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Declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.
______________________________
A Minha família.
Agradecimentos
A Deus, meu senhor celestial por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades, que
permitiu que tudo isso acontecesse ao longo da minha vida.
Ao meu supervisor, dr. Faustino Filimão Mangue, pela sua paciência e apoio na elaboração do
presente trabalho.
A todos os docentes por me terem proporcionado o conhecimento não apenas racional, mas a
manifestação do carácter e afectividade da educação no processo de formação profissional, por
tanto que dedicaram-se a mim, não somente por terem ensinado, mas por terem contribuído para
o meu aprendizado.
Aos meus queridos pais, que me trouxeram com todo o amor e carinho a este mundo em especial
a minha Mãe Júlia Argentina Joel, pelo Amor, Carrinho e Amizade incondicional. A minha
formação como profissional não poderia ter sido concretizada sem a ajuda da minha amável e
eterna Família, que, no decorrer da minha vida, proporcionaram-me, além de extenso carinho e
amor, os conhecimentos da integridade, da perseverança e de procurar sempre em Deus à força
maior para o meu desenvolvimento como ser humano. Por essa razão, gostaria de agradecer e
reconhecer a vocês, minha imensa gratidão e sempre amor
As meus Colegas, em especial ao Gervásio Nhamona e Hélio Virgílio, pelo incentivo e apoio
durante os 5 anos.
A todos que directa ou indirectamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada.
Lista de abreviaturas
CC - Código Civil
Cfr. - Confira
Ed. - Edição
1.Introdução
O presente monografia tem como tema “A Responsabilidade civil das seguradoras”. Esse
estudo foi desenvolvido devido ao facto de poder acompanhar no meu dia-a-dia alguma inércia
das seguradoras no âmbito do pagamento das suas obrigações para com os assegurados. É neste
sentido que levantamos a seguinte questão de partida: Até que ponto as seguradoras são
responsabilizadas civilmente pelos danos causados aos assegurados pela mora ou
incumprimento do pagamento das indemnizações?
De modo, a analisarmos há responsabilidade civil das seguradoras nos casos de mora ou
incumprimento no pagamento dos prémios aos segurados. Mas para o efeito termos que dissuadir
num historial do surgimento do seguro, explicar a responsabilidade civil para no fim
compreender a responsabilidade civil da seguradora para com os assegurados.
Com este trabalho pretendemos contribuir para uma melhor compreensão e conhecimento
darealidade do sector segurador na área de responsabilidade civil das seguradoras, pois é um
sector de relativo desconhecimento; acrescentar valor, porque é um tema pouco explorado, além
disso a abordagem do mesmo nos cursos superiores é insuficiente.
1.2.Objectivos gerais
1.2.1.Objectivos Específicos
1.3. Problema
O contrato de seguro é cada vez mais utilizado no país e tema presentado taxas expressivas
de crescimento uma vez que mesmo se torna obrigatório a todos automobilistas.
Considerando a importância e o crescente desenvolvimento dessa espécie contratual, é
natural serem muitas as questões que envolvem a responsabilidade civil da seguradora.
Até que ponto as seguradoras são responsabilizadas civilmente pelos danos causados aos
assegurados pela mora ou incumprimento do pagamento das indemnizações?
1.4. Hipóteses
Segundo CASTRO (2005:23), uma hipótese é uma afirmação provisória acerca da realidade que
tendo em vista o campo teórico estabelecido, pretende dar uma resposta ao problema formulado.
A função de uma hipótese é orientar o investigador quanto aos dados que ele deva dar
importância e quais abandonar. Eis as hipóteses desta pesquisa:
H1. Em caso de mora ou incumprimento do acordado no contrato, a lei prevê a aplicação
duma taxa de juro moratório a favor do tomador do seguro como medida reparatória.
H2. A lei não prevê nenhuma medida reparatória contra as seguradoras em caso de mora
ou incumprimento do acordado no contrato.
H3. Em caso de mora ou incumprimento do acordado no contrato, como medida
reparatória a favor do segurado a lei prevê reduções no prémio a pagar pelo próximo
contrato.
1.5. Metodologia
Quanto a metodologia, a pesquisa será quanto a forma de abordagem qualitativa, quanto aos
objectivos exploratória e quanto aos procedimentos técnico a revisão bibliográfica.
1
ÉVORA, Iolanda, Sobre a Metodologia Qualitativa: Experiências em Psicologia Social, Lisboa 2006, p. 6
2
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica, 5ª edição,
Editora Altas, São Paulo, 2003, p. 182
Ainda para estas autoras, a pesquisa bibliográfica tem como finalidade colocar o pesquisador em
contacto directo com tudo o que foi escrito ou dito sobre determinado assunto, inclusive
conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas,
quer gravadas.
1.6.1. Responsabilidade
FERNANDES5 diz que a responsabilidade civil é uma obrigação jurídica concluída a partir do
desrespeito de algum direito, no decurso de uma acção contrária ao ordenamento jurídico. No
que respeita a responsabilidade civil o legislador avança a subjectiva, objectiva e contratual.
A responsabilidade civil subjectiva nos termos do artigo 483 do CC, em que é necessária a
existência da comprovação da culpa ou negligência do facto acusador do dano a terceiro.
3
DicioDicionário Onlie de Português www.dicio.com.br
4
ASCENSÃO, Oliveira. Teoria Geral do Direito Civil, Vol. I, Lisboa, F.D.L.. 1996, p. 98
5
FERNANDES. Carvalho a. Luís Teoria Geral do Direito Civil, 6.ª edição revista e actualizada, Vol. I, Lisboa,
2012, p. 194
A Responsabilidade Civil objectiva é regulada no artigo 499 do CC, neste é aquela que não
necessita de uma comprovação da culpabilidade para que haja a obrigação de indemnizar.
E por fim a Responsabilidade contratual regulado no artigo 798 do CC quando duas ou mais
pessoas figuram um compromisso através de um contrato as regras estipuladas por estas, deve
ser obedecidas por ambas partes e em conformidade com a lei, ou seja, aquela que deriva do
próprio contrato
1.6.3. Seguradora
É no entendimento destes autores de Seguradora, como uma empresa que por via de contrato
com os segurados assume as suas obrigações no caso de danos que esse vier a ter na sua viatura
que a nossa pesquisa ira se orientar.
6
Martinez. P. R. Direito dos seguros, 1.ª edição, Principia Editora, Cascais, 2006, p. 56
7
Machado, V. (2011). Seguros em geral, p.121
Capítulo II
O seguro tem-se desenvolvido ao longo de vários séculos. Começou com o seguro marítimo, em
que mercadores concordavam em contribuir junto de vítimas de um prejuízo após a sua
ocorrência. O problema com este sistema era que não transferia totalmente a incerteza; os
mercadores nunca sabiam quanto poderiam ter que pagar. O seguro moderno desenvolveu-se de
modo a que os tomadores de seguro conheçam à partida qual a sua quota-parte (ou seja, o seu
prémio).8
O seguro marítimo era realizado por documento escrito, assinado pelo navegador e pelo
financiador. O capitalista emprestava dinheiro para o navegador no valor do barco e das
mercadorias que seriam transportadas. Caso houvesse sinistro na viagem, o dinheiro emprestado
não seria devolvido. Se a embarcação chegasse ao porto de origem sem que ocorresse algum
8
https://www.apseguradores.pt/Portal/HomePage_Redirect.aspx
9
FILHO, Domingos Afonso Kriger. O Contrato de Seguro no Direito Brasileiro, 1ª ed. Labor Juris, Rio de Janeiro,
2000.
10
RIBEIRO, Amadeu Cavalhaes. Direito de Seguros, Atlas, São Paulo, 2006. RIO DE JANEIRO (RJ). Circular
SUSEP nº 47, de 27 de jun. de 1980. Estabelece normas para contratação de seguros. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, p.17131, 1980. p.7
dano, o navegador deveria pagar ao financiador todo o valor que lhe foi emprestado mais juros, o
que causava grande indignação e resultou em decreto papal de Gregório IX que proibiu a usura,
que até hoje é vedada em nosso sistema jurídico11.
Antes de avançar com a natureza jurídica do seguro, importa recordar o conceito do seguro que
como já avançávamos é o contrato pelo qual a seguradora, mediante o recebimento de um
prémio, assume perante o segurado a obrigação de pagamento de uma prestação, se ocorrer o
risco a que está exposto.
11
Idem
12
SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de Seguro no Novo Código Civil e Legislação Própria, 2 ed. Forense: São
Paulo, 2008. p 7
13
VENOSA, Sílvio de Salvo,Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contractos, Atlas Editora
S.A, 13º ed;Vol.2, São Paulo, 2013, p412.
O proveito do segurado está na garantia de receber a indemnização em caso de sinistro e o
sacrifício é o de pagar o prémio. A vantagem do seguradora consiste no recebimento do prémio
primeiramente e o sacrifício de pagar a indemnização em caso de ocorrência de sinistro. É
aleatória, pois a ocorrência do evento seguro deve ser imprevisível e acontecer por acaso, ou pelo
menos, estar fora do controlo do beneficiário do seguro, se dá para a seguradora posto que a sua
obrigação depende de eventual sinistro, que pode ocorrer ou não. O contrato de seguro é de
adesão visto que não é permitido ao segurado discutir as suas cláusulas no momento da
contratação. A seguradora tem um modelo padrão de contrato cabendo ao segurado apenas
aceitá-la ou rejeitá-las14.
2.2. Espécies
A estipulação do prémio é feito por cálculos actuarias de acordo com as tabelas adoptadas pelas
seguradoras. O prémio, que pode ser pago em prestações, é considerado indivisível, ou seja, o
segurado tem direito de receber a indemnização em caso de sinistro, mesmo que tenha pago
apenas uma parcela. Os seguros podem ser sociais (obrigatórios e tutelam determinada classe de
pessoas) ou privados (facultativos e dizem respeito a coisas e pessoas). Os seguros privados
podem ser divididos em terrestres, marítimos e aéreos. Os seguros terrestres se subdividem em
seguro de coisas e seguro de pessoas.
O seguro de dano visa o ressarcimento pela seguradora do prejuízo causado em caso de sinistro,
e este seguro pode respeitar as coisas, a créditos, a direitos sobre bens imateriais ou a quaisquer
outras situações patrimoniais lícitas.
Em caso de sinistro, a prestação a cargo da seguradora esta limitada ao prejuízo sofrido pelo
segurado até ao montante do capital seguro, no seguro de coisas a seguradora apenas responde
14
Idem.
15
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3, 10 ed. Saraiva: São Paulo, 2008, p. 509.
pelos lucros cessantes ou pela privação de uso do bem, em qualquer caso por motivos de sinistro
se assim for convencionado no contrato (Cfr. art. 184 do RJS).
Se o capital seguro for inferior ao valor real da coisa ou direito seguro, o tomador de seguro
responde, em caso de sinistro e salvo convenção em contrário pela parte proporcional
correspondente ao valor não seguro (Cfr. art. 187 RJS). Mas se o capital seguro a data do sinistro
for superior ao valor real da coisa ou direito seguro, a prestação a cargo da seguradora estará
limitada ao prejuízo sofrido pelo segurado ate ao montante do capital seguro, com redução do
contrato de forma a ajustar o valor seguro ao montante do interesse em risco (Cfr. artigo 188 do
RJS).
Assim, é vedado ao segurado segurar bem por valor maior do que o seu real valor. Nesse tipo de
seguro, o limite máximo de ressarcimento será o valor da coisa ou do interesse segurado, ainda
que a verba reservada seja maior, visto que o segurado não pode se enriquecer com o contrato,
por ser este exclusivamente reparatório. Para o segurado exigir do seguradora o cumprimento da
prestação devida, não basta apenas demonstrar que houve sinistro, mas ainda que prove o
prejuízo sofrido.
O seguro de acidentes pessoais pretende garantir a protecção contra os danos que possam advir
de um qualquer acidente susceptível de ocorrer no dia-a-dia de trabalho ou de lazer, no decurso
do exercício da nossa actividade profissional ou então em actividades da nossa vida privada,
sejam de lazer, de prática desportiva ou até mesmo durante a realização de viagens.
Seguro de acidentes pessoais é válido em qualquer parte do Mundo, porem as apólices desse tipo
de seguro devem indicar em caracteres desatacados, o tipo de acidentes que, em função da sua
natureza ou da sua causa, não estejam cobertos pela seguradora, pois consideram-se cobertos
todos os riscos não excluídos na apólice.
Tendo por finalidade beneficiar a pessoa humana, não possuindo carácter indemnizatório. O
capital segurado não tem limitação e será escolhido livremente pelo segurado, em uma ou mais
seguradoras.
2.2.3. Seguro de vida
Um seguro de vida é um seguro que tem como principal cobertura o risco de morte ou de
sobrevivência de uma ou de várias pessoas seguras, este seguro garante um determinado capital à
pessoa segura numa generalidade de casos.
Na lição de GONÇALVES16, o seguro de vida tem por objecto garantir, mediante o prémio que
se ajustar, o pagamento de certa soma a determinada ou determinadas pessoas, por morte do
segurado, sendo considerado, neste caso, seguro de vida propriamente dito. Pode estipular-se,
igualmente, o pagamento dessa soma ao próprio segurado, ou terceiro, se aquele sobreviver ao
prazo do seu contrato. É denominado seguro de sobrevivência ou dotal, que também se configura
quando o segurado só tiver direito a ele se chegara certa idade, ou for vivo a certo tempo. Pode-
se dizer que o seguro é dotal quanto os contraentes ajustam o pagamento do capital ao próprio
segurado, após determinado prazo estipulado no contrato; e é ordinário de vida ou seguro de vida
propriamente dito quando convencionado, por morte do segurado.
O seguro de vida compreende todas as combinações que a possam fazer, mediante o pagamento
de um premio único ou de prémios pagos com a regularidade prevista no contrato, em troca de
constituição de uma rede vitalícia ou desde certa idade, ou ainda do pagamento de certa quantia
por falecimento da pessoa segura e outras combinações semelhantes ou análogas, referente aos
pagamentos, o tomador do seguro deve pagar o premio de seguro nas datas e condições
estipuladas no contrato, pois na falta de pagamento deste na data do vencimento confere a
seguradora, consoante a situação e o que houver sido convencionado no contrato.
No que tange a cessão da posição contratual, o tomador de seguro, não sendo a pessoa segura,
pode transmitir a sua posição contratual a um terceiro, que assim fica investido em todos os
direitos e deveres que correspondiam aquele perante a seguradora, a cessão de posição contratual
depende do consentimento da seguradora, devendo ser comunicada a pessoa segura e constar de
acta adicional a apólice (Cfr. Artigo 230 RJS).
16
GONÇALVES, Carlos Roberto. ..op.cit, p. 520
2.2.4. Seguro de Automóvel
O seguro de automóvel è uma das modalidades mais antigas no ramo de seguro, ate então este
ramos continua ainda com a maior parte de prémios emitido pelas companhias, apesar das
grandes sinistralidades que afectam este ramo.
As seguradoras também possuem normas para serem seguidas e para que isto possa acontecer
todas as companhias são fiscalizadas pela ISSM, tem como função fiscalizar o mercado
segurador, divulgar novas normas e verificar como estas companhias estão operando no mercado
de seguro.
Em relação ao seguro automóvel podemos dizer que este tem o intuito de garantir ao segurado o
pagamento da indemnização em caso de qualquer sinistralidade inerente a viatura mediante ao
pagamento da franquia constante da apólice do seguro.
Diante dos vários termos que constam em apólice de seguro de automóveis são estes os mais
utilizados:
Este seguro garante a obrigação de indemnizar, nos termos acordados, ate ao montante do capital
seguro, por sinistro, por lesado, ou por período de vigência dos contractos. A seguradora na
assunção do risco de responsabilidade civil, pode intervir em qualquer processo administrativo
ou judicial, onde se discute a obrigação de indemnizar com referencia a esse risco, suportando os
custos dai decorrentes ( Cfr. Art. 195 do RJS).
Visa somente a cobertura para os terceiros, ou seja cobre apenas a pessoa que se envolve em
acidente com o segurado, pode observar-se que o próprio segurado não tem nenhuma cobertura.
a Cobertura de Terceiros garante ao segurado indenização em casos de acidentes causados a
demais motoristas afetados por um sinistro.
Os danos geralmente cobertos são: Danos Materiais: Cobre os danos materiais causados a
terceiros, como por exemplo despesas funeraria e pintura causadas por colisão por culpa do
segurado ou destruição de fachada de uma casa.Danos Pessoais ou Corporais: reembolsa os
valores reclamados por terceiros que tenham sofrido danos corporais (morte e/ou invalidez) ou
que tenham contraído despesas médicas e hospitalares em razão do acidente.
Não existe um seguro incêndio comercializado somente com esta cobertura, os seguros
residenciais e de imóveis contam com uma cobertura de incêndio e que exerce esta função, de
proteger o imóvel contra incêndios inesperados
Em caso de sinistro, a prestação a cargo da seguradora esta limitada ao prejuízo sofrido pelo
segurado ate ao montante do capital seguro, no seguro de coisas a seguradora apenas responde
pelos lucros cessantes ou pela privação de uso do bem, em qualquer caso por motivos de sinistro
se assim for convencionado no contrato, a indemnização a prestar pela seguradora corresponde
ao valor do interesse seguro quando o objecto seguro for roubado e não seja encontrado no prazo
estipulado no contrato e ao valor do dano verificado no objecto seguro, em resultado do roubo ou
tentativa de roubo ( Cfr. Artigo 203 do RSJ).
Se o objecto roubado for recuperado antes de ter decorrido o prazo previsto na apólice de seguro
e, simultaneamente, a seguradora não tiver pago a indemnização, aquele e entregue ao segurado,
sem prejuízo de a seguradora suportar os encargos correspondentes aos eventuais danos que o
bem tenha sofrido. No caso de, o objecto for recuperado após ter decorrido o prazo indicado e já
havendo sido pago a indemnização, o segurado pode, em alternativa, reter a indemnização
recebida abandonando o bem a seguradora ou readquirir o bem, restituído, neste caso, a
seguradora o valor que haja recebido a título de indemnização.
2.7. Seguro de Transporte de coisas
O seguro de transporte de coisa pode ser contratado pelo proprietário do meio de transporte, pelo
proprietário das coisas transportadas e por todos aqueles que tenham interesse na conservação
das coisas seguras, ficando expresso na apólice a qualidade em que se contrata. No que refere ao
inicio de cobertura e risco seguro, o risco começa a contar com o recebimento pelo transportador
e cessa com a entrega, por ele feita, dos objectos seguros no local de destino, sempre que a
entrega se realiza dentro do prazo previsto na apólice de seguro, o contrato pode também
estabelece o inicio de cobertura dos riscos de transporte com a saída das mercadorias do
armazém ou domicilio do carregador ate a sua entrega no armazém ou domicilio do destinatário (
Cfr. Artigo 210 Do RJS).
Por efeito do seguro de credito, a seguradora obriga-se indemnizar o segurado, nas condições e
com os limites fixados na lei e no contrato de seguro, em caso de: perdas causadas pelo não
cumprimento de obrigações pecuniárias riscos políticos que obtenham ao cumprimento de tais
obrigações; não amortização de despesas suportadas com vista a constituição desses créditos;
alteração anormal dos custos de produção.
No seguro de caução a seguradora obriga-se ainda em caso de incumprimento ou de mora do
tomador do seguro, a indemnizar o segurado a título de ressarcimento dos danos patrimoniais
sofridos, em obrigações cujo cumprimento possa ser assegurada por garantia pessoal (Cfr. n.º 2
Artigo 212 Do RSJ).
No seguro de crédito, a seguradora fica sub-rogado ate ao limite do montante pago, nos termos
previstos no artigo 191, mas, em caso de sub-rogação parcial, a seguradora e o segurado
concorrem no exercício dos respectivos direitos na proporção que a cada um for devido.
2.9. Seguro de protecção jurídica
No seguro de protecção jurídica, a seguradora obriga-se dentro dos limites estabelecidos na lei e
no contrato, a cobrir as despesas decorrentes de um processo judicial assim como de serviços
jurídicos, designadamente de defesa dos interesses do seguro, no que se refere as exclusões este
seguro não cobre o pagamento de quaisquer multas ou coimas, bem como o valor de quaisquer
sanções impostas ao segurado por autoridade administrativas ou jurídicas ( Cfr. Artigo 215 do
RJS).
Quanto a forma e conteúdo contrato de seguro este deve seguir as condições plasmadas no n°4
do artigo 103 e do artigo 193 RJS, deve também mencionar expressamente que o segurado tem
direito a escolher livremente um advogado para o defender e representar em qualquer processo
judicial ou administrativo, bem como em caso de conflitos de interesse entre as partes do
contrato; e submeter a arbitragem qualquer litigio que possa surgir entre si e a seguradora, a
respeito do contrato de seguro (Cfr. Artigo 216 do RJS).
O tomador do seguro pode fazer cessar o contrato por revogação, denúncia ou resolução, nos
termos gerais, devendo comunicar aos segurados, com trinta dias de antecedência, a extinção da
cobertura decorrente da cessão. Caso não se verifique a antecedência por facto imputável ao
tomador do seguro, este responde pelos danos a que der causa (Cfr. Artigo 153 do RJS).
A responsabilidade civil surge no âmbito do Direito Civil como uma fonte de obrigações que tem
como função primordial a reparação ou compensação pelos danos ou prejuízos causados na
esfera jurídica de outrem, e que, de acordo com a normatividade vigente, não devem ser
suportados pelos próprios mas sim por alguém a quem é possível imputar a respectiva
responsabilidade civil.
Dispõe o art. 483 CC que, “Aquele que com dolo ou mera culpa violar ilicitamente o direito de
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a
indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação”. Esta disposição versa de uma das
modalidades de Responsabilidade Civil previstas no CC, a Responsabilidade Civil Subjectiva,
Extracontratual ou delitual, resultante da violação de direitos absolutos, ou da prática de certos
actos ilícitos que causem prejuízo a outrem.
Não obstante, não é o único modelo existente no nosso ordenamento, conhecendo-se outras
modalidades como a Responsabilidade Civil Contratual, proveniente do não cumprimento das
obrigações emergentes dos contractos, negócios unilaterais ou Lei. A responsabilidade civil
contratual é regulada pelos art.798, 816 e 562, 572 CC e relaciona-se directamente com as
consequências do incumprimento das obrigações assumidas pelo devedor no âmbito de uma
relação obrigacional titulada por negócio jurídico, ou seja, obrigações a que o devedor se sujeitou
no exercício da sua liberdade contratual, assim como as que derivam de negócio jurídico
unilateral e da lei. Por outro lado, a responsabilidade civil extracontratual é regulada pelos
artigos 483, 510 e 562, 572 do CC e consiste no regime aplicável em caso de violação de direitos
17
ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de, “Direito das Obrigações”, 12.ª edição, Almedina, 2011, p. 521 e 590,
absolutos ou normas que visam a protecção de interesses alheios, ou seja, a violação da
normatividade jurídica ao cumprimento da qual o lesante está obrigado, uma vez que derivam
directamente da lei18.
Tendo em conta a orientação da temática que nos ocupa 19, centramo-nos na responsabilidade
civil extracontratual que se pode ainda categorizar em dois tipos distintos: a responsabilidade
civil subjectiva e a responsabilidade civil objectiva. Abordamos, com maior precisão, esta
distinção infra. Todavia, podemos adiantar que a responsabilidade civil subjectiva corresponde
ao esquema tradicional da responsabilidade civil assente na culpa do lesante como elemento
garantidor da justiça da imputação da obrigação de indemnização do lesado ao lesante culposo.
ANTUNES21 diz que não podemos afirmar que exista, pelo menos de forma expressamente
autonomizada, uma responsabilidade civil subjectiva por acidentes de viação. É claro que o
respectivo regime existe, mas na medida em que não se encontra (nem necessita de se encontrar)
autonomizado do regime jurídico da responsabilidade civil subjectiva em geral, referimo-nos
desta forma para mencionar a sua aplicação às situações em que os respectivos pressupostos de
aplicação são preenchidos por factos relacionados com acidentes de viação.
Daqui, podemos facilmente compreender que o regime que de seguida descrevemos nada tem de
diferente em relação à responsabilidade civil subjectiva aplicada a qualquer outra situação da
realidade que fosse susceptível de preencher os respectivos requisitos. No entanto, sempre que
possível e pertinente, é feita uma referência às questões que surgem especificamente a propósito
da aplicação do regime geral a acidentes de viação.
Vejamos estes cinco requisitos com um pouco mais de detalhe, tomando como tópico da análise
a sua aplicação a uma situação representativa, ainda que não real, de um acidente de viação.
21
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pp. 533 a 542
22
Idem p. 533
3.1.1. Facto humano voluntário
Só as acções ou omissões (Cfr. art. 486 CC) que derivam do comportamento livre do ser humano
(lesante) são susceptíveis de lhe serem imputadas, na medida em que se apresentem ilícitas,
culposas e danosas. O comportamento totalmente condicionado por elementos externos e
estranhos à sua vontade não pode servir de base à aplicação de responsabilidade civil, uma vez
que se encontra subtraído do domínio físico e da capacidade de controlo do agente (Cfr. art. 483,
n.º 1 CC “Aquele que…”).
Ficam assim expressamente excluídos os factos que resultam de factores naturais (v.g. dois
automóveis estacionados colidem por força de uma onda marítima que ultrapassa a linha da
costa) e os actos (ou omissões) humanos que são totalmente condicionados por elementos
externos (condutor parado em fila de trânsito que embate no veículo à sua frente em
consequência de ter sofrido embate pelo veículo que circulava atrás do seu)23.
3.1.2. Ilicitude
Assim, se um condutor chocar frontalmente com o seu automóvel contra o muro de sua casa,
estamos perante um facto humano voluntário, provavelmente negligente, certamente danoso mas
em relação ao qual não existe ilicitude dado que, sendo o muro propriedade do condutor, este
poderá destruí-lo se bem o entender (Cfr. art. 1305 CC).
Advoga ANTUNES24 que a ilicitude pode, então, verificar-se por uma de duas formas, violação
de direitos de outrem engloba a violação de direitos de personalidade (como o direito à
integridade física) e os direitos reais (como o direito de propriedade que incide sobre o veículo
automóvel), ou seja, os direitos absolutos. Já a violação de disposição legal que protege
23
No entanto, este facto é susceptível de constituir fundamento de responsabilidade civil subjectiva deste
condutor que embateu contra o carro parado na fila de trânsito. Poderemos igualmente afirmar que, nestas
situações, mais do que um problema de inexistência de um facto humano voluntário (controlável pela
vontade humana), estaríamos perante uma ausência de nexo de causalidade entre o facto cometido pelo
condutor parado e o dano produzido no veículo à sua frente, na medida em que não se pode afirmar que tal
dano seria provavelmente causado por um veículo imobilizado.
24
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., p. 542
interesses alheios verifica-se quando há o incumprimento de uma disposição normativa que não
institui um direito subjectivo mas serve o propósito de acautelar interesses colectivos.
3.1.3. Culpa
O requisito da culpa é o elemento que permite estabelecer uma ligação entre o sujeito e ofacto
que justifique a sua avaliação como censurável ou reprovável, sempre de um ponto de vista
jurídico (Cfr. art. 483 CC “Aquele que, com dolo ou mera culpa,…”). Nas palavras de
ANTUNES, “a conduta do lesante é reprovável quando, pela sua capacidade e em face das
circunstâncias concretas da situação, se concluir que ele podia e devia ter agido de outra forma”.
No fundo, o requisito da culpa traduz a ideia de exigibilidade por parte do sistema jurídico em
relação ao comportamento do lesante, de acordo com a situação concreta. Desde logo se deduz
que um comportamento apenas poderá ser imputado a um sujeito se tal comportamento resultar
da sua vontade, isto é, da sua capacidade de aferir as consequências dos seus actos e regrar o seu
comportamento em função dessa aferição, ou seja, da existência de imputabilidade em relação ao
sujeito26.
25
São causas justificativas da ilicitude a acção direita (artigo 336.º do CC), a legítima defesa (artigo 337.º do
CC), o estado de necessidade (artigo 339.º do CC) e o consentimento do lesado (340.º do CC)
26
Quem, no momento dos factos, estava incapacitado de entender ou querer é considerado inimputável.
Presumem-se igualmente inimputáveis os menores de sete anos e os interditos por anomalia psíquica. Os
sujeitos considerados inimputáveis não estão obrigados a indemnizar os lesados pelos factos danosos que
pratiquem (com ressalva do disposto no artigo 489. do CC) pela simples razão de que a responsabilidade
civil está dependente da verificação do requisito da culpa e não é possível proceder a um juízo de censura ou
reprovação do comportamento de alguém que não tem capacidade para compreender as consequências dos
seus atos nem agir em conformidade com essa compreensão (artigo 488. do CC).
Note-se que a regra é a de que só existe responsabilidade civil caso o sujeito tenha agido com
culpa (dolo ou negligência), só sendo possível responsabilizar civilmente um sujeito
independentemente da verificação deste pressuposto nos casos em que a lei, expressamente, o
preveja. A responsabilidade civil que prescinde da verificação do requisito da culpa está,
portanto, sujeita ao princípio da tipicidade (Cfr. n.º 2 do art. 483 CC).
De um ponto de vista geral, é importante referir que para que se verifique o preenchimento do
requisito da culpa, qualquer uma destas tipologias é suficiente, sendo que a principal diferença
do ponto de vista do regime jurídico aplicável consiste na possibilidade de em caso de
negligência ou mera culpa a indemnização poder ser fixada, equitativamente, em montante
inferior ao que corresponderia à integral indemnização dos danos provocados (Cfr. art. 494 do
CC).
Para ANTUNES27 age com dolo, todo aquele sujeito cujo comportamento foi deliberadamente
perpetrado, intencionalmente executado ou voluntária e conscientemente desejado pelo mesmo.
O dolo implica que seja possível estabelecer o juízo de censura e reprovação em relação ao
sujeito lesante no sentido de que este não só tinha conhecimento das consequências do seu
comportamento, como tais consequências eram coincidentes com a sua vontade de realização.
A representação que o sujeito fez dos factos era espelho da sua intenção. Paralelamente, para que
se verifique uma conduta dolosa é necessário que o sujeito tenha a consciência de que a sua
actuação é contrária ao sistema jurídico. A título de exemplo, age com dolo o condutor que
deliberadamente atropela um peão, abalroando com o veículo o passeio onde o peão circula.
Por outro lado, o autor avança que é censurável a título de negligência ou mera culpa o sujeito
que tendo consciência, ainda que em abstracto, das consequências do seu comportamento,
prevendo ou não a possibilidade da sua verificação em concreto mas não a desejando, age de
forma não deliberada em violação de um dever de cuidado que torna exigível, por parte da
comunidade em geral, que o sujeito tivesse adoptado um comportamento diverso28.
Haverá lugar a este juízo de censura a título de mera culpa se for exigível que o sujeito, tendo a
obrigação de prever a possibilidade da ocorrência dos factos danosos decorrentes da sua
27
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., p. 542
28
Idem
conduta, não tivesse agido de forma a criar esta situação que consubstancia a violação de
um dever de cuidado, seja por distracção, descuido ou leviandade.
Quanto à prova da culpa, a regra geral estabelecida no, n.º 1 do art. 487 CC prevê que compete
ao lesado provar a culpa do lesante 29. Todavia, abre-se uma importante excepção relativa às
situações especiais em que o legislador considerou que, por uma razão de justiça, deveria ser
invertido este ónus da prova e estabeleceu presunções legais de culpa 30. A título de exemplo,
estão previstas presunções de culpa nos art. 491 CC (responsabilidade das pessoas obrigadas à
vigilância de outrem), art. 492 n.º 1 CC (responsabilidade do proprietário ou possuidor de
edifício ou obra por danos causados pela ruína dos mesmos), art. 493 CC (responsabilidade por
vigilância de coisa ou animal responsabilidade por exercício de actividade perigosa) e art. 503.º,
n.º 3, 1.ª parte (responsabilidade do condutor comissário).
Em relação à presunção de culpa prevista no n.º 2 do art. 493 CC, que se aplica àquele que, no
exercício de uma actividade perigosa (por sua natureza ou pela natureza dos meios utilizados),
causar danos a outrem, coloca-se a questão de saber se a actividade de condução pode (ou deve)
ser considerada abrangida por esta disposição.
Assim, de acordo com um juízo de prognose póstumo, deverá ser possível afirmar que, em
abstracto, a prática de um determinado facto teria como consequência natural, de acordo com o
curso normal das coisas, a produção do dano que se verificou35.
Apesar do juízo ser feito em abstracto, deverão ser tidas em conta quer as circunstâncias que não
poderiam logicamente ser desconhecidas por uma pessoa normal quer aquelas que de facto eram
conhecidas pelo lesante.
32
Cfr. MIRANDA BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira Neves de, “Responsabilidade Civil Extracontratual Novas
Perspectivas em Matéria de Nexo de Causalidade”, Principia Editora, 2014, pág. 38
33
A doutrina da equivalência das condições (conditio sine qua non) defende que é causa de um dano todo o facto
sem o qual esse dano não se teria produzido. Esta doutrina tem como principal objecção o facto de ser demasiado
abrangente uma vez que a perspectiva naturalística que predica não é compatível com a função da responsabilidade
civil. Cfr. ALMEIDA COSTA, “Direito das (…)”, op. cit., pág. 761
34
A teoria da última condição ou das causas próprias visa, partindo da doutrina da equivalência das condições,
determinar qual o último facto relevante que se revelou essencial para a ocorrência do dano. Cfr. ALMEIDA
COSTA, “Direito das (…)”, op. cit., pág. 762
35
Idempág. 765: “A intervenção da causalidade adequada (…) implica que se excluam do âmbito da indemnização
todos os prejuízos relativamente aos quais não possa afirmar-se, atentas as regras da experiência comum e as
particulares do caso, que constituem o resultado normal do facto que as originou”.
Note-se que a exigibilidade do requisito do nexo de causalidade assume imprescindível valor no
âmbito da responsabilidade objectiva, na medida em que representa o único elemento que
permite o controlo ou limite à imputação abusiva da responsabilidade pela indemnização de
danos ao sujeito sobre o qual impende a responsabilidade objectiva.
4.1.5. Dano
A culpa desempenha assim uma função pedagógico-educativa que permite afastar o dano como
prius metodológico da responsabilidade civil41.
Um dos principais vectores da responsabilidade objectiva tem sido a noção de risco inerente ao
desenvolvimento de certas actividades tendencialmente provocadoras de situações de perigo, de
acidentes e, consequentemente, de danos. São bons exemplos do que acabamos de referir a
utilização de animais, o recurso a equipamento produtor de radiações ionizantes e a condução
automóvel. Mas, tendo em conta o risco e o perigo criados por estas actividades, questionamos
qual a razão que justifica a persistência dos respectivos detentores e utilizadores no seu
desenvolvimento.
As justificações que procuramos são simples. Estas actividades, apesar do risco que representam,
são lucrativas, vantajosas, proporcionam comodidade, conforto, rapidez, prazer emocional ou
qualquer outro factor que as torna especialmente apelativas para quem delas usufrui.
Simultaneamente, verificamos que, em grande medida, os riscos criados por este tipo de
actividades não são maioritariamente riscos que se representem na esfera do sujeito que as
desenvolve mas sim riscos que se manifestam na esfera de terceiros 43. Recorrendo aos exemplos
que utilizámos supram, aquele que utiliza um animal criando um perigo especial por essa
utilização poderá potencialmente produzir danos em terceiros que com ele se cruzem; aquele que
utiliza equipamentos que produzem radiações ionizantes (ressonância magnética) poderá
potencialmente produzir danos num paciente que realiza exame médico de diagnóstico e aquele
que conduz um automóvel poderá potencialmente produzir danos aos restantes condutores e
utilizadores da via ou em propriedade alheia.
responderão, igualmente, de acordo com o previsto no artigo 489 do CC (503, n.º 2 do CC).
43
Na realidade, ainda que essa representação não fosse maioritária, apenas a concretização do risco em dano na
esfera de terceiros seria relevante para a responsabilidade civil na medida em que os danos que um sujeito provoca
na sua própria esfera não lhe são indemnizáveis (o que não significa que daí não possa resultar a obrigação de
indemnizar terceiros como resulta do artigo 495 n.º 1 do CC).
Assim, a responsabilidade civil objectiva baseada na teoria do risco44 é usualmente descrita pela
expressão “ubi commoda, ibiincommoda”, transmitindo o conceito de que aquele que aproveita
as vantagens do risco deve suportar os encargos com os danos por este provocados.
Dos casos de responsabilidade civil objectiva previsto no CC45, faremos especial referência à
responsabilidade civil objectiva do comitente (Cfr. n.º 1 do art. 500 CC) e por acidentes causados
por veículos de circulação terrestre (Cfr. n.º 1 do art. 503 CC), dada a sua relação directa com o
tema em análise.
No âmbito da responsabilidade civil subjectiva, uma vez que se faz prova da culpa, podemos
estar perante um facto ilícito que constitui crime, caso em que o prazo de prescrição do direito de
indemnização é alargado ao respectivo prazo previsto para o crime (Cfr. n.º 3 do art. 498 CC).
Tal não poderá acontecer no âmbito da responsabilidade civil objectiva, na qual o prazo de
44
Sobre a aplicação original da teoria do risco no âmbito dos acidentes de viação, vide ANTUNES VARELA,
“Das Obrigações (…)”, op. cit., p. 633.
45
Para além dos casos referidos, está ainda prevista a responsabilidade civil objectiva do Estado e de outras pessoas
colectivas públicas (artigo 501 n.º 1 do CC), por danos causados por animais (artigo 502 do CC) e por danos
causados por instalações de energia eléctrica ou gás (artigo 509 n.º 1 do CC).
prescrição terá de ser sempre o previsto no n.º 1 do art. 498 CC, ou seja, três anos a contar da
data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete.
De qualquer forma, no que diz respeito à responsabilidade civil por acidentes de viação, o pedido
de indemnização feito pelo autor/lesado em processo judicial contra a Seguradora com
fundamento na culpa do lesante, não precede a possibilidade de o tribunal condenar a ré, com
fundamento na responsabilidade pelo risco do lesante, dado que se trata da vontade presumível
do autor e que, em causa, está matéria de direito que é livremente cognoscível pelo Tribunal
(Cfr. n.º 3 do art. 5 CPC).
Capítulo IV
O n.º 1 do artigo 503 CC prevê a responsabilidade civil objectiva por acidentes causados por
veículos de circulação terrestre, afirmando que “ aquele que tiver a direcção efectiva de qualquer
veículo de circulação terrestre46e o utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermédio
de comissário, responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que
este não se encontre em circulação”.
Assim, são dois os elementos previstos nesta disposição legal para a determinação ou
identificação do sujeito sobre o qual incide a responsabilidade civil objectiva por danos causados
por veículos de circulação terrestre47:
46
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pág. 655
47
REBELO, António Jorge, “Acidentes de Viação – a regularização dos danos pelo seguro”, 1.ª edição, Coimbra
Editora, 2013
Que o sujeito tenha a direcção efectiva do veículo, ou seja, que o sujeito,
independentemente do domínio jurídico do veículo, tenha o domínio do veículo e dele
usufrua, estando colocado numa situação em que se apresenta como sendo a pessoa que
se encontra na melhor posição para tomar todas as providências necessárias a evitar que
o veículo cause danos; e
Que utilize o veículo no seu próprio interesse, isto é, que tenha na utilização do veículo
um interesse económico ou puramente moral. São abrangidos pela responsabilidade
prevista no n.º 1 do artigo 503 CC o proprietário, o locatário, o comodatário, o autor de
furto ou roubo do veículo e até o sujeito que usa o veículo contra a vontade do seu
detentor no plano jurídico, entre outros, mas já não o comissário ou o proprietário em
caso de existência de comodato, locação91, usufruto ou roubo ou furto, ou ainda o
instruendo durante as aulas práticas de condução.
Quanto aos danos indemnizáveis, tal como resulta claramente do n.º 1 do art. 503 CC, a
responsabilidade civil objectiva por acidentes de viação abrange apenas os riscos próprios do
veículo. Para a determinação deste conceito não duvidamos que os “riscos próprios do veículo”
englobam os riscos inerentes à circulação do veículo (a colisão, o despiste, a derrapagem, a perda
de carga e o atropelamento, entre outros). Por outro lado, existe igualmente um elevado número
de riscos associados ao veículo mesmo quando este não se encontra em circulação, na medida em
que se trata de uma máquina complexa com elementos combustíveis e outros materiais
potencialmente danosos (explosão do depósito de combustível, rebentamento de pneu, mau
funcionamento do travão de mão do veículo, entre outros).
Parece-nos claro que devem ficar de fora do âmbito dos danos provocados pelos riscos próprios
do veículo os danos que foram causados pelo veículo de circulação terrestre tal como podiam ter
sido causados por qualquer outra coisa móvel, inexistindo no veículo uma característica
potenciadora de um risco específico para aquela situação concreta.
48
ANTUNES VARELA, “Das Obrigações (…)”, op. cit., pág. 668.
Dada a elevada probabilidade de um acidente de viação envolver dois veículos, situação em que,
presumivelmente (mas não necessariamente49) ambos estarão abrangidos pela responsabilidade
objectiva prevista no, n.º 1 do art. 503 CC, o art. 506 CC prevê o regime especial aplicável em
caso de colisão de veículos. Inexistindo culpa de ambos os condutores, a responsabilidade pelos
danos causados (num ou em ambos os veículos) é repartida na proporção do risco com que cada
um dos veículos tiver contribuído para a colisão (concurso de riscos), sendo que, em caso de
dúvida, presumem-se iguais os níveis de risco50 (Cfr. n.º 2 do art. 506 CC).
Caso exista culpa de um dos condutores, aplica-se o regime previsto no art. 505CC e caso se
verifique culpa de ambos os condutores, estamos no campo exclusivo da responsabilidade
subjectiva, pelo que tem aplicação o art.570 CC, juntamente com a presunção de igual
contribuição da culpa de cada um dos condutores, prevista no n.º 2 do art.506 CC.
De acordo com o art. 505 CC, uma vez preenchidos os requisitos previstos no n.º 1 do art. 503
CC, a responsabilidade civil objectiva do detentor do veículo de circulação terrestre apenas é
excluída quando o acidente for “(…) imputável ao próprio lesado ou a terceiro, ou quando
resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo”, sem prejuízo do
disposto no artigo 570 CC.
Entendemos, na senda de parte da Doutrina e Jurisprudência que têm vindo a receber crescente
concordância51, que o art. 505 CC apenas afasta a responsabilidade objectiva prevista no n.º 1 do
art. 503 CC quando o nexo de causalidade entre o risco próprio do veículo e o dano provocado
não poder ser estabelecido, ainda que parcialmente. Ou seja, apenas é excluída a
responsabilidade do detentor quando o nexo de causalidade se verifica exclusivamente entre o
dano provocado e o facto voluntário de outrem (terceiro ou lesado) ou com uma causa de força
maior estranha ao funcionamento do veículo.
49
De facto, o condutor do veículo nem sempre coincide com o detentor do veículo para efeitos do artigo 503.º, n.º 1
do CC, uma vez que podemos estar perante um comissário ou um instruendo durante as aulas práticas de condução.
50
A segunda parte do artigo 506.º, n.º 1 do CC é desnecessária pois a afirmação de que “ (…) se os danos forem
causados somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos condutores, só a pessoa por eles responsável é
obrigada a indemnizar” representa uma decorrência da regra geral da exigibilidade da verificação do requisito do
nexo de causalidade. De facto, se o dano foi causado apenas por um dos veículos, isso significa, necessariamente,
que o outro veículo em nada concorreu para a ocorrência do sinistro, nem sequer com o risco que o próprio veículo
apresenta.
51
CALVÃO DA SILVA, João, “Concorrência entre risco do veículo e facto do lesado: virar da página?”, RLJ, Ano
137.º, n.º 3946 (Set-Out 2007), Coimbra Editora, pág. 52
Consequentemente, podemos afirmar que, sendo possível estabelecer um nexo de causalidade
entre o risco do veículo e o dano provocado, ainda que seja meramente parcial ou até minoritário,
a segunda parte do art. 505 CC não tem aplicação, a responsabilidade civil objectiva prevista no
n.º 1 do art. 503 CC não é afastada e devemos aplicar o regime previsto no art. 570 CC,
procedendo a um concurso entre o risco do lesante e a culpa do lesado (concurso de risco com
culpa). Caso o concurso seja entre o risco do veículo lesante e a culpa de um terceiro, igualmente
onerado com a responsabilidade civil objectiva prevista no n.º 1 do art. 503 CC, então serão
ambos solidariamente responsáveis perante a vítima, apesar de a lei prever a existência de direito
de regresso do lesante que respondeu pelo risco em relação ao terceiro que agiu
culposamente101 (Cfr. n.º 2 do art. 507 CC).
Existindo culpa de mais do que um sujeito (sem que nenhum deles seja lesado), estamos fora do
campo de aplicação da responsabilidade civil objectiva, aplicando-se o previsto no art. 497 do
CC que prevê a responsabilidade solidária de ambos os responsáveis, existindo direito de
regresso caso a medida das respectivas culpas (que se presume igual), seja diferente (concurso de
culpas).
Como última nota sobre a responsabilidade civil objectiva do detentor de veículo de circulação
terrestre, devemos referir que esta responsabilidade está quantitativamente limitada pelo n.º 1 do
art. 508 CC. A limitação do valor da indemnização a pagar aos lesados por acidente de viação ao
valor do “(…) capital mínimo do seguro obrigatório de responsabilidade civil
automóvel”justifica-se pelo facto de estarmos perante uma responsabilidade que prescinde da
verificação da culpa do lesante. Nada impede que o lesado exerça o seu direito a ser indemnizado
por um valor superior ao estipulado no referido limite quantitativo mas, nesse caso, terá de
provar a culpa do lesante.
O ordenamento jurídico moçambicano, no que respeita a mora estabelece no seu n.º 2 do art. 147
da RJS, que as seguradoras respondem por juros moratórios à taxa legal acrescida de 2%, salvo
se o segurado provar que, por via desta mora, sofreu danos superiores. Em relação ao
incumprimento definitivo, o RJS nada prevê como medida de responsabilização civil às
seguradoras, apenaso pagamento da indemnização pelos danos que o segurado causa (nr 1, art.
144, conj. com art. 146) ou art. 483 do CC.
Conclusão
A responsabilidade civil surge no âmbito do Direito Civil como uma fonte de obrigações que tem
como função primordial a reparação ou compensação pelos danos ou prejuízos causados na
esfera jurídica de outrem, e que, de acordo com a normatividade vigente, não devem ser
suportados pelos próprios mas sim por alguém a quem é possível imputar a respectiva
responsabilidade civil.
Sugestões
Bibliografia
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SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de Seguro no Novo Código Civil e Legislação Própria, 2 ed.
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VENOSA, Sílvio de Salvo,Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contractos, Atlas Editora S.A,13º ed;Vol.2, São Paulo, 2013.
Legislações Nacional
Código civil
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