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Declaração

Declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.

Maxixe, Março de 2019

______________________________

Dirci Paulino Larito


Dedicatória

A Minha família.
Agradecimentos

A Deus, meu senhor celestial por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades, que
permitiu que tudo isso acontecesse ao longo da minha vida.

Ao meu supervisor, dr. Faustino Filimão Mangue, pela sua paciência e apoio na elaboração do
presente trabalho.

A todos os docentes por me terem proporcionado o conhecimento não apenas racional, mas a
manifestação do carácter e afectividade da educação no processo de formação profissional, por
tanto que dedicaram-se a mim, não somente por terem ensinado, mas por terem contribuído para
o meu aprendizado.

Aos meus queridos pais, que me trouxeram com todo o amor e carinho a este mundo em especial
a minha Mãe Júlia Argentina Joel, pelo Amor, Carrinho e Amizade incondicional. A minha
formação como profissional não poderia ter sido concretizada sem a ajuda da minha amável e
eterna Família, que, no decorrer da minha vida, proporcionaram-me, além de extenso carinho e
amor, os conhecimentos da integridade, da perseverança e de procurar sempre em Deus à força
maior para o meu desenvolvimento como ser humano. Por essa razão, gostaria de agradecer e
reconhecer a vocês, minha imensa gratidão e sempre amor

As meus Colegas, em especial ao Gervásio Nhamona e Hélio Virgílio, pelo incentivo e apoio
durante os 5 anos.

A todos que directa ou indirectamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada.
Lista de abreviaturas

CC - Código Civil

Cfr. - Confira

Ed. - Edição

RJS.- Regime jurídico das Seguradoras.


Resumo

Esta monografia subordina-se ao tema: “Responsabilidade Civil das Seguradoras em Moçambique:


Ramo Automóvel” e, faz uma análise da responsabilidade civil das seguradoras nos casos de mora ou
incumprimento no pagamento da indemnização no caso da ocorrência de acidente de viação. A pesquisa
procura compreender em que medida as seguradoras são responsabilizados civilmente pela mora ou
incumprimento definitivo. O estudo justifica-se não somente pelo grande crescimento que se tem notado
neste sector, razão também para aumentar nosso conhecimento, mas também, pela necessidade de
compreender as medidas previstas (se não omissas) na lei para tutelar o segurado. Da análise documental
feita para este estudo, foi possível compreender e concluir que no caso de mora o RJS O ordenamento
jurídico moçambicano, no que respeita a mora estabelece no seu n. º 2 do art. 147 da RJS, que as
seguradoras respondem por juros moratórios à taxa legal acrescida de 2%, salvo se o segurado provar que,
por via desta mora, sofreu danos superiores. Em relação ao incumprimento definitivo, o RJS nada prevê
como medida de responsabilização civil às seguradoras, apenas o pagamento da indemnização pelos
danos que o segurado causa (nr 1, art. 144, conj. com art. 146) ou art. 483 do CC.

Palavras-chave: Responsabilidade, responsabilidade civil, seguradora, contrato de seguro.


Capítulo I

1.Introdução

O presente monografia tem como tema “A Responsabilidade civil das seguradoras”. Esse
estudo foi desenvolvido devido ao facto de poder acompanhar no meu dia-a-dia alguma inércia
das seguradoras no âmbito do pagamento das suas obrigações para com os assegurados. É neste
sentido que levantamos a seguinte questão de partida: Até que ponto as seguradoras são
responsabilizadas civilmente pelos danos causados aos assegurados pela mora ou
incumprimento do pagamento das indemnizações?
De modo, a analisarmos há responsabilidade civil das seguradoras nos casos de mora ou
incumprimento no pagamento dos prémios aos segurados. Mas para o efeito termos que dissuadir
num historial do surgimento do seguro, explicar a responsabilidade civil para no fim
compreender a responsabilidade civil da seguradora para com os assegurados.

A pesquisa utilizou uma metodologia qualitativa e exploratória, bem como a revisão


bibliográfica que se cingiu na utilização de legislação nacional pertinente. O material foi obtido
por meio de: livros, artigos publicados. Sendo o mesmo constituído por quatro capítulos.

No primeiro capítulo, e composto pelos elementos seguintes os objectivos, o problema, as


hipótese, a justificativa, a metodologia que tornou possível o mesmos e por fim a revisão da
literatura. Já no segundo capítulo dá o inicio ao desenvolvimento do trabalho, desde logo
abordando um breve historial do surgimento do seguro, natureza e espécies.

Para o terceiro capítulo abordamos a respeito da responsabilidade civil na sua generalidade


tocando a responsabilidade civil subjectiva e a responsabilidade civil objectiva. Por fim no
quarto e último capítulo procuramos compreender a responsabilidade civil por acidente de
aviação das seguradoras para com os asseguras, a relação do seguro obrigatório e a
responsabilidade civil e a obrigação das partes.
1.1. Justificativa
A promoção do crescimento e do desenvolvimento económico de um país é feita através
da intermediação financeira, que compreende a banca e os seguros. Porém, nos estudos da banca
e o sector segurador em Moçambique é de alguma forma amplamente ignorada. Por esta razão
nos propusemos a discutir em torno dessa área do sector do seguro escolhendo como tema
Responsabilidade Civil das Seguradoras em Moçambique: Ramo automóvel. As
Seguradoras representam um dos maiores intervenientes no mercado financeiro, contribuindo de
forma fundamental para a economia, o que torna relevante o seu estudo.

Com este trabalho pretendemos contribuir para uma melhor compreensão e conhecimento
darealidade do sector segurador na área de responsabilidade civil das seguradoras, pois é um
sector de relativo desconhecimento; acrescentar valor, porque é um tema pouco explorado, além
disso a abordagem do mesmo nos cursos superiores é insuficiente.

1.2.Objectivos gerais

 Analisar a responsabilidade civil das seguradoras nos casos de mora ou incumprimento


no pagamento dos prémios aos segurados.

1.2.1.Objectivos Específicos

 Abordar sobre um breve historial dos contratos de seguro no direito moçambicano;


 Explicar a responsabilidade Civil na sua generalidade;
 Compreender a responsabilidade civil da seguradora para com os assegurados.

1.3. Problema

O contrato de seguro é cada vez mais utilizado no país e tema presentado taxas expressivas
de crescimento uma vez que mesmo se torna obrigatório a todos automobilistas.
Considerando a importância e o crescente desenvolvimento dessa espécie contratual, é
natural serem muitas as questões que envolvem a responsabilidade civil da seguradora.

A seguradora assume o risco do seguro em contrapartida do recebimento de um determinado


valor designado por prémio, mas para a seguradora, a assunção de riscos alheios contra o
pagamento de um prémio não pode ser entendida somente na situação concreta, pois há que
tomar em conta a perspectiva comercial. O segurado paga o prémio sacrificando o seu dinheiro
que é para no caso de infortúnio ter a rápida reposição do bem, facto que não ocorre com a
celeridade acordada entre o Segurado e a entidade Seguradora. Neste sentido, situações tem se
verificado de forma corrente na morosidade ate mesmo na falta de pagamento da indemnização
para os segurados nos casos de danos que de alguma forma os mesmos podem ser causados pelos
segurados.

Até que ponto as seguradoras são responsabilizadas civilmente pelos danos causados aos
assegurados pela mora ou incumprimento do pagamento das indemnizações?

1.4. Hipóteses

Segundo CASTRO (2005:23), uma hipótese é uma afirmação provisória acerca da realidade que
tendo em vista o campo teórico estabelecido, pretende dar uma resposta ao problema formulado.
A função de uma hipótese é orientar o investigador quanto aos dados que ele deva dar
importância e quais abandonar. Eis as hipóteses desta pesquisa:
 H1. Em caso de mora ou incumprimento do acordado no contrato, a lei prevê a aplicação
duma taxa de juro moratório a favor do tomador do seguro como medida reparatória.
 H2. A lei não prevê nenhuma medida reparatória contra as seguradoras em caso de mora
ou incumprimento do acordado no contrato.
 H3. Em caso de mora ou incumprimento do acordado no contrato, como medida
reparatória a favor do segurado a lei prevê reduções no prémio a pagar pelo próximo
contrato.
1.5. Metodologia

Quanto a metodologia, a pesquisa será quanto a forma de abordagem qualitativa, quanto aos
objectivos exploratória e quanto aos procedimentos técnico a revisão bibliográfica.

1.5.1. Quanto a forma de abordagem

Pesquisa Qualitativa, na perspectiva de ÉVORA1, é um conjunto de métodos ou técnicas


qualitativas de captação de factos que se prestam á análise da acção social, ou seja, o seu
interesse recai sobre fenómenos ou temas que não podem ser medidos mas merecem ser
conhecidos e interpretados, ou seja, tem como objectivo compreender fenómenos através de
colecta de dados narrativos, estudando as particularidades e experiências individuais e esta não
se baseia em números estatísticos ou cálculos matemáticos.

1.5.2. Quanto aos objectivos

Pesquisa exploratória, na óptica de MARCONI e LAKATOS (2003:188) esta, consiste nas


investigações de pesquisa empírica cujo objectivo é a formulação de questões ou de um
problema cuja finalidade é desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com
um ambiente, facto ou fenómeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou
modificar e clarificar conceitos.

Obtém-se frequentemente descrições tanto quantitativas quanto qualitativas do objecto de estudo,


e o investigador deve conceituar as inter-relações entre as propriedades do facto ou ambiente
observado

1.5.3. Quanto aos procedimentos técnicos

Pesquisa Bibliográfica, de acordo com LAKATOS e MARCONI2, a pesquisa bibliográfica


abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, até meios de
comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão.

1
ÉVORA, Iolanda, Sobre a Metodologia Qualitativa: Experiências em Psicologia Social, Lisboa 2006, p. 6
2
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica, 5ª edição,
Editora Altas, São Paulo, 2003, p. 182
Ainda para estas autoras, a pesquisa bibliográfica tem como finalidade colocar o pesquisador em
contacto directo com tudo o que foi escrito ou dito sobre determinado assunto, inclusive
conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas,
quer gravadas.

1.6. Revisão da literatura

1.6.1. Responsabilidade

Responsabilidade é o dever de arcar com as consequências do próprio comportamento ou de


comportamento de outrem. A obrigação moral de se comportar correctamente perante a
sociedade. Não é somente a obrigação, ou seja, a carácter de responder pelos seus actos
individuais e socialmente3.

A responsabilidade pode ser vista em vários os sentidos, a responsabilidade social, criminal ou


responsabilidade civil. É nesta última vertente na perspectiva civilista que ira se orientar a nossa
pesquisa.

1.6.2. Responsabilidade Civil

Para ASCENSÃO4 a responsabilidade civil é o dever de reparar os danos provocados numa


situação onde determinada pessoa sofre prejuízos jurídicos como consequência de actos ilícitos
ou omissos praticados por outrem.

FERNANDES5 diz que a responsabilidade civil é uma obrigação jurídica concluída a partir do
desrespeito de algum direito, no decurso de uma acção contrária ao ordenamento jurídico. No
que respeita a responsabilidade civil o legislador avança a subjectiva, objectiva e contratual.

A responsabilidade civil subjectiva nos termos do artigo 483 do CC, em que é necessária a
existência da comprovação da culpa ou negligência do facto acusador do dano a terceiro.

3
DicioDicionário Onlie de Português www.dicio.com.br
4
ASCENSÃO, Oliveira. Teoria Geral do Direito Civil, Vol. I, Lisboa, F.D.L.. 1996, p. 98
5
FERNANDES. Carvalho a. Luís Teoria Geral do Direito Civil, 6.ª edição revista e actualizada, Vol. I, Lisboa,
2012, p. 194
A Responsabilidade Civil objectiva é regulada no artigo 499 do CC, neste é aquela que não
necessita de uma comprovação da culpabilidade para que haja a obrigação de indemnizar.

E por fim a Responsabilidade contratual regulado no artigo 798 do CC quando duas ou mais
pessoas figuram um compromisso através de um contrato as regras estipuladas por estas, deve
ser obedecidas por ambas partes e em conformidade com a lei, ou seja, aquela que deriva do
próprio contrato

1.6.3. Seguradora

De acordo com Martinez6Seguradoras são empresas autorizadas a assumir o risco de seus


clientes, por meio de contractos que a comprometem a indemnizar o cliente caso o bem seguro
sofra determinado dano.

Para MACHADO7 as seguradoras são empreses ou companhias que assumem a responsabilidade


pelos danos dos segurados por via de um acordo entre ambos no caso de se verificar qualquer
dos riscos assumidos, mediante pagamento por parte do segurado de uma quantia estipulada.

É no entendimento destes autores de Seguradora, como uma empresa que por via de contrato
com os segurados assume as suas obrigações no caso de danos que esse vier a ter na sua viatura
que a nossa pesquisa ira se orientar.

6
Martinez. P. R. Direito dos seguros, 1.ª edição, Principia Editora, Cascais, 2006, p. 56
7
Machado, V. (2011). Seguros em geral, p.121
Capítulo II

2. Contrato de Seguro: Origem

O seguro tem-se desenvolvido ao longo de vários séculos. Começou com o seguro marítimo, em
que mercadores concordavam em contribuir junto de vítimas de um prejuízo após a sua
ocorrência. O problema com este sistema era que não transferia totalmente a incerteza; os
mercadores nunca sabiam quanto poderiam ter que pagar. O seguro moderno desenvolveu-se de
modo a que os tomadores de seguro conheçam à partida qual a sua quota-parte (ou seja, o seu
prémio).8

Historicamente as operações de seguro se restringiram aos seguros de danos, dentre os quais os


de transportes marítimos, terrestres e de incêndio. Posteriormente surgiram os seguros de vida e
os acidentes pessoais. Sua origem possui duas grandes vertentes: A norte-europeia que foi
baseada na cooperação e solidariedade entre as pessoas, e a mediterrânea, fundada na exploração
visando o lucro no seguro. A primeira delas foi resultado da associação de pessoas para a
protecção de seus bens contra riscos diversos. E a segunda teve associação principalmente
devido as navegação marítimas que transportava as mercadorias9.

De acordo com RIBEIRO10, os modelos mercantil e cooperativo da actividade seguradora


correspondem respectivamente às actuais formas jurídicas de organização dessa actividade: a
sociedade de capitais e a sociedade cooperativa. A primeira tem o sócio capitalista como figura
principal da empresa, que lhe fornece recursos financeiros para, através da actividade
seguradora, obter lucro; na segunda, pessoas se unem para se proteger contra os efeitos negativos
de um potencial sinistro – a cooperação entre os sócios é o traço característico da organização.

O seguro marítimo era realizado por documento escrito, assinado pelo navegador e pelo
financiador. O capitalista emprestava dinheiro para o navegador no valor do barco e das
mercadorias que seriam transportadas. Caso houvesse sinistro na viagem, o dinheiro emprestado
não seria devolvido. Se a embarcação chegasse ao porto de origem sem que ocorresse algum
8
https://www.apseguradores.pt/Portal/HomePage_Redirect.aspx
9
FILHO, Domingos Afonso Kriger. O Contrato de Seguro no Direito Brasileiro, 1ª ed. Labor Juris, Rio de Janeiro,
2000.
10
RIBEIRO, Amadeu Cavalhaes. Direito de Seguros, Atlas, São Paulo, 2006. RIO DE JANEIRO (RJ). Circular
SUSEP nº 47, de 27 de jun. de 1980. Estabelece normas para contratação de seguros. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, p.17131, 1980. p.7
dano, o navegador deveria pagar ao financiador todo o valor que lhe foi emprestado mais juros, o
que causava grande indignação e resultou em decreto papal de Gregório IX que proibiu a usura,
que até hoje é vedada em nosso sistema jurídico11.

Segundo SANTOS12verdade que os historiadores apontam a origem dos contractos de seguro de


forma organizada, a partir do momento em que, segundo se conta, das cidades medievais da
Europa (Veneza) partiam as navegações empresariais (talvez pelo crescimento da navegação
tenha chegado ao oriente) a ideia do seguro operado por empresa teria surgido quando se
percebeu a injustiça que se cometia com aqueles consignatários de cargas que sofriam
individualmente os danos, das mesmas ao mar para salvar o restante da carga, a tripulação e a
embarcação, diante do mau tempo (avaria grossa) quando, então daí a ideia do seguro nascendo
de um princípio de justiça todos os consignatários passaram a sofrer os capitação do prejuízo
dentro do espírito de solidariedade e colectividade que norteia o seguro, que até hoje encontra
razão na incerteza, na previdência e no mutualismo.

2.1. Natureza jurídica

Antes de avançar com a natureza jurídica do seguro, importa recordar o conceito do seguro que
como já avançávamos é o contrato pelo qual a seguradora, mediante o recebimento de um
prémio, assume perante o segurado a obrigação de pagamento de uma prestação, se ocorrer o
risco a que está exposto.

VENOSA13 o contrato de seguro é bilateral ou sinalagmático, oneroso, aleatório e de adesão. É


bilateral ou sinalagmático porquanto gera obrigações para ambas as partes. Para o segurado gera
a obrigação de pagar o prémio e para a seguradora a de efectuar a indemnização consoante o
contrato. As obrigações são recíprocas, sendo assim, quando uma parte não adimple o que lhe
deve, não pode exigir o do outro. É oneroso porque ambos os contratantes obtêm proveito e
fazem um sacrifício.

11
Idem
12
SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de Seguro no Novo Código Civil e Legislação Própria, 2 ed. Forense: São
Paulo, 2008. p 7
13
VENOSA, Sílvio de Salvo,Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contractos, Atlas Editora
S.A, 13º ed;Vol.2, São Paulo, 2013, p412.
O proveito do segurado está na garantia de receber a indemnização em caso de sinistro e o
sacrifício é o de pagar o prémio. A vantagem do seguradora consiste no recebimento do prémio
primeiramente e o sacrifício de pagar a indemnização em caso de ocorrência de sinistro. É
aleatória, pois a ocorrência do evento seguro deve ser imprevisível e acontecer por acaso, ou pelo
menos, estar fora do controlo do beneficiário do seguro, se dá para a seguradora posto que a sua
obrigação depende de eventual sinistro, que pode ocorrer ou não. O contrato de seguro é de
adesão visto que não é permitido ao segurado discutir as suas cláusulas no momento da
contratação. A seguradora tem um modelo padrão de contrato cabendo ao segurado apenas
aceitá-la ou rejeitá-las14.

2.2. Espécies

Na lição de GONÇALVES15, O contrato é unitário, embora integrado por espécies diferentes.


Caracteriza-se, quaisquer que sejam os riscos segurados, pela ideia de ressarcimento dos danos,
de cunho material ou moral. Hoje, praticamente todos os riscos são passíveis de cobertura,
excepto os excluídos pela lei, como os dolosos ou ilícitos e os de valor superior ao da coisa.

A estipulação do prémio é feito por cálculos actuarias de acordo com as tabelas adoptadas pelas
seguradoras. O prémio, que pode ser pago em prestações, é considerado indivisível, ou seja, o
segurado tem direito de receber a indemnização em caso de sinistro, mesmo que tenha pago
apenas uma parcela. Os seguros podem ser sociais (obrigatórios e tutelam determinada classe de
pessoas) ou privados (facultativos e dizem respeito a coisas e pessoas). Os seguros privados
podem ser divididos em terrestres, marítimos e aéreos. Os seguros terrestres se subdividem em
seguro de coisas e seguro de pessoas.

2.2.1. Seguro de dano

O seguro de dano visa o ressarcimento pela seguradora do prejuízo causado em caso de sinistro,
e este seguro pode respeitar as coisas, a créditos, a direitos sobre bens imateriais ou a quaisquer
outras situações patrimoniais lícitas.

Em caso de sinistro, a prestação a cargo da seguradora esta limitada ao prejuízo sofrido pelo
segurado até ao montante do capital seguro, no seguro de coisas a seguradora apenas responde
14
Idem.
15
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3, 10 ed. Saraiva: São Paulo, 2008, p. 509.
pelos lucros cessantes ou pela privação de uso do bem, em qualquer caso por motivos de sinistro
se assim for convencionado no contrato (Cfr. art. 184 do RJS).

Se o capital seguro for inferior ao valor real da coisa ou direito seguro, o tomador de seguro
responde, em caso de sinistro e salvo convenção em contrário pela parte proporcional
correspondente ao valor não seguro (Cfr. art. 187 RJS). Mas se o capital seguro a data do sinistro
for superior ao valor real da coisa ou direito seguro, a prestação a cargo da seguradora estará
limitada ao prejuízo sofrido pelo segurado ate ao montante do capital seguro, com redução do
contrato de forma a ajustar o valor seguro ao montante do interesse em risco (Cfr. artigo 188 do
RJS).
Assim, é vedado ao segurado segurar bem por valor maior do que o seu real valor. Nesse tipo de
seguro, o limite máximo de ressarcimento será o valor da coisa ou do interesse segurado, ainda
que a verba reservada seja maior, visto que o segurado não pode se enriquecer com o contrato,
por ser este exclusivamente reparatório. Para o segurado exigir do seguradora o cumprimento da
prestação devida, não basta apenas demonstrar que houve sinistro, mas ainda que prove o
prejuízo sofrido.

2.2.2. Seguro de acidentes pessoais e de doença

O seguro de acidentes pessoais pretende garantir a protecção contra os danos que possam advir
de um qualquer acidente susceptível de ocorrer no dia-a-dia de trabalho ou de lazer, no decurso
do exercício da nossa actividade profissional ou então em actividades da nossa vida privada,
sejam de lazer, de prática desportiva ou até mesmo durante a  realização de viagens.

Seguro de acidentes pessoais é válido em qualquer parte do Mundo, porem as apólices desse tipo
de seguro devem indicar em caracteres desatacados, o tipo de acidentes que, em função da sua
natureza ou da sua causa, não estejam cobertos pela seguradora, pois consideram-se cobertos
todos os riscos não excluídos na apólice.

Tendo por finalidade beneficiar a pessoa humana, não possuindo carácter indemnizatório. O
capital segurado não tem limitação e será escolhido livremente pelo segurado, em uma ou mais
seguradoras.
2.2.3. Seguro de vida

Um seguro de vida é um seguro que tem como principal cobertura o risco de morte ou de
sobrevivência de uma ou de várias pessoas seguras, este seguro garante um determinado capital à
pessoa segura numa generalidade de casos.

Na lição de GONÇALVES16, o seguro de vida tem por objecto garantir, mediante o prémio que
se ajustar, o pagamento de certa soma a determinada ou determinadas pessoas, por morte do
segurado, sendo considerado, neste caso, seguro de vida propriamente dito. Pode estipular-se,
igualmente, o pagamento dessa soma ao próprio segurado, ou terceiro, se aquele sobreviver ao
prazo do seu contrato. É denominado seguro de sobrevivência ou dotal, que também se configura
quando o segurado só tiver direito a ele se chegara certa idade, ou for vivo a certo tempo. Pode-
se dizer que o seguro é dotal quanto os contraentes ajustam o pagamento do capital ao próprio
segurado, após determinado prazo estipulado no contrato; e é ordinário de vida ou seguro de vida
propriamente dito quando convencionado, por morte do segurado.

O seguro de vida compreende todas as combinações que a possam fazer, mediante o pagamento
de um premio único ou de prémios pagos com a regularidade prevista no contrato, em troca de
constituição de uma rede vitalícia ou desde certa idade, ou ainda do pagamento de certa quantia
por falecimento da pessoa segura e outras combinações semelhantes ou análogas, referente aos
pagamentos, o tomador do seguro deve pagar o premio de seguro nas datas e condições
estipuladas no contrato, pois na falta de pagamento deste na data do vencimento confere a
seguradora, consoante a situação e o que houver sido convencionado no contrato.

No que tange a cessão da posição contratual, o tomador de seguro, não sendo a pessoa segura,
pode transmitir a sua posição contratual a um terceiro, que assim fica investido em todos os
direitos e deveres que correspondiam aquele perante a seguradora, a cessão de posição contratual
depende do consentimento da seguradora, devendo ser comunicada a pessoa segura e constar de
acta adicional a apólice (Cfr. Artigo 230 RJS).

16
GONÇALVES, Carlos Roberto. ..op.cit, p. 520
2.2.4. Seguro de Automóvel

O seguro de automóvel è uma das modalidades mais antigas no ramo de seguro, ate então este
ramos continua ainda com a maior parte de prémios emitido pelas companhias, apesar das
grandes sinistralidades que afectam este ramo.

As seguradoras também possuem normas para serem seguidas e para que isto possa acontecer
todas as companhias são fiscalizadas pela ISSM, tem como função fiscalizar o mercado
segurador, divulgar novas normas e verificar como estas companhias estão operando no mercado
de seguro.

Em relação ao seguro automóvel podemos dizer que este tem o intuito de garantir ao segurado o
pagamento da indemnização em caso de qualquer sinistralidade inerente a viatura mediante ao
pagamento da franquia constante da apólice do seguro.

2.3. Termos técnicos

Diante dos vários termos que constam em apólice de seguro de automóveis são estes os mais
utilizados:

2.3.1. O seguro de responsabilidade civil

Este seguro garante a obrigação de indemnizar, nos termos acordados, ate ao montante do capital
seguro, por sinistro, por lesado, ou por período de vigência dos contractos. A seguradora na
assunção do risco de responsabilidade civil, pode intervir em qualquer processo administrativo
ou judicial, onde se discute a obrigação de indemnizar com referencia a esse risco, suportando os
custos dai decorrentes ( Cfr. Art. 195 do RJS).

No que tange a colaboração, o tomador de seguro ou o segurado devem colaborar com a


seguradora, prestado todas as informações necessárias e abstendo-se, em quaisquer
circunstâncias, de agravar a posição substantiva ou processual da seguradora, è inopinável à
seguradora, que não tenha dado o seu consentimento, tanto o reconhecimento, por parte só
segurado, do direito do lesado como o pagamento da indemnização que a este tenha sido
efectuado (Cfr. Artigo 196 do RJS).
Caso verifique-se um sinistro e havendo vários lesados e o valor total das indemnizações
ultrapassar o capital seguro, são aquelas reduzidas de forma proporcional ate à concorrência
desse capital. A seguradora que de boa fé e por desconhecimento de outras prestações, efectuar o
pagamento de indemnizações de valor superior ao capital seguro fica liberada para com os outros
lesados (Cfr. Artigo 198 do RJS). A seguradora, após satisfazer a indemnização, tem direito de
regresso contra o tomador de seguro ou segurado que tenha causado dolosamente o dano ou
tenha de outra forma lesado dolosamente a seguradora, na sequência do sinistro.

2.3.2. Responsabilidade Civil simples

Visa somente a cobertura para os terceiros, ou seja cobre apenas a pessoa que se envolve em
acidente com o segurado, pode observar-se que o próprio segurado não tem nenhuma cobertura.
a Cobertura de Terceiros garante ao segurado indenização em casos de acidentes causados a
demais motoristas afetados por um sinistro.

Os danos geralmente cobertos são: Danos Materiais: Cobre os danos materiais causados a
terceiros, como por exemplo despesas funeraria e pintura causadas por colisão por culpa do
segurado ou destruição de fachada de uma casa.Danos Pessoais ou Corporais: reembolsa os
valores reclamados por terceiros que tenham sofrido danos corporais (morte e/ou invalidez) ou
que tenham contraído despesas médicas e hospitalares em razão do acidente.

2.4. Seguro de grupo

O contrato de seguro cobre riscos de um conjunto de pessoas ligadas entre si e ao tomador de


seguro por um vínculo ou interesse comum, o seguro de grupo pode ser contributivo ou não
contributivo ( Cfr. Artigo 143 do RJS) .

O tomador de seguro deve informar os segurados sobre as coberturas contratadas, os direitos e


obrigações em caso de sinistro e as alterações ao contrato, de harmonia com as informações
prestadas, deve ainda informar os segurados sobre o regime de designação e alteração do
benefício, e facultar, a pedido dos segurados todas as informações necessárias para a efectiva
compreensão do contrato ( Cfr. Artigo 149 do RJS).
2.5. Seguro de Incêndio

Não existe um seguro incêndio comercializado somente com esta cobertura, os seguros
residenciais e de imóveis contam com uma cobertura de incêndio e que exerce esta função, de
proteger o imóvel contra incêndios inesperados

A cobertura de seguro de incêndio abrange os objectos descritos na apólice e compreendem os


danos causados por acções de incêndio, ainda que tenha havido negligência do segurado ou de
pessoa por quem este seja responsável. Devem constar no texto da apólice de seguro de incêndio:
a designação, a qualidade, a localização e as confrontações dos prédios seguros, de forma
explícita ou por remissão para as descrições prediais, o seu destino e o seu uso efectivo; a
natureza e o uso dos prédios vizinhos, sempre que relevantes para a apreciação do risco e para o
conteúdo do contrato; e o local de guardo ou de armazenamento dos moveis seguros ( Cfr. Artigo
201 do RSJ).

2.6. Seguro de roubo

Em caso de sinistro, a prestação a cargo da seguradora esta limitada ao prejuízo sofrido pelo
segurado ate ao montante do capital seguro, no seguro de coisas a seguradora apenas responde
pelos lucros cessantes ou pela privação de uso do bem, em qualquer caso por motivos de sinistro
se assim for convencionado no contrato, a indemnização a prestar pela seguradora corresponde
ao valor do interesse seguro quando o objecto seguro for roubado e não seja encontrado no prazo
estipulado no contrato e ao valor do dano verificado no objecto seguro, em resultado do roubo ou
tentativa de roubo ( Cfr. Artigo 203 do RSJ).

Se o objecto roubado for recuperado antes de ter decorrido o prazo previsto na apólice de seguro
e, simultaneamente, a seguradora não tiver pago a indemnização, aquele e entregue ao segurado,
sem prejuízo de a seguradora suportar os encargos correspondentes aos eventuais danos que o
bem tenha sofrido. No caso de, o objecto for recuperado após ter decorrido o prazo indicado e já
havendo sido pago a indemnização, o segurado pode, em alternativa, reter a indemnização
recebida abandonando o bem a seguradora ou readquirir o bem, restituído, neste caso, a
seguradora o valor que haja recebido a título de indemnização.
2.7. Seguro de Transporte de coisas

O seguro de transporte abrange o valor do objecto transportado, acrescido, se expressamente


referido na apólice, do custo do próprio transporte ate ao local de destinos ficam ainda
abrangidos os lucros esperados, desde que expressamente referidos e quantificados
separadamente na apólice de seguro ( Cfr. Artigo 208 do RSJ).

O seguro de transporte de coisa pode ser contratado pelo proprietário do meio de transporte, pelo
proprietário das coisas transportadas e por todos aqueles que tenham interesse na conservação
das coisas seguras, ficando expresso na apólice a qualidade em que se contrata. No que refere ao
inicio de cobertura e risco seguro, o risco começa a contar com o recebimento pelo transportador
e cessa com a entrega, por ele feita, dos objectos seguros no local de destino, sempre que a
entrega se realiza dentro do prazo previsto na apólice de seguro, o contrato pode também
estabelece o inicio de cobertura dos riscos de transporte com a saída das mercadorias do
armazém ou domicilio do carregador ate a sua entrega no armazém ou domicilio do destinatário (
Cfr. Artigo 210 Do RJS).

2.8. Seguro de Credito e seguro de caução

Por efeito do seguro de credito, a seguradora obriga-se indemnizar o segurado, nas condições e
com os limites fixados na lei e no contrato de seguro, em caso de: perdas causadas pelo não
cumprimento de obrigações pecuniárias riscos políticos que obtenham ao cumprimento de tais
obrigações; não amortização de despesas suportadas com vista a constituição desses créditos;
alteração anormal dos custos de produção.
No seguro de caução a seguradora obriga-se ainda em caso de incumprimento ou de mora do
tomador do seguro, a indemnizar o segurado a título de ressarcimento dos danos patrimoniais
sofridos, em obrigações cujo cumprimento possa ser assegurada por garantia pessoal (Cfr. n.º 2
Artigo 212 Do RSJ).

No seguro de crédito, a seguradora fica sub-rogado ate ao limite do montante pago, nos termos
previstos no artigo 191, mas, em caso de sub-rogação parcial, a seguradora e o segurado
concorrem no exercício dos respectivos direitos na proporção que a cada um for devido.
2.9. Seguro de protecção jurídica

No seguro de protecção jurídica, a seguradora obriga-se dentro dos limites estabelecidos na lei e
no contrato, a cobrir as despesas decorrentes de um processo judicial assim como de serviços
jurídicos, designadamente de defesa dos interesses do seguro, no que se refere as exclusões este
seguro não cobre o pagamento de quaisquer multas ou coimas, bem como o valor de quaisquer
sanções impostas ao segurado por autoridade administrativas ou jurídicas ( Cfr. Artigo 215 do
RJS).

Quanto a forma e conteúdo contrato de seguro este deve seguir as condições plasmadas no n°4
do artigo 103 e do artigo 193 RJS, deve também mencionar expressamente que o segurado tem
direito a escolher livremente um advogado para o defender e representar em qualquer processo
judicial ou administrativo, bem como em caso de conflitos de interesse entre as partes do
contrato; e submeter a arbitragem qualquer litigio que possa surgir entre si e a seguradora, a
respeito do contrato de seguro (Cfr. Artigo 216 do RJS).

2.9.1. Cessação do Contrato

O tomador do seguro pode fazer cessar o contrato por revogação, denúncia ou resolução, nos
termos gerais, devendo comunicar aos segurados, com trinta dias de antecedência, a extinção da
cobertura decorrente da cessão. Caso não se verifique a antecedência por facto imputável ao
tomador do seguro, este responde pelos danos a que der causa (Cfr. Artigo 153 do RJS).

2.9.2. Denúncia do contrato pelo segurado

Após a comunicação de alterações ao contrato de seguro de grupo, qualquer segurado pode


denunciar o vinculo de adesão salvo nos casos de adesão obrigatória em virtude de relação
estabelecida com o tomador do seguro, a denúncia deve ser feita por declaração enviada com
uma antecedência de trinta dias ao tomador do seguro ou, quando o contrato o determina, a
seguradora e não afecta a eficácia do contrato nem a cobertura dos restantes segurados (Cfr.
Artigo 151 do RJS).
Capítulo III

3. Regime da Responsabilidade Civil: Generalidades

A responsabilidade civil surge no âmbito do Direito Civil como uma fonte de obrigações que tem
como função primordial a reparação ou compensação pelos danos ou prejuízos causados na
esfera jurídica de outrem, e que, de acordo com a normatividade vigente, não devem ser
suportados pelos próprios mas sim por alguém a quem é possível imputar a respectiva
responsabilidade civil.

Paralelamente à função reparadora da responsabilidade civil, alguns autores defendem a


existência de uma função punitiva (secundária ou subordinada), de acordo com a qual a
consequência da aplicação das regras da responsabilidade civil ao lesante incluísse não apenas o
suficiente para reparar o dano causado ao lesado, mas também um montante que repercutisse a
reprovação social pela violação da juridicidade17.

Dispõe o art. 483 CC que, “Aquele que com dolo ou mera culpa violar ilicitamente o direito de
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a
indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação”. Esta disposição versa de uma das
modalidades de Responsabilidade Civil previstas no CC, a Responsabilidade Civil Subjectiva,
Extracontratual ou delitual, resultante da violação de direitos absolutos, ou da prática de certos
actos ilícitos que causem prejuízo a outrem.

Não obstante, não é o único modelo existente no nosso ordenamento, conhecendo-se outras
modalidades como a Responsabilidade Civil Contratual, proveniente do não cumprimento das
obrigações emergentes dos contractos, negócios unilaterais ou Lei. A responsabilidade civil
contratual é regulada pelos art.798, 816 e 562, 572 CC e relaciona-se directamente com as
consequências do incumprimento das obrigações assumidas pelo devedor no âmbito de uma
relação obrigacional titulada por negócio jurídico, ou seja, obrigações a que o devedor se sujeitou
no exercício da sua liberdade contratual, assim como as que derivam de negócio jurídico
unilateral e da lei. Por outro lado, a responsabilidade civil extracontratual é regulada pelos
artigos 483, 510 e 562, 572 do CC e consiste no regime aplicável em caso de violação de direitos
17
ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de, “Direito das Obrigações”, 12.ª edição, Almedina, 2011, p. 521 e 590,
absolutos ou normas que visam a protecção de interesses alheios, ou seja, a violação da
normatividade jurídica ao cumprimento da qual o lesante está obrigado, uma vez que derivam
directamente da lei18.

Tendo em conta a orientação da temática que nos ocupa 19, centramo-nos na responsabilidade
civil extracontratual que se pode ainda categorizar em dois tipos distintos: a responsabilidade
civil subjectiva e a responsabilidade civil objectiva. Abordamos, com maior precisão, esta
distinção infra. Todavia, podemos adiantar que a responsabilidade civil subjectiva corresponde
ao esquema tradicional da responsabilidade civil assente na culpa do lesante como elemento
garantidor da justiça da imputação da obrigação de indemnização do lesado ao lesante culposo.

Contrariamente, a responsabilidade civil objectiva é o resultado da pressão dos riscos da


modernidade e traduz a imputação da responsabilidade civil ao lesante, independentemente da
verificação da existência de culpa na sua actuação. Tal como referimos há pouco, tanto o regime
da responsabilidade civil contratual como o regime da responsabilidade civil extracontratual
comungam do regime estabelecido a propósito da obrigação de indemnização, previsto nos
artigos 562, 572 do CC.

De forma resumida, VARELA20 diz que a obrigação de indemnização visa a reconstituição da


situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação. Tal
reconstituição deve, primordialmente, ser levada a cabo in natura, através da reposição da
situação em que o lesado se encontraria actualmente se a acção danosa não tivesse tido lugar45,
ou seja por exemplo, o veículo danificado deve ser consertado (Cfr. n.º 1 CC do art. 566). Assim,
a obrigação de indemnização deverá ser fixada em dinheiro apenas quando a reconstituição
natural não seja possível, não repare integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para
o devedor.
18
A distinção entre os dois tipos de responsabilidade civil é discutida com grande ênfase, no âmbito da
responsabilidade civil por acidentes de viação, quanto ao tipo de responsabilidade civil das concessionárias
de autoestradas por acidentes de viação que sejam imputados à sua conduta. Para maiores desenvolvimentos,
vide MENEZES CORDEIRO, António, “Igualdade Rodoviária e Acidentes de Viação nas Auto-Estradas –
Estudo de Direito Civil Português”, Almedina, 2004, p. 46 a 52 e CARDONA FERREIRA, Jaime Octávio,
“Acidentes de Viação em Auto-estradas – casos de responsabilidade civil contratual?”, Coimbra Editora,
2004, p. 92, 98.
19
O regime do contrato de seguro previsto no DL n.º1/2010, de 31 de Dezembro, não prevê no seu âmbito a
cobertura da responsabilidade civil automóvel por incumprimento do pagamento do dano que este vier a ter.
20
ANTUNES VARELA, João de Matos e PIRES DE LIMA, António, “Código Civil Anotado”, I, 4.ª edição revista
e actualizada, Coimbra Editora, 2011., pp. 582 e 583.
3.1. Responsabilidade civil subjectiva

ANTUNES21 diz que não podemos afirmar que exista, pelo menos de forma expressamente
autonomizada, uma responsabilidade civil subjectiva por acidentes de viação. É claro que o
respectivo regime existe, mas na medida em que não se encontra (nem necessita de se encontrar)
autonomizado do regime jurídico da responsabilidade civil subjectiva em geral, referimo-nos
desta forma para mencionar a sua aplicação às situações em que os respectivos pressupostos de
aplicação são preenchidos por factos relacionados com acidentes de viação.

Daqui, podemos facilmente compreender que o regime que de seguida descrevemos nada tem de
diferente em relação à responsabilidade civil subjectiva aplicada a qualquer outra situação da
realidade que fosse susceptível de preencher os respectivos requisitos. No entanto, sempre que
possível e pertinente, é feita uma referência às questões que surgem especificamente a propósito
da aplicação do regime geral a acidentes de viação.

A responsabilidade civil subjectiva, que como já vimos cumpre essencialmente funções de


reparação e compensação dos danos sofridos pelos lesados, está, em regra, sujeita à verificação
de cinco pressupostos, que são susceptíveis de serem resumidos na seguinte expressão: para que
haja lugar a responsabilidade civil extracontratual subjectiva do agente é necessário que este
tenha cometido por acção ou omissão um facto ilícito e culposo, do qual tenham resultado danos
que com esse facto estabeleçam uma relação de causalidade.
Em resumo, é imprescindível que exista22:

1. Um facto humano voluntário;


2. Ilicitude;
3. Culpa;
4. Nexo de causalidade entre o facto e o dano e, por fim;
5. Dano.

Vejamos estes cinco requisitos com um pouco mais de detalhe, tomando como tópico da análise
a sua aplicação a uma situação representativa, ainda que não real, de um acidente de viação.

21
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pp. 533 a 542
22
Idem p. 533
3.1.1. Facto humano voluntário

Só as acções ou omissões (Cfr. art. 486 CC) que derivam do comportamento livre do ser humano
(lesante) são susceptíveis de lhe serem imputadas, na medida em que se apresentem ilícitas,
culposas e danosas. O comportamento totalmente condicionado por elementos externos e
estranhos à sua vontade não pode servir de base à aplicação de responsabilidade civil, uma vez
que se encontra subtraído do domínio físico e da capacidade de controlo do agente (Cfr. art. 483,
n.º 1 CC “Aquele que…”).

Ficam assim expressamente excluídos os factos que resultam de factores naturais (v.g. dois
automóveis estacionados colidem por força de uma onda marítima que ultrapassa a linha da
costa) e os actos (ou omissões) humanos que são totalmente condicionados por elementos
externos (condutor parado em fila de trânsito que embate no veículo à sua frente em
consequência de ter sofrido embate pelo veículo que circulava atrás do seu)23.

3.1.2. Ilicitude

Quando a consequência do facto praticado consubstanciar a violação de um “direito de outrem


ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios” (n.º 1 do art. 483 CC), tem-
se por preenchido o requisito da ilicitude do facto.

Assim, se um condutor chocar frontalmente com o seu automóvel contra o muro de sua casa,
estamos perante um facto humano voluntário, provavelmente negligente, certamente danoso mas
em relação ao qual não existe ilicitude dado que, sendo o muro propriedade do condutor, este
poderá destruí-lo se bem o entender (Cfr. art. 1305 CC).

Advoga ANTUNES24 que a ilicitude pode, então, verificar-se por uma de duas formas, violação
de direitos de outrem engloba a violação de direitos de personalidade (como o direito à
integridade física) e os direitos reais (como o direito de propriedade que incide sobre o veículo
automóvel), ou seja, os direitos absolutos. Já a violação de disposição legal que protege

23
No entanto, este facto é susceptível de constituir fundamento de responsabilidade civil subjectiva deste
condutor que embateu contra o carro parado na fila de trânsito. Poderemos igualmente afirmar que, nestas
situações, mais do que um problema de inexistência de um facto humano voluntário (controlável pela
vontade humana), estaríamos perante uma ausência de nexo de causalidade entre o facto cometido pelo
condutor parado e o dano produzido no veículo à sua frente, na medida em que não se pode afirmar que tal
dano seria provavelmente causado por um veículo imobilizado.
24
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., p. 542
interesses alheios verifica-se quando há o incumprimento de uma disposição normativa que não
institui um direito subjectivo mas serve o propósito de acautelar interesses colectivos.

Um facto abstractamente considerado ilícito pode, em concreto, ser considerado lícito se as


circunstâncias que motivam ou justificam a sua prática sejam consideradas causas justificativas
da ilicitude25.

3.1.3. Culpa

Relativamente à culpa no âmbito da responsabilidade civil por acidentes de viação, entendemos


ser necessário determo-nos em considerações um pouco mais desenvolvidas tendo em conta que
trata-se de um dos aspectos mais controversos do regime regulador da responsabilidade civil
subjectiva por acidentes de viação, na sua conjugação com a responsabilidade civil objectiva por
acidentes de viação e com as presunções de culpa previstas no CC.

O requisito da culpa é o elemento que permite estabelecer uma ligação entre o sujeito e ofacto
que justifique a sua avaliação como censurável ou reprovável, sempre de um ponto de vista
jurídico (Cfr. art. 483 CC “Aquele que, com dolo ou mera culpa,…”). Nas palavras de
ANTUNES, “a conduta do lesante é reprovável quando, pela sua capacidade e em face das
circunstâncias concretas da situação, se concluir que ele podia e devia ter agido de outra forma”.

No fundo, o requisito da culpa traduz a ideia de exigibilidade por parte do sistema jurídico em
relação ao comportamento do lesante, de acordo com a situação concreta. Desde logo se deduz
que um comportamento apenas poderá ser imputado a um sujeito se tal comportamento resultar
da sua vontade, isto é, da sua capacidade de aferir as consequências dos seus actos e regrar o seu
comportamento em função dessa aferição, ou seja, da existência de imputabilidade em relação ao
sujeito26.

25
São causas justificativas da ilicitude a acção direita (artigo 336.º do CC), a legítima defesa (artigo 337.º do
CC), o estado de necessidade (artigo 339.º do CC) e o consentimento do lesado (340.º do CC)
26
Quem, no momento dos factos, estava incapacitado de entender ou querer é considerado inimputável.
Presumem-se igualmente inimputáveis os menores de sete anos e os interditos por anomalia psíquica. Os
sujeitos considerados inimputáveis não estão obrigados a indemnizar os lesados pelos factos danosos que
pratiquem (com ressalva do disposto no artigo 489. do CC) pela simples razão de que a responsabilidade
civil está dependente da verificação do requisito da culpa e não é possível proceder a um juízo de censura ou
reprovação do comportamento de alguém que não tem capacidade para compreender as consequências dos
seus atos nem agir em conformidade com essa compreensão (artigo 488. do CC).
Note-se que a regra é a de que só existe responsabilidade civil caso o sujeito tenha agido com
culpa (dolo ou negligência), só sendo possível responsabilizar civilmente um sujeito
independentemente da verificação deste pressuposto nos casos em que a lei, expressamente, o
preveja. A responsabilidade civil que prescinde da verificação do requisito da culpa está,
portanto, sujeita ao princípio da tipicidade (Cfr. n.º 2 do art. 483 CC).

De um ponto de vista geral, é importante referir que para que se verifique o preenchimento do
requisito da culpa, qualquer uma destas tipologias é suficiente, sendo que a principal diferença
do ponto de vista do regime jurídico aplicável consiste na possibilidade de em caso de
negligência ou mera culpa a indemnização poder ser fixada, equitativamente, em montante
inferior ao que corresponderia à integral indemnização dos danos provocados (Cfr. art. 494 do
CC).

Para ANTUNES27 age com dolo, todo aquele sujeito cujo comportamento foi deliberadamente
perpetrado, intencionalmente executado ou voluntária e conscientemente desejado pelo mesmo.
O dolo implica que seja possível estabelecer o juízo de censura e reprovação em relação ao
sujeito lesante no sentido de que este não só tinha conhecimento das consequências do seu
comportamento, como tais consequências eram coincidentes com a sua vontade de realização.

A representação que o sujeito fez dos factos era espelho da sua intenção. Paralelamente, para que
se verifique uma conduta dolosa é necessário que o sujeito tenha a consciência de que a sua
actuação é contrária ao sistema jurídico. A título de exemplo, age com dolo o condutor que
deliberadamente atropela um peão, abalroando com o veículo o passeio onde o peão circula.

Por outro lado, o autor avança que é censurável a título de negligência ou mera culpa o sujeito
que tendo consciência, ainda que em abstracto, das consequências do seu comportamento,
prevendo ou não a possibilidade da sua verificação em concreto mas não a desejando, age de
forma não deliberada em violação de um dever de cuidado que torna exigível, por parte da
comunidade em geral, que o sujeito tivesse adoptado um comportamento diverso28.

Haverá lugar a este juízo de censura a título de mera culpa se for exigível que o sujeito, tendo a
obrigação de prever a possibilidade da ocorrência dos factos danosos decorrentes da sua

27
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., p. 542
28
Idem
conduta, não tivesse agido de forma a criar esta situação que consubstancia a violação de
um dever de cuidado, seja por distracção, descuido ou leviandade.

Quanto à prova da culpa, a regra geral estabelecida no, n.º 1 do art. 487 CC prevê que compete
ao lesado provar a culpa do lesante 29. Todavia, abre-se uma importante excepção relativa às
situações especiais em que o legislador considerou que, por uma razão de justiça, deveria ser
invertido este ónus da prova e estabeleceu presunções legais de culpa 30. A título de exemplo,
estão previstas presunções de culpa nos art. 491 CC (responsabilidade das pessoas obrigadas à
vigilância de outrem), art. 492 n.º 1 CC (responsabilidade do proprietário ou possuidor de
edifício ou obra por danos causados pela ruína dos mesmos), art. 493 CC (responsabilidade por
vigilância de coisa ou animal responsabilidade por exercício de actividade perigosa) e art. 503.º,
n.º 3, 1.ª parte (responsabilidade do condutor comissário).

Em relação à presunção de culpa prevista no n.º 2 do art. 493 CC, que se aplica àquele que, no
exercício de uma actividade perigosa (por sua natureza ou pela natureza dos meios utilizados),
causar danos a outrem, coloca-se a questão de saber se a actividade de condução pode (ou deve)
ser considerada abrangida por esta disposição.

Não parece existir na Doutrina ou na Jurisprudência, vozes dissonantes quanto à classificação da


condução como uma actividade perigosa31, até porque é precisamente a noção dos riscos e
perigos inerentes esta actividade que faz a mesma merecer tratamento especial no âmbito da
responsabilidade objectiva.

A segunda presunção de culpa relevante para a temática em estudo é a que se encontra


prevista no art. 503, n.º 3, 1.ª parte CC. Esta é, de facto, a componente do regime
jurídico da responsabilidade civil por acidentes de viação mais controversa e desafiante,
tendo merecido atenção constante da Jurisprudência e da Doutrina ao longo dos anos.

3.1.4. Nexo de causalidade


29
Contrariamente ao que sucede no âmbito da responsabilidade civil contratual em que o lesante se presume sempre
culpado, de acordo com o disposto no artigo 799.º, n.º 1 do CC.
30
De acordo com o artigo 350.º, n.º 2 do CC, as presunções legais são iludíveis (iuristantum), excepto se a própria lei
proibir a prova em contrário (caso em que estaremos perante um presunção iuriset de iure).
31
SOUSA RIBEIRO, Joaquim, “Ónus da Prova da Culpa na Responsabilidade Civil por Acidentes de Viação”, in
Estudos em Homenagem ao Professor Doutor J.J. Teixeira Ribeiro, Vol. II, Boletim da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, 1979, p. 416.
A lógica da imputação de um determinado dano ao responsável pela prática de um determinado
facto está implicitamente dependente da existência de um elo de ligação lógica ou causal entre
esses mesmos danos e facto32.

A responsabilidade civil subjectiva está assim, igualmente dependente da verificação de um nexo


de causalidade entre os danos provocados no lesado e o facto praticado pelo lesante (Cfr. artigo
483, n.º 1 do CC – “(…) pelos danos resultantes da violação”). O artigo 563.º do CC refere
expressamente que a obrigação de indemnização a cargo do responsável civil só abrange os
danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não tivesse ocorrido o facto lesivo.

A questão em torno da determinação do nexo de causalidade já foi abordada de acordo com


várias teorias, como a teoria da equivalência das condições33, a teoria da última condição ou das
causas próximas34 e a teoria da condição eficiente 66. Todavia, o artigo 563.º do CC consagra a
teoria da causalidade adequada, de acordo com a qual se considera causa de um dano o facto que,
em abstracto, se revela adequado a produzi-lo.

Assim, de acordo com um juízo de prognose póstumo, deverá ser possível afirmar que, em
abstracto, a prática de um determinado facto teria como consequência natural, de acordo com o
curso normal das coisas, a produção do dano que se verificou35.

Apesar do juízo ser feito em abstracto, deverão ser tidas em conta quer as circunstâncias que não
poderiam logicamente ser desconhecidas por uma pessoa normal quer aquelas que de facto eram
conhecidas pelo lesante.

32
Cfr. MIRANDA BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira Neves de, “Responsabilidade Civil Extracontratual Novas
Perspectivas em Matéria de Nexo de Causalidade”, Principia Editora, 2014, pág. 38
33
A doutrina da equivalência das condições (conditio sine qua non) defende que é causa de um dano todo o facto
sem o qual esse dano não se teria produzido. Esta doutrina tem como principal objecção o facto de ser demasiado
abrangente uma vez que a perspectiva naturalística que predica não é compatível com a função da responsabilidade
civil. Cfr. ALMEIDA COSTA, “Direito das (…)”, op. cit., pág. 761
34
A teoria da última condição ou das causas próprias visa, partindo da doutrina da equivalência das condições,
determinar qual o último facto relevante que se revelou essencial para a ocorrência do dano. Cfr. ALMEIDA
COSTA, “Direito das (…)”, op. cit., pág. 762
35
Idempág. 765: “A intervenção da causalidade adequada (…) implica que se excluam do âmbito da indemnização
todos os prejuízos relativamente aos quais não possa afirmar-se, atentas as regras da experiência comum e as
particulares do caso, que constituem o resultado normal do facto que as originou”.
Note-se que a exigibilidade do requisito do nexo de causalidade assume imprescindível valor no
âmbito da responsabilidade objectiva, na medida em que representa o único elemento que
permite o controlo ou limite à imputação abusiva da responsabilidade pela indemnização de
danos ao sujeito sobre o qual impende a responsabilidade objectiva.

4.1.5. Dano

O requisito relativo à existência de um dano é o requisito que permite, em grande medida,


justificar a afirmação de que a principal função da responsabilidade civil é a função reparadora e
não a função sancionatória71. Em termos gerais, podemos considerar que dano é todo o prejuízo
causado a um bem ou interesse de outrem ao qual o sistema jurídico oferece protecção. No
entanto, o dano é susceptível de ser categorizado em várias tipologias consoante a espécie de
bem jurídico sobre o qual incide e consoante outros factores como a possibilidade da sua
avaliação em dinheiro. Vejamos então, rapidamente, os vários tipos de danos36:

 Danos patrimoniais e danos não patrimoniais: consideram-se danos patrimoniais os danos


que são susceptíveis de serem avaliados em dinheiro, dado que se traduzem em prejuízos
verificados em bens que revestem natureza material ou económica (viatura danificada,
capacete estragado, dias de ausência no posto de trabalho, entre outros). O contrário,
definimos danos não patrimoniais pela impossibilidade ou grande dificuldade da sua
avaliação pecuniária37, dado que se reflectem em bens ou interesses imateriais ( lesões
físicas, traumas psicológicos, sofrimento pela morte ou incapacidade permanente de outra
pessoa, entre outros). Note-se que os danos não patrimoniais só são atendíveis no cálculo
da indemnização se, atendendo à sua gravidade, merecerem a tutela do direito.
Neste sentido seria possível criticar a indemnização de danos não patrimoniais, afirmando que tal
regime tornava a função punitiva ou sancionatória da responsabilidade civil na sua principal
função, uma vez que a indemnização dos danos não patrimoniais será determinada de acordo
com critérios de equidade, o que poderá revelar, por vezes, disparidades consoante o juiz (artigo
496.º, n.º 4 do CC). Todavia, a limitação operada pelo artigo 496.º, n.º 1 do CC evita, na nossa
opinião, a referida crítica.
36
Para uma visão global sobre os danos típicos provocados por acidentes de viação vide REBELO, António Jorge,
“Acidentes de Viação a regularização dos danos pelo seguro”, 1.ª edição, Coimbra Editora, 2013,
pp. 53 a 105.
37
ALBUQUERQUE MATOS, Filipe, “Responsabilidade Civil por Ofensa ao Crédito ou ao Bom Nome”, Almedina,
2011, pp. 562
 Dano emergente e lucro cessante: o artigo 564.º, n.º 1 do CC permite-nos distinguir o
dano emergente da lesão (o qual se traduz no prejuízo ou perda verificada no património
já existente na esfera jurídica do lesado no momento da lesão76), do lucro cessante (que
engloba o prejuízo causado pela não obtenção de benefícios legitimamente esperados por
parte do lesado e que só não são percebidos em virtude da lesão38).
 Danos presentes e danos futuros: do n.º 2 do artigo 564.º do CC consta a distinção entre
danos presentes e danos futuros, que resulta do facto de os danos já se terem verificado
na esfera jurídica do lesado ou, pelo contrário, tal verificação ainda não tenha tido lugar,
mas seja previsível, ainda que não determinável39.

4.2. Responsabilidade civil objectiva

Como já tivemos a oportunidade de referir supra, a responsabilidade civil objectiva caracteriza-


se por contraposição com a responsabilidade subjectiva, partilhando os respectivos requisitos
com excepção do requisito da culpa40 (e da ilicitude).

Precisamente porque afirmámos que a culpa é o requisito da responsabilidade civil subjectiva


que permite estabelecer a ligação ou eixo de conexão entre a conduta do sujeito e um juízo de
censurabilidade jurídica dessa mesma conduta, percebemos que é através da culpa que o sistema
da responsabilidade civil subjectiva tem em conta o sujeito em concreto, ou seja, o seu
conhecimento das circunstâncias do facto no momento, as suas características pessoais e todos os
outros elementos que permitem alcançar o critério de exigibilidade de comportamento.

A culpa desempenha assim uma função pedagógico-educativa que permite afastar o dano como
prius metodológico da responsabilidade civil41.

De forma totalmente oposta, a responsabilidade objectiva prescinde destas considerações,


afastando se do arquétipo da responsabilidade dependente deste juízo de censura 42
e centrando-
38
Exemplo de lucro cessante é o prémio pelo motociclo clássico em melhor estado de conservação que o proprietário
deixa de receber em virtude da sua destruição em acidente rodoviário provocado por outrem.
39
Exemplo de dano futuro são as lesões físicas que apenas se manifestam algum tempo após a ocorrência do facto
lesante mas em relação às quais existe ainda um nexo de causalidade com esse mesmo facto.
40
ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de, “Direito (…)”, op. cit., pág. 612.
41
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pág. 631.
42
Apesar de a responsabilidade civil objetiva prescindir do requisito da culpa e o fundamento da inimputabilidade
prevista no artigo 488 n.º 1 do CC ser o da impossibilidade de averiguar o preenchimento deste requisito no âmbito
da responsabilidade civil subjetiva, o legislador considerou que mesmo prescindindo do requisito da culpa, a
responsabilidade civil objetiva deveria prever um regime específico para os inimputáveis, tendo estipulado que estes
se na principal função da responsabilidade civil, isto é, a função reparadora, com especial
protecção do lesado.

Um dos principais vectores da responsabilidade objectiva tem sido a noção de risco inerente ao
desenvolvimento de certas actividades tendencialmente provocadoras de situações de perigo, de
acidentes e, consequentemente, de danos. São bons exemplos do que acabamos de referir a
utilização de animais, o recurso a equipamento produtor de radiações ionizantes e a condução
automóvel. Mas, tendo em conta o risco e o perigo criados por estas actividades, questionamos
qual a razão que justifica a persistência dos respectivos detentores e utilizadores no seu
desenvolvimento.

As justificações que procuramos são simples. Estas actividades, apesar do risco que representam,
são lucrativas, vantajosas, proporcionam comodidade, conforto, rapidez, prazer emocional ou
qualquer outro factor que as torna especialmente apelativas para quem delas usufrui.

Simultaneamente, verificamos que, em grande medida, os riscos criados por este tipo de
actividades não são maioritariamente riscos que se representem na esfera do sujeito que as
desenvolve mas sim riscos que se manifestam na esfera de terceiros 43. Recorrendo aos exemplos
que utilizámos supram, aquele que utiliza um animal criando um perigo especial por essa
utilização poderá potencialmente produzir danos em terceiros que com ele se cruzem; aquele que
utiliza equipamentos que produzem radiações ionizantes (ressonância magnética) poderá
potencialmente produzir danos num paciente que realiza exame médico de diagnóstico e aquele
que conduz um automóvel poderá potencialmente produzir danos aos restantes condutores e
utilizadores da via ou em propriedade alheia.

É deste raciocínio que surge, dentro dos moldes da responsabilidade objectiva, a


responsabilidade pelo risco, que prescindindo da culpa do lesante, o onera com a
responsabilidade de reparar o dano causado pelo facto de esse mesmo dano ter resultado do
exercício por parte do lesante de uma actividade que, sendo para o lesante vantajosa, é
potencialmente geradora de danos para terceiros.

responderão, igualmente, de acordo com o previsto no artigo 489 do CC (503, n.º 2 do CC).
43
Na realidade, ainda que essa representação não fosse maioritária, apenas a concretização do risco em dano na
esfera de terceiros seria relevante para a responsabilidade civil na medida em que os danos que um sujeito provoca
na sua própria esfera não lhe são indemnizáveis (o que não significa que daí não possa resultar a obrigação de
indemnizar terceiros como resulta do artigo 495 n.º 1 do CC).
Assim, a responsabilidade civil objectiva baseada na teoria do risco44 é usualmente descrita pela
expressão “ubi commoda, ibiincommoda”, transmitindo o conceito de que aquele que aproveita
as vantagens do risco deve suportar os encargos com os danos por este provocados.

A possibilidade de existir responsabilidade civil independentemente de culpa está prevista no 2


do art. 483 n.º CC (“só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos
especificados na lei”). Da leitura da disposição legal retiramos a conclusão de que a
responsabilidade objectiva está sujeita ao princípio da tipicidade, ou seja, apenas existe
responsabilidade civil objectiva nos casos expressamente previstos na lei.

Dos casos de responsabilidade civil objectiva previsto no CC45, faremos especial referência à
responsabilidade civil objectiva do comitente (Cfr. n.º 1 do art. 500 CC) e por acidentes causados
por veículos de circulação terrestre (Cfr. n.º 1 do art. 503 CC), dada a sua relação directa com o
tema em análise.

3.3. Responsabilidade civil subjectiva versus responsabilidade civil objectiva

Sublinhámos já a culpa enquanto elemento diferenciador da responsabilidade civil subjectiva e


objectiva, mas existem outras diferenças entre os dois regimes. Em primeiro lugar, no âmbito da
responsabilidade civil objectiva estão previstos limites quantitativos para a obrigação de
indemnização (artigos 508 e 510 do CC), enquanto no âmbito da responsabilidade subjectiva não
existem limitações quantitativas expressas. Em segundo lugar, a responsabilidade civil objectiva
está sujeita ao princípio da tipicidade. Em terceiro lugar, poderá existir diferença no prazo
precaucional aplicável.

No âmbito da responsabilidade civil subjectiva, uma vez que se faz prova da culpa, podemos
estar perante um facto ilícito que constitui crime, caso em que o prazo de prescrição do direito de
indemnização é alargado ao respectivo prazo previsto para o crime (Cfr. n.º 3 do art. 498 CC).
Tal não poderá acontecer no âmbito da responsabilidade civil objectiva, na qual o prazo de

44
Sobre a aplicação original da teoria do risco no âmbito dos acidentes de viação, vide ANTUNES VARELA,
“Das Obrigações (…)”, op. cit., p. 633.
45
Para além dos casos referidos, está ainda prevista a responsabilidade civil objectiva do Estado e de outras pessoas
colectivas públicas (artigo 501 n.º 1 do CC), por danos causados por animais (artigo 502 do CC) e por danos
causados por instalações de energia eléctrica ou gás (artigo 509 n.º 1 do CC).
prescrição terá de ser sempre o previsto no n.º 1 do art. 498 CC, ou seja, três anos a contar da
data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete.

De qualquer forma, no que diz respeito à responsabilidade civil por acidentes de viação, o pedido
de indemnização feito pelo autor/lesado em processo judicial contra a Seguradora com
fundamento na culpa do lesante, não precede a possibilidade de o tribunal condenar a ré, com
fundamento na responsabilidade pelo risco do lesante, dado que se trata da vontade presumível
do autor e que, em causa, está matéria de direito que é livremente cognoscível pelo Tribunal
(Cfr. n.º 3 do art. 5 CPC).

Capítulo IV

4. Responsabilidade civil objectiva por acidentes de viação

O n.º 1 do artigo 503 CC prevê a responsabilidade civil objectiva por acidentes causados por
veículos de circulação terrestre, afirmando que “ aquele que tiver a direcção efectiva de qualquer
veículo de circulação terrestre46e o utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermédio
de comissário, responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que
este não se encontre em circulação”.

Assim, são dois os elementos previstos nesta disposição legal para a determinação ou
identificação do sujeito sobre o qual incide a responsabilidade civil objectiva por danos causados
por veículos de circulação terrestre47:
46
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pág. 655
47
REBELO, António Jorge, “Acidentes de Viação – a regularização dos danos pelo seguro”, 1.ª edição, Coimbra
Editora, 2013
 Que o sujeito tenha a direcção efectiva do veículo, ou seja, que o sujeito,
independentemente do domínio jurídico do veículo, tenha o domínio do veículo e dele
usufrua, estando colocado numa situação em que se apresenta como sendo a pessoa que
se encontra na melhor posição para tomar todas as providências necessárias a evitar que
o veículo cause danos; e
 Que utilize o veículo no seu próprio interesse, isto é, que tenha na utilização do veículo
um interesse económico ou puramente moral. São abrangidos pela responsabilidade
prevista no n.º 1 do artigo 503 CC o proprietário, o locatário, o comodatário, o autor de
furto ou roubo do veículo e até o sujeito que usa o veículo contra a vontade do seu
detentor no plano jurídico, entre outros, mas já não o comissário ou o proprietário em
caso de existência de comodato, locação91, usufruto ou roubo ou furto, ou ainda o
instruendo durante as aulas práticas de condução.

Quanto aos danos indemnizáveis, tal como resulta claramente do n.º 1 do art. 503 CC, a
responsabilidade civil objectiva por acidentes de viação abrange apenas os riscos próprios do
veículo. Para a determinação deste conceito não duvidamos que os “riscos próprios do veículo”
englobam os riscos inerentes à circulação do veículo (a colisão, o despiste, a derrapagem, a perda
de carga e o atropelamento, entre outros). Por outro lado, existe igualmente um elevado número
de riscos associados ao veículo mesmo quando este não se encontra em circulação, na medida em
que se trata de uma máquina complexa com elementos combustíveis e outros materiais
potencialmente danosos (explosão do depósito de combustível, rebentamento de pneu, mau
funcionamento do travão de mão do veículo, entre outros).

Neste âmbito, não podemos ignorar a influência determinante do comportamento do condutor


para a criação de riscos próprios do veículo (mesmo que o comportamento do condutor resulte de
problema de saúde súbito)48.

Parece-nos claro que devem ficar de fora do âmbito dos danos provocados pelos riscos próprios
do veículo os danos que foram causados pelo veículo de circulação terrestre tal como podiam ter
sido causados por qualquer outra coisa móvel, inexistindo no veículo uma característica
potenciadora de um risco específico para aquela situação concreta.

48
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pág. 668.
Dada a elevada probabilidade de um acidente de viação envolver dois veículos, situação em que,
presumivelmente (mas não necessariamente49) ambos estarão abrangidos pela responsabilidade
objectiva prevista no, n.º 1 do art. 503 CC, o art. 506 CC prevê o regime especial aplicável em
caso de colisão de veículos. Inexistindo culpa de ambos os condutores, a responsabilidade pelos
danos causados (num ou em ambos os veículos) é repartida na proporção do risco com que cada
um dos veículos tiver contribuído para a colisão (concurso de riscos), sendo que, em caso de
dúvida, presumem-se iguais os níveis de risco50 (Cfr. n.º 2 do art. 506 CC).

Caso exista culpa de um dos condutores, aplica-se o regime previsto no art. 505CC e caso se
verifique culpa de ambos os condutores, estamos no campo exclusivo da responsabilidade
subjectiva, pelo que tem aplicação o art.570 CC, juntamente com a presunção de igual
contribuição da culpa de cada um dos condutores, prevista no n.º 2 do art.506 CC.

De acordo com o art. 505 CC, uma vez preenchidos os requisitos previstos no n.º 1 do art. 503
CC, a responsabilidade civil objectiva do detentor do veículo de circulação terrestre apenas é
excluída quando o acidente for “(…) imputável ao próprio lesado ou a terceiro, ou quando
resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo”, sem prejuízo do
disposto no artigo 570 CC.

Entendemos, na senda de parte da Doutrina e Jurisprudência que têm vindo a receber crescente
concordância51, que o art. 505 CC apenas afasta a responsabilidade objectiva prevista no n.º 1 do
art. 503 CC quando o nexo de causalidade entre o risco próprio do veículo e o dano provocado
não poder ser estabelecido, ainda que parcialmente. Ou seja, apenas é excluída a
responsabilidade do detentor quando o nexo de causalidade se verifica exclusivamente entre o
dano provocado e o facto voluntário de outrem (terceiro ou lesado) ou com uma causa de força
maior estranha ao funcionamento do veículo.

49
De facto, o condutor do veículo nem sempre coincide com o detentor do veículo para efeitos do artigo 503.º, n.º 1
do CC, uma vez que podemos estar perante um comissário ou um instruendo durante as aulas práticas de condução.
50
A segunda parte do artigo 506.º, n.º 1 do CC é desnecessária pois a afirmação de que “ (…) se os danos forem
causados somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos condutores, só a pessoa por eles responsável é
obrigada a indemnizar” representa uma decorrência da regra geral da exigibilidade da verificação do requisito do
nexo de causalidade. De facto, se o dano foi causado apenas por um dos veículos, isso significa, necessariamente,
que o outro veículo em nada concorreu para a ocorrência do sinistro, nem sequer com o risco que o próprio veículo
apresenta.
51
CALVÃO DA SILVA, João, “Concorrência entre risco do veículo e facto do lesado: virar da página?”, RLJ, Ano
137.º, n.º 3946 (Set-Out 2007), Coimbra Editora, pág. 52
Consequentemente, podemos afirmar que, sendo possível estabelecer um nexo de causalidade
entre o risco do veículo e o dano provocado, ainda que seja meramente parcial ou até minoritário,
a segunda parte do art. 505 CC não tem aplicação, a responsabilidade civil objectiva prevista no
n.º 1 do art. 503 CC não é afastada e devemos aplicar o regime previsto no art. 570 CC,
procedendo a um concurso entre o risco do lesante e a culpa do lesado (concurso de risco com
culpa). Caso o concurso seja entre o risco do veículo lesante e a culpa de um terceiro, igualmente
onerado com a responsabilidade civil objectiva prevista no n.º 1 do art. 503 CC, então serão
ambos solidariamente responsáveis perante a vítima, apesar de a lei prever a existência de direito
de regresso do lesante que respondeu pelo risco em relação ao terceiro que agiu
culposamente101 (Cfr. n.º 2 do art. 507 CC).

Existindo culpa de mais do que um sujeito (sem que nenhum deles seja lesado), estamos fora do
campo de aplicação da responsabilidade civil objectiva, aplicando-se o previsto no art. 497 do
CC que prevê a responsabilidade solidária de ambos os responsáveis, existindo direito de
regresso caso a medida das respectivas culpas (que se presume igual), seja diferente (concurso de
culpas).

Como última nota sobre a responsabilidade civil objectiva do detentor de veículo de circulação
terrestre, devemos referir que esta responsabilidade está quantitativamente limitada pelo n.º 1 do
art. 508 CC. A limitação do valor da indemnização a pagar aos lesados por acidente de viação ao
valor do “(…) capital mínimo do seguro obrigatório de responsabilidade civil
automóvel”justifica-se pelo facto de estarmos perante uma responsabilidade que prescinde da
verificação da culpa do lesante. Nada impede que o lesado exerça o seu direito a ser indemnizado
por um valor superior ao estipulado no referido limite quantitativo mas, nesse caso, terá de
provar a culpa do lesante.

4.1. A relação com a obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil

Vimos já que a necessidade de criação de um sistema de responsabilidade civil distinto da


responsabilidade civil subjectiva assente na culpa do lesante, teve por base a imperatividade de,
em relação a alguns sectores da vida comunitária que se revestem de especial perigosidade e nos
quais os danos provocados às respectivas vítimas assumem especial gravidade, onerar de forma
especial aqueles que dessas actividades retiram proveitos e benefícios, facilitando a sua
responsabilização pela indemnização devida aos lesados e afirmando a finalidade reparadora da
responsabilidade civil.

Ora, a institucionalização da responsabilidade civil objectiva com o objectivo de proteger as


vítimas das actividades que envolvem especial nível de risco falharia, em grande medida, o
cumprimento dos respectivos objectivos caso não existisse cumulativamente a preocupação de
criar um mecanismo que garantisse a solvabilidade daqueles que são onerados com a
responsabilidade civil objectiva, de forma a evitar que, aquando do recurso por parte da vítima à
especial protecção que lhe foi conferida pela lei, se visse confrontada com a impossibilidade de
cumprimento da obrigação de indemnização por parte do lesante, por insuficiência de meios
financeiros deste.

Esta preocupação tem obtido resposta na cumulação do regime da responsabilidade objectiva


com o regime da obrigatoriedade de contratação de seguro de responsabilidade civil.

4.2.Responsabilidade Civil pela mora ou incumprimento do pagamento da indemnização


por parte da Seguradora

Há necessidade de criação de um sistema de responsabilidade civil distinto da responsabilidade


civil subjectiva assente na culpa do lesante, tendo por base a imperatividade em relação a alguns
sectores da vida comunitária que se revestem de especial perigosidade e nos quais os danos
provocados às respectivas vítimas assumem especial gravidade, onerar de forma especial aqueles
que dessas actividades retiram proveitos e benefícios, facilitando a sua responsabilização pela
indemnização devida aos lesados e afirmando a finalidade reparadora da responsabilidade civil.

Ora, a institucionalização da responsabilidade civil objectiva com o intuito de proteger as vítimas


das actividades que envolvem especial nível de risco falharia, em grande medida, o cumprimento
dos respectivos objectivos caso não existisse cumulativamente a preocupação de criar um
mecanismo que garantisse a solvabilidade daqueles que são onerados com a responsabilidade
civil objectiva, de forma a evitar que, aquando do recurso por parte da vítima à especial
protecção que lhe foi conferida pela lei, se visse confrontada com a impossibilidade de
cumprimento da obrigação de indemnização por parte do lesante, por insuficiência de meios
financeiros deste.

Esta preocupação tem obtido resposta na cumulação do regime da responsabilidade objectiva


com o regime da obrigatoriedade de contratação de seguro de responsabilidade civil.

O ordenamento jurídico moçambicano, no que respeita a mora estabelece no seu n.º 2 do art. 147
da RJS, que as seguradoras respondem por juros moratórios à taxa legal acrescida de 2%, salvo
se o segurado provar que, por via desta mora, sofreu danos superiores. Em relação ao
incumprimento definitivo, o RJS nada prevê como medida de responsabilização civil às
seguradoras, apenaso pagamento da indemnização pelos danos que o segurado causa (nr 1, art.
144, conj. com art. 146) ou art. 483 do CC.

Conclusão

A responsabilidade civil surge no âmbito do Direito Civil como uma fonte de obrigações que tem
como função primordial a reparação ou compensação pelos danos ou prejuízos causados na
esfera jurídica de outrem, e que, de acordo com a normatividade vigente, não devem ser
suportados pelos próprios mas sim por alguém a quem é possível imputar a respectiva
responsabilidade civil.

Da análise feita concluímos:

1. Constituem na generalidade modalidades de Responsabilidade Civil previstas no CC, a


Responsabilidade Civil Subjectiva e Objectiva (Extracontratual),regulada pelos artigos
483, 510 e 562, 572 do CC e consiste no regime aplicável em caso de violação de direitos
absolutos ou normas que visam a protecção de interesses alheios, ou seja, a violação da
normatividade jurídica ao cumprimento da qual o lesante está obrigado, uma vez que
derivam directamente da lei; Responsabilidade Contratual, proveniente do não
cumprimento das obrigações emergentes dos contractos, negócios unilaterais ou Lei
(art.798, 816 e 562, 572 CC) e relaciona-se directamente com as consequências do
incumprimento das obrigações assumidas pelo devedor no âmbito de uma relação
obrigacional titulada por negócio jurídico, ou seja, obrigações a que o devedor se sujeitou
no exercício da sua liberdade contratual, assim como as que derivam de negócio jurídico
unilateral e da lei.
2. A responsabilidade civil objectiva por acidentes de viação (objecto de estudo deste
trabalho)é regulada no n.º 1 do artigo 503 CC que prevê: “ aquele que tiver a direcção
efectiva de qualquer veículo de circulação terrestre o utilizar no seu próprio interesse,
ainda que por intermédio de comissário, responde pelos danos provenientes dos riscos
próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em circulação”.
3. O ordenamento jurídico moçambicano, no que respeita a mora estabelece no seu n. º 2 do
art. 147 da RJS, que as seguradoras respondem por juros moratórios à taxa legal acrescida
de 2%, salvo se o segurado provar que, por via desta mora, sofreu danos superiores. Em
relação ao incumprimento definitivo, o RJS nada prevê como medida de
responsabilização civil às seguradoras, apenas o pagamento da indemnização pelos danos
que o segurado causa (nr 1, art. 144, conj. com art. 146) ou art. 483 do CC.

Assim, fica validade parcialmente a hipótese nr 1 segundo a qual, em caso de mora ou


incumprimento do acordado no contrato, a lei prevê a aplicação duma taxa de juro moratório a
favor do tomador do seguro como medida reparatória. Como vimos, a taxa fixada em 2% é para
casos de mora e não de incumprimento.

Sugestões

 As seguradoras: que atribuam um meio circulante em caso da perda total da viatura


enquanto o processo corre nos seus trâmites legais (Viatura de Substituição);
 Para os casos de danos a terceiros, cujo acidente resulta em morte, as seguradoras devem
disponibilizar de imediato o valor das despesas funerárias enquanto aguarda pela decisão
do tribunal.
 Que o Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM), seja pontual na
responsabilização às seguradoras que não honram com as datas indicadas para a
resolução dos sinistros registados.
 Que o ISSM crie uma norma que regula a questão de incumprimento definitivo das
seguradoras.
 Que se divulgue mais a legislação que versa sobre o sector segurador para que todos
tomem conhecimento.

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Legislações Nacional

Decreto-Lei n. 1/2010 de 31 de Dezembro

Código civil

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