defender o consumidor, de modo a garantir que a sua


proteção não quebre a harmonia das relações de consumo para que,
de forma efetiva, contribua com o desenvolvimento econômico e
tecnológico, viabilizando inclusive a concretização dos princípios
constitucionais da ordem econômica, previstos no art. 170 da CF.

Este princípio estabelece que é preciso existir um equilíbrio nas relações


decorrentes do consumo, tendo respeito aos direitos e deveres de ambos os
sujeitos, fornecedores e consumidores. “Busca-se a justiça contratual, o preço justo.
Por isso, são vedadas as cláusulas abusivas, bem como aquelas que proporcionam
vantagem exagerada para o fornecedor ou onerem excessivamente o consumidor”
(ALMEIDA, 2015, p.73-74).
O princípio da equidade, juntamente com outros princípios, como o da boa-
fé, “estão relacionados com os contratos, razão pelo qual, este deve sempre versar
sobre prestações e contraprestações justas, satisfazendo ambas as partes” (SILVA,
2016, p. 30).
20

2.2.6 Princípio da V\ulnerabilidade

Como já visto no estudo do princípio da transparência, o consumidor é


considerado a parte mais vulnerável. Tal conceito está expresso no inciso I, do artigo
4º, da Lei 8078/90 e decorre de duas situações: uma de ordem técnica e outra de
cunho econômico (NUNES, 2009). A vulnerabilidade de caráter técnico tem ligação
direta ao conhecimento: o fornecedor monopoliza o meio de produção. Já o segundo
(o econômico) se caracteriza, geralmente, na relação de consumo, na maioria das
vezes o fornecedor possui maior capacidade econômica frente ao consumidor,
raramente o contrário.
Destaca-se que certos autores, como Souza (2014, p. 644), entendem que a
vulnerabilidade “é requisito obrigatório para caracterização do consumidor, que,
além de técnica e/ou econômica, poderá de igual modo ser também jurídica”. Para
Almeida (2015, p. 35), este princípio:

É a espinha dorsal da proteção ao consumidor, sobre qual se


assenta toda a linha filosófica do movimento. É induvidoso que o
consumidor é a parte mais fraca das relações de consumo;
apresenta ele sinais de fragilidade e impotência diante do poder
econômico.

De outro entendimento, o consumidor se apresenta como o elo mais fraco na


relação de consumo devido sua exposição direta ou indireta às exigências do
mercado. Para tanto, o CDC “tem por finalidade, ao proteger o consumidor,
promover o equilíbrio contratual, buscando soluções justas e harmônicas” (GA RCIA,
2017, p. 57).
Amaral (2010, p. 26) vê o princípio da vulnerabilidade como um
superprincípio, permeando todo o texto do CDC, donde “[...] o reconhecimento dessa
Vulnerabilidade é o pressuposto básico de todo o sistema de defesa do consumidor
brasileiro”.
A vulnerabilidade do consumidor nasce na sua hipossuficiência. A
necessidade de o consumidor ser protegido é consequência de fazer parte de uma
grande massa vulnerável, sendo visto como “[...] a parte fraca da relação jurídica de
consumo” (NUNES, 2016, p. 176).
Almeida (2019, p. 249-250) corrobora esse raciocínio ao afirmar que:
21

[…] o consumidor é considerado a parte mais frágil da relação


jurídica de consumo [...] Com a constatação de que a relação de
consumo é extremamente desigual, imprescindível foi buscar
instrumentos jurídicos para tentar reequilibrar os negócios firmados
entre consumidor e fornecedor, sendo o reconhecimento da
presunção de vulnerabilidade do consumidor o princípio norteador da
igualdade material entre os sujeitos do mercado de consumo.

Conforme Miragem (2016, p. 128) “a existência do direito do consumidor


justifica-se pelo reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor. É esta
vulnerabilidade que determina ao direito, que se ocupe da proteção do consumidor”.
Segundo Alcântara (2017, p. 123):

A expressão vulnerabilidade deve ser vista em sentido amplo, pois o


consumidor não sabe como o produto é produzido ou como o serviço
será prestado, não detém nem conhece os instrumentos jurídicos
condizentes com a relação firmada com o fornecedor e,
normalmente, tem uma condição financeira muito aquém da condição
do fornecedor.

Destaca-se que a vulnerabilidade independe de condição pessoal, social,


financeira, etc., basta a condição de consumidor. Miragem (2016, p. 128) leciona
que:
A vulnerabilidade do consumidor constitui presunção legal absoluta,
que informa se as normas do direito do consumidor devem ser
aplicadas e como devem ser aplicadas. Há na sociedade atual o
desequilibro entre dois agentes econômicos, consumidor e
fornecedor, nas relações jurídicas que estabelecem entres si. O
reconhecimento desta situação pelo direito é que fundamenta a
existência de regras especiais, uma lei ratione personae de proteção
do sujeito mais fraco da relação de consumo.

Ressalta-se ser necessário distinguir vulnerabilidade de hipossuficiência. A


primeira corresponde a uma concepção jurídica enquanto a segunda a uma
concepção fática. Logo, “todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é
hipossuficiente” (TARTUCE; NEV ES, 2017, p. 34).

2.2.7 Princípio da Boa-Fé Objetiva

Para Nunes (2009, p. 131-132), o princípio da boa-fé objetiva “não serve


somente para a defesa do débil, mas sim como fundamento para orientar a
interpretação garantidora da ordem econômica, que, como vimos, tem na harmonia
22

dos princípios constitucionais do artigo 170 da CF sua razão de ser”. Costa (2014, p.
32) aduz que:

[...] qualquer situação jurídica estabelecida para ser validamente


legítima, em consonância com o sistema jurídico, precisa poder ser
submetida à verificação da boa-fé objetiva, de modo que todas as
partes envolvidas devem-na respeitar. A boa fé é uma espécie de
pré-condição de relação justa. E exige das partes que obrem com
probidade, pautadas por honestidade e lealdade, para que alcancem
as suas expectativas legítimas.

O princípio da boa-fé é visto por Garcia (2008, p. 41) como:


[...] um conjunto de padrões éticos de comportamento, aferíveis
objetivamente, que devem ser seguidos pelas partes contratantes em
todas as fases da existência da relação contratual, desde a sua
criação, durante o período de cumprimento e, até mesmo, após a sua
extinção.

Para Amorim e Tartuce (2013, p. 45) o princípio da boa fé se apresenta


como:
Regramento vital do Código de Defesa do Consumidor,
representando seu coração, é o princípio da boa-fé objetiva,
constante da longa redação do seu art. 4º, inciso III. Enuncia tal
comando que constitui um dos princípios da Política Nacional das
Relações de Consumo a “harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais
se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores”. Nesse contexto, nas relações
negociais consumeristas deve estar presente o justo equilíbrio, em
uma correta harmonia entre as partes, em todos os momentos
relacionados com a prestação e o fornecimento.

O princípio da boa-fé aponta para um dos pilares do Direito do Consumidor,


expresso no CDC no artigo 4º, III e artigo 51, IV. Este princípio exige que “as partes
da relação de consumo atuem com estrita boa-fé́, a dizer, com sinceridade,
seriedade, veracidade, legalidade e transparência, sem objetivos mal disfarçados de
esperteza, lucro fácil e imposição de prejuízo ao outro” (ALMEIDA, 2015, p. 73).
Segundo Neto (2018, s.p.): “No Direito do Consumidor, a boa-fé objetiva norteia a
relação de consumo determinando uma cooperação entre as partes com a finalidade
de alcançar o equilíbrio contratual”.
23

Rosenvald (2005, p. 80), por sua vez, trata da boa-fé objetiva no seguinte
sentido:
O princípio da boa-fé objetiva constitui-se em regra de conduta, de
comportamento ético, social imposta às partes, pautada nos ideais
de honestidade, retidão e lealdade, no intuito de não frustrar a
legítima confiança, expectativa da outra parte, tendo, ainda, a
finalidade de estabelecer o equilíbrio nas relações jurídicas.

Nunes (2017, p. 108) assevera claramente que a boa-fé objetiva é aquela


presente no CDC, podendo ser definida como sendo “uma regra de conduta, isto é,
o dever das partes de agir conforme certos parâmetros de honestidade e lealdade, a
fim de se estabelecer o equilíbrio nas relações de consumo”. No âmbito
consumerista, Marques, Benjamin e Miragem (2014, p. 124-125) entendem que a
boa-fé objetiva possui três funções básicas:

Função criadora: servir como fonte de novos deveres especiais de


conduta durante o vínculo contratual, os denominados deveres
anexos, que se dividem em informação, cooperação e proteção. Isto
é, o fornecedor deve dar a máxima informação possível sobre os
dados e riscos do produto ou serviço (dever anexo de informação); O
fornecedor deverá, também, cooperar na relação para alcançar as
expectativas do consumidor (dever anexo de cooperação); e o dever
anexo de proteção que impõe ao fornecedor uma conduta de
preservar a integridade pessoal e patrimonial do consumidor.
Função limitadora: constituir uma causa limitadora do exercício,
antes lícito, hoje abusivo, dos direitos subjetivos.
Função interpretativa: ser utilizada como concreção e interpretação
dos contratos.

Estes mesmos autores lecionam que:

[...] boa-fé é cooperação e respeito, é conduta esperada e leal,


tutelada em todas as relações sociais. Dessa forma, por esse
princípio, exige-se no contrato de consumo o máximo de respeito e
colaboração entre as partes, devendo aquele que atua com má-fé ser
penalizado por uma interpretação a contrario sensu, ou por sanções
que estão previstas na própria lei consumerista, como a decretação
da nulidade do negócio ou a imputação da responsabilidade civil
objetiva (MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM, 2014, p. 125).

Por derradeiro, o princípio da boa-fé é muito presente nas relações de


consumo definindo condutas positivas centradas na ética, boa vontade e respeito,
objetivando equilibrar a relação entre consumidor/fornecedor. Para tanto, “o
equilíbrio nas relações de consumo é um dos valores fundamentais presentes no
24

sistema de proteção contratual. A busca pela relação equilibrada deve sempre


nortear o magistrado no caso concreto” (GARCIA, 2017, p. 59).
Em suma, observar os referidos princípios têm por objetivo tutelar
legalmente os consumidores na ocorrência de práticas abusivas estabelecendo a
responsabilidade dos fornecedores pelos danos causados (NETO, 2018).
Os princípios do Direito do Consumidor servem para, além de nortear,
proporcionar um equilíbrio das relações consumeristas. Visa também oportunizar o
atendimento das necessidades dos consumidores, levando-se sempre em
consideração sua dignidade, saúde e segurança.
Apresentadas algumas ponderações sobre os princípios do direito do
consumidor, passa-se, na sequência, ao estudo das relações de consumo.
25

3 RELAÇÃO DE CONSUM O

A relação de consumo que existe na atualidade, nada mais é do que uma


vinculação, uma reciprocidade de ações entre indivíduos. Bonatto e Moraes (2009,
p. 101) asseveram que:

O consumo em sentido estrito não é objeto do regramento do CDC,


mas apenas quando vem esse consumo qualificado com a circulação
dos produtos e serviços, o que implica reconhecer que existem pelo
menos dois sujeitos nessa relação aos quais o CDC dá os nomes de
consumidor e fornecedor (art. 2º e 3º). A circulação dos produtos e
serviços havido entre o consumidor e o fornecedor enseja a
formação da relação de consumo, objeto do regulamento do CDC. As
demais relações jurídicas (cíveis, comerciais, trabalhistas, etc.), não
são regulamentadas pelo CDC.

Assim, para que exista uma relação de consumo são necessárias duas
partes, um consumidor e um fornecedor e, a partir desta cadeia possa-se
estabelecer uma relação de consumo (KLAFKE, 2013).

3.1 CONCEITO DE RELAÇÃO DE CONSUMO

É relevante ressaltar que a Lei. 8078/90 se aplica apenas em casos em que


ocorra a relação de consumo, melhor dizendo, onde existir de um lado o consumidor
e do outro o fornecedor (COSTA, 2014). Coelho (2011, p. 117) leciona que:

Aplica-se, assim, o CDC sempre que os sujeitos de direito se


encontram numa relação de consumo, que é legalmente
caracterizada. A relação de consumo envolve sempre, em um dos
polos, alguém enquadrável no conceito legal de fornecedor (CDC,
art. 3º) e, no outro, no de consumidor (CDC, art. 2º).

Na questão acerca da relação de consumo, Densa (2007, p. 5) destaca:

A relação jurídica de consumo possui três elementos, a saber: o


subjetivo, o objetivo e o finalístico. Por elemento subjetivo devemos
entender as partes envolvidas na relação jurídica, ou seja, o
consumidor e o fornecedor. Já por elemento objetivo devemos
entender o objeto sobre o qual recai a relação jurídica, sendo certo
que, para relação de consumo, este elemento é denominado produto
ou serviço. O elemento finalístico traduz a ideia de que o consumidor
26

deve adquirir ou utilizar o produto ou o serviço como destinatário


final.

Conforme Nunes (2009, p. 71), existe relação jurídica de consumo “sempre


que se puder identificar num dos polos da relação o consumidor, no outro o
fornecedor, ambos transacionando produtos e serviços”. Miragem (2016, p. 155) traz
a seguinte contribuição:

A identificação da relação de consumo e seus elementos é o critério


básico para determinar o âmbito de aplicação do Código de Defesa
do Consumidor e, portanto, das normas de direito do consumidor.
Observa-se, aliás, que uma das mais recorrentes alegações de
fornecedores para escapar à aplicação das normas protetivas do
consumidor é de que a relação sob exame em um determinado
processo não pode ser caracterizada como relação de consumo.
Neste sentido, destaca-se a importância do estudo da definição do
que se deva entender como relação de consumo, assim como a
identificação de seus elementos para efeito da aplicação das normas
do CDC.

Inexiste no CDC uma concepção concreta acerca do conceito de relação de


consumo. O legislador privilegiou definir consumidor e fornecedor, bem como
produto e serviço. Dessa forma, superficialmente, a relação de consumo estabelece
um vínculo jurídico que existe entre consumidor e fornecedor (elemento subjetivo),
perante um produto ou serviço (elemento objetivo). Nesse caminho, expressa o CDC
em seus artigos 2º e 3º, os conceitos dos elementos da relação de consumo:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor, a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações
de consumo;
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços;
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial;
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista (BRASIL, 1990, grifo nosso).

O direito do consumidor é destinado a proteger o indivíduo chamado


27

consumidor em suas relações efetivadas no campo da sociedade. Cavalieri Filho


(2014, p. 8) define que a finalidade do direito consumerista é:

A proteção do consumidor passou assim a ser um desafio da nossa


era e o Direito não podia ficar alheio a tal tarefa. A finalidade do
Direito do Consumidor é justamente eliminar essa injusta
desigualdade entre o fornecedor e o consumidor, restabelecendo o
equilíbrio entre as partes na relação de consumo.

Assim, nota-se, que o direito consumerista tem uma finalidade social


relevantíssima, pois busca eliminar as injustiças em uma relação desigual, afastando
as desigualdades entre o fornecedor e o consumidor.

3.2 CONCEITO DE CONSUMIDOR

Numa visão sociológica, entende-se como consumidor todo aquele “que não
dispõem de controle sobre bens de produção e, por conseguinte, devem se
submeter ao poder dos titulares destes” (CARVALHO, 2008, p. 23). Sob a ótica
filosófica o consumidor é “o indivíduo que adquire bens sob a influência daquilo que
a sociedade estabelece como necessidade, ainda que, na realidade, a coisa não
seja imprescindível” (CARVALHO, 2008, p. 23).
O art. 2º do CDC deixa expresso, ainda, ser considerado consumidor o
“destinatário final”, ou seja, aquele indivíduo que retira o produto ou o serviço da
cadeia de consumo. Para Marques (2013, p. 115), destinatário final é: “o consumidor
final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo
(Endverbraucher), aquele que coloca um fim na cadeia de produção e não aquele
que utiliza o bem para continuar a produzir ou na cadeia de serviço”.
Destaca-se que o objetivo do CDC foi estabelecer que o consumidor deve
ser o destinatário final fático e econômico do bem, ou seja, a pessoa não pode
adquirir o produto para reinseri-lo na cadeia produtiva:

Destinatário final é aquele destinatário fático e econômico do bem ou


serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo, segundo esta
interpretação teleológica, não basta ser destinatário fático do
produto, retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou
residência – é necessário ser destinatário final econômico do bem,
não adquiri-lo para revenda, não adquiri-lo para uso profissional, pois
o bem seria novamente um instrumento de produção cujo preço será
28

incluído no preço final do profissional que o adquiriu. Neste caso, não


haveria a exigida “destinação final” do produto ou serviço. Parece-me
que destinatário final é aquele destinatário fático e econômico do
bem ou serviço, seja ele pessoa jurídica ou física (MARQUES, 2013,
115).

Em torno do debate sobre o conceito de destinatário final nasceram várias


correntes doutrinárias objetivando estabelecer os contornos, assim como os limites
da expressão.
Para os autores que defendem a teoria finalista, destinatário final é o
destinatário fático e econômico do produto ou serviço; assim, o consumidor teria
caráter não profissional, melhor dizendo, aquele que adquire (produto ou serviço)
para seu próprio uso e fim. Marques (2002, p. 53) assim leciona sobre a doutrina
finalista:
Destinatário final é aquele destinatário fático e econômico do bem ou
serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo, segundo esta
interpretação teleológica não basta ser destinatário fático do produto,
retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou
residência, é necessário ser destinatário final econômico do bem,
não adquiri-lo para revenda, não adquiri-lo para o uso profissional,
pois o bem seria novamente um instrumento de produção cujo preço
será incluído no preço final do profissional que o adquiriu. Neste caso
haveria a exigida destinação final do produto ou serviço.

Ainda segundo a teoria finalista ou subjetiva, Miragem (2016, p. 168),


sustenta que consumidor é “aquele que adquire ou utiliza produto ou serviço para
satisfação de interesse próprio ou de sua família. Seria, portanto, o não profissional,
não especialista, a quem o direito deve proteger, na sua relação com um profissional
que atua no mercado”. Nesse caminho, para os finalistas, o consumidor como
destinatário final “compreende o destinatário econômico, ou seja, aquele que adquire
o produto ou serviço para uso próprio ou familiar” (NETO, 2018, s.p.).
Já, para os autores que defendem a teoria Maximalista, destinatário final é
meramente o destinatário fático do bem. Estes, segundo Marques (2002, p. 55):

Veem nas normas do CDC o novo regulamento do mercado de


consumo brasileiro, e não normas orientadas para proteger somente
o consumidor-não-profissional. O CDC seria um código geral sobre o
consumo, um código para a sociedade de consumo, o qual institui
normas e princípios para todos os agentes do mercado, os quais
podem assumir os papéis ora de fornecedores ora de consumidores.
29

A teoria maximalista ou objetiva aponta o destinatário final como sendo


aquele destinatário fático que independe da destinação econômica do bem. Garcia
(2017, p. 29) leciona que:

[...] para a corrente maximalista (ou objetiva), com base no conceito


jurídico de consumidor, o CDC é visto de uma maneira bem mais
ampla, abrangendo maior número de relações, pelas quais as
normas inseridas nesse diploma devem regular a sociedade de
consumo como um todo. [...] a definição de consumidor é puramente
objetiva, não importando a finalidade da aquisição ou do uso do
produto ou serviço, podendo até mesmo haver intenção de lucro.

Segundo ensinamentos de Coelho (1994, p. 45):

Duas são as tendência legislativas no tocante à concepção de


consumidor. De um lado, a objetiva, em que o conceito enfatiza a
posição de elo final da cadeia de distribuição de riqueza. Nela, o
aspecto ressaltado pelo conceito jurídico é o do agente econômico
que destrói o valor de troca dos bens ou serviços, ao utilizá-los
diretamente, sem intuito especulativo. De outro lado, há a concepção
subjetiva de consumidor, em que a ênfase do conceito jurídico recai
sobre a sua qualidade de não profissional. Entre as duas
formulações, pende o direito brasileiro para o conceito objetivo de
consumidor, na medida em que enfatiza a posição terminal na cadeia
de circulação de riqueza por ele ocupada.

Nesse sentido Nunes (2009, p. 72) assevera que:

Temos dito que a definição de consumidor do CDC começa no


individual, mais concreto (art. 2º, caput), e termina no geral, mais
abstrato (art.29). Isto porque, logicamente falando, o caput do art. 2º
aponta para aquele consumidor real que adquire concretamente um
produto ou serviço, e o art. 29 indica o consumidor do tipo ideal, um
ente abstrato, uma espécie de conceito difuso, na medida que a
norma fala da potencialidade, do consumidor que presumivelmente
exista, ainda que não possa ser determinado.

Logo, observa-se que consumidor é o destinatário final, melhor dizendo,


aquele que retira em definitivo o produto ou serviço de circulação. Para os
seguidores da corrente finalista, pouco importa se um bem ou serviço adquirido vai
ser revendido ao consumidor de forma direta ou transformado ou depositado em um
estabelecimento comercial. Já a teoria maximalista amplia a concepção de
consumidor; conforme esclarece Garcia (2009, p. 17): “Para os maximalistas, a
definição de consumidor é puramente objetiva, importando a finalidade da aquisição
30

ou do uso do produto ou serviço, podendo até mesmo haver intenção de lucro”.


Segundo Densa (2007, p. 8), para se considerar consumidor basta que ele
“utilize ou adquira produto ou serviço na condição de destinatário final, não
interessando o uso particular ou profissional do bem”. O mesmo autor aduz que:

[...] a definição do art. 2º é puramente objetiva, não importando se é


pessoa física ou jurídica tem, ou não, fim de lucro quando adquire um
produto ou serviço. Destinatário final, seria o destinatário fático do
produto, aquele que retira do mercado e o utiliza, o consome, por
exemplo, a fábrica de celulose que compra carros para o transporte
dos visitantes, o advogado que compra uma máquina de escrever
para o seu escritório [...] (DENSA, 2007, p. 8).

Assim, somente não é consumidor aquele que adquirir ou utilizar produto ou


serviço, participando diretamente do processo de produção, transformação,
montagem, beneficiamento ou revenda (BEZERRA, 2012). Prevalece no Brasil a
concepção de que consumidor precisa ser destinatário final fático e econômico,
como é exemplo a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. SOCIEDADE EMPRESÁRIA.


CONSUMIDOR. DESTINATÁRIO FINAL ECONÔMICO. NÃO
OCORRÊCIA. FORO DE ELEIÇÃO. VALIDADE. RELAÇÃO DE
CONSUMO E HIPOSSUFICIÊNCIA. NÃO CARACTERIZAÇÃO
1. A jurisprudência desta Corte sedimenta-se no sentido da adoção
da teoria finalista ou subjetiva para fins de caracterização da pessoa
jurídica como consumidora em eventual relação de consumo,
devendo, portanto, ser destinatária final econômica do bem ou
serviço adquirido (REsp 541.867/BA).
2. Para que o consumidor seja considerado destinatário econômico
final, o produto ou serviço adquirido ou utilizado não pode guardar
qualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por
ele desenvolvida; o produto ou serviço deve ser utilizado para o
atendimento de uma necessidade própria, pessoal do consumidor.
[...]
3. Cláusula de eleição de foro legal e válida, devendo, portanto, ser
respeitada, pois não há qualquer circunstância que evidencie
situação de hipossuficiência da autora da demanda que possa
dificultar a propositura da ação no foro eleito. 4. Conflito de
competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal da
12ª Vara da Seção Judiciária do Estado de São Paulo. (STJ – CC
92.519/SP – Segunda Seção – Rel. Min. Fernando Gonçalves – j.
16.02.2009 – DJe 04.03.2009).
“Competência. Relação de consumo. Utilização de equipamento e
de serviços de crédito prestado por empresa administradora de
cartão de crédito. Destinação final inexistente. A aquisição de bens
ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o
escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não
31

se reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de


consumo intermediária. Recurso especial conhecido e provido para
reconhecer a incompetência absoluta da Vara Especializada de
Defesa do Consumidor, para decretar a nulidade dos atos praticados
e, por conseguinte, para determinar a remessa do feito a uma das
Varas Cíveis da Comarca” (STJ – REsp 541.867/BA – Segunda
Seção – Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro – Rel. p/Acórdão
Min.Barros Monteiro – j. 10.11.2004 – DJ 16.05.2005, p. 227).

Nesse caminho, Garcia (2009, p. 21) assevera que, com o Novo Código
Civil, a teoria finalista ganha força, pois adotou, assim como o CDC,

[...] vários princípios e cláusulas gerais que, por si sós, são


suficientes para harmonizar e equilibrar as relações entre dois
empresários ou entre dois consumidores. Assim, não mais há
necessidade de se recorrer ao CDC, ampliando o conceito de
consumidor (teoria maximalista), para buscar o equilíbrio nas
relações comerciais. O próprio Código Civil é capaz disso.

Como dito anteriormente, o CDC expressa a concepção de consumidor, em


seu artigo 2º, caput e parágrafo único, adensado pelos artigos 17 e 19 do mesmo
diploma legal. O legislador adotou uma concepção exclusivamente econômica,
daquele consumidor que adquire bens ou contrata a prestação de serviços, como
destinatário final (KLAFKE, 2013). Para Filomeno (2007, p. 29):

Definem os léxicos como consumidor quem compra para gastar em


uso próprio [...] concluindo então que, consumidor é qualquer
pessoa, natural ou jurídica, que contrata, para utilização, a aquisição
de mercadoria ou a prestação de serviço, independentemente do
modo de manifestação da vontade, isto é, sem forma especial, salvo
quando a lei expressamente exigir.

De outro lado, doutrinadores têm apontado que o STJ vem adotando uma
terceira teoria chamada teoria finalista mitigada. Para esta, consumidor não é
apenas o destinatário final mas, sim, a parte vulnerável em uma relação jurídica de
consumo. É o desdobramento do abrandamento da teoria subjetiva (MARQUES,
2013). Para dar mais clareza ao entendimento propagado pela teoria finalista
mitigada, transcreve-se o julgado do STJ aplicando a teoria no caso concreto:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE


COMPETÊNCIA. RECURSO INTERPOSTO NA ÉGIDE NO NCPC.
AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C.C. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. AÇÃO PROPOSTA POR CONSUMIDOR
32

CONTRA EMPRESA. TEORIA FINALISTA. MITIGAÇÃO.


APLICABILIDADE DO CDC. POSSIBILIDADE. VULNERABILIDADE
VERIFICADA. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. 1. Aplicabilidade do NCPC
a este recurso ante os termos no Enunciado Administrativo nº 3
aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os
requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. Esta
Corte firmou posicionamento no sentido de que a teoria finalista deve
ser mitigada nos casos em que a pessoa física ou jurídica, embora
não tecnicamente destinatária final do produto ou serviço, apresenta-
se em estado de vulnerabilidade ou de submissão da prática abusiva,
autorizando a aplicação das normas prevista no CDC. 3. No caso dos
autos, porque reconhecida a vulnerabilidade da autora na relação
jurídica estabelecida entre as partes, é competente o Juízo Suscitado
para processar e julgar a ação. 4. Agravo interno não provido
(BRASIL, 2017).

Para uma solução mediante o Código Civil, o CDC aborda precisamente a


relação desigual, devido à vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor
(MARQUES, 2012). Ressalta-se que contemporaneamente, a teoria finalista é
majoritária na jurisprudência nacional. Na interpretação do artigo 2º depara-se com o
termo destinatário final, que para Bonatto e Moraes (2009 p. 81):

[...] é aquele destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja


ele pessoa jurídica ou física. Assim não basta ser destinatário fático
do produto, isto é, retirá-lo do ciclo produtivo. É necessário ser
também destinatário final econômico, ou seja, não adquiri-lo para
conferir-lhe utilização profissional, pois o produto seria reconduzido
para a obtenção de novos benefícios econômicos (lucros) e que, cujo
custo estaria sendo indexado no preço final do profissional. Não se
estaria, pois, conferindo a esse ato de consumo a finalidade
pretendida: a destinação final.

Logo, destinatário final é todo aquele que adquire e utiliza o produto ou


serviço como destinatário final econômico fático, melhor dizendo, “aquele que não
vai utilizar o produto com finalidade profissional ou produtiva, onde se repassa o
valor do produto inicialmente adquirido ao seu consumidor” (KLAFKE, 2013, p. 14).
Para Marques (2002, p. 279), o destinatário final:

[...] coloca um fim na cadeia de produção (destinatário final


econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir,
pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem,
utilizando o bem para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu
consumidor.
33

Abordado o conceito de consumidor, passa-se a conceituar fornecedor.

3.3 CONCEITO DE FORNECEDOR

O CDC em seu artigo 3º qualifica fornecedor em sentido mais amplo,


considerando como aqueles que fornecem produtos e serviços no mercado
consumerista. Observa-se, contudo, que, a contrato fixado entre dois consumidores,
ou com comerciante, praticantes de atividade não habitual, não se aplica o CDC, e
sim o Código Civil (GARCIA, 2017).
Logo, o que caracteriza um fornecedor é o desenvolver atividade habitual. O
artigo 3º do CDC apresenta rol das atividades que configuram o fornecedor, como os
que “desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos
ou prestação de serviços”.
Miragem (2016, p. 177) sustenta ser “correto indicar que são fornecedores,
para os efeitos do CDC, todos os membros da cadeia de fornecimento, o que será
relevante ao definir-se a extensão de seus deveres jurídicos, sobretudo em matéria
de responsabilidade civil”.
Assim, considera-se a palavra fornecedor como gênero. Garcia (2017, p. 38)
leciona que: “Para o CDC, o vocábulo fornecedor é delimitado como gênero, do qual
são espécies, segundo o art. 3°: o produtor, montador, criador, fabricante, construtor,
transformador, importador, exportador, distribuidor, comerciante e o prestador de
serviços”. Segundo Garcia (2017 apud contemplando, s.p.):

Notadamente, a norma consumerista quer que todos sejam


obrigados e/ou responsabilizados, utilizando-se do termo
"fornecedor" (gênero). Com objetivo de designar algum ente
específico, utiliza termo particular (espécie). Destarte, verifica-se no
CDC vários artigos apontando tais espécies: fabricante – prestar
informações de produto industrial (artigo 8º, parágrafo único);
produtor, construtor e importador (artigo 12º); comerciante (artigo
13º); profissionais liberais (artigo 14º parágrafo 4°); comerciantes –
produtos in natura (artigo 19º, parágrafo 2º); fabricante, importador e
construtor, no caso de peça ou componente incorporado ao produto
(artigo 25º, parágrafo 2º); fabricante e importador de peças de
reposição (artigo 32º), entre outros.
34

Ao comparar à normativa estrangeira, Miragem (2016, p. 177) assim descreve


sobre o fornecedor:

[...] a Lei de Proteção do Consumidor da Bélgica, que ao definir


fornecedor, com vista à delimitação do âmbito de aplicação de suas
regras, refere como tal, toda a pessoa física ou jurídica que vende
produtos ou serviços em uma atividade profissional ou em vista da
realização de um objetivo estatutário. [...] E por fim, indica ainda
como fornecedores as pessoas que exercem, com ou sem finalidade
lucrativa, atividade de caráter comercial, financeiro ou industrial, em
nome próprio ou de terceiros, dotadas ou não de personalidade
jurídica, que ofereça ou realize a venda de produtos ou serviços.

Em suma, pode-se conceituar fornecedor como sendo todo aquele que exerce
atividade produtiva com habitualidade.

3.4 CONCEITO DE PRODUTO E DE SERVIÇO

O CDC, ainda no artigo 3º, conceitua produto e serviço. O elemento objetivo


da relação de consumo, produto - constitui uma obrigação de dar e; serviço -
constitui uma obrigação de fazer. O artigo 3º do CDC expressa que produto “é
qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”, denotando uma concepção
abrangente, limitada no tocante a identificar o que seja um produto.
Ao considerar a normativa estrangeira, Miragem (2016, p. 184) descreve:

O direito belga, por exemplo, optou por definir produto simplesmente


como sendo os "bens móveis corpóreos" [...]. No direito canadense, o
Código Civil do Quebec refere-se aos contratos de consumo como
sendo os relativos a "bens e serviços" (artigo 1.384 do Código Civil
do Quebec) [...]. No direito alemão, a definição de consumidor
prescindiu do conceito de produto, considerando que preferiu indicá-
lo apenas genericamente como quem "conclui um negócio",
vinculando-o à finalidade não profissional e não comercial (§ 13 do
BGB). No direito italiano, [...] refere produto como aquele disponível a
título oneroso ou gratuito no âmbito de uma atividade comercial [...].

Depreende-se, portanto que, a definição da lei brasileira de produto, traz uma


concepção muito ampla, “englobando aquilo que possa ser alvo de uma relação
jurídica, desde que satisfaça as necessidades humanas e tenha valor econômico
aferível” (NETO, 2018, s.p.). O CDC utiliza o vocábulo produto para conceituar um
35

dos elementos da configuração da relação de consumo. Filomeno (2012) entende


que o vocábulo bens é mais apropriado, sendo um termo mais abrangente:

[...] entendemos que fosse melhor falar-se em bens e não produtos,


porquanto o primeiro termo retrorreferido é muito mais abrangente e,
aliás, mais técnico tanto do ponto de vista jurídico, como do ponto de
vista da economia política. E tal aspecto fica ainda mais evidente,
quando se tem em conta que no caso trata-se de bens como efetivos
objetos das relações de consumo [...] (FILOMENO, 2012, p. 47).

Já, Nunes (2012) considera a palavra produto como sendo universal e ligada
à concepção de bem:

Esse conceito de produto é universal nos dias atuais e está


estritamente ligado à ideia do bem, resultado da produção no
mercado de consumo das sociedades capitalistas contemporâneas.
É vantajoso seu uso, pois o conceito passa a valer no meio jurídico e
já era usado por todos os demais agentes do mercado (econômico,
financeiro, de comunicações etc) (NUNES, 2012, p. 139).

Por serviço, entende-se “toda atividade que esteja disponível no mercado que
possamos comprar, excetuando-se as da relação de emprego, existente entre
empregado e empregador” (ALCA NTARA, 2017, p.121). Entretanto, em que pese
existirem serviços gratuitos, Miragem (2016, p. 188) leciona:

[...] a definição legal que o serviço objeto da relação de consumo é


apenas aquele prestado mediante remuneração. Como já resta
consagrado na doutrina brasileira, esta remuneração poderá ser
considerada, para efeito da caracterização da relação de consumo,
como remuneração direta (contraprestação de um contrato de
consumo), ou indireta (quando resultar de vantagens econômicas do
fornecedor a serem percebidas independentes do contrato de
consumo presente). (grifo nosso)

Nesse caminho, o serviço caracteriza-se como remuneração direta ou


indireta, livremente da sua gratuidade, importando o fim econômico a que se destina.
Para efeito, veja-se a seguinte decisão do STJ:

DIREITO DO CONSUMIDOR E RESPONSABILIDADE CIVIL -


RECURSO ESPECIAL - INDENIZAÇÃO - ART. 159 DO CC/16 E
ARTS. 6º, VI, E 14, DA LEI Nº 8.078/90 - DEFICIÊNCIA NA
FUNDAMENTAÇÃO - SÚMULA 284/STF – PROVEDOR DA
INTERNET – DIVULGAÇÃO DE MATÉRIA NÃO AUTORIZADA
36

RESPONSABILIDADE DA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO


- RELAÇÃO DE CONSUMO - REMUNERAÇÃO INDIRETA - DANOS
MORAIS - QUANTUM RAZOÁVEL VALOR MANTIDO. [...] 2 -
Inexiste violação ao art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do
Consumidor, porquanto, para a caracterização da relação de
consumo, o serviço pode ser prestado pelo fornecedor mediante
remuneração obtida de forma indireta. (STJ, REsp. 566468/RJ, Rel.
Min. Jorge Scartezzini, DJ 17/12/2004).

A conotação da concepção de serviço pelo CDC remete a uma relação


exemplificativa. Entende-se serviço como sendo “uma utilidade usufruída pelo
consumidor na qual é prestada pelo fornecedor. Por serviços também é entendido os
serviços de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária” (SANTIAGO,
2019, p. 26).
Apresentadas algumas considerações sobre a relação de consumo,
consumidor, fornecedor, produto e de serviço, a seguir são abordadas as práticas
abusivas, contratos consumeristas e a temática principal que é o envio de produto
ou a prestação de serviços sem a prévia solicitação por parte do consumidor.
37

4 PRÁTICAS ABUSIVAS CONSUM ERISTAS

Neste capítulo discorrem-se ponderações e conceitos sobre as práticas


abusivas e suas espécies, principalmente relacionada ao envio de produto sem a
prévia solicitação por parte do consumidor.

4.1 ESPÉCIES DE PRÁTICAS ABUSIVAS

Na atualidade, a publicidade se apresenta como a mais relevante das


ferramentas utilizadas para a sedução dos consumidores, por intermédio da
obsolescência programada de desejabilidade. “Altera-se o estilo ou design dos
produtos modificando sua aparência, criando uma dicotomia: novo-melhor e velho-
pior” (NETO, 2018, s.p.). Hodiernamente, segundo Cabral e Rodrigues (2012, p. 52):

[...] se adotam mecanismos para mudar o estilo dos produtos como


maneira de manipular os consumidores para irem repetidamente às
compras. Trata-se, na verdade, de gastar o produto na mente das
pessoas. Neste sentido, os consumidores são levados a associar o
novo com o melhor e o velho com o pior. O estilo e a aparência das
coisas tornam-se importantes como iscas ao consumidor, que passa
a desejar o novo. É o design que dá a ilusão de mudança por meio
da criação de um estilo. Faz o consumidor se sentir desconfortável
ao utilizar um produto que se tornou ultrapassado por causa do novo
estilo dos novos modelos.

Por último, a obsolescência programada de qualidade que ocorre em virtude


de uma diminuição considerável da sua vida útil do produto, de maneira proposital,
através do uso de materiais de pouca qualidade e técnicas que minimizam a
durabilidade. “Em síntese, o fornecedor coloca no mercado um produto de vida útil
bem mais curta, tendo ciência de que poderia está ofertando o mesmo produto com
uma vida útil bem mais duradoura” (NETO, 2018, s.p.).
O CDC se faz muito sensível mediante a fenômenos derivados da
pulverização de oferecimentos de bens e serviços, prezando por acolher
mecanismos eficientes de controle e fiscalização (GAMA, 2004). Dado aos
constantes apelos pelas mais diversas vias de comunicação, o CDC dispõe que,
“para efeito da tutela, considera consumidor qualquer pessoa exposta às práticas
comerciais abusivas” (NETO, 2018, s.p.). Nesse sentido, Neto (2018, s.p.) aduz que:
38

[...] não restringe a proteção apenas aos contratantes, pois, em etapa


anterior à contratação, já se pode vislumbrar atentado aos direitos do
cidadão-consumidor. Ora, as práticas comerciais são classificadas
em pré-contratuais, contratuais e pós-contratuais. E, em todas as
suas modalidades, especialmente quando figuradas abusivas,
mereceram o açoite do código consumerista e da legislação em
geral. Passa-se a uma análise perfunctória sobre os principais
exemplos de práticas dessa natureza.

Cavalieri Filho (2010, p. 136-137) assevera que:

As práticas abusivas são ações ou condutas do fornecedor em


desconformidade com os padrões de boa conduta nas relações de
consumo. São práticas que, no exercício da atividade empresarial,
excedem os limites dos bons costumes comerciais e, principalmente,
da boa-fé, pelo que caracterizam o abuso do direito, considerado
ilícito pelo art. 187 do Código Civil. Por isso são proibidas.

Podem-se caracterizar práticas abusivas as ações ou condutas que, se


existentes, se caracterizam como ilícitas, indiferente de existir ou não algum
consumidor lesado, ou mesmo aquele que se sinta lesado (NUNES, 2011). O art. 39
do CDC elenca algumas das práticas abusivas:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto
ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem
como, sem justa causa, a limites quantitativos; II - recusar
atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de
suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os
usos e costumes; III - enviar ou entregar ao consumidor, sem
solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; IV
- prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em
vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor
vantagem manifestamente excessiva; VI - executar serviços sem a
prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do
consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre
as partes; VII - repassar informação depreciativa, referente a ato
praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; VIII -
colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes ou, se normas específicas não existirem, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade
credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Conmetro); IX - recusar a venda de bens ou a
prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los
mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação
regulados em leis especiais; X - elevar sem justa causa o preço de
produtos ou serviços. XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-
39

67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da


conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999, XII - deixar de estipular
prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de
seu termo inicial a seu exclusivo critério. XIII - aplicar fórmula ou
índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido.
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou
entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento (BRASIL, 1990).

O artigo 39 do CDC reafirma o disposto nos artigos 4º, VI e 6º, IV, da mesma
Lei, vedando toda e qualquer forma de prática abusiva, por parte dos fornecedores.
Segundo Bonatto e Moraes (2009, p. 159), “práticas abusivas são condutas
comissivas ou omissivas, praticadas por fornecedores, nas quais estes abusam de
seu direito, violam os direitos dos consumidores ou infringem de alguma forma a lei”.

4.2 CONTRATOS CONSUMERISTAS

De tudo o que foi descrito fica evidente a vulnerabilidade do consumidor,


mormente no campo contratual. Com o propósito de impedir práticas abusivas,
surgiu a denominada proteção contratual, que tem por finalidade a promoção da
lealdade, da transparência e do equilíbrio frente à relação consumerista entre
fornecedor e consumidor, segundo o princípio da boa-fé objetiva configurado nos
artigos 4º, III e 51, IV do CDC (KLAFKE, 2013).
Deve-se ressaltar que o CDC não admite as cláusulas obscuras, minúsculas,
as fraudes, e o intuito de enganar, assim como os contratos que posicionem os
consumidores em situação de desvantagem descomedida (KLAFKE, 2013).
O vocábulo “contrato” se compõe de dois objetos: o pré-verbo con,
significando “junto de”, e o substantivo tractus trazendo a concepção inclusa em seu
elemento radical: confiança, fidelidade, sinceridade. Logo, em uma acepção
etimológica, contrato significa “arrastamento simultâneo baseado na confiança
recíproca” (MATOS, 2014, p. 12).
Nas sociedades mais primitivas era costume o acerto entre duas ou mais
pessoas no sentido de cumprirem em comportamentos recíprocos. Contudo,
segundo Matos (2014, p. 12):

[...] o caráter singelo da ordem jurídica não permitia, ainda, sancionar


o descumprimento dessas avenças, o que só se tornou possível com
40

o Direito Romano [...]. Desde então, a ideia de contrato vem sendo


moldada, tendo sempre como base as práticas sociais, a moral e o
modelo econômico da época [...]. Com as recentes inovações
legislativas e com a sensível evolução da sociedade brasileira, não
há como desvincular o contrato da atual realidade nacional, surgindo
a necessidade de dirigir os pactos para a consecução de finalidades
que atendam aos interesses da coletividade.

Para Monteiro, Maluf e Silva (2010), a concepção romana de contrato,


mesmo concisa, era significativamente correta: est pacto duorum pluriumve in idem
placitum consensus, ou seja, o consenso mútuo de dois ou mais indivíduos sobre o
mesmo objeto. Mediante as profundas mudanças estruturais e funcionais pelas
quais tem passado o instituto, alguns juristas, como Paulo Nalin, propõem um
conceito pós-moderno ou contemporâneo de contrato, qual seja: “constitui-se em
uma relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade constitucional, destinada à
produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares
subjetivos da relação, como também perante terceiros” (apud MATOS, 2014, p. 15).
Nesse caminho, o contrato pode ser definido, segundo Pereira (2009), como
“um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir,
resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos, ou, em outras
palavras, com a finalidade de produzir efeitos jurídicos” (apud MATOS, 2014, p. 15).
Já, Coelho (2012) traz o seguinte ensinamento:

[...] até o ano de 1991, o Direito Privado pátrio dos contratos


segmentava-se em dois regimes jurídicos diferentes. De um lado, o
Civil, aplicável à generalidade dos contratos entre particulares,
exceto os trabalhistas, e, de outro, o Comercial, relacionado aos
contratos próprios do comércio. Com o advento do Código de Defesa
do Consumidor, o tema foi revigorado pela criação de mais um
regime no direito privado dos contratos: o Consumerista. Por uma
fórmula bastante genérica, e ainda um tanto imprecisa, o regime
jurídico aplicável passou a variar conforme o contrato vinculasse
empresário a empresário – Direito Comercial –, empresário a não
empresário – Direito do Consumidor – ou não empresário a não
empresário – Direito Civil (apud MATOS, 2014, p. 15).

Independentemente da referida tripartição dos contratos de Direito Privado


no ordenamento jurídico brasileiro, a melhor definição de contrato seriam as
adotadas por por Nalin (2005) e Pereira (2009), acima trazidas
Percebe-se que a natureza e a essência do contrato é um negócio jurídico
que reclama, para sua validade, consoante ao artigo 104 do Código Civil, agente
41

capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não


defesa em lei (MONTEIRO; MALUF; SILVA, 2010).
No tocante a capacidade das partes; quanto aos indivíduos componentes do
contrato, precisam ser capazes e estarem legitimados para o negócio pretendido,
não pesando contra eles óbice algum de caráter jurídico. É preciso que estejam
revestidos de capacidade jurídica, sem incidência alguma das causas de
incapacidade, sejam absolutas ou relativas (SANTIAGO, 2019).
Além da capacidade geral, Gonçalves (2009) sustenta que a lei exige na
celebração de certos contratos, “uma capacidade especial, mais intensa que a
normal, como nos casos de doação, transação ou alienação onerosa, que exigem o
poder de disposição das coisas ou dos direitos que são objeto do contrato” (apud
SANTIAGO, 2019, p. 25).
Em outros contratos, mesmo o agente não sendo incapaz, impede-se a
realização de certos negócios, “exigindo-se para tanto a outorga uxória – nos casos
de alienação de bem imóvel, por exemplo – ou o consentimento dos descendentes –
nos casos de venda a outros descendentes” (SANTIAGO, 2019, p. 25).
O objeto do negócio jurídico pode ser determinado ou determinável.
“Indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da
execução. Admite-se, assim, a venda de coisa incerta quando indicada ao menos
pelo gênero e quantidade, que será determinada pela escolha” (GONÇALVES, 2009
apud SANTIAGO, 2019, p. 25-26). Além disso, é preciso que o contrato verse sobre
interesse economicamente apreciável, melhor dizendo, o objeto do contrato precisa
ter um valor econômico, capaz de transformar-se de forma direta ou indireta em
pecúnia (BEGALLI, 2006).
Ainda tem-se que, “a idoneidade do objeto pode ser excluída por motivos
técnicos, quando as partes se utilizam de contrato que não comporta o objeto, ou
razões de política legislativa, que impedem que certos interesses sejam objeto de
relação contratual” (SANTIAGO, 2019, p. 26).
No tocante à forma do contrato Albuquerque (2004, p. 21) ensina que:

Há formas intrínsecas ou viscerais, que constituem a parte interna e


essencial dos contratos, como, por exemplo, a vontade das partes; e
há formas extrínsecas que são as exterioridades, que afetam os atos
jurídicos, ao se caracterizarem pela celebração, o que devem
assumir para serem provados.
42

A forma intrínseca, Conforme Santiago (2019, p. 26):

[...] constitui-se na vontade das partes – elemento de maior realce na


formação do contrato que, se integrando aos demais requisitos,
aparece nos negócios jurídicos como fonte de direitos e obrigações.
Enquanto a forma intrínseca trata da subjetividade das partes, a
extrínseca enfoca o aspecto exterior dos atos jurídicos, revestindo-os
com certas formalidades capazes de torná-los válidos e probativos.

A forma, para Rizzardo (2010 apud SANTIAGO, 2019, p. 26):

[...] é o conjunto de solenidades a serem observadas para que o


contrato alcance eficácia jurídica. Conforme destaca o autor, nos
termos do art. 107 do Código Civil, a validade da declaração de
vontade, em regra, não depende de forma especial, que só é exigível
nos casos expressamente previstos em lei, como por exemplo, na
instituição do bem de família.

Já, a formação dos contratos, para Albuquerque (2004, p. 49), implica


“desde a intenção dos contratantes – que se caracteriza pelo momento subjetivo,
psicológico, interno do querer humano –, até o outro momento objetivo em que a
vontade se reflete através da declaração”. Segundo Begalli (2006 apud SANTIAGO,
2019, p. 27), “para que se forme o vínculo contratual, as partes perpassam por fases
que trazem a vontade do plano psicológico interno, para a efetiva demonstração do
querer, que se exterioriza por meio da declaração”. Sendo resultado do encontro de
vontades das partes, a formação do contrato pressupõe a exteriorização destas.
Logo, conforme Coelho (2012 apud SANTIAGO, 2019, p. 27):

O primeiro contratante a manifestar sua vontade é chamado de


proponente ou policitante e sua declaração de proposta, oferta ou
policitação. O outro contratante, por sua vez, manifesta-se mediante
aceitação e é denominado aceitante ou oblato. Em todos os
contratos, mesmo nos instantaneamente constituídos e executados,
podem-se divisar a proposta e o aceite.

Para Tartuce (2014 apud SANTIAGO, 2019, p. 27):

[...] o contrato nasce da conjunção de duas ou mais vontades


coincidentes, sem prejuízo de outros elementos, o que consubstancia
aquilo que se denomina autonomia privada. Desse modo, seria
possível identificar quatro fases na formação do contrato civil: fase de
negociações preliminares ou de puntuação, fase de proposta,
43

policitação ou oblação, fase de contrato preliminar e fase de contrato


definitivo ou de conclusão do contrato.

Quanto às fases do contrato, tem-se: fase de negociações preliminares, fase


de proposta, fase de contrato preliminar e fase de contrato definitivo. Na fase pré-
contratual, segundo Diniz (2010 apud SANTIAGO, 2019, p. 27):

[...] têm-se propostas precedentes ao contrato, com as quais os


participantes, sem a intenção de se obrigar, demonstram,
reciprocamente, a de contratar. Tais entendimentos preliminares, por
serem meras ideias levadas ao conhecimento da outra parte para
estudo, estando sujeitas a debates entre ambas, carecem de força
vinculante.

Participante da doutrina majoritária, Tartuce (2014 apud SANTIAGO, 2019,


p. 27-28) assevera que:

[...] a fase de debates ou negociações preliminares não vincula os


participantes quanto à celebração do contrato definitivo. Entretanto,
encontra-se filiado ao entendimento segundo o qual é possível a
responsabilização contratual nessa fase do negócio jurídico pela
aplicação do princípio da boa-fé objetiva, que é inerente à eticidade,
um dos baluartes da atual codificação privada.

A proposta é dita como o momento de início da formação do contrato, por


meio do qual uma das partes solicita a manifestação de vontade da outra
(MONTEIRO; MALUF; SILVA, 2010). Segundo Begalli (2006 apud SANTIAGO,
2019, p. 28):
Trata-se de ato unilateral pelo qual ocorre a declaração receptícia de
vontade de um dos contratantes, e é dirigida à outra pessoa com a
qual se pretende celebrar o contrato. A fase de proposta não se
confunde com os entendimentos preliminares, uma vez que estes
são meras proposições, sem caráter obrigacional, enquanto aquela
traduz uma vontade real de contratar nas bases oferecidas.

Para Coelho (2012 apud SANTIAGO, 2019, p. 28):

O sujeito, ao exteriorizá-la, deve ser sério, abstendo-se de convidar


alguém à mesa de negociação se não estiver imbuído da real
intenção de contratar. A falta de seriedade na declaração configura
ato ilícito, em razão de incorrer em desrespeito ao dever geral de
boa-fé, podendo ser o contratante responsabilizado pelos danos que
causar.
44

Segundo Tartuce (2014), o contrato preliminar, pré-contrato ou pactum de


contrahendo, determinado pela codificação privada em seus artigos 462 a 466, não
é fase obrigatória da formação do contrato, podendo ser dispensada pelas partes.
“Na prática, muitas vezes, o contrato preliminar é celebrado em compra e venda de
imóvel para dar mais segurança às partes, notadamente em relação ao preço
convencionado” (SANTIAGO, 2019, p. 30). Para Venosa (2011 apud SANTIAGO,
2019, p. 30):

Essa categoria abrange, desimportando a denominação, todos os


acordos que antecedem a realização de outro contrato; são
evidentemente negócios jurídicos e como tal devem ser tratados.
Nessas avenças, podem as partes determinar com maior ou menor
amplitude as cláusulas que vão constar do contrato definitivo.
Terminologicamente, dizemos que, com o contrato preliminar, as
partes buscam a conclusão de um contrato principal ou definitivo.

Na última fase de formação do contrato ocorre o acerto de vontades


originário da liberdade contratual ou autonomia privada. A partir de então, o contrato
se aperfeiçoa, criando todos os seus efeitos advindos da responsabilidade civil
contratual, na forma dos artigos 389 a 391 do Código Civil (TARTUCE, 2014). Nesta
fase, a aceitação complementa a fase preparatória para formar um contrato, criando
os elementos para concretizar o negócio jurídico, se não ocorrer volição
(SANTIAGO, 2019).
Aceitar é ato aderente à proposta feita, devendo ser puro e simples,
obedecendo aos requisitos de tempestividade de forma, se houver (VENOSA, 2011).
Já no tocante à extinção dos contratos, Coelho (2012) afirma serem três os atributos
do negócio jurídico e, por consequência, do contrato: existência, validade e eficácia.
As relações entre tais elementos são complexas e nesse caminho existe a situação
do fim do vínculo contratual.
Existe a possibilidade de extinção do contrato em razão da presença de
cláusula resolutiva (expressa ou implícita). Para Santiago (2019, p. 33):

O primeiro caso ocorre quando os contratantes ajustam cláusula


prevendo que a inexecução da prestação por qualquer um deles
importe na rescisão do automática do contrato de pleno direito,
sujeito o faltoso às perdas e danos, sem necessidade de interpelação
judicial. A cláusula resolutiva tácita, por outro lado, encontra-se
subentendida em todos os contratos bilaterais ou sinalagmáticos.
Nesse caso, havendo inadimplemento, o contrato não se rescinde de
45

pleno direito, sendo necessário para sua concorrência o


pronunciamento judicial.

O contrato pode ser extinto por fatos posteriores ou supervenientes à sua


celebração, nestes casos, fala-se em rescisão contratual. A rescisão (que é o
gênero) possui as seguintes espécies: resolução (extinção do contrato por
descumprimento) e resilição (TARTUCE, 2014) que, segundo Pereira (2009 apud
SANTIAGO, 2019, p. 34):

[...] consiste na dissolução do vínculo contratual, mediante atuação


da vontade que a criou, podendo ser bilateral ou unilateral. Resilição
bilateral, também denominada distrato pelo art. 472 do Código, é a
declaração de vontade das partes contratantes, no sentido oposto ao
que havia gerado o vínculo, obtendo-se uma espécie de acordo
liberatório, tendo em vista obrigações ainda não cumpridas. Resilição
unilateral, por sua vez, ocorre por meio da manifestação volitiva
unilateral e tem caráter de exceção. Admite-se essa modalidade de
resilição nos contratos de comodato, o mandato e o depósito, por
exemplo.

Ultrapassadas as considerações sobre a relação de consumo, passa-se a


analisar as práticas abusivas consumeristas, principalmente às relacionadas ao
envio de produto sem a prévia solicitação por parte do consumidor.

4.3 DO ENVIO AO CONSUMIDOR DE QUALQUER PRODUTO OU SERVIÇO SEM


A PREVIA SOLICITAÇÃO POR PARTE DO CONSUMIDOR

No tocante a produtos enviados sem solicitação prévia, o art. 39, III, do CDC
expressa:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre
outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de
11.6.1994)
[...]
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,
qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço. (BRASIL, 1994).

O consumidor só se obriga a pagar por aquilo que em sã consciência se


dispôs a adquirir. Logo, a regra do CDC é: produtos ou serviços só podem ser
fornecidos se existir solicitação prévia. Fornecimentos não solicitados são, todavia,
prática corriqueira e abusiva do mercado. Veja-se o seguinte acórdão.
46

EMENTA:
DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE [...]. CARACTERIZAÇÃO.
DISSABORES E TRANSTORNOS PROVENIENTES DOS
ABATIMENTOS PROVOCADOS PELOS MÚTUOS NÃO
CONTRATADOS. COMPENSAÇÃO. ADEQUAÇÃO.
PRESERVAÇÃO. 1. O envio de produtos e a prestação de serviços
sem solicitação prévia do consumidor configuram prática comercial
abusiva e ilegal [...]. 2. A disponibilização de importes na conta
bancária de consumidor proveniente de falha nos controles do banco
ou de fraude é impassível de ser enquadrada na vedação legal que
repugna a conduta abusiva de fornecimento de bens ou serviços sem
prévia solicitação [...]. 3. Agregado ao fato de que é facilmente
repetível importe indevidamente creditado na conta do consumidor
por falha do banco ou fraude, não se coaduna com a boa-fé objetiva
que deve pautar as relações negociais [...] 4. Emergindo do mútuo
contratado em nome da correntista sem sua participação a
imputação das obrigações dele originárias, o endereçamento de
cobranças e o abatimento das prestações dele derivados dos fundos
de que dispunha e estavam endereçados ao fomento de suas
despesas pessoais, provocando-lhe desassossego e angústia e
afetando seu crédito, restam caracterizados os fatos geradores do
dano moral, legitimando que lhe seja assegurada compensação
pecuniária mensurada de conformidade com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. 5. A compensação pecuniária
a ser deferida ao atingido por ofensas de natureza moral deve ser
efetivada de forma parcimoniosa e em ponderação com os princípios
da proporcionalidade, atentando-se para a gravidade dos danos
havidos, para o comportamento do ofensor e para a pessoa dos
envolvidos no evento, e da razoabilidade, que recomenda que o
importe fixado não seja tão excessivo a ponto de ensejar uma
alteração na situação financeira dos envolvidos, nem tão
inexpressivo que redunde em uma nova mágoa ao ofendido,
ensejando sua corroboração se guarda conformação com esses
parâmetros. 6. Apelação conhecida e desprovida. Unânime. (Acórdão
n. 868856, Relator Des. TEÓFILO CAETANO, 1ª Turma Cível, Data
de Julgamento: 13/5/2015, Publicado no DJe: 27/5/2015). 1

Rizzato Nunes (2013, p. 45) traz a seguinte explanação:

A norma é taxativa em proibir o envio ou a entrega ao consumidor


sem que este tenha previamente solicitado qualquer produto ou
serviço. O parágrafo único sanciona a violação à proibição, dispondo
que o produto e o serviço enviado ou entregue sem solicitação
tornem-se gratuitos, equiparando-se às conhecidas “amostras grátis”
que os fornecedores utilizam para promover seus produtos e
serviços.

1
Disponível em: < https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-
visao-do-tjdft-1/praticas-abusivas/produtos-enviados-sem-solicitacao-previa>. Acesso em ago. 2020.
47

Logo, nota-se que quaisquer produtos ou serviços só podem ser fornecidos


mediante solicitação do consumidor. Todo fornecedor precisa informar previamente
sobre as despesas de remessa de produtos, não efetuar serviços sem antes
elaborar orçamento e ter a autorização expressa do consumidor, com cobrança de
quantias indevidas que se forem pagas, deverão ser devolvidas em dobro,
corrigidas monetariamente e com juros.
Como exemplo prático, se um fornecedor envia ao endereço do consumidor,
sem sua prévia autorização, um livro, ingresso para show , perfume, dentre outros
produtos e presta alguns serviços, serão eles considerados “amostra grátis”, a teor
do parágrafo único, do art. 39, do CDC. Contudo, em se tratando de certos serviços,
com o envio violando os direitos do consumidor, causando danos legislador prevê
sanção, coibindo essa prática, condenando fornecedores praticantes dessa conduta
abusiva, a pagarem danos morais ao consumidor ofendido. Veja-se a seguinte
decisão .

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL SERVIÇO


DE INTERNET NÃO REQUISITADO E/OU CONTRATADO TARIFA
INDEVIDA AMOSTRA GRÁTIS - CDC, ARTIGO 39, III E
PARÁGRAFO ÚNICO - AÇÃO DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO
PROCEDENTE E RECURSO NÃO PROVIDO. Considera-se amostra
grátis o serviço oferecido pela concessionária de telefonia quando
não requerido pelo consumidor ou objeto do contrato, não obstante
dele tenha utilizado. DANOS MORAIS PESSOA JURÍDICA
NECESSIDADE DE PROVA. A pessoa jurídica pode sofrer dano
moral, no entanto, não se tratando de danos presumíveis,
demandavam prova específica. (TJ-SP - APL:
09196243020128260506 SP 0919624-30.2012.8.26.0506, Relator:
Clóvis Castelo, Data de Julgamento: 30/06/2014, 35ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 30/06/2014).

Segundo Espindola (2012, p. 24), o inciso III deve ser:

[...] combinado com o parágrafo único que diz que o produto ou


serviço remetido ao consumidor sem solicitação tornam-se gratuitos,
equiparando-se às amostras grátis. Exemplo: envio de cartão de
crédito sem solicitação, no qual o consumidor pode aceitar ficar com
o cartão e não estará obrigado a pagar a anuidade, pois o serviço
tornou-se gratuito no momento do envio.

A regra do CDC expressa, nos termos do art. 39, inciso III, que produto ou
serviço só pode ser fornecido se existir solicitação prévia do consumidor, contudo, o
48

citado inciso III precisa ser analisado conjuntamente com o parágrafo único deste
artigo (ESPINDOLA, 20112). A jurisprudência do STJ é pacífica nesse sentido. Veja-
se:

[...] ‘o produto’ ou ‘serviço’ não inerente ao contrato de prestação de


telefonia ou que não seja de utilidade pública, quando posto a
disposição do usuário pela concessionária – caso do ‘telesexo’ –,
carece de prévia autorização, inscrição ou credenciamento do titular
da linha [...]. Destarte, se a figura indevida a cobrança de ligações
nacionais ou internacionais a tal título, de igual modo, ilícita a
inscrição da titular da linha como devedora em cadastro negativo de
crédito, gerando, em contrapartida, o dever de indenizá-la pelos
danos morais causados (STJ – 4ºT. – Resp 265.121/RJ – rel. Min.
Aldir Passarinho Junior – j. 4.4.2002).

Saad (2006, p. 365) comenta o CDC afirmando:

Considera-se prática abusiva em consonância com o inciso III a


remessa ao consumidor de produto que não solicitou ou a prestação
de serviços que não autorizou. É o que podemos chamar de venda
agressiva. Cria constrangimento para o consumidor que acaba
aceitando o produto.

O código veda o fornecedor enviar ou entregar produtos ou fornecer


serviços, sem ser solicitado por consumidor. Este ato típico de bancos, enviando
cartão de crédito para a casa de consumidores, sem qualquer solicitação para, na
sequência, efetuar a cobrança da anuidade, já f oi objeto de decisão do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO. PRÁTICA
COMERCIAL ABUSIVA. ABUSO DE DIREITO CONFIGURADO. l. O
envio do cartão de crédito, ainda que bloqueado, sem pedido
pretérito e expresso do consumidor, caracteriza prática comercial
abusiva, violando frontalmente o disposto no artigo 39, III, do Código
de Defesa do Consumidor.2. Doutrina e jurisprudência acerca do
tema. (STJ, REsp 1199117/SP, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, DJe 04/03/2013).

Nesse cenário, o parágrafo único do art. 39 do CDC, dispõe que produtos ou


serviços, como exemplo o envio de cartão de crédito sem ser solicitado, equivale a
amostra grátis, desobrigando o consumidor de pagar a respectiva anuidade, mas, se
utilizar o cartão, arcará com as despesas efetivadas, pois a boa-fé objetiva que rege
49

a relação de consumo ocorre tanto para fornecedor como para o consumidor


(ALVES, 2018). Veja-se jurisprudência:

CONSUMIDOR - SERVIÇOS DE "900" - "DISQUE PRAZER" -


COBRANÇA - NECESSIDADE DE PRÉVIA SOLICITAÇÃO - CDC,
ART. 39, III. - A cobrança de serviço de "900 - disque prazer" sem a
prévia solicitação do consumidor constitui prática abusiva (CDC, art.
39, III). Se prestado, sem o pedido anterior, tal serviço equipara-se
às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento (CDC, art.
39, parágrafo único). - Recurso provido. (STJ - REsp: 318372 SP
2001/0044423-7, Relator: Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, Data de Julgamento: 27/04/2004, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: --> DJ 17/05/2004 p. 213RSTJ vol. 192
p. 330).

Ante sucessivas decisões sobre essa prática, o STJ emitiu a Súmula 532:
“Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e
expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito
à aplicação de multa administrativa”.
Traz-se, ainda, para consolidação do entendimento, decisões de outros
colegiados, começando com a proferida pelo STJ no REsp 1.061.500/RS:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE
CRÉDITO NÃO SOLICITADO E DE FATURAS COBRANDO
ANUIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO. I - Para se presumir o
dano moral pela simples comprovação do ato ilícito, esse ato deve
ser objetivamente capaz de acarretar a dor, o sofrimento, a lesão aos
sentimentos íntimos juridicamente protegidos. II - O envio de cartão
de crédito não solicitado, conduta considerada pelo Código de
Defesa do Consumidor como prática abusiva (art. 39, III), adicionado
aos incômodos decorrentes das providências notoriamente
dificultosas para o cancelamento cartão causam dano moral ao
consumidor, mormente em se tratando de pessoa de idade
avançada, próxima dos cem anos de idade à época dos fatos,
circunstância que agrava o sofrimento moral. Recurso Especial não
conhecido. (REsp 1.061.500/RS, Relator Ministro SIDNEI BENETI.
TERCEIRA TURMA, DJe de 20.11.2008).

Por igual, a decisão do TJRS:


RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. SERVIÇOS
NÃO CONTRATADOS. DANO MORAL. DESOBEDIÊNCIA AO QUE
DISPÕE O ART. 39, III, DO CDC. Possível o reconhecimento de
abalos extrapatrimoniais quando a empresa de telefonia insere em
conta do consumidor serviços os quais não foram contratados. Dano
moral reconhecido, sendo arbitrada importância módica, tendo em
conta mais a recalcitrância à ocorrência do que dano propriamente
50

dito [R$ 3.000,00]. Em decisão monocrática, provido o recurso.


(Apelação Cível Nº 70051848810, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Jorge...(TJ-RS - AC: 70051848810 RS,
Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Data de Julgamento:
09/11/2012, Décima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 16/11/2012)

O primeiro julgado é um recurso especial com responsabilidade civil em uma


ação de indenização por danos morais frente o envio de cartão de crédito não
solicitado e de faturas cobrando anuidade. Dano moral configurado. O segundo
julgado relata empresa de telefonia inserindo, em conta do consumidor, serviços que
não foram contratados, também configurando dano moral.
Se um consumidor vier a sofrer qualquer dano advindo do envio de produto,
que não solicitou, o fornecedor deve se responsabilizar, como assentado pelo STJ:

CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. REMESSA A


CLIENTE DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO.
DEVOLUÇÃO. EXTRAVIO. UTILIZAÇÃO POR TERCEIRO.
INSCRIÇÃO RESTRITIVA EM ÓRGÃOS CADASTRAIS DE
CRÉDITO. DANO MORAL. LEGITIMIDADE PASSIVA E
RESPONSABILIDADE DO BANCO PELO ILICITO. INFRINGENCIA
AO ART.39, III DO CDC. LEGITIMIDADE PASSIVA CONFIRMADA.
SUBUMBENCIA RECIPROCA NÃO CONFIGURADA. JUROS DE
MORA. CONDENAÇÃO EM SENTENÇA. PRECLUSÃO. CPC
ART.530. INEXISTENCIA DE VIOLAÇÃO. I. O banco é parte
legitimada passivamente e comete ato ilícito, previsto no art. 39,
inciso III, da Lei n. 8.078/90, quando, fornecendo ao cliente cartão de
crédito por ele não solicitado, dá-se ulterior extravio e indevida
utilização por terceiros, gerando inadimplência fictícia e inscrição do
nome do consumidor em cadastros restritivos de crédito, causadora
de dano moral indenizável. II. Dada a multiplicidade de hipóteses em
que cabível a indenização por dano moral, aliada à dificuldade na
mensuração do valor do ressarcimento, tem-se que a postulação
contida na exordial se faz em caráter meramente estimativo, não
podendo ser tomada como pedido certo para efeito de fixação de
sucumbência recíproca, na hipótese de a ação vir a ser julgada
procedente em montante inferior ao assinalado na peça inicial.
Precedentes do STJ. III. Não se configura ofensa ao art. 530 do
CPC, se o acórdão dos embargos infringentes, ao se referir aos juros
moratórios, apenas repetiu a decisão proferida monocraticamente
nos aclaratórios, que os inseriu na condenação, sem oposição do
réu, restando preclusa a matéria. IV. Recursos especiais não
conhecidos. (STJ - REsp: 514358 MG 2003/0019708-7, Relator:
Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Data de Julgamento:
16/03/2004, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ
03/05/2004 p. 172).
51

O consumidor se obriga a pagar somente por aquilo que se dispôs,


conscientemente, a adquirir. Por pertinentes ao tema, cita-se decisões do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT):

Ementa:
DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE MÚTUO E INDENIZAÇÃO DE
DANO MORAL. MÚTUOS BANCÁRIOS. PRESTAÇÕES.
CONSIGNAÇÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. ALTERAÇÃO DAS
PRESTAÇÕES DERIVADAS DOS MÚTUOS. DISPONIBILIZAÇÃO
DE NOVOS EMPRÉSTIMOS. AUSÊNCIA DE CONCORDÂNCIA DO
CONSUMIDOR. FALHA NO SERVIÇO. QUALIFICAÇÃO. VALORES
DEPOSITADOS NA CONTA DA CONSUMIDORA REPETIÇÃO.
AMOSTRA GRÁTIS. RECONHECIMENTO. INADMISSIBILIDADE.
DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. DISSABORES E
TRANSTORNOS PROVENIENTES DOS ABATIMENTOS
PROVOCADOS PELOS MÚTUOS NÃO CONTRATADOS.
COMPENSAÇÃO. ADEQUAÇÃO. PRESERVAÇÃO. 1. O envio de
produtos e a prestação de serviços sem solicitação prévia do
consumidor configuram prática comercial abusiva e ilegal, vedada
expressamente pelo legislador de consumo, ensejando a sujeição do
fornecedor que nela incursiona à sanção de o fomentado ser
equiparado e assimilado como amostra grátis, obstando-o de exigir
do consumidor alcançado pelo abuso qualquer contraprestação se
inviável a repetição do produto ou a recusa dos serviços
indevidamente disponibilizados (CDC, art. 39, III e parágrafo único).
2. A disponibilização de importes na conta bancária de consumidor
proveniente de falha nos controles do banco ou de fraude é
impassível de ser enquadrada na vedação legal que repugna a
conduta abusiva de fornecimento de bens ou serviços sem prévia
solicitação, à medida em que, aliado ao fato de que a
disponibilização nessas condições não deriva de prática comercial
agressiva, mas de falha ou fraude, a repetição do indevidamente
disponibilizado é viável e facilmente implementada. 3. Agregado ao
fato de que é facilmente repetível importe indevidamente creditado
na conta do consumidor por falha do banco ou fraude, não se
coaduna com a boa-fé objetiva que deve pautar as relações
negociais e o princípio que repugna o locupletamento ilícito se cogitar
que o importe indevidamente creditado é passível de assimilável
como amostra grátis do produto oferecido pelo banco - fomento de
mútuos -, tornando inviável a repetição do creditado, notadamente
porque nenhum agente financeiro disponibiliza importes sem prévia
contratação como fórmula de difusão de serviços e incremento de
clientela. 4. Emergindo do mútuo contratado em nome da correntista
sem sua participação a imputação das obrigações dele originárias, o
endereçamento de cobranças e o abatimento das prestações dele
derivados dos fundos de que dispunha e estavam endereçados ao
fomento de suas despesas pessoais, provocando-lhe desassossego
e angústia e afetando seu crédito, restam caracterizados os fatos
geradores do dano moral, legitimando que lhe seja assegurada
compensação pecuniária mensurada de conformidade com os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. 5. A
52

compensação pecuniária a ser deferida ao atingido por ofensas de


natureza moral deve ser efetivada de forma parcimoniosa e em
ponderação com os princípios da proporcionalidade, atentando-se
para a gravidade dos danos havidos, para o comportamento do
ofensor e para a pessoa dos envolvidos no evento, e da
razoabilidade, que recomenda que o importe fixado não seja tão
excessivo a ponto de ensejar uma alteração na situação financeira
dos envolvidos, nem tão inexpressivo que redunde em uma nova
mágoa ao ofendido, ensejando sua corroboração se guarda
conformação com esses parâmetros. 6. Apelação conhecida e
desprovida. Unânime. (Acórdão n. 868856, Relator Des. TEÓFILO
CAETANO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 13/5/2015,
Publicado no DJe: 27/5/2015).

Ementa:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. ENCERRAMENTO DE
CONTA BANCÁRIA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO
REQUERIMENTO. ÔNUS DA PROVA. ARTIGO 333 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM
SOLICITAÇÃO. DANOS MORAIS. 1. A parte autora tinha a
obrigação de comprovar providenciou o pedido de encerramento da
conta bancária. Nos termos do artigo 333 do Código de Processo
Civil, cumpre à parte autora fazer prova do fato constitutivo de seu
direito. Não se desincumbido de seu ônus, não se mostra possível
reconhecer o direito vindicado. 2. O envio de cartão de crédito sem
prévia solicitação configura prática comercial abusiva e enseja
responsabilização por danos morais. 3. Apelação parcialmente
provida.
Decisão: CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO POR MAIORIA, VENCIDA A REVISORA. Termos
Auxiliares à Pesquisa: VIDE EMENTA. VOTO VENCIDO:
IMPROCEDÊNCIA, INDENIZAÇÃO, DANO MORAL,
INOCORRÊNCIA, INADIMPLEMENTO, CONTRATO,
INEXISTÊNCIA, VIOLAÇÃO, DIREITO DA PERSONALIDADE,
CARACTERIZAÇÃO, MERO ABORRECIMENTO. (disponível em:
<https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-
web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresent
acao.VisaoBuscaAcordaoGet&numeroDoDocumento=829892>.
Acesso em set. 2020).

Ementa:

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL


DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DÉBITO EM CARTÃO DE
CRÉDITO. ALEGADA FRAUDE DE TERCEIRO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. MÁ PRESTAÇÂO DE SERVIÇO
QUE NÂO SE CONFUNDE COM MÁ-FÉ. RESTITUIÇÃO DOS
ENCARGOS BANCÁRIOS DE FORMA SIMPLES. DANO MORAL.
INEXISTÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. ART. 21 DO CPC. 1. Reconhece-se a
responsabilidade objetiva da instituição financeira pelos danos
advindos de sua conduta, diante da não comprovação da culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiros, conforme disposto no art.
22 do CDC. 2. Considera-se que é obrigação da administradora de
53

cartão de crédito cancelar obrigação lançada equivocadamente por


terceira pessoa, diante da ausência de autorização de débito. 2.1. O
banco comete falha na prestação do serviço, ao não oferecer a
segurança adequada e permitir que seja lançada aquisição de nova
passagem aérea, mediante ação de terceiro, autorizando cobrança
indevida no cartão de crédito. 3. Diante da cobrança indevida, do
efetivo pagamento das faturas pelo autor e engano injustificável, face
à inexistência de qualquer fundamento negocial para os descontos
ilicitamente realizados, impõe-se a devolução de forma simples, uma
vez não comprovada má-fé do banco, não se podendo confundir má
prestação de serviços com má-fé na prestação de serviços. 4. Não
obstante a responsabilidade objetiva do banco, que por isso foi
condenado ao ressarcimento de valores indevidamente sacados,
indevida é a condenação por danos morais. 4.1. Suposta resistência
do estabelecimento bancário em não resolver administrativamente o
problema relacionado a débito indevido, não enseja, por si só, o
direito do consumidor à percepção de indenização por danos morais,
por não se perceber angústia, aflição, vexame ou constrangimento
exacerbado a justificar tal condenação. 5. A fim de se garantir
integral reparação do dano sofrido pelo consumidor, com o seu
retorno ao estado anterior, impõe-se o reconhecimento que o
fornecimento de limite de crédito na conta corrente, com cobrança de
taxas e encargos bancários, sem solicitação do consumidor configura
prática abusiva, (art. 39, III, do CDC) a dar ensejo à sua restituição,
sobretudo porque deu causa ao seu desequilíbrio financeiro. 6.
Sendo cada litigante em parte vencedor e vencido, devem recíproca
e proporcionalmente serem distribuídos e compensados os
honorários advocatícios e despesas processuais. Apenas a
sucumbência mínima do autor autorizaria a imposição integral das
despesas processuais e honorários advocatícios ao réu, de acordo
com a regra do parágrafo único do artigo 21 do Código de Processo
Civil.
7. Apelos providos parcialmente. Decisão: NÃO CONHECER DO
AGRAVO RETIDO. CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO A
AMBOS OS RECURSOS. UNÂNIME. (Acórdão N. 610583, Relator:
João Egmont, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 25/07/2012,
Publicado no DJE: 17/08/2012. p.: 126). Disponível em:
<https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-
web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresent
acao.VisaoBuscaAcordaoGet&numeroDoDocumento=610583>.
Acesso em set. 2020.

Essa prática abusiva, proibida pelo ordenamento jurídico e vem, como visto,
sofrendo contínua sanção pelo Judiciário:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE
CRÉDITO NÃO SOLICITADO PELO CONSUMIDOR. DANOS
MORAIS OCORRENTES. 1. O envio de cartão de crédito não
solicitado pelo consumidor gera abalo moral indenizável, que decorre
da própria ilicitude da conduta perpetrada pelo fornecedor. 2. Valor
indenizatório fixado em R$5.000,00 (cinco mil reais). Quantia que
54

assegura o caráter repressivo e pedagógico da indenização e,


também, não pode ser considerada elevada bastante a configurar
enriquecimento sem causa da parte autora. 3. Juros de mora de 1%
ao mês incidentes a contar do evento danoso (Súmula 54 do STJ) e
correção monetária pelo IGP-M a partir do arbitramento (Súmula 362
do STJ). RECURSO PROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul. AC: Nº 70073394215 RS. Quinta
Câmara Cível. Relator: Isabel Dias Almeida. Rio Grande do Sul, 30
ago. 2017).

Um exemplo de fornecimento não solicitado é quanto a cartão de crédito não


requerido por consumidor. Sobre a conduta constante especifica do inciso III, do art.
39 do CDC, Bolzan (2013, p. 735) assevera que:

Trata-se de comportamento abusivo, despido de qualquer justificativa


e merecedor da consequência que equipara o produto ou o serviço
fornecido nestes termos a amostras grátis. Assim, no caso do
recebimento de um cartão de crédito sem solicitação, geralmente
acompanhado de uma carta do gerente do banco, parabenizando-o
pela contratação do serviço, não haverá a necessidade de pagar a
anuidade. Claro que se o consumidor utilizar o citado serviço de
crédito terá que pagar a fatura respectiva e não poderá invocar a
consequência do parágrafo único do art. 39, sob pena de violar o
princípio da boa-fé objetiva, que também deverá ser cumprido pelo
vulnerável, por nortear toda a relação de consumo.

As operadoras que remetem cartões de crédito sem solicitação realizam


prática abusiva descrita no CDC, artigo 39:

É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas: [...] III – enviar ou entregar ao consumidor, sem
solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
[...]. Ainda, as operadoras não podem cobrar qualquer taxa ou
anuidade visto que o fato descrito se amolda ao parágrafo único do
artigo em comento: Os serviços prestados e os produtos remetidos
ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento (SAAD, 2006, p. 93).

Também, quando administradoras colhem dados de consumidor para


remeter cartão de crédito, violam a privacidade do cidadão. Casos de destaque na
jurisprudência:

Apelação cível. Indenizatória. Danos Morais. CDC. Cartão de Crédito


Bloqueado Indevidamente. Ausência de comunicação prévia.
Sentença Julgando Procedente o pedido, condenando a Ré ao
55

pagamento de indenização por danos morais no valor de R$


4.000,00. Recursos conhecidos e não providos (RIO DE JANEIRO.
TJ, Sexta Câmara Cível, Apelação 2008.001.06549, Des. Gilberto
Rego, Julgamento em 09.04.2008.).

Ação indenizatória ajuizada com o objetivo de ver reconhecida a


responsabilidade civil do banco réu pela remessa não solicitada de
cartão de crédito e cobrança indevida de valores a ele referentes.
Pretensão de ver cancelado o cartão, declarada a inexistência do
débito e ressarcido o dano moral. Sentença de parcial procedência
que deixou de acolher o pedido de indenização por dano moral.
Apelação da Autora. Relação de consumo. Presença dos elementos
configuradores da responsabilidade civil objetiva, evidenciados na
prática de conduta vedada pelo art. 39, III, do C.D.C. e pela cobrança
indevida de valores que só não foi a causa suficiente da inscrição do
nome da Apelante em cadastro desabonador por se tratar de cidadã
consciente de seus direitos e que tomou as medidas preventivas
cabíveis, acionando o Poder Judiciário para evitar maiores danos à
sua esfera jurídica. Verba reparatória que se arbitra em R$ 8.300,00
(oito mil e trezentos reais), acrescidos de correção monetária a partir
da data desta decisão e juros moratórios a partir da data da citação.
Ônus sucumbenciais a serem suportados pelo Apelado, fixando-se
os honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação.
Recurso ao qual se dá provimento (RIO DE JANEIRO. TJ, Oitava
Câmara Cível, Apelação 2008.001.28532, Des. Orlando Secco,
Julgamento em 01.07.2008).

As operadoras de cartões de crédito são responsáveis pela qualidade do


serviço prestado assim como pelos excessos cometidos em desfavor do consumidor
(BESSA, 2006). A vulnerabilidade do consumidor decorre do princípio constitucional
da isomia, partindo-se da ideia que “os desiguais devem ser tratados de forma
desigualmente na proporção de suas desigualdades, a fim de que se obtenha a
igualdade desejada” (ESPINDOLA, 2012, p. 9). Sob o tema percebe-se a existência
de três vulnerabilidades:

1) técnica: o consumidor não conhece especificamente o objeto


adquirido, logo, é facilmente enganado quanto as características ou
ou quanto a utilidade do bem ou do serviço;
2) Jurídica ou científica: Caracterizada pela falta de conhecimentos
jurídicos específicos, de contabilidade ou de economia;
3) Fática ou sócio-econômica: Relacionada a posição de monopólio
fático jurídico, por seu grande poder econômico ou em razão da
essencialidade do serviço impõem sua superioridade a todos que
com eles contratam (ESPINDOLA, 2012, p. 9).

Para Silva (2008, p. 139), frente as práticas do art. 39, do CDC, leciona:
56

A conclusão que pode se tirar referente às práticas abusivas é que,


apesar de serem proibidas, muitos fornecedores insistem em realizá-
las. O porquê disto é bastante simples: além da explicação dada pela
Teoria dos Jogos, é sempre ínfimo o número de consumidores que
reclamam e buscam seus diretos, talvez por desinformação ou em
decorrência dos valores dos danos gerados pela práticas.

Pode-se tirar a seguinte reflexão, segundo Felippo (2012, p. 37):

[...] que o consumidor de certa forma é passivo em relação à


reivindicação de seus direitos, pois em face ao pequeno número de
consumidores que realmente buscam o que a lei lhes autoriza, há o
permissivo ao fornecedor para não cumprir com o que a lei lhe
proíbe, legitimando a máxima de que neste caso o crime compensa.
De uma maneira geral é mais barato aos fornecedores pouco
corretos, os quais com base na fórmula de custo-benefício, concluem
ser mais econômico não cumprirem com todos ou alguns direitos dos
consumidores, pois sabem que estes não são exigentes a ponto de
buscarem esses direitos. Financeiramente é mais barato ao
fornecedor não atender a todos os direitos dos consumidores,
valendo mais a pena o risco ser chamado a responder pontualmente,
do que cumprir a lei e agir de acordo com os mandamentos legais.
Conta com a complacência do consumidor na busca de seus direitos.

Por todo o exposto, verifica-se a firme atuação do Judiciário no sentido de


garantir o direito do consumidor ante o abuso praticado por fornecedores de
produtos e serviços.
57

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho apresentou concepções acerca do direito do consumidor


e suas relações consumeristas. O Código de Defesa do Consumidor se materializa
em uma lei principiológica, melhor dizendo, institui princípios básicos para
fundamentar sua interpretação. Destaca-se que observar os referidos princípios têm
por objetivo tutelar legalmente os consumidores na ocorrência de práticas abusivas
estabelecendo a responsabilidade dos fornecedores pelos danos causados.
Inexiste no Código de Defesa do Consumidor uma concepção concreta
acerca do conceito de relação de consumo. O legislador deu preferência ao
estabelecimento da definição de consumidor e fornecedor, bem como também da de
produto e serviço. Para se considerar consumidor basta que a aquisição ou
utilização de um produto ou serviço na condição de destinatário final, não
interessando o uso particular ou profissional do bem. Prevalece no Brasil a
concepção de que consumidor precisa ser destinatário final fático e econômico. O
CDC em seu artigo 3º estabelece um conceito de fornecedor mais amplo,
considerando aqueles participantes em fornecer produtos e serviços no mercado
consumerista, que satisfaçam as demandas de consumidor habitual no comércio.
Em suma, fornecedor é todo aquele que exerce atividade produtiva com
habitualidade. A definição da lei brasileira frente ao produto, confere uma concepção
muito ampla, englobando aquilo que possa ser alvo de uma relação jurídica, desde
que satisfaça as necessidades humanas e tenha valor econômico aferível. Entende-
se por serviço toda atividade que esteja disponível no mercado que possamos
comprar, excetuando-se as da relação de emprego, existente entre empregado e
empregador.
Pode-se caracterizar práticas abusivas como sendo aquelas ações ou
condutas que, se existentes, se caracterizam c omo ilícitas, indiferente de existir ou
não algum consumidor lesado. No tocante a enviar ou entregar ao consumidor, sem
solicitação prévia, qualquer produto, ou serviço, o consumidor só está obrigado a
pagar por aquilo que se dispôs, conscientemente, a adquirir. Por isso, a regra do
CDC é de a que o produto ou serviço só pode ser fornecido se houver solicitação
prévia. Caso não o seja, conforme entendimento pacífico, o produto será
considerado amostra grátis. Já a prestação de serviço não poderá ser cobrada.
Ambos os casos demonstram o direito do consumidor assegurado frente ao
58

fornecedor que, por descuido, ou intencionalmente, pratica essas ações abusivas. O


fornecimento não solicitado é uma prática muito corriqueira e abusiva do mercado.
59

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