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CENTRO UNIVERSITÁRIO SOCIESC DE BLUMENAU - UNISOCIESC

JOAO VICTOR MELATO

APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS


CONTRATOS DE SEGURO

BLUMENAU
2021/2
JOAO VICTOR MELATO

APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS


CONTRATOS DE SEGURO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário
Sociesc de Blumenau – UNISOCIESC,
como requisito parcial à obtenção de
título de Bacharel em Direito.

Orientadora - Ma. Silvia Helena Arizio

BLUMENAU
2021/2
JOAO VICTOR MELATO

APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS


CONTRATOS DE SEGURO

Este trabalho foi conferido e


aprovado pela Banca Examinadora da
Instituição de Ensino UNISOCIESC,
dando o título de Bacharel em Direito à
sua autora.

Aprovado em: ___/___/_____.

_________________________________________________
Orientadora: Prof.ª Silvia Helena Arizio

_________________________________________________
Membro da banca

_________________________________________________
Membro da banca
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus pais,


minha companheira e a orientadora.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que participaram, objetiva e subjetivamente no decorrer


destes 5 anos, bem como na confecção deste trabalho de conclusão de curso, que
se deu sob suor e lagrimas, em primeiro lugar Deus, em seguida meus amados pais
e minha companheira que sempre me deram todo o suporte emocional necessário, e
por fim, mas não menos importante, minha excepcional orientadora e amiga Ms.
Silvia, uma pessoa sem precedentes. Obrigado.
Epígrafe: Suba o primeiro degrau com fé. Não é
necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro
passo.
Martin Luther King
RESUMO

Trata-se de uma revisão de literatura cuja temática abordada é a incidência do


Código de Defesa do Consumidor nas relações provenientes da contratação de
seguros. Sabe-se que com o avanço da ocorrência de eventos alheios a vontade
humana, mesmo que previsíveis, a busca pela contratação de seguros aumento
consideravelmente, de modo as discussões sobre a temática tanto na doutrina como
na jurisprudência também cresceu. Assim sendo, o objetivo principal deste estudo é
justamente analisar o enquadramento da contratação de seguros como relação de
consumo. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em livros, legislação,
jurisprudência e materiais publicados em bases de dados eletrônicos. Como
principal resultado, encontrou-se que o Código de Defesa do Consumidor deve ser
aplicado nas relações advindas da contratação de seguro, uma vez que a
lesgislação espefícica sobre o tema não é capaz de, sozinha, proteger a parte
hipossuficiente da relação: o segurado.

Palavras-chave: Contrato de seguro. Código de Defesa do Consumidor. Incidência.


Proteção.
ABSTRACT

This is a literature review whose thematic addressed is the impact of the Consumer
Defense Code on relations arising from the contracting of insurance. It is known that
with the advance of the occurrence of events beyond human will, even if predictable,
the search for contracting insurance has increased considerably, so discussions on
the subject both in doctrine and in jurisprudence also grew. Therefore, the main
objective of this study is precisely to analyze the framing of contracting insurance as
a consumption relationship. Therefore, a bibliographical research was carried out in
books, legislation, jurisprudence and materials published in electronic databases. As
a main result, it was found that the Consumer Defense Code should be applied in the
relationships arising from the contracting of insurance, since the specific legislation
on the subject is not capable of, alone, protecting the under-sufficient part of the
relationship: the insured.

Keywords: Insurance contract. Consumer Protection Code. Incidence. Protection.


LISTA DE SIGLAS

CC Código Civil
CDC Código de Defesa do Consumidor
CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados
DPVAT Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via
Terrestre
FENASEG Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados
SUSEP Superintendência de Seguros Privados
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRIA DO INSTITUTO DO SEGURO ................... 9
1.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SEGURO ............................................................ 9
1.2 Das espécies de seguro.................................................................................... 12
1.2.1 Seguro de pessoas......................................................................................... 12
1.2.2 Seguro de dano .............................................................................................. 14
2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS E PRINCÍPIOS DO CONTRATO DE SEGURO 16
2.1 PRINCÍPIOS DO CONTRATO DE SEGURO ...................................................... 16
2.1.1 Princípio da boa-fé ......................................................................................... 17
2.1.2 Princípio do mutualismo................................................................................ 18
2.1.3 A função social do seguro ............................................................................. 19
2.2 Os elementos do contrato de seguro .............................................................. 20
2.2.1 O prêmio.......................................................................................................... 20
2.2.2 O risco ............................................................................................................. 21
2.2.3 A indenização ................................................................................................. 22
2.2.4 A proposta ...................................................................................................... 23
2.2.5 A apólice ......................................................................................................... 24
2.2.6 Sinistro ............................................................................................................ 25
3 A CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS DE SEGURO........................................ 27
3.1 BILATERAL ......................................................................................................... 27
3.2 Oneroso.............................................................................................................. 27
3.3 Comutativo e aleatório ...................................................................................... 28
3.4 Consensual ........................................................................................................ 29
3.5 Nominado ........................................................................................................... 29
3.6 Adesão ............................................................................................................... 29
3.7 Das partes .......................................................................................................... 30
3.7.1 O segurador .................................................................................................... 30
3.7.2 O segurado ..................................................................................................... 32
3.7.3 O beneficiário ................................................................................................. 33
3.8 O profissional corretor de seguros ................................................................. 34
4 O DIREITO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO ...................................................... 36
4.1 OBJETIVOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR .................................................. 38
4.2 Do conceito de consumidor ............................................................................. 39
4.3 Conceito de fornecedor .................................................................................... 43
4.4 Princípios gerais do Código de Defesa do Consumidor................................ 44
5 A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS
CONTRATOS DE SEGURO ..................................................................................... 46
5.1 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR DE SEGUROS.................................. 47
5.1.1 Da publicidade abusiva ou enganosa........................................................... 48
5.1.2 Direito à informação ....................................................................................... 50
5.2 Da inversão do ônus da prova ......................................................................... 54
5.3 Das cláusulas abusivas e limitadoras ............................................................. 58
5.4 Analisando as cláusulas limitativas e restritivas de direitos sob a
perspectiva do CDC ................................................................................................ 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 66
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 68
8

INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos tem aumentado o temor da sociedade para com o
acontecimento de eventos alheios a sua vontade, dentre estes, destacam-se:
aciedentes, roubos, furtos, mortes, eventos da natureza, etc. Sabe-se que tais
ocorrências podem acarretar tanto em danos materiais, que podem ser reparados,
como em danos morais/pessoais, os quais são normalmente resultantes de
falecimento.
Assim, houve uma larga procura por contratação de seguros, visando a
prevenção, por meio de pagamento de seguro, em caso de sinistro, sendo o prejuízo
suportado pelos contratantes ou somente pela seguradora. Por consequência, houve
grande busca pela capacitação para o desenvolviemnto da atividade de corretagem
de seguros também, uma vez que o mercado teve grande expansão.
Ocorre que, embora tudo pareça simples, a relação entre o segurado e o
segurador apresenta-se como dotada de peculiaridades e que normalmente
acarretam em discussões frequentes tanto no campo doutrinário como no
jurisprudencial, e com isso, a legislação nos últimos anos dedicou a compreendê-la
como relação de consumo, uma vez que a contrataçaõ de seguro é definida pelo
Código de Defesa do Consumidor como sendo proveniente de consumo.
Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo geral o de analisar a
incidência do Código de Defesa do Consumidor nos contratos de seguro. Tem-se
ainda os objetivos específicos de: analisar a evolução do Direito Securitário;
apresentar os elementos constitutivos do contrato de seguro; verificar os direitos do
consumidor, previstos no CDC, indicentes na relação entre o segurado e o
segurador.
Para tanto, utilizou da revisão de literatura, cujo método é o qualitativo. A
pesquisa desenvolvida foi por meio da consulta em fontes secundárias: livros, teses,
monografias, legislações e artigos publicados em bases de dados eletrônicos, bem
como, análise de legislações e jurisprudências.
9

1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRIA DO INSTITUTO DO SEGURO

Neste primeiro capítulo serão abordados os principais conceitos doutrinários e


os dados históricos acerca do instituto do seguro, demonstrando a importância deste
para a sociedade desde os tempos mais remotos até os tempos mais atuais.

1.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SEGURO

A busca pela proteção jurídica de seus bens e interesses fez com que a
sociedade desse surgimento à um novo instituto legal: o seguro. O referido instituto
tem por finalidade garantir a segurança contra eventos que não podem ser previstos,
ou quando previstos, não podem ser evitáveis.
Acerca desse contexto histórico, Silva (2008, p. 02) contribui com o seguinte
entendimento:

[...] na prática de suas atividades mercantis de compra e venda de animais,


eram obrigados a percorrer inóspitas regiões desérticas e, em função dessa
atividade insalubre, não raro tinha-se a perda de um camelo, que, diga-se
de passagem, representava o mais importante instrumento destinado a
promover o sustento dos indivíduos pertencentes àquele grupo. [...]
Contudo, para evitar que o efeito da perda daqueles animais fosse
suportado apenas por um integrante do grupo, os cameleiros passaram a
firmar pactos de cooperação mútua para que, na hipótese de perda do
camelo, todo o grupo prestasse auxílio à vítima para reconstituí-la ao status
quo ante.

Para Siqueira (2008, p. 17) “o mais antigo documento que transcreve a


atividade de seguros, próximo ao conceito que utilizamos hoje, de transferência de
risco por um prêmio financeiro, é encontrado no Código de Hamurábi, na Babilônia,
cerca de 1700 a. C.”. O documento mencionado pelo autor tinha como objetivo
incentivar o comércio e a riqueza do local, mediante a atividade que era sofisticada
na época, por meio da realização de empréstimos e seguro para caravanas, os
quais eram pagos somente quando do retorno das embarcações ao ponto de origem
e após a realização da vistoria, bem como, da análise dos lucros e prejuízos
proporcionados.
No Código de Hamurábi haviam normas jurídicas que abrangiam várias áreas
da sociedade, mesclando entre as temáticas: militar, civil, política e comercial. No
campo comercial, o Código estabelecia uma sociedade comercial mutualista, onde
10

compreendia que o grupo se responsabilizaria pelo melhor prejuízo do que o


individualmente. Explicando tal previsão, Siqueira (2008, p. 17) dispõe:

O Código de Hamurábi, Rei da Babilônia, editado por volta do ano 1700


a.C., é um texto amplo, centrado na proteção à vida e à propriedade. Os
seus 282 artigos abordam diferentes assuntos, que hoje são tratados no
direito comercial, civil e penal. O código apresenta a primeira referência
conhecida sobre a atividade de seguro, descrevendo algumas práticas
usadas pelo mercado, como a pulverização do risco em diferentes
caravanas e a subscrição do seguro por diversos subscritores, que
garantiam com seu nome e fortuna o eventual sinistro. O não cumprimento
das obrigações ou a fraude eram punidos com extrema severidade

O autor supracitado discorre ainda que, com o fim da Babilônia, os


caravaneiros passaram a adotar a prática de que os participantes se
responsabilizariam com o seguro da expedição, no entanto, a perda das
mercadorias, animais e demais pertences, era distribuída entre os participantes da
caravana, o que, consolidou-se como retrocesso, uma vez que não poderiam utilizar
os lucros para aumentar seu negócio, levando em consideração que o risco era
distribuído somente a uma caravana, aumentando os riscos e diminuindo os lucros.
Importante destacar ainda sobre a teoria defendida por Sene (2008), que
consiste no entendimento de que os Fenícios donos de barcos estabeleceram
associações com vistas a auxiliar uns aos outros quando em meio à fúria do mar,
quando do naufrágio de suas embarcações. A prática se manteve por séculos e
ganhou aperfeiçoamento em meados do século XII, quando surgiu a primeira
modalidade formal de mercadorias transportadas, e quando do final da viagem, caso
não ocorresse nenhum sinistro o valor era devolvido com juros ao financiador. Sobre
o assunto, Guimarães (2002, p. 16) contribui:

Por força de suas cláusulas, um financiador emprestava ao navegador


dinheiro correspondente ao valor da embarcação e das mercadorias
transportadas. Se não houvesse acidente, o navegador devolvia o dinheiro
ao financiador acrescido de juros. Em caso de sinistro, que era justamente o
acidente com o navio/mercadorias transportadas, o dinheiro não era
devolvido.

Com o passar dos séculos e com a expansão marítima que se desenvolveu


na Europa é que os contratos de seguros se tornaram cada vez mais sofisticados,
de modo que, surgiu na Itália em 1385 a primeira apólice de seguro. Com essa
modalidade, em conjunto com os acréscimos de garantias maiores, tal prática
11

passou a ser aceita em toda a Europa, fazendo com que demais setores da
sociedade passassem a adotar e se adaptarem ao seguro, de modo que então
surgiu as normas regulamentadoras. Desse modo, Silva (2008, p. 10) dispõe:

No alvorecer da Renascença, período em que o comércio – e a já indústria


nascente ostentava inquestionável patrimônio – era objeto de
acentuada movimentação financeira, motivo pelo qual é de considerar
que os bens ficavam sujeitos aos diversos riscos provenientes da
própria atividade ou, não raro, por circunstâncias naturais, verificamos que
o Estado – a exemplo do que se mostrou uma constante em épocas
posteriores – passou a regulamentar as operações securitárias e, nesse
sentido, em 1435 surgiram as Ordenações de Barcelona, com o fim de
legislar a respeito do seguro. Diante desse mister estatal, foi criado um
tribunal especializado para julgamento das matérias e proibida a prática
abusiva de certas operações que desfiguravam a natureza do contrato.

No Brasil, somente em 1808, com a chegada da Família Real é que o Brasil


começou a levar a sério assuntos relacionados aos seguros, ainda que já houvesse
diversas tentativas de regulamentação dos contratos e dos trabalhos desenvolvidos
pelos então corretores. Nesse período, foi criado o Banco do Brasil, expandido e
incentivada a abertura de fábricas e de portos para o comércio internacional. De
acordo com Siqueira (2008), foi fundado no mesmo ano, em 24 de fevereiro, a
primeira seguradora brasileira, a Companhia de Seguros Boa-fé, cujo operação se
dava com ênfase em seguros marítimos, no entanto, logo expandiu seu campo de
atuação:

Sob os auspícios dessa abertura econômica, foi criada, também em 1808, a


primeira companhia seguradora, chamada Boa-Fé, cujas normas se
regulavam pela Casa de Seguros de Lisboa e, em seguida, também na
Bahia, foi autorizada a atividade da Companhia de seguros Conceito
Público. No Rio de Janeiro, em 1810, foi permitido o funcionamento da
identidade. Ambas voltadas para o comércio marítimo (AZEVEDO, 2008, p.
92).

A partir de 1850 é que houve regulamentação do Código Comercial sobre o


assunto, de modo que ocasionou verdadeira evolução no ramo de seguro, atividade
a qual era regulamentada somente pela legislação portuguesa. Desse modo,
passaram a surgir diversas seguradoras no mercado, atuando em diversas áreas
comerciais.
Com o advento do Código Civil de 1916, os seguros de modo geral passaram
a ser regulamentados, conjuntamente com o Código Comercial. Ambos os códigos
disciplinavam direitos e obrigações das partes com o intuito de organizar e garantir
12

os direitos das partes envolvidas no contrato.


Em 1951 foi fundada a Federação Nacional das Empresas de Seguros
Privados e de Capitalização – FENASEG – com sede na cidade do Rio de Janeiro,
cujo principal objetivo era garantir a proteção das empresas do segmento. A
legislação especial sobre a regulamentação das operações de seguros e resseguros
foi promulgada somente em 1966, mediante o Decreto Lei nº 73, o qual se encontra
em vigor até os dias atuais, no entanto, com diversas alterações ao longo do tempo.
O decreto regulamenta todas as espécies de seguros, de modo que criou a
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), sendo autoridade no ramo
securitário e segmentos pertinentes. (AZEVEDO, 2008)
Ainda em sede de evolução, em 1971 foi fundada a Fundação Nacional de
Seguros, por José Lopes de Oliveira, cuja inspiração veio do modelo de escola
francês, que buscava estimular novos indivíduos a trabalhar no mercado,
promovendo conhecimento e aperfeiçoamento profissional na área:

Em 1971, é criada a Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg),


promovendo o aperfeiçoamento do mercado de seguros por meio do
desenvolvimento e da disseminação de conhecimento e da capacitação de
profissionais, formando e habilitando corretores de seguros, além de atuar
no ensino superior, após autorização do MEC, em 2005, conferindo grau de
bacharelado em Administração, com linha de formação e seguros e
previdência privada, tornando-se, assim, o “braço acadêmico” do mercado
segurador. (AZEVEDO, 2008, p. 93)

Diante de tamanha evolução e cada vez mais participante do cotidiano social,


a temática que envolve os contratos de seguro ainda gera diversas discussões, tanto
na doutrina como na jurisprudência brasileira, principalmente por se tratar do caráter
vulnerável do consumidor, o qual nessa relação ocupa o posto de segurado.

1.2 DAS ESPÉCIES DE SEGURO

1.2.1 Seguro de pessoas

O seguro de pessoas tem por finalidade beneficiar a vida e as faculdades


humanas. Nessa modalidade de seguro não possui o sentido indenizatório, haja
vista que a vida, levando em consideração o sentido jurídico, não pode ser objeto de
avaliação. Sendo assim, quando ocorrer algum sinistro, o valor a ser pago leva o
13

nome de capital e não indenização. (COELHO, 2003)


Uma das modalidades de seguro de pessoas mais famosas é o seguro de
vida, o qual tem como finalidade proporcionar uma renda aos beneficiários em caso
de falecimento do segurado, com vistas a evitar o desequilíbrio no padrão social da
família em função da morte do membro familiar. Sendo assim, o capital terá natureza
alimentar e será necessário ao sustento familiar do falecido. (BITTENCOURT, 2004)
Em função do caráter não indenizatório do valor a ser pago em caso de
ocorrência de sinistro no seguro de pessoas, é lícito ao segurado adquirir quantos
seguros o mesmo achar conveniente, como determina o art. 789 da Código Civil de
2002:

Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente


estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o
mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.

Importante mencionar que na modalidade de seguro de pessoas, o


consumidor tem liberdade para escolher o capital desejado, uma vez que também
possui limite para tanto, haja vista que não possui caráter indenizatório.
Ainda no tocante o caráter alimentar do capital do seguro de vida, cabe
destacar o que o Código Civil dispõe:

Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte,


o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se
considera herança para todos os efeitos de direito.

Diferente de como ocorre na herança, o capital a ser pago no caso de morte


do segurado não passará a integrar o patrimônio do falecido, ou seja, não poderá
ser revertido aos herdeiros ou ao espólio, deverá ser transmitido somente para o
beneficiário do seguro e, consequentemente, a soma não poderá sofrer desconto do
imposto sobre transmissão causa mortis e doação – ITCD.
Quanto ao seguro de acidentes pessoais, consiste na modalidade contratual
que é destinado a indenizar em dinheiro a invalidez permanente total ou parcial;
diárias de incapacidade temporária; assistência médica ou reembolso das despesas
com a assistência. Via de regra a indenização será para o próprio segurado, no
entanto, em caso de acidente causador do sinistro resultar em morte, a indenização
pecuniária será para os beneficiários. (GONÇALVES, 2004)
14

Sendo assim, em ambas as modalidades, embora possuem tratamento


semelhante, não podem ser confundidas. No seguro de vida existe a cobertura para
a morte propriamente dita, qualquer que seja a causa, enquanto no seguro por
acidentes pessoais tem-se a cobertura para acidentes sofridos, incluindo a invalidez
e até a própria morte, desde que a mesma seja advinda de evento súbito, externo,
violento e involuntário. Diferente do seguro contra acidentes pessoais, o seguro de
vida cobre a morte natural.

1.2.2 Seguro de dano

O seguro de dano, por sua vez, é aquele que tem por função indenizar
prejuízo sofrido em bens do segurado, ou seja, tem por finalidade uma
recomposição patrimonial. O seguro de dano pode ser dividido da seguinte forma:
seguro de coisas (bens imóveis, móveis e semoventes); e seguro de
responsabilidade civil, o qual cobre danos praticados pelo segurado diante de
terceiros. (GONÇALVES, 2004)
Diferentemente do seguro de pessoas, nessa modalidade há critérios
objetivos de fixação de valores máximos indenizáveis. Por exemplo, a avaliação de
um imóvel ou de um automóvel, realizada por um perito da seguradora, pode ser
então considerado como critério objetivo para se fixar o valor da indenização,
situação que acontece diferente na modalidade de seguro de pessoa, onde a vida de
alguém não pode ser objeto de avaliação.
No tocante a legitimidade para aquisição do contrato de seguro de dano,
Franco (2009) ensina que qualquer pessoa pode possuir um interesse direto em um
bem, com vistas a sua conservação ou quando da ocorrência do sinistro, a mesma
está legitimada a contratar e não apenas o proprietário da coisa. Portanto, o
proprietário, bem como o credor hipotecário de determinado imóvel possuem
legitimidade para contratar seguro para o bem.
O contrato de seguro não pode estar destinado a se obter lucro, assim, no
seguro de dano a situação não é diferente. Assim, o valor da garantia não pode ser
superior ao valor do bem assegurado, como determina o Código Civil:

Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o
valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob
pena do disposto no art. 76665, e sem prejuízo da ação penal que no caso
15

couber.

As seguradoras utilizam com frequência a conhecida Tabela Fipe, a qual foi


elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, que tem por objetivo
expressar a média do preço de cada automóvel, a qual é adotada nas negociações e
avaliações. Na prática do mercado de vendas de seguro, é admissível a contratação
de seguro patrimonial de automóvel até o valor de 110% no tocante ao preço do
automóvel determinado pela Fipe. (TARTUCE, 2012)
Quanto ao seguro de responsabilidade civil facultativo, este é uma
modalidade securitária inserida nos seguros de dano. Para Silva (2008) tal
modalidade consiste em ser aquela na qual, mediante prêmio estipulado, o
segurador garante ao segurado a indenização que lhe seja imposta, baseada em
fato que seja acarretada obrigação de reparar o dano.
O autor supracitado discorre ainda que, a função do seguro de
responsabilidade civil é de fornecedor ao segurado métodos para o cumprimento de
suas obrigações, com vistas a impedir que seu patrimônio seja afetado, sendo
assim, a seguradora assume tal responsabilidade, indenizando a vítima de ato lesivo
que seja praticado pelo segurado até o valor do seguro.
Importante destacar a diferença entre os conceitos de seguro de dano e
seguro de responsabilidade civil facultativo:

Distingue-se do seguro de dano direto (coisa) à medida que sua finalidade


não é garantir uma coisa determinada no patrimônio do seguro, mas o
patrimônio como um todo. É um seguro de dívidas, pois o dano que se quer
prevenir resulta de uma ação de reparação.

O Seguro do Trânsito - Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores


de Via Terrestre (DPVAT), é considerado como sendo um seguro de
responsabilidade civil, o qual até 2020 era considerado como obrigatório, no entanto,
encontra-se suspenso de pagamento até o momento, mediante resoluções
publicadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados em dezembro de 2020,
quais sejam: Resolução nº 398, 399 e 400.
16

2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS E PRINCÍPIOS DO CONTRATO DE SEGURO

A base principal para a conceituação do seguro é o que dispõe o art. 757 do


Código Civil: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o
pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa
ou a coisa, contra riscos predeterminados”.
Acerca disso, Diniz (2005, p. 45) dispõe sobre seu entendimento do conceito
do contrato de seguro:

Pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com a outra
(segurado), mediante pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse
legítimo relativo à pessoa ou a coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente
de riscos futuros previstos no contrato.

O seguro consiste na modalidade de garantia, o qual é regido pela legislação


e estatística próprias, considerando o risco, possibilita ao segurado que seja então
ressarcido em caso de possíveis perdas ou danos, conforme previamente previsto
no contrato.
Desse modo, Tartuce (2017, p. 564) dispõe sobre as peculiaridades no
tocante a natureza jurídica dos contratos de seguro:

O contrato de seguro é um contrato bilateral, pois apresenta direitos e


deveres proporcionais, de modo a estar presente o sinalagma. Constitui um
contrato oneroso pela presença de remuneração, denominada prêmio, a ser
pago pelo segurado do segurador. O contrato é consensual, pois tem
aperfeiçoamento com a manifestação de vontade das partes. Constitui um
típico contrato aleatório, pois o risco é fator determinante do negócio em
decorrência da possibilidade de ocorrência do sinistro, evento futuro
e incerto com o qual o contrato mantém relação.

Portanto, quando se fala em natureza jurídica, o melhor modo de se


compreender os contratos de seguro é mediante sua classificação, os quais serão
melhor discutidos e apontados nos tópicos seguintes do presente estudo.
Muito se fala na doutrina sobre os termos e as expressões utilizadas no
Direito Securitário, sendo que destacam-se os seguintes: risco, prêmio, segurador,
corretor de seguros, segurado, beneficiário e indenização.

2.1 PRINCÍPIOS DO CONTRATO DE SEGURO


17

Entende-se que os princípios são as bases valorativas de todo o ordenamento


jurídico. Portanto, o contrato de seguro como instituto de direito que é, é constituído
com base em princípios, sendo importante o estudo de cada um deles para melhor
compreensão sobre a temática.

2.1.1 Princípio da boa-fé

O princípio da boa-fé se consolida como sendo universal no âmbito das


relações contratuais. O Código Civil de 2002 inovou na previsão do referido
princípio, uma vez que no Código de 1916 não havia a previsão expressa do referido
princípio de modo que era entendido como sendo a intenção do sujeito de direito,
contraditoriamente do que se tem previsto no Código atual, o qual tem-se
direcionado para todas as partes no contrato. (TARTUCE, 2012)
Compreende-se a boa-fé objetiva como sendo a exigência de uma conduta
legal das partes, não havendo a necessidade de sua previsão no contrato. Para
Tartuce (2012) podem ser enquadradas como obrigações advindas da boa-fé as
seguintes ações: cuidado para com a outra parte; respeito; honestidade;
razoabilidade; equidade; confiança; etc.
O art. 113 do Código Civil determina que os negócios jurídicos devem ser
interpretados segundo a boa-fé, conjuntamente, o art. 422 prevê que em todas as
etapas do contrato, deve-se guardar os princípios de probidade e boa-fé.
No tocante ao contrato securitário, assim como nos contratos em geral, a boa-
fé encontra ainda mais presente, de modo que o Código Civil prevê um artigo
específico sobre o assunto:

Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar, na conclusão


e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a
respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele
concernentes.

Assim, o segurador, antes mesmo de aceitar a assunção do risco, precisará


de vários dados para fixação do valor do prêmio a ser pago pelo segurado, de modo
que, uma declaração falsa poderá acarretar a fixação de uma taxa distinta da que se
estabeleceria caso as condições omitidas pelo segurado viessem à tona, situação
que configuraria uma fraude pelo consumidor contra o próprio sistema de seguros.
18

De acordo com Peluso (2010) no contrato de seguro existem algumas ações


que podem exemplificar o comportamento dotado de boa-fé: o dever do segurado
quanto a aproximação do imóvel coberto contra seguro de incêndio com focos
inflamáveis; quando do seguro de vida, a obrigação do aderente quanto a
comunicação de doença preexistente ao contrato; no seguro de automóvel, o dever
do segurado de informar quem com frequência conduz o veículo; entre outras.
Pela breve análise do princípio da boa-fé não resta dúvida de que o segurado
figura no papel de consumidor, sendo, portanto, abarcado pelas normas protetivas
do Código de Defesa do Consumidor, ao passo que interpreta-se em seu favor os
casos onde a legislação especial for omissa no que tange ao contrato. Ademais,
importa mencionar que cabe ao segurador, ora fornecedor, o ônus de comprovar se
tal atitude do segurado se constitui como de má-fé.

2.1.2 Princípio do mutualismo

O referido princípio é considerado como precursor do sistema de seguros,


sendo definido como o acúmulo de esforços de um grupo, com vistas a garantir a
recomposição patrimonial de seus membros, pelos quais, de modo individual, foram
vítimas de determinada infelicidade. (SILVA, 2008)
É o caso, hipoteticamente, quando moradores de determinada cidade
decidem estabelecer um acordo de que quando alguma catástrofe ocorrer na
residência de um membro do grupo, todos devem arcar com a prestação de ajuda
financeira proporcional, de modo que a vítima não arcará com os prejuízos de modo
individual.
Trata-se da lógica do princípio mutualista, objeto do seguro, o qual determina
que a operação de seguros permite a divisão por toda a comunidade dos eventuais
prejuízos de um sujeito, com vistas a não ofertar a estabilidade econômica de quem
auxilia o sujeito que sofreu com o dano, uma vez que o prejuízo é então repartido
com todo o grupo. (ALVIM, 2001)
Cabe ressaltar que o objetivo principal da contratação de um seguro é a
prevenção dos prejuízos de interesse próprio, sendo assim, a motivação do
mutualismo é a previdência do patrimônio próprio, uma vez que é incerto saber
quem será desafortunado a sofrer com o dano no bem que figura como objeto do
seguro.
19

Sendo assim, entende-se que não há uma operação de seguros individual, o


qual deve ser sempre realizado em coletividade, de modo que não é a seguradora
quem vai arcar com os prejuízos do risco, torna-se responsável somente pela
administração do montante formado pelo pagamento do prêmio com destino a
indenização dos prejuízos dos segurados.

2.1.3 A função social do seguro

O princípio da função social é universalmente aplicado no âmbito contratual,


sua origem advém da Constituição Federal de 1988 e compreende-se como sendo
que o acordo firmado entre as partes não deve ferir os interesses da ordem pública.
No direito consumerista, a função social do contrato diz respeito tem por
finalidade tutelar um grupo específico de sujeitos, os quais são considerados
vulneráveis no tocante as praticas abusivas dos fornecedores, sendo assim, o
Código de Defesa do Consumidor intervém de modo imperativo nas relações
jurídicas de direito privado, as quais eram tuteladas pela autonomia da vontade
anteriormente a previsão do referido princípio. (MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM,
2006)
No ramo de seguros, a função social do contrato tem um caráter especial,
uma vez que está fundamentada na mutualidade advinda do sistema securitário,
levando em consideração que em caso de uma das partes agir de má-fé em
qualquer momento, não estará atingindo somente a seguradora, mas a coletividade,
ou seja, os demais segurados. Por exemplo, se um segurado simular um sinistro,
com vistas a obtenção indevida da indenização, estará fraudando o seguro e não
estará prejudicando somente a seguradora, de modo que a indenização imprópria
será então dividida entre todos os segurados que pagam o prêmio.
Desse modo, segundo o que destacam Carlini e Bechara (2011) a função
social atua justamente na preservação da mutualidade, sendo que tal princípio deve
ser analisado pelas partes em estrito exercício da boa-fé contratual.
Resumidamente, os contratos de seguro são individuais somente quanto a
apresentação que se faz ao segurado, uma vez que são contratos de colaboração
entre os sujeitos com riscos semelhantes e que carecem um dos outros para
formarem uma mutualidade e constituírem um fundo mutual suficiente para arcar
com os possíveis prejuízos.
20

2.2 OS ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO

O contrato de seguro possui peculiaridades em sua formação, sendo que é


essencial a análise de cada um dos elementos que compõem tão instituto de direito.

2.2.1 O prêmio

O prêmio consiste em ser o valor que o segurado paga ao segurador, de


modo que este garante a indenização caso haja o risco coberto pela apólice, ou
seja, é o preço do seguro. Acerca disso, Silva (2008, p. 94) discorre:

O prêmio é um elemento de extrema importância no contrato de seguro,


haja vista que ele representa a prestação do segurado pela assunção dos
riscos predeterminados assumidos pelo segurador. Além disso, os prêmios
recebidos pelos seguradores acabam por constituir um fundo comum para a
própria articulação do mercado segurador. Sem o prêmio, não haverá
recursos suficientes para o pagamento dos sinistros, despesas de
administração, dividendos para os acionistas das sociedades seguradoras,
etc.

Importante destacar sobre o que dispõe o art. 764 do Código Civil,


determinando que exceto em disposição especial, o fato de não se ter verificado o
risco, o que se prevê para a realização do seguro, não retira do segurado o dever de
pagar o prêmio. Rocha Filho (2003, p. 19) explica sobre a teoria contida no referido
artigo: “O prêmio é devido ainda que não ocorra sinistro, haja vista que o objeto do
contrato de seguro é o risco. Assim, mesmo não tendo se efetivado o sinistro, o risco
de sua ocorrência existiu, o que torna devido o pagamento do prêmio”.
O pagamento da indenização por parte do segurador será efetuado somente
com a comprovação da quitação do prêmio por parte do segurado, do contrário, não
terá direito ao ressarcimento, conforme dispõe o art. 12 do Decreto-lei 73/66:

Art. 12. A obrigação do pagamento do prêmio pelo segurado vigerá a partir


do dia previsto na apólice ou bilhete de seguro, ficando suspensa a
cobertura do seguro até o pagamento do prêmio e demais encargos.

Parágrafo único. Qualquer indenização decorrente do contrato de seguros


dependerá de prova de pagamento do prêmio devido, antes da ocorrência
do sinistro.
21

Ademais, o cálculo do prêmio será realizado com base na probabilidade de


ocorrência do sinistro, assim, será possível fixar de forma antecipada quanto cada
participante da mutualidade securitária deverá contribuir para integrar o montante
coletivo com finalidade a indenizar os eventos danosos que se encontram previstos
nas técnicas de cálculo de probabilidade e das estatísticas.

2.2.2 O risco

O risco é definido por Silva (2008) como a ideia de perigo, de modo que este,
no contrato de seguro, conforme determina o art. 757 do Código Civil, transfere-se
ao segurador. Trata-se do objeto da convenção, onde o perigo é o que está sujeito o
objeto segurado, por consequência de um acontecimento futuro, alheio à vontade
das partes.
No mesmo sentido, Alvim (2010) entende o risco como sendo um
acontecimento possível, futuro e incerto, ou seja, algo impossível de se prever como
e quando vai ocorrer, no entanto, destaca-se que a incerteza seja em função de
quando e como vai acontecer e não do fato propriamente dito, por exemplo, no
seguro de vida, a morte do segurado é certa, no entanto, não se sabe o dia e como
ocorrerá.
Cabe destacar que o risco deve ser lícito, e não estar relacionado com
operações ilícitas pelo segurado, como por exemplo, não deve se pode contratar um
seguro para veículo objeto de roubo ou furto. O art. 762 do Código Civil dispõe
expressamente sobre a nulidade do contrato para prestar garantia de risco advindo
de ato doloso do seguro, do beneficiário ou de representante de um ou outro.
Os contratos de seguro possuem como função assegurar determinado bem,
ou seja, se não estiver de forma expressa, o risco não é indenizável. Sobre isso,
contribui Mendonça (2008, p. 122):

[...] a definição do objeto do seguro e dos riscos contra os quais ele está
segurado são fundamentais para a correta contratação da apólice, mas só
elas não bastam. Toda apólice de seguro tem uma cláusula muito mais
comprida, contendo os riscos excluídos, além da outra, quase do mesmo
tamanho, contendo os riscos não cobertos.

Desse modo, para se contratar bem de uma apólice, é preciso verificar se a


principal ameaça, a qual justifica a contratação do seguro, não está prevista nas
22

exclusões de cobertura.

2.2.3 A indenização

Nos seguros de dano, a expressão utilizada é a indenização, e nos seguros


de pessoas, o termo utilizado é capital segurado, embora ambos têm a mesma
finalidade no contrato de seguro, qual seja: transferir importância pecuniária ao
segurado, repondo-lhe o prejuízo que o mesmo obteve mediante sinistro coberto
pela apólice. Assim, explicando a terminologia, Silva (2008, p. 117) explica que:

[...] a indenização, pela própria natureza do contrato de seguro, não visa


lucro. Dessa forma, o valor da indenização não poderá ultrapassar o
montante do interesse segurado informado na apólice, salvo na hipótese de
mora do segurador na adimplência de sua obrigação contratual.

Em conformidade com esse entendimento tem-se o art. 781 do Código Civil:

Art. 781 – A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse


segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo
da garantia fixada na apólice, salvo em caso de mora do segurador.
(BRASIL, 2002)

Desse modo, assim como qualquer pessoa, sendo física ou jurídica, deve
obedecer às previsões legais.
Importante discorrer brevemente sobre a obrigação de efetuar o pagamento
do prêmio, o qual quando da inadimplência, gera a perda do direito de indenização
em caso de sinistro, conforme bem destaca o art. 763 do Código Civil: “Não terá
direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se
ocorrer o sinistro antes de sua purgação”. (BRASIL, 2002)
Observa-se que é importante o pagamento do prêmio no prazo máximo
estipulado pela seguradora, haja vista que a falta deste acarreta em problemas com
relação às prováveis indenizações.
O segurador também encontra-se sujeito a penalidade caso ocorra a mora. O
prazo determinado pela SUSEP para que a seguradora efetue o pagamento da
indenização é de trintas dias após a entrega dos documentos solicitados, de modo
que, na dúvida fundada e justificável, a seguradora poderá solicitar novos
documentos, e caso isso ocorra, a contagem do prazo será suspensa e reiniciada
23

após a entrega dos novos documentos. Nesse sentido é o art. 772 do Código Civil:

Art. 772 – A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualização


monetária da indenização devida segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, sem prejuízos dos juros moratórios. (BRASIL, 2002)

Sobre o referido dispositivo, tem-se o posicionamento de Silva (2008, p. 119):

Criou-se, pela prática, o chamado prazo médio de trinta dias para o


pagamento da indenização, período este que será estendido quando o
segurado deixar de entregar documentos necessários para a efetivação do
pagamento da indenização por parte da seguradora.

Acerca disso, tem-se ainda a razoabilidade da demora no prazo, sendo que:


“[...] a demora injustificada do segurador em concluir o processo de regulação do
sinistro autorizará o segurado a pleitear em juízo a correspondente indenização,
acrescida de juros de mora e, ainda, eventuais perdas e danos”. (SILVA, 2008, p.
120)
Portanto, cabe destacar que diante da mora do segurador, o segurado pode
pleitear ação para cobrar a indenização securitária, caso não haja realização e
envolva inclusive eventuais valores suplementares decorrentes da mora da
liquidação devida.

2.2.4 A proposta

Na proposta devem constar os dados relacionados ao segurado, bem como o


bem. É por meio desta que a seguradora transmitirá o contrato de seguro ao cliente,
no qual apontará as informações essenciais.
O corretor de seguros só poderá assinar e efetivar determinada proposta
quando este for legamente habilitado pela SUSEP, sendo que o referido documento
é a base para se emitir a apólice do seguro, caso o risco seja aceito pela
seguradora. Assim, conforme ensina Santos (2008), a proposta é uma forma de
maniestação da vontade do segurado sobre a efetivação na contratação do seguro.
Na contratação do seguro, a proposta é o primeiro documento emitido pelo
segurador, no qual se antecipa a aceitação acerca do risco. A proposta é o momento
onde o corretor, acompanhando o segurado, vai decidir quais serão as melhores
24

coberturas que farão parte do contrato, e onde serão informados os elementos


principais do interesse a ser garantido. (SANTOS, 2008)
Sobre a proposta, Franco (2009, p. 285) discorre da seguinte forma:

Os dados fornecidos pelo segurado deverão ser absolutamente corretos,


pois qualquer declaração inexata poderá influir no contrato, quer por levar a
um cálculo indevido da estipulação do prêmio ou da indenização, quer por
poder alterar a feição do risco coberto, induzindo a seguradora a uma
aceitação indevida. E, igualmente, o porquê da obrigação que tem de fazer
declarações exatas.

Cabe ressaltar que todas as seguradoras carecem de um prazo máximo de


quinze dias úteis para analisar o risco, avaliar a oferta, investigar a veracidade dos
dados declarados e então se posicionar pela aprovação ou não do contrato
formalizado. Tal prazo é contado a partir do momento em que se recebe a proposta
enviada e protocolada, tanto para seguros de renovação ou novos. Se por qualquer
razão a seguradora não aceitar a proposta, a mesma precisará informar ao cliente a
respeito da recusa e espeficar suas razões.
Durante o prazo de quinze dias úteis onde a seguradora analisa o risco
contrato e decide pela aceitação ou não da proposta, o seguro não encontra-se
vigente, ou seja, o seguro ainda não possui cobertura. Ocorre que, a seguradora
pode emitir uma nota de cobertura ou carta de garantia onde os contratos são
provisórios. (FRANCO, 2009)
Importante mencionar que após a realização da proposta escrita e aceita pela
seguradora, a apólice é que comprova a contratação do seguro, sendo este o
documento que terá como finalidade de demonstrar as coberturas contratadas e
escolhidas pelo segurado, sendo ainda a forma de comprovação da relação
contratual existente entre o segurado e a seguradora, bem como, o comprovante do
pagamento do prêmio.

2.2.5 A apólice

Dentre os instrumentos onde o seguro se encontra, a apólice consiste no


próprio contrato final. É nela que constam as condições e as clásulas do seguro,
onde as informações de coberturas, serviços, assistências e todos os demais
direitos e deveres de ambas as partes encontram-se previstas. (SCARSI, 2013)
25

Para que o seguro tenha validade é preciso que a apólice seja emitida, se
esta, não há garantia de cobertura, e para que não seja cancelado, o corretor de
seguros deve fazer o acompanhamento até a sua emissão e deve constatar se não
há nenhuma pendência ou eventuais problemas. (SANTOS, 2009)
A apólice é a formalização do contrato de seguros, sendo um dos elementos
que de fato comprovam e garantem a existência do seguro, bem como, o pagamento
do prêmio. A apólice é efetivada pela seguradora, com o estabelecimento dos
direitos e das obrigações, pela qual a mesma aceita e cobre os riscos determinado.
(ALVIM, 2001)
Portanto, é essencial que sejam discriminadas devidamente as condições do
seguro em conjunto com tais itens: nome do segurado, os riscos optados e
assumidos pela seguradora, as condições gerais e especiais, informações sobre o
bem contratado, as coberturas, os limites das garantias e o prêmio quitado, ou
quando for o caso, as demais datas em caso de parcelamento e o período de
validade do seguro. Quando do recebimento da apólice, o segurado deve confirmar
se de fato consta no contrato tais condições informadas no decorrer do formulário
onde se realizou a proposta.
Todos os anos as apólices passam pela renovação, com os devidos reajustes
nos valores, e para que haja validade do seguro prestado, é essencial respeitar o
período de renovação. O segurado precisa recorrer sempre a sua apólice quando
ocorrer determinado problema ou sinistro, sendo importante que o mesmo sempre
verifique cláusulas e coberturas informadas.

2.2.6 Sinistro

Quanto ao sinistro, trata-se da ocorrência de determindo evento previsto nos


contratos de seguros e que causam prejuízos econômicos ao segurado. Boa parte
dos segurados somente conhece o processo de regulação e quitação do seguro
quando de fato ocorre algum sinistro. É importante que o corretor de seguro oriente
o segurado sobre quais são as providências a serem tomadas para a verificação e
finalização do processo. (ALVIM, 2001)
Quando do dano no bem segurado, tem-se a indenização, de modo que, é
apresentada e transferida a importância em dinheiro ao segurado, cobrindo então a
apólice, em face do prejuízo imprevisto.
26

Sempre que ocorrer um sinistro, o segurado não pode adulterar o item


sinistrado antes da constatação do vistoriador que deve passar no local. É
importante que o segurado permita a entrada do representante da seguradora para
que se realize a vistoria e sempre apresentar explicações e conhecimentos sempre
que exigidos.
O prazo para a liquidação do sinistro é de no máximo trinta dias corridos,
contados a partir do último documento recepcionado, onde será exigido durante o
processo. A contagem será interrompida sempre que houver dúvidas sobre fraudes,
que podem ser solicitados demais documentos, fazendo com que o prazo volte a ser
contado. (SILVA, 2008)
Importante ressaltar que a seguradora poderá recusar a indenização sempre
que o sinistro acontecido não se enquadrar nas condições da cobertura específica
no contrato de seguro, ou em casos de ato intencional do segurado. Em se tratando
de ato dolos por terceiros, é responsabilidade da seguradora pagar ao segurado,
desde que seja comprovado que não houve nenhum envolvimento do mesmo, de
modo que a seguradora pode entrar com processo judicial contra o terceiro
envolvido e requerer o devido reembolso.
27

3 A CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS DE SEGURO

Para Silva (2008) os contratos de seguros são classificados com vistas a


auxiliar na interpretação de suas finalidades, os quais podem ser: bilateral, oneroso,
comutativo e aleatório, consensual, nominado e de adesão.

3.1 BILATERAL

No contrato de seguro bilateral, ambas as partes assumem obrigações, ou


seja, tanto o segurador como o segurado, de forma contrária do que ocorre nos
contratos unilaterais, onde somente uma das partes assume obrigações. Nesse
sentido, uma das obrigações do segurado é o pagamento do prêmio e quanto a
seguradora, tem-se o dever de indenizar em caso de ocorrência do sinistro. Acerca
disso, Martins (2002, p. 34) dispõe:

Argumentam alguns que, não havendo sinistro, não teria o segurador de


pagar nada, e, portanto, estaria descaracterizada a bilateralidade, posto que
somente uma das partes teria cumprido a obrigação. Pode-se entender tal
posição se focalizado o contrato sob o ponto de vista individual. Todavia, tal
argumento não tem apoio técnico. O segurador sempre indenizará parte do
grupo segurado, além de disponibilizar provisões financeiras para cada
prêmio recebido.

Assim, é importante que esteja claro e bem definido o entendimento por


ambas as partes, para que se evite os equívocos ao confundir os contratos bilaterais
com os contratos unilaterais, haja vista que ao contrário daqueles, somente uma
parte possui obrigações.

3.2 ONEROSO

O contrato de seguro oneroso, consiste naquele onde ambas as partes estão


sujeitas a realização de sacrifício econômico. Independente de se utilizar ou não o
seguro durante sua vigência, o contrato se mantém oneroso, uma vez que o
segurado pagou o prêmio devido e se manteve amparado por garantias. Assim,
discorre a FUNENSEG:

[...] porque implica gastos e vantagens econômicas para ambas as partes.


28

O segurado, ao pagar o prêmio, obtém a vantagem econômica resultante da


transferência do risco ao segurador; este, por sua vez, precisa efetuar os
dispêndios de ordem administrativa e operacional, além da contraprestação
de indenização nos casos de ocorrência de riscos previstos e cobertos [...].
(FUNENSEG, 2004, p. 56)

A diferença dos contratos gratuitos para os onerosos, é que há o fato de que


os contratos gratuitos somente uma das partes está sujeita ao sacrifício, como
ocorre na doação sem encargo. No contrato oneroso, ambas as partes se sujeitam
ao sacrifício.

3.3 COMUTATIVO E ALEATÓRIO

Os contratos onerosos são subdivididos em comutativos e aleatórios. Os


comutativos são os que os contratantes sabem qual é sua obrigação, desde o
momento onde o contrato foi firmado entre as partes. Assim, Gonçalves (2012, p.
99) dispõe: “Comutativos são os de prestações certas e determinadas. As partes
podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem,
decorrentes de sua celebração, porque não envolvem nenhum risco”.
Quanto ao contrato aleatório, este depende da ocorrência ou não do sinistro
durante a sua vigência, ou seja, carece de um acontecimento futuro e incerto. Para
Gonçalves (2012) o contrato aleatório leva esse nome em função do evento que
constitui o risco, que pode ou não acontecer, ou seja, não há garantia de sua
efetivação. O autor vai além em sua explicação:

Contrato aleatório é o bilateral e oneroso em que pelo menos um dos


contraentes não pode antever a vantagem que receberá, em troca da
prestação fornecida. Caracteriza-se, ao contrário do comutativo, pela
incerteza, para as duas partes, sobre as vantagens e sacrifícios que dele
podem advir. É que a perda ou lucro dependem de um fato futuro e
imprevisível. (GONÇALVES, 2012, p. 100)

De acordo com Silva (2008), os contratos de seguro são comutativos, haja


vista que no momento da celebração, as partes, mediante vontade própria,
estabelecem de modo rigoroso e claro suas obrigações. Desse modo, são obrigados
o segurado a pagar o prêmio certo e determinado, e a seguradora tem a obrigação
de garantir os interesses dos segurados, dando-lhe toda assistência que for
necessária acerca das cláusulas firmadas em contrato.
29

3.4 CONSENSUAL

O contrato é consensual, haja vista que depende do acordo entre as partes.


Para que haja o contrato consensual, basta que tenha a manifestação de ambas as
partes, dispensando qualquer formalidade:

É contrato consensual aqueles que se perfazem com a simples anuência


dos contraentes; não há necessidade de fórmulas legais para a sua
celebração. Para que tais pactos tenham validade no mundo jurídico, basta
que as partes manifestem sua vontade no sentido de estabelecer um
vínculo contratual formador de direitos e obrigações entre as partes. (SILVA,
2008, p. 84)

Assim, o contrato de seguro é consensual, levando em consideração que há


manifestação do segurado e segurador, sem a necessidade de nenhum ato
formalizado.

3.5 NOMINADO

O contrato de seguro é considerado como nominado, haja vista que é


regulado pela legislação, qual seja: artigos 757 à 802 do Código Civil. Importante
destacar que há força normativa do Código de Defesa do Consumidor nesses
contratos. Nesse sentido, Silva (2008, p. 85) afirma que: “Os contratos de seguro,
por estarem previstos e regulados pela legislação, são reconhecidamente elevados
à condição de contratos nominados”.

3.6 ADESÃO

Por fim, tem-se a classificação acerca do fato de ser o contrato de seguro


considerado com sendo de adesão. Trata-se do fato de que as partes não participam
diretamente de sua elaboração, tampouco das condições gerais do contrato, ou seja,
as partes não possuem direito para exigir a redação no contrato do seus termos.
(SILVA, 2008)
Há contratos onde o corretor pode ajustar as cláusulas e coberturas conforme
a necessidade do segurado, como por exemplo o carro utilizado para atividade
comercial e viagens. Embora haja alterações nas coberturas e condições, o contrato
30

permanece sendo como de adesão:

Pequenas alterações de cláusula, ou qualquer outra condição sugerida pelo


segurado, não desnatura essa classificação, já que o contrato é apoiado em
nota técnica e não se permitem alterações em sua base, sob pena de
comprometer o todo. (MARTINS, 2002, p. 34)

Importante destacar que as partes devem agir de boa-fé, de modo que as


informações fornecidas sejam verdadeiras e completas, sob pena de perda do direito
da indenização securitária caso ocorra o sinistro, conforme art. 766 do Código Civil:

Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações


inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na sua aceitação da
proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar
obrigado ao prêmio vencido.
Parágrafo único: Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar
de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a
cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. (BRASIL, 2002)

Ressalta-se que as condições gerais dos contratos são sempre aprovadas


pela SUSEP. Assim, é importante que haja boa-fé de ambas as partes para que haja
a validade do contrato.

3.7 DAS PARTES

As partes, em sede de contrato, são os sujeitos que integram a relação


contratual, no contrato de seguro recebem o nome de segurador, segurado e
beneficiário.

3.7.1 O segurador

O segurador, por sua vez, é uma das partes do contrato, que no caso, é a
seguradora. A entidade deve ser devidamente autorizada para exercer a atividade
securitária, conforme os preceitos do art. 757 do Código Civil. Ademais, o art. 74 do
Decreto Lei nº 73/66 determina que a autorização para funcionamento será expedida
pela Portaria do Ministério da Indústria e do Comércio, por meio de requerimento
firmado pelos incorporadores.
Mediante a autorização concedida, a seguradora pode então atuar nos ramos
que constam no documento expedido. Quanto as suas obrigações, a seguradora
31

tem o dever de indenizar o segurado em caso de sinistro:

[...] ela é responsável pelo pagamento da indenização do sinistro, o que é


completamente diferente de responder pelo próprio dano e por seus
prejuízos. Mais do que isso, ela é responsável apenas dentro dos limites do
contrato, ou seja, em função da apólice de seguro a seguradora tem
fronteiras definidas, dentro das quais suas responsabilidades precisam estar
claramente colocadas, e a mais importante dessas limitações – até mesmo
para a defesa do mútuo e dos outros segurados – é a que veda a
companhia de indenizar mais do que o previsto na apólice, sejam em função
do valor, ou de cláusula de garantia do risco ou de exclusão de cobertura.
(MENDONÇA, 2008, p. 31)

No mesmo sentido e complementando o entendimento do autor supracitado,


Las Casas (2003, p. 21) dispõe:

Sociedades seguradoras são aquelas autorizadas a operar com seguros


privados. São empresas que, recebendo o prêmio, assumem a
responsabilidade de pagar a indenização em casos de eventual sinistro. [...]
Essas empresas devem ser necessariamente sociedades anônimas, e suas
ações, nominativas. Não podem estar sujeitas a falências nem impetrar
concordatas, conforme o art. 26 da Lei dos Seguros. A liquidação
compulsória ou voluntária das seguradoras ficará a cargo da Susep, que
indicará o liquidante.

Quanto ao capital mínimo de uma seguradora para operar e também como


limite técnico, observa-se o entendimento transcrito:

As seguradoras deverão ter um capital mínimo para operar, o qual depende


de resolução especial do CNSP, que o estabelece com periodicidade
mínima de dois anos e determina a forma de sua subscrição e realização.

[...]

As seguradoras operam dentro de seus limites técnicos fixados pela Susep,


conforme normas aprovadas pelo CNSP. Todo o valor que ultrapassa esse
limite técnico para cada ramo de seguro deverá ser ressegurado no IRB e,
em caso de consseguro, a cota será fixada pelo CNSP. [...]. (LAS CASAS,
2003, p. 22)

Portanto, entende-se que as seguradoras não podem agir por conta própria,
sendo que todos os seus atos são supervisionados e fiscalizados de forma
constante pelas entidades governamentais. Ainda, a Resolução do CNSP nº 88/2002
determina sobre os critérios para realização dos investimentos pelas sociedades
seguradoras de forma taxativa, veja-se:

Art. 9 – Os investimentos devem ser geridos de modo que lhes sejam


32

garantidas segurança, rentabilidade, solvência e liquidez e que sejam


observados:

I – elevados padrões éticos; e

II – as especificidades da sociedade/entidade, tais como as características


de suas obrigações, com vistas à manutenção do necessário equilíbrio
econômico-financeiro entre ativos e passivos. (SUSEP, 2002)

Assim, a seguradora possui um limite para utilizar no investimento de capital,


haja vista que sempre deve haver a reserva essencial para o pagamento dos
possíveis sinistros que vierem ocorrer no decorrer do lapso temporal. Ainda, a
Circular nº 284/2005 da SUSEP determina acerca do registro, custódia e
movimentação de bens, títulos e valores mobiliários garantidores das reservas
técnicas e também sobre os fundos e provisões das sociedades seguradoras.
No art. 1º da referida Circular é definido sobre os registros na SUSEP todos
os bens de reservas técnicas, fundos e provisões das sociedades seguradoras. A
legislação determina ainda no art. 2º que os bens que as seguradoras registrarem na
SUSEP não podem ser alienados ou gravados, uma vez que sem a autorização da
entidade, os gravames constituídos ou as alienações realizadas serão consideradas
nulas de pleno direito.
Observa, portanto, que a SUSEP é o órgão responsável pela fiscalização e
pelo controle do mercado de seguros e possui como obrigação fiscalizar as
seguradoras, com vistas a garantir que operem respeitando todas as normas
estabelecidas pelo CNSP e pela própria SUSEP.

3.7.2 O segurado

De outro lado, tem-se a figura do segurado, sendo a pessoa física ou jurídica


que por meio do pagamento do prêmio adquire uma garantia sobre interesse
segurável, transferindo ao segurador o risco, o objeto da apólice. Acerca dessa
figura, Silva (2008, p. 88) determina que:

O segurado é aquele que tem interesse sobre o bem da vida descrito no


contrato de seguro.

[...]

Registramos aqui nossa discordância com parte majoritária da doutrina que


identifica o segurado como aquele que promove o pagamento do seguro,
haja vista que, conforme verificaremos abaixo, nem sempre o valor é
33

desembolsado por este, pois existe a possibilidade, nos casos de prêmio


não-contributário, de outros sujeitos efetuarem a paga, v. g., o estipulante.

Importante destacar que podem ainda figurar como segurados as


personalidades anômalas, por exemplo o condomínio e o espólio, ambos não estão
alocados na definição legal de pessoa física e nem jurídica, mas possuem interesse
fidedigno em bens perfeitamente seguráveis. O segurado precisa ser pessoa natural
com capacidade civil, dessa forma, quando da incapacidade, podem figurar no polo
quando assistidos ou representados pelo responsável.

3.7.3 O beneficiário

Outra figura importante nos contratos de seguro é o beneficiário, o qual


consiste na pessoa indicada pelo segurado ou estipulada em lei que estará apta a
receber a indenização em caso de sinistro que venha ocorrer. No art. 791 do Código
Civil existem diretrizes importantes sobre essa questão:

Art. 791 – Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não


tiver como causa declarada a obrigação, é lícita a substituição do
beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade.

Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da


substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo
beneficiário. (BRASIL, 2002)

Explicando o referido artigo, Alves (2008, p. 718) discorre que:

A lei permite a substituição do beneficiário do seguro de vida por ato


unilateral de vontade do segurado, que a essa faculdade não renunciou ao
clausular as condições do seguro, desde que este não tenha por origem
declarada a garantia de determinada obrigação, o que se dará por ato inter
vivos ou mortis causa.

Assim, o art. 792 do Código Civil determina sobre a falta de indicação da


pessoa ou do beneficiário:

Art. 792 – Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por


qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago
por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos
herdeiros do segurado, obedecida a ordem de vocação hereditária.

Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão


beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos
34

meios necessários à subsistência. (BRASIL, 2002)

Portanto, o seguro de vida possibilita a livre escolha do beneficiário, ou até


mesmo possibilita elencar o companheiro ou a companheira, como bem determina o
art. 793 do mesmo diploma legal.

3.8 O PROFISSIONAL CORRETOR DE SEGUROS

A pessoa habilitada legalmente pela SUSEP, por meio de formação na


FUNENSEG para exercer a função de representante do segurado diante da
seguradora, sendo este responsável pela defesa de seus interesses durante toda a
vigência da apólice, ocorrendo ou não o sinistro, o qual recebe o nome do corretor
de seguros. A Lei de Seguros conceitua o corretor de seguros como a pessoa que
possui legitimidade para angariar e promover contratos de seguro entre as
Sociedades Seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de Direito Privado. Ainda,
a Lei nº 4594/64 estendeu aos corretores de seguro a possibilidade de angariar os
seguros de pessoas jurídicas de direito público também, conforme o art. 1º.
Diversos doutrinadores que comentam acerca do assunto, apesar de que
todos possuem o mesmo fundamento nos seus entendimentos. Assim, Alves (2008,
p. 658) dispõe sobre as principais funções do corretor de seguros:

[...] atuar com aplicação e presteza, segundo reclamam o negócio e o


interesse do cliente, fornecendo-lhe, nesses fins, por sua iniciativa e
empreendimento, as informações sobre as tratativas eventualmente
existentes e a desenvoltura da mediação, a ensejar o êxito esperado. A
segunda, também essencial ao desempenho, tem por escopo o resguardo
do negócio, quanto aos riscos ou segurança dele, devendo o corretor de
tudo fazer ciente o comitente, transmitindo-lhe todos os esclarecimentos
que lhe seja possível prestar.

No mesmo sentido é o entendimento de Santos (2008, p. 171) acerca da


Circular SUSEP nº 127/00:

A Circular em causa, além de repetir a definição de corretor já estabelecida


na lei (Lei nº4594/64 e Decreto-Lei nº 73/66), da qual decerto não poderia
jamais se afastar, estabelece as regras sobre o registro e exercício da
profissão do Corretor de Seguros, conferindo à SUSEP a atribuição de
conceder as devidas autorizações, expedir carteiras ou títulos de habilitação
e exigir a documentação para tanto necessária, documentação e requisitos
esses que vêm elencados na mencionada Circular.
35

No que diz respeito à responsabilidade do corretor de seguros, Santos (2008,


p. 157) dispõe:

Creio demasiadamente o entendimento de que o corretor de seguro, no


contexto brasileiro e tendo em vista a sua formação, deva responder em
casos tais, pois compete à Superintendência de Seguros Privados – SUSEP
a responsabilidade pela avaliação de solvência das sociedades
seguradoras, por isso que a função do corretor não chega a ponto de
analista de solvência da seguradora, até porque não tem acesso aos dados,
[...], que a SUSEP, [...], dispõe e exige com poder de polícia. Militaria a favor
do corretor a presunção de que toda seguradora é solvente enquanto não
declarado em contrário pela SUSEP [...].

Assim, o corretor de seguro necessita ser habilitado e autorizado para exercer


sua importante função no mercado de seguros, contribuindo para a economia do
país.
36

4 O DIREITO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) não surgiu por acaso, tampouco


decorreu de um simples projeto como qualquer lei ordinária. Ele é a concretização
de uma longa evolução, resultado de todos elementos anteriormente ocorridos no
Brasil. (FILHO, 2011, p.10). Foi com o advento da Constituição Federal de 1988,
que houve o reconhecimento do consumidor como novo sujeito de direitos, e direitos
que são tutelados em esfera de garantias fundamentais.
Assim dispõe a Carta Magna no art.5°, inciso XXXII:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

No referido dispositivo não há uma simples recomendação ou advertência


para o Estado, mas sim uma ordem, uma imperatividade constitucional.

Foi o constituinte originário, portanto, que instituiu um direito subjetivo


público geral a todos brasileiros e estrangeiros residentes no país, para que
o Estado-Legislador, o Estado-Juiz e o Estado Executivo, na forma da lei,
realizassem a defesa do consumidor. Em outras palavras, foi o constituinte
originário que determinou a elaboração de uma lei para a defesa do
consumidor, o que evidencia que o Código do Consumidor, diferente das
leis ordinárias em geral, tem origem constitucional. (FILHO, 2011, p.11)

Com referida previsão constitucional, o consumidor recebeu medida


protecional diferenciada do Estado. A lei é ordinária, mas é excepcionalmente
qualificada pelo fato de versar um direito fundamental, uma matéria que a
Constituição encomendou uma lei especialíssima. (FILHO, 2011, p. 11).
A defesa do consumidor, além de direito fundamental, é também princípio
geral de toda atividade econômica. O artigo 170, inc. V assim dispõe:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[...]
37

V - defesa do consumidor;

Sérgio Cavalhieri Filho cita um voto lapidar prolatado no julgamento da Adin


n° 2.591/2001, do Ministro Celso Mello, decano do STF, que assim sintetiza a
questão da defesa do consumidor como princípio de toda atividade econômica:

Cumpre reiterar bem por isso, a afirmação de que a função tutelar resultante
da clausula constitucional da proteção aos direitos do consumidor projeta-
se, também na esfera relativa à ordem econômica e financeira, na medida
em que essa diretriz básica apresenta-se como um insuprível princípio
formador de toda atividade econômica (Art. 170, V). Dentro desta
perspectiva, a edição do Código de Defesa do Consumidor- considerados
os valores básicos concernentes à proteção da vida, da saúde e da
segurança, e relativos a liberdade de escolha, a igualdade das
contratações, ao direito á informação e à proteção contra a publicidade
enganosa, dentre outros- representou a materialização e a efetivação dos
compromissos assumidos, em tema de relações de consumo, pelo Estado
Brasileiro. (Grifo nosso)

Nesta esteira, o artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias


assim determinou: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da
promulgação da Constituição, elaborará o Código de Defesa do Consumidor”. (Grifo
nosso)
Desta matéria, como cumprimento de ordenança Constitucional, em 11 de
setembro de 1990, foi promulgada a Lei n° 8.078, denominada pela Carta Magna por
Código de Defesa do Consumidor, inserindo no ordenamento jurídico brasileiro uma
Política Nacional para Relações de Consumo.

O direito do consumidor é um ramo de direito interno de cada país que visa


proteger com normas de ordem pública e interesse social um sujeito de
direitos, o consumidor, considerado mais fraco nas suas relações de direito
privado. Estas relações são entre o consumidor e um sujeito de direitos,
considerado mais forte, o fornecedor de produtos e serviços, que é um
profissional, comerciantes, empresário ou profissional liberal. (MARQUES,
2009, p.48)

Sérgio Cavalieri Filho (2011, p.13) define norma de ordem pública como
sendo “normas coagentes, imperativas, pelo que indispensáveis e de observância
necessária”. Bruno Miragem corrobora com essa definição assim aduzindo:

A determinação da lei como ordem pública, releva um status diferenciado á


norma que, uma ordem pública de proteção em razão da vulnerabilidade
reconhecida ao consumidor, que embora não a torne hierarquicamente
superior as demais, lhe outorga caráter preferencial. (MIRAGEM, 2016,
38

p.69)

De acordo com o referido autor, as partes não possuem autonomia para


alterar normas de ordem pública e o juiz possui o dever de aplicá-las de oficio, ou
seja, sem estar vinculado a manifestação do consumidor. Essa norma “na medida
em que realiza o conteúdo de um direito fundamental, de matriz constitucional, retira
da esfera de autonomia privada das partes a possibilidade de derrogá-la (norma
imperativa)” (MIRAGEM, 2016, p.66). Assim, definido normas de ordem pública,
Sérgio Cavalieri Filho define norma de interesse social como sendo:

Normas de interesse sociais, são aquelas que disciplinam um campo de


relações sociais marcado pela desigualdade, razão pelo qual têm por
finalidade interesse que transcende o interesse meramente particular, são
normas que interessam mais diretamente a sociedade que aos particulares
(FILHO, 2011, p.13).

4.1 OBJETIVOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor é uma lei principiológica que tem o


propósito de fazer a defesa moral e patrimonial do consumidor.

Como lei principiológica entende-se aquela que ingressa no sistema


jurídico, fazendo assim, um corte horizontal, indo no caso do CDC, atingir
toda e qualquer relação jurídica que possa ser caracterizada como de
consumo e que também esteja regrada por norma jurídica
infraconstitucional. (NUNES, 2018, p.112)

Assim, por exemplo, “os serviços públicos continuam regidos pelas leis e
princípios do Direito Público, mas, no que for pertinente às relações de consumo,
ficam também sujeitos à disciplina do Código de Defesa do Consumidor” (FILHO,
2011, p. 16).

Um contrato de seguro de automóvel continua sendo regulado pelo Código


Civil, porém está tangenciado por todos os princípios do CDC, de tal modo
que naquilo que colidirem, perde a eficácia por tornar-se nulo de pleno
direito. (NUNES, 2018, p.112)

O Código de Defesa do Consumidor é uma lei principiológica que tem o


propósito de defender o consumidor efetivando-se no plano infraconstitucional
39

princípios, com um grande enfoque no princípio da isonomia, sendo todos iguais


perante a lei sem qualquer distinção. O inciso I do art. 4° do CDC decorre
diretamente da aplicação do princípio da igualdade previsto na Constituição
Federal.

Art. 4° A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito á sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos,
a melhoria de sua qualidade de vida, bem como transparência e harmonia
nas relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

[...]

I- Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de


consumo;

Sérgio Cavalhieri Filho (2011, p. 25), traz uma bela explicação da posição que
se encontra o consumidor no mercado de consumo. Faz a seguinte situação
hipotética:

Uma pessoa franzina, frágil, leiga em técnicas de defesa pessoal, está


sendo injustamente agredida por outra, profissional na arte das lutas e de
porte físico muito superior, que se prevalece de sua superioridade técnica e
física para causar dano aquela. (FILHO, 2011, p. 25)

Com toda certeza, quem ganhará a luta é o profissional. Assim ocorre no


mercado consumerista. O consumidor é a parte vulnerável, a qual precisa de um
mecanismo para sua defesa.

O Código de Defesa do Consumidor só existe porque o consumidor é


vulnerável; porque o consumidor é o sujeito mais fraco na relação jurídica
de consumo e, portanto, o que está exposto a ofensas e agressões- o que
ocorria e ainda ocorre com indesejada frequência, principalmente naqueles
segmentos em que fala alto o poder econômico, como o sistema financeiro.
(FILHO, 2011, p. 26)

Se as partes da relação de consumo fossem igualitárias, não seria necessário


ter uma legislação que protegesse o consumidor. O CDC busca a ética, harmonia,
respeito e equilíbrio nas relações consumeristas. Esses anseios são alcançados
mudando a forma de pensar, educando e orientando os agentes desta relação
jurídica.

4.2 DO CONCEITO DE CONSUMIDOR


40

Consumidor é a parte vulnerável na relação de consumo. O Código de Defesa


do Consumidor define o consumidor em seu art. 2º como sendo “toda pessoa física
ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.
Embora, o legislador tenha contribuído para a melhor compreensão do que
seja consumidor, quando o assunto é definir qual é o alcance da expressão
destinatário final, há controvérsias. Buscando abrigo na doutrina e na jurisprudência,
três correntes buscam espaço acerca do tema consumidor.
Logo que o Código de Defesa do Consumidor entrou em vigor, surgiram
aqueles que davam uma interpretação muito extensa à expressão “destinatário
final”. Estes consideram que o CDC foi criado para fazer a proteção a todo mercado
de consumo. O que é errôneo, pois isso transformaria o direito do consumidor em
um direito de consumo e isso importaria em retirar dele a sua principal função:
proteger a parte vulnerável. “Na realidade, se ele protege todas as partes da relação
de consumo – acaba não protegendo ninguém. “Todos são especiais” é o mesmo
que dizer que ninguém o é”. (FILHO, 2011, p.60).
Existem também aqueles que dão uma interpretação mais restritiva ao
alcance do termo destinatário final. Consideram sendo consumidor a pessoa física
do não profissional. “A pessoa jurídica pelo conceito de lei, pode ser consumidora,
desde que adquira ou utilize o produto ou serviço como destinatário final”
(TUPINAMBÁ, 1991, p.24). Segundo Cláudia Lima Marques, citada por Sérgio
Cavalieri Filho (2011, p. 60), nesta restrição “a pessoa jurídica estaria excluída do
conceito de consumidor, como ocorre na França e na Alemanha, onde o consumidor
é apenas pessoa física”.
Destes dois pensamentos surgiram as correntes: maximalista (objetiva), e
finalista (subjetivista). Segundo o entendimento da corrente maximalista ou objetiva,
o CDC é um Código amplo de consumo, que não almeja a proteção de uma
determinada parcela da sociedade, ou seja, a vulnerável. Para exemplificar, Bessa e
Moura (2014) citam o exemplo de uma loja de automóveis que adquire um veículo
de uma concessionária para revender para seus consumidores, quem defende esta
corrente entende que a loja se caracteriza como consumidora pelo simples fato de
ter comprado o automóvel. O que é impróprio dizer, pois o referido Código, como já
dito, se destina a proteger os vulneráveis, e não aqueles que estão em pé de
igualdade.
41

Ainda de acordo com referida teoria, o simples ato de retirar o produto ou


serviço do mercado já caracteriza uma proteção da lei do consumo, sendo
irrelevante a destinação que será dada aos mesmos. Neste sentido, para os
maximalistas:

Não é preciso perquirir a finalidade do ato de consumo, ou seja, é


totalmente irrelevante se a pessoa objetiva a satisfação de necessidades
pessoais ou profissionais, se visa ou não ao lucro ao adquirir a mercadoria
ou usufruir do serviço. Dando ao bem ou ao serviço uma destinação final
fática, a pessoa, física ou jurídica profissional ou não, caracteriza-se como
consumidora, pelo que dispensável cogitar acerca da sua de sua
vulnerabilidade técnica (ausência de conhecimentos específicos quanto aos
caracteres do bem ou serviço consumido), jurídica (falta de conhecimentos
jurídicos, contábeis ou econômicos) ou socioeconômica (posição contratual
inferior em virtude da magnitude econômica da parte adversa ou do caráter
essencial do produto ou serviço por ela oferecido). (FILHO, 2011, p.60)

A corrente finalista ou subjetivista faz uma interpretação de maneira reduzida


do termo destinatário final, defendendo que só merece a tutela do CDC quem é
vulnerável. Defendem que consumidor é aquele que adquire um produto ou serviço
para o atendimento pessoal da pessoa física ou jurídica. O ciclo econômico se
encerra na pessoa do adquirente. Neste sentido:

Destinatário final seria aquele destinatário fático e econômico do bem ou


serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo, segundo esta interpretação
teleológica, não basta ser destinatário fático do produto, retirá-lo da cadeia
de produção, levá-lo para o escritório ou residência – é necessário ser
destinatário final econômico do bem, não adquiri-lo para revenda, não
adquiri-lo para uso profissional, pois o bem seria novamente um instrumento
de produção cujo preço será incluído no preço final do profissional que o
adquiriu. Neste caso, não haveria a exigida “destinação final” do produto ou
serviço, ou como afirma o STJ, haveria consumo intermediário, ainda dentro
das cadeias de produção e de distribuição. (MARQUES; BENJAMIN, 2009,
p. 71)

Em contrapartida aos maximalistas, utilizando o mesmo exemplo da


concessionária de carros, os finalistas entendem que a compra do veículo para a
revenda, faz parte de uma atividade empresarial que não atrai a proteção do Código
de Defesa do Consumidor.

Mas, isto não significa que os finalistas afastem o CDC de todas as


situações em que as pessoas jurídicas adquiram produtos ou serviços, pois
elas também podem consumir para satisfação de suas necessidades
primarias, como água para seus funcionários, na contratação de um plano
de assistência médico-hospitalar para seus funcionários (aí, sim estaria
dando aos produtos e serviços destinação final). (BESSA; MOURA, 2014, p.
42

82)

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ – tem adotado uma


linha segura de interpretação para decidir pela aplicação ou não do Código de
Defesa do Consumidor às pessoas jurídicas (empresas/profissionais) que utilizam os
produtos e serviços para o desenvolvimento de suas atividades: a teoria finalista
aprofundada, mitigada ou temperada, terceira corrente.
Esta terceira teoria abranda a teoria finalista e inclui no conceito de
consumidor todo aquele que possua vulnerabilidade em face do fornecedor. Autoriza
que o CDC seja utilizado nos casos em que a pessoa física ou jurídica, não seja
tecnicamente a destinatária final do produto ou serviço adquirido, esteja em situação
de vulnerabilidade. Deste modo, a definição da teoria finalista mitigada, do STJ é a
presunção de vulnerabilidade de uma das partes, ou seja, uma situação, ou seja,
uma situação permanente ou provisória, em que a vulnerabilidade é tão grande, que
tem o condão de causar desequilíbrio na relação de consumo. Neste sentido:

A corrente subjetivista sofreu certo abrandamento, na medida em que se


admite, excepcionalmente e desde que demonstrada “in concreto” a
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica, a aplicação das normas do
Código de Defesa do Consumidor a determinados consumidores
profissionais, como pequenas empresas e profissionais liberais. (FILHO,
2011, p. 62)

Sendo assim, diferente da teoria maximalista, não se deixa de observar


acerca do uso profissional ou não do bem ou serviço. É permitido, como exceção, e
à vista da vulnerabilidade confirmada de determinado adquirente, apesar de ser um
profissional, é considerado como um consumidor, isso, sendo observado em cada
caso concreto. Como por exemplo, o que segue:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO CIVIL E DO


CONSUMIDOR. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PAGAMENTO DE PRESTAÇÃO
EM DUPLICIDADE. COMUNICAÇÃO. SOLICITAÇÃO DE
COMPENSAÇÃO. AUSÊNCIA DE BAIXA. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM
CADASTRO DE INADIMPLENTES. PESSOA JURÍDICA. DANO MORAL
CARACTERIZADO. 1. Apelação interposta da r. sentença, proferida na
ação de declaração de inexistência de débito cumulada com reparação por
danos morais, que julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial. 2.
Conforme corrente finalista mitigada, equipara-se à condição de consumidor
as pessoas jurídicas que, embora não sejam destinatárias finais do produto
ou serviço adquirido, revelem vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica
em relações de consumo estranhas à sua especialidade. 3. Presente toda a
documentação necessária ao exame e julgamento da demanda, torna-se
43

dispensável a inversão do ônus da prova - até mesmo porque, no caso, ela


ensejaria a produção de prova negativa pela ré. 4. No caso, o consumidor
efetuara o pagamento de trinta e seis parcelas de seu financiamento,
contudo, com o equívoco que uma delas ficara em aberto, já que efetuara o
pagamento de outra em duplicidade. Nada obstante, considerava-se em dia
com suas obrigações, não recebera qualquer negativa da instituição
bancária ao pedido de compensação dos valores, razão pela qual se mostra
indevida a inscrição de seu nome em cadastro de inadimplentes justamente
após ele ter entrado em contato com a instituição financeira visando a
adequada compensação. 5. A Súmula 227 do STJ enuncia que a pessoa
jurídica, assim como a pessoa física, é capaz de sofrer lesão de natureza
moral, sendo necessário, em tais casos, que a ofensa atinja a sua honra
objetiva, ou seja, que a violação atinja a sua reputação ou o seu nome no
meio comercial em que atue. 6. O quantum indenizatório deve estar em
consonância com a razoabilidade e a proporcionalidade e cumprir à
finalidade compensatório-pedagógica, de modo que, no caso, o valor de
R$3.000,00 (três mil reais) irá recompor devidamente o apelante-autor pelos
danos suportados. 7. Apelação do autor conhecida e provida. (Acórdão n.
1068365, Relator Des. CÉSAR LOYOLA, 2ª Turma Cível, data de
julgamento: 13/12/2017, publicado no DJe: 19/12/2017.)

Portanto, sob o prisma do conceito jurídico, a teoria finalista mitigada tem sido
o entendimento prevalente para a definição de consumidor, pois é a que se adequa
ao objetivo do CDC, este já elucidado no presente trabalho.

4.3 CONCEITO DE FORNECEDOR

O art. 3°, caput, do C.D.C assim dispõe, in verbis:

Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Este é um conceito bem amplo da definição de fornecedor. Por fornecedor


“[...] entende-se todo comerciante ou estabelecimento que abastece ou fornece
habitualmente uma casa ou um outro estabelecimento dos gêneros e mercadorias
necessários a seu consumo”. (FILOMENO, 2018, p. 95). Desta forma:

Permeiam o conceito de fornecedor, como se vê, as ideias de atividades


profissionais, habituais, com finalidades econômicas- o que nos leva a crer
que o legislador quis se referir às atividades negociais, dentro de um perfil
organizado e unificado, com vistas à satisfação de um fim econômico
unitário e permanente. (FILHO, 2011, p.73)

Conclui-se, portanto, que diferentemente do que ocorre com o conceito de


44

consumidor, o de fornecedor é bem amplo. O fornecedor, propícia a oferta de


produtos ou serviços no mercado de consumo, como uma atividade profissional.
Desta forma, não se caracteriza uma relação de consumo as relações jurídicas
causal e eventual estabelecidas entre não profissionais.

4.4 PRINCÍPIOS GERAIS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Com objetivo de atender as necessidades dos consumidores e manter maior


equilíbrio nas relações de consumo, pode-se extrair da Política Nacional das
Relações de Consumo, prevista no Capítulo II do CDC, princípios, a saber:
a) da vulnerabilidade: (art.4°, inciso I do CDC) – Oriundo do princípio da
isonomia, onde busca-se constantemente a igualdade, temos o princípio da
vulnerabilidade do consumidor, sendo o mesmo mais fraco nas relações de
consumo, tanto do ponto de vista técnico: quando o fornecedor está acima do
consumidor, no que concerne a informações relativas ao produto ou serviço, quanto
em ordem econômica, por a maioria das vezes, o fornecedor possuir maior
capacidade econômica que o consumidor.
b) do dever governamental: (art. 4°, inciso II, VI e VII do CDC) – Compete ao
Estado promover meios de proteção efetiva ao consumidor.
c) da garantia de adequação: (art. 4°, inciso V, do CDC) – Busca garantir ao
consumidor segurança e qualidade em produtos e serviços.
d) da boa-fé nas relações de consumo: (art. 4°, inciso III do CDC) – Esse
princípio norteia o equilíbrio econômico, nas relações entre consumidores e
fornecedores, onde busca-se que seja prevalecido entre ambos a lealdade e a
cooperação, com o escopo de que seja evitado qualquer conduta abusiva. “Com o
equilíbrio econômico pretende-se a existência de relativa proporção entre prestação
e contraprestação. Busca-se uma relação contratual justa. Vedam-se abusos na
fixação do preço” (LEONARDO, 2008, p. 286).
e) da informação: (art.4°, inciso IV do CDC) – Toda informação que é passada
ao consumidor tem que ser clara, precisa, substancial e extensiva, de modo que o
mesmo tenha total convicção do que está adquirindo, sendo vedado, qualquer ato
que viole o seu direito de informação.
f) do acesso à justiça: (art.6°, incisos VII do CDC):
45

Art. 6° São direitos básicos do consumidor:


III- O acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e amorais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados.

Visto isto, conclui-se que quando o consumidor tiver a violação de seus


direitos, ou ter ameaça de violação, ele poderá recorrer ao Poder Judiciário para
reprimir ou prevenir qualquer fator insatisfatório em relação ao produto ou serviço,
seja por um vício, defeito ou até mesmo pela criação de uma falsa expectativa.
Sergio Cavalieri Filho (2011, p. 8) diz que, “[...] a finalidade do Direito do
Consumidor é justamente eliminar essa injusta desigualdade entre o fornecedor e o
consumidor, restabelecendo o equilíbrio entre as partes nas relações de consumo”.
46

5 A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS


CONTRATOS DE SEGURO

O Código de Defesa do Consumidor dispõe sobre normas de proteção e


defesa direcionadas a relação de consumo, normas que como já salientado
anteriormente, são de ordem pública e interesse social. Assim, submetem-se aos
dispositivos do CDC todos os contratos existentes e provenientes de relações de
consumo, ligando um consumidor a um profissional, fornecedor de bens ou serviços.
Assim, para que se caracterize uma relação de consumo, é essencial a presença
conjunta do fornecedor e consumidor.
Importante destacar que o CDC dispõe de forma expresa que o contrato de
seguro consiste me um espécie de contrato de consumo, observa-se:

Art. 3 [...]

[...]

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. (grifo nosso)

O referido trabalho já mencionou a respeito do conceito de fornecedor, mas


importante ressaltar que este consiste em ser aquele que “[...] exerce atividade
profissional de alocar a outrem bens ou serviços e consumidor quem os adquire para
uso final.” (MARQUES, 2005, p. 338). Portanto, a empresa de seguros, por ser uma
pessoa jurídica de direito privado, qualificado como sendo uma fornecedora, trata-se
então de um prestador de serviços de natureza securitária, o que o consolida como
fornecedor. Já o segurado, portanto, é o fornecedor, pois contrata em benefício
próprio ou de terceiro, sendo o destinatário final do serviço. Sobre isso, Silveira
(2005, p. 206) discorre:

Como norma geral, pode-se dizer que o segurador enquadra-se no conceito


de fornecedor, de vez que exerce profissionalmente a atividade de
comercialização do produto “seguro”, inclusive porque a atividade é privativa
de sociedades autorizadas a operá-la pelo organismo adminstrativo
competente. Então, se o segurado for consumidor, isto é, contratar o seguro
como destinatário final (em seu benefício e não como elemento de atividade
empresarial), o respectivo contrato de seguro será relação de consumo,
sobre ele incidindo o CDC.
47

Uma das premissas do CDC no tocante aos contratos securitários é


justamente coibir com a abusividade dos contratos. Sobre isso, Almeida (2006, p.
140) discorre da seguinte forma:

Com o CDC ocorreu à grande mudança, ou seja, foi criado um novo


contrato capaz de resguardar os direitos dos consumidores, protegendo-o
em relação aos abusos e lesões anteriormente praticados. Daí dizer-se que
o contrato passou a ter “função social”, pois não mais cuidava de
preservarexclusivamente os interesses dos fornecedores, passando
também a considerar a pessoa do consumidor

Portanto, percebe-se que não resta dúvida quanto a incidência do CDC nos
contratos de seguro, haja vista que este está evidendimente enquadrado no rol de
relações de consumo expresso no próprio Código.

5.1 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR DE SEGUROS

Nos artigos 6º e 7º do CDC estão elencados direitos básicos do consumidor,


visando proteger a vida, saúde e segurança dos consumidores de produtos e
serviços em geral. No art. 6º, por sua vez, estão expressos os direitos especialemnte
próprios da natureza do contrato de seguro, observa-se:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...]

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
48

ordinárias de experiências;
IX - (Vetado);
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e
de prevenção e tratamento de situações de superendividamento,
preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio
da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;
XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação,
na repactuação de dívidas e na concessão de crédito;
XIII - a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida,
tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o
caso.

Assim, trata-se de disposições que prevêem a segurança do consumidor no


mercado de consumo ligado ainda ao mundo securitário, ao passo que são
baseadas em educação para o consumo por meio de ações esclarecedoras por
parte das segurodoras, evitando então que o consumidor seja lesado de alguma
forma.

5.1.1 Da publicidade abusiva ou enganosa

O consumidor não pode ser enganado por nenhuma forma de mensagem –


seja ela falada, escrita, por imagem etc. O produto ou serviço deve apresentar
informações que sejam claras, corretas, precisas e ostensivas.
O Código de Defesa do Consumidor, repugna e defini, a publicidade
enganosa no art. 37, §§ 1° e 3º. Assim dispõem:

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de


caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a
respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. (grifo
nosso)

[...]

§3º Para os efeitos deste Código, a publicidade é enganosa por


omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto
ou serviço. (grifo nosso)

Entende-se por publicidade enganosa, aquela que tenha potencial de induzir


em erro o consumidor, provocando uma distorção em seu processo decisório,
levando-o assim a adquirir um produto ou serviço, que se estive ciente das
49

informações essenciais, provavelmente não adquirisse. Neste sentido:

Logo, o efeito da publicidade enganosa é induzir o consumidor a acreditar a


em alguma coisa que não corresponda à realidade do produto ou serviço
em si, ou relativamente a seu preço e forma de pagamento, ou, ainda, a sua
garantia etc. O consumidor enganado leva, como se diz, “gato por lebre”.
(NUNES, 2016, p.549)

“O termo capaz de induzir em erro, quer significar, que a publicidade para ser
declarada ilícita, deve conter elementos suficientes para enganar o consumidor, isto
é, leva-lo a falsa percepção da realidade” (DIAS, 2010, p. 106). A palavra “capaz”
remete a ideia de que a publicidade não precisa ter o condão de induzir o
consumidor em erro de forma concreta, mas basta que, apenas tenha a capacidade
de fazer a indução.
Outrossim, para a caracterização de uma publicidade enganosa, é irrelevante
se a informação ou comunicação é total, ou parcialmente falsa – não se pode
confundir publicidade falsa com publicidade enganosa, a falsidade é apenas um tipo
de publicidade enganosa. Se somente uma parte da publicidade, possuir conteúdo
falso, ela pode ser tipificada como enganosa. Mesmo que o seu conteúdo seja
inteiramente verdadeiro, mas, se de algum modo, o anunciante deixar de inserir nela
uma informação relevante, ela poderá se encaixar como enganosa. Neste sentido:

Alegações ambíguas, parcialmente verdadeiras ou até literalmente


verdadeiras podem ser enganosas; o silêncio – como ausência de
informação positiva – pode ser enganoso; uma prática pode ser considerada
normal e corriqueira para um determinado grupo de fornecedores e, nem
por isso, deixa de ser enganosa, o standard de enganosidade não é fixo,
variando de categoria a categoria de consumidores (por exemplo, crianças,
idosos, doentes, rurícolas e indígenas são particularmente protegidos).
(BENJAMIN, 2011, p. 321)

Para a tipificação da publicidade enganosa, não é necessário que o


consumidor seja efetivamente enganado. É visado a análise de seu conteúdo, e não
os resultados de sua mensagem, ou seja, o dano efetivo. “Assim, a mera
possibilidade de levar o consumidor em erro, situação analisada apenas em
abstrato, já é suficiente para configurar a publicidade ilícita” (BOLZAN, 2018, pg.
514).

Trata-se, como percebe, de juízo abstracto e não in concreto. Na


caracterização de uma publicidade enganosa o dano do consumidor é um
50

mero plus (com implicações próprias, notadamente na área penal).


“capacidade de indução em erro” quer dizer “tendência a induzir a erro”.
(BENJAMIN, 2011, P. 344)

Sendo assim, se faz necessário, uma análise da potencialidade de indução a


erro de uma mensagem publicitária. O erro potencial, característico da
enganosidade, pode estar atrelado a qualquer elemento que conste no produto ou
serviço: características, quantidade, qualidade, origem, preço, etc. A publicidade que
não possui essa potencialidade, não pode ser considerada como enganosa.

5.1.2 Direito à informação

No art. 31 do CDC tem-se expresso o dever de informar por parte do


fornecedor, o que determina que quando da oferta e da apresentação do produto ou
serviço, o mesmo deve assegurar que o consumidor tenha acesso a inofrmações
claras, ostensivas e precisas a respeito das características. No que tange ao
contrato de seguro, deve a seguradora garantir o entendimento do consumidor, ora
segurado, de todas as cláusulas de que trata o seguro. Nelson Nery Júnior (2002, p.
175) fala em específico do contrato de seguro de vida em grupo, como exemplo do
referido direito a informação:

[...] a seguradora que pretende contratar seguro de vida em grupo deve


informar o futuro segurado, o mais amplamento possível, a fim de que o
contrato possa ser plenamente válido e eficaz, não só a luz do princípio do
dever de informar (CDC 31) como também em função da regra contida no
CDC 46, segundo a qual o contrato não obriga o consumidor, se não lhe foi
dada oportunidade de tomar conehcimento prévio do contéudo do contrato.

O mencionado art. 46 tem por finalidade assegurar que o consumidor não


seja induzido a assumir obrigações desconhecidas, advindas de práticas agressivas
e invasivas de vendas. Desse modo, garante que o consumidor tenha transparência
em sua relação de consumo, ao passo que não seja possível ao fornecedor fazer
uso da superioridade econôminca e técnica que possui para confundir o consumidor
e impor obrigações a este.
Importante mencionar ainda sobre a Resolução CNSP nº 117/04 que
determina que a seguradora precisa dispor e remeter ao segurado informações
essenciais ao acompanhamento dos respectivos valores de planos, prestar
informações sempre que o segurado solicitar, divulgar de forma ampla e imediata
51

qualquer ato ou fato importante ao plano.


O art. 30 do CDC dispõe sobre o fato de que toda informação ou publicidade
que tenha sido veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação sobre os
produtos e serviços ofertados, integra o contrato que vier a ser celebrado. Desse
modo, o segurador está então vinculado as suas ofertas, de modo que quando o
segurador recusar a prestação do bem ou serviço, o consumidor pode então cobrar
forçadamente o cumrpimento do contrato, nos termos da oferta, aceitar outar
prestação de serviço equivalente, ou então rescindir o contrato, tendo garantido a
restituição da quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada e por
perdas e danos, conforme o art. 35 do CDC.
Importante destacar que o fornecedor não precisa necessariamente
apresentar todas as características do produto ou serviço ofertado, trata-se do dever
de informar ao consumidor dados essenciais, veiculando por todos os meios de
propaganda, para que não seja então caracterizada como propaganda enganosa.
Nesse sentido, dado essencial consiste em ser “[...] aquele que influi ou pode
influir na escolha do consumidor; que se estivesse previsto na publicidade o levaria a
adotar um comportamento diverso.” (DIAS, 2010, p.143). No mesmo sentido,
(BENJAMIN, 2007 p. 206), aduz que “[...] essencial é aquele dado que tem o poder
de fazer com que o consumidor não materialize o negócio de consumo, caso o
conheça”.
Ainda em sede de conceito, Nunes (2016, p. 562) entende que:

[...] dado essencial é todo aquele que é simultaneamente inerente ao


produto ou serviço e desconhecido pelo consumidor. Se o consumidor
conhece o componente essencial do produto ou serviço, o fornecedor não
precisa informa-lo ao mercado.

Nessa esteira, dados essenciais são aqueles que podem influenciar na


decisão do consumidor. Essencial significa necessário, algo importante. Consiste em
dado essencial, por exemplo, eventuais despesas suplementares necessárias à
perfeita fruição do bem e que não estejam inclusos no valor do preço constante da
oferta publicitária, ou seja, que não conste na publicidade.

O bom exemplo, tirado do mercado brasileiro, é o anúncio, feito pela


Phillips, de um televisor stereo, o primeiro a ser comercializado no País. Só
que o anunciante deixou de informar ao consumidor que tal qualidade
especial – que o distinguia dos seus similares- só era alcançável com a
52

aquisição a parte especifica. Ora, o dado relevante para aquela aquisição –


e por isso essencial – era exatamente a sua qualidade de sonoridade
stereo. (BENJAMIN, 2011, p. 352)

É inadmissível omitir informações que possam influenciar a tomada de


decisão dos consumidores na aquisição de um produto ou serviço. E, neste caso,
essa informação essencial foi omitida. Podemos trazer a ilustração da publicidade
enganosa por omissão em outros exemplos:

Também considerada enganosa publicidade na qual se informava que na


compra de um televisor se obtinha grátis a sua instalação e mais dois
meses de serviço de televisão a cabo, sem ressalvar qualquer restrição ás
condições de contratação. Omitia, porém a publicidade, o dado fundamental
de que para usufruir do benefício, o consumidor deveria assinar um contrato
de dois anos com a empresa de televisão a cabo (plano fidelidade),
induzindo em erro os consumidores a respeito das vantagens na
contratação do televisor. (DIAS, 2010, p.141)

Seria omissão de um dado essencial, não informar que um imóvel novo, que
está sendo vendido a um preço bem abaixo do mercado, em uma região nobre, não
possui garagem. A ideia que os consumidores possuem é que os imóveis novos,
situados em regiões nobres, possuam vaga de garagem. Neste caso, esse é um
dado essencial que é necessário ser vinculado.
A contrario sensu, não seria omissão, deixar de informar que para uma
bicicleta se imobilizar é necessário usar o freio, isto porque, apesar de o freio ser
essencial, ele já faz parte do conhecimento dos consumidores. Neste sentido:

Em suma, tudo aquilo que, apesar de essencial, já faz parte do


conhecimento regular do consumidor, não tem necessidade de ser
mencionado. A contrario sensu, sempre que o dado for essencial, mas por
algum motivo não for conhecido do consumidor, por ser novo ou por divergir
do que este pensa como uso do normal, deve ser informado. (NUNES,
2016, p. 563)

O que se pretende evitar na enganosidade por omissão é a posterior


frustação do consumidor ao ter conhecimento de alguma informação essencial do
produto/serviço, que ora foi silenciado na mensagem de modo imperceptível, e que
se perceptível, teria aptidão de influenciar em sua decisão. Neste sentido:

Haverá omissão de informação relevante se ela for apta a modificar ou


redimensionar o alcance das informações ou indicações constantes da
oferta publicitária, ou se dela resultarem condições ou limites á própria
utilização do bem ou serviço anunciado e que não foram de qualquer modo
ressalvadas no material publicitário. (DIAS, 2010, p.141)
53

Com efeito, verifica-se, portanto, que o elemento essencial – a capacidade de


indução em erro também se encontra presente na omissão, pois, como já dito, pode
influir no processo decisório do consumidor, e por esta razão, as informações
essenciais devem constar da publicidade, para que assim, o consumidor tome a sua
decisão de forma esclarecida.
A legislação ao vedar todo tipo de informação que seja silenciosa, obscura ou
oculta, impediu a publicidade enganosa por omissão, que não prejudica somente os
consumidores, mas também todo desenvolvimento do mercado de consumo, que
ficaria afetado por concorrência desleal.
Independentemente da forma de enganar que for usada (haja vista, são
muitas, os fornecedores e publicitários usam de todo tipo de criatividade para
oferecerem seus produtos/serviços), o Código de Defesa do Consumidor da Ampla
Garantia de que o consumidor não pode ser enganado nem mesmo por uma “meia-
verdade”. É vedada a publicidade que induza o consumidor a erro, o fornecedor
precisa ter a preocupação de imaginar as características do produto ou serviço que
sejam fundamentais para sua escolha. Neste sentido:

O anunciante é livre na medida que não omita do próprio material


publicitário as informações necessárias que detalham, esclareçam ou
atenuam o alcance real dos seus dizeres principais ou as vinculem de modo
imperceptível, ou ilegível pelos consumidores (art.37, §3.º C.D.C). (DIAS,
2010, p. 158)

O conceito de dado essencial é muito amplo, indeterminado, haja vista, a


existência de enorme variedade de produtos e serviços que são oferecidos no
mercado de consumo. A essencialidade de uma informação cuja a omissão esteja
sendo avaliada, será preenchida pelo juiz em cada caso concreto. Deste modo:

Vale dizer, que a autoridade julgadora deverá proceder, no exame do caso


concreto, á qualificação do caráter de essencialidade da informação omissa,
podendo esta variar de acordo com as condições pessoais dos
consumidores afetados pela publicidade ou aos quais ela se dirija (público-
alvo), a natureza do produto ou serviço objeto da publicidade (valor
econômico, complexidade técnica, riscos etc.), os usos e costumes do
mercado, o modelo de contratação, bem como o espaço e meio de difusão
utilizado para sua vinculação. A partir do exame destas condições, caso a
caso, a autoridade poderá concluir se a informação omissa apresenta
qualidade essencial apta a induzir em erro os destinatários da mensagem.
(DIAS, 2010, p.143).
54

Os fornecedores não são obrigados por lei, a fazer vincular a publicidade, eles
possuem a opção de fazê-la ou não. Se a fizer, será necessário observar o que a lei
determina, ou seja, não induzir o consumidor a erro. As informações vinculadas ao
produto ou serviço precisam ser claras e precisas, é vedado a obscuridade.
Há na publicidade um dever de informar dados essenciais. Somente o
consumidor devidamente informado terá aptidão para escolher o produto ou o
serviço que realmente atenda os seus anseios.

5.2 DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A legislação processual civil está baseada no artigo 373 do Código de


Processo Civil, o qual estabelece circunstâncias variadas que acabam por delimitar
o ônus da prova entre o autor e réu:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causarelacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir
o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova
do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à
parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que
a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil.
§ 3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por
convenção das partes, salvo quando:
I - direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
§ 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebrada antes ou durante o
processo.

Em função da condição de frágil e hipossuficiente que recai sobre o


consumidor, este enfrenta obstáculos na relação de consumo, especialmente nas
situações em que deve produzir provas de suas alegações contra o fornecedor.
Dessa forma, na intenção de se proteger o consumidor dessa condição, tem-se o
instituto da inversão do ônus da prova na relação consumerista.
De acordo com Almeida (2011) o legislador entendeu que o fornecedor
sempre estará em condições mais vantajosas para apresentar provas necessárias
para a resolução dos litígios, pois está diretamente relacionado à prova.
55

Portanto, o instituto da inversão do ônus da prova no CDC encontra-se


expresso como um dos principais institutos protetivos, o qual está previsto no inciso
VIII do art. 6º.
Importante destacar a respeito do significado de prova para o meio processual
civil. No senso comum, prova é sinônimo de comprovar ou atestar a verdade de
determinada assertiva. Ocorre que, no campo jurídico o conceito de prova é
compreendido de formas diferentes.
A prova pode ser compreendida dialeticamente, como sendo um meio, uma
atividade e resultado advindo do discurso do contraditório. De acordo com Cesário
(2015) a prova é o resultado processual que faz parte do procedimento de
constituição da convicção judicial, o qual é alcançado por meio da atividade
probatória, cuja mesma é desenvolvida no decurso processual, que através do
discurso jurídico, vale-se de todos os meios em direito admissíveis para auxiliar a
atividade estatal de resolução do conflito.
Para Carnelutti (2001) a prova, em seu sentido jurídico, consiste na
demonstração da verdade real e formal dos fatos em que se discute, mediante os
procedimentos legais determinados.
No mesmo sentido entende Oliveira (2014), que afirma que o instituto da
prova consiste no esforço em que as partes realizam para produzir elementos que
comprovem os fatos alegados, com vistas a firmar a convicção do magistrado na
existência ou não de um fato ou direito. Importante ressaltar que nem sempre a
existência ou a prova de determinado fato possa significar por si só a existência de
um direito.
Teixeira Filho (2014, p. 30-31) possui um conceito mais restritivo sobre o
instituto da prova:

[...] extrai-se, como consectário prático uma fundamental regra de cautela,


que deve ser observada por todos quando da elaboração de qualquer
conceito de prova judiciária e segundo a qual ao jurista se impõe ater-se,
rigidamente, ao aspecto ontológico (ou substancial) desse instituto
poliédrico, cuidando para não adentrar em outros, sob pena de conduzir a
uma confusão entre os significados de prova e de meio probante. Postas
essas considerações, damo-nos à liberdade de ensaiar, a seguir, o nosso
conceito de prova: é a demonstração, segundo as normas legais
específicas, da verdade dos fatos relevantes e controvertidos no processo.

Tem como pressuposto um conceito tradicionalista de prova, o qual no campo


processual consiste então no método lícito para se atestar a veracidade ou não de
56

um fato, visando convencer o magistrado de sua existência ou não, Leite (2015)


entende que no campo do direito processual constitucional o instituto da prova não
busca somente a verdade dos fatos, mas a argumentação das partes que integra o
processo, ou seja, é o meio retórico indispensável para o debate jurídico.
Superado o entendimento a respeito do instituto da prova, no tocante ao ônus
da prova, entende-se como sendo a atribuição de responsabilidade a determinada
parte para produzir o conjunto probatório necessário para o reconhecimento de suas
alegações perante o julgador. Alexandre de Freitas Câmara ensina que ônus da
prova é “todo elemento que contribui para a formação da convicção do juiz a
respeito da existência de determinado fato.” (CÂMARA, 2004, p. 23).
Acerca do ônus da prova, disserta Almeida (2009, p. 565):

À parte não basta, para que tenha tutelado o direito deduzido em juízo, a
simples alegação de um fato. Ela deve convencer o juiz da existência do
fato alegado. À parte cabe demonstrar a verdade do fato que alega na ação
ou defesa.

As partes têm, ao lado do ônus da afirmação, o ônus da prova.


[...]
Trata-se de uma necessidade, porque se a parte não provar o fato por ela
alegado, o juiz não poderá tomá-lo por verdadeiro na sua decisão.

Assim sendo, caberá sempre ao magistrado, na análise da ação processual,


definir ou não a inversão do ônus da prova, sendo que tal inversão ocorre pela
decisão entre duas alternativas: verossimilhança das alegações ou pela
hipossuficiência do consumidor. Sobre isso, Almeida (2009, p. 109-110) dispõe que:

Para inverter esse quadro francamente desfavorável ao consumidor, o


legislador alterou, para as relações de consumo, a regra processual do ônus
da prova, atento à circunstância de que o fornecedor está em melhores
condições de realizar a prova do fato ligado à sua atividade.
Compreensivelmente, limitou-a ao processo civil e às seguintes situações:
quando houver verossimilhança nas alegações, a critério do juiz e segundo
as regras ordinárias de experiência, ou quando houver comprovação da
condição de hipossuficiência do consumidor.

Importante destacar o entendimento da hipossuficiência de que trata o


instituto da inversão do ônus da prova, cabe ressaltar que diz respeito à condição
técnica:

A hipossuficiência para fins da possibilidade de inversão do ônus da prova,


tem sentido de desconhecimento técnico e informativo do produto e do
57

serviço, de suas propriedades, de seu funcionamento vital/e ou intrínseco,


de sua distribuição, dos modos espaciais de controle, dos aspectos que
podem ter gerado o acidente de consumo e o dano, das características do
vício etc. (NUNES, 2015, p. 863).

Trata-se, portanto, de um conceito técnico e não econômico a hipossuficiência


abrangida pelo CDC. Assim, para fins dessa possibilidade de inversão, não se pode
compreendê-la como proteção ao sujeito mais pobre da relação, e sim, sobre o
aspecto técnico, o qual protege então a parte que não possui o conhecimento
aprofundado sobre o tema. Sobre isso, Sanseverino (2007, p. 348) ainda dispõe
que:

A hipossuficiência, que é um conceito próprio do CDC, relaciona-se à


vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. Não é uma
definição meramente econômica, conforme parte da doutrina tentou
inicialmente cunhar, relacionando-a ao conceito de necessidade da
assistência judiciária gratuita. Trata-se de um conceito jurídico, derivando do
desequilíbrio concreto em determinada relação de consumo. Num caso
específico, a desigualdade entre o consumidor e o fornecedor é tão
manifesta que, aplicadas as regras processuais normais, teria o autor
remotas chances de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. As
circunstâncias probatórias indicam que a tarefa probatória do consumidor
prejudicado é extremamente difícil.

No mesmo sentido, para que seja constatada a verossimilhança não basta


que a petição inicial esteja de boa redação, tampouco do fato de utilizar de boa
técnica para convencimento do juiz, termos dotados de beleza, em suma, não se
trata de relatar os fatos e conectá-los ao direito, é preciso que haja lógica que de
fato colabore com o convencimento de forma imediata do juiz, de modo que se
possa imaginar e chegar em uma conclusão plausível. Sobre o assunto, Nunes
(2008, p. 774) dispõe que:

É necessário que da narrativa decorra verossimilhança tal que naquele


momento da leitura se possa aferir, desde logo, forte conteúdo persuasivo.
E, já que se trata de medida extrema, deve o juiz aguardar a peça de defesa
para verificar o grau de verossimilhança na relação com os elementos
trazidos pela contestação.

Percebe-se, portanto, que ao magistrado cabe analisar caso a caso e


determinar a inversão do ônus da prova sempre que necessário, sendo que o
momento para inversão será sempre entre a propositura da ação e o despacho
saneador.
58

5.3 DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS E LIMITADORAS

A cláusula abusiva é definida no art. 51 do CDC, o qual demonstra ser aquela


onde se impõe uma condição desfavorável à parte hipossuficiente da relação, que
no caso, é o consumidor. Outros nomes são utilizados para identificar uma cláusula
abusiva: opressiva, vexatória, onerosa ou excessiva.
São utilizadas de forma constante no ramo consumerista, embora torne um
negócio nulo, dessa forma, importante transcrever o art. 51 do CDC para melhor
exemplificação do que seria uma cláusula abusiva:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - Impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor
por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem
renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o
fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser
limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos
casos previstos neste código;
III ­ transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a equidade;
V ­ (Vetado);
VI ­ estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio
jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora
obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de
maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que
igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a
qualidade do contrato, após sua celebração;
XIV ­ infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV ­ estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias
necessárias.
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I ­ ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do
contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se
a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras
circunstâncias peculiares ao caso.

Observa-se que o artigo supracitado elenca dois tipos de nulidades: absoluta


59

e relativa, as quais também estão expressas nos artigos 166 e 177,


respectivamente, também do CDC. Nesse sentido, segundo Nunes (2008) é
importante destacar que uma cláusula abusiva sempre nula, ou seja, em nenhuma
hipótese se admitirá sua validade.
Acerca disso, Benjamin, Marques e Bessa (2012, p. 355) assim discorrem:

[...] o Código é bastante claro ao definir as sanções das cláusulas abusivas:


nulidade de pleno direito – ou nulidade absoluta, na terminologia do Código
Civil -, o que significa negar qualquer efeito jurídico a disposição contratual.
A sanção para as cláusulas abusivas no CDC é indicada
expressamente pela própria lei, seja ao afirmar que as cláusulas são nulas
de pleno direito art. 51, caput), seja ao explicar, no § 2º do art. 51, que “a
nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato,
exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração,
decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

É cada vez mais comum e maior a quantidade de contratos de seguro que


utiliza as cláusulas abusivas, prática esta motivada pela busca incessante pela
proteção do patrimônio, o qual, se materializa quando o segurado/consumidor busca
a seguradora/fornecedor, e este, por ser a parte mais forte da relação impõe seus
critérios para a prestação do serviço. Sobre isso, Schmitt (2010, p. 162):

O fato de existirem tais cláusulas abusivas deve-se à massificação


das relações de consumo, à inexperiência do consumidor, à
necessidade de aquisição de certos bens garantidores da subsistência do
indivíduo moderno e de sua família e ao fato de ser o comerciante a
parte mais forte no contrato de consumo.

As cláusulas abusivas se evidenciam não só quando causam dano ao


aderente, mas quando fere princípios fundamentais que são assegurados e
previstos pelo CDC, os quais visam bons costumes nas relações de consumo.
Segundo Fonseca (1993) uma cláusula contratual deve ser classificada como
abusiva quando constituir-se em abuso de direito, quando violar o princípio da boa-fé
objetiva, quando afrontar os bons costumes, ou ainda, quando desviar-se da
finalidade social ou econômica que determina o direito.
Assim, as cláusulas abusivas se caracterizam como sendo aquelas em que o
consumidor, por ser a parte mais frágil da relação de consum, é coloca em situação
de desvantagem e obrigado a aderir ao referido contrato onde estão evidentemente
violados princípios básicos, como o da boa-fé e da equidade.
Importante destacar que deve-se diferenciar as cláusulas abusivas das
60

cláusulas limitativas ou restritivas, de modo que estas possuem como finalidade


limitar obrigações assumidas pelo segurador. Assim, o segurador dispõe até onde o
mesmo assume obrigações, o que não é vedado pelo CDC, sendo perfeitamente
aceito pelo Código Civil em seu art. 760:

Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao


portador, mencionarão os riscos assumidos,
o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e,
quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

Compreendendo tal diferenciação, entende-se que se trata perfeitamente de


um direito básico do consumidor, previsto no art. 6º, IV, do CDC, já comentado pelo
presente trabalho, sendo uma proteção contra cláusulas abusivas nos contratos de
prestações de serviços ou fornecimentos de produtos. Ademais, Miragem (2009, p.
52-56) discorre sobre dois modos de se prever a proteção do consumidor nesses
casos:

A abusividade se apresenta de dois modos no contrato de consumo.


Pelo conteúdo do contrato, que no caso relaciona o caráter abusivo
das cláusulas contratuais à aptidão de violarem o equilíbrio das prestações
das partes ou do poder de direção da execução contratual. E de
outro modo, pode decorrer da forma de contratação, na medida em
que não seja permitido ao consumidor tomar conhecimento dos
aspectos essenciais do ajuste, assim como das suas consequências e
efeitos, restringindo ou impedindo a decisão racional sobre o vínculo,
daí falar-se em violação da qualidade do consentimento. [...] O critério
de abusividade no caso do comprometimento da qualidade do
consentimento vincula-se ao próprio princípio de vulnerabilidade do
consumidor-aderente ao contrato, cuja falta de conhecimento e informação
não permite: (a) o acesso às estipulações do contrato de adesão antes da
celebração; ou mesmo (b) a compreensão dos termos do contrato, em
geral redigido em linguagem técnico- jurídica ou técnico-econômica,
inacessíveis ao consumidor médio. Trata-se, assim, de uma espécie de
cláusula abusiva em sentido formal, na qual não será necessariamente
o conteúdo do contrato abusivo per se, mas a forma como foi incluída a
cláusula no pacto, sem a prévia e adequada informação do
consumidor.

A abusividade, portanto, resta evidenciada na contratação quando o


fornecedor não fornece então os dados essenciais ao consumidor, ou ainda no
próprio contrato celebrado, quando o fornecedor se utiliza de linguagem técnica
como método para expor o conteúdo, dificultando ao consumidor a correta
interpretação do que de fato está qurendo expressar.
61

5.4 ANALISANDO AS CLÁUSULAS LIMITATIVAS E RESTRITIVAS DE DIREITOS


SOB A PERSPECTIVA DO CDC

O contrato de adesão é previsto no art. 54 do CDC, no qual, também se


insere o contrato de seguro, devendo, portanto, obedecer aos princípios que regem
os contratos na relação de consumo, que já foram bem delimitados anteriormente.
Importante destacar que o princípio da boa-fé e da transparência devem estar
sempre presentes e devem reger toda e qualquer ato contratual. Assim, as cláusulas
limitativas geralmente são utilizadas nos contratos de seguro, de modo que não são
vedadas pelo CDC, no entanto, devem ser observadas para que não se
caracterizem como abusivas, redigidas sempre de forma clara e objetivas,
obedecendo ao disposto no art. 54 do CDC:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente
pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor
possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
§ 1º A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza
de adesão do contrato.
§ 4º As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor
deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil
compreensão.

Sendo assim, a seguradora ao emitir uma apólice de seguro deve apresentar


todas as informações essenciais e possíveis. Tais informações devem ser passíveis
de fácil interpretação, de modo que no texto devem estar em destaque, cores
diferentes, recursos tipográficos como negrito ou outra formatação de fonte.
Ademais, tais informações devem estar plenamente em consonância com as
disposições do CDC e do CC.
A não observância às disposições do art. 54 do CDC acarretará então
nulidade da referida cláusula, passível ainda de indenização, confrome ilustra a
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

RECURSO INOMINADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E


LUCROS CESSANTES. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO INICIAL PARA CONDENAR AS RECLAMADAS
SUBSIDIARIAMENTE AO PAGAMENTO DE R$ 12.750,00 A TÍTULO
DE DANOS MATERIAIS (LUCROS CESSANTES E DESPESAS).
INCONFORMISMO RECURSAL DA RECLAMADA ALLIANZ SEGUROS
S.A. TESE DE LIMITAÇÃO DE RISCO EM RAZÃO DE EXPRESSA
AUSÊNCIA DE COBERTURA PARA SITUAÇÕES PREVIAMENTE
62

CONVENCIONADAS. ALEGAÇÃO NÃO ACOLHIDA. RELAÇÃO DE


CONSUMO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. SEGURO.
COBERTURA RESTRITA AO VALOR PREVISTO NA APÓLICE.
COBERTURA QUE NÃO OCORREU EM SUA INTEGRALIDADE.
APÓLICE QUE PREVÊ A COBERTURA PARA DANOS MATERIAIS,
SEM QUALQUER RESSALVA. INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA
LIMITATIVA DE COBERTURA EM RELAÇÃO AOS LUCROS
CESSANTES. CONTRATO DE ADESÃO. DEVER DE INFORMAÇÃO
NÃO OBSERVADA. AS INFORMAÇÕES PRESTADAS AO
CONSUMIDOR DEVEM SER CLARAS E PRECISAS, DE MODO A
POSSIBILITAR A LIBERDADE DE ESCOLHA NA CONTRATAÇÃO DE
PRODUTOS E SERVIÇOS. LOGO, DEVE A INDENIZAÇÃO POR
LUCROS CESSANTES SER SUPORTADA, EIS QUE ABRANGIDA PELA
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. PARTE AUTORA QUE
LOGROU ÊXITO EM COMPROVAR FATO CONSTITUTIVO DE SEU
DIREITO, NOS TERMOS DO ARTIGO 373, I DO CPC. PARTE RÉ QUE
NÃO SE DESINCUMBIU DE SEU ÔNUS PROBATÓRIO, POIS NÃO
COMPROVOU FATOS EXTINTIVOS, IMPEDITIVOS OU EXTINTIVOS DO
DIREITO DA PARTE AUTORA, NOS TERMOS DO ARTIGO 373, II
DO CPC C/C ARTIGO 6º, VIII DO CDC. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
DO PRESTADOR DE SERVIÇOS. ARTIGO 14 DO CDC.
ILEGALIDADE NA NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO PAGAMENTO DE
TODOS OS DANOS SUPORTADOS. DANOS MATERIAIS
DEVIDAMENTE COMPROVADOS. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICABILIDADE DO ART. 46 DA LEI Nº
9.099/95. Recursos conhecidos e desprovidos. (TJPR - 1ª Turma
Recursal - 0046449-65.2014.8.16.0014 - Londrina - Rel.: Juiz Leo
Henrique Furtado Araújo - J. 25.04.2017).

Portanto, é relevante a observância aos princípios, uma vez que implicam em


nulidade da clásula, ou no mínimo a interpretação favorável ao segurado, como
indica o CDC. O contrato de seguro deve, ainda, estar sempre redigido em
consonância com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
É preciso que todos os ricos cobertos pelo segurador sejam definidos, haja
vista que o cálculo do prêmio é realizado baseando-se justamente nos riscos. Isso
deve ser somado sempre à boa-fé do segurado, considerado um elemento
fundamental para que o mesmo possa ser indenizado.
O dever de informar, já estudado pelo presente trabalho, deve ser observado
criteriosamente pela seguradora, de modo que não cabe em nenhuma hipótese a
transferência de tal responsabilidade. Nesse sentido, já entendeu o Tribunal de
Justiça do Paraná em outra situação:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA E


ACIDENTES PESSOAIS EM GRUPO. INVALIDEZ POR ACIDENTE
(IPA) OU POR DOENÇA (IFPD).PRESCRIÇÃO. TEMA JÁ JULGADO.
CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PROVAS
EXISTENTES SUFICIENTES. ESTIPULANTE.
MANDATÁRIA.TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELA
INFORMAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DEVER DA SEGURADORA.
63

EXCLUSÃO PARA DOENÇA DEGENERATIVA. INAPLICABILIDADE NO


CASO.CERTIFICADO INDIVIDUAL DE SEGURO SILENTE.REDAÇÃO
QUE ANUNCIA GENERICAMENTE INDENIZAÇÃO POR DOENÇA.
VALOR FIXO. PRINCÍPIO DA MÁXIMA PUBLICIDADE E DA
INFORMAÇÃO ADEQUADA.VIOLAÇÃO. TABELA DA SUSEP E
CONDIÇÕES GERAIS.AUSÊNCIA DE MENÇÃO. DIVULGAÇÃO
INSUFICIENTE.RELAÇÃO DE CONSUMO. CLÁUSULAS LIMITATIVAS DE
DIREITO. PRECEDENTES. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO NÃO
PROVIDO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1652687-3 - São Miguel do
Iguaçu - Rel.: Desembargador Vicente Del Prete Misurelli - Unânime - J.
06.04.2017)

É recorrente a discussão sobre tal tema nos tribunais, o que demonstra que
os consumidores não possuem ciência ou a possuem de forma equivocada dos
termos do contrato, ou seja, o consumidor, na maioria das vezes não consegue
obter interpretações claras e objetivas sobre o conteúdo do contrato firmado.
Ocorre que, não há um consenso sobre a quem recai o dever de informar o
segurado nos contratos de seguro. Alguns julgados as câmaras cíveis do estado de
Santa Catarina estão em posicionamento contrário, adotando a Resolução nº
107/2004 do Conselho Nacional de Seguros Privados, prevendo que o dever de
informar recai sobre o estipulante, não sendo responsabilidade da seguradora no
que diz respeito a informação ao consumidor sobre as cláusulas limitativas e
restritivas. Assim foi o entendimento da 3ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina:

CONSUMIDOR. COBRANÇA DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO.


SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DA PARTE
AUTORA E DA SEGURADORA RÉ. ALEGADO CERCEAMENTO DE
DEFESA PELA ÚLTIMA. MÉRITO QUE LHE É FAVORÁVEL.
DESCONSIDERAÇÃO DA EVENTUAL NULIDADE DA SENTENÇA.
APLICAÇÃO DO ART. 282, § 2º, DO CPC. CONTRATO REGIDO
PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CIÊNCIA PESSOAL
DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS RESTRITIVAS PELA
CONSUMIDORA. DESNECESSIDADE NO SEGURO EM GRUPO.
MODALIDADE CONTRATADA POR MEIO DE ESTIPULANTE, QUE
AGE COMO MANDATÁRIA DA SEGURADA PERANTE A
SEGURADORA (ART. 21, § 2º, DO DECRETO-LEI N. 73/1966).
DEVER DE INFORMAÇÃO QUE, NESSE CASO, PERTENCE À
ESTIPULANTE (ART. 3º, III, DA RESOLUÇÃO N. 107/2004 DO
CNSP). PRECEDENTES. CONDIÇÕES GERAIS PLENAMENTE
APLICÁVEIS. SUSTENTADO O DIREITO À INDENIZAÇÃO POR
INVALIDEZ FUNCIONAL PERMANENTE POR DOENÇA (IFPD).
PROVA TÉCNICA PRODUZIDA EM PROCESSO CONEXO. LAUDO
QUE CONSIDERA PRESERVADA A EXISTÊNCIA INDEPENDENTE DA
SEGURADA. ALEGADA A ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA.
INSUBSISTÊNCIA. PARTES INFORMADAS A ESSE RESPEITO.
ENTENDIMENTO RECENTE DO STJ. INVALIDEZ DECORRENTE DE
DOENÇA OCUPACIONAL. PRETENDIDA A EQUIPARAÇÃO AO
CONCEITO DE "ACIDENTE PESSOAL". IMPOSSIBILIDADE.
64

EXPRESSA EXCLUSÃO CONTRATUAL NESSE PONTO. CONTRATO


REDIGIDO NO PADRÃO ESTABELECIDO PELAS NORMAS DA
SUSEP E DO CNSP (RESOLUÇÃO N. 117/2004). INTERPRETAÇÃO
RESTRITIVA DOS RISCOS PREDETERMINADOS (ART. 757 DO
CÓDIGO CIVIL). INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 47 DO CDC.
PRECEDENTES. NECESSIDADE DE ZELAR PELO EQUILÍBRIO
ECONÔMICO NA RELAÇÃO RISCO-PRÊMIO. FORTALECIMENTO DA
SEGURANÇA JURÍDICA NA INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS DE
SEGURO. IMPROCEDÊNCIA DO PLEITO INICIAL. FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS RECURSAIS. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
DA AUTORA DESPROVIDO. RECURSO DA SEGURADORA RÉ PROVIDO
[...] (TJSC, Apelação Cível n. 0303856-11.2014.8.24.0018, de Chapecó, rel.
Marcus Tulio Sartorato, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 06-06-2017).

Observa-se, portanto, que o desembargador levou em consideração somente


as normas especiais, não observando as disposições do CDC. Dando continuidade
a análise da decisão supracitada, observa-se o aprofundamento da disposição do
desembargador:

[...] 1. A estipulante, na contratação do seguro em grupo, age como


mandatária (representante) do segurado perante a seguradora, e em seu
nome realiza os atos necessários à celebração do seguro (art. 21, § 2º, do
Decreto-lei n. 73/1966). Nesse contexto, existe dever de informação da
seguradora para com o estipulante, entre os quais a apólice-mestre é
firmada. Entretanto, perante o segurado, que adere à apólice por meio da
estipulante, o dever de informação pertence a esta última, e não à
seguradora. É o que prevê o art. 3º, inciso III, da Resolução n. 107/2004 do
Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), segundo o qual é
obrigação da estipulante e não da seguradora “fornecer ao segurado,
sempre que solicitado, quaisquer informações relativas ao contrato de
seguro". 2. À luz das resoluções aplicáveis do CNSP e da SUSEP, e em
atenção ao disposto no contrato, a doença ocupacional não pode ser
equiparada ao conceito de “acidente pessoal” previsto nos contratos de
seguro de pessoas. 3. A essência do contrato de seguro é a
predeterminação dos riscos (art. 757 do Código Civil). Logo, estes devem
ser interpretados de modo restritivo, uma vez que ampliá-los pela via
interpretativa seria o mesmo que indeterminá-los, o que resultaria na
deturpação da essência do contrato e no desequilíbrio da delicada relação
risco prêmio que se encontra no fundamento do pacto securitário. 4. Nem
toda cláusula restritiva de direitos é abusiva. O reconhecimento da
abusividade depende da constatação de alguma das condições previstas no
art. 51 do Código de Defesa do Consumidor.

Com base na decisão ora analisada, percebe-se que cabe a seguradora


disponibilizar a apólice-mestre ao estipulante, e este, por sua vez, deve prestar todo
o esclarecimento sobre as informações necessárias do seguro ao segurado, sempre
que se fizer necessário. No entanto, trata-se de um entendiemnto jurisprudencial que
vai em contrariedade aos julgados analisados anteriormente, vez que a estipulante
deve informar somente quando provocada. De toda sorte, percebe-se que não há
consenso quanto ao tema em análise, de modo que os tribunais divergem entre si.
65

Trata-se da existência de uma insegurança jurídica no país quanto aos casos


que envolvem uma relação de consumo consubstanciada em contratação de
seguros. Assim, os consumidores permanecem propensos à condição de vítima das
seguradoras, vez que estão sempre dotadas de conhecimento técnico e podem e
muito usar disto para benefício próprio, prejudicando então o segurado, ora
consumidor.
É competência da SUSEP a fiscalização das seguradoras efetivamente, de
modo que os serviços pertencentes ao sistema de proteção do consumidor devem
inserir-se também de forma efetiva no ramo securitário, haja vista que tal relação
preenche por completo os requisitos norteadores de uma relação de consumo.
66

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O seguro é instituto jurídico comercializado como produto em uma relação de


consumo interpretativa com vistas a proteger um patrimônio. A função social deste
tipo de contrato é evidenciada pela absorção dos riscos sociais existentes. Qunato a
atividade da seguradora, esta é devidamente prevista em legislação e
regulamentada devidamente pelas legislações especiais e pelo próprio Código Civil
e Código de Defesa do Consumidor.
A interpretação do contrato de seguro deve seguir a disciplina específica do
Código Civil, cujo mesmo possui um capítulo dedicado somente a tal matéria de
Direito, bem como, ao Código de Defesa do Consumidor, o qual regulamenta a
relação existente entre o segurador e a seguradora, instruindo à observância as
normativas que os órgãos e as entidades federais prevêem, em especial pela
SUSEP.
O Código de Defesa do Consumidor admite a existência de cláusulas
limitativas e as diferencia das cláusulas abusivas. É importante que haja as clásulas
limitativas para que de fato tenha-se a proteção contra todos os riscos. Quanto aos
cláusulas abusivas, o objetivo é tão somente a exoneração de obrigações
assumidas pelo segurador. No entanto, sabe-se que as seguradoras, de modo geral,
agem no intuito de transferir ao segurado a rsponsabilidade de ciência das
informações constantes nos contratos, porém, tal responsabilidade é nula de pleno
direito, uma vez que cabe de forma exclusiva ao fornecedor dar ciência do conteúdo
do contrato ao consumidor, de forma clara e precisa.
Sendo assim, uma vez que a relação entre o segurado e a seguradora é
compreendida do ponto de vista de uma relação de consumo, as clausulas restritivas
e limitativas de direito devem ser informadas de forma antecipada ao consumidor,
uma vez que a obrigação recai sobre o fornecedor, e o CDC dispõe sobre isso de
forma perfeitamente compreensível.
Dessa forma, entende-se que o presente trabalho atingiu os objetivos
propostos inicialmente, uma vez que analisou-se a incidência do CDC na relação de
consumo estabelecida por meio de contratação de seguros.
Assim sendo, entende-se que o CDC estebele garantias à ambas as partes
da relação securitária, no entanto, em proporções diferentes, onde o segurado, na
condição de consumidor encontra-se devidamente protegido pelo referido Código,
67

vez que a legislação especial deixa a desejar no que tange a proteção deste, que
consiste na parte hipossuficiente da relação.
Entende-se, por fim, é preciso que a atividade jurisdicional incline-se a utilizar
de forma efetiva os preceitos contidos no CDC para decidir sobre os casos que se
discutem sobre os contratos de seguro, analisando sempre de forma minuciosa caso
a caso, buscando sempre estabelecer a igualdade processual entre as partes,
visando manter o equilibrar e conceder harmonia entre o consumidor e o fornecedor:
segurado e segurador.
68

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